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Ele é pontual. Aparenta ser muito sério e bem objetivo. É direto nas ordens, sempre de forma educada. Quando o áudio da entrevista dá eco, sério, pede uma solução à equipe. É prontamente atendido. A ”fama” de que Ronaldo Scucato, 85 anos, é “bravo” parece se confirmar, mas a impressão dura apenas os primeiros minutos de conversa. Logo, ele se solta, começa a contar sua longa trajetória de sete décadas no cooperativismo, os segredos de ser um líder e a paixão pelas pessoas.
Dependendo do tema, ele fecha os olhos tingidos do mesmo tom azul-turquesa da camisa polo que veste e solta uma gargalhada gostosa. Este mineiro reclama que Brasília é uma cidade feita com tesourinhas em excesso, mas, ao final de uma hora de bate-papo, até promete tomar um café pessoalmente quando estiver de passagem pela capital — o que só confirma outra qualidade que lhe é atribuída: a de ser uma companhia descrita no superlativo. Agradabilíssima.
Mas, de onde vem, então, a fama da braveza.? “Minha?”, ele se pergunta, arregalando os olhos como quem parece não concordar. “Eu sou enérgico”, prefere definir. “Eu faço muita cobrança a mim mesmo. Ninguém tem direito de cobrar de seu semelhante antes de cobrar a si próprio, nem de olhar para o outro de cima para baixo, a não ser para lhe dar a mão e ajudá-lo a subir”, afirma Ronaldo Scucato, uma das lideranças mais admiradas de todo o cooperativismo, que atualmente presidente o Sistema Ocemg — Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais.
Há quem aposte que a personalidade forte é herança que corre nas veias. Scucato é neto de italianos, de por parte de pai e mãe. Ele e os cinco irmãos pertencem à segunda geração da família europeia que nasceu nas Américas, mais especificamente em Belo Horizonte. E foi justamente por causa da tradição familiar que ele começou a trabalhar muito cedo e, consequentemente, ouviu falar pela primeira vez do cooperativismo, quando ainda era um menino jovem de 15 anos.
O COMEÇO
Família italiana, conta Scucato, incentiva os homens a buscarem o autossustento desde muito cedo. Os rapazes são estimulados a conquistarem, o quanto antes, a própria independência financeira. pensando nisso, Ronaldo procurou trabalho em uma cooperativa de consumo de funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Isso aconteceu há 70 anos.
Naquele tempo, o Brasil vivia uma efervescência de desenvolvimento impulsionada pelo governo de Juscelino Kubitschek, com a abertura de novas estradas e o investimento em obras para a construção de uma nova capital. O DER se tornou um dos órgãos públicos mais importantes do país, e foi lá que Ronaldo encontrou seu primeiro emprego: em um supermercado exclusivo para os funcionários e os familiares da cooperativa vinculada ao departamento.
Sua função estava atrás no balcão. Atender gente que levava consigo uma listinha de compras escrita à mão era a missão. Era também a oportunidade de conversar e oferecer atenção diferenciada àquela clientela. “Foi aí que aprendi a gostar de gente. A gente convive com a pessoas, mas só o contato faz com que você comece a admirá-las. Conviver é uma coisa, mas gostar é outra”, afirma.
Tal habilidade é um dos segredos que transformam um homem comum em um grande líder. Ronaldo se tornou um deles.
O bom líder tem que gostar de pessoas. Sem gostar de gente, não se exerce liderança. Depois, tem que mostrar confiança na sua equipe. Tem que saber delegar e entender que ele não consegue fazer tudo sozinho”, acredita. “As pessoas veêem no rosto do líder que ele gosta daquilo que faz. Elas reconhecem que ele está trabalhando por amor. É essa a energia que elas sentem ao conhecer uma liderança”, acrescenta.
Quem trabalha com Ronaldo confirma a tese defendida por ele. Luiz Gonzaga Viana Lage, diretor- presidente do Sicoob Central Cecremge, garante: o amigo é o tipo de gestor que não manda recado por e-mail ou por ofício. É o tipo de chefe que convida para uma conversa, olha nos olhos, se preocupa com o outro, quer ouvir e ajudar as pessoas. Assim, ele forma suas equipes, na base da confiança e do apoio mútuo.
“A grande maioria das cooperativas de Minas Gerais, e até do Brasil, o reconhecem como líder, como um grande conhecedor e como grande estudioso do cooperativismo”, afirma Luiz.
DECANO DO COOPERATIVISMO
Aquele menino que tomou gosto por gostar de pessoas ainda na adolescência, se interessou pelo cooperativismo e começou a estudar o tema na mesma época. Ronaldo lembra que, nos anos 1950, pouca bibliografia existia sobre o tema. Ele foi atrás de instituições internacionais que pudessem explicar melhor como funcionava aquele modelo de negócio que valorizava, acima de tudo, o capital humano.
Esse é o conceito do cooperativismo: preparar as cooperativas para fazer bons negócios, para atuar no mercado, para disputar lugar e ter resultado positivo. Só assim é possível retirar recurso para aplicar no social. Isso faz a nossa diferença para uma empresa essencialmente mercantilista”, entendeu.
Desde aqueles tempos de garoto curioso, impulsionado pelo desejo de conquistar a autonomia econômica precocemente, o neto de italianos não parou mais de trabalhar. Formou-se em Direito, Administração e Economia. Passou pelas universidades de Minas Gerais, de Curitiba e de Bolonha, na Itália. Atualmente, além de presidente do Sistema Ocemg, é presidente da Federação dos Sindicatos das Cooperativas dos Estados de Alagoas, Bahia, Espirito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina (Fecoop-Sulene); diretor da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), ); conselheiro do Sebrae-MG, e membro do Conselho Estadual de Cooperativimo (Cecoop-MG).
À lista de cargos ocupados somam-se os de fundador e presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras). Também foi diretor, vice-presidente e conselheiro da Sicoob Central Cecremge; vice-presidente da OCB, e coordenador da Comissão Nacional de Juristas que elaborou o anteprojeto da Lei Cooperativista, entre outras cadeiras nas quais já esteve sentado.
Tanta experiência e tanto conhecimento conferem a Scucato o título de “decano do cooperativismo — aquele, como define o dicionário, que há mais tempo faz parte de uma associação, fundação, sociedade etc. Um deão.
Ronaldo Scucato é um defensor intransigente do cooperativismo e tem sido uma das mais importantes lideranças deste extraordinário movimento nas últimas décadas no Brasil, presente em todos os momentos relevantes da história da OCB e de sua gestão. É uma referência indispensável para quem quiser conhecer a doutrina cooperativa e sua prática no Brasil e no mundo”, resume Roberto Rodrigues, ex-presidente da Aliança Cooperativista Internacional e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getuúlio Vargas.
E de onde vem tanta energia para cumprir uma agenda tão cheia e um currículo tão extenso? “Oh, pergunta difícil!", exclama Scucato depois de um tempo. Pensa mais um pouco e conclui: “Acho que tenho essa energia herdada dos meus pais, que sempre foram muito operantes e trabalhadores”.
O pai começou a vida como carpinteiro e chegou ao fim dela como instrutor de aeronáutica, preparando centenas de pilotos pelo país para tirarem o brevê. A mãe era uma mulher sábia, que falava três idiomas: português, francês e italiano. Era extremamente dedicada à família e despertou no segundo filho o amor pelas pessoas.
Talvez seja essa uma parte do segredo de sua vitalidade, deduz. A outra, diz com os olhos azuis brilhando, ele atribui ao divino. “Não sou carola nem beato, mas acredito em Deus e acho que essa energia vem Dele e da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Eu me encantei por ela e sou devoto”, afirma, enquanto exibe a corrente na qual leva ambos junto ao peito.
MEMÓRIA INVEJÁVEL
Sem duvidar da proteção que vem dos céus, Ronaldo faz sua parte para manter corpo e mente sãos. Ler um bom livro, estudar, e atualizar o conhecimento estão incluídos na lista para reforço da saúde mental. Exercício físico? Já foi mais assíduo e até pouco tempo atrás praticava esportes. “Mas aAgora estou meio malandro”, dá uma boa risada. “Mas pretendo retomar”, promete.
Ronaldo já foi atleta. Com mais ou menos 10 anos de idade, começou a jogar vôlei. Com 1,83m de altura, se deu bem nas quadras e foi parar na Seleção Brasileira. Hoje, está parado. Culpa da “preguiça”, explica. “Tem uma piada que diz: ‘sabe onde o peixe vive? No mar.’ E a girafa? Na floresta. E a preguiça? Dentro da gente...”, e solta outra boa gargalhada.
Quem conhece o Ronaldo objetivo e enfático no trabalho, também revela um lado descontraído e brincalhão. “Ele é uma pessoa extremamente agradável e alegre, e tem uma relação de muita simplicidade no trato com as pessoas e com os amigos. Nos momentos de descontração, sempre procura externar esse lado de bem com a vida”, descreve Geraldo Magela, assessor institucional da Ocemg e amigo de longa data do presidente da Organização.
Além de um bom contador de “causos”, dizem que Ronaldo é dono de memória invejável. “Ele é capaz de citar personagens de 200 anos atrás como se estivessem vivos até hoje”, brinca. Impressionado com tal habilidade do amigo, Geraldo faz questão de contar uma experiência compartilhada com ele.
Em uma viagem institucional à Inglaterra, Ronaldo propôs, ao fim dos trabalhos, que o grupo fizesse um passeio a Stratford-upon-Avon, terra natal de William Shakespeare. Ali, ele deixou de ser o gestor, o líder e virou o guia turístico, o professor. O mineiro conhecia em detalhes a vida do poeta e dramaturgo inglês, e deu uma aula de história aos colegas de trabalho. Geraldo ficou encantado com o que aprendeu e elogia a generosidade do amigo em compartilhar sua cultura e seu conhecimento. “Foi muito especial. Ele é uma pessoa que tem uma cultura geral extraordinária, uma longa experiência de vida. Então, os momentos que temos de descontração juntos são de grande aprendizado.”
Scucato já visitou muitos lugares. Tantos que nem sabe citar dos quais mais gostou. Conheceu paisagens inesquecíveis no “sul da França, no norte dos Estados Unidos. “Ah, são tantos lugares bonitos...”. Mas, diga um lugar maravilhoso: “Belo Horizonte”, não titubeia.
COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL
Viajar, aliás, é um grande prazer para este cooperativista. Seja por lazer ou a trabalho. Recentemente, esteve na Dinamarca e chegou há pouco da Escócia. Ossos do ofício. Ronaldo investe na formação profissional de seus líderes e aposta em um tour internacional de preparação de seus dirigentes. Eles vão aprender no exterior o que tem de mais moderno, atual e eficiente sobre gestão de negócios.
Os gestores liderados por Scucato são preparados por uma equipe pedagógica de excelência em Minas Gerais. Depois, arrumam as malas e seguem rumo às universidades de Lisboa, da Suíça e da Dinamarca.
Praticamente todos os meses estamos levando gente para fora do país, para ver o que está acontecendo no mundo. É uma preparação não só para a gestão, mas também voltada para o social. Você não constrói um paraíso social em cima de uma ruína econômica. Você tem que ter os resultados positivos para mitigar as diferenças sociais. Para isso, temos que ter cooperativas fortes, e esse orgulho eu tenho: o de preparar as nossas lideranças”, ele fala e bate, literalmente, no peito.
O olhar para o indivíduo é mesmo uma virtude forte da liderança exercida por Scucato. Ele acredita nas pessoas e defende que nenhum líder constrói projeto solo. “Líder deve ter o dom de saber que não é o criador”. Por isso, defende as relações horizontais e as parcerias. Cooperativismo é um sistema feito de gente para gente.
SANGUE NOVO
Ronaldo incentiva o empreendedorismo e a força do jovem que “chega trazendo um sangue novo”, trazendo inovação e criatividade. Ele acredita, especialmente, nas mulheres, “donas da persistência e da capacidade de influenciar, e muito, o comportamento do cooperado frente à cooperativa”. Ele admira a competência, o perfeccionismo, a organização e a facilidade que elas têm em desenvolver multitarefas.
No sistema Ocemg, temos 10 gerências, e cinco estão com mulheres. Eu acho que não é só o futuro do cooperativismo que é feminino. Pelo que a gente assiste, cabe a elas o futuro do mundo.”
Apostar nas pessoas e se preocupar com elas, aliás, é outro predicado muitas vezes atribuído a Ronaldo. Na sua rotina, ele coloca em prática o 7º princípio do cooperativismo, que prega o “interesse pela comunidade”. Tanto que, em 2009, resolveu formalizar a bandeira de ajudar o outro e marcou no calendário um dia exclusivo para cooperar. Nasceu assim, o Dia C, entre as cooperativas de Minas Gerais.
A proposta é que cada cooperativa ajude da forma que for possível: uma arrecada alimentos; outra doa materiais hospitalares; podem fazer doação em dinheiro; há quem ofereça exames de oftalmológicos e óculos às crianças com deficiência visual e, com isso, melhore o rendimento escolar delas. Há quem contribua com a expertise em reciclagem de eletrônicos, ; outros, com fontes renováveis de água ou energia fotovoltaica, só para citar alguns exemplos. Cada um coopera como pode.
A união foi tão transformadora que o resto do país seguiu o exemplo, e a data passou a ser celebrada, desde 2014, em todo o Brasil. O projeto foi reconhecido até pela Organização das Nações Unidas, e Scucato foi convidado, em 2017, para ir à Malásia apresentá-lo ao mundo. Por aqui, no ano passado, as ações do dia C beneficiaram mais de 5 milhões de cidadãos Brasil afora. “Não quero ficar ostentando, mas foi uma ideia minha.”.
Entre tantas conquistas das quais o presidente da Ocemg se orgulha, de uma delas ele se sente ainda mais prodigioso: de ter arrebatado o coração de Norma. Quando cita a mulher com quem foi casado por 51 anos, noivo por três e namorado durante outros três, ele pede para que busquem uma foto dela.
Norma partiu há 14 anos, mas Ronaldo mostra a aliança na mão esquerda e diz que continuam casados. Nós combinamos em vida que, quando um morresse, o outro não tiraria a aliança.” Filhos, não tiveram. Restam as lembranças de um casamento feliz. “Norma era muito conhecida no cooperativismo, e todos diziam que, se eu estava com ela, eu deveria prestar para alguma coisa”, brinca, orgulhoso desse seu feito perfeito.
Esta matéria foi escrita por Flávia Duarte e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Toda cooperativa é um caldeirão de ideias. Por ser uma sociedade composta por pessoas, as coops costumam reunir histórias, pensamentos e características diferentes. E essa diversidade é um facilitador importante do processo de inovação, que — vale destacar — não precisa estar vinculada a nenhuma nova tecnologia.
De forma simples e objetiva, a inovação é pensar novos caminhos para resolver problemas ou aproveitar as oportunidades que se colocam no dia a dia de uma organização. Você inova quando revê processos para torná-los mais ágeis, quando melhora um produto já existente, quando cria um novo jeito de se relacionar com o cliente. Essas mudanças podem ou não contar com suporte tecnológico. O importante é que tragam novos e melhores resultados para o grupo.
Dito isso, é importante saber que existem dois modelos possíveis de inovação: o fechado (desenvolvido integralmente dentro de uma empresa ou cooperativa, pelos talentos da casa), e o aberto (com a participação de agentes de fora da organização em uma, diversas ou todas as fases do processo).
Por ser um ecossistema naturalmente colaborativo, o cooperativismo tem aberto espaço para programas de inovação aberta.
'Ao buscar parcerias com universidades, startups e, principalmente, outras cooperativas, o coop ganha agilidade e capacidade de desenvolver novos produtos e serviços. As práticas de inovação aberta são muito importantes, por ajudarem a criar essa complementaridade de saberes”, explica Maria Carolina Rocha, CEO da ABGI, empresa de consultoria que apoia as organizações no acesso de informações e oportunidades de fomento à inovação.
Ela foi uma das palestrantes da Semana de Competividade, realizada em agosto pelo Sistema OCB.
A Saber Cooperar entrevistou um dos maiores especialistas no conceito de Inovação Aberta no Brasil: Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups. Ele também é professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), diretor do IVP Capital Inteligente e conselheiro de Inovação e Competitividade da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Tem PhD em Inovação pela Fundação Getulio Vargas (FGV), além de formações nas universidades de Michigan, Califórnia e Virgínia, nos Estados Unidos.
O conceito de inovação aberta constata o fato de que as organizações públicas e privadas dependem cada vez mais do ecossistema externo para inovar. É difícil elas conseguirem produzir inovações no ritmo, na frequência, na intensidade e na qualidade que precisam para se manterem competitivas. Por isso, é comum realizarem programas abertos de inovação, de forma estruturada e intencional. Passa a ser uma prática de gestão”, resume o executivo.
Na opinião de Rondani e Maria Carolina, cada vez mais, a inovação é fruto de esforços de ecossistemas, em que múltiplas organizações, entidades, empresas e pessoas participam. Ecossistema é, portanto, palavra definitiva para se falar sobre a gestão da inovação.
Se na natureza, para que um ecossistema esteja equilibrado, são necessárias árvores nativas, vegetação, manutenção de condições ambientais saudáveis, o mesmo se aplica ao setor produtivo. É preciso unir universidades, empresas, pesquisadores e cooperativas para manter um ecossistema de inovação produtivo”, explica o CEO da 100 Open Startup.
LABORATÓRIO DA INOVAÇÃO
O Sistema Unimed — o, maior sistema cooperativo de saúde do mundo —, inaugurou uma nova etapa em sua jornada de inovação e transformação digital, por meio do Unimed Lab — hub de inovação aberta que visa conectar suas cooperativas, startups, investidores e outros parceiros estratégicos interessados no desenvolvimento de soluções inovadoras na área da saúde.
O Sistema Unimed investiu mais de R$ 30 milhões para o desenvolvimento de startups e inovação em 2021, além de prover grandes parcerias conectando as startups em todo o ecossistema, segundo relatório produzido pela 100 Open Startups. Os resultados — como era de se esperar — já começaram a aparecer.
Em 2021, o Unimed Lab saltou da posição 700 no ranking Top Open Corps de 2019 (maiores corporações abertas de 2019, em livre tradução) para o 8º lugar no ranking geral das empresas mais abertas à inovação do Brasil. Na mesma premiação, conquistou o primeiro lugar entre as marcas mais inovadoras do setor de serviços de saúde do país e foi nomeada a organização mais atraente em inovação aberta na edição de março da OiWeek Digital — 100 Open Startups.
Outro reconhecimento veio do Sistema OCB, que destacou o Unimed Lab como um dos principais cases de sucesso do livro Inovação no Cooperativismo: Um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.
O Unimed Lab foi criado com o objetivo de se tornar referência de inovação aberta em saúde e fortalecer o compromisso da Unimed com a inovação e a transformação digital na saúde, por meio de um programa de inovação colaborativo composto por suas cooperativas, startups, investidores, mantenedores, hubs, aceleradoras, incubadoras, universidades e parcerias com players do segmento de saúde”, diz Maurício Cerri, superintendente de TI e Inovação da Unimed do Brasil.
Em linha com a vocação cooperativista, o Unimed Lab vem conquistando o apoio de várias parcerias que viabilizam diferentes serviços, como, a abertura de canais de relacionamento com o mercado, curadoria, treinamento, incubação e formação. Entre as parcerias já estabelecidas, estão as empresas Eretz bio (incubadora de startups do Hospital Albert Einstein), a 100 Open Startups, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis), KPMG, Grupo Supera Park (incubadora de startups da USP de Ribeirão Preto), Zlabs (hub de inovação da healthtech Zitrus), Central RS, Faculdade Unimed e a Associação Brasileira CIO Saúde.
“O Unimed Lab reforça o compromisso da Unimed com a evolução e a perenidade de todas as cooperativas do Sistema e na geração de valor da saúde suplementar do país. Entendemos que, em cenários de alta complexidade e simultaneidades, não pode haver inovação sem a perspectiva da cooperação – — desde a identificação de oportunidades e problemas a serem resolvidos, até o desenvolvimento das melhores soluções. Essa é a grande inspiração que o projeto pode levar para outras iniciativas no setor”, completa.
PARA TODOS
Engana-se quem acredita que apenas cooperativas do porte do Sistema Unimed conseguem se conectar.
A inovação é aberta para todos”, garante Maria Carolina.
A maior prova disso é que, há uma série de agências no Brasil que apoiam as pesquisas e atividades no desenvolvimento de inovação. O próprio Sistema OCB lançou, em 2021, o programa Conexão com Startups, que lançou uma série de desafios de inovação que poderiam melhorar os processos de cooperativas de diferentes ramos e tamanhos.
Também podemos citar como exemplo a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), organização vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que lança, periodicamente, chamadas públicas de recursos reembolsáveis para programas de inovação”, completa a CEO da ABGI.
Maria Carolina terminou sua palestra na Semana de Competividade elogiando a iniciativa das cooperativas que já estão captando recursos ou buscando incentivo público para investir em inovação aberta. Muita delas utilizando a chamada Lei do Bem.
Maria Carolina Rocha, deu dicas de como investir e fomentar a inovação no coop.
Esta matéria foi escrita por Morillo Carvalho e Rita Frazão e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
De forma simples, o metaverso pode ser explicado como uma expansão da internet: trata-se de um espaço que promete ampliar as oportunidades de interação entre os usuários, usando principalmente a realidade virtual. Tal qual plataformas antigas como Second Life, jogo online lançado no início dos anos 2000, o usuário poderá viver experiências imersivas como participar de um jogo, de um show de música e, por que não, fazer compras de produtos e serviços. E, até mesmo, trabalhar. Já há empresas experimentando a realização de reuniões e eventos virtuais no Metaverso.
Os usuários vão utilizar principalmente duas tecnologias já bem comuns no universo dos games: realidade aumentada e realidade virtual. A primeira é quando se utiliza elementos digitais para interagir com a realidade offline. Um exemplo é o game Pokemón Go, que foi febre há alguns anos e permitia que os participantes saíssem “caçando” bichinhos pelas ruas - que na verdade só existiam a partir da projeção do aplicativo. A segunda é quando se utiliza equipamentos como óculos para viver uma experiência imersiva: tudo em volta de você é uma realidade virtual. Isso pode ser utilizado por exemplo para que o usuário assista um show, ou participe de um evento corporativo.
A Meta lançou no ano passado a ferramenta Horizons, ainda gratuita, em que usuários e empresas podem criar seus avatares e negócios virtuais no metaverso. Várias empresas de tecnologia estão investindo pesado no conceito. Aos mais reticentes, Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta lembrou que a tecnologia ainda está em desenvolvimento e nunca vai substituir o real.
O metaverso vai ser o que as pessoas quiserem que ele seja. Esse é o futuro”.
TRÊS TIPOS DE FUTURO
ESCOLHIDO
Depende de você e de suas experiências. Aqui, você está em pleno comando do resultado final. Quer um exemplo? O planejamento de uma viagem. Você escolhe o roteiro, marca os hotéis e vive a experiência. Existem, é claro, fatores incontroláveis, como veremos a seguir, que podem interferir nesse resultado.
INCONTROLÁVEL
Relacionado exclusivamente dos outros ou de fatores externos. Seu papel é um só: se adaptar ao resultado. Quer um exemplo? A Copa do Mundo. O que nós, torcedores, podemos fazer para controlar os resultados? A dica dos especialistas é: não sofra por antecipação e trabalhe com diferentes cenários para se adaptar melhor.
Depende de você e de outros fatores. Você é responsável e se adapta aos resultados. Exemplo? Os investimentos em inovação e ESG que você precisa fazer em sua coop para garantir a sustentabilidade e competitividade dela no mercado.
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QUER SABER A MELHOR MANEIRA DE PREVER O FUTURO? CONVERSE COM UMA CRIANÇA
Enquanto nós, adultos, às vezes temos uma capacidade limitada para imaginar, as crianças são pura inspiração. Para exercitar a inovação, Fábio Seidl, recomendou que conversemos com as crianças para entender melhor o nosso presente e projetar o que seremos. Ele próprio assiste TV com a filha para saber qual é a opinião dela sobre propagandas que são veiculadas e se surpreende com o olhar crítico de quem já enxerga o mundo por outras perspectivas.
A gente tá passando um bastão e esse futuro precisa ser preparado para que as nossas crianças possam usar as tecnologias da melhor forma possível e colaborar da melhor forma possível”, defendeu.
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Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Como você visualiza o futuro? Com carros voadores e máquinas substituindo humanos nas suas principais funções? É verdade que a tecnologia vai participar do nosso cotidiano de uma forma cada vez mais orgânica, mas pensar o futuro - inclusive do nosso negócio - pode e deve ser bem mais simples do que teorias e previsões mirabolantes. O poder está muito mais nas nossas mãos do que no campo da ficção científica.
Essa é a principal inspiração trazida pelo publicitário Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta, nova marca do Facebook, em conversa com os participantes da Semana de Competitividade, promovida pelo Sistema OCB. Fábio veio até o Brasil para participar do evento e inspirar cooperativas a imaginar e planejar o futuro, que está sendo escrito por cada um de nós, agora.
Seidl já trabalhou nas principais agências de publicidade do Brasil, com trabalhos premiados mundialmente. Hoje, na sede da Meta em Nova Iorque, é responsável por campanhas globais para marcas como Facebook, Instagram, WhatsApp, Messenger e Quest. Em sua palestra, o profissional abordou o que chama de futuro planejado, aquele pelo qual somos responsáveis, mas que também depende de fatores externos - os quais não é possível controlar, mas sim nos adaptar.
A gente tem em mente que o futuro é algo que depende dos outros, de empresas. Mas isso não é bem assim”, provocou.
Para incentivar os presentes a pensar o futuro dos seus próprios negócios e do cooperativismo, Seidl compartilhou cases e resultados de campanhas em que trabalhou para mostrar que desenhar nossos passos é mais simples do que parece - e destacou para isso a importância da colaboração. “Eu trabalho na área de inovação e tudo que a gente faz para planejar o futuro é uma grande colaboração, sem ela o futuro não existe”.
Seidl elencou cinco conceitos para escrever o futuro com as pessoas, as cooperativas e as ideias. “O futuro será como você o fizer. Então, façam um bom”. Confira!
1. A melhor maneira de prever o futuro é a imaginação
Diversas ferramentas que estão presentes facilitando muito o mundo de hoje foram, antes de se tornarem concretas, imaginadas. Parece uma constatação óbvia, mas a ideia encontra exemplos muito práticos no cinema e no entretenimento. O computador de uso pessoal, antes mesmo de ser inventado em 1975, já existia nas séries de TV como Batman, em que o herói usava o Batcomputador para armazenar dados sobre a população de Gotham City e, com eles, ter mais uma ferramenta de combate ao crime. Ou mesmo os personagens dos desenhos Jetsons que em 1962 já faziam videochamadas, tinham robôs que limpavam a casa e usavam relógios que funcionavam como dispositivos de comunicação - tudo materializado na nossa rotina hoje. Use a imaginação para prever o futuro que deseja construir.
2. Quanto maior a oferta por Inteligência Artificial (IA), maior será a demanda por Inteligência Natural
Não é necessário ter medo dessa tecnologia, que já está presente nas tarefas mais simples do cotidiano, como aplicativos de entrega que funcionam a partir de dados organizados por IA. “Máquinas são ferramentas, sem talento e colaboração, nada vai ser feito”, aponta Seidl. O diretor da Meta destacou que a “inteligência natural” é um dos pontos fortes do brasileiro pela capacidade de adaptação e criatividade. E, para além da tecnologia, as coops precisam investir na inteligência natural, ou seja, nos talentos dos seus colaboradores e cooperados.
Seidl citou o poder dos creators, ou criadores de conteúdo, e dos influenciadores digitais na nossa cultura contemporânea como mais um exemplo da inteligência natural. Ele lembrou do baiano Iran Alves, criador do perfil Luva de Pedreiro na internet, que tornou-se um fenômeno mundial entre os torcedores de futebol e assinou contratos com grandes marcas como Adiddas.
O talento está aí, basta encontrar as ferramentas para viabilizar a comunicação e a colaboração para o futuro acontecer”.
3. O futuro sem diversidade é só um retrocesso ao passado
Incluir o tema da diversidade no planejamento dos negócios, segundo Fábio, não tem a ver com “lacração”, gíria utilizada para definir quem quer aparecer nas redes sociais, mas com resultados. “O mundo é de todo mundo e a gente precisa tratar com respeito e ser inclusivo. Mas, mais do que isso. É bom para o negócio”, defendeu. Ele apresentou os resultados da campanha Adds for Equality (Anúncios pela igualdade, em tradução livre), da Meta, que comprovou que as propagandas protagonizadas por personagens mais diversos - como mulheres dirigindo em uma propaganda de carros, por exemplo - performavam melhor com o público. O mesmo foi verificado em relação à raça, diversidade de corpos e orientação sexual.
É fundamental a adesão às ideias de empatia, inclusão e diversidade na sua cooperativa. Mostre que você é um lugar aberto para todos, você vai fazer um futuro melhor para todo mundo”, definiu. Ele destacou ainda que o engajamento das marcas com as comunidades precisa ir além das datas como Dia da Mulher, da Consciência Negra ou do Orgulho LGBTQIA+. “A dica que eu tenho para fazer cooperativas mais inclusivas é trabalhar com as comunidades, traga ela para co-criar com você, senão você vai fazer uma coisa que está desconectada. E quem faz parte dessa comunidade enxerga a quilômetros de distância que isso não é autêntico”, apontou.
4. O futuro é só uma outra palavra para oportunidade
“Quando você vira essa chave na sua cabeça, você vai ficar bem mais tranquilo em relação ao futuro, seja da sua carreira ou da sua cooperativa. É só você pensar: o que eu vou fazer, em colaboração com as pessoas, para transformar essa oportunidade em negócio?”, definiu Seidl.
O diretor da Meta lembrou que a migração para o mundo digital pode transformar as oportunidades de um negócio e transformá-lo de “invisível” para conhecido e consumido. Ele destacou que as grandes empresas de tecnologia, seja a Meta, o Google ou Amazon, oferecem ferramentas e treinamento gratuitos para impulsionar um negócio nas plataformas digitais. Seidl incentivou as cooperativas a organizarem seus times e fazerem essa transformação.
5. No futuro, o ‘extra’ do extraordinário virá da criatividade coletiva
Por fim, Seidl destacou um dos valores que está no DNA do cooperativismo: o trabalho coletivo. Para ele, é fundamental a união de forças e inteligências para construir os novos futuros.
É impossível viver sozinho. A ação de outras pessoas é necessária para andar pra frente e tomara que essas pessoas estejam com a mesma energia positiva que você.” Invista no diálogo, nas relações horizontais dentro da organização e na construção coletiva de um futuro melhor para todos.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Do Sul para o Sudeste, também encontramos iniciativas promissoras de ESG. Com a experiência de projetos sustentáveis pioneiros em diferentes ramos e ancorados por especialistas, o Sistema Ocemg, de Minas Gerais, está seguindo a direção de mapeamento de ações bem-sucedidas e de organização dos resultados alcançados.
Segundo Andrea Sayar, gerente de Educação e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Ocemg, o vínculo do cooperativismo mineiro com a temática ESG é antigo e teve seu lançamento em 2009, no Dia de Cooperar, o Dia C, idealizado justamente para organizar e divulgar as iniciativas de responsabilidade socioambiental desenvolvidas pelas cooperativas do estado.
A Ocemg foi também a primeira Unidade Estadual do Sistema OCB a se tornar signatária do Pacto Global da ONU. Atualmente, o Casa do Cooperativismo Mineiro tem representação nos principais fóruns que não só debatem, mas realizam ações pautadas nos princípios do ESG, tais como Rede Brasil 2030, Movimento Minas 2032 e Hub ODS Minas.
No bojo dessas iniciativas, o Sistema Ocemg está em pleno processo de elaboração do seu primeiro relatório de sustentabilidade, pautado nas melhores práticas nacionais e internacionais, como o GRI, Pacto Global, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e outros.
Andrea acredita que cada uma das questões propostas para a construção do conteúdo do relatório aponta para oportunidades de melhoria nos processos de registro, para fins de evidenciação de cada iniciativa e dos resultados gerados. E acrescenta: o documento propiciará uma reflexão sobre oportunidades de melhorias nos programas atuais e de inovação e desenvolvimento de novos programas e metodologias passíveis de serem realizadas pela entidade em conjunto com as cooperativas.
“É importante que as cooperativas compreendam que, para a maioria dos municípios mineiros, elas são o epicentro do desenvolvimento local e serão elas os agentes de transformação e prosperidade local e do estado”, comenta Andrea Sayar.
Na avaliação da gerente, o principal desafio do Sistema Ocemg, atualmente, é gerar nos dirigentes a consciência de que políticas de ESG é mais uma opção. “Elas devem fazer parte da estratégia de cada cooperativa, sendo abraçadas e patrocinadas pelas lideranças, e elevadas ao mesmo nível de relevância das políticas de gestão financeira, marketing, e outras”, disse.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS
Na região Centro-Oeste também começam a pulsar iniciativas de fortalecimento da pauta ESG. Entre as iniciativas de destaque, está a primeira edição do curso ESG na Prática, lançado pelo Sescoop Goiás.
A primeira turma teve a participação de 32 colaboradores de oito cooperativas de diferentes ramos. O curso teve 12 horas e meia de treinamento, em cinco encontros de duas horas e meia. A instituição de ensino que ministrou o treinamento foi a ESPM.
A iniciativa do curso surgiu no Comitê de Sustentabilidade e Efetividade, criado em 2020, que identificou a necessidade de aprimorar o entendimento sobre o tema e fazer um mapeamento da aplicação dos princípios entre as cooperativas do estado.
“As cooperativas não tinham conhecimento sobre o tema e esse curso deu uma abordagem mais histórica e conceitual sobre o ESG. Apesar do nome sugerir na prática, a gente trouxe muitos conceitos nesse treinamento, as cooperativas tiveram a oportunidade de se integrarem e fazer cases”, explicou Karla Mello, integrante do Comitê e coordenadora do curso.
Assim como a Ocepar, o grupo de Goiás quer estruturar as ações que convergem com ESG em termos mais sistêmicos. O Comitê está estudando a possibilidade de lançar novas etapas do curso e atrair outras cooperativas.
“ESG é um assunto muito extenso. Temos programas de reciclagem de lixos sólidos, economia de materiais didáticos, temos um programa interno, o programa Olé que é focado em organização e limpeza. Mas são programas pontuais da instituição, mas o ESG estruturado ainda não temos implementado. Então, o curso foi a primeira iniciativa focada no cliente externo e interno”, complementa a secretária do Comitê
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O coop brasileiro já despertou para a importância do ESG e tem buscado estratégias para alinhar e fortalecer as ações sustentáveis e socialmente responsáveis nas cooperativas. Uma das iniciativas mais bem estruturadas do país é o ESG+Coop, lançado pelo Sistema Ocepar, no segundo semestre do ano passado, que busca sistematizar e organizar as ações de governança e responsabilidade socioambiental no estado.
O primeiro passo do programa foi entender o grau de conhecimento sobre ESG das cooperativas locais. Para tanto, foi realizado um questionário com 99 perguntas binárias (com respostas sim ou não) sobre os três pilares ESG. O objetivo é conhecer o nível que cada cooperativa está em termos de conhecimento e aplicação desses saberes. Os resultados preliminares já mostram que, no Paraná, as cooperativas estão com melhor desempenho na prática das dimensões social e de governança, precisando avançar na dimensão ambiental.
A partir desse inventário, o Sescoop Paraná desenvolverá um programa de formação e mentoria em ESG. A qualificação teórica e prática será conduzida a partir de agosto por uma instituição de ensino superior escolhida pelo sistema.
Após a formação acadêmica, será elaborado um manual estadual das boas práticas de ESG, que esteja em sintonia com o GRI [Global Reporting Initiative], metodologia internacionalmente aceita para mensurar a maturidade em ESG de uma organização. Com ele em mãos, será criada uma central de informações (banco de dados) onde as cooperativas possam depositar informações a respeito de suas ações ESG.
A partir dos depósitos padronizados dessas informações em um banco de dados, essas boas práticas vão nos dar as condições necessárias para pensar numa certificação ESG para nossas cooperativas. Vamos definir a modelagem de pontuação, critérios, métricas, scores, baixas de aplicação e criar uma equipe certificadora, que ainda não sabemos se será externa ou interna. Nós vamos testar e validar o método, para ter o reconhecimento por parte do mercado das boas práticas das cooperativas”, explica Leonardo Boesche, superintendente do Sistema Ocepar.
O projeto ESG+Coop também prevê atividades de pesquisa, incentivo financeiro, além do apoio técnico para o cumprimento as exigências de mercado, sem perder a essência cooperativista.
Esse projeto precisa ser aderente ao cooperativismo, quer dizer, não adianta atender as exigências do mercado se ele não tem aderência à minha identidade e cultura. Temos que enxergar a cooperativa na sua individualidade. Cada cooperativa é única e isso precisa ser entendido. E a última premissa que precisamos atender é a confidencialidade, que é uma prática que desenvolvemos no Sistema Ocepar, ou seja, os dados e as informações das cooperativas pertencem às cooperativas. Nunca divulgamos nenhum dado de nenhuma cooperativa.”, reitera o superintendente.
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Entrar, ajustar o banco, checar os retrovisores, colocar o cinto de segurança e dar partida no veículo. Então, mudar a marcha, acelerar, sentir o vento bater no cabelo, assistir ao surgimento da estrada que se desenha à frente participar ativamente da transformação do sonho em realidade. Tudo isso depois de planejar minuciosamente cada parte da viagem.
Cada quilômetro desse percurso, certamente, contará algo diferente. Do lado de dentro do carro, uma equipe cujo combustível é o desejo de mostrar a força e o propósito do cooperativismo no Brasil. Do lado de fora, quatro cantos de um país continental prontos para revelarem a todos o protagonismo de suas cooperativas. Esta é a missão do projeto SomosCoop na Estrada, iniciativa da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) para dar visibilidade a esse a esse jeito diferente de fazer negócio, que também pode ser considerado uma filosofia de vida.
A bordo do veículo pensado especialmente para o projeto estará Glenda Koslowski, apresentadora que conduzirá a iniciativa e dará carona a dezenas de histórias de cooperação destinadas a chegarem em segurança e da melhor forma ao destino final: a sociedade brasileira.
Na primeira temporada do SomosCoop na Estrada serão mais de quatro mil quilômetros rodados, atravessando cinco unidades da federação para visitar dez cooperativas e seus cooperados sob o slogan “No caminho, tem coop. No coop, tem caminho”. Todo o trajeto será transformado em episódios que começaram a ser gravados no final de agosto e devem ser disponibiizados em meados de outubro.
Samara Araújo, gerente de Comunicação e Marketing do Sistema OCB, contou em primeira mão, na Semana de Competitividade, onde se pretende chegar com o SomosCoop na Estrada:
Queremos que as pessoas conheçam o coop e se interessem pelos diversos assuntos em torno dele com histórias de verdade. Queremos gerar valor para ele e tudo que o cerca. Com esse projeto vamos ampliar as possibilidades de falar do assunto e levar esse entendimento com diversas histórias e sotaques, mostrando o coop em diversos ramos e diversas regiões”.
VIA DE MÃO DUPLA
O percurso previsto para o SomosCoop na Estrada é uma via de mão-dupla: tanto as cooperativas quanto a população serão impactadas de forma positiva.
Essa é mais uma janela que se abre para mostrar o coop para a sociedade. E as cooperativas podem aproveitar a visibilidade que será dada à marca SomosCoop para se posicionar no mercado como uma instituição cooperativista. Basta aplicar o carimbo SomosCoop em suas comunicações para surfar essa onda boa com o movimento”, frisou Samara.
Para o consumidor que ainda não conhece o cooperativismo, um universo de possibilidades aparecerá no horizonte. Para aqueles que já vivenciam o modelo, as histórias do SomosCoop na Estrada aumentarão ainda mais orgulho de ser coop.
Vamos aproveitar o SomosCoop na Estrada para captar imagens das pessoas, das cooperativas e das mudanças geradas pelo coop nas comunidades onde estamos presentes”, planeja Samara.
O resultado dessas viagens será entregue no formato de uma websérie, dividida em episódios, capaz de impactar todas as faixas etárias. “Queremos ir além das campanhas publicitárias. Um dos pontos-chaves é, acima de tudo, divulgar as histórias do coop de forma genuína, rica e diversa”, acrescenta a gestora.
Os conteúdos produzidos serão disponibilizados nas redes sociais SomosCoop, na mídia e por influenciadores digitais regionais, que farão parcerias com o projeto. A divulgação, além da internet, também foi pensada para acontecer em tempo real, na estrada, em movimento.
PÉ NA ESTRADA
Há muitos anos na estrada, o coop tem aberto caminhos para milhões de pessoas empreenderem de um jeito mais justo, ético de sustentável. São milhares de quilômetros percorridos por caminhos repletos de histórias emocionantes e belíssimas paisagens.
Para a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Mota, o SomosCoop na Estrada tem potencial para ajudar cada vez mais brasileiros a conhecerem nosso jeito diferente de olhar o mundo e fazer negócios.
Quem assistir aos vídeos vai acabar se identificando com os valores e princípios do coop. Por experiência eu digo: quem conhece o o coop logo se apaixona. Esse reconhecimento, é claro, influencia nas escolhas de consumo, melhora o faturamento das cooperativas e pode até ajudar a aumentar o número de cooperados no Brasil”, conclui Fabíola.
OUTDOOR EM MOVIMENTO
Tanto o carro quanto a apresentadora da primeira temporada do SomosCoop na Estrada foram escolhidos a dedo para representar a imagem do projeto.
A repórter esportiva e ex-campeã mundial de bodyboading Glenda Koslowski é reconhecida por grande parte dos brasileiros por seu carisma, confiança, simpatia e inteligência.
Glenda estará a bordo de uma off road potente e capaz de enfrentar todo tipo de obstáculo — assim como o cooperativismo. O automóvel será um verdadeiro outdoor em movimento, divulgando a marca do coop e despertando curiosidade por onde passar.
Esta matéria foi escrita por Paulo Pimenta e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Depois de dois anos de pandemia e recessão econômica, a razão terá de falar mais alto que a intuição. Para encontrar alternativas em meio a cenários econômicos incertos, será necessário se mexer. Além de uma dose extra de coragem, é preciso encarar o problema com postura crítica e curiosidade. Uma análise minuciosa da questão também pode ajudar a tomar decisões mais seguras, com base em dados. Aqui, vale mais uma dica: deixar as emoções de lado é primordial.
Se quiserem sobreviver, as cooperativas devem entregar valor aos clientes, que cobrarão uma postura mais sustentável dos negócios. Nisso, o cooperativismo sai na frente, já que é um modelo de negócios que atua pelo bem-estar das comunidades em que está inserido.
Para falar um pouco sobre tendências econômicas, oportunidades no mercado interno e externo, e desafios futuros, a revista Saber Cooperar conversou com o economista-chefe do Banco do Brasil, Marcelo Rebelo Lopes, e com o diretor para o Brasil de uma das maiores consultorias de risco político do mundo, a Eurasia Group, Silvio Cascione. Confira!
Acreditamos que as cooperativas podem se beneficiar nos próximos anos com a ampliação dos negócios com o mercado internacional. Na China, nosso maior parceiro comercial, a migração da população do campo para os grandes centros urbanos ampliou a renda das famílias e permitiu o acesso a bens e serviços com maior valor agregado (...) O destaque seriam os produtos e subprodutos de origem animal, inclusive pescados. Marcelo Rebelo Lopes, economista-chefe do Banco do Brasil
Saber Cooperar: Quais são as tendências econômicas para o Brasil nos próximos anos?
Silvio Cascione: Olhando para o Brasil, existem algumas oportunidades interessantes, mas o cenário é bastante desafiador. A economia está em um processo de recuperação depois da pandemia, depois de vários anos de recessão. A gente está vendo o mercado de trabalho voltando com mais força, mais emprego sendo oferecido, muitas empresas que tiveram de ficar fechadas durante a pandemia voltando para as atividades. Para os próximos anos — especialmente para o ano que vem —, poderá haver uma pausa nesse processo de recuperação por causa da necessidade de controle da inflação, que subiu muito no começo do ano. Mas, se houver uma política econômica em 2023 que traga mais previsibilidade para as contas públicas e dê mais confiança às empresas, aos investidores e aos consumidores, é possível que essa pausa para reduzir a inflação seja temporária e, depois, a gente tenha um ciclo mais positivo de crescimento. O importante é cumprir com essa condição: uma política econômica que seja previsível e passe credibilidade para cumprir com os compromissos com as dívidas que o Brasil assumiu nos últimos anos.
Marcelo Rebelo Lopes: Ao longo dos próximos anos, projetamos uma lenta e arriscada travessia em direção a patamares mais baixos de taxas de juros e de inflação, em comparação com os níveis com que convivemos no período pós-pandemia. A crise sanitária e o esforço fiscal derivado parecem ter deslocado a taxa de juros neutra do país para patamares mais altos do que os que prevaleciam no último ciclo econômico. Nesse sentido, atualmente, estimamos com um juro real de equilíbrio da ordem de 4%-4,5% e uma taxa Selic que se estabiliza ao redor dos 7,25%-7,50% no médio/longo prazo.
O potencial de crescimento econômico brasileiro parece situar-se na faixa 1%-1,5%. A aceleração em direção a níveis de 2%-2,5% demanda medidas para elevar a produtividade, que tende a ser uma das pautas mais relevantes para os próximos anos. Ademais, a discussão em torno da necessidade de retomar os investimentos públicos também deve estar presente, e deve envolver um grande debate em torno da rigidez do orçamento público e discussões mais amplas sobre regras fiscais.
Como as pessoas/cooperativas podem se preparar para os desafios atuais e futuros da nossa economia?
SC: Para se preparar para os desafios atuais e futuros da economia, é importante ter bastante agilidade para se adaptar às mudanças, desde as tecnológicas até as mudanças de condições de mercado.
MRL: O caminho passa pela análise da conjuntura atual e das megatendências futuras. Para o momento atual, marcado por juros altos e inflação pressionada, entendemos que as instituições devem inovar e buscar entregar valor para os clientes, para se destacar e sobreviver no mercado. Além disso, os clientes cobram uma postura mais sustentável dos negócios, que alie preservação do meio ambiente, responsabilidade social e governança, que valorizem a diversidade, a equidade e inclusão. Para o futuro, em meio a um cenário de crescimento potencial baixo e reduzido espaço para investimentos públicos, as empresas devem se adaptar e criar soluções customizadas para atender aos anseios dos clientes.
Em relação ao mercado internacional, quais são as principais oportunidades para as empresas/cooperativas nos próximos anos?
SC: O mundo hoje está passando por uma transição importante nas cadeias de fornecimento. Há conflitos internacionais fazendo muitas empresas/coops revisarem os seus fornecedores, as suas relações comerciais, e isso é uma oportunidade para nós, do Brasil, porque muitas outras empresas na Europa, nos Estados Unidos, em outros lugares, vão procurar diversificar suas cadeias, e a gente tem um potencial, aqui, de abrir novos mercados. Mas é preciso estar pronto, ter muita agilidade para agarrar essas oportunidades. E as pessoas, da mesma forma: precisam aproveitar as mudanças tecnológicas e se atualizar para poder se posicionar em um mercado de trabalho cada vez mais globalizado.
MRL: Acreditamos que as empresas/cooperativas podem se beneficiar nos próximos anos com a ampliação dos negócios com o mercado internacional. Na China, nosso maior parceiro comercial, a migração da população do campo para os grandes centros urbanos ampliou a renda das famílias e permitiu o acesso a bens e serviços com maior valor agregado. As empresas poderiam se beneficiar da mudança do padrão de consumo das famílias, ampliando o leque de produtos exportados — em especial, os produtos agrícolas. O destaque seriam os produtos e subprodutos de origem animal, inclusive pescados.
Mas o caminho de oportunidades para as empresas no comércio exterior passa pelo estabelecimento de acordos comerciais vantajosos e pela discussão de questões sanitárias e fitossanitárias. Em alguns países, como na Coreia do Sul, consumidores se mostram contrários ao consumo de produtos de origem animal sem um devido cuidado sanitário e há forte resistência internas/lobbies em favor de produtos locais. Neste momento, acordos com organismos internacionais vêm sendo firmados para o financiamento de iniciativas e/ou projetos no setor de energia renovável, visando colaborar com as metas globais de redução de emissão de efeito estufa, o que abre oportunidades de expansão de negócios associados com a economia limpa.
O mercado de créditos de carbono tem um potencial muito grande e é parte da solução que o mundo vai dar para a questão climática. Claro que isso exige tempo de implementação e muitos desafios, mas o Brasil, com as florestas que a gente tem, com a matriz energética limpa, está muito bem-posicionado para receber recursos do mundo inteiro para compensar a emissão de carbono de outros lugares. A gente pode ser muito bem remunerado por isso.” Silvio Cascione, diretor da Eurasia Group Brasil
Como o senhor enxerga o mercado de créditos de carbono e qual é o potencial brasileiro para ingressar nele?
SC: O mercado de créditos de carbono tem um potencial muito grande e é parte da solução que o mundo vai dar para a questão climática. Claro que isso exige tempo de implementação e muitos desafios, mas o Brasil, com as florestas que a gente tem, com a matriz energética limpa, está muito bem-posicionado para receber recursos do mundo inteiro para compensar a emissão de carbono de outros lugares. A gente pode ser muito bem remunerado por isso. Qual é a lição de casa a ser feita? Ter credibilidade, passar confiança para quem está disposto a pagar para a gente cuidar das nossas florestas. Mostrar que cada crédito vendido tem validade, que ele está representado por um pedaço de terra onde a floresta está de pé, e vai continuar de pé. Esse é o grande desafio. O desmatamento ilegal no Brasil ainda está em grande escala, ele não está sob o controle do governo. Os mecanismos de controle ainda são falhos, o que prejudica o nosso esforço de receber por esse crédito de carbono.
MRL: Segundo estudo da WayCarbon, em parceria com a ICC Brasil, o país tem capacidade de gerar até R$ 100 bilhões em receitas com créditos de carbono nos setores do agronegócio, florestas e energia até 2030. Isso representa atender de 5% a 37,5% da demanda de créditos de carbono no mercado voluntário global. Já no mercado regulado, essa proporção varia entre 2% e 22%. Com os crescentes compromissos das empresas em se tornarem neutras em carbono, a procura por créditos de carbono tem aumentado, o que contribui para fomentar a atividade econômica em bases sustentáveis. Vale destacar que, no Brasil, 27% das empresas já assumiram algum compromisso net zero [zero emissões líquidas de carbono], enquanto a média global é de 22%, segundo a 25ª edição da Pesquisa Anual Global com CEOs, da PwC, realizada em outubro de 2021.
Para entendermos o potencial desse mercado: de acordo com levantamento da Reuters, o mercado global de carbono cresceu 164%, apenas em 2021, atingindo cerca de US$ 851 bilhões transacionados. No contexto do Brasil, vejo grande potencial de exploração. E todo esse potencial se materializa através de oportunidades com projetos de reflorestamento, infraestrutura urbana, mobilidade, geração descentralizada de energia, eficiência energética e cadeias produtivas sustentáveis em atividades agrícolas e pecuárias, o que constitui um amplo campo de atuação no mercado de carbono.
As pessoas estão cada vez mais dispostas a consumir de empresas que adotem boas práticas ESG. O senhor percebe essa mesma preocupação com o ESG dos investidores e dos governos?
SC: Os investidores, os governos têm bastante preocupação com ESG e estão, há anos, tentando incluir isso nas decisões de investimento. É importante reconhecer que, no contexto atual de maior desafio — pós-pandemia, inflação mais elevada, custo de vida mais elevado em todos os países —, os governos e as empresas também estão tentando conciliar essa agenda com demandas de curto prazo. Às vezes, fica caro demais pagar o custo da transição. A gente vê a própria Europa, por exemplo, voltando a usar o carvão com um pouco mais de intensidade aqui, nesse curto prazo, para poder sustentar sua população sem colocar um custo exorbitante nas contas de energia. Como conciliar essa agenda de sustentabilidade com o bem-estar da população em geral? Esse é o grande desafio que se colocou neste último ano.
MRL: Esse é um tema que veio para ficar, tanto pelo lado da sustentabilidade dos negócios —que consiste, entre outros, em gerenciamento de risco e alocação de capital — quanto por uma questão geracional, em que as demandas dos grupos mais jovens da sociedade estão cada vez mais conectadas com os aspectos que norteiam o ESG. Nesse sentido, conciliar rentabilidade com investimentos sustentáveis é uma tendência cada vez mais presente no dia a dia dos negócios. Hoje, os principais gestores de fundos no mundo incentivam e apoiam a adoção de práticas de investimento responsável. No caso do Brasil, pesquisa da Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais] mostrou que cerca de 30% das gestoras avaliam entre 80% e 100% de seus ativos considerando os critérios ESG. Assim, vejo que o tema é uma tendência que deve se consolidar e crescer cada vez mais no Brasil e no mundo.
Quão importante é investir em educação e inovação para alavancar a economia de um país?
SC: Muito. Qualificando a nossa mão de obra, a gente se torna mais produtivo; então, consegue produzir mais valor e isso se transforma em riqueza para o país, de uma maneira geral. A gente compete com outros mercados e eles também estão investindo. O Brasil não pode ficar atrás nessa corrida.
MRL: Os investimentos em educação refletem diretamente na produtividade e qualidade da mão de obra, no mesmo sentido em que os investimentos em máquinas e infraestrutura contribuem para a formação do estoque de capital físico. Diante disso, as externalidades positivas geradas pelo investimento em educação e inovação se materializam, por exemplo, na melhora do capital humano e, consequentemente, na melhora da renda per capita. Portanto, ganho de produtividade é um elemento-chave para o aumento da renda e da competividade de um país. Para ficar mais clara a importância do tema, o relatório do Banco Mundial Emprego e Crescimento: a agenda da produtividade, de março de 2018, mostra que, se o Brasil fizesse uso de seus ativos com o mesmo nível de produtividade que os EUA, a renda per capita do país aumentaria 2,7 vezes. Dito isso, conseguimos perceber que o papel da educação no crescimento econômico é relevante, mas o avanço rápido não é nada trivial.
Existe um segredo (ou uma receita) para enxergar oportunidades em meio a um cenário de crise?
SC: Não existe um segredo ou uma fórmula pronta para enxergar oportunidades, mas é sempre muito importante não se deixar levar por ideias preconcebidas ou por algum viés na forma de encarar o mundo ou os problemas. Encarar os problemas e as crises com uma postura crítica, uma atitude curiosa, é uma maneira mais inteligente de encontrar alternativas, caminhos para achar oportunidades.
MRL: Em geral, o conceito de crise está associado a momentos de intensa dificuldade ou perigo, que nos tira da zona de conforto e nos coloca em situação de alerta. Quando aplicada ao cenário econômico, a crise pode ser vista como uma situação de desequilíbrio, seja na produção, comercialização ou no consumo, bem como de colapso dos fundamentos econômicos. Em muitas situações de crise, a dinâmica negativa sobre os preços dos ativos é exacerbada, o que leva a um descolamento do real valor em relação aos seus fundamentos. Daí surgem as oportunidades. Para conseguir identificá-las, entendo que a receita é ter um bom arcabouço analítico e manter-se alheio às emoções do momento, de modo que tenhamos segurança suficiente para tomar decisões baseadas nos dados.
Como manter a economia brasileira competitiva nos próximos anos?
SC: Além de seguir com reformas que têm sido feitas para dar mais espaço para o investimento e investir em educação, acho muito importante cuidar da questão tributária, pois esse é um grande problema que ainda trava os investimentos. Se isso for feito nos próximos anos, se houver uma reforma tributária que simplifique nosso sistema, isso vai ajudar muito a tornar o Brasil mais competitivo.
MRL: Além dos pontos elencados em relação ao papel do investimento em educação e seus reflexos na produtividade, uma agenda de reformas estruturais que ajude a retirar entraves do ambiente de negócios e que aumente a competitividade das empresas é fundamental para uma trajetória de crescimento consistente da capacidade competitiva do país. Estar atento e preparado para o uso de novas tecnologias e conseguir antecipar tendências no mercado global também são fatores que trazem maior potencial para a economia brasileira.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
E de enviroment (meio ambiente)
3 perguntas para Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas
Qual é o principal desafio relacionado ao meio ambiente na pauta ESG?
O principal desafio relacionado ao meio ambiente, dentro da pauta ESG, é criar métricas transparentes e confiáveis de medição da emissão e sequestro de carbono na atmosfera. Pessoalmente, defendo a criação de métricas e metodologias tropicais de medição de carbono, alinhados à realidade produtiva do Brasil. Hoje, o custo para obter essa informação [de emissão e sequestro de carbono] é muito elevado e feito por certificadoras internacionais.
Como vencer esse desafio?
As três tarefas fundamentais que devem ser feitas no país são:
- Criação de uma base de informação nacional sobre o solo, que já passe ao produtor informações claras e seguras sobre a quantidade de carbono das suas propriedades;
- Ajustar uma metodologia de medição de carbono capaz de ver o impacto da produção na atmosfera, se é positiva ou negativa;
- Ampliar e aprofundar a medição via satélite para automatizar esse processo de análise da emissão de carbono.
Fazendo isso, vamos dar ao pequeno e médio produtor acesso a essas informações e, consequentemente, abrir para eles a portas de mercados mais exigentes.
Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?
Dentro da nossa sociedade existem organizações que, por sua vocação, são naturalmente predispostas a abraçar desafios. E na história do capitalismo, as organizações de referência nesse sentido são as cooperativas. A grande vocação do coop é a transformação. Vocês são têm tudo o que se precisa para liderar a construção de um futuro novo, gerando renda e oportunidades para todos. A transformação verde pelo qual nossa economia vai passar, depende do potencial cooperativista de transformar a nossa realidade, tornando-a mais acessível e pujante para todos.
S de social
3 perguntas para Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas — bloco de líderes e empreendedores de impacto social das 10 maiores favelas brasileiras que, assim como os países ricos do G7, uniu forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas.
Qual é o principal desafio relacionado à responsabilidade social dentro ESG?
O desafio principal é colocar as pessoas em primeiro lugar, mas isso as cooperativas já fazem.
É através do Social que as pessoas podem impulsionar e transformar a própria vida. Nós acreditamos em negócios de impacto social, em que as pessoas podem, através da formação e qualificação, se desenvolver e ter dinheiro. Eu digo por que sei: dinheiro no bolso é a melhor forma de transformar a vida das pessoas. A mulher que sonha ir para faculdade, a que sofre violência doméstica, elas precisam de dinheiro para fazer essa mudança. O jovem que quer ganhar o mundo? Ele precisa de oportunidade e dinheiro no bolso para fazer isso.
Qual o impacto social das cooperativas brasileiras?
O trabalho do G10 é totalmente inspirado nas cooperativas do Brasil. O coop entende que nós podemos, através da ajuda mútua, transformar a realidade das nossas comunidades. Eu admiro essa forma de coletivamente criar soluções e, depois, compartilhar essas experiências para impulsionar o crescimento de todo mundo.
O que uma cooperativa pode fazer, hoje, para ter maior impacto social?
Acho que o caminho é buscar soluções em vez de culpados. Diante de um problema, procure uma solução e ela, com certeza, vai gerar coisas boas e oportunidades, trabalho e renda. A melhor forma de crescer é todo mundo se ajudar.
G de governance (governança)
3 perguntas para Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG de grandes empresas brasileiras.
Qual é o principal desafio da governança dentro do ESG?
O ESG deveria começar pelo G, de governança. O “G” é a maneira como a gente toma decisões, como a gente lida com a transparência, mede resultados, monitora os trabalhos. A gente só vai conseguir, de fato, alcançar equilíbrio ambiental e desenvolvimento social se os nossos líderes respeitarem os valores da boa governança que são a ética, a diversidade, a equidade, a transparência e a participação.
Como vencer esse desafio?
Investindo em diversidade, trazendo uma nova visão para dentro dos Conselhos e diretoria das cooperativas. E quando eu falo em diversidade, não estou falando apenas de etnia, gênero ou orientação sexual, mas de background (experiência). Precisamos trazer pessoas com visões e vivências diferentes para dentro das cooperativas, mesclando os saberes acumulados por lideranças de diferentes gerações e setores da economia. Se eu não tenho dentro da minha coop um especialista em inovação, eu posso ir ao mercado buscar um. Se no meu conselho não existem especialistas em diversidade, eu posso buscar um conselheiro independente que ajude a trazer esse olhar para minha organização. O percentual de membros independentes em conselhos de administração no setor privado no Brasil cresceu de 35% para 61% em sete anos. Essa diversidade gera inovação e é a inovação que garante a sustentabilidade e a competitividade de qualquer negócio.
Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?
Eu estou aprendendo com o cooperativismo. É realmente apaixonante. Vocês têm tudo o que o mundo precisa hoje: compromisso com o equilíbrio ambiental, cuidado com as pessoas e uma gestão solidária, ética e transparente. Por isso, eu acredito que as coops não vão só participar desse momento de transformação da economia, mas liderar o movimento ESG no Brasil.
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Competitividade: embora seja uma derivação da palavra competição, termo tem um significado bem diferente no mundo dos negócios. Ele trata da capacidade de uma empresa (no nosso caso, uma cooperativa) formular e implementar estratégias que lhe permitam obter e manter, a longo prazo, uma posição sustentável no mercado. E sustentabilidade econômica e social, como vocês sabem, tem tudo a ver com o coop.
Cooperativa competitiva é aquela que se vale da estrutura do modelo de cooperativa, que tem governança e gestão próprias, para concorrer no mercado, para agregar valor ao produto e para se tornar ainda mais atraente ao público externo”, explica Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB.
Ser competitivo no cooperativismo, na avaliação de Débora, é colocar no mercado um produto orientado para os desejos e anseios do consumidor. É ter um olhar estratégico e inovador, com foco em resultados, sem deixar de lado valores como a ética, a transparência e o cuidado com a comunidade.
O segredo para ser competitivo, sem deixar de ser cooperativo, está em reconhecer a linha tênue que separa a competitividade da competição.
Somos competitivos quando geramos resultados compatíveis tanto com os nossos valores quanto com as oportunidades disponíveis no mercado. Entrar na lógica da competição seria fazer de tudo para suplantar a concorrência, sem considerar os impactos dessas ações na vida das pessoas, no meio ambiente ou na economia local. E esse tipo de comportamento está totalmente desalinhado em relação aos valores do coop.
RITMO ACELERADO
As cooperativas estão inseridas em um mercado cada dia mais competitivo, no qual os consumidores estão mais informados, conectados, exigentes e conscientes do seu papel na cadeia de valores. Nesse contexto, quem gerar maior valor para o cliente terá as melhores chances de sobreviver.
Naturalmente, o modelo de negócio cooperativo, pautado pela colaboração e pelo compartilhamento, já carrega características de diferenciação”, considera o diretor-geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), no Rio Grande do Sul, José Máximo Daronco.
No entanto, salienta Daronco, é primordial avaliar até que ponto a cooperativa tem condições de responder às expectativas e preferências dos seus clientes e cooperados, comparativamente às novas soluções que se apresentam no mercado.
O aumento crescente da participação do comércio digital, e do uso de diferentes plataformas e tecnologias são exemplos de mudanças que aconteceram em ritmo mais rápido do que muitas coops conseguiram acompanhar”, argumenta.
Para o diretor da Escoop, o principal diferencial competitivo das cooperativas está no fortalecimento da sua identidade e do seu DNA, com foco nas pessoas e no relacionamento mais próximo com a comunidade e com os cooperados. Débora Ingrisano, gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB, concorda e acrescenta:
precisamos mostrar que somos éticos e sustentáveis, não apenas internamente, dentro do cooperativismo. Precisamos mostrar esse nosso jeito diferente de fazer negócios para toda a sociedade.”
FORÇA FÔLEGO
No Paraná, segundo maior produtor de grãos do país, 62% de toda a safra produzida passam pelo sistema cooperativo local. O estado é também líder na produção e exportação nacional de frango, respondendo por quase 40% desse setor, em que as cooperativas do Paraná são responsáveis pela metade desse montante. Só no setor agropecuário, o estado conta com 20 cooperativas, que, juntas, faturaram cerca de R$ 150 bilhões no ano passado.
Esse desempenho é resultado de um planejamento estratégico com alicerces e pilares que incluem os princípios do cooperativismo e estratégias de mercado, explica o superintendente do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti. “Daí desenvolvemos vários projetos”, conta.
Faz parte do mapa estratégico do sistema paranaense um intenso investimento em centros de pesquisa e experimentação agrícola financiados pelos cooperados com o objetivo de encontrar o que há de melhor e de mais avançado em tecnologias para as propriedades rurais.
Nós estamos totalmente alinhados ao mercado. Não podemos cooperar se não tivermos conhecimento do objeto com que estamos trabalhando”, afirma Mafio-letti. “Trabalhamos de uma forma transparente, para ser firme hoje e lá na frente. A livreiniciativa tem competição, mas o nosso alicerce central é a cooperação, e nunca vamos nos desviar disso. Somos competitivos, sem renunciar aos nossos valores e princípios”, revela.
Questionado se o jeito cooperativista de fazer negócios — pautado pela ética e sustentabilidade — diminui a competitividade das cooperativas do estado, Mafioletti responde com tranquilidade: “cooperando, você pode até ir mais devagar, mas vai com mais força e fôlego.”
BONS EXEMPLOS
A cooperativa Castrolanda, uma das mais tradicionais no setor agropecuário do Paraná, mantém seus resultados a partir da integração dos valores de competitividade e dos princípios éticos de trabalho. Com mais de mil cooperados e 3,7 mil colaboradores, a empresa faturou, em 2021, R$ 5,9 bilhões em receita bruta, nos mercados de carne, batata, leite e agrícola.
É necessário entender que competitividade e cooperativismo não estão em polos distintos. A competição no mercado é, sim, necessária para o desenvolvimento, mas ficar refém exclusivamente dela pode trazer problemas enormes em longo prazo. Justamente por isso, as cooperativas vêm se mostrando como um excelente modelo a ser seguido pelas empresas tra-dicionais”, acredita Willem Berend Bouwman, diretor- presidente da Castrolanda.
Para ele, uma prova definitiva de que é possível ser competitivo sem deixar de ser cooperativo foi a criação da marca Unium — projeto de intercooperação que alavancou a participação de mercado de três grandes cooperativas do estado: Castrolanda, Frísia e Capal.
Da porteira para dentro, cada cooperativa tem uma característica específica no seu processo de produção e competitividade. Quando chegam na indústria, elas se unem para se tornar ainda mais fortes em relação ao mercado, sem perder a essência e os valores individuais de cada uma”, explica Bouwman.
Sempre em busca de maior competitividade, o diretor-presidente da Castrolanda conta que a cooperativa passou por um processo de reestruturação de seu plano estratégico em 2019. Estudos indicaram a necessidade de investir em gestão interna para crescer de forma ordenada e sustentável.
“Isso envolve, principalmente, ampliar ainda mais a relação com nosso produtor, fortalecendo nossos valores e permitindo que todos tenham as mesmas condições de desenvolvimento. Essa padronização é o que chama atenção do mercado, na minha visão”, conclui.
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CONHEÇA OS PILARES DA COMPETITIVIDADE COOPERATIVISTA
7 princípios
- Adesão livre e voluntária
- Gestão democrática
- Participação econômica dos associados
- Autonomia e independência
- Educação, formação
- e informação
- Intercooperação
- Interesse pela comunidade
Vetores de competitividade
• Capital humano qualificado
• Inovação
• Relacionamento próximo com o consumidor/cooperado
• Gestão otimizada
• Atenção aos movimentos de mercado
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A economia global está passando por uma nova transformação guiada por três letrinhas: ESG, sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança (entendido aqui como ética e transparência nos negócios). E sabe quem já está pronto para liderar esse movimento de mudança no Brasil e no mundo: o coop.
“Se uma cooperativa viver para seu estatuto social, ela já estará alinhada ao ESG”, defende Dario. Neto, fundador do Grupo Anga — plataforma de negócios e investimentos orientados para impacto socioambiental positivo — e diretor do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).
De fato, o cooperativismo e o ESG combinam perfeitamente entre si por compartilharem dos mesmos valores: o cuidado com as pessoas, a responsabilidade socioambiental e a boa governança. Tudo com foco no desenvolvimento e na sustentabilidade dos negócios, da sociedade e do planeta.
É por isso, eu afirmo sem medo de errar: o coop já nasceu ESG”, explicou Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB no discurso de lançamento do ESGCoop — programa que pretende colocar o cooperativismo no protagonismo da agenda ESG no Brasil.
Tânia destaca que, enquanto as empresas comerciais têm um listão de itens para mudar — desde a mentalidade até o modelo de negócios que prioriza o lucro em vez da sustentabilidade —, as cooperativas têm apenas dois deveres de casa: 1) organizar indicadores de desempenho que mostrem o impacto socioambiental de suas atividades; 2) comunicar para o mundo, de forma eficiente e consistente que o coop sempre foi ESG.
Precisamos deixar claro que a sustentabilidade é parte do nosso DNA. Não fazemos isso porque está na moda, mas porque priorizarmos as pessoas e as comunidades onde atuamos”, explica a superintendente.
De fato, há mais mais de um século, as decisões do coop são tomadas de forma colegiada e democrática, colocando as necessidades, os negócios, as finanças e o trabalho dos cooperados em primeiro lugar, tal como defende hoje o ESG.
E para garantir que isso aconteça, os gestores cooperativistas prestem contas de tudo o que fazem para a Assembleia Geral, composta pelos verdadeiros donos do negócio: os cooperados.
Isso é transparência, principal característica da chamada boa governança”, explica Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG em grandes empresas brasileiras.
Outro pilar central do ESG é o compromisso com o desenvolvimento sustentável da sociedade e do meio ambiente, praticamente uma confirmação do sétimo princípio cooperativista, que orienta as coops a reinvestirem parte de seus resultados e a se preocuparem com as comunidades onde atuam. “Ao fazer isso, o coop investe hoje no amanhã — um pensamento sustentável, que tem tudo a ver com o nosso jeito diferente de pensar o mundo e fazer negócios”, reforça Tânia Zanella.
PROPÓSITO COMO DIFERENCIAL
Embora muitas pessoas só tenham ouvido falar recentemente em ESG, o conceito existe há quase 20 anos (veja quadro) e é um caminho sem volta para qualquer organização, seja ela cooperativa ou comercial, pública ou privada.
“Mais cedo ou mais tarde, toda organização vai ter de se aproximar da pauta ESG. Pesquisas mostram que 8 em cada 10 consumidores da geração Z (nascidos na segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010) se importam com o ESG e só querem se relacionar com empresas que tenham propósito”, explica DarioNetodo Grupo Anga.
A atração de investidores é outro motivo para olhar para o ESG. De acordo com Neto, o BID e outros bancos estão abrindo muitos editais para projetos ESG. Para captação de recursos, oito em cada 10 investidores querem apostar em fundos com classificação ESG. Além disso, a partir deste ano, todas as instituições financeiras do Brasil — incluindo as cooperativas de crédito — serão obrigadas a divulgar informações sobre os riscos sociais, ambientais e climáticos das iniciativas que financiam. Também é esperada a abertura de linhas de crédito específicas para projetos que seguem os princípios ESG.
Esses são alguns dos motivos para as coops investirem em ESG por conformidade, ou seja, para estarem dentro do que o mercado espera. Mas a verdade é que existem muitas oportunidades para quem realmente se apropriar dessa agenda por convicção”, acrescentou Neto.
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De onde vem o conceito ESG?
Tudo começou com o Pacto Global, um documento de adesão voluntária — proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) — que convida empresas e organizações de todo o mundo a se unirem para promover dentro de seus negócios boas práticas de direitos humanos, desenvolvimento sustentável, trabalho digno e ética.
Com 16 mil empresas participantes, distribuídas em 160 países, o Pacto Global é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, segundo o Secretariado-Geral da Nações Unidas. Foi dele que nasceram as sementes do conceito ESG, que viria a ser formulado em 2004. A sigla foi definida pela primeira vez no documento Who Cares Wins, elaborado pelo Pacto em parceria com o Banco Mundial.
O relatório buscou estimular as instituições financeiras e o mercado de capitais a considerar os fatores sociais, ambientais e de governança em suas ações. Uma maneira de incentivá-las a colaborar com o desenvolvimento das comunidades onde atuam, tal como fazem as cooperativas.
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QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS?
Para apoiar nossas cooperativas a mostrarem ao mundo que elas já nasceram ESG, o Sistema OCB lançou durante a Semana de Competitividade — realizada de 22 a 26 de agosto, em Brasília — um novo programa com foco na competitividade do nosso modelo de negócios: o ESGCoop.
Durante meses, a equipe da Casa do Cooperativismo, com o apoio do Grupo Anga, ouviu Unidades Estaduais e cooperativas que já estão tratando da pauta, bem como fornecedores e parceiros para saber o que está sendo feito no mundo.
“Nosso objetivo nunca foi ‘reinventar a roda’. Nós gostamos é de trocar experiências e de divulgar o que está sendo feito de melhor no Brasil. A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), por exemplo, tem um projeto de ESG que faz sentido para todo o cooperativismo, por isso estamos tomando-o de base e pretendemos ampliá-lo para todo o Brasil”, declarou Tânia.
É com esse espírito de cooperação (ou melhor, de intercooperação) que está sendo fechada a estrutura central do ESGCoop, atualmente alicerçado terá quatro pilares fundamentais:
- Mapeamento de ações já realizadas no cooperativismo;
- Definição e organização de indicadores conectados com os nossos negócios;
- Escolha de caminhos coletivos de evolução para gerar o maior impacto positivo possível;
- Formação de lideranças ESG.
Essa base aspiracional e metodológica facilitará o compartilhamento das boas práticas entre as cooperativas e ajudará a tangibilizar o impacto socioambiental do coop no Brasil. “Esses dados têm potencial para atrair novos cooperados, novos clientes e investimentos externos, fortalecendo ainda mais nossas cooperativas. Sem falar que ao demonstrar em números o que fazemos pelo país, teremos mais força para aprovar políticas públicas favoráveis ao coop”, pondera a superintendente do Sistema OCB.
Por essas e outras, Dario Neto, do Grupo Anga, faz questão de ressaltar a importância da adesão dos líderes cooperativistas ao novo programa do Sistema OCB.
O Brasil precisa de lideranças comprometidas com redução de desigualdades e com a promoção do equilíbrio climático. E eu vejo que não há como fazer isso sem o cooperativismo na vanguarda e na liderança do ESG. Façam isso por conformidade ou por ideal, mas façam. Os nossos filhos e as futuras geração precisam de nós agora”, conclamou.
Manifesto ESGCoop
A Semana da Competitividade foi palco do lançamento do programa ESGCoop, que promete levar o coop ao protagonismo do movimento ESG. E para marcar o compromisso das cooperativas brasileiras sobre o assunto, divulgamos o Manifesto ESG — declamado no evento por representantes dos comitê de jovens (Geração C) e mulheres (Elas pelo coop) do Sistema OCB. Confira:
“Em meio a desafios sociais e ambientais crescentes, o mundo pede por soluções.
Soluções essas que não devem vir de mártires ou atos heroicos, mas de comunidades capazes de moldar o próprio futuro de forma coletiva.
Todos esses desafios foram, enfim, sintetizados em três letras: E S G.
Correspondem ao desafio de cuidar do planeta, de cuidar das pessoas e de governar as organizações que impactam na vida de todos nós.
Se esses desafios foram resumidos recentemente, o coop já tem a solução há mais de cem anos.
Essa solução é feita de cultura e princípios que permitem com que as pessoas possam trabalhar melhor entre si e gerar valor para todas as partes interessadas: clientes, colaboradores, fornecedores, associados e todos os outros parceiros.
A solução também é feita de responsabilidades assumidas: com a promoção da educação, o fomento ao desenvolvimento local, o combate e adaptação à emergência climática e com a promoção da diversidade.
Quando os desafios são grandes, é necessária a grandeza da essência humana para vencê-los. Essência essa que é resumida em uma palavra: cooperar.
O cooperativismo já tem muita história para contar. E ainda mais histórias por escrever.
ESGCoop é uma ponte que conecta desafios e soluções.
ESGCoop é uma plataforma de definição do nosso próprio futuro.
ESGCoop é assumir que os maiores desafios da humanidade só serão vencidos com a cooperação.
Na hora em que o mundo mais precisa, o cooperativismo não se omite, lidera!
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Os caminhos que levam ao futuro do cooperativismo foram desbravados por mais de 2 mil pessoas na penúltima semana de agosto. Elas participaram, entre os dias 22 e 26, presencial (600 participantes) e virtualmente (1,7 mil), da Semana de Competitividade, organizada pelo Sistema OCB.
Nesta primeira edição, realizada em Brasília, os temas de destaque foram inovação, liderança para transformação, ESG e inteligência de mercado — quatro trilhas complementares para tornar o coop mais competitivo e conectado com o futuro.
Precisamos mostrar que o coop pode — e deve — ser mais competitivo, sem deixar de ser cooperativo. Mantendo nossos valores e princípios, ou seja, nossas raízes, podemos ser ainda mais fortes para crescer e conquistar novos espaços”, destacou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
4 LANÇAMENTOS DECISIVOS PARA O COOP
ESGCoop — programa de fortalecimento de gestão que pretende colocar o coop no protagonismo da agenda ESG no Brasil.
BRC 1 Tri — o coop brasileiro assumiu um desafio durante a Semana de Competitividade: gerar R$ 1 trilhão de prosperidade e chegar a 30 milhões de cooperados até 2027. “Como cada centavo gerado dentro de uma cooperativa se transforma em qualidade de vida, vamos gerar novas oportunidades para o povo brasileiro. Estas oportunidades aparecem na forma de trabalho, renda, programas de inovação, cursos, projetos sociais, ações de sustentabilidade e investimentos diretos na melhoria das comunidades onde atuamos. É a nossa hora de mostrar que o nosso jeito de fazer negócios gera mais que números, traz prosperidade”, assegurou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
LGPD NO COOP — site que tem por objetivo auxiliar as cooperativas na implementação e nos processos de conformidade da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Nele, é possível encontrar informações sobre como se adequar à LGPD; as bases regulatórias da legislação; quem são os agentes responsáveis pelo tratamento desses dados; tira-dúvidas e material de apoio. Acesse agora: lgpd.somoscooperativismo.coop.br
SOMOSCOOP NA ESTRADA — o Sistema OCB vai viajar o Brasil atrás das melhores histórias das cooperativas brasileiras. A bordo do veículo projetado especialmente para o projeto, estará a jornalista Glenda Kozlowski, encarregada de mostrar para o mundo o que o coop tem de melhor: as pessoas.
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NÚMEROS
600 pessoas participaram do evento presencialmente, em Brasília
mais de 300 cooperativas presentes no evento
17 palestras sobre Inovação, ESG, Inteligência de Mercado e Liderança
32 horas de atividades
1,7 mil visualizações únicas na palestra de abertura do evento.
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DICAS DOS PALESTRANTES
SOBRE O FUTURO DO CONSUMO
“A gente não precisa de cliente. A gente precisa de torcedor, gente que goste e torça pelo nosso trabalho. Porque cliente muda de fornecedor, mas torcedor não muda de time.” Rogerio Salume, fundador da Wine, um dos principais e-commerces de vinho do mundo, em palestra sobre negócios digitais
SOBRE A COMUNICAÇÃO DO COOP
Hoje, 70% das pessoas duvidam das promessas das empresas e 53% não confiam na mídia. No entanto, a pessoas confiam umas nas outras. Tanto que 92% dos consumidores compram produtos e serviços recomendados por conhecidos ou por pessoas que eles seguem na internet. Por isso, a estratégia de comunicação do coop deve conciliar a voz institucional [mensagens de interesse da empresa] com a voz pessoal [depoimentos de empregados, cooperados ou consumidores].” Marcelo Minutti, uma das principais referências brasileiras em comunicação digital e empreendedorismo
SOBRE FUTUROS (NO PLURAL)
A melhor forma de prever o futuro é conversando com uma criança. Elas têm uma criatividade sem amarras e podem mostrar o que faz ou não sentido nesse novo mundo, ao qual elas pertencem. Minha filha de oito anos, por exemplo, não entende por que as propagandas ainda existem. Ela não assiste mais à TV aberta e, quando quer saber de algo, procura por conta própria na internet. Esse é o futuro.” Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta
SOBRE O FUTURO DO COOP
Estamos inaugurando um novo momento do coop. Um momento no qual podemos ser protagonistas, e não coadjuvantes. Afinal, nós temos tudo o que o Brasil quer e precisa! Somos inovadores, somos éticos, trabalhamos com propósito e, além de tudo isso, somos sustentáveis.”Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB
SOBRE EQUIDADE
Todos os dias, nós ajudamos a gerar valores ESG para a sociedade. Um deles, do qual eu faço sempre questão de falar, é a defesa da equidade de gênero e do respeito à diversidade. Estamos trabalhando intensamente para ampliar a participação das mulheres, especialmente em cargos estratégicos, no cooperativismo.”Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB
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AJUDA PARA AS COOPERATIVAS DA UCRÂNIA
O presidente da União Central das Sociedades de Consumidores de Toda a Ucrânia (Ukrkoopspilka), organização correspondente ao Sistema OCB no país, Gorokhovskyi Illia, enviou às cooperativas de todo o mundo um apelo:
A Ucrânia e seu setor cooperativo precisam de seu apoio neste momento tão difícil”.
A Organização das Cooperativas da Ucrânia e as 25 cooperativas de consumo que ela representa foram vítimas dos bombardeios russos. Por isso, a organização está fazendo uma campanha internacional para receber ajuda financeira e humanitária de colegas estrangeiros. No Brasil, o Sistema OCB será responsável pelas arrecadações de doações financeiras a serem repassadas para a instituição. Para isso, foi criada uma conta exclusiva para depósito. Confira os dados:
Chave PIX:
Nome: Organização das Cooperativas Brasileiras
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Já pensou contar com uma plataforma digital que utiliza da inteligência artificial para lhe oferecer um suporte completo de todo o processo de cultivo de sua produção? Desde a semeadura até a comercialização, como o melhor momento de colheita e fornecimento do produto ao cliente, alerta prévio de doenças e pragas, compartilhamento de informações entre os diversos produtores da mesma cultura, e a rastreabilidade. Pois essa é uma realidade para os produtores associados às Cooperativas de Frutas e Legumes da Bélgica, que utilizam a plataforma Care4Growing. A coop foi a ganhadora do Prêmio de Rastreabilidade e Informação ao Consumidor.
A inovação conta com ao menos 100 funcionalidades diferentes, incluindo um assistente virtual, com capacidade analítica para otimizar o trabalho produtivo na cadeia de suprimentos e oferecer o melhor produto ao consumidor, com base em um banco de dados que conta hoje com informações de mais de 3 mil produtores.
“A digitalização está trazendo uma evolução e revolução na agricultura e horticultura, e pode ser comparada com a introdução do trator. A Care4growing fornecerá o roteiro e apoio adequado ao agricultor e à organização de produtores para lidar com isso”, anunciam os idealizadores em seu site.
As cooperativas esperam atrair um número ainda maior de produtores dentro da plataforma, expandindo o banco de dados usado pela inteligência artificial, o que poderá aumentar ainda mais a capacidade funcional da ferramenta. A ideia é integrar todos os players envolvidos no ecossistema do mercado de frutas e vegetais do país.
“A Care4Growing forma um verdadeiro ‘ecossistema digital’, que expandirá seus serviços com novas funcionalidades para beneficiar o produtor e seus parceiros. Uma cooperação única que muda radicalmente a forma como todo o setor opera”, explica o anúncio da tecnologia.
O líder do projeto belga Care4Growing, Steven Boen, falou com exclusividade para à Saber Cooperar sobre a experiência de investir em inovação de forma intercooperativa. A plataforma foi criada a partir de um estudo de estratégia das três maiores cooperativas de frutas e legumes da Bélgica, ainda em 2019.
Segundo ele, as maiores vantagens de intercooperar são a economia financeira e a oportunidade de crescimento e avanço simultâneos entre todos os agricultores. “Vocês podem fazer muito mais e melhor juntos do que sozinhos. Se tornam mais inteligentes juntos e adquirem novos insights juntos, ampliando seu conhecimento e aprendendo uns com os outros”, enfatiza.
Programada em 2020, a Care4Growing foi disponibilizada aos produtores no início de 2021. “Trata-se de um sistema de gestão de culturas, que proporciona aos produtores uma vasta gama de ferramentas para o cultivo. A plataforma fornece proativamente informações aos produtores sobre o que estão cultivando”, explica Boen.
De lá para cá, nem tudo foi fácil. A falta de conhecimento e habilidade com novas tecnologias dos cooperados foi um dos desafios, além das dificuldades em atender às exigências da própria plataforma.
“Foi preciso explicar às pessoas como funciona um projeto de TI [tecnologia da informação] e que este é um processo de melhoria constante e evolutivo. Também foi necessário configurar uma arquitetura de TI que pudesse gerenciar qualquer coisa, com segurança muito rígida, para que as pessoas certas pudessem acessar os dados certos. Para configurar uma plataforma com diferentes partes, todas precisam estar na mesma página. Para compartilhar a mesma visão, objetivos e prioridades e tomar todas as decisões em conjunto.”
Boen dá um recado às cooperativas brasileiras que querem fazer a diferença aliadas à tecnologia: “Vocês podem se adaptar facilmente ao futuro. Aprendam juntos a fazer negócios digitais”.
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O projeto de Lei 815/2022, apresentado em abril deste ano pelo deputado Hugo Leal (RJ), também integrante da Frencoop, é mais uma demanda do cooperativismo. A proposta, elaborada em parceria com o Sistema OCB, prevê a reorganização das sociedades cooperativas para permitir o uso de procedimentos de recuperação judicial e extrajudicial, como ocorre com as empresas em geral, mas respeitando o modelo societário cooperativista.
“As cooperativas já contam com desvantagens competitivas e estão desprotegidas em razão da impossibilidade de utilizar esses procedimentos”, destaca Leal. “A sociedade cooperativa apresenta características específicas. Então, nada mais justo que criarmos procedimentos respeitando suas peculiaridades, com estímulo econômico e sem trazer insegurança aos credores e aos próprios cooperados”, observa.
Segundo o deputado, os objetivos principais da proposta envolvem a preservação da atividade econômica, da continuidade de atos cooperativos, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.
Fui relator da nova lei de recuperação judicial e falências, sancionada em 2020, e sou também relator, na Câmara, do chamado Marco Legal do Reempreendedorismo, voltado para a recuperação de pequenas e micro empresas. As duas propostas têm a preocupação de ajudar na retomada da atividade econômica em momento de crise”, explica. “O PL 815/2022 tem o mesmo princípio: permitir que a cooperativa se reorganize, sem que ocorra um encarecimento do crédito, agilizando os processos, incorporando instrumentos específicos para as cooperativas, com estímulo econômico e sem trazer insegurança aos credores e aos próprios cooperados”, completa.
O projeto está em análise na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados (CDEICS), em caráter conclusivo pelas comissões. Se for aprovado na CDEICS e na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, não precisará passar pelo Plenário. “Isso garante uma tramitação mais rápida, em princípio. Assim, acredito que possa ser votado até o fim deste ano, já que há uma mobilização da Frente Parlamentar do Cooperativismo em defesa do projeto”, avalia o deputado.
A Gerente Jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues, destaca a importância de as cooperativas terem direito à recuperação judicial. “Hoje, há uma diferença muito grande na forma de encerramento das atividades das sociedades empresariais e das cooperativas. Antigamente, as empresas só tinham o mecanismo da concordata, mas o direito foi evoluindo e chegou-se nesse instituto da recuperação judicial, que é um procedimento muito mais voltado para o restabelecimento da saúde financeira da empresa, para que ela não precise falir. Hoje, uma empresa só vai à falência como consequência de uma recuperação judicial malsucedida”, explica.
Para as cooperativas, o único mecanismo existente é a dissolução, por meio de um processo de liquidação. “Ou seja, enquanto as empresas têm a oportunidade de negociação, de estender prazos, de estabelecer acordo com credores, as cooperativas continuam apenas com a possibilidade de encerrar as atividades, de deixar de existir”, destaca Ana Paula. “O que queremos é que as cooperativas também tenham a chance de se restabelecer financeiramente, quando necessário, e de manter as atividades”, completa.
Ana Paula destaca que o processo de recuperação proposto para as cooperativas é muito similar ao das empresas. “Onde teremos alguma diferenciação é na característica da cooperativa. Porque, diferentemente de uma empresa, que normalmente tem um, dois, três sócios, na cooperativa o quadro social já começa com pelo menos 20”, explica.
Então, quando uma cooperativa começa a entrar em uma situação de dificuldade financeira, às vezes, há uma fuga de cooperados. E se todos eles saírem, não é possível falar em recuperação judicial. Precisamos dar segurança para que eles fiquem até o fim. E a principal forma para que isso aconteça é a preservação dos créditos dos cooperados, por meio, por exemplo, da constituição de fundos, o que não existe na recuperação judicial”, destaca.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A espanhola Mans, cooperativa de produtores de frutas e hortaliças orgânicas da região metropolitana de Barcelona, foi premiada pelo seu trabalho dedicado ao acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Um dos objetivos da Mans é gerar vagas de emprego àqueles em dificuldade — em especial, os jovens com risco de exclusão —, oferecendo também a inserção deles no ambiente escolar.
“Com o projeto de emprego inclusivo geramos trabalho, por meio da terra, com o agricultor na produção de frutas e hortaliças orgânicas, bem como com sua posterior transformação e comercialização até chegar ao consumidor final”, explica Jordi Balari, gerente da Cooperativa Xarxa Agrosocial (MANS), que falou com exclusividade à Saber Cooperar.
Promovida pela Fundação Catalunya La Pedrera, a ação conta também com o apoio de renomados atores sociais, como as prefeituras locais e entidades dedicadas ao trabalho assistencial, com o cofinanciamento da União Europeia e do Fundo Social Europeu.
A Mans conta com 35 agricultores associados, todos com certificação orgânica. Hoje, 66% dos produtos comercializados são de áreas agrícolas da região. A cooperativa se dedica também ao processamento e envasamento das frutas e hortaliças orgânicas utilizando embalagem biodegradável, a primeira comercializada em redes de supermercados. Com a tecnologia, a cooperativa estima que, por ano, cerca de cinco toneladas de plástico deixam de ser descartadas no meio ambiente.
Além disso, como plano estratégico de redução de custo e economia, a cooperativa comercializa, principalmente, frutas e legumes de época, e processa alimentos e sumos de fruta com o objetivo de esgotar os excedentes sazonais da produção.
Este é um projeto em crescimento, que gera trabalho ao agregar outros valores, como a proximidade e defesa dos agricultores, a busca pela excelência no produto, a sustentabilidade dos processos de embalagem e transformação, a luta para ser premium na grande distribuição, e a contribuição para a cultura da alimentação mais saudável. A criação de empregos duradouros, por meio deste modelo de negócio de sucesso, é um instrumento privilegiado para contribuir para a igualdade de oportunidades”, destaca Balari.
Em números
35 agricultores com certificação orgânica associados
66% dos produtos comercializados são locais
5 toneladas de plástico a menos com o uso de embalagens biodegradáveis, por ano
Jovens em situação de risco social inseridos no mercado de trabalho e na escola
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
As cooperativas têm consolidado, ano após ano, sua relevância na produção agropecuária brasileira, a exemplo do evidenciado pela participação dos produtores rurais cooperados na produção nacional de grãos, correspondente a 53% do total. Para que o setor possa continuar se desenvolvendo, são fundamentais a manutenção e o fortalecimento do Sistema Nacional de Crédito Rural e da atual arquitetura da política agrícola, voltada para o financiamento das atividades do produtor rural e suas cooperativas. Para o Plano Safra 2022/2023, o foco está na garantia de funding para as operações de custeio e investimento, e de recursos suficientes para a adequada operacionalização do seguro rural.
As principais demandas do cooperativismo são o aumento da disponibilização de recursos, de R$ 251,2 bilhões, do atual Plano Safra, para R$ 330,8 bilhões — sendo R$ 234 bilhões destinados ao custeio da safra e comercialização, e cerca de R$ 97 bilhões para investimentos.
A elevação da oferta de crédito também foi pleiteada mediante o aumento dos percentuais de exigibilidade do depósito à vista (de 25% para 34%), da poupança rural (de 59% para 65%) e das Letras de Crédito do Agronegócio – LCA (de 35% para 50%), destinados ao crédito rural.
Há também a sugestão de elevar montante de recursos alocados para a equalização das taxas de juros do crédito rural, dos R$ 13bilhões anunciados para o Plano vigente para R$ 22 bilhões, e do seguro rural, de R$ 1 bilhão para R$ 1,8 bilhão.
Coordenador nacional do Conselho Consultivo do Ramo Agropecuário, Luiz Baggio ressalta que o Brasil tem um papel importante na garantia de segurança alimentar em nível global. “Isso é mais uma razão que demonstra a importância do Plano Safra, de uma política agrícola adequada, de um volume de recursos condizente com as necessidades de investimento e custeio, a taxas de juro que sejam compatíveis com o momento”, afirma. “Os custos de produção foram altamente majorados, seja por conta de conflitos geopolíticos globais ou por questões macroeconômicas que impactam diretamente no setor. Precisamos continuar produzindo e investindo; por isso, o crédito agrícola é tão importante”, observa.
Em audiência no mês de maio na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, afirmou que, para o Brasil ter um Plano Safra 2022/2023 robusto, condizente com o atual contexto, o montante de recursos disponibilizados precisará estar em cerca de R$ 330 bilhões, e R$ 22 bilhões para a equalização de taxas de juros, como solicitado pelas cooperativas.
Este ano, temos a necessidade de crescer substancialmente com o Plano Safra 2022/2023. A inflação subiu muito e os arranjos necessários ao Plano Safra atual foram feitos exatamente por conta da taxa de juros, que subiu de 2,75% para mais de 12%. Além disso, temos o custo de produção, que está cada vez maior também”, disse o ministro.
Montes afirmou que está trabalhando para conseguir um Seguro Rural que alcance valores em torno de R$ 2 bilhões, bem como para que o montante seja obrigatório. “O recurso para o Programa de Subvenção ao Seguro Rural na Lei Orçamentária Anual é discricionário, e fica sujeito a contingenciamento. A gente precisa ter um plano de ação para estimular o produtor a entrar no seguro”, afirmou.
O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, também salienta a importância do Plano Safra.
Precisamos fortalecer os canais que viabilizam nosso processo de produção, para que possamos ter uma agropecuária cada vez mais crescente e sustentável. Precisamos construir juntos alternativas para continuar alavancando o agronegócio, no intuito de produzirmos alimentos de qualidade e a preços justos ao nosso consumidor, além de mantermos nosso protagonismo como peça fundamental para a segurança alimentar global; para isso, uma política agrícola consistente é fundamental.”, pondera.
A definição do Plano Safra 2022/2023 deve ser feita pelo Governo Federal até o fim de junho, para entrada em vigor no mês de julho. “Sabemos que a garantia de um Plano Safra robusto é cada vez mais complexa, devido às restrições orçamentárias. Mas o agronegócio continua crescendo, trazendo riqueza para o país. Então, estamos fazendo um trabalho amplo, mostrando a relevância do setor para a segurança alimentar, para a balança comercial e a importância do crédito rural para que possamos manter um crescimento sustentável”, afirma Clara Maffia.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Após ser aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 8.824/2017, que trata sobre o tema, ganhou nova numeração (PL1.303/2022) e aguarda o aval do Senado. O projeto será analisado pelas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE), e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), em caráter terminativo, ou seja, se aprovado sem modificações, seguirá para sanção presidencial
sem a necessidade de aprovação do plenário.
Embora a quantidade de usuários e de serviços on-line tenha aumentado nos últimos anos, ainda persistem muitos espaços vazios de conectividade, sobretudo nas áreas rurais. De acordo com o último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2017, 71,8% das propriedades localizadas no campo não possuem conectividade.
Na prática, em mais de 3,64 milhões de propriedades rurais não há internet, nem mesmo para atividades básicas, como a emissão de uma simples nota fiscal eletrônica. Comunicação, acesso à educação e ao entretenimento são outras finalidades importantes que também ficam restritas, dado os atuais desafios de acesso à internet no campo. Para a atividade produtiva, os avanços na conectividade visam melhorar processos como os de rastreabilidade e de assistência técnica, bem como para a implementação de estratégias importantes, a exemplo da agricultura de precisão”, destaca o presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), deputado federal Evair de Melo (ES).
Para Márcio Lopes de Freitas, as cooperativas de infraestrutura têm capacidade para oferecer internet rural às cooperativas agrícolas. “Elas já têm parte dos insumos necessários e algumas até já prestam esse serviço, principalmente no sul do país. Por isso, nossa ideia é promover esse casamento de necessidades, fortalecendo cada vez mais nosso setor produtivo”, destaca.
Segundo a gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, não há um impedimento legal para que as cooperativas atuem na área de telecomunicações, mas, muitas vezes, quando elas vão à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) solicitar autorização pedido acaba sendo negado.
O que nós precisamos é garantir segurança jurídica para essa atuação, para que o setor não fique dependente de uma interpretação da legislação atual”, ressalta.
A maior cooperativa de eletrificação em extensão de redes do país, a Coprel, vem atuando, por meio de uma empresa parceira, a Coprel Telecom, na prestação de serviço de banda larga no interior do Rio Grande do Sul. “Esse modelo, de criar uma empresa, tem sido usado por várias cooperativas para a prestação do serviço de telecomunicações. Mas o modelo está longe do ideal, porque as cooperativas acabam ficando em um limbo legal, o que impede o crescimento do serviço”, destaca o presidente da Coprel, Jânio Vital Stefanello, também coordenador do Conselho Consultivo do Ramo Infra do Sistema OCB.
Segundo Stefanello, a prestação de serviços de telecomunicações por cooperativas tem se mostrado bem-sucedida em outros países, como Estados Unidos e Argentina.
Nesses locais, as cooperativas começaram com TV a cabo; depois, foram para a telefonia; e, então, para a internet. Isso foi se desenvolvendo e hoje esses dois países têm sistemas altamente consolidados”, conta. “Enquanto isso, no Brasil, as cooperativas reduzem os investimentos nesse setor devido à falta de segurança jurídica”, completa.
Stefanello destaca que o acesso à internet em banda larga é uma das principais demandas dos produtores rurais. “É uma necessidade muito grande. Hoje, em muitas propriedades, só pega uma pontinha de sinal em um canto da cozinha ou há um rádio com uma banda limitada, de um mega, dois megas. Aí a pessoa quer ver um filme, baixar um vídeo, assistir a uma aula on-line, não consegue”, afirma. “Fora a questão da segurança, porque sem banda larga não dá para colocar câmeras e fazer um monitoramento em tempo real, ou seja, ter internet hoje é uma necessidade premente”, aponta.
O presidente da Coprel também ressalta que o acesso à internet de qualidade é um dos fatores-chave para a manutenção dos jovens no campo. “Além da renda e de os pais abrirem espaço para os filhos trabalharem, uma boa internet é condição sine qua non para a sucessão rural. Se já é difícil ficar uma tarde sem internet, imagina viver isolado o tempo todo”, afirma Stefanello.
Temos hoje no Brasil mais de 60 cooperativas de infraestrutura, e pelo menos metade delas está esperando a aprovação da lei para investir de fato na prestação de serviços de telecomunicação”, informa.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
COOPERATIVA CÀMARA ARROSSERA DEL MONTSIÀ — ESPANHA
Prêmio de Bioeconomia e Circularidade — Projeto Oryzite
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Inventar uma alternativa ao plástico feita à base da casca de arroz em uma estratégia de produção de economia circular levou a cooperativa Càmara Arrossera del Montsià, da Espanha, a receber o prêmio de Bioeconomia e Circularidade.
Após mais de uma década em pesquisas, a cooperativa chegou ao Oryzite, nome dado a um produto biodegradável que pode ser incorporado a qualquer produto termoplástico para minimizar os danos ambientais causados pelo descarte incorreto desse material na natureza. “Dizemos que quanto mais quilos de Oryzite você coloca no mercado, menos quilos de plástico você libera no meio ambiente e, ao fazê-lo, reduz a pegada de carbono”, explica a cooperativa. O material tem potencial para substituir o plástico em diversas indústrias, como a automotiva, logística, de embalagens e móveis.
O Oryzite tem sido utilizado com sucesso no processo de embalagem da própria cooperativa e reduziu, em até 85%, o uso do plástico comum. O impacto dessa mudança teve resultado prático: 145.600.000kg de CO2 a menos na atmosfera.
A fabricação do novo produto é um exemplo claro de economia circular e de bioeconomia. Afinal, o Oryzite é produzido a partir dos resíduos da produção de arroz, o que garante o aproveitamento total do grão.
Além de agregar valor a um subproduto, a produção usa menor quantidade de recursos, que reflete em menos resíduos. O plano estratégico tem chamado atenção da indústria, que vê na inovação uma solução para tornar suas plantas produtivas mais sustentáveis.
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EM NÚMEROS
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Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Já imaginou utilizar um substituto do plástico 100% sustentável? Há uma alternativa feita da casca de arroz que, de quebra, contribui para a redução do impacto nocivo que o plástico traz à natureza. E ter a oportunidade de oferecer no mercado carne bovina produzida a partir de um processo de abate que reduz a emissão de carbono (CO2), enquanto é apoiado por um programa de segurança financeira? Quem sabe, ainda, ter à disposição de sua produção agrícola uma plataforma digital que utiliza inteligência artificial com mais de 100 funcionalidades, capaz de otimizar todo o processo produtivo do seu negócio? Esses são apenas alguns exemplos de ideias inovadoras vencedoras da 5ª edição do Prêmio Europeu de Inovação Cooperativa, realizado, neste ano, pela Confederação Europeia de Cooperativas Agropecuárias (Cogeca).
Idealizado para promover boas práticas, projetos e serviços inovadores prestados por cooperativas do “velho mundo”, o prêmio teve nesta edição como tema a sustentabilidade e contou com mais de 100 projetos inscritos. A entrega das premiações aconteceu na cidade de Bruxelas, Bélgica, no último mês de abril. Conheça as cooperativas premiadas.
PEGADA VERDE
COOPERATIVA LANTMÄNNEN — SUÉCIA
Prêmio de Recursos Naturais e Biodiversidade — ThermoSeed, a semente mais pura!
Desenvolver uma agricultura mundial mais sustentável até 2050 é o objetivo que impulsionou a cooperativa sueca Lantmannen a criar uma tecnologia biológica capaz de produzir sementes super-resistentes a pragas e doenças, além de tratar infecções transmitidas. E sem a utilização de produtos químicos. A novidade chegou anunciando as seguintes vantagens: a redução no uso de agrotóxicos, diminuição dos custos ao produtor e promoção da sustentabilidade.
A tecnologia recebeu o nome de ThermoSeed e utiliza um método biológico exclusivo de tratamento térmico que produz sementes saudáveis tanto para o cultivo convencional como para o orgânico. O processo é um tipo de pasteurização que utiliza o ar quente e úmido para neutralizar a infecção da semente sem comprometer sua germinação, que por sua vez, é estimulada, resultando na produção de plantas mais fortes.
A cooperativa Lantmannen levou o prêmio de Recursos Naturais e Biodiversidade por minimizar o uso de produtos químicos no setor agrícola. Em 2020, a ThermoSeed economizou 2 milhões de litros de pesticidas usando a tecnologia em 1 milhão de hectares de terras.
Desenvolvido em parceria com a Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, em um processo de inovação aberta, o método fabricado pela cooperativa também é utilizado em plantações na Noruega, Finlândia, Suíça e França, além de ser produto de negócios nos Estados Unidos e no Japão. A lista tem tudo para crescer mais, já que, segundo a Lantmannen, a demanda pelo ThermoSeed é cada vez maior, diante da preocupação global em diminuir a emissão de carbono e o uso de agrotóxicos.
Estamos felizes em ver mais agricultores utilizando nossas sementes. Este é o caminho certo para o produtor e o meio ambiente”, comentou Anders Krafft, CEO da Lantmännen BioAgri ao receber a notícia do prêmio.
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Em números
20 mil agricultores suecos associados
10 mil funcionários, em mais de 20 países
30 milhões de euros investidos em pesquisa e desenvolvimento, por ano
5 bilhões de euros em faturamento anual
Em 2020, evitou o uso de 2 milhões de litros de agrotóxicos
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Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
“Cooperativismo é movimento; então, há muito a ser feito para trazer ainda mais benefícios para as cooperativas e para a sociedade.” A frase do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, traduz perfeitamente a orientação da Casa do Cooperativismo neste primeiro ano pós-pandemia. Nosso time de cientistas políticos, analistas de negócios e juristas está atento a tudo que acontece nos Três Poderes e que pode impactar as cooperativas e os cooperados; para guiá-los nesse trabalho, identificamos as principais demandas das mais de 4,8 mil cooperativas do país. Elas foram compiladas na Agenda Institucional do Cooperativismo 2022, que reúne 44 temas de impacto do setor, sendo que sete temas guiarão a atuação do Sistema OCB até o fim do ano.
Em 2021, o coop obteve importantes avanços, apesar das limitações impostas pela pandemia, e o objetivo para este ano é conquistar ainda mais.
“Somos um instrumento para que novas oportunidades sejam estabelecidas e pretendemos continuar a construir, junto com os Três Poderes da República, as políticas públicas que fortalecem o cooperativismo e seus princípios — o que, por consequência, gera mais oportunidades e prosperidade para o Brasil”, completa Lopes de Freitas.
Conheça, a seguir, uma pauta prioritária do cooperativismo para 2022 e saiba como o Sistema OCB vem atuando na garantia dos interesses das cooperativas brasileiras.
ADEQUADO TRATAMENTO TRIBUTÁRIO DO ATO COOPERATIVO NA REFORMA TRIBUTÁRIA
Garantir que a Reforma Tributária seja justa para os mais de 17 milhões de cooperados brasileiros é prioridade máxima para todo o movimento cooperativista. E isso só será possível com o reconhecimento das características tributárias específicas do cooperativismo nas Propostas de Emenda Constitucional relacionadas a essa reforma (PEC 110/2019, no Senado, e PEC 7/2020, na Câmara).
Desde o início da tramitação da proposta, em 2019, o Sistema OCB vem atuando para que o adequado tratamento tributário ao Ato Cooperativo esteja contemplado na Reforma e para que sejam protegidas as conquistas já alcançadas até o momento pelo coop. Entre essas conquistas tributárias estão o reconhecimento da não incidência de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os atos cooperativos e as exclusões de base de cálculo da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) concedidas a alguns segmentos, como táxi, agropecuário, crédito e eletrificação, por leis ordinárias ou normas internas da Receita Federal.
“Por expressa definição legal, o Ato Cooperativo não é ato comercial e, portanto, não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”, explica Márcio Lopes de Freitas. “O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da pessoa jurídica da cooperativa para a pessoa física ou jurídica do cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Na cooperativa, há apenas o abatimento dos custos para a prestação do serviço ao cooperado”, completa.
Segundo a gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, o projeto original da PEC 110 não contemplava as demandas do cooperativismo. “Fizemos, então, uma série de reuniões com o relator do projeto, o senador Roberto Rocha (MA), e com o governo federal, para deixarmos claro nosso ponto de vista. Realizamos também uma mobilização muito grande com vários parlamentares”, conta.
Clara destaca que a mobilização surtiu o efeito desejado. “Quando a PEC foi pautada pela primeira vez na CCJ, vários senadores reforçaram a importância do cooperativismo. Dos 10 que estavam presentes, sete enfatizaram que o Ato Cooperativo deveria ser incluído na reforma”, afirma. “E, como consequência disso, acabamos sendo procurados pelo gabinete do relator e conseguimos avançar para um texto que, apesar de não ser o ideal, contempla grande parte das nossas demandas”, completa.
Mesmo ainda estando em análise pela CCJ e com a tramitação desacelerada — sobretudo por ser um ano eleitoral —, o presidente do Sistema OCB se mostra otimista com a manutenção do Ato Cooperativo na Reforma Tributária. “Conseguimos um avanço importante junto ao relator, o senador Roberto Rocha, que, com certeza, será ratificado na CCJ e no plenário”, avalia Márcio Lopes de Freitas. Atualmente, a PEC 110/2019 está aguardando votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.
O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da Pessoa Jurídica da cooperativa para a Pessoa Física ou Jurídica do Cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.
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Propostas de Emenda Constitucional relacionadas a reforma (PEC 110/2019, no Senado, e PEC 7/2020, na Câmara)
O Ato Cooperativo engloba as transações praticadas entre as cooperativas e seus associados, entre estas e aquelas, e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais. Como essas transações não visam o lucro, elas devem ter uma tributação adequada, para garantir melhores resultados para todo o grupo de cooperados — que pagam impostos como pessoa física. Caso seja desconsiderado o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo, poderá incorrer em duplicidade de tributação, na cooperativa e no cooperado — o que não acontece com empresas comerciais, que são tributadas apenas no CNPJ.
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Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação