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No sertão de Sergipe, o calor castiga e a estiagem dura oito meses. Nesse período, falta água para as pessoas e também para a plantação. Disposta a reverter esse quadro, a cooperativa Cercos começou a cavar e revitalizar poços artesianos nas comunidades onde atua.
A ideia surgiu do pedido de um cooperado que, com razão, reclamou de um poço desativado há mais de 30 anos no povoado Luiz Freire, por falta de manutenção. Ele foi até a cooperativa em busca de ajuda para voltar a plantar.
Desde a revitalização do poço, a nossa vida [na comunidade] melhorou uns 80%”, comemora Josiel Souza Castelo, o “dono” da ideia. “As pessoas que antes passavam sede, não passam mais. Melhorou o valor da terra. Ano passado [depois do poço ser reaberto], conseguimos tirar 300 sacos de batata, antes não tirávamos nem um saco, porque não plantávamos nos meses de estiagem. Ganhamos mais dinheiro e estamos vivendo bem melhor.”
Com o sucesso dessa primeira empreitada, os cooperados da Cercos fizeram uma assembleia e decidiram perfurar e revitalizar outros poços artesianos em novos locais. Para isso, também definiram pela destinação de 25% das sobras da cooperativa, em 2018 e 2019.
Além de melhorar a qualidade de vida das comunidades que sofriam com a inexistência ou deficiência da rede de abastecimento de água, o projeto possibilitou o incremento da geração de renda, já que o acesso à água contribui substancialmente com a agricultura familiar produzida pelos cooperados. O projeto abrangeu mais de 100 famílias e aproximadamente 430 pessoas ligadas direta e indiretamente à cooperativa. É o cooperativismo feito por e para pessoas!
FICHA TÉCNICA
Cooperativa: Cercos (SE)
Ramo: Infraestrutura
Projeto: Escavação e Revitalização de Poços Artesianos
Indicadores de desempenho:
- Aumento do número de casas com água encanada e potável ligadas à rede de distribuição, de 20 para 143 residências.
- 64 produtores da agricultura familiar agora têm acesso à irrigação para suas culturas
- O acesso à água fornecida pelos poços artesianos, para consumo próprio passou de 60 para 429 pessoas
- O projeto atende 6 comunidades: Tabocas — que não recebia apoio do Poder Público e não tinha água encanada —,Piçarreira, Luiz Freire, Açuzinho, Açu Velho e Lagarto.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Se sua condição de saúde pode fazer diferença na vida de outras pessoas e da sociedade como um todo, informações como os lugares por onde você dirige, os quilômetros rodados por dia e quanto tempo leva para se deslocar de um ponto a outro na cidade também são valiosos para o cooperativismo, o mercado e o poder público.
De olho na possibilidade de contribuir para a tomada de decisões relacionadas à mobilidade urbana, a cooperativa Driver's Seat criou um aplicativo para ser utilizado por motoristas de aplicativos de transporte, como o Uber. O app gera uma série de dados sobre as corridas feitas pelo motorista.
As informações são coletadas pela cooperativa e repassadas para órgãos públicos ou centros de pesquisa dados para apoiá-los na tomada de decisões relacionadas à gestão da mobilidade urbana.
O objetivo é melhorar o planejamento da arquitetura das cidades e encontrar soluções para congestionamentos e outros problemas de trânsito e mobilidade. As informações coletadas pelos motoristas são vendidas pela cooperativa, que reverte os ganhos para os próprios condutores.
A partir do momento que você usa as cidades para o bem público, você cria uma inteligência coletiva urbana e as soluções deixam de ser oferecidas somente pelos governos e passam a ser oferecidas também por startups, por ONGs e outros atores da sociedade que não somente o governo. Então, a gente tem cidadãos mais participativos e colaborativos promovendo a democracia nas cidades”, explica Fabíola Nader Motta, do Sistema OCB.
LEGADOS E DESAFIOS
O uso de informações pessoais para basear decisões voltadas a mudanças sociais e inovações tecnológicas é uma tendência em ascensão no coop internacional. Ele tem sido muito aplicado na estruturação das Cidades Inteligentes, com o intuito de criar uma inteligência coletiva urbana para resolver problemas públicos. Seu uso vai desde o gerenciamento de tráfego nas cidades até o uso de informações pessoais para promover a saúde da população.
De fato, o trabalho das chamadas cooperativas de dados pode favorecer o fortalecimento de todo o ecossistema de governança de dados e estimular a ampliação da legislação de proteção de dados pessoais e de transparência de dados públicos, por meio de decretos municipais de dados abertos e leis de governo digital.
Mas para que experimente uma expansão mais significativa, esse ramo do cooperativismo ainda precisa atravessar algumas barreiras, como quebrar silos de dados, já que na maioria das vezes as informações não estão centralizadas em um único portal de dados ou não estão padronizadas e formatadas da mesma maneira.
Há ainda o desafio de se adequar a diferentes legislações e de construir uma infraestrutura tecnológica segura e eficiente, além da falta de recursos.
Para superar parte dos desafios, existe a possibilidade de criar uma coordenação de rede e fomentar uma cadeia produtiva de valor por meio do compartilhamento de infraestrutura computacional, de dados e recursos humanos e, principalmente, estabelecer objetivos claros de negócios compartilhados entre os parceiros da cadeia.
Outra alternativa passa pela inteligência de dados, com o desenvolvimento de serviços digitais flexíveis e adaptáveis, permitindo análise constante da interação e do comportamento do usuário com os serviços ofertados.
Temos grandes desafios para os próximos anos de transformação digital, mas, para quem já possui em sua essência cultural a cooperação, metade do caminho já foi trilhado. A governança de dados de forma ética em compliance com as leis vigentes é um dos maiores legados que as cooperativas de dados podem oferecer”, ressalta Fabíola.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Inovar e trazer soluções benéficas para a sociedade está na essência do trabalho cooperativista. E um dos setores em que o coop tem dado aula, no mercado internacional, é justamente no gerenciamento e compartilhamento de dados. Quer ver?
Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Savvy Coop — uma cooperativa de pessoas portadoras de doenças graves — encontrou uma maneira diferente e original de lidar com os dados de seus cooperados. Eles estão compartilhando informações sobre a experiência que têm no enfrentamento de uma doença com institutos de pesquisas e laboratórios que precisam entender melhor a realidade desses pacientes.
De acordo com a fundadora da cooperativa, Jen Horonjeff — ela própria paciente portadora de artrite juvenil, uma doença que afeta as articulações do corpo no período da adolescência — a Savvy Coop foi a primeira cooperativa a atuar sob a perspectiva dos pacientes e não dos médicos, dos hospitais ou da indústria.
A história da Savvy se confunde com a de Jen, que também sobreviveu a um tumor no cérebro e se tornou uma pesquisadora PHD na área de saúde. Depois de ser procurada várias vezes para compartilhar com pesquisadores sua experiência como paciente, Jen teve a ideia de reunir pacientes com diferentes experiências de vida em uma cooperativa. Objetivo? Coletar as vivências de enfrentamento às doenças para compartilhá-las com a comunidade científica e com a sociedade. Assim, o que poderia ser um peso ou mais uma experiência isolada e desconhecida de enfrentamento de uma doença, se transformou em uma grande oportunidade não só de renda, mas de melhora da qualidade de vida desses pacientes.
Por meio de questionários, participação em grupos focais, entrevistas, testes de produtos, entre outras estratégias, a Savvy Coop faz uma ponte entre empresas e pacientes cooperados.
Na página da cooperativa, a fundadora destaca que o grande valor da cooperativa é “permitir que a indústria trabalhe junto com os pacientes” e que a principal missão da coop é “colocar o paciente no centro do desenvolvimento dos tratamentos ou insumos que serão usados por eles mesmos”. A ideia é contribuir para que as inovações em saúde sejam mais inclusivas, diversas e efetivas para os pacientes.
INTERESSE MÚTUO
Dentro da Savvy Coop, as histórias de vida dos cooperados são ativos negociados com pesquisadores e empresas de saúde. Funciona assim: uma clínica, um laboratório ou uma indústria entra em contato com a cooperativa e apresenta sua necessidade, que pode ser, por exemplo, uma entrevista de 60 minutos com uma ou mais pacientes diagnosticadas com câncer de mama, para apoiar o desenvolvimento de um medicamento novo para a doença. As demandas são registradas pela coop e apresentadas aos pacientes cooperados.
Se der “match” (interesse mútuo) entre a demanda da indústria e a experiência do paciente, ambos ganham. Os pacientes são pagos por colaborarem respondendo aos questionamentos, por participarem de experimentos ou de algum processo de desenvolvimento de pesquisas e produção de insumos de saúde.
Como cooperados que são, ao final de cada exercício, esses portadores de doença crônica também recebem parte dos resultados obtidos pela Savvy, de forma proporcional à colaboração de cada (sobras) . Além disso, têm direito a voto em processos decisórios e contam com uma rede de apoio mútuo que os ajuda a enfrentar suas doenças.
Para a pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) Ana Carolina Bonelli esse modelo de compartilhamento de dados é positivo, pois tem a autorização dos usuários e ainda traz valor para os cooperados.
Quando o dado passa pela gestão da cooperativa, ele passa pelo consentimento, por uma gestão de algoritmos, gerenciamento dos locais, de criptografia, de identidade de acesso. Se os cooperados acharam por bem compartilhar e serem remunerados por isso, por que não? Esse é outro ponto positivo do cooperativismo, os resultados são repartidos e fatiados”, ressalta Bonelli.
Vale destacar: sobreviventes de doenças graves, cuidadores, acompanhantes de portadores de doenças crônicas e autoimunes, profissionais de saúde também podem ser cooperados e colaborar com seus insights. A cooperativa tem ainda um programa de referência que remunera pessoas não membros ou cooperadas. Para ter acesso ao benefício basta indicar pacientes que aceitem participar da coop e queiram compartilhar informações.
DADOS PARA A SAÚDE DE TODOS
Com o lema “Meus Dados, Nossa Saúde” a cooperativa suíça MIDATA também coleta dados de pacientes com o objetivo de contribuir para pesquisas científicas sobre tratamentos de diferentes doenças. Ao contrário da Savvy, a MIDATA não cobra pelo compartilhamento de informações, portanto, também não remunera as pessoas que aceitam disponibilizar suas experiências no enfrentamento da doença.
A cooperativa desenvolveu uma plataforma que armazena dados de saúde coletados de startups, aplicativos, provedores de tecnologia, grupos de pesquisa, entre outros. O sistema foi desenvolvido pelas universidades suíças ETH Zurich e a de Ciências Aplicadas de Bern.
Na plataforma, ficam armazenadas diversas informações sobre condição de saúde, detalhes de cirurgias, tratamentos, exames, medicamentos, documentos como prontuários médicos, características físicas dos pacientes, entre outros dados.
Os usuários da plataforma podem contribuir ativamente autorizando o uso de seus dados em pesquisas médicas e estudos clínicos. São eles que decidem livremente sobre o uso dessas informações em projetos científicos. E se quiserem podem se tornar membros da cooperativa, condição que dá direito a eles de participar do controle da organização.
Para atender aos requisitos de proteção e segurança, todas as informações “doadas” são criptografadas e apenas os usuários com conta têm acesso aos registros por meio de login. A cooperativa ressalta que garante a soberania dos cidadãos sobre a forma como os dados serão utilizados.
O cooperativismo já tem em sua essência valores como a democracia, liberdade, equidade, solidariedade e justiça social, visando o bem comum. Tendo em vistas que as chamadas ‘Cooperativas de Dados’ são sistemas de gerenciamento de dados que pertencem aos seus membros, eles vão poder decidir a melhor forma de fazer uso destes dados. E o melhor, já o fazem tendo a cultura de governança destes dados para o bem comum e benefício dos cooperados como base”, destaca Fabíola Nader Motta, gerente geral do Sistema OCB.
CORONA SCIENCE
Fundada em 2015, a MIDATA também oferece serviços de desenvolvimento de aplicativos de saúde, estilo de vida e bem-estar, consultoria sobre questões éticas, apoio no gerenciamento e consentimento do uso de dados e outros.
Mas foi depois da pandemia que cresceu o número de projetos tecnológicos de coletas de dados lançados pela MIDATA, entre eles, o aplicativo “Corona Science”, que permite às pessoas que tiveram Covid-19 informarem sobre sua condição de saúde e os sintomas. Em contrapartida, o usuário tem acesso a várias informações e serviços de suporte.
Toda essa crise sanitária mundial acelerou muito a necessidade de compartilhar dados de maneira mais responsiva para o bem comum, em busca de soluções para produção de vacinas e outros fins”, completou Ana Carolina Bonelli, pesquisadora do ITS.
A acadêmica cita, ainda, outra cooperativa europeia de saúde que tem feito um trabalho de destaque quando se trata de compartilhamento de dados: a Salus Coop.
Criada em 2017 na Espanha, a cooperativa engloba a atuação de diferentes atores para cumprir todo o fluxo de receber as informações dos usuários e de unidades de saúde públicas ou privadas, agregar essas informações e repassá-las de forma estruturada e segura para as empresas e outras instituições interessadas.
A coop desenvolveu um modelo tecnológico para garantir a confidencialidade dos dados, independente da forma como os outros atores tratam ou mantêm os dados.
Em seu manifesto, a Salus Coop destaca que não tem fins lucrativos e que busca colaboradores voluntários para contribuir. Também convida as autoridades sanitárias para desenvolver licenças de uso e arquiteturas tecnológicas que incentivam a doação de dados, entre outras iniciativas que possam estimular as pessoas a dividirem informações que sejam úteis para acelerar as pesquisas científicas e o controle de estados de emergência, como a pandemia do coronavírus.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A cada dois anos, um seleto grupo de cooperativas recebe do Sistema OCB o título de “Melhores do Ano” – um reconhecimento à criatividade, à visão estratégica e aos resultados obtidos, com reflexo nas pessoas e comunidades onde estão inseridas.
Em 2022, na 13ª edição do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano, houve novo recorde de inscrições: foram 787 cases enviados por 431 cooperativas de todo o Brasil. Elas concorreram ao troféu de melhores do ano em seis categorias: Comunicação e Difusão do Coop, Coop Cidadã, Desenvolvimento Ambiental, Fidelização, Inovação e Intercooperação.
Este é o maior prêmio do cooperativismo brasileiro, criado justamente para destacar os melhores projetos desenvolvidos pelo coop em áreas estratégicas para o fortalecimento do nosso movimento”, explica Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB.
Na visão de Tania, a premiação ganhou o coração das cooperativas justamente por avaliar os benefícios gerados pelo coop para os cooperados e para a comunidade. “Cooperativismo é isso: buscar o desenvolvimento sustentável de todos, sem jamais esquecer de colocar a felicidade e o bem-estar das pessoas em primeiro lugar “, ressalta. A superintendente explica que um segundo objetivo do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano — tão importante quanto reconhecer a pujança do coop brasileiro — é divulgar projetos que possam ser replicados com sucesso por outras cooperativas. “Boas práticas existem para serem replicadas. Ao compartilhar as iniciativas das Melhores do Ano, estamos fomentando a intercooperação e trabalhando para melhorar os resultados de todo o cooperativismo”, finaliza.
FICHA TÉCNICA
Cooperativa: Sicoob Cocred (SP)
Ramo: Crédito
Projeto: Jornada do Cooperativismo
Indicadores de desempenho:
- 4 milhões de pessoas impactadas pelas mensagens da campanha nos seguintes canais de TV: EPTV e TV TEM (afiliadas da Rede Globo), SBT, Rede Record, TV Clube (afiliada Band) e Globo News
- 399 mil acessos às matérias e textos publicados pela cooperativa no GSHOW, G1 e Portal A Cidade ON
- 97 mil pessoas ouviram a série jornalística “Especial Cooperativismo”, veiculada na rádio CBN e na plataforma de streaming Spotify.
A melhor forma de divulgar o cooperativismo é mostrando o impacto que ele gera na vida das pessoas. O Sicoob Cocred partiu dessa premissa para criar o projeto Jornada do Cooperativismo, uma campanha que impactou 4 milhões de pessoas das regiões de Sertãozinho, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Franca e Marília, onde a cooperativa atua e mantém postos de atendimento. Os públicos prioritários eram jovens de até 25 anos (cooperados em potencial) e os responsáveis pelas decisões de compras dentro de uma família (normalmente, as mulheres).
Consciente de que cada mídia tem sua própria linguagem e objetivo, o Sicoob Cocred investiu em diferentes produções audiovisuais. No rádio, optou-se pela produção de uma série jornalística de 10 episódios sobre cooperativismo, veiculada nos programas Manhã CBN e Giro CBN. Os podcasts da série foram disponibilizados no portal da rádio CBN e na plataforma Spotify.
Na televisão, houve produção de matérias jornalísticas exibidas no jornal EPTV 1 e no programa Mais Caminhos. Também foi colocada no ar a minissérie “Cooperativismo e Impacto Social”, com quatro episódios, divulgada na internet e também nos seguintes canais de televisão: Band, Record, SBT, Globo e Globo News.
Por fim, o Sicoob Cocred patrocinou a veiculação de matérias sobre o cooperativismo no GSHOW, G1 e no site A Cidade ON.
Estou no Cocred há mais de 40 anos e sempre levantamos a bandeira do cooperativismo, mas com foco no nosso negócio. Por isso, era um desejo realizar uma campanha como essa, abrangente, que levasse à população os benefícios do cooperativismo em todos os setores. Ficamos muito satisfeitos com os resultados e recebemos feedbacks positivos dos gerentes, contando sobre pessoas que nos procuraram, após assistir à minissérie ou reportagens na TV, ou mesmo ouvir a série no rádio”, explica o diretor geral do Sicoob Cocred, Antonio Claudio Rodrigues.
O sucesso da campanha também pode ser medido pelo depoimento de Edson de Oliveira, um aposentado que se associou à cooperativa após ser impactado pela minissérie produzida pela cooperativa.
“Quando ouvia falar de cooperativa, sempre vinha a minha mente o trabalho de reciclagem, de coleta seletiva. Não tinha ideia de quantas cooperativas existem no Brasil, de todos os setores onde elas estão, nem da força que elas têm. Nunca havia parado para pensar que o convênio médico é uma cooperativa, que o presunto vendido no mercado vem de uma cooperativa, nem sabia das vantagens de ser associado a uma cooperativa de crédito, em vez de ter uma conta em banco. Foi uma série bastante elucidativa”, comemora.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Mudar vidas é uma das especialidades do cooperativismo. Aos 19 anos, Lívia Maria Duarte entrou para a Coopresa —única coop brasileira a prestar serviços de manutenção em aeronaves e componentes de aviação. Ainda muito jovem, ela ingressou na área administrativa em 1998, e se apaixonou pela possibilidade de ajudar aquelas aeronaves a alçarem voo. A paixão foi tanta, que guiou toda a sua carreira. Ela cursou Ciência da Computação, fez especialização em aeronáutica, foi convidada a lecionar na PUC de Minas Gerais e passou uma temporada na iniciativa privada. Mas não teve jeito. O coop falou mais alto. Hoje, aos 44 anos, ela atua como como presidente da Coopresa — cargo que assumiu há sete anos.
O cooperativismo mudou a minha vida, ao me dar a minha primeira oportunidade de trabalho. E ele segue fazendo isso todos os dias, ao me mostrar de diversas maneiras que as pessoas têm de estar sempre em primeiro lugar, ao contrário do que costuma acontecer na iniciativa privada”, elogia Lívia. “O coop é mais humano, mais solidário e mais justo. E ele ainda gera resultados incríveis para as comunidades onde atuam.”
De fato, a Coopresa — assim como tantas outras cooperativas — movimenta a economia local, gerando emprego e renda para a comunidade. Somente um de seus braços de atuação, focado na manutenção aeronáutica de baixa complexidade, movimenta cerca de R$ 4 milhões por ano. Sem falar que gerou, entre 2019 e 2022, 275 novas oportunidades de trabalho na região..
O coop faz isso mesmo: ele gera prosperidade por onde passa, na forma de trabalho, renda, programas de inovação, cursos, projetos sociais, ações de sustentabilidade e investimentos diretos na melhoria das comunidades”, explica Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. “É por isso este ano lançamos um desafio para as cooperativas de todo o país: atingir a meta de R$ 1 trilhão de prosperidade e de 30 milhões de cooperados até 2027.”
Essa cifra de R$ 1 trilhão, hoje, equivale à soma dos PIBs gerados pelos estados do Rio de Janeiro e Distrito Federal juntos. Recurso suficiente para construir 14 Brasílias do zero, já considerando os juros e as correções monetárias dos últimos 60 anos*. Tudo isso, revertido em trabalho, renda, oportunidades, negócios e prosperidade não apenas para o coop, mas para todos os brasileiros.
“Chegou a hora de mostrar ao Brasil que o nosso jeito de fazer negócios gera resultados, sim. E resultados muito expressivos. Somos inovadores; somos éticos; trabalhamos com propósito e, além de tudo isso, somos sustentáveis! E é por isso que o coop será decisivo na retomada do crescimento da nossa economia”, finaliza Lopes de Freitas.
META DEFINIDA A PARTIR DE DADOS
Ao convidar o coop a gerar R$ 1 trilhão em prosperidade para o Brasil, nos próximos cinco anos, a equipe do Sistema OCB se baseou em dados.
Nosso time analisou o desempenho histórico do cooperativismo e identificou uma média de crescimento de aproximadamente 19% 26% ao ano, mesmo durante a pandemia”, explica a superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.
A partir daí, foram projetados três cenários econômicos: um otimista, um moderado e um conservador. “Trabalhando em um cenário moderado, no qual ocorra uma recuperação paulatina, porém firme da economia, temos plenas condições de chegar em 2027 com faturamento anual de 1 trilhão de prosperidade para o Brasil. Mas para fazer isso, precisamos do esforço conjunto de todas as cooperativas e também das Unidades Estaduais”, acrescenta Tania.
Antes mesmo do lançamento do desafio do Sistema OCB — que ganhou o nome de BRC 1Tri —, as Unidades Estaduais da região Sul já estavam engajadas em campanhas regionais de promoção do crescimento do cooperativismo. O Sistema Ocepar, do Paraná, foi o pioneiro ao lançar o PRC200 — planejamento estratégico com uma meta ambiciosa: dobrar o faturamento das cooperativas do estado de R$ 100 bilhões para R$ 200 bilhões por ano.
O PRC200 foi uma inspiração para nós”, reconhece Lopes de Feita. “O trabalho de dados e planejamento realizado, pelo Paraná, nos últimos anos é uma referência para todo o cooperativismo. ”
Outra unidade estadual que também já adotou a cultura de definir objetivos para o cooperativismo é o Sistema Ocergs. Por lá, o desafio central é alcançar R$150 bilhões de faturamento e 4 milhões de associados em cinco anos. O planejamento também busca gerar 100 mil empregos diretos, realizar R$ 300 milhões de investimentos em capacitação e distribuir R$7,5 bilhões de sobras líquidas anual.
No lançamento do projeto RSCOOP150, em setembro, o presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, destacou a relevância da iniciativa, reforçando que, além de resultados financeiros, as cooperativas têm o poder de gerar desenvolvimento regional integral.
“O modelo cooperativo privilegia o desenvolvimento da comunidade como um todo, pois parte dos resultados e das sobras são reinvestidos em programas socioambientais, gerando riqueza e distribuição de renda para todos.”, afirmou Hartmann “Temos muitos desafios pela frente, mas onde tem cooperativismo pujante, tem desenvolvimento.”
POTENCIAL PARA CRESCER
Justamente por ter tido a vida transformada pelo coop, a presidente da Coopresa. Lívia Maria Duarte, também é entusiasta do BRC 1Tri. “Acredito que o coop brasileiro está maduro e pode ser protagonista no desenvolvimento econômico e social do nosso país”, aposta.
Desde 2015, quando retornou ao coop depois de uma temporada na iniciativa privada, Lílian é testemunha da resiliência e potencial de crescimento do nosso setor.
Nosso segmento [prestação de serviços para aviação] foi muito afetado pela pandemia, mas não desanimamos. Na baixa, a gente se preparou para a retomada dos voos e, hoje, o cenário oferece muitas oportunidades para os nossos cooperados’, comemora.
Com a reativação dos voos e aumento expressivo das demandas, a Coopresa contratou uma consultoria de melhoria contínua para garantir o crescimento sustentável dos negócios.
“Estamos nos preparando administrativamente e comercialmente para suportar todas as demandas do segmento. A pandemia mostrou a força que o cooperativismo tem. A força de mostrar que, mesmo em tempos difíceis, temos boas ideias, humanidade, capacidade de desenvolver a sociedade ao nosso redor. O cenário pós-pandêmico mostrou para o Brasil e para o mundo a potencialidade da economia solidária, da economia social, que são a base do cooperativismo”, acredita a presidente da Coopresa.
CRESCIMENTO COLETIVO
Assim como transformou a realidade da presidente da Coopresa, o cooperativismo ajuda a tornar mais próspera a vida de um grupo de mais de 30 agricultoras familiares do Sul do Espírito Santo. A iniciativa partiu da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul) e hoje o grupo de mulheres está à frente da produção de cafés especiais, com uma marca própria.
Desde que foi criada, em 2016, a iniciativa mudou a rotina de produção e a vida de muitas famílias do município de Muqui e localidades vizinhas. Aline Martins Ferreira Mauri, 33 anos, é uma das cooperadas responsáveis pela marca.
Tenho muito orgulho de fazer parte do grupo Póde Mulheres e de ser uma cooperada, pois foi através da cooperativa que surgiu o nosso grupo e, com isso, nosso trabalho vem sendo reconhecido”, conta Aline.
A propaganda do produto detalha a nobreza e qualidade do trabalho: “O café traz aroma delicado, corpo cremoso e finalização prolongada, proporcionando uma experiência única ao saborear este delicioso café conilon especial”.
Casada e com dois filhos, Aline é cooperada há 16 anos. “Unidos como cooperativa temos uma base mais forte, pois o cooperativismo abre várias portas para nós”, atesta.
Fundada em 1998, a Cafesul reúne pequenos produtores de sete municípios da região Sul do estado do Espírito Santo no Brasil para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades em que atua.
Desde 2008, a cooperativa participa de um projeto de desenvolvimento regional sustentável para o café na região sul do estado, que envolve vários parceiros e estabelece diversas metas, como a melhoria na assistência técnica e na comercialização, a eliminação de atravessadores para a obtenção de melhores preços para o café; aumento da produtividade das lavouras e da oferta de cafés de qualidade superior.
Esta matéria foi escrita por Thaís Cieglinski e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O mercado brasileiro parece ter aceitado a máxima de que “os dados são o novo petróleo”. A pandemia certamente acelerou mudanças, mas a busca pela utilização de dados para tomadas de decisões rápidas e precisas já vinha crescendo. Hoje, a gestão guiada por dados (data driven management) consolida-se como estratégia eficiente de negócios em diversos setores da economia, impactando também o cooperativismo.
Para melhor entender os resultados e os desafios trazidos pela decisão de gerir um negócio guiado por dados, a Saber Cooperar convidou dois especialistas no assunto: Danielle Franklin, diretora comercial da Scala — empresa do Grupo Stefanini com foco na implantação de abordagens tecnológicas que exigem alto grau de especialização em negócios —, e Robson Mafioletti, superintendente do Sistema Ocepar, Unidade Estadual do Sistema OCB que é referência no trabalho com dados.
Confira os melhores momentos da entrevista:
Qual é a diferença entre uma gestão tradicional e uma gestão guiada por dados?
Danielle Franklin: Quando uma empresa ou organização consegue transformar dados em informações relevantes para o negócio, está fazendo uma gestão orientada por dados. Por exemplo: se eu quero saber como divulgar uma determinada campanha de marketing, com foco na sensibilização de um determinado público, eu deveria consultar meu histórico de vendas antes de tomar qualquer decisão. Fazer escolhas baseadas e guiadas por dados é exatamente isso: o gestor não toma decisões baseadas em achismo. Ele faz isso baseado em uma ou mais informações, construídas a partir de dados e estatísticas históricas, que facilitam a tomada de decisões futuras.
Robson Mafioletti: A gestão guiada por dados é a que, do nosso ponto de vista, dá certo; é a gestão profissional. Não é possível tomar nenhuma decisão importante sem levar em conta uma série de dados, números e estatísticas. É certo que decisões tomadas por feeling [intuição] ou baseadas em experiências anteriores fazem parte do dia a dia de um executivo. Mas, quando essa decisão é tomada com base em dados, via de regra, ela é muito mais assertiva. Aqui no Paraná, as cooperativas que trabalham com a gestão de dados são as que obtêm os melhores resultados.
Em quais setores da economia esse modelo de gestão tem sido utilizado com maior êxito?
DF: Há setores que estão muito mais avançados na gestão guiada por dados, como a indústria financeira. Tecnologicamente falando, a indústria financeira é o que chamamos de early adopter, ou seja, foi a primeira a adotar uma tecnologia de ponta. O varejo também largou na frente, até porque depende muito de dados para tomar decisões sobre o que comprar, quando comprar, quando mudar o preço etc. Mas, de uma forma geral, o mercado brasileiro já entendeu que "os dados são o novo petróleo". O problema é que, para ser uma empresa com a cultura data-driven [guiada por dados], é preciso fazer investimentos que algumas instituições ainda estão receosas em fazer.
RM: Dentro do cooperativismo, os ramos Crédito, Saúde e Agropecuário são destaque. Nas cooperativas de crédito, todas as decisões são baseadas em dados — dos cooperados e do mercado; no ramo Saúde acontece o mesmo. O Sistema Unimed tem trabalhado muito com Inteligência Artificial (IA) e uso de dados para obter melhores resultados. Nas cooperativas do agronegócio, os dados são fundamentais para viabilizar a agricultura de precisão.
O uso de dados também cresceu muito em diversas áreas internas das cooperativas, como na pesquisa e assistência técnica para os nossos cooperados. A área comercial é outra que utiliza bastante números e indicadores. Elas acompanham o mercado e as bolsas internacionais (Chicago, Nova York, B3, em São Paulo) para tomar decisões mais assertivas.
Como saber se está na hora de investir em dados para melhorar a gestão de negócios?
DF: A pergunta que o negócio tem que se fazer é: que tipo de informação eu gostaria de ter para tomar melhores decisões? Essa informação é essencial para o meu negócio? Se a resposta for sim, essa empresa ou cooperativa deveria investir em dados, com certeza.
RM: Negócios mais complexos, que precisam tomar decisões com mais informações, vão ser mais beneficiados pela gestão guiada por dados. Temos aqui, no Paraná, muito trabalho de agricultura de precisão. As cooperativas do Ramo Agropecuário têm de pôr a semente adequada, no local adequado, com a quantidade certa de fertilizante e defensivo agrícola. Um negócio como esse com certeza vai se beneficiar de dados para a tomada de decisão. Já os negócios mais físicos, que têm mais atividades corriqueiras, via de regra, terão menos benefícios. Falo de atividades mecânicas, rotineiras, como o pessoal que cuida do cafezinho da empresa.
Como agir em situações de contextos complexos, cujos dados não são conhecidos ou não há dados suficientes para uma análise completa da situação?
DF: O que fazemos como consultoria: entramos nas empresas fazendo o que chamamos de Assessment [um tipo de avaliação interna, que envolve relatórios, reuniões etc]. Nesses eventos, sentamos com todas as áreas da organização — vendas, marketing, logística, contabilidade, entre outras — e entendemos o que essas áreas gostariam de ter como informações para insights; o que gostariam de saber.
Depois, apontamos para eles que tipos de dados seriam necessários para ter aquela informação e mostramos como implementar a solução. Em seguida, cria-se um repositório que permita guardar e consultar esses dados facilmente. Ele precisa oferecer visualizações do passado e visões do futuro, usando estatística e matemática, ou seja, a famosa Ciência de Dados.
RM: Isso é um problema sério, mas acaba acontecendo. Até pela aceleração dos processos, com tomadas de decisão rápidas, é um problema não ter dados completos. Nesses casos, temos de usar o que têm [de dados] e buscar novas informações. No ambiente cooperativo, dialogamos muito. Usamos a experiência de quem tem mais vivência no mercado como uma fonte de informação para tomar decisões mais assertivas, mas esse não é o melhor caminho. O ideal seria construir uma base de dados.
Visualizar dados e informações nem sempre é o suficiente, na hora de tomar uma decisão. É sabido que eles podem "mentir", se não forem coletados e analisados da forma correta. Diante desse problema, como transformar dados em conhecimento?
DF: Esta é uma pergunta excelente. Muitas empresas nos chamam para construir relatórios, dashboards, ou até para montar modelos matemáticos e estatísticos que ajudem a prever o futuro. O que muitas esquecem é que, antes de qualquer coisa, é preciso garantir que eles estejam visualizando um dado correto, realmente fidedigno ao histórico dos fatos.
Muito antes de pensar em visualizar, é preciso pensar no que chamamos de governança de dados — uma política de controle que garanta que esses dados são verdadeiros, têm qualidade e estão seguros, já que refletem as informações sensíveis da sua empresa.
Somente depois de construir essa governança, é possível ter certeza de que os dados são confiáveis e capazes de antecipar futuros. Uma empresa que fizer qualquer visualização ou previsão em cima de dados não organizados e sem qualidade pode prever algo completamente errado e levar o negócio ao caos.
RM: Se você tomar uma decisão baseada em dados com dados ruins, sua decisão será ruim. É aí que entram os engenheiros, administradores, cientistas de dados e economistas. Eles precisam checar esses dados e organizá-los de forma lógica. Não dá para gastar energia, capital com dados se não forem confiáveis. É preciso realmente checar as fontes e a precisão dos dados. Esse é um desafio que temos. Nessas horas, um bom gestor, com experiência no setor onde atua, faz muita diferença, pois se alguém mandar dados muito estranhos ou fora da curva, ele perceberá logo que a informação não está correta.
Como o cooperativismo pode beneficiar as cooperativas e seus cooperados com ferramentas de inteligência de mercado (BI) e gestão guiada por dados?
DF: Uma boa prática de mercado é o compartilhamento de dados. Todas as cooperativas deveriam compartilhar os dados dos setores nos quais atuam entre si. Dessa maneira, elas estarão gerando informações capazes de beneficiar todo o cooperativismo.
RM: O trabalho com dados pode beneficiar o cooperativismo de diversas maneiras. Analisando uma grande base de dados, teremos condições de tomar decisões mais precisas e acertadas, gerando melhores e maiores resultados para os nossos cooperados. Além disso, usando ferramentas de inteligência de mercado, podemos tomar decisões mais rápidas e efetivas, profissionalizando a gestão cooperativista.
Estamos avançando na construção de uma base de dados unificada para as cooperativas do Paraná. Montamos uma Cooperativa Central de TI, chamada Uni-TI [criada em dezembro do ano passado], para que as cooperativas compartilhem o que for possível de informações, e façam uma gestão mais adequada de seus dados.
Existe algum campo econômico no qual a gestão guiada por dados não se aplique ou não seja viável?
DF: Sinceramente, acredito que em todos os setores da economia existam dados que possam virar insight [inspiração] para decisões estratégicas de negócio. Tudo o que tem a ver com entender o comportamento de alguém tem a ver com dados. E em todas as áreas essa realidade se aplica.
Vou dar um exemplo: será que o pessoal que cuida da limpeza não precisa saber a hora de comprar material para o próximo mês? Como fazer uma previsão correta para não comprar nem a mais, nem a menos? Outro problema comum nesse segmento: quantas pessoas é preciso colocar dentro de um shopping na época do Natal para limpá-lo? Baseando-se no fluxo de pessoas e no histórico de consumo dos produtos de limpeza, é possível tomar decisões mais assertivas. E tudo isso são dados.
RM: Que eu saiba, não. Em qualquer campo do conhecimento ou da economia, é difícil tomar decisões sem estar baseado em dados. Isso vale tanto para a parte econômica quanto para a parte social de um negócio.
O Sistema OCB defende a ampliação das possibilidades, legais e regulatórias, de participação do cooperativismo no setor de seguros. Além de ser um novo modelo de negócios na área, o cooperativismo poderá ser protagonista em políticas de acesso a produtos e serviços locais a preços mais competitivos.
No mercado de seguros mundial, existem 5,1 mil cooperativas, distribuídas em 77 países e com mais de 900 milhões de segurados. Em ativos, os números alcançam quase US$ 9 trilhões e representam 27% do mercado, gerando mais de 1 milhão de empregos, segundo dados da Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos.
Na Câmara dos Deputados, tramita o PLP 519/2018, que, após a atuação da OCB e da Frencoop, passou a permitir a participação das cooperativas no mercado de seguros no Brasil. Já aprovado na comissão especial responsável pelo tema, o projeto não chegou a ser votado em plenário. Em 2021, o Sistema OCB, o Ministério da Economia e outros setores envolvidos no tema chegaram a um consenso sobre uma nova proposta. "Isso foi um grande avanço. Agora estamos esperando que o governo mande o projeto para a apreciação do parlamento", destacou Clara Maffia.
Hoje, as cooperativas podem operar unicamente em seguros agrícolas, de saúde e de acidentes do trabalho. O Sistema OCB busca suprimir essa limitação, para que as cooperativas possam atuar em novas atividades, atendendo às necessidades dos seus cooperados, respeitando as características únicas do cooperativismo e, claro, com a devida fiscalização da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
"O mercado de seguros no Brasil é muito concentrado e não atende os pequenos. Não existe microsseguro, por exemplo. Então, muita gente que não está nos parâmetros das seguradoras não consegue ser atendida. Isso é o caso de muitas transportadoras", explica Clara Maffia. "A prestação de serviço de seguros por cooperativas vem exatamente suprir esse nicho", destaca.
A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB ressalta que, em outros países, há cooperativas de seguro tão relevantes quanto as de crédito.
Mais de 30% do mercado de seguros no mundo está nas mãos de cooperativas", informa Clara. "Então, não tem nenhum sentido termos aqui no Brasil essa restrição de atuação. Esperamos que, em breve, essa situação seja revertida", afirma.
PARTICIPAÇÃO DAS COOPERATIVAS EM LICITAÇÕES
A presença das cooperativas em processos de licitação também é uma das prioridades da Agenda Institucional do cooperativismo. O Sistema OCB atua em várias frentes, para garantir que não haja restrições a essa participação, como ainda ocorre em muitos casos. Foi criado um Grupo de Trabalho exclusivo para discutir o tema, e foram elaborados materiais informativos e pareceres e defesas com jurisprudência favoráveis às cooperativas.
Nosso objetivo é continuar buscando o reconhecimento das cooperativas como modelo de negócio sustentável e capaz de contribuir para a elevação do status socioeconômico dos seus cooperados, e de impactar a vida de milhares de pessoas através dos valores e princípios do cooperativismo nas contratações públicas”, afirma o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Segundo a gerente Jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues, a entidade participa como amicus curie, fornecendo subsídios e informações para a decisão do ministro Og Fernandes, responsável pela decisão do tema no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Enquanto o STJ não se posiciona, a recomendação do Sistema OCB é que as cooperativas impedidas de participar das licitações entrem com medidas administrativas e, se necessário, judiciais.
"Em estados onde as cooperativas de trabalho estão mais bem estruturadas, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo, estamos conseguindo derrubar as restrições no Judiciário, mostrando que não há subordinação de mão de obra ou algum benefício irregular. Mas, em muitos casos, não. É muito importante para as cooperativas que haja uma definição sobre esse assunto, o que nos garante segurança jurídica para participar dos processos", finaliza Ana Paula.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Líder nato e fundador do maior e-commerce de vinhos da América Latina, a wine.com.br, Rogerio Salume ensina que o bom líder é aquele que cuida bem tanto do time quanto de si mesmo. “Não existe sucesso, não existe gestão de alto impacto. Não existe liderança de impacto se você [o líder] não estiver bem”, explicou o palestrante da Semana de Competitividade.
Para Rogerio, a única maneira de liderar com entusiasmo e assertividade é estando com a saúde física e mental em dia. Outra característica fundamental, segundo ele, é amar o que faz e gostar de pessoas. Todo tipo de pessoa.
“Um líder de impacto faz questão de montar um time diverso. Tem de ter mulheres liderando, pessoas de diferentes culturas. É preciso pensar nisso. Quando a gente tem um time múltiplo, com empatia, inteligência emocional e resiliência, fica mais fácil vencer qualquer desafio”, recomenda.
Estudiosa do tema liderança, a psicanalista Ana Tomazelli acredita que todas as pessoas dentro de uma organização cooperativista devem ser ouvidas e consideradas, especialmente pelos líderes. A atitude não é para que se busque concordância em eventuais debates, discussões e decisões, mas para que seja possível encontrar pontos de consenso e estabelecer acordos para o comprometimento de todo o grupo.
Em relação às cooperativas, uma boa formação de líderes está relacionada à consolidação dos serviços e de gestão, na medida em que um cooperado é igual a um voto, diferente de outras estruturas, em que o capital investido, por exemplo, determina quem tem mais poder. Com essa distribuição de poderes mais horizontal, a articulação diplomática e a influência ganham novos pesos e contornos, tornando-se, também, centrais na dinâmica de funcionamento das equipes.
Nesse sentido, diz Ana, um bom líder cooperativista deve ter, entre suas características, a capacidade de escutar e de promover a escuta com todo o corpo, tempo e atenção possível. Escutar não para responder ou retrucar ou contrapor ou concordar, mas a partir de um interesse genuíno por aquilo que a outra pessoa tem a trazer e por acreditar que ela é importante para o processo. A habilidade de perguntar também é fundamental.
“Só é possível formular perguntas que aprofundam e avançam se a liderança realmente se coloca a serviço do todo e da outra pessoa diante de si”, afirma. “Um questionamento bem feito e bem intencionado tem o poder de colocar muitas coisas em movimento, de emoções e pensamentos, o que pode ser fundamental no estabelecimento de segurança psicológica para o time.”
O raciocínio é acompanhado por Elizabete Belvão, executiva de gestão de pessoas do Grupo Crowe Macro. Segundo ela, o bom líder nasce da escuta e da troca de experiências com as pessoas que ele encontra ao longo de sua trajetória profissional.
“Líderes bem capacitados e que sabem como formar novos líderes ajudam a equipe a superar desafios. E é importante que eles fiquem em constante aprendizado. Um líder qualificado consegue potencializar seu conhecimento e tornar suas ações mais assertivas na cooperativa que coordena. Isso, com certeza, gera mais resultado para a cooperativa e os associados”, considera.
De acordo com a Elizabete, é primordial que o líder cooperativista seja sincero e verdadeiro em todas as suas ações Ele também precisa ter integridade em relação à sua atuação cotidiana e habilidade de comunicação para conseguir motivar e instruir os membros da cooperativa, além de orientá-los. Outro aspecto importante, segundo ela, é a lealdade. E, por último, mas não menos importante a capacidade de desenvolver pessoas. Selecionar e recrutar bem, treinar as pessoas e motivá-las, além de ter inteligência emocional para transformar a equipe, ajudá-la de acordo com as necessidades e lidar com as pressões. “Com esse perfil completo, ele vai alcançar os objetivos almejados por sua cooperativa”, explica.
Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O sorriso de Maíra Santiago, presidente da Cooperativa Coletiva — especializada em educação corporativa e capacitação de lideranças —, deixa qualquer pessoa à vontade. Educadora de formação, ela lida diariamente com a teoria e com a prática da liderança cooperativista. Afinal, além de roteirizar cursos de formação sobre o assunto, ela própria enfrenta os desafios de motivar os cooperados da Coletiva a atingirem os objetivos estratégicos definidos para o ano.
O cooperativismo é um movimento vanguardista. As competências da chamada ‘liderança do futuro’, estão diretamente atreladas aos valores que expressam a identidade cooperativa, como a ética, o respeito à diversidade e a responsabilidade”, ensina Maíra.
Outras competências também são essenciais para uma liderança cooperativista, de acordo com a educadora: curiosidade, compatibilidade e comunidade. Todas, aliás, características intimamente atreladas aos valores do cooperativismo. A curiosidade, por exemplo, é a força para a expansão do conhecimento. Sobre o mundo, sobre as coisas, sobre os seres, sobre nós. Sem a curiosidade, é difícil desenvolver a empatia — tão proclamada em nossos tempos. Conhecer as virtudes de cada um, cooperado ou colaborador, torna possível o sentido da cooperação. Um coletivo forte se faz de indivíduos fortalecidos, que têm suas competências notadas e usadas a favor do todo.
A curiosidade deve ser ampla e ultrapassar as fronteiras do mercado em que se atua, desejosa em compreender o que ainda não sabe — caso contrário, é mera formalidade a ser cumprida. “Aliás, a curiosidade nos invoca um outro valor cooperativo: a transparência. Olhos atentos a desvendar vitórias e derrotas, sucessos e tropeços. E também a expor os nossos, especialmente nesse lugar de liderança”, explica a educadora.
Outra competência de uma boa liderança cooperativa é a compatibilidade. Tem que ornar com a organização, precisa compor com a identidade do negócio. “Sem compatibilidade, é difícil internalizar o valor da responsabilidade própria. Há de se ter lideranças com uma conexão verdadeira ao movimento. Como atuar de forma responsável e ativa em favor do cooperativismo e da sua cooperativa, sem que haja compatibilidade? Nesse caso, trata-se de muito mais do que uma relação de trabalho, embora seja também. Mas, definitivamente, não dá para se limitar a esse único aspecto.
De acordo com Maíra Santiago, as cooperativas devem, por motivo de ser, realizar aspirações e interesses econômicos, sociais e culturais dos associados.De cada pequeno ato deve emanar essa responsabilidade. A cada decisão financeira, por exemplo, refletir se o associado ficaria feliz com determinada despesa. “Viver a compatibilidade significa atuar com honradez e honestidade. A compatibilidade nos exige comportamentos pautados nos valores da igualdade e da equidade, e o que ambos promovem é a justiça”, explica.
A terceira característica da liderança cooperativa é a comunidade. Trata-se da liderança que, efetivamente, coloca o humano no centro das atenções, deixa de ser centralizadora e passa a buscar o consenso, como um imenso passo evolutivo.
O sorriso de Maíra Santiago, presidente da Cooperativa Coletiva — especializada em educação corporativa e capacitação de lideranças —, deixa qualquer pessoa à vontade. Educadora de formação, ela lida diariamente com a teoria e com a prática da liderança cooperativista. Afinal, além de roteirizar cursos de formação sobre o assunto, ela própria enfrenta os desafios de motivar os cooperados da Coletiva a atingirem os objetivos estratégicos definidos para o ano.
O cooperativismo é um movimento vanguardista. As competências da chamada ‘liderança do futuro’, estão diretamente atreladas aos valores que expressam a identidade cooperativa, como a ética, o respeito à diversidade e a responsabilidade”, ensina Maíra.
Outras competências também são essenciais para uma liderança cooperativista, de acordo com a educadora: curiosidade, compatibilidade e comunidade. Todas, aliás, características intimamente atreladas aos valores do cooperativismo. A curiosidade, por exemplo, é a força para a expansão do conhecimento. Sobre o mundo, sobre as coisas, sobre os seres, sobre nós. Sem a curiosidade, é difícil desenvolver a empatia — tão proclamada em nossos tempos. Conhecer as virtudes de cada um, cooperado ou colaborador, torna possível o sentido da cooperação. Um coletivo forte se faz de indivíduos fortalecidos, que têm suas competências notadas e usadas a favor do todo.
A curiosidade deve ser ampla e ultrapassar as fronteiras do mercado em que se atua, desejosa em compreender o que ainda não sabe — caso contrário, é mera formalidade a ser cumprida. “Aliás, a curiosidade nos invoca um outro valor cooperativo: a transparência. Olhos atentos a desvendar vitórias e derrotas, sucessos e tropeços. E também a expor os nossos, especialmente nesse lugar de liderança”, explica a educadora.
Outra competência de uma boa liderança cooperativa é a compatibilidade. Tem que ornar com a organização, precisa compor com a identidade do negócio. “Sem compatibilidade, é difícil internalizar o valor da responsabilidade própria. Há de se ter lideranças com uma conexão verdadeira ao movimento. Como atuar de forma responsável e ativa em favor do cooperativismo e da sua cooperativa, sem que haja compatibilidade? Nesse caso, trata-se de muito mais do que uma relação de trabalho, embora seja também. Mas, definitivamente, não dá para se limitar a esse único aspecto.
De acordo com Maíra Santiago, as cooperativas devem, por motivo de ser, realizar aspirações e interesses econômicos, sociais e culturais dos associados.De cada pequeno ato deve emanar essa responsabilidade. A cada decisão financeira, por exemplo, refletir se o associado ficaria feliz com determinada despesa.
Viver a compatibilidade significa atuar com honradez e honestidade. A compatibilidade nos exige comportamentos pautados nos valores da igualdade e da equidade, e o que ambos promovem é a justiça”, explica.
A terceira característica da liderança cooperativa é a comunidade. Trata-se da liderança que, efetivamente, coloca o humano no centro das atenções, deixa de ser centralizadora e passa a buscar o consenso, como um imenso passo evolutivo.
Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Para a deputada federal Aline Sleutjes (PR), o número de mulheres no cooperativismo demonstra que elas estão conquistando seu espaço, mas ainda há mais para ser alcançado. “Precisamos criar meios de apoiar e incentivar mulheres para novas missões nas cooperativas e na política”, declarou.
Por ser de uma família e de uma cidade com forte vocação cooperativista e agropecuária, a deputada entende que o protagonismo feminino tem muito a contribuir para o mundo do cooperativismo e do campo.
“Precisamos refletir sobre o espaço das mulheres em todos os níveis hierárquicos no ambiente de trabalho, que deve ser o mais amplo possível em prol não apenas do desenvolvimento coletivo, mas também da equidade social. As mulheres têm conquistado espaços de destaque em diversos setores da sociedade e no agronegócio não é diferente. Um trabalho que sempre foi considerado bruto, pode sim ter a força e o olhar feminino”.
Natural de Castro, cidade do interior do Paraná considerada a capital do leite, Aline foi vereadora por dois mandatos e se tornou a primeira mulher a representar o município na Câmara dos Deputados. Já em seu primeiro mandato, foi a primeira mulher a assumir a presidência da Comissão da Agricultura da Câmara dos Deputados — um desafio e tanto, pois ela assumiu o cargo em plena pandemia.
No primeiro ano da crise sanitária, a maior parte das atividades parlamentares foi interrompida e as votações estavam restritas ao plenário. As demandas de 2020 foram acumuladas para o ano seguinte, mas sob a presidência da deputada, a comissão tirou muitos projetos da fila. “Tive que acelerar e com o apoio e respeito dos meus colegas, conseguimos votar 160 projetos e realizar mais de 90 audiências públicas”, relata.
A deputada também é titular da Secretaria da Mulher da Câmara e desabafa: ser mulher na política sempre é um desafio, em razão da cobrança que sofre para conciliar o trabalho de fora com a vida doméstica, os estudos, a vida social e o cuidado da família.
“Cuidar da casa e dos filhos ainda é visto muitas vezes como uma obrigação feminina e que os homens não precisam se preocupar. Mas temos conquistado nossos espaços não só na política, mas nas demais funções, provando nossa capacidade, desenvoltura e comprometimento”, comenta Aline.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Harry e Eledir são verdadeiras inspirações dentro de suas cooperativas. À sua maneira, cada um deles conquistou a confiança e o respeito de cooperados e colaboradores, tendo muito a ensinar sobre liderança no cooperativismo. O primeiro comanda uma gigante do agronegócio catarinense, ; a segunda é diretora de uma coop de Trabalho paulista; e o terceiro preside uma cooperativa de crédito no em Mato Grosso. O que eles têm em comum? A convicção de que, no coop, o melhor líder é aquele que melhor serve às pessoas.
Firme no propósito de identificar as principais características de uma liderança cooperativista, a equipe da Saber Cooperar conversou com os palestrantes da Semana de Competitividade, realizada em agosto pelo Sistema OCB, e com lideranças de três cooperativas brasileiras. O resultado foi um perfil completo do que é preciso para ser um líder coop.
O primeiro entrevistado foi o presidente da Cooperativa Regional Agropecuária Vale do Itajaí (Cravil), em Santa Catarina, Harry Dorow. Ele foi direto ao ponto ao definir o papel de um líder dentro de uma cooperativa: “o bom líder saber ouvir, é correto, tem atitude e humildade suficiente para trabalhar em equipe”.
Os cargos de liderança foram feitos para quem sabe acompanhar o trabalho de gestão e ver se ele está de acordo com o que o cooperado espera e com aquilo que o mercado consegue absorver”, explica.
Dorow lidera, hoje, uma equipe de cerca de mil colaboradores e mais de quatro mil associados. É ele quem zela pelos resultados das 37 lojas agrícolas e supermercados da Cravil, bem como das 17 unidades de recebimento e beneficiamento de cereais e leite, e da fábrica de ração da cooperativa.
“Os líderes precisam estar em constante processo de aprendizado, buscando se atualizar sobre os assuntos de sua área de atuação. E, nos dias atuais, isso é cada vez mais exigido. Um líder desinformado não pode continuar à frente de uma cooperativa”, ensina.
Audacioso, Dorow sabe que o futuro do coop depende das decisões tomadas no presente. Por isso, o próximo grande investimento da Cravil será a construção de uma Unidade Multifuncional que abrigará um Polo Tecnológico, uma área de recebimento, secagem e armazenagem de cereais; armazenamento e centro de distribuição de insumos agrícolas; e uma fábrica de ração para linha Pet.
“Esse é um projeto para os próximos três anos, e é assim que os próximos 50 anos serão construídos, com um passo de cada vez”, conclui.
PORTO SEGURO
Em outro canto do Brasil, mais especificamente no estado de Mato Grosso, outra liderança do coop explica: um bom líder é um porto seguro, no qual as pessoas sabem que podem confiar. A afirmação é de Eledir Pedro Techio, 61 anos, presidente do Sicredi Ouro Verde.
“Um líder deve ter coragem, empatia, respeito à diversidade e, principalmente, uma mente sempre pronta a aprender com humildade e humanidade. Esses pontos são excelentes e necessários na caminhada de um líder, porque, ao mesmo tempo que ele tem a responsabilidade de formar e preparar outras pessoas na carreira, ele acaba se desenvolvendo”, ensina o gestor, pós-graduado em finanças corporativas.
Na visão de Eledir, que foi diretor e vice-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras em seu estado (OCB-MT), uma grande capacidade e uma das mais importantes de um líder no cooperativismo é a do “saber desaprender para reaprender”.
O conhecimento não é algo petrificado, ; é sólido, sim, mas muda a todo momento, e temos que estar atentos às mudanças e novidades que o mundo traz”, afirma. Ele defende que os líderes precisam aprender sobre as novas tecnologias, bem como sobre todas as atividades da cooperativa, e passar esse novo conhecimento adiante. “Ao compartilhar o conhecimento, estamos multiplicando o bem comum a todos.”
Sob a liderança de Eledir, o Sicredi Ouro Verde tem ajudado a melhorar a vida financeira de mais de 120 mil cooperados, e ainda impacta positivamente a comunidade na qual está situada. No último ano, a cooperativa impactou mais de 64 mil alunos e mais de quatro mil professores, em 183 escolas, nos 15 municípios em que atua, por meio do programa A União Faz a Vida, que leva a cultura cooperativista para dentro da sala de aula. Também formou quase 16 mil pessoas em educação financeira e outras 7.600 em educação cooperativista.
Um líder cooperativista age com sabedoria, equilíbrio e empatia, sempre pensando no bem maior, que é comum a todos em volta. Dentro do cooperativismo, dizemos que não tem classes, nem sexo, nem etnias que separa as pessoas. Somos todos um só, cada qual com suas qualificações e desafios pessoais. Uma pessoa adepta à liderança está sempre pronta a apoiar e ajudar o próximo a crescer e se desenvolver em todos os aspectos da vida”, ensina.
Outra característica de Eledir define bem o papel de um líder cooperativista: a capacidade de unir as pessoas em torno de um objetivo comum. “A proximidade entre os colaboradores dentro da cooperativa acontece naturalmente quando há um sentimento de pertencimento, um propósito maior que une as pessoas. Quando se tem isso bem claro, automaticamente as pessoas se sentem motivadas no trabalho, que acaba se tornando algo prazeroso acima de tudo”, esclarece.
Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Clara ainda é uma criança, mas é para ela que precisamos olhar se quisermos entender o futuro do cooperativismo. Criada em um mundo que pede respostas rápidas, com excesso de informações e uma preocupante crise ambiental, a menina crescerá exigente e consciente. Por isso, ela e as novas gerações de consumidores tenderão a dar preferência a produtos e serviços com impactos positivos no meio ambiente e na sociedade, aliados à agilidade prestada pelas novas tecnologias. E quanto mais personalizados aos seus hábitos e gostos forem esses produtos, melhor.
Mesmo nos dias de hoje, valores e objetivos pessoais não são mais os mesmos. Antes mesmo dos anos de distanciamento social por conta da covid-19, consumir deixou de ser apenas uma forma de possuir algo para se tornar uma oportunidade de viver novas experiências.
O que já está ditando o ritmo hoje, e que na próxima década ainda será mantido, é o comportamento do consumidor. Será o fator de sucesso para ligar a estratégia à cooperação. Tanto o mercado quanto o modelo cooperativista precisam estar atentos a características individuais, a características socioculturais do consumidor”, afirma Robson Cardoso, gerente do Núcleo de Inovação e Mercados do Sistema OCB.
Pesquisa da Euromonitor International sobre estilo de vida publicada pelo relatório 10 principais tendências globais de consumo, de 2022, aponta que entre 2015 e 2021 dobrou a quantidade de consumidores no mundo que priorizam o tempo para si mesmos: de 12% para 24%, ou seja, eles não têm tempo a perder na hora das compras. Os dados mostram também aumento de 30% para 40% daqueles que sentem ser capazes de fazer a diferença no mundo por meio de suas escolhas e ações. Para completar, 67% dos consumidores tentaram causar um impacto positivo no meio ambiente por meio de suas ações cotidianas em 2021.
A pesquisa também avaliou a experiência dos consumidores com os serviços on-line e mostrou que 57% deles acessam serviços bancários por meio de seus smartphones ao menos uma vez por semana. Além disso, entre 2017 e 2021, houve um crescimento global de vendas de 56% de aparelhos de realidade aumentada/ realidade virtual (AR/VR). Um indício de que o movimento metaverso será um novo impulso das vendas de produtos virtuais.
“Passamos a buscar online muitos produtos e serviços , mesmo que a gente vá comprar no físico. Essa relação entre o digital e o físico, online e offline, está se transformando. Agora, existe uma mistura maior desses, por isso as cooperativas precisam estar digital e fisicamente presentes na vida das pessoas”, explica Luísa Fedrizzi, diretora de Negócios e Tendências na Futures Units, uma das palestrantes da Semana de Competividade.
PROPÓSITO
Os millenials (nascidos na década de 1990) e a geração Z (nascidos a partir do ano 2000) serão uma grande parcela dos consumidores do futuro. Eles acreditam poder fazer a diferença por meio de suas ações, com impactos mínimos sobre o clima e a sociedade. Esse novo consumidor estará em busca de marcas mais humanizadas, que lhe ofereça produtos e serviços de acordo com suas necessidades, de forma rápida e flexível.
Pesquisas mostram que quase 40% da população mundial são da geração Z e em 2030 serão 50%. Então, as necessidades e interação com esse público precisam ser feitas de formas diferentes do que viemos fazendo ao longo do tempo.
Por meio dos produtos que vier a comprar, o novo consumidor pressionará as empresas e marcas a se posicionarem em relação às causas em que acredita. Diferentemente do que acontecia até hoje, a lealdade à marca estará necessariamente ligada aos hábitos e propósito de vida do consumidor, que não hesitará em trocar de produto ou serviço se suas exigências não forem atendidas.
Iniciativas que apresentem e comprovem o compromisso de uma organização com a responsabilidade socioambiental, como produtos sustentáveis e com baixa emissão de carbono, ajudarão a conquistar esse consumidor. Afinal, por uma questão de sobrevivência, ele estará comprometido com o impacto que produz a cada vez que compra algo ou utiliza algum serviço.
Não estamos falando apenas da relação de consumo de bem. O mercado financeiro precisa ficar de olho da mesma forma. Existem hoje jovens que checam o perfil da instituição financeira para saber se ela tem viés social, modelo de governança, antes de guardar seu dinheiro”, diz Robson Cardoso, gerente do Núcleo de Inovação do Sistema OCB.
Pensando na preocupação das novas gerações com o valor social das empresas, o Secoop Goiás lançou campanha para incentivar o consumo de produtos das cooperativas do estado. Como? Mostrando à população que os princípios do cooperativismo estão alinhados aos anseios deste novo consumidor.
A campanha, lançada no ano passado, usou como base estudos de consultorias sobre a perspectiva dos consumidores em relação à pandemia, mostrando que 48% dos millenials esperam que as empresas tomem iniciativas capazes de influenciar em mudanças durante crises, e que 85% dos brasileiros deverão ter como prioridade o meio ambiente no período pós-pandêmico.
“As cooperativas precisam mostrar que seus produtos têm valor social muito grande, pois geram trabalho e renda para quem produz, preservam o meio ambiente e ainda geram retorno para a comunidade”, explica o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira.
Segundo Pereira, a campanha conseguiu mostrar à população as diferenças entre comprar um produto de uma empresa (pautada pelo lucro) e a de comprar um produto feito pelo coop (priorizando as pessoas e a sustentabilidade).
Hoje, as pessoas procuram um propósito atrás de cada produto. E o cooperativismo mostra esse propósito nos seus princípios. A tendência é de que o consumidor do futuro não compre o produto apenas pelo preço, mas pelo valor que ele representa para a sociedade”, conclui.
Consciente dessa mudança do perfil do consumidor, o Sistema OCB lançou em 2019 o carimbo SomosCoop, que pode ser aplicado gratuitamente em produtos e serviços de cooperativas de todos os ramos. Objetivo? Mostrar ao consumidor que aquele item foi produzido dentro de uma coop e, portanto, está alinhado aos princípios e aos valores éticos e sustentáveis do nosso jeito diferente de fazer negócios. Mais que isso: o selo SomosCoop é uma garantia de que cada centavo pago pelo consumidor será revertido em emprego, renda e oportunidades para milhares de pessoas. E que parte desses recursos será reinvestido, gerando um ciclo virtuoso de de desenvolvimento para toda a sociedade.
PERSONALIZE
As experiências com produtos personalizados que tragam bem-estar pessoal é outra tendência de consumo de um mundo pós-pandemia. Neste contexto, o investimento em tecnologias de Inteligência Artificial (AI) que desenvolva soluções personalizadas mais sofisticadas é um diferencial, e uma oportunidade para que as empresas criem conexões profundas com seus clientes.
Antigamente a preocupação era produzir um milhão de unidades da mesma coisa, hoje a tendência é que se produza um milhão de formas diferentes da mesma coisa, atendendo os desejos personalísticos do consumidor”, diz Remy Gorga, presidente do Sistema OCDF.
Gorga defende que as cooperativas estejam atentas às necessidades de um mercado mais exigente e seletivo, pensando em produtos e serviços personalizados com a vantagem de ser produzidos por uma organização que possui princípios e valores.
“O consumidor dos produtos de cooperativas está nesse momento de transição rápida, bombardeado por uma gama enorme de produtos disponíveis nos grandes “atacarejos”, no e-commerce ou no mercado de bairro, cada vez mais utilizado. Penso que a melhor definição para esse consumidor é a volatilidade na escolha dos seus produtos, ficando um grande desafio para as cooperativas de conseguir fidelizar esses consumidores aos seus produtos”, acredita.
MULTICANAIS
O consumidor de amanhã terá como uma de suas preferências o atendimento híbrido (físico e virtual), que lhe proporcione um serviço da maneira que lhe for mais conveniente. Ter a empresa sempre à disposição será um diferencial, ao contrário do que era disponível para o cliente de “ontem”, acostumado com um atendimento físico, horário inflexível, prestado por um único canal.
“A conveniência virou fator de competitividade, as pessoas estão com pressa, não querendo mais esperar, querem ter ofertas customizadas para sua necessidade e por exemplo, ter a opção de conseguir comprar por um e-commerce sem a interação com ninguém. As nossas cooperativas precisam encontrar a dosagem, de acordo com o seu modelo de negócio, entre as experiências físicas e remotas”, analisa Luísa Fedrizzi, da Futures Units.
ESCOLHA CONSCIENTE
Caio Vinícius Chaves, 22 anos, é estudante de medicina, e, assim como os demais nascidos na geração Z, toma decisões de consumo baseadas em suas convicções pessoais.
Ele escolheu investir e movimentar seu dinheiro por meio de uma cooperativa financeira por acreditar no compromisso dessas instituições com as pessoas. “É necessário propósito. Preciso saber que estou investindo em empresas e em iniciativas que se alinhem à minha orientação social, política e econômica”, diz.
As ações filantrópicas praticadas pela instituição — como um programa de inserção de jovens no mercado de trabalho e outro de inclusão digital de comunidades mais vulneráveis — foram fatores adicionais na decisão de Caio pela cooperativa. “Me sinto muito bem representada por ela e por seu Instituto, que promove uma série de projetos de responsabilidade social, provando seu compromisso com o desenvolvimento da comunidade”, explica.
Caio argumenta que, ao contrário dos bancos tradicionais, as cooperativas sempre priorizaram os ganhos coletivos acima dos ganhos individuais. Além disso, segundo ele, a renda fixa da cooperativa remunera bem acima do mercado e, no final do ano, os correntistas ainda recebem participação nos resultados (sobras).
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COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA PARA IMPULSIONAR SUA COOP
Marcelo Minutti, professor, empreendedor e pesquisador da área de inovação, afirma que as cooperativas devem considerar as novas tendências de consumo em suas estratégias de comunicação. Ele destaca duas principais mudanças de comportamento do consumidor que impactam as cooperativas: a busca pela conexão com marcas que respondam às crenças pessoais e a procura cada vez maior pela sensação de pertencimento a algo.
Quando se fala de cooperativismo tem tudo a ver: a sensação de pertencimento, da formação de comunidade, e tem uma atuação muito forte na sociedade com crenças e valores e bandeiras muito claras”, explica. “Quando ela (cooperativa) coloca essas crenças e valores na sua comunicação, ela tem que praticar as bandeiras que ela afirma defender. Isso gera uma conexão com o consumidor mais profunda, de transparência e confiança.”
Minutti lembra que, embora exista hoje uma oferta variada de canais digitais que podem ajudar a divulgar o seu negócio para o maior número de pessoas possível, é importante que as cooperativas utilizem essas ferramentas com estratégia de impacto local.
É preciso efetivamente usar o ambiente digital para criar conexões legítimas com esse público. Quando você só repete uma mensagem, sem conectar com as necessidades do público, acaba não gerando resultados. A resposta é: alinhe a sua estratégia de comunicação às necessidades reais do público com o qual você quer criar uma ponte de relacionamento e se comunicar”.
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Melhor idade digital
Enquanto estavam confinados na pandemia, eles foram obrigados a se adaptar ao mundo digital, e se familiarizar com as ferramentas tecnológicas. Segundo a Euromonitor International, 45% dos consumidores com 60 anos ou mais usaram um serviço bancário no celular pelo menos uma vez por semana no ano passado.
É importante lembrar que a população com mais de 60 anos irá mais do que dobrar nos próximos anos. Em 2040, terá aumentado em 65%, chegando a 2 bilhões de habitantes no mundo. Segundo dados do IBGE, 40% da população brasileira terá 60 anos ou mais em 2100. Além disso, é o grupo que se enquadra entre as maiores faixas de renda de consumo.
“A otimização de aplicativos móveis, redes sociais e sites para idosos digitais será fundamental para capturar seu poder de compra. Tecnologia fácil de usar e soluções contínuas combinadas com comunicação frente a frente definirão o futuro da inclusão digital para idosos. Construir um plano ágil direcionado tanto para idosos digitais quanto para idosos novatos na área aumentará o retorno sobre o investimento”, diz o estudo.
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ENTENDA DE UMA VEZ POR TODAS AS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR CONSUMIDOR DE ONTEM
ANTÔNIO
60 ANOS
FUNCIONÁRIO PÚBLICO APOSENTADO
GERAÇÃO BABY BOOMERS
É UM CONSUMIDOR QUE:
- É atendido presencialmente, em lojas físicas
- Consome através de apenas um canal
- Adequado a horários inflexíveis para comprar e utilizar serviços
- Compra por impulso ou guiado pelo menor preço
- Não se preocupa com a origem do produto
- Indiferente ao valor social da empresa
- Não busca novas experiências
CONSUMIDOR DE HOJE
BIANCA
42 ANOS
ADVOGADA
GERAÇÃO X
É UMA CONSUMIDORA QUE:
- Procura saber a origem dos produtos e serviços
- Prioriza produção com responsabilidade socioambiental
- Consome alimentos mais saudáveis e menos processados
- Exige que a empresa esteja sempre disponível em diferentes canais
- Gosta de ofertas customizadas para suas necessidades
- Quer ter a opção de comprar via e-commerce
- Pensa em consumir algo que tenha um propósito por trás do produto
- Mobilidade nas relações de consumo ?
- Troca o “possuir algo” para “ter experiências”
CONSUMIDOR DO AMANHÃ
CLARA
23 ANOS (a serem completados em 2030)
DESENVOLVEDORA DE APPS
GERAÇÃO Z
É UMA CONSUMIDORA QUE:
- Espera gerar um impacto mínimo no clima
- Se interessa pelo valor social da entidade produtora
- Confia em marcas que se mostrem humanizadas
- Busca produtos e serviços personalizados
- Tem interesse pelo metaverso
- Aprecia o equilíbrio entre vida pessoal e profissional
- Deseja comodidade e agilidade no acesso aos produtos e serviços
- Procura um propósito para consumir ? ou consumir com propósito?
- Exige ação e transparência das marcas
- Também procura por formas alternativas de pagamento (criptomoeda)
- Prefere aplicativos de gerenciamento financeiro digeríveis, educacionais e
simples
- Troca o “possuir algo” para “ter experiências” (igual ao anterior)
Maior adesão pela venda reversa (recommerce) que nada mais é que a compra e venda online de produtos de segunda mão.
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Ele é pontual. Aparenta ser muito sério e bem objetivo. É direto nas ordens, sempre de forma educada. Quando o áudio da entrevista dá eco, sério, pede uma solução à equipe. É prontamente atendido. A ”fama” de que Ronaldo Scucato, 85 anos, é “bravo” parece se confirmar, mas a impressão dura apenas os primeiros minutos de conversa. Logo, ele se solta, começa a contar sua longa trajetória de sete décadas no cooperativismo, os segredos de ser um líder e a paixão pelas pessoas.
Dependendo do tema, ele fecha os olhos tingidos do mesmo tom azul-turquesa da camisa polo que veste e solta uma gargalhada gostosa. Este mineiro reclama que Brasília é uma cidade feita com tesourinhas em excesso, mas, ao final de uma hora de bate-papo, até promete tomar um café pessoalmente quando estiver de passagem pela capital — o que só confirma outra qualidade que lhe é atribuída: a de ser uma companhia descrita no superlativo. Agradabilíssima.
Mas, de onde vem, então, a fama da braveza.? “Minha?”, ele se pergunta, arregalando os olhos como quem parece não concordar. “Eu sou enérgico”, prefere definir. “Eu faço muita cobrança a mim mesmo. Ninguém tem direito de cobrar de seu semelhante antes de cobrar a si próprio, nem de olhar para o outro de cima para baixo, a não ser para lhe dar a mão e ajudá-lo a subir”, afirma Ronaldo Scucato, uma das lideranças mais admiradas de todo o cooperativismo, que atualmente presidente o Sistema Ocemg — Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais.
Há quem aposte que a personalidade forte é herança que corre nas veias. Scucato é neto de italianos, de por parte de pai e mãe. Ele e os cinco irmãos pertencem à segunda geração da família europeia que nasceu nas Américas, mais especificamente em Belo Horizonte. E foi justamente por causa da tradição familiar que ele começou a trabalhar muito cedo e, consequentemente, ouviu falar pela primeira vez do cooperativismo, quando ainda era um menino jovem de 15 anos.
O COMEÇO
Família italiana, conta Scucato, incentiva os homens a buscarem o autossustento desde muito cedo. Os rapazes são estimulados a conquistarem, o quanto antes, a própria independência financeira. pensando nisso, Ronaldo procurou trabalho em uma cooperativa de consumo de funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Isso aconteceu há 70 anos.
Naquele tempo, o Brasil vivia uma efervescência de desenvolvimento impulsionada pelo governo de Juscelino Kubitschek, com a abertura de novas estradas e o investimento em obras para a construção de uma nova capital. O DER se tornou um dos órgãos públicos mais importantes do país, e foi lá que Ronaldo encontrou seu primeiro emprego: em um supermercado exclusivo para os funcionários e os familiares da cooperativa vinculada ao departamento.
Sua função estava atrás no balcão. Atender gente que levava consigo uma listinha de compras escrita à mão era a missão. Era também a oportunidade de conversar e oferecer atenção diferenciada àquela clientela. “Foi aí que aprendi a gostar de gente. A gente convive com a pessoas, mas só o contato faz com que você comece a admirá-las. Conviver é uma coisa, mas gostar é outra”, afirma.
Tal habilidade é um dos segredos que transformam um homem comum em um grande líder. Ronaldo se tornou um deles.
O bom líder tem que gostar de pessoas. Sem gostar de gente, não se exerce liderança. Depois, tem que mostrar confiança na sua equipe. Tem que saber delegar e entender que ele não consegue fazer tudo sozinho”, acredita. “As pessoas veêem no rosto do líder que ele gosta daquilo que faz. Elas reconhecem que ele está trabalhando por amor. É essa a energia que elas sentem ao conhecer uma liderança”, acrescenta.
Quem trabalha com Ronaldo confirma a tese defendida por ele. Luiz Gonzaga Viana Lage, diretor- presidente do Sicoob Central Cecremge, garante: o amigo é o tipo de gestor que não manda recado por e-mail ou por ofício. É o tipo de chefe que convida para uma conversa, olha nos olhos, se preocupa com o outro, quer ouvir e ajudar as pessoas. Assim, ele forma suas equipes, na base da confiança e do apoio mútuo.
“A grande maioria das cooperativas de Minas Gerais, e até do Brasil, o reconhecem como líder, como um grande conhecedor e como grande estudioso do cooperativismo”, afirma Luiz.
DECANO DO COOPERATIVISMO
Aquele menino que tomou gosto por gostar de pessoas ainda na adolescência, se interessou pelo cooperativismo e começou a estudar o tema na mesma época. Ronaldo lembra que, nos anos 1950, pouca bibliografia existia sobre o tema. Ele foi atrás de instituições internacionais que pudessem explicar melhor como funcionava aquele modelo de negócio que valorizava, acima de tudo, o capital humano.
Esse é o conceito do cooperativismo: preparar as cooperativas para fazer bons negócios, para atuar no mercado, para disputar lugar e ter resultado positivo. Só assim é possível retirar recurso para aplicar no social. Isso faz a nossa diferença para uma empresa essencialmente mercantilista”, entendeu.
Desde aqueles tempos de garoto curioso, impulsionado pelo desejo de conquistar a autonomia econômica precocemente, o neto de italianos não parou mais de trabalhar. Formou-se em Direito, Administração e Economia. Passou pelas universidades de Minas Gerais, de Curitiba e de Bolonha, na Itália. Atualmente, além de presidente do Sistema Ocemg, é presidente da Federação dos Sindicatos das Cooperativas dos Estados de Alagoas, Bahia, Espirito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina (Fecoop-Sulene); diretor da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), ); conselheiro do Sebrae-MG, e membro do Conselho Estadual de Cooperativimo (Cecoop-MG).
À lista de cargos ocupados somam-se os de fundador e presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras). Também foi diretor, vice-presidente e conselheiro da Sicoob Central Cecremge; vice-presidente da OCB, e coordenador da Comissão Nacional de Juristas que elaborou o anteprojeto da Lei Cooperativista, entre outras cadeiras nas quais já esteve sentado.
Tanta experiência e tanto conhecimento conferem a Scucato o título de “decano do cooperativismo — aquele, como define o dicionário, que há mais tempo faz parte de uma associação, fundação, sociedade etc. Um deão.
Ronaldo Scucato é um defensor intransigente do cooperativismo e tem sido uma das mais importantes lideranças deste extraordinário movimento nas últimas décadas no Brasil, presente em todos os momentos relevantes da história da OCB e de sua gestão. É uma referência indispensável para quem quiser conhecer a doutrina cooperativa e sua prática no Brasil e no mundo”, resume Roberto Rodrigues, ex-presidente da Aliança Cooperativista Internacional e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getuúlio Vargas.
E de onde vem tanta energia para cumprir uma agenda tão cheia e um currículo tão extenso? “Oh, pergunta difícil!", exclama Scucato depois de um tempo. Pensa mais um pouco e conclui: “Acho que tenho essa energia herdada dos meus pais, que sempre foram muito operantes e trabalhadores”.
O pai começou a vida como carpinteiro e chegou ao fim dela como instrutor de aeronáutica, preparando centenas de pilotos pelo país para tirarem o brevê. A mãe era uma mulher sábia, que falava três idiomas: português, francês e italiano. Era extremamente dedicada à família e despertou no segundo filho o amor pelas pessoas.
Talvez seja essa uma parte do segredo de sua vitalidade, deduz. A outra, diz com os olhos azuis brilhando, ele atribui ao divino. “Não sou carola nem beato, mas acredito em Deus e acho que essa energia vem Dele e da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Eu me encantei por ela e sou devoto”, afirma, enquanto exibe a corrente na qual leva ambos junto ao peito.
MEMÓRIA INVEJÁVEL
Sem duvidar da proteção que vem dos céus, Ronaldo faz sua parte para manter corpo e mente sãos. Ler um bom livro, estudar, e atualizar o conhecimento estão incluídos na lista para reforço da saúde mental. Exercício físico? Já foi mais assíduo e até pouco tempo atrás praticava esportes. “Mas aAgora estou meio malandro”, dá uma boa risada. “Mas pretendo retomar”, promete.
Ronaldo já foi atleta. Com mais ou menos 10 anos de idade, começou a jogar vôlei. Com 1,83m de altura, se deu bem nas quadras e foi parar na Seleção Brasileira. Hoje, está parado. Culpa da “preguiça”, explica. “Tem uma piada que diz: ‘sabe onde o peixe vive? No mar.’ E a girafa? Na floresta. E a preguiça? Dentro da gente...”, e solta outra boa gargalhada.
Quem conhece o Ronaldo objetivo e enfático no trabalho, também revela um lado descontraído e brincalhão. “Ele é uma pessoa extremamente agradável e alegre, e tem uma relação de muita simplicidade no trato com as pessoas e com os amigos. Nos momentos de descontração, sempre procura externar esse lado de bem com a vida”, descreve Geraldo Magela, assessor institucional da Ocemg e amigo de longa data do presidente da Organização.
Além de um bom contador de “causos”, dizem que Ronaldo é dono de memória invejável. “Ele é capaz de citar personagens de 200 anos atrás como se estivessem vivos até hoje”, brinca. Impressionado com tal habilidade do amigo, Geraldo faz questão de contar uma experiência compartilhada com ele.
Em uma viagem institucional à Inglaterra, Ronaldo propôs, ao fim dos trabalhos, que o grupo fizesse um passeio a Stratford-upon-Avon, terra natal de William Shakespeare. Ali, ele deixou de ser o gestor, o líder e virou o guia turístico, o professor. O mineiro conhecia em detalhes a vida do poeta e dramaturgo inglês, e deu uma aula de história aos colegas de trabalho. Geraldo ficou encantado com o que aprendeu e elogia a generosidade do amigo em compartilhar sua cultura e seu conhecimento. “Foi muito especial. Ele é uma pessoa que tem uma cultura geral extraordinária, uma longa experiência de vida. Então, os momentos que temos de descontração juntos são de grande aprendizado.”
Scucato já visitou muitos lugares. Tantos que nem sabe citar dos quais mais gostou. Conheceu paisagens inesquecíveis no “sul da França, no norte dos Estados Unidos. “Ah, são tantos lugares bonitos...”. Mas, diga um lugar maravilhoso: “Belo Horizonte”, não titubeia.
COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL
Viajar, aliás, é um grande prazer para este cooperativista. Seja por lazer ou a trabalho. Recentemente, esteve na Dinamarca e chegou há pouco da Escócia. Ossos do ofício. Ronaldo investe na formação profissional de seus líderes e aposta em um tour internacional de preparação de seus dirigentes. Eles vão aprender no exterior o que tem de mais moderno, atual e eficiente sobre gestão de negócios.
Os gestores liderados por Scucato são preparados por uma equipe pedagógica de excelência em Minas Gerais. Depois, arrumam as malas e seguem rumo às universidades de Lisboa, da Suíça e da Dinamarca.
Praticamente todos os meses estamos levando gente para fora do país, para ver o que está acontecendo no mundo. É uma preparação não só para a gestão, mas também voltada para o social. Você não constrói um paraíso social em cima de uma ruína econômica. Você tem que ter os resultados positivos para mitigar as diferenças sociais. Para isso, temos que ter cooperativas fortes, e esse orgulho eu tenho: o de preparar as nossas lideranças”, ele fala e bate, literalmente, no peito.
O olhar para o indivíduo é mesmo uma virtude forte da liderança exercida por Scucato. Ele acredita nas pessoas e defende que nenhum líder constrói projeto solo. “Líder deve ter o dom de saber que não é o criador”. Por isso, defende as relações horizontais e as parcerias. Cooperativismo é um sistema feito de gente para gente.
SANGUE NOVO
Ronaldo incentiva o empreendedorismo e a força do jovem que “chega trazendo um sangue novo”, trazendo inovação e criatividade. Ele acredita, especialmente, nas mulheres, “donas da persistência e da capacidade de influenciar, e muito, o comportamento do cooperado frente à cooperativa”. Ele admira a competência, o perfeccionismo, a organização e a facilidade que elas têm em desenvolver multitarefas.
No sistema Ocemg, temos 10 gerências, e cinco estão com mulheres. Eu acho que não é só o futuro do cooperativismo que é feminino. Pelo que a gente assiste, cabe a elas o futuro do mundo.”
Apostar nas pessoas e se preocupar com elas, aliás, é outro predicado muitas vezes atribuído a Ronaldo. Na sua rotina, ele coloca em prática o 7º princípio do cooperativismo, que prega o “interesse pela comunidade”. Tanto que, em 2009, resolveu formalizar a bandeira de ajudar o outro e marcou no calendário um dia exclusivo para cooperar. Nasceu assim, o Dia C, entre as cooperativas de Minas Gerais.
A proposta é que cada cooperativa ajude da forma que for possível: uma arrecada alimentos; outra doa materiais hospitalares; podem fazer doação em dinheiro; há quem ofereça exames de oftalmológicos e óculos às crianças com deficiência visual e, com isso, melhore o rendimento escolar delas. Há quem contribua com a expertise em reciclagem de eletrônicos, ; outros, com fontes renováveis de água ou energia fotovoltaica, só para citar alguns exemplos. Cada um coopera como pode.
A união foi tão transformadora que o resto do país seguiu o exemplo, e a data passou a ser celebrada, desde 2014, em todo o Brasil. O projeto foi reconhecido até pela Organização das Nações Unidas, e Scucato foi convidado, em 2017, para ir à Malásia apresentá-lo ao mundo. Por aqui, no ano passado, as ações do dia C beneficiaram mais de 5 milhões de cidadãos Brasil afora. “Não quero ficar ostentando, mas foi uma ideia minha.”.
Entre tantas conquistas das quais o presidente da Ocemg se orgulha, de uma delas ele se sente ainda mais prodigioso: de ter arrebatado o coração de Norma. Quando cita a mulher com quem foi casado por 51 anos, noivo por três e namorado durante outros três, ele pede para que busquem uma foto dela.
Norma partiu há 14 anos, mas Ronaldo mostra a aliança na mão esquerda e diz que continuam casados. Nós combinamos em vida que, quando um morresse, o outro não tiraria a aliança.” Filhos, não tiveram. Restam as lembranças de um casamento feliz. “Norma era muito conhecida no cooperativismo, e todos diziam que, se eu estava com ela, eu deveria prestar para alguma coisa”, brinca, orgulhoso desse seu feito perfeito.
Esta matéria foi escrita por Flávia Duarte e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Toda cooperativa é um caldeirão de ideias. Por ser uma sociedade composta por pessoas, as coops costumam reunir histórias, pensamentos e características diferentes. E essa diversidade é um facilitador importante do processo de inovação, que — vale destacar — não precisa estar vinculada a nenhuma nova tecnologia.
De forma simples e objetiva, a inovação é pensar novos caminhos para resolver problemas ou aproveitar as oportunidades que se colocam no dia a dia de uma organização. Você inova quando revê processos para torná-los mais ágeis, quando melhora um produto já existente, quando cria um novo jeito de se relacionar com o cliente. Essas mudanças podem ou não contar com suporte tecnológico. O importante é que tragam novos e melhores resultados para o grupo.
Dito isso, é importante saber que existem dois modelos possíveis de inovação: o fechado (desenvolvido integralmente dentro de uma empresa ou cooperativa, pelos talentos da casa), e o aberto (com a participação de agentes de fora da organização em uma, diversas ou todas as fases do processo).
Por ser um ecossistema naturalmente colaborativo, o cooperativismo tem aberto espaço para programas de inovação aberta.
'Ao buscar parcerias com universidades, startups e, principalmente, outras cooperativas, o coop ganha agilidade e capacidade de desenvolver novos produtos e serviços. As práticas de inovação aberta são muito importantes, por ajudarem a criar essa complementaridade de saberes”, explica Maria Carolina Rocha, CEO da ABGI, empresa de consultoria que apoia as organizações no acesso de informações e oportunidades de fomento à inovação.
Ela foi uma das palestrantes da Semana de Competividade, realizada em agosto pelo Sistema OCB.
A Saber Cooperar entrevistou um dos maiores especialistas no conceito de Inovação Aberta no Brasil: Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups. Ele também é professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), diretor do IVP Capital Inteligente e conselheiro de Inovação e Competitividade da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Tem PhD em Inovação pela Fundação Getulio Vargas (FGV), além de formações nas universidades de Michigan, Califórnia e Virgínia, nos Estados Unidos.
O conceito de inovação aberta constata o fato de que as organizações públicas e privadas dependem cada vez mais do ecossistema externo para inovar. É difícil elas conseguirem produzir inovações no ritmo, na frequência, na intensidade e na qualidade que precisam para se manterem competitivas. Por isso, é comum realizarem programas abertos de inovação, de forma estruturada e intencional. Passa a ser uma prática de gestão”, resume o executivo.
Na opinião de Rondani e Maria Carolina, cada vez mais, a inovação é fruto de esforços de ecossistemas, em que múltiplas organizações, entidades, empresas e pessoas participam. Ecossistema é, portanto, palavra definitiva para se falar sobre a gestão da inovação.
Se na natureza, para que um ecossistema esteja equilibrado, são necessárias árvores nativas, vegetação, manutenção de condições ambientais saudáveis, o mesmo se aplica ao setor produtivo. É preciso unir universidades, empresas, pesquisadores e cooperativas para manter um ecossistema de inovação produtivo”, explica o CEO da 100 Open Startup.
LABORATÓRIO DA INOVAÇÃO
O Sistema Unimed — o, maior sistema cooperativo de saúde do mundo —, inaugurou uma nova etapa em sua jornada de inovação e transformação digital, por meio do Unimed Lab — hub de inovação aberta que visa conectar suas cooperativas, startups, investidores e outros parceiros estratégicos interessados no desenvolvimento de soluções inovadoras na área da saúde.
O Sistema Unimed investiu mais de R$ 30 milhões para o desenvolvimento de startups e inovação em 2021, além de prover grandes parcerias conectando as startups em todo o ecossistema, segundo relatório produzido pela 100 Open Startups. Os resultados — como era de se esperar — já começaram a aparecer.
Em 2021, o Unimed Lab saltou da posição 700 no ranking Top Open Corps de 2019 (maiores corporações abertas de 2019, em livre tradução) para o 8º lugar no ranking geral das empresas mais abertas à inovação do Brasil. Na mesma premiação, conquistou o primeiro lugar entre as marcas mais inovadoras do setor de serviços de saúde do país e foi nomeada a organização mais atraente em inovação aberta na edição de março da OiWeek Digital — 100 Open Startups.
Outro reconhecimento veio do Sistema OCB, que destacou o Unimed Lab como um dos principais cases de sucesso do livro Inovação no Cooperativismo: Um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.
O Unimed Lab foi criado com o objetivo de se tornar referência de inovação aberta em saúde e fortalecer o compromisso da Unimed com a inovação e a transformação digital na saúde, por meio de um programa de inovação colaborativo composto por suas cooperativas, startups, investidores, mantenedores, hubs, aceleradoras, incubadoras, universidades e parcerias com players do segmento de saúde”, diz Maurício Cerri, superintendente de TI e Inovação da Unimed do Brasil.
Em linha com a vocação cooperativista, o Unimed Lab vem conquistando o apoio de várias parcerias que viabilizam diferentes serviços, como, a abertura de canais de relacionamento com o mercado, curadoria, treinamento, incubação e formação. Entre as parcerias já estabelecidas, estão as empresas Eretz bio (incubadora de startups do Hospital Albert Einstein), a 100 Open Startups, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis), KPMG, Grupo Supera Park (incubadora de startups da USP de Ribeirão Preto), Zlabs (hub de inovação da healthtech Zitrus), Central RS, Faculdade Unimed e a Associação Brasileira CIO Saúde.
“O Unimed Lab reforça o compromisso da Unimed com a evolução e a perenidade de todas as cooperativas do Sistema e na geração de valor da saúde suplementar do país. Entendemos que, em cenários de alta complexidade e simultaneidades, não pode haver inovação sem a perspectiva da cooperação – — desde a identificação de oportunidades e problemas a serem resolvidos, até o desenvolvimento das melhores soluções. Essa é a grande inspiração que o projeto pode levar para outras iniciativas no setor”, completa.
PARA TODOS
Engana-se quem acredita que apenas cooperativas do porte do Sistema Unimed conseguem se conectar.
A inovação é aberta para todos”, garante Maria Carolina.
A maior prova disso é que, há uma série de agências no Brasil que apoiam as pesquisas e atividades no desenvolvimento de inovação. O próprio Sistema OCB lançou, em 2021, o programa Conexão com Startups, que lançou uma série de desafios de inovação que poderiam melhorar os processos de cooperativas de diferentes ramos e tamanhos.
Também podemos citar como exemplo a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), organização vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que lança, periodicamente, chamadas públicas de recursos reembolsáveis para programas de inovação”, completa a CEO da ABGI.
Maria Carolina terminou sua palestra na Semana de Competividade elogiando a iniciativa das cooperativas que já estão captando recursos ou buscando incentivo público para investir em inovação aberta. Muita delas utilizando a chamada Lei do Bem.
Maria Carolina Rocha, deu dicas de como investir e fomentar a inovação no coop.
Esta matéria foi escrita por Morillo Carvalho e Rita Frazão e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
De forma simples, o metaverso pode ser explicado como uma expansão da internet: trata-se de um espaço que promete ampliar as oportunidades de interação entre os usuários, usando principalmente a realidade virtual. Tal qual plataformas antigas como Second Life, jogo online lançado no início dos anos 2000, o usuário poderá viver experiências imersivas como participar de um jogo, de um show de música e, por que não, fazer compras de produtos e serviços. E, até mesmo, trabalhar. Já há empresas experimentando a realização de reuniões e eventos virtuais no Metaverso.
Os usuários vão utilizar principalmente duas tecnologias já bem comuns no universo dos games: realidade aumentada e realidade virtual. A primeira é quando se utiliza elementos digitais para interagir com a realidade offline. Um exemplo é o game Pokemón Go, que foi febre há alguns anos e permitia que os participantes saíssem “caçando” bichinhos pelas ruas - que na verdade só existiam a partir da projeção do aplicativo. A segunda é quando se utiliza equipamentos como óculos para viver uma experiência imersiva: tudo em volta de você é uma realidade virtual. Isso pode ser utilizado por exemplo para que o usuário assista um show, ou participe de um evento corporativo.
A Meta lançou no ano passado a ferramenta Horizons, ainda gratuita, em que usuários e empresas podem criar seus avatares e negócios virtuais no metaverso. Várias empresas de tecnologia estão investindo pesado no conceito. Aos mais reticentes, Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta lembrou que a tecnologia ainda está em desenvolvimento e nunca vai substituir o real.
O metaverso vai ser o que as pessoas quiserem que ele seja. Esse é o futuro”.
TRÊS TIPOS DE FUTURO
ESCOLHIDO
Depende de você e de suas experiências. Aqui, você está em pleno comando do resultado final. Quer um exemplo? O planejamento de uma viagem. Você escolhe o roteiro, marca os hotéis e vive a experiência. Existem, é claro, fatores incontroláveis, como veremos a seguir, que podem interferir nesse resultado.
INCONTROLÁVEL
Relacionado exclusivamente dos outros ou de fatores externos. Seu papel é um só: se adaptar ao resultado. Quer um exemplo? A Copa do Mundo. O que nós, torcedores, podemos fazer para controlar os resultados? A dica dos especialistas é: não sofra por antecipação e trabalhe com diferentes cenários para se adaptar melhor.
Depende de você e de outros fatores. Você é responsável e se adapta aos resultados. Exemplo? Os investimentos em inovação e ESG que você precisa fazer em sua coop para garantir a sustentabilidade e competitividade dela no mercado.
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QUER SABER A MELHOR MANEIRA DE PREVER O FUTURO? CONVERSE COM UMA CRIANÇA
Enquanto nós, adultos, às vezes temos uma capacidade limitada para imaginar, as crianças são pura inspiração. Para exercitar a inovação, Fábio Seidl, recomendou que conversemos com as crianças para entender melhor o nosso presente e projetar o que seremos. Ele próprio assiste TV com a filha para saber qual é a opinião dela sobre propagandas que são veiculadas e se surpreende com o olhar crítico de quem já enxerga o mundo por outras perspectivas.
A gente tá passando um bastão e esse futuro precisa ser preparado para que as nossas crianças possam usar as tecnologias da melhor forma possível e colaborar da melhor forma possível”, defendeu.
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Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Como você visualiza o futuro? Com carros voadores e máquinas substituindo humanos nas suas principais funções? É verdade que a tecnologia vai participar do nosso cotidiano de uma forma cada vez mais orgânica, mas pensar o futuro - inclusive do nosso negócio - pode e deve ser bem mais simples do que teorias e previsões mirabolantes. O poder está muito mais nas nossas mãos do que no campo da ficção científica.
Essa é a principal inspiração trazida pelo publicitário Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta, nova marca do Facebook, em conversa com os participantes da Semana de Competitividade, promovida pelo Sistema OCB. Fábio veio até o Brasil para participar do evento e inspirar cooperativas a imaginar e planejar o futuro, que está sendo escrito por cada um de nós, agora.
Seidl já trabalhou nas principais agências de publicidade do Brasil, com trabalhos premiados mundialmente. Hoje, na sede da Meta em Nova Iorque, é responsável por campanhas globais para marcas como Facebook, Instagram, WhatsApp, Messenger e Quest. Em sua palestra, o profissional abordou o que chama de futuro planejado, aquele pelo qual somos responsáveis, mas que também depende de fatores externos - os quais não é possível controlar, mas sim nos adaptar.
A gente tem em mente que o futuro é algo que depende dos outros, de empresas. Mas isso não é bem assim”, provocou.
Para incentivar os presentes a pensar o futuro dos seus próprios negócios e do cooperativismo, Seidl compartilhou cases e resultados de campanhas em que trabalhou para mostrar que desenhar nossos passos é mais simples do que parece - e destacou para isso a importância da colaboração. “Eu trabalho na área de inovação e tudo que a gente faz para planejar o futuro é uma grande colaboração, sem ela o futuro não existe”.
Seidl elencou cinco conceitos para escrever o futuro com as pessoas, as cooperativas e as ideias. “O futuro será como você o fizer. Então, façam um bom”. Confira!
1. A melhor maneira de prever o futuro é a imaginação
Diversas ferramentas que estão presentes facilitando muito o mundo de hoje foram, antes de se tornarem concretas, imaginadas. Parece uma constatação óbvia, mas a ideia encontra exemplos muito práticos no cinema e no entretenimento. O computador de uso pessoal, antes mesmo de ser inventado em 1975, já existia nas séries de TV como Batman, em que o herói usava o Batcomputador para armazenar dados sobre a população de Gotham City e, com eles, ter mais uma ferramenta de combate ao crime. Ou mesmo os personagens dos desenhos Jetsons que em 1962 já faziam videochamadas, tinham robôs que limpavam a casa e usavam relógios que funcionavam como dispositivos de comunicação - tudo materializado na nossa rotina hoje. Use a imaginação para prever o futuro que deseja construir.
2. Quanto maior a oferta por Inteligência Artificial (IA), maior será a demanda por Inteligência Natural
Não é necessário ter medo dessa tecnologia, que já está presente nas tarefas mais simples do cotidiano, como aplicativos de entrega que funcionam a partir de dados organizados por IA. “Máquinas são ferramentas, sem talento e colaboração, nada vai ser feito”, aponta Seidl. O diretor da Meta destacou que a “inteligência natural” é um dos pontos fortes do brasileiro pela capacidade de adaptação e criatividade. E, para além da tecnologia, as coops precisam investir na inteligência natural, ou seja, nos talentos dos seus colaboradores e cooperados.
Seidl citou o poder dos creators, ou criadores de conteúdo, e dos influenciadores digitais na nossa cultura contemporânea como mais um exemplo da inteligência natural. Ele lembrou do baiano Iran Alves, criador do perfil Luva de Pedreiro na internet, que tornou-se um fenômeno mundial entre os torcedores de futebol e assinou contratos com grandes marcas como Adiddas.
O talento está aí, basta encontrar as ferramentas para viabilizar a comunicação e a colaboração para o futuro acontecer”.
3. O futuro sem diversidade é só um retrocesso ao passado
Incluir o tema da diversidade no planejamento dos negócios, segundo Fábio, não tem a ver com “lacração”, gíria utilizada para definir quem quer aparecer nas redes sociais, mas com resultados. “O mundo é de todo mundo e a gente precisa tratar com respeito e ser inclusivo. Mas, mais do que isso. É bom para o negócio”, defendeu. Ele apresentou os resultados da campanha Adds for Equality (Anúncios pela igualdade, em tradução livre), da Meta, que comprovou que as propagandas protagonizadas por personagens mais diversos - como mulheres dirigindo em uma propaganda de carros, por exemplo - performavam melhor com o público. O mesmo foi verificado em relação à raça, diversidade de corpos e orientação sexual.
É fundamental a adesão às ideias de empatia, inclusão e diversidade na sua cooperativa. Mostre que você é um lugar aberto para todos, você vai fazer um futuro melhor para todo mundo”, definiu. Ele destacou ainda que o engajamento das marcas com as comunidades precisa ir além das datas como Dia da Mulher, da Consciência Negra ou do Orgulho LGBTQIA+. “A dica que eu tenho para fazer cooperativas mais inclusivas é trabalhar com as comunidades, traga ela para co-criar com você, senão você vai fazer uma coisa que está desconectada. E quem faz parte dessa comunidade enxerga a quilômetros de distância que isso não é autêntico”, apontou.
4. O futuro é só uma outra palavra para oportunidade
“Quando você vira essa chave na sua cabeça, você vai ficar bem mais tranquilo em relação ao futuro, seja da sua carreira ou da sua cooperativa. É só você pensar: o que eu vou fazer, em colaboração com as pessoas, para transformar essa oportunidade em negócio?”, definiu Seidl.
O diretor da Meta lembrou que a migração para o mundo digital pode transformar as oportunidades de um negócio e transformá-lo de “invisível” para conhecido e consumido. Ele destacou que as grandes empresas de tecnologia, seja a Meta, o Google ou Amazon, oferecem ferramentas e treinamento gratuitos para impulsionar um negócio nas plataformas digitais. Seidl incentivou as cooperativas a organizarem seus times e fazerem essa transformação.
5. No futuro, o ‘extra’ do extraordinário virá da criatividade coletiva
Por fim, Seidl destacou um dos valores que está no DNA do cooperativismo: o trabalho coletivo. Para ele, é fundamental a união de forças e inteligências para construir os novos futuros.
É impossível viver sozinho. A ação de outras pessoas é necessária para andar pra frente e tomara que essas pessoas estejam com a mesma energia positiva que você.” Invista no diálogo, nas relações horizontais dentro da organização e na construção coletiva de um futuro melhor para todos.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Do Sul para o Sudeste, também encontramos iniciativas promissoras de ESG. Com a experiência de projetos sustentáveis pioneiros em diferentes ramos e ancorados por especialistas, o Sistema Ocemg, de Minas Gerais, está seguindo a direção de mapeamento de ações bem-sucedidas e de organização dos resultados alcançados.
Segundo Andrea Sayar, gerente de Educação e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Ocemg, o vínculo do cooperativismo mineiro com a temática ESG é antigo e teve seu lançamento em 2009, no Dia de Cooperar, o Dia C, idealizado justamente para organizar e divulgar as iniciativas de responsabilidade socioambiental desenvolvidas pelas cooperativas do estado.
A Ocemg foi também a primeira Unidade Estadual do Sistema OCB a se tornar signatária do Pacto Global da ONU. Atualmente, o Casa do Cooperativismo Mineiro tem representação nos principais fóruns que não só debatem, mas realizam ações pautadas nos princípios do ESG, tais como Rede Brasil 2030, Movimento Minas 2032 e Hub ODS Minas.
No bojo dessas iniciativas, o Sistema Ocemg está em pleno processo de elaboração do seu primeiro relatório de sustentabilidade, pautado nas melhores práticas nacionais e internacionais, como o GRI, Pacto Global, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e outros.
Andrea acredita que cada uma das questões propostas para a construção do conteúdo do relatório aponta para oportunidades de melhoria nos processos de registro, para fins de evidenciação de cada iniciativa e dos resultados gerados. E acrescenta: o documento propiciará uma reflexão sobre oportunidades de melhorias nos programas atuais e de inovação e desenvolvimento de novos programas e metodologias passíveis de serem realizadas pela entidade em conjunto com as cooperativas.
“É importante que as cooperativas compreendam que, para a maioria dos municípios mineiros, elas são o epicentro do desenvolvimento local e serão elas os agentes de transformação e prosperidade local e do estado”, comenta Andrea Sayar.
Na avaliação da gerente, o principal desafio do Sistema Ocemg, atualmente, é gerar nos dirigentes a consciência de que políticas de ESG é mais uma opção. “Elas devem fazer parte da estratégia de cada cooperativa, sendo abraçadas e patrocinadas pelas lideranças, e elevadas ao mesmo nível de relevância das políticas de gestão financeira, marketing, e outras”, disse.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS
Na região Centro-Oeste também começam a pulsar iniciativas de fortalecimento da pauta ESG. Entre as iniciativas de destaque, está a primeira edição do curso ESG na Prática, lançado pelo Sescoop Goiás.
A primeira turma teve a participação de 32 colaboradores de oito cooperativas de diferentes ramos. O curso teve 12 horas e meia de treinamento, em cinco encontros de duas horas e meia. A instituição de ensino que ministrou o treinamento foi a ESPM.
A iniciativa do curso surgiu no Comitê de Sustentabilidade e Efetividade, criado em 2020, que identificou a necessidade de aprimorar o entendimento sobre o tema e fazer um mapeamento da aplicação dos princípios entre as cooperativas do estado.
“As cooperativas não tinham conhecimento sobre o tema e esse curso deu uma abordagem mais histórica e conceitual sobre o ESG. Apesar do nome sugerir na prática, a gente trouxe muitos conceitos nesse treinamento, as cooperativas tiveram a oportunidade de se integrarem e fazer cases”, explicou Karla Mello, integrante do Comitê e coordenadora do curso.
Assim como a Ocepar, o grupo de Goiás quer estruturar as ações que convergem com ESG em termos mais sistêmicos. O Comitê está estudando a possibilidade de lançar novas etapas do curso e atrair outras cooperativas.
“ESG é um assunto muito extenso. Temos programas de reciclagem de lixos sólidos, economia de materiais didáticos, temos um programa interno, o programa Olé que é focado em organização e limpeza. Mas são programas pontuais da instituição, mas o ESG estruturado ainda não temos implementado. Então, o curso foi a primeira iniciativa focada no cliente externo e interno”, complementa a secretária do Comitê
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O coop brasileiro já despertou para a importância do ESG e tem buscado estratégias para alinhar e fortalecer as ações sustentáveis e socialmente responsáveis nas cooperativas. Uma das iniciativas mais bem estruturadas do país é o ESG+Coop, lançado pelo Sistema Ocepar, no segundo semestre do ano passado, que busca sistematizar e organizar as ações de governança e responsabilidade socioambiental no estado.
O primeiro passo do programa foi entender o grau de conhecimento sobre ESG das cooperativas locais. Para tanto, foi realizado um questionário com 99 perguntas binárias (com respostas sim ou não) sobre os três pilares ESG. O objetivo é conhecer o nível que cada cooperativa está em termos de conhecimento e aplicação desses saberes. Os resultados preliminares já mostram que, no Paraná, as cooperativas estão com melhor desempenho na prática das dimensões social e de governança, precisando avançar na dimensão ambiental.
A partir desse inventário, o Sescoop Paraná desenvolverá um programa de formação e mentoria em ESG. A qualificação teórica e prática será conduzida a partir de agosto por uma instituição de ensino superior escolhida pelo sistema.
Após a formação acadêmica, será elaborado um manual estadual das boas práticas de ESG, que esteja em sintonia com o GRI [Global Reporting Initiative], metodologia internacionalmente aceita para mensurar a maturidade em ESG de uma organização. Com ele em mãos, será criada uma central de informações (banco de dados) onde as cooperativas possam depositar informações a respeito de suas ações ESG.
A partir dos depósitos padronizados dessas informações em um banco de dados, essas boas práticas vão nos dar as condições necessárias para pensar numa certificação ESG para nossas cooperativas. Vamos definir a modelagem de pontuação, critérios, métricas, scores, baixas de aplicação e criar uma equipe certificadora, que ainda não sabemos se será externa ou interna. Nós vamos testar e validar o método, para ter o reconhecimento por parte do mercado das boas práticas das cooperativas”, explica Leonardo Boesche, superintendente do Sistema Ocepar.
O projeto ESG+Coop também prevê atividades de pesquisa, incentivo financeiro, além do apoio técnico para o cumprimento as exigências de mercado, sem perder a essência cooperativista.
Esse projeto precisa ser aderente ao cooperativismo, quer dizer, não adianta atender as exigências do mercado se ele não tem aderência à minha identidade e cultura. Temos que enxergar a cooperativa na sua individualidade. Cada cooperativa é única e isso precisa ser entendido. E a última premissa que precisamos atender é a confidencialidade, que é uma prática que desenvolvemos no Sistema Ocepar, ou seja, os dados e as informações das cooperativas pertencem às cooperativas. Nunca divulgamos nenhum dado de nenhuma cooperativa.”, reitera o superintendente.
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Entrar, ajustar o banco, checar os retrovisores, colocar o cinto de segurança e dar partida no veículo. Então, mudar a marcha, acelerar, sentir o vento bater no cabelo, assistir ao surgimento da estrada que se desenha à frente participar ativamente da transformação do sonho em realidade. Tudo isso depois de planejar minuciosamente cada parte da viagem.
Cada quilômetro desse percurso, certamente, contará algo diferente. Do lado de dentro do carro, uma equipe cujo combustível é o desejo de mostrar a força e o propósito do cooperativismo no Brasil. Do lado de fora, quatro cantos de um país continental prontos para revelarem a todos o protagonismo de suas cooperativas. Esta é a missão do projeto SomosCoop na Estrada, iniciativa da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) para dar visibilidade a esse a esse jeito diferente de fazer negócio, que também pode ser considerado uma filosofia de vida.
A bordo do veículo pensado especialmente para o projeto estará Glenda Koslowski, apresentadora que conduzirá a iniciativa e dará carona a dezenas de histórias de cooperação destinadas a chegarem em segurança e da melhor forma ao destino final: a sociedade brasileira.
Na primeira temporada do SomosCoop na Estrada serão mais de quatro mil quilômetros rodados, atravessando cinco unidades da federação para visitar dez cooperativas e seus cooperados sob o slogan “No caminho, tem coop. No coop, tem caminho”. Todo o trajeto será transformado em episódios que começaram a ser gravados no final de agosto e devem ser disponibiizados em meados de outubro.
Samara Araújo, gerente de Comunicação e Marketing do Sistema OCB, contou em primeira mão, na Semana de Competitividade, onde se pretende chegar com o SomosCoop na Estrada:
Queremos que as pessoas conheçam o coop e se interessem pelos diversos assuntos em torno dele com histórias de verdade. Queremos gerar valor para ele e tudo que o cerca. Com esse projeto vamos ampliar as possibilidades de falar do assunto e levar esse entendimento com diversas histórias e sotaques, mostrando o coop em diversos ramos e diversas regiões”.
VIA DE MÃO DUPLA
O percurso previsto para o SomosCoop na Estrada é uma via de mão-dupla: tanto as cooperativas quanto a população serão impactadas de forma positiva.
Essa é mais uma janela que se abre para mostrar o coop para a sociedade. E as cooperativas podem aproveitar a visibilidade que será dada à marca SomosCoop para se posicionar no mercado como uma instituição cooperativista. Basta aplicar o carimbo SomosCoop em suas comunicações para surfar essa onda boa com o movimento”, frisou Samara.
Para o consumidor que ainda não conhece o cooperativismo, um universo de possibilidades aparecerá no horizonte. Para aqueles que já vivenciam o modelo, as histórias do SomosCoop na Estrada aumentarão ainda mais orgulho de ser coop.
Vamos aproveitar o SomosCoop na Estrada para captar imagens das pessoas, das cooperativas e das mudanças geradas pelo coop nas comunidades onde estamos presentes”, planeja Samara.
O resultado dessas viagens será entregue no formato de uma websérie, dividida em episódios, capaz de impactar todas as faixas etárias. “Queremos ir além das campanhas publicitárias. Um dos pontos-chaves é, acima de tudo, divulgar as histórias do coop de forma genuína, rica e diversa”, acrescenta a gestora.
Os conteúdos produzidos serão disponibilizados nas redes sociais SomosCoop, na mídia e por influenciadores digitais regionais, que farão parcerias com o projeto. A divulgação, além da internet, também foi pensada para acontecer em tempo real, na estrada, em movimento.
PÉ NA ESTRADA
Há muitos anos na estrada, o coop tem aberto caminhos para milhões de pessoas empreenderem de um jeito mais justo, ético de sustentável. São milhares de quilômetros percorridos por caminhos repletos de histórias emocionantes e belíssimas paisagens.
Para a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Mota, o SomosCoop na Estrada tem potencial para ajudar cada vez mais brasileiros a conhecerem nosso jeito diferente de olhar o mundo e fazer negócios.
Quem assistir aos vídeos vai acabar se identificando com os valores e princípios do coop. Por experiência eu digo: quem conhece o o coop logo se apaixona. Esse reconhecimento, é claro, influencia nas escolhas de consumo, melhora o faturamento das cooperativas e pode até ajudar a aumentar o número de cooperados no Brasil”, conclui Fabíola.
OUTDOOR EM MOVIMENTO
Tanto o carro quanto a apresentadora da primeira temporada do SomosCoop na Estrada foram escolhidos a dedo para representar a imagem do projeto.
A repórter esportiva e ex-campeã mundial de bodyboading Glenda Koslowski é reconhecida por grande parte dos brasileiros por seu carisma, confiança, simpatia e inteligência.
Glenda estará a bordo de uma off road potente e capaz de enfrentar todo tipo de obstáculo — assim como o cooperativismo. O automóvel será um verdadeiro outdoor em movimento, divulgando a marca do coop e despertando curiosidade por onde passar.
Esta matéria foi escrita por Paulo Pimenta e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Depois de dois anos de pandemia e recessão econômica, a razão terá de falar mais alto que a intuição. Para encontrar alternativas em meio a cenários econômicos incertos, será necessário se mexer. Além de uma dose extra de coragem, é preciso encarar o problema com postura crítica e curiosidade. Uma análise minuciosa da questão também pode ajudar a tomar decisões mais seguras, com base em dados. Aqui, vale mais uma dica: deixar as emoções de lado é primordial.
Se quiserem sobreviver, as cooperativas devem entregar valor aos clientes, que cobrarão uma postura mais sustentável dos negócios. Nisso, o cooperativismo sai na frente, já que é um modelo de negócios que atua pelo bem-estar das comunidades em que está inserido.
Para falar um pouco sobre tendências econômicas, oportunidades no mercado interno e externo, e desafios futuros, a revista Saber Cooperar conversou com o economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo Lopes, e com o diretor para o Brasil de uma das maiores consultorias de risco político do mundo, a Eurasia Group, Silvio Cascione. Confira!
Acreditamos que as cooperativas podem se beneficiar nos próximos anos com a ampliação dos negócios com o mercado internacional. Na China, nosso maior parceiro comercial, a migração da população do campo para os grandes centros urbanos ampliou a renda das famílias e permitiu o acesso a bens e serviços com maior valor agregado (...) O destaque seriam os produtos e subprodutos de origem animal, inclusive pescados. Marcelo Rebelo Lopes, economista-chefe do Banco do Brasil
Saber Cooperar: Quais são as tendências econômicas para o Brasil nos próximos anos?
Silvio Cascione: Olhando para o Brasil, existem algumas oportunidades interessantes, mas o cenário é bastante desafiador. A economia está em um processo de recuperação depois da pandemia, depois de vários anos de recessão. A gente está vendo o mercado de trabalho voltando com mais força, mais emprego sendo oferecido, muitas empresas que tiveram de ficar fechadas durante a pandemia voltando para as atividades. Para os próximos anos — especialmente para o ano que vem —, poderá haver uma pausa nesse processo de recuperação por causa da necessidade de controle da inflação, que subiu muito no começo do ano. Mas, se houver uma política econômica em 2023 que traga mais previsibilidade para as contas públicas e dê mais confiança às empresas, aos investidores e aos consumidores, é possível que essa pausa para reduzir a inflação seja temporária e, depois, a gente tenha um ciclo mais positivo de crescimento. O importante é cumprir com essa condição: uma política econômica que seja previsível e passe credibilidade para cumprir com os compromissos com as dívidas que o Brasil assumiu nos últimos anos.
Marcelo Rebelo Lopes: Ao longo dos próximos anos, projetamos uma lenta e arriscada travessia em direção a patamares mais baixos de taxas de juros e de inflação, em comparação com os níveis com que convivemos no período pós-pandemia. A crise sanitária e o esforço fiscal derivado parecem ter deslocado a taxa de juros neutra do país para patamares mais altos do que os que prevaleciam no último ciclo econômico. Nesse sentido, atualmente, estimamos com um juro real de equilíbrio da ordem de 4%-4,5% e uma taxa Selic que se estabiliza ao redor dos 7,25%-7,50% no médio/longo prazo.
O potencial de crescimento econômico brasileiro parece situar-se na faixa 1%-1,5%. A aceleração em direção a níveis de 2%-2,5% demanda medidas para elevar a produtividade, que tende a ser uma das pautas mais relevantes para os próximos anos. Ademais, a discussão em torno da necessidade de retomar os investimentos públicos também deve estar presente, e deve envolver um grande debate em torno da rigidez do orçamento público e discussões mais amplas sobre regras fiscais.
Como as pessoas/cooperativas podem se preparar para os desafios atuais e futuros da nossa economia?
SC: Para se preparar para os desafios atuais e futuros da economia, é importante ter bastante agilidade para se adaptar às mudanças, desde as tecnológicas até as mudanças de condições de mercado.
MRL: O caminho passa pela análise da conjuntura atual e das megatendências futuras. Para o momento atual, marcado por juros altos e inflação pressionada, entendemos que as instituições devem inovar e buscar entregar valor para os clientes, para se destacar e sobreviver no mercado. Além disso, os clientes cobram uma postura mais sustentável dos negócios, que alie preservação do meio ambiente, responsabilidade social e governança, que valorizem a diversidade, a equidade e inclusão. Para o futuro, em meio a um cenário de crescimento potencial baixo e reduzido espaço para investimentos públicos, as empresas devem se adaptar e criar soluções customizadas para atender aos anseios dos clientes.
Em relação ao mercado internacional, quais são as principais oportunidades para as empresas/cooperativas nos próximos anos?
SC: O mundo hoje está passando por uma transição importante nas cadeias de fornecimento. Há conflitos internacionais fazendo muitas empresas/coops revisarem os seus fornecedores, as suas relações comerciais, e isso é uma oportunidade para nós, do Brasil, porque muitas outras empresas na Europa, nos Estados Unidos, em outros lugares, vão procurar diversificar suas cadeias, e a gente tem um potencial, aqui, de abrir novos mercados. Mas é preciso estar pronto, ter muita agilidade para agarrar essas oportunidades. E as pessoas, da mesma forma: precisam aproveitar as mudanças tecnológicas e se atualizar para poder se posicionar em um mercado de trabalho cada vez mais globalizado.
MRL: Acreditamos que as empresas/cooperativas podem se beneficiar nos próximos anos com a ampliação dos negócios com o mercado internacional. Na China, nosso maior parceiro comercial, a migração da população do campo para os grandes centros urbanos ampliou a renda das famílias e permitiu o acesso a bens e serviços com maior valor agregado. As empresas poderiam se beneficiar da mudança do padrão de consumo das famílias, ampliando o leque de produtos exportados — em especial, os produtos agrícolas. O destaque seriam os produtos e subprodutos de origem animal, inclusive pescados.
Mas o caminho de oportunidades para as empresas no comércio exterior passa pelo estabelecimento de acordos comerciais vantajosos e pela discussão de questões sanitárias e fitossanitárias. Em alguns países, como na Coreia do Sul, consumidores se mostram contrários ao consumo de produtos de origem animal sem um devido cuidado sanitário e há forte resistência internas/lobbies em favor de produtos locais. Neste momento, acordos com organismos internacionais vêm sendo firmados para o financiamento de iniciativas e/ou projetos no setor de energia renovável, visando colaborar com as metas globais de redução de emissão de efeito estufa, o que abre oportunidades de expansão de negócios associados com a economia limpa.
O mercado de créditos de carbono tem um potencial muito grande e é parte da solução que o mundo vai dar para a questão climática. Claro que isso exige tempo de implementação e muitos desafios, mas o Brasil, com as florestas que a gente tem, com a matriz energética limpa, está muito bem-posicionado para receber recursos do mundo inteiro para compensar a emissão de carbono de outros lugares. A gente pode ser muito bem remunerado por isso.” Silvio Cascione, diretor da Eurasia Group Brasil
Como o senhor enxerga o mercado de créditos de carbono e qual é o potencial brasileiro para ingressar nele?
SC: O mercado de créditos de carbono tem um potencial muito grande e é parte da solução que o mundo vai dar para a questão climática. Claro que isso exige tempo de implementação e muitos desafios, mas o Brasil, com as florestas que a gente tem, com a matriz energética limpa, está muito bem-posicionado para receber recursos do mundo inteiro para compensar a emissão de carbono de outros lugares. A gente pode ser muito bem remunerado por isso. Qual é a lição de casa a ser feita? Ter credibilidade, passar confiança para quem está disposto a pagar para a gente cuidar das nossas florestas. Mostrar que cada crédito vendido tem validade, que ele está representado por um pedaço de terra onde a floresta está de pé, e vai continuar de pé. Esse é o grande desafio. O desmatamento ilegal no Brasil ainda está em grande escala, ele não está sob o controle do governo. Os mecanismos de controle ainda são falhos, o que prejudica o nosso esforço de receber por esse crédito de carbono.
MRL: Segundo estudo da WayCarbon, em parceria com a ICC Brasil, o país tem capacidade de gerar até R$ 100 bilhões em receitas com créditos de carbono nos setores do agronegócio, florestas e energia até 2030. Isso representa atender de 5% a 37,5% da demanda de créditos de carbono no mercado voluntário global. Já no mercado regulado, essa proporção varia entre 2% e 22%. Com os crescentes compromissos das empresas em se tornarem neutras em carbono, a procura por créditos de carbono tem aumentado, o que contribui para fomentar a atividade econômica em bases sustentáveis. Vale destacar que, no Brasil, 27% das empresas já assumiram algum compromisso net zero [zero emissões líquidas de carbono], enquanto a média global é de 22%, segundo a 25ª edição da Pesquisa Anual Global com CEOs, da PwC, realizada em outubro de 2021.
Para entendermos o potencial desse mercado: de acordo com levantamento da Reuters, o mercado global de carbono cresceu 164%, apenas em 2021, atingindo cerca de US$ 851 bilhões transacionados. No contexto do Brasil, vejo grande potencial de exploração. E todo esse potencial se materializa através de oportunidades com projetos de reflorestamento, infraestrutura urbana, mobilidade, geração descentralizada de energia, eficiência energética e cadeias produtivas sustentáveis em atividades agrícolas e pecuárias, o que constitui um amplo campo de atuação no mercado de carbono.
As pessoas estão cada vez mais dispostas a consumir de empresas que adotem boas práticas ESG. O senhor percebe essa mesma preocupação com o ESG dos investidores e dos governos?
SC: Os investidores, os governos têm bastante preocupação com ESG e estão, há anos, tentando incluir isso nas decisões de investimento. É importante reconhecer que, no contexto atual de maior desafio — pós-pandemia, inflação mais elevada, custo de vida mais elevado em todos os países —, os governos e as empresas também estão tentando conciliar essa agenda com demandas de curto prazo. Às vezes, fica caro demais pagar o custo da transição. A gente vê a própria Europa, por exemplo, voltando a usar o carvão com um pouco mais de intensidade aqui, nesse curto prazo, para poder sustentar sua população sem colocar um custo exorbitante nas contas de energia. Como conciliar essa agenda de sustentabilidade com o bem-estar da população em geral? Esse é o grande desafio que se colocou neste último ano.
MRL: Esse é um tema que veio para ficar, tanto pelo lado da sustentabilidade dos negócios —que consiste, entre outros, em gerenciamento de risco e alocação de capital — quanto por uma questão geracional, em que as demandas dos grupos mais jovens da sociedade estão cada vez mais conectadas com os aspectos que norteiam o ESG. Nesse sentido, conciliar rentabilidade com investimentos sustentáveis é uma tendência cada vez mais presente no dia a dia dos negócios. Hoje, os principais gestores de fundos no mundo incentivam e apoiam a adoção de práticas de investimento responsável. No caso do Brasil, pesquisa da Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais] mostrou que cerca de 30% das gestoras avaliam entre 80% e 100% de seus ativos considerando os critérios ESG. Assim, vejo que o tema é uma tendência que deve se consolidar e crescer cada vez mais no Brasil e no mundo.
Quão importante é investir em educação e inovação para alavancar a economia de um país?
SC: Muito. Qualificando a nossa mão de obra, a gente se torna mais produtivo; então, consegue produzir mais valor e isso se transforma em riqueza para o país, de uma maneira geral. A gente compete com outros mercados e eles também estão investindo. O Brasil não pode ficar atrás nessa corrida.
MRL: Os investimentos em educação refletem diretamente na produtividade e qualidade da mão de obra, no mesmo sentido em que os investimentos em máquinas e infraestrutura contribuem para a formação do estoque de capital físico. Diante disso, as externalidades positivas geradas pelo investimento em educação e inovação se materializam, por exemplo, na melhora do capital humano e, consequentemente, na melhora da renda per capita. Portanto, ganho de produtividade é um elemento-chave para o aumento da renda e da competividade de um país. Para ficar mais clara a importância do tema, o relatório do Banco Mundial Emprego e Crescimento: a agenda da produtividade, de março de 2018, mostra que, se o Brasil fizesse uso de seus ativos com o mesmo nível de produtividade que os EUA, a renda per capita do país aumentaria 2,7 vezes. Dito isso, conseguimos perceber que o papel da educação no crescimento econômico é relevante, mas o avanço rápido não é nada trivial.
Existe um segredo (ou uma receita) para enxergar oportunidades em meio a um cenário de crise?
SC: Não existe um segredo ou uma fórmula pronta para enxergar oportunidades, mas é sempre muito importante não se deixar levar por ideias preconcebidas ou por algum viés na forma de encarar o mundo ou os problemas. Encarar os problemas e as crises com uma postura crítica, uma atitude curiosa, é uma maneira mais inteligente de encontrar alternativas, caminhos para achar oportunidades.
MRL: Em geral, o conceito de crise está associado a momentos de intensa dificuldade ou perigo, que nos tira da zona de conforto e nos coloca em situação de alerta. Quando aplicada ao cenário econômico, a crise pode ser vista como uma situação de desequilíbrio, seja na produção, comercialização ou no consumo, bem como de colapso dos fundamentos econômicos. Em muitas situações de crise, a dinâmica negativa sobre os preços dos ativos é exacerbada, o que leva a um descolamento do real valor em relação aos seus fundamentos. Daí surgem as oportunidades. Para conseguir identificá-las, entendo que a receita é ter um bom arcabouço analítico e manter-se alheio às emoções do momento, de modo que tenhamos segurança suficiente para tomar decisões baseadas nos dados.
Como manter a economia brasileira competitiva nos próximos anos?
SC: Além de seguir com reformas que têm sido feitas para dar mais espaço para o investimento e investir em educação, acho muito importante cuidar da questão tributária, pois esse é um grande problema que ainda trava os investimentos. Se isso for feito nos próximos anos, se houver uma reforma tributária que simplifique nosso sistema, isso vai ajudar muito a tornar o Brasil mais competitivo.
MRL: Além dos pontos elencados em relação ao papel do investimento em educação e seus reflexos na produtividade, uma agenda de reformas estruturais que ajude a retirar entraves do ambiente de negócios e que aumente a competitividade das empresas é fundamental para uma trajetória de crescimento consistente da capacidade competitiva do país. Estar atento e preparado para o uso de novas tecnologias e conseguir antecipar tendências no mercado global também são fatores que trazem maior potencial para a economia brasileira.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação