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E de enviroment (meio ambiente)
3 perguntas para Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas
Qual é o principal desafio relacionado ao meio ambiente na pauta ESG?
O principal desafio relacionado ao meio ambiente, dentro da pauta ESG, é criar métricas transparentes e confiáveis de medição da emissão e sequestro de carbono na atmosfera. Pessoalmente, defendo a criação de métricas e metodologias tropicais de medição de carbono, alinhados à realidade produtiva do Brasil. Hoje, o custo para obter essa informação [de emissão e sequestro de carbono] é muito elevado e feito por certificadoras internacionais.
Como vencer esse desafio?
As três tarefas fundamentais que devem ser feitas no país são:
- Criação de uma base de informação nacional sobre o solo, que já passe ao produtor informações claras e seguras sobre a quantidade de carbono das suas propriedades;
- Ajustar uma metodologia de medição de carbono capaz de ver o impacto da produção na atmosfera, se é positiva ou negativa;
- Ampliar e aprofundar a medição via satélite para automatizar esse processo de análise da emissão de carbono.
Fazendo isso, vamos dar ao pequeno e médio produtor acesso a essas informações e, consequentemente, abrir para eles a portas de mercados mais exigentes.
Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?
Dentro da nossa sociedade existem organizações que, por sua vocação, são naturalmente predispostas a abraçar desafios. E na história do capitalismo, as organizações de referência nesse sentido são as cooperativas. A grande vocação do coop é a transformação. Vocês são têm tudo o que se precisa para liderar a construção de um futuro novo, gerando renda e oportunidades para todos. A transformação verde pelo qual nossa economia vai passar, depende do potencial cooperativista de transformar a nossa realidade, tornando-a mais acessível e pujante para todos.
S de social
3 perguntas para Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas — bloco de líderes e empreendedores de impacto social das 10 maiores favelas brasileiras que, assim como os países ricos do G7, uniu forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas.
Qual é o principal desafio relacionado à responsabilidade social dentro ESG?
O desafio principal é colocar as pessoas em primeiro lugar, mas isso as cooperativas já fazem.
É através do Social que as pessoas podem impulsionar e transformar a própria vida. Nós acreditamos em negócios de impacto social, em que as pessoas podem, através da formação e qualificação, se desenvolver e ter dinheiro. Eu digo por que sei: dinheiro no bolso é a melhor forma de transformar a vida das pessoas. A mulher que sonha ir para faculdade, a que sofre violência doméstica, elas precisam de dinheiro para fazer essa mudança. O jovem que quer ganhar o mundo? Ele precisa de oportunidade e dinheiro no bolso para fazer isso.
Qual o impacto social das cooperativas brasileiras?
O trabalho do G10 é totalmente inspirado nas cooperativas do Brasil. O coop entende que nós podemos, através da ajuda mútua, transformar a realidade das nossas comunidades. Eu admiro essa forma de coletivamente criar soluções e, depois, compartilhar essas experiências para impulsionar o crescimento de todo mundo.
O que uma cooperativa pode fazer, hoje, para ter maior impacto social?
Acho que o caminho é buscar soluções em vez de culpados. Diante de um problema, procure uma solução e ela, com certeza, vai gerar coisas boas e oportunidades, trabalho e renda. A melhor forma de crescer é todo mundo se ajudar.
G de governance (governança)
3 perguntas para Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG de grandes empresas brasileiras.
Qual é o principal desafio da governança dentro do ESG?
O ESG deveria começar pelo G, de governança. O “G” é a maneira como a gente toma decisões, como a gente lida com a transparência, mede resultados, monitora os trabalhos. A gente só vai conseguir, de fato, alcançar equilíbrio ambiental e desenvolvimento social se os nossos líderes respeitarem os valores da boa governança que são a ética, a diversidade, a equidade, a transparência e a participação.
Como vencer esse desafio?
Investindo em diversidade, trazendo uma nova visão para dentro dos Conselhos e diretoria das cooperativas. E quando eu falo em diversidade, não estou falando apenas de etnia, gênero ou orientação sexual, mas de background (experiência). Precisamos trazer pessoas com visões e vivências diferentes para dentro das cooperativas, mesclando os saberes acumulados por lideranças de diferentes gerações e setores da economia. Se eu não tenho dentro da minha coop um especialista em inovação, eu posso ir ao mercado buscar um. Se no meu conselho não existem especialistas em diversidade, eu posso buscar um conselheiro independente que ajude a trazer esse olhar para minha organização. O percentual de membros independentes em conselhos de administração no setor privado no Brasil cresceu de 35% para 61% em sete anos. Essa diversidade gera inovação e é a inovação que garante a sustentabilidade e a competitividade de qualquer negócio.
Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?
Eu estou aprendendo com o cooperativismo. É realmente apaixonante. Vocês têm tudo o que o mundo precisa hoje: compromisso com o equilíbrio ambiental, cuidado com as pessoas e uma gestão solidária, ética e transparente. Por isso, eu acredito que as coops não vão só participar desse momento de transformação da economia, mas liderar o movimento ESG no Brasil.
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Competitividade: embora seja uma derivação da palavra competição, termo tem um significado bem diferente no mundo dos negócios. Ele trata da capacidade de uma empresa (no nosso caso, uma cooperativa) formular e implementar estratégias que lhe permitam obter e manter, a longo prazo, uma posição sustentável no mercado. E sustentabilidade econômica e social, como vocês sabem, tem tudo a ver com o coop.
Cooperativa competitiva é aquela que se vale da estrutura do modelo de cooperativa, que tem governança e gestão próprias, para concorrer no mercado, para agregar valor ao produto e para se tornar ainda mais atraente ao público externo”, explica Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB.
Ser competitivo no cooperativismo, na avaliação de Débora, é colocar no mercado um produto orientado para os desejos e anseios do consumidor. É ter um olhar estratégico e inovador, com foco em resultados, sem deixar de lado valores como a ética, a transparência e o cuidado com a comunidade.
O segredo para ser competitivo, sem deixar de ser cooperativo, está em reconhecer a linha tênue que separa a competitividade da competição.
Somos competitivos quando geramos resultados compatíveis tanto com os nossos valores quanto com as oportunidades disponíveis no mercado. Entrar na lógica da competição seria fazer de tudo para suplantar a concorrência, sem considerar os impactos dessas ações na vida das pessoas, no meio ambiente ou na economia local. E esse tipo de comportamento está totalmente desalinhado em relação aos valores do coop.
RITMO ACELERADO
As cooperativas estão inseridas em um mercado cada dia mais competitivo, no qual os consumidores estão mais informados, conectados, exigentes e conscientes do seu papel na cadeia de valores. Nesse contexto, quem gerar maior valor para o cliente terá as melhores chances de sobreviver.
Naturalmente, o modelo de negócio cooperativo, pautado pela colaboração e pelo compartilhamento, já carrega características de diferenciação”, considera o diretor-geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), no Rio Grande do Sul, José Máximo Daronco.
No entanto, salienta Daronco, é primordial avaliar até que ponto a cooperativa tem condições de responder às expectativas e preferências dos seus clientes e cooperados, comparativamente às novas soluções que se apresentam no mercado.
O aumento crescente da participação do comércio digital, e do uso de diferentes plataformas e tecnologias são exemplos de mudanças que aconteceram em ritmo mais rápido do que muitas coops conseguiram acompanhar”, argumenta.
Para o diretor da Escoop, o principal diferencial competitivo das cooperativas está no fortalecimento da sua identidade e do seu DNA, com foco nas pessoas e no relacionamento mais próximo com a comunidade e com os cooperados. Débora Ingrisano, gerente de desenvolvimento de cooperativas do Sistema OCB, concorda e acrescenta:
precisamos mostrar que somos éticos e sustentáveis, não apenas internamente, dentro do cooperativismo. Precisamos mostrar esse nosso jeito diferente de fazer negócios para toda a sociedade.”
FORÇA FÔLEGO
No Paraná, segundo maior produtor de grãos do país, 62% de toda a safra produzida passam pelo sistema cooperativo local. O estado é também líder na produção e exportação nacional de frango, respondendo por quase 40% desse setor, em que as cooperativas do Paraná são responsáveis pela metade desse montante. Só no setor agropecuário, o estado conta com 20 cooperativas, que, juntas, faturaram cerca de R$ 150 bilhões no ano passado.
Esse desempenho é resultado de um planejamento estratégico com alicerces e pilares que incluem os princípios do cooperativismo e estratégias de mercado, explica o superintendente do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti. “Daí desenvolvemos vários projetos”, conta.
Faz parte do mapa estratégico do sistema paranaense um intenso investimento em centros de pesquisa e experimentação agrícola financiados pelos cooperados com o objetivo de encontrar o que há de melhor e de mais avançado em tecnologias para as propriedades rurais.
Nós estamos totalmente alinhados ao mercado. Não podemos cooperar se não tivermos conhecimento do objeto com que estamos trabalhando”, afirma Mafio-letti. “Trabalhamos de uma forma transparente, para ser firme hoje e lá na frente. A livreiniciativa tem competição, mas o nosso alicerce central é a cooperação, e nunca vamos nos desviar disso. Somos competitivos, sem renunciar aos nossos valores e princípios”, revela.
Questionado se o jeito cooperativista de fazer negócios — pautado pela ética e sustentabilidade — diminui a competitividade das cooperativas do estado, Mafioletti responde com tranquilidade: “cooperando, você pode até ir mais devagar, mas vai com mais força e fôlego.”
BONS EXEMPLOS
A cooperativa Castrolanda, uma das mais tradicionais no setor agropecuário do Paraná, mantém seus resultados a partir da integração dos valores de competitividade e dos princípios éticos de trabalho. Com mais de mil cooperados e 3,7 mil colaboradores, a empresa faturou, em 2021, R$ 5,9 bilhões em receita bruta, nos mercados de carne, batata, leite e agrícola.
É necessário entender que competitividade e cooperativismo não estão em polos distintos. A competição no mercado é, sim, necessária para o desenvolvimento, mas ficar refém exclusivamente dela pode trazer problemas enormes em longo prazo. Justamente por isso, as cooperativas vêm se mostrando como um excelente modelo a ser seguido pelas empresas tra-dicionais”, acredita Willem Berend Bouwman, diretor- presidente da Castrolanda.
Para ele, uma prova definitiva de que é possível ser competitivo sem deixar de ser cooperativo foi a criação da marca Unium — projeto de intercooperação que alavancou a participação de mercado de três grandes cooperativas do estado: Castrolanda, Frísia e Capal.
Da porteira para dentro, cada cooperativa tem uma característica específica no seu processo de produção e competitividade. Quando chegam na indústria, elas se unem para se tornar ainda mais fortes em relação ao mercado, sem perder a essência e os valores individuais de cada uma”, explica Bouwman.
Sempre em busca de maior competitividade, o diretor-presidente da Castrolanda conta que a cooperativa passou por um processo de reestruturação de seu plano estratégico em 2019. Estudos indicaram a necessidade de investir em gestão interna para crescer de forma ordenada e sustentável.
“Isso envolve, principalmente, ampliar ainda mais a relação com nosso produtor, fortalecendo nossos valores e permitindo que todos tenham as mesmas condições de desenvolvimento. Essa padronização é o que chama atenção do mercado, na minha visão”, conclui.
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CONHEÇA OS PILARES DA COMPETITIVIDADE COOPERATIVISTA
7 princípios
- Adesão livre e voluntária
- Gestão democrática
- Participação econômica dos associados
- Autonomia e independência
- Educação, formação
- e informação
- Intercooperação
- Interesse pela comunidade
Vetores de competitividade
• Capital humano qualificado
• Inovação
• Relacionamento próximo com o consumidor/cooperado
• Gestão otimizada
• Atenção aos movimentos de mercado
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A economia global está passando por uma nova transformação guiada por três letrinhas: ESG, sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança (entendido aqui como ética e transparência nos negócios). E sabe quem já está pronto para liderar esse movimento de mudança no Brasil e no mundo: o coop.
“Se uma cooperativa viver para seu estatuto social, ela já estará alinhada ao ESG”, defende Dario. Neto, fundador do Grupo Anga — plataforma de negócios e investimentos orientados para impacto socioambiental positivo — e diretor do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).
De fato, o cooperativismo e o ESG combinam perfeitamente entre si por compartilharem dos mesmos valores: o cuidado com as pessoas, a responsabilidade socioambiental e a boa governança. Tudo com foco no desenvolvimento e na sustentabilidade dos negócios, da sociedade e do planeta.
É por isso, eu afirmo sem medo de errar: o coop já nasceu ESG”, explicou Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB no discurso de lançamento do ESGCoop — programa que pretende colocar o cooperativismo no protagonismo da agenda ESG no Brasil.
Tânia destaca que, enquanto as empresas comerciais têm um listão de itens para mudar — desde a mentalidade até o modelo de negócios que prioriza o lucro em vez da sustentabilidade —, as cooperativas têm apenas dois deveres de casa: 1) organizar indicadores de desempenho que mostrem o impacto socioambiental de suas atividades; 2) comunicar para o mundo, de forma eficiente e consistente que o coop sempre foi ESG.
Precisamos deixar claro que a sustentabilidade é parte do nosso DNA. Não fazemos isso porque está na moda, mas porque priorizarmos as pessoas e as comunidades onde atuamos”, explica a superintendente.
De fato, há mais mais de um século, as decisões do coop são tomadas de forma colegiada e democrática, colocando as necessidades, os negócios, as finanças e o trabalho dos cooperados em primeiro lugar, tal como defende hoje o ESG.
E para garantir que isso aconteça, os gestores cooperativistas prestem contas de tudo o que fazem para a Assembleia Geral, composta pelos verdadeiros donos do negócio: os cooperados.
Isso é transparência, principal característica da chamada boa governança”, explica Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG em grandes empresas brasileiras.
Outro pilar central do ESG é o compromisso com o desenvolvimento sustentável da sociedade e do meio ambiente, praticamente uma confirmação do sétimo princípio cooperativista, que orienta as coops a reinvestirem parte de seus resultados e a se preocuparem com as comunidades onde atuam. “Ao fazer isso, o coop investe hoje no amanhã — um pensamento sustentável, que tem tudo a ver com o nosso jeito diferente de pensar o mundo e fazer negócios”, reforça Tânia Zanella.
PROPÓSITO COMO DIFERENCIAL
Embora muitas pessoas só tenham ouvido falar recentemente em ESG, o conceito existe há quase 20 anos (veja quadro) e é um caminho sem volta para qualquer organização, seja ela cooperativa ou comercial, pública ou privada.
“Mais cedo ou mais tarde, toda organização vai ter de se aproximar da pauta ESG. Pesquisas mostram que 8 em cada 10 consumidores da geração Z (nascidos na segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010) se importam com o ESG e só querem se relacionar com empresas que tenham propósito”, explica DarioNetodo Grupo Anga.
A atração de investidores é outro motivo para olhar para o ESG. De acordo com Neto, o BID e outros bancos estão abrindo muitos editais para projetos ESG. Para captação de recursos, oito em cada 10 investidores querem apostar em fundos com classificação ESG. Além disso, a partir deste ano, todas as instituições financeiras do Brasil — incluindo as cooperativas de crédito — serão obrigadas a divulgar informações sobre os riscos sociais, ambientais e climáticos das iniciativas que financiam. Também é esperada a abertura de linhas de crédito específicas para projetos que seguem os princípios ESG.
Esses são alguns dos motivos para as coops investirem em ESG por conformidade, ou seja, para estarem dentro do que o mercado espera. Mas a verdade é que existem muitas oportunidades para quem realmente se apropriar dessa agenda por convicção”, acrescentou Neto.
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De onde vem o conceito ESG?
Tudo começou com o Pacto Global, um documento de adesão voluntária — proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) — que convida empresas e organizações de todo o mundo a se unirem para promover dentro de seus negócios boas práticas de direitos humanos, desenvolvimento sustentável, trabalho digno e ética.
Com 16 mil empresas participantes, distribuídas em 160 países, o Pacto Global é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, segundo o Secretariado-Geral da Nações Unidas. Foi dele que nasceram as sementes do conceito ESG, que viria a ser formulado em 2004. A sigla foi definida pela primeira vez no documento Who Cares Wins, elaborado pelo Pacto em parceria com o Banco Mundial.
O relatório buscou estimular as instituições financeiras e o mercado de capitais a considerar os fatores sociais, ambientais e de governança em suas ações. Uma maneira de incentivá-las a colaborar com o desenvolvimento das comunidades onde atuam, tal como fazem as cooperativas.
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QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS?
Para apoiar nossas cooperativas a mostrarem ao mundo que elas já nasceram ESG, o Sistema OCB lançou durante a Semana de Competitividade — realizada de 22 a 26 de agosto, em Brasília — um novo programa com foco na competitividade do nosso modelo de negócios: o ESGCoop.
Durante meses, a equipe da Casa do Cooperativismo, com o apoio do Grupo Anga, ouviu Unidades Estaduais e cooperativas que já estão tratando da pauta, bem como fornecedores e parceiros para saber o que está sendo feito no mundo.
“Nosso objetivo nunca foi ‘reinventar a roda’. Nós gostamos é de trocar experiências e de divulgar o que está sendo feito de melhor no Brasil. A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), por exemplo, tem um projeto de ESG que faz sentido para todo o cooperativismo, por isso estamos tomando-o de base e pretendemos ampliá-lo para todo o Brasil”, declarou Tânia.
É com esse espírito de cooperação (ou melhor, de intercooperação) que está sendo fechada a estrutura central do ESGCoop, atualmente alicerçado terá quatro pilares fundamentais:
- Mapeamento de ações já realizadas no cooperativismo;
- Definição e organização de indicadores conectados com os nossos negócios;
- Escolha de caminhos coletivos de evolução para gerar o maior impacto positivo possível;
- Formação de lideranças ESG.
Essa base aspiracional e metodológica facilitará o compartilhamento das boas práticas entre as cooperativas e ajudará a tangibilizar o impacto socioambiental do coop no Brasil. “Esses dados têm potencial para atrair novos cooperados, novos clientes e investimentos externos, fortalecendo ainda mais nossas cooperativas. Sem falar que ao demonstrar em números o que fazemos pelo país, teremos mais força para aprovar políticas públicas favoráveis ao coop”, pondera a superintendente do Sistema OCB.
Por essas e outras, Dario Neto, do Grupo Anga, faz questão de ressaltar a importância da adesão dos líderes cooperativistas ao novo programa do Sistema OCB.
O Brasil precisa de lideranças comprometidas com redução de desigualdades e com a promoção do equilíbrio climático. E eu vejo que não há como fazer isso sem o cooperativismo na vanguarda e na liderança do ESG. Façam isso por conformidade ou por ideal, mas façam. Os nossos filhos e as futuras geração precisam de nós agora”, conclamou.
Manifesto ESGCoop
A Semana da Competitividade foi palco do lançamento do programa ESGCoop, que promete levar o coop ao protagonismo do movimento ESG. E para marcar o compromisso das cooperativas brasileiras sobre o assunto, divulgamos o Manifesto ESG — declamado no evento por representantes dos comitê de jovens (Geração C) e mulheres (Elas pelo coop) do Sistema OCB. Confira:
“Em meio a desafios sociais e ambientais crescentes, o mundo pede por soluções.
Soluções essas que não devem vir de mártires ou atos heroicos, mas de comunidades capazes de moldar o próprio futuro de forma coletiva.
Todos esses desafios foram, enfim, sintetizados em três letras: E S G.
Correspondem ao desafio de cuidar do planeta, de cuidar das pessoas e de governar as organizações que impactam na vida de todos nós.
Se esses desafios foram resumidos recentemente, o coop já tem a solução há mais de cem anos.
Essa solução é feita de cultura e princípios que permitem com que as pessoas possam trabalhar melhor entre si e gerar valor para todas as partes interessadas: clientes, colaboradores, fornecedores, associados e todos os outros parceiros.
A solução também é feita de responsabilidades assumidas: com a promoção da educação, o fomento ao desenvolvimento local, o combate e adaptação à emergência climática e com a promoção da diversidade.
Quando os desafios são grandes, é necessária a grandeza da essência humana para vencê-los. Essência essa que é resumida em uma palavra: cooperar.
O cooperativismo já tem muita história para contar. E ainda mais histórias por escrever.
ESGCoop é uma ponte que conecta desafios e soluções.
ESGCoop é uma plataforma de definição do nosso próprio futuro.
ESGCoop é assumir que os maiores desafios da humanidade só serão vencidos com a cooperação.
Na hora em que o mundo mais precisa, o cooperativismo não se omite, lidera!
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Os caminhos que levam ao futuro do cooperativismo foram desbravados por mais de 2 mil pessoas na penúltima semana de agosto. Elas participaram, entre os dias 22 e 26, presencial (600 participantes) e virtualmente (1,7 mil), da Semana de Competitividade, organizada pelo Sistema OCB.
Nesta primeira edição, realizada em Brasília, os temas de destaque foram inovação, liderança para transformação, ESG e inteligência de mercado — quatro trilhas complementares para tornar o coop mais competitivo e conectado com o futuro.
Precisamos mostrar que o coop pode — e deve — ser mais competitivo, sem deixar de ser cooperativo. Mantendo nossos valores e princípios, ou seja, nossas raízes, podemos ser ainda mais fortes para crescer e conquistar novos espaços”, destacou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
4 LANÇAMENTOS DECISIVOS PARA O COOP
ESGCoop — programa de fortalecimento de gestão que pretende colocar o coop no protagonismo da agenda ESG no Brasil.
BRC 1 Tri — o coop brasileiro assumiu um desafio durante a Semana de Competitividade: gerar R$ 1 trilhão de prosperidade e chegar a 30 milhões de cooperados até 2027. “Como cada centavo gerado dentro de uma cooperativa se transforma em qualidade de vida, vamos gerar novas oportunidades para o povo brasileiro. Estas oportunidades aparecem na forma de trabalho, renda, programas de inovação, cursos, projetos sociais, ações de sustentabilidade e investimentos diretos na melhoria das comunidades onde atuamos. É a nossa hora de mostrar que o nosso jeito de fazer negócios gera mais que números, traz prosperidade”, assegurou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
LGPD NO COOP — site que tem por objetivo auxiliar as cooperativas na implementação e nos processos de conformidade da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Nele, é possível encontrar informações sobre como se adequar à LGPD; as bases regulatórias da legislação; quem são os agentes responsáveis pelo tratamento desses dados; tira-dúvidas e material de apoio. Acesse agora: lgpd.somoscooperativismo.coop.br
SOMOSCOOP NA ESTRADA — o Sistema OCB vai viajar o Brasil atrás das melhores histórias das cooperativas brasileiras. A bordo do veículo projetado especialmente para o projeto, estará a jornalista Glenda Kozlowski, encarregada de mostrar para o mundo o que o coop tem de melhor: as pessoas.
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NÚMEROS
600 pessoas participaram do evento presencialmente, em Brasília
mais de 300 cooperativas presentes no evento
17 palestras sobre Inovação, ESG, Inteligência de Mercado e Liderança
32 horas de atividades
1,7 mil visualizações únicas na palestra de abertura do evento.
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DICAS DOS PALESTRANTES
SOBRE O FUTURO DO CONSUMO
“A gente não precisa de cliente. A gente precisa de torcedor, gente que goste e torça pelo nosso trabalho. Porque cliente muda de fornecedor, mas torcedor não muda de time.” Rogerio Salume, fundador da Wine, um dos principais e-commerces de vinho do mundo, em palestra sobre negócios digitais
SOBRE A COMUNICAÇÃO DO COOP
Hoje, 70% das pessoas duvidam das promessas das empresas e 53% não confiam na mídia. No entanto, a pessoas confiam umas nas outras. Tanto que 92% dos consumidores compram produtos e serviços recomendados por conhecidos ou por pessoas que eles seguem na internet. Por isso, a estratégia de comunicação do coop deve conciliar a voz institucional [mensagens de interesse da empresa] com a voz pessoal [depoimentos de empregados, cooperados ou consumidores].” Marcelo Minutti, uma das principais referências brasileiras em comunicação digital e empreendedorismo
SOBRE FUTUROS (NO PLURAL)
A melhor forma de prever o futuro é conversando com uma criança. Elas têm uma criatividade sem amarras e podem mostrar o que faz ou não sentido nesse novo mundo, ao qual elas pertencem. Minha filha de oito anos, por exemplo, não entende por que as propagandas ainda existem. Ela não assiste mais à TV aberta e, quando quer saber de algo, procura por conta própria na internet. Esse é o futuro.” Fábio Seidl, diretor global de Desenvolvimento Criativo da Meta
SOBRE O FUTURO DO COOP
Estamos inaugurando um novo momento do coop. Um momento no qual podemos ser protagonistas, e não coadjuvantes. Afinal, nós temos tudo o que o Brasil quer e precisa! Somos inovadores, somos éticos, trabalhamos com propósito e, além de tudo isso, somos sustentáveis.”Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB
SOBRE EQUIDADE
Todos os dias, nós ajudamos a gerar valores ESG para a sociedade. Um deles, do qual eu faço sempre questão de falar, é a defesa da equidade de gênero e do respeito à diversidade. Estamos trabalhando intensamente para ampliar a participação das mulheres, especialmente em cargos estratégicos, no cooperativismo.”Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB
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AJUDA PARA AS COOPERATIVAS DA UCRÂNIA
O presidente da União Central das Sociedades de Consumidores de Toda a Ucrânia (Ukrkoopspilka), organização correspondente ao Sistema OCB no país, Gorokhovskyi Illia, enviou às cooperativas de todo o mundo um apelo:
A Ucrânia e seu setor cooperativo precisam de seu apoio neste momento tão difícil”.
A Organização das Cooperativas da Ucrânia e as 25 cooperativas de consumo que ela representa foram vítimas dos bombardeios russos. Por isso, a organização está fazendo uma campanha internacional para receber ajuda financeira e humanitária de colegas estrangeiros. No Brasil, o Sistema OCB será responsável pelas arrecadações de doações financeiras a serem repassadas para a instituição. Para isso, foi criada uma conta exclusiva para depósito. Confira os dados:
Chave PIX:
Nome: Organização das Cooperativas Brasileiras
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Já pensou contar com uma plataforma digital que utiliza da inteligência artificial para lhe oferecer um suporte completo de todo o processo de cultivo de sua produção? Desde a semeadura até a comercialização, como o melhor momento de colheita e fornecimento do produto ao cliente, alerta prévio de doenças e pragas, compartilhamento de informações entre os diversos produtores da mesma cultura, e a rastreabilidade. Pois essa é uma realidade para os produtores associados às Cooperativas de Frutas e Legumes da Bélgica, que utilizam a plataforma Care4Growing. A coop foi a ganhadora do Prêmio de Rastreabilidade e Informação ao Consumidor.
A inovação conta com ao menos 100 funcionalidades diferentes, incluindo um assistente virtual, com capacidade analítica para otimizar o trabalho produtivo na cadeia de suprimentos e oferecer o melhor produto ao consumidor, com base em um banco de dados que conta hoje com informações de mais de 3 mil produtores.
“A digitalização está trazendo uma evolução e revolução na agricultura e horticultura, e pode ser comparada com a introdução do trator. A Care4growing fornecerá o roteiro e apoio adequado ao agricultor e à organização de produtores para lidar com isso”, anunciam os idealizadores em seu site.
As cooperativas esperam atrair um número ainda maior de produtores dentro da plataforma, expandindo o banco de dados usado pela inteligência artificial, o que poderá aumentar ainda mais a capacidade funcional da ferramenta. A ideia é integrar todos os players envolvidos no ecossistema do mercado de frutas e vegetais do país.
“A Care4Growing forma um verdadeiro ‘ecossistema digital’, que expandirá seus serviços com novas funcionalidades para beneficiar o produtor e seus parceiros. Uma cooperação única que muda radicalmente a forma como todo o setor opera”, explica o anúncio da tecnologia.
O líder do projeto belga Care4Growing, Steven Boen, falou com exclusividade para à Saber Cooperar sobre a experiência de investir em inovação de forma intercooperativa. A plataforma foi criada a partir de um estudo de estratégia das três maiores cooperativas de frutas e legumes da Bélgica, ainda em 2019.
Segundo ele, as maiores vantagens de intercooperar são a economia financeira e a oportunidade de crescimento e avanço simultâneos entre todos os agricultores. “Vocês podem fazer muito mais e melhor juntos do que sozinhos. Se tornam mais inteligentes juntos e adquirem novos insights juntos, ampliando seu conhecimento e aprendendo uns com os outros”, enfatiza.
Programada em 2020, a Care4Growing foi disponibilizada aos produtores no início de 2021. “Trata-se de um sistema de gestão de culturas, que proporciona aos produtores uma vasta gama de ferramentas para o cultivo. A plataforma fornece proativamente informações aos produtores sobre o que estão cultivando”, explica Boen.
De lá para cá, nem tudo foi fácil. A falta de conhecimento e habilidade com novas tecnologias dos cooperados foi um dos desafios, além das dificuldades em atender às exigências da própria plataforma.
“Foi preciso explicar às pessoas como funciona um projeto de TI [tecnologia da informação] e que este é um processo de melhoria constante e evolutivo. Também foi necessário configurar uma arquitetura de TI que pudesse gerenciar qualquer coisa, com segurança muito rígida, para que as pessoas certas pudessem acessar os dados certos. Para configurar uma plataforma com diferentes partes, todas precisam estar na mesma página. Para compartilhar a mesma visão, objetivos e prioridades e tomar todas as decisões em conjunto.”
Boen dá um recado às cooperativas brasileiras que querem fazer a diferença aliadas à tecnologia: “Vocês podem se adaptar facilmente ao futuro. Aprendam juntos a fazer negócios digitais”.
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O projeto de Lei 815/2022, apresentado em abril deste ano pelo deputado Hugo Leal (RJ), também integrante da Frencoop, é mais uma demanda do cooperativismo. A proposta, elaborada em parceria com o Sistema OCB, prevê a reorganização das sociedades cooperativas para permitir o uso de procedimentos de recuperação judicial e extrajudicial, como ocorre com as empresas em geral, mas respeitando o modelo societário cooperativista.
“As cooperativas já contam com desvantagens competitivas e estão desprotegidas em razão da impossibilidade de utilizar esses procedimentos”, destaca Leal. “A sociedade cooperativa apresenta características específicas. Então, nada mais justo que criarmos procedimentos respeitando suas peculiaridades, com estímulo econômico e sem trazer insegurança aos credores e aos próprios cooperados”, observa.
Segundo o deputado, os objetivos principais da proposta envolvem a preservação da atividade econômica, da continuidade de atos cooperativos, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.
Fui relator da nova lei de recuperação judicial e falências, sancionada em 2020, e sou também relator, na Câmara, do chamado Marco Legal do Reempreendedorismo, voltado para a recuperação de pequenas e micro empresas. As duas propostas têm a preocupação de ajudar na retomada da atividade econômica em momento de crise”, explica. “O PL 815/2022 tem o mesmo princípio: permitir que a cooperativa se reorganize, sem que ocorra um encarecimento do crédito, agilizando os processos, incorporando instrumentos específicos para as cooperativas, com estímulo econômico e sem trazer insegurança aos credores e aos próprios cooperados”, completa.
O projeto está em análise na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados (CDEICS), em caráter conclusivo pelas comissões. Se for aprovado na CDEICS e na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, não precisará passar pelo Plenário. “Isso garante uma tramitação mais rápida, em princípio. Assim, acredito que possa ser votado até o fim deste ano, já que há uma mobilização da Frente Parlamentar do Cooperativismo em defesa do projeto”, avalia o deputado.
A Gerente Jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues, destaca a importância de as cooperativas terem direito à recuperação judicial. “Hoje, há uma diferença muito grande na forma de encerramento das atividades das sociedades empresariais e das cooperativas. Antigamente, as empresas só tinham o mecanismo da concordata, mas o direito foi evoluindo e chegou-se nesse instituto da recuperação judicial, que é um procedimento muito mais voltado para o restabelecimento da saúde financeira da empresa, para que ela não precise falir. Hoje, uma empresa só vai à falência como consequência de uma recuperação judicial malsucedida”, explica.
Para as cooperativas, o único mecanismo existente é a dissolução, por meio de um processo de liquidação. “Ou seja, enquanto as empresas têm a oportunidade de negociação, de estender prazos, de estabelecer acordo com credores, as cooperativas continuam apenas com a possibilidade de encerrar as atividades, de deixar de existir”, destaca Ana Paula. “O que queremos é que as cooperativas também tenham a chance de se restabelecer financeiramente, quando necessário, e de manter as atividades”, completa.
Ana Paula destaca que o processo de recuperação proposto para as cooperativas é muito similar ao das empresas. “Onde teremos alguma diferenciação é na característica da cooperativa. Porque, diferentemente de uma empresa, que normalmente tem um, dois, três sócios, na cooperativa o quadro social já começa com pelo menos 20”, explica.
Então, quando uma cooperativa começa a entrar em uma situação de dificuldade financeira, às vezes, há uma fuga de cooperados. E se todos eles saírem, não é possível falar em recuperação judicial. Precisamos dar segurança para que eles fiquem até o fim. E a principal forma para que isso aconteça é a preservação dos créditos dos cooperados, por meio, por exemplo, da constituição de fundos, o que não existe na recuperação judicial”, destaca.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A espanhola Mans, cooperativa de produtores de frutas e hortaliças orgânicas da região metropolitana de Barcelona, foi premiada pelo seu trabalho dedicado ao acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Um dos objetivos da Mans é gerar vagas de emprego àqueles em dificuldade — em especial, os jovens com risco de exclusão —, oferecendo também a inserção deles no ambiente escolar.
“Com o projeto de emprego inclusivo geramos trabalho, por meio da terra, com o agricultor na produção de frutas e hortaliças orgânicas, bem como com sua posterior transformação e comercialização até chegar ao consumidor final”, explica Jordi Balari, gerente da Cooperativa Xarxa Agrosocial (MANS), que falou com exclusividade à Saber Cooperar.
Promovida pela Fundação Catalunya La Pedrera, a ação conta também com o apoio de renomados atores sociais, como as prefeituras locais e entidades dedicadas ao trabalho assistencial, com o cofinanciamento da União Europeia e do Fundo Social Europeu.
A Mans conta com 35 agricultores associados, todos com certificação orgânica. Hoje, 66% dos produtos comercializados são de áreas agrícolas da região. A cooperativa se dedica também ao processamento e envasamento das frutas e hortaliças orgânicas utilizando embalagem biodegradável, a primeira comercializada em redes de supermercados. Com a tecnologia, a cooperativa estima que, por ano, cerca de cinco toneladas de plástico deixam de ser descartadas no meio ambiente.
Além disso, como plano estratégico de redução de custo e economia, a cooperativa comercializa, principalmente, frutas e legumes de época, e processa alimentos e sumos de fruta com o objetivo de esgotar os excedentes sazonais da produção.
Este é um projeto em crescimento, que gera trabalho ao agregar outros valores, como a proximidade e defesa dos agricultores, a busca pela excelência no produto, a sustentabilidade dos processos de embalagem e transformação, a luta para ser premium na grande distribuição, e a contribuição para a cultura da alimentação mais saudável. A criação de empregos duradouros, por meio deste modelo de negócio de sucesso, é um instrumento privilegiado para contribuir para a igualdade de oportunidades”, destaca Balari.
Em números
35 agricultores com certificação orgânica associados
66% dos produtos comercializados são locais
5 toneladas de plástico a menos com o uso de embalagens biodegradáveis, por ano
Jovens em situação de risco social inseridos no mercado de trabalho e na escola
Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
As cooperativas têm consolidado, ano após ano, sua relevância na produção agropecuária brasileira, a exemplo do evidenciado pela participação dos produtores rurais cooperados na produção nacional de grãos, correspondente a 53% do total. Para que o setor possa continuar se desenvolvendo, são fundamentais a manutenção e o fortalecimento do Sistema Nacional de Crédito Rural e da atual arquitetura da política agrícola, voltada para o financiamento das atividades do produtor rural e suas cooperativas. Para o Plano Safra 2022/2023, o foco está na garantia de funding para as operações de custeio e investimento, e de recursos suficientes para a adequada operacionalização do seguro rural.
As principais demandas do cooperativismo são o aumento da disponibilização de recursos, de R$ 251,2 bilhões, do atual Plano Safra, para R$ 330,8 bilhões — sendo R$ 234 bilhões destinados ao custeio da safra e comercialização, e cerca de R$ 97 bilhões para investimentos.
A elevação da oferta de crédito também foi pleiteada mediante o aumento dos percentuais de exigibilidade do depósito à vista (de 25% para 34%), da poupança rural (de 59% para 65%) e das Letras de Crédito do Agronegócio – LCA (de 35% para 50%), destinados ao crédito rural.
Há também a sugestão de elevar montante de recursos alocados para a equalização das taxas de juros do crédito rural, dos R$ 13bilhões anunciados para o Plano vigente para R$ 22 bilhões, e do seguro rural, de R$ 1 bilhão para R$ 1,8 bilhão.
Coordenador nacional do Conselho Consultivo do Ramo Agropecuário, Luiz Baggio ressalta que o Brasil tem um papel importante na garantia de segurança alimentar em nível global. “Isso é mais uma razão que demonstra a importância do Plano Safra, de uma política agrícola adequada, de um volume de recursos condizente com as necessidades de investimento e custeio, a taxas de juro que sejam compatíveis com o momento”, afirma. “Os custos de produção foram altamente majorados, seja por conta de conflitos geopolíticos globais ou por questões macroeconômicas que impactam diretamente no setor. Precisamos continuar produzindo e investindo; por isso, o crédito agrícola é tão importante”, observa.
Em audiência no mês de maio na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, afirmou que, para o Brasil ter um Plano Safra 2022/2023 robusto, condizente com o atual contexto, o montante de recursos disponibilizados precisará estar em cerca de R$ 330 bilhões, e R$ 22 bilhões para a equalização de taxas de juros, como solicitado pelas cooperativas.
Este ano, temos a necessidade de crescer substancialmente com o Plano Safra 2022/2023. A inflação subiu muito e os arranjos necessários ao Plano Safra atual foram feitos exatamente por conta da taxa de juros, que subiu de 2,75% para mais de 12%. Além disso, temos o custo de produção, que está cada vez maior também”, disse o ministro.
Montes afirmou que está trabalhando para conseguir um Seguro Rural que alcance valores em torno de R$ 2 bilhões, bem como para que o montante seja obrigatório. “O recurso para o Programa de Subvenção ao Seguro Rural na Lei Orçamentária Anual é discricionário, e fica sujeito a contingenciamento. A gente precisa ter um plano de ação para estimular o produtor a entrar no seguro”, afirmou.
O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, também salienta a importância do Plano Safra.
Precisamos fortalecer os canais que viabilizam nosso processo de produção, para que possamos ter uma agropecuária cada vez mais crescente e sustentável. Precisamos construir juntos alternativas para continuar alavancando o agronegócio, no intuito de produzirmos alimentos de qualidade e a preços justos ao nosso consumidor, além de mantermos nosso protagonismo como peça fundamental para a segurança alimentar global; para isso, uma política agrícola consistente é fundamental.”, pondera.
A definição do Plano Safra 2022/2023 deve ser feita pelo Governo Federal até o fim de junho, para entrada em vigor no mês de julho. “Sabemos que a garantia de um Plano Safra robusto é cada vez mais complexa, devido às restrições orçamentárias. Mas o agronegócio continua crescendo, trazendo riqueza para o país. Então, estamos fazendo um trabalho amplo, mostrando a relevância do setor para a segurança alimentar, para a balança comercial e a importância do crédito rural para que possamos manter um crescimento sustentável”, afirma Clara Maffia.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Após ser aprovado na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 8.824/2017, que trata sobre o tema, ganhou nova numeração (PL1.303/2022) e aguarda o aval do Senado. O projeto será analisado pelas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE), e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), em caráter terminativo, ou seja, se aprovado sem modificações, seguirá para sanção presidencial
sem a necessidade de aprovação do plenário.
Embora a quantidade de usuários e de serviços on-line tenha aumentado nos últimos anos, ainda persistem muitos espaços vazios de conectividade, sobretudo nas áreas rurais. De acordo com o último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2017, 71,8% das propriedades localizadas no campo não possuem conectividade.
Na prática, em mais de 3,64 milhões de propriedades rurais não há internet, nem mesmo para atividades básicas, como a emissão de uma simples nota fiscal eletrônica. Comunicação, acesso à educação e ao entretenimento são outras finalidades importantes que também ficam restritas, dado os atuais desafios de acesso à internet no campo. Para a atividade produtiva, os avanços na conectividade visam melhorar processos como os de rastreabilidade e de assistência técnica, bem como para a implementação de estratégias importantes, a exemplo da agricultura de precisão”, destaca o presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), deputado federal Evair de Melo (ES).
Para Márcio Lopes de Freitas, as cooperativas de infraestrutura têm capacidade para oferecer internet rural às cooperativas agrícolas. “Elas já têm parte dos insumos necessários e algumas até já prestam esse serviço, principalmente no sul do país. Por isso, nossa ideia é promover esse casamento de necessidades, fortalecendo cada vez mais nosso setor produtivo”, destaca.
Segundo a gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, não há um impedimento legal para que as cooperativas atuem na área de telecomunicações, mas, muitas vezes, quando elas vão à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) solicitar autorização pedido acaba sendo negado.
O que nós precisamos é garantir segurança jurídica para essa atuação, para que o setor não fique dependente de uma interpretação da legislação atual”, ressalta.
A maior cooperativa de eletrificação em extensão de redes do país, a Coprel, vem atuando, por meio de uma empresa parceira, a Coprel Telecom, na prestação de serviço de banda larga no interior do Rio Grande do Sul. “Esse modelo, de criar uma empresa, tem sido usado por várias cooperativas para a prestação do serviço de telecomunicações. Mas o modelo está longe do ideal, porque as cooperativas acabam ficando em um limbo legal, o que impede o crescimento do serviço”, destaca o presidente da Coprel, Jânio Vital Stefanello, também coordenador do Conselho Consultivo do Ramo Infra do Sistema OCB.
Segundo Stefanello, a prestação de serviços de telecomunicações por cooperativas tem se mostrado bem-sucedida em outros países, como Estados Unidos e Argentina.
Nesses locais, as cooperativas começaram com TV a cabo; depois, foram para a telefonia; e, então, para a internet. Isso foi se desenvolvendo e hoje esses dois países têm sistemas altamente consolidados”, conta. “Enquanto isso, no Brasil, as cooperativas reduzem os investimentos nesse setor devido à falta de segurança jurídica”, completa.
Stefanello destaca que o acesso à internet em banda larga é uma das principais demandas dos produtores rurais. “É uma necessidade muito grande. Hoje, em muitas propriedades, só pega uma pontinha de sinal em um canto da cozinha ou há um rádio com uma banda limitada, de um mega, dois megas. Aí a pessoa quer ver um filme, baixar um vídeo, assistir a uma aula on-line, não consegue”, afirma. “Fora a questão da segurança, porque sem banda larga não dá para colocar câmeras e fazer um monitoramento em tempo real, ou seja, ter internet hoje é uma necessidade premente”, aponta.
O presidente da Coprel também ressalta que o acesso à internet de qualidade é um dos fatores-chave para a manutenção dos jovens no campo. “Além da renda e de os pais abrirem espaço para os filhos trabalharem, uma boa internet é condição sine qua non para a sucessão rural. Se já é difícil ficar uma tarde sem internet, imagina viver isolado o tempo todo”, afirma Stefanello.
Temos hoje no Brasil mais de 60 cooperativas de infraestrutura, e pelo menos metade delas está esperando a aprovação da lei para investir de fato na prestação de serviços de telecomunicação”, informa.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
COOPERATIVA CÀMARA ARROSSERA DEL MONTSIÀ — ESPANHA
Prêmio de Bioeconomia e Circularidade — Projeto Oryzite
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Inventar uma alternativa ao plástico feita à base da casca de arroz em uma estratégia de produção de economia circular levou a cooperativa Càmara Arrossera del Montsià, da Espanha, a receber o prêmio de Bioeconomia e Circularidade.
Após mais de uma década em pesquisas, a cooperativa chegou ao Oryzite, nome dado a um produto biodegradável que pode ser incorporado a qualquer produto termoplástico para minimizar os danos ambientais causados pelo descarte incorreto desse material na natureza. “Dizemos que quanto mais quilos de Oryzite você coloca no mercado, menos quilos de plástico você libera no meio ambiente e, ao fazê-lo, reduz a pegada de carbono”, explica a cooperativa. O material tem potencial para substituir o plástico em diversas indústrias, como a automotiva, logística, de embalagens e móveis.
O Oryzite tem sido utilizado com sucesso no processo de embalagem da própria cooperativa e reduziu, em até 85%, o uso do plástico comum. O impacto dessa mudança teve resultado prático: 145.600.000kg de CO2 a menos na atmosfera.
A fabricação do novo produto é um exemplo claro de economia circular e de bioeconomia. Afinal, o Oryzite é produzido a partir dos resíduos da produção de arroz, o que garante o aproveitamento total do grão.
Além de agregar valor a um subproduto, a produção usa menor quantidade de recursos, que reflete em menos resíduos. O plano estratégico tem chamado atenção da indústria, que vê na inovação uma solução para tornar suas plantas produtivas mais sustentáveis.
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EM NÚMEROS
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Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Já imaginou utilizar um substituto do plástico 100% sustentável? Há uma alternativa feita da casca de arroz que, de quebra, contribui para a redução do impacto nocivo que o plástico traz à natureza. E ter a oportunidade de oferecer no mercado carne bovina produzida a partir de um processo de abate que reduz a emissão de carbono (CO2), enquanto é apoiado por um programa de segurança financeira? Quem sabe, ainda, ter à disposição de sua produção agrícola uma plataforma digital que utiliza inteligência artificial com mais de 100 funcionalidades, capaz de otimizar todo o processo produtivo do seu negócio? Esses são apenas alguns exemplos de ideias inovadoras vencedoras da 5ª edição do Prêmio Europeu de Inovação Cooperativa, realizado, neste ano, pela Confederação Europeia de Cooperativas Agropecuárias (Cogeca).
Idealizado para promover boas práticas, projetos e serviços inovadores prestados por cooperativas do “velho mundo”, o prêmio teve nesta edição como tema a sustentabilidade e contou com mais de 100 projetos inscritos. A entrega das premiações aconteceu na cidade de Bruxelas, Bélgica, no último mês de abril. Conheça as cooperativas premiadas.
PEGADA VERDE
COOPERATIVA LANTMÄNNEN — SUÉCIA
Prêmio de Recursos Naturais e Biodiversidade — ThermoSeed, a semente mais pura!
Desenvolver uma agricultura mundial mais sustentável até 2050 é o objetivo que impulsionou a cooperativa sueca Lantmannen a criar uma tecnologia biológica capaz de produzir sementes super-resistentes a pragas e doenças, além de tratar infecções transmitidas. E sem a utilização de produtos químicos. A novidade chegou anunciando as seguintes vantagens: a redução no uso de agrotóxicos, diminuição dos custos ao produtor e promoção da sustentabilidade.
A tecnologia recebeu o nome de ThermoSeed e utiliza um método biológico exclusivo de tratamento térmico que produz sementes saudáveis tanto para o cultivo convencional como para o orgânico. O processo é um tipo de pasteurização que utiliza o ar quente e úmido para neutralizar a infecção da semente sem comprometer sua germinação, que por sua vez, é estimulada, resultando na produção de plantas mais fortes.
A cooperativa Lantmannen levou o prêmio de Recursos Naturais e Biodiversidade por minimizar o uso de produtos químicos no setor agrícola. Em 2020, a ThermoSeed economizou 2 milhões de litros de pesticidas usando a tecnologia em 1 milhão de hectares de terras.
Desenvolvido em parceria com a Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, em um processo de inovação aberta, o método fabricado pela cooperativa também é utilizado em plantações na Noruega, Finlândia, Suíça e França, além de ser produto de negócios nos Estados Unidos e no Japão. A lista tem tudo para crescer mais, já que, segundo a Lantmannen, a demanda pelo ThermoSeed é cada vez maior, diante da preocupação global em diminuir a emissão de carbono e o uso de agrotóxicos.
Estamos felizes em ver mais agricultores utilizando nossas sementes. Este é o caminho certo para o produtor e o meio ambiente”, comentou Anders Krafft, CEO da Lantmännen BioAgri ao receber a notícia do prêmio.
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Em números
20 mil agricultores suecos associados
10 mil funcionários, em mais de 20 países
30 milhões de euros investidos em pesquisa e desenvolvimento, por ano
5 bilhões de euros em faturamento anual
Em 2020, evitou o uso de 2 milhões de litros de agrotóxicos
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Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
“Cooperativismo é movimento; então, há muito a ser feito para trazer ainda mais benefícios para as cooperativas e para a sociedade.” A frase do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, traduz perfeitamente a orientação da Casa do Cooperativismo neste primeiro ano pós-pandemia. Nosso time de cientistas políticos, analistas de negócios e juristas está atento a tudo que acontece nos Três Poderes e que pode impactar as cooperativas e os cooperados; para guiá-los nesse trabalho, identificamos as principais demandas das mais de 4,8 mil cooperativas do país. Elas foram compiladas na Agenda Institucional do Cooperativismo 2022, que reúne 44 temas de impacto do setor, sendo que sete temas guiarão a atuação do Sistema OCB até o fim do ano.
Em 2021, o coop obteve importantes avanços, apesar das limitações impostas pela pandemia, e o objetivo para este ano é conquistar ainda mais.
“Somos um instrumento para que novas oportunidades sejam estabelecidas e pretendemos continuar a construir, junto com os Três Poderes da República, as políticas públicas que fortalecem o cooperativismo e seus princípios — o que, por consequência, gera mais oportunidades e prosperidade para o Brasil”, completa Lopes de Freitas.
Conheça, a seguir, uma pauta prioritária do cooperativismo para 2022 e saiba como o Sistema OCB vem atuando na garantia dos interesses das cooperativas brasileiras.
ADEQUADO TRATAMENTO TRIBUTÁRIO DO ATO COOPERATIVO NA REFORMA TRIBUTÁRIA
Garantir que a Reforma Tributária seja justa para os mais de 17 milhões de cooperados brasileiros é prioridade máxima para todo o movimento cooperativista. E isso só será possível com o reconhecimento das características tributárias específicas do cooperativismo nas Propostas de Emenda Constitucional relacionadas a essa reforma (PEC 110/2019, no Senado, e PEC 7/2020, na Câmara).
Desde o início da tramitação da proposta, em 2019, o Sistema OCB vem atuando para que o adequado tratamento tributário ao Ato Cooperativo esteja contemplado na Reforma e para que sejam protegidas as conquistas já alcançadas até o momento pelo coop. Entre essas conquistas tributárias estão o reconhecimento da não incidência de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os atos cooperativos e as exclusões de base de cálculo da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) concedidas a alguns segmentos, como táxi, agropecuário, crédito e eletrificação, por leis ordinárias ou normas internas da Receita Federal.
“Por expressa definição legal, o Ato Cooperativo não é ato comercial e, portanto, não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”, explica Márcio Lopes de Freitas. “O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da pessoa jurídica da cooperativa para a pessoa física ou jurídica do cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Na cooperativa, há apenas o abatimento dos custos para a prestação do serviço ao cooperado”, completa.
Segundo a gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, o projeto original da PEC 110 não contemplava as demandas do cooperativismo. “Fizemos, então, uma série de reuniões com o relator do projeto, o senador Roberto Rocha (MA), e com o governo federal, para deixarmos claro nosso ponto de vista. Realizamos também uma mobilização muito grande com vários parlamentares”, conta.
Clara destaca que a mobilização surtiu o efeito desejado. “Quando a PEC foi pautada pela primeira vez na CCJ, vários senadores reforçaram a importância do cooperativismo. Dos 10 que estavam presentes, sete enfatizaram que o Ato Cooperativo deveria ser incluído na reforma”, afirma. “E, como consequência disso, acabamos sendo procurados pelo gabinete do relator e conseguimos avançar para um texto que, apesar de não ser o ideal, contempla grande parte das nossas demandas”, completa.
Mesmo ainda estando em análise pela CCJ e com a tramitação desacelerada — sobretudo por ser um ano eleitoral —, o presidente do Sistema OCB se mostra otimista com a manutenção do Ato Cooperativo na Reforma Tributária. “Conseguimos um avanço importante junto ao relator, o senador Roberto Rocha, que, com certeza, será ratificado na CCJ e no plenário”, avalia Márcio Lopes de Freitas. Atualmente, a PEC 110/2019 está aguardando votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal.
O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da Pessoa Jurídica da cooperativa para a Pessoa Física ou Jurídica do Cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.
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Propostas de Emenda Constitucional relacionadas a reforma (PEC 110/2019, no Senado, e PEC 7/2020, na Câmara)
O Ato Cooperativo engloba as transações praticadas entre as cooperativas e seus associados, entre estas e aquelas, e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais. Como essas transações não visam o lucro, elas devem ter uma tributação adequada, para garantir melhores resultados para todo o grupo de cooperados — que pagam impostos como pessoa física. Caso seja desconsiderado o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo, poderá incorrer em duplicidade de tributação, na cooperativa e no cooperado — o que não acontece com empresas comerciais, que são tributadas apenas no CNPJ.
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Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A república brasileira ainda não tinha completado seis anos quando, em 19 de agosto de 1895, um grupo de representantes de cooperativas de 13 países — Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Inglaterra, Itália, Sérvia e Suíça — se reuniu em Londres para debater o futuro do cooperativismo. Naquela mesma data, nasceu a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), uma das organizações não governamentais mais antigas do mundo e uma das maiores, se considerarmos o número de pessoas representadas: 1 bilhão de cooperados.
De lá para cá, a ACI cresceu e hoje congrega cooperativas de 110 países-membros, incluindo o Brasil. A organização tem o nobre propósito de “unir, representar e servir as cooperativas de todo o mundo”. São quatro regionais: Europa (em Bruxelas), África (em Nairobi), América (em São José da Costa Rica) e Ásia-Pacífico (em Nova Delhi).
“A ACI tem o objetivo de promover os valores e o modelo de negócios cooperativistas, dar assistência aos governos nacionais na formulação de leis que aprimorem e fomentem o cooperativismo, também representar as cooperativas junto às organizações internacionais de interesse, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a própria ONU”, explica João Marcos Martins, coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB.
Para facilitar seu trabalho de representação, a ACI tem escritórios dedicados a defender os interesses das cooperativas em diversos setores da economia — incluindo agricultura, crédito, consumo, pesca, saúde, habitação, seguros, indústria e serviços.
RESULTADOS CONCRETOS
Associado à ACI desde 1989, o Sistema OCB compreende, com o passar dos anos, que ter uma atuação ampla, internacionalmente falando, é fundamental para aumentar a visibilidade e a representatividade das cooperativas brasileiras.
Hoje, a Casa do Cooperativismo é membro de 16 organizações internacionais voltadas para o cooperativismo ou que tratam dos interesses das cooperativas associadas ao sistema. A maioria delas é o que se chama organização internacional de direito privado, ou seja, não envolve governos.
“Muitas vezes, as pessoas olham para as iniciativas internacionais e têm dificuldade de ver resultados práticos, concretos e pragmáticos. E é comum confundir o interesse pelas transferências de conhecimento num fórum internacional, através de uma ação de benchmarketing ou em uma viagem de prospecção de novos negócios, com ações de cunho pessoal. Mas, se a gente olhar para a história do Sistema OCB e para a nossa atuação na ACI, veremos muitos benefícios trazidos para o coop brasileiro”, constata o coordenador.
João Marcos conta que foi a partir dessa integração à ACI, em uma “iniciativa visionária do único brasileiro a presidir essa organização internacional, Roberto Rodrigues, que o Brasil passou a ter acesso a uma ampla variedade de boas práticas comerciais e de governança relacionadas ao cooperativismo”.
Ainda segundo João, se olharmos para trás, para a realidade do Sistema OCB em 1989, vemos que “éramos uma organização muito menor, que tinha apenas uma sala alugada em um prédio, em Brasília. Não tínhamos nem sede própria. Depois que começamos a nos relacionar e a fazer parceria com as cooperativas de outros países, crescemos como entidade de representação e, hoje, somos uma instituição respeitada nacional e internacionalmente”
Para deixar mais clara a importância de estarmos presentes em fóruns internacionais do coop, basta dizer que foi a partir de uma missão do Sistema OCB à Alemanha que conseguimos alavancar o cooperativismo financeiro e de infraestrutura no Brasil.
“Na década de 1990, a DGRV, que é a organização representativa das cooperativas na Alemanha, veio para o Brasil transferir conhecimento e nos ensinar o caminho para reforçar a solidez do cooperativismo de crédito. Essa parceria influenciou a criação de secretarias regulatórias de cooperativas dentro do Banco Central, que ajudaram a alavancar o crescimento das cooperativas e viabilizaram a criação do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop)”, conta.
Ainda na opinião do coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, o principal benefício da atuação da entidade em organismos internacionais é ter acesso a boas práticas, conhecimentos e experiências que permitiram ao Sistema OCB ajudar as cooperativas brasileiras a profissionalizarem a sua governança e sua gestão.
REPRESENTATIVIDADE
De todas as entidades setoriais que a ACI tem em sua estrutura, o Sistema OCB é uma das que atuam mais ativamente nos ramos Trabalho e Agropecuário. Essa atividade ocorre, respectivamente, na Organização Internacional das Cooperativas Agropecuárias (ICAO), e na Organização Internacional das Cooperativas de Trabalhadores da Indústria, Artesanato e Serviços — que representa todas as cooperativas dos ramos Trabalho, Educacional, Produção, Mineral e Turismo (Cicopa).
“Além desse grande sistema chancelado pela ACI, fazemos parte da Organização Internacional das Cooperativas de Plataforma, formada recentemente, em 2019, com sede em Nova York. Essa entidade fomenta essa nova fase do cooperativismo, que se dá através das plataformas digitais”, observa João Marcos.
E a atuação internacional do Sistema OCB não para por aí. No ano passado, nossa entidade de representação fechou parceria com uma grande rede de escolas de negócios voltada para cooperativas, que hoje tem representantes em 42 países — como as universidades como Oxford, na Inglaterra; a The New School de Nova York, e a Universidade de Bolonha, na Itália. O objetivo é, por meio da capacitação, melhorar o ambiente de negócios das cooperativas e dos cooperados.
Em âmbito regional, na América do Sul, também fazemos parte da reunião de cooperativas especializada do Mercosul, formada em 2001 para integrar as legislações do setor e as cooperativas dos quatro países do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. “Essa é uma organização internacional mista, com representantes de governos e de órgãos governamentais que regulam e fomentam as cooperativas. Não é uma organização de direito privado, puramente”, detalha João Marcos.
A Casa do Cooperativismo é um dos nove representantes do Brasil no Fórum Econômico e Social do Mercosul, órgão ligado diretamente ao secretariado do bloco econômico. Na lista, adiciona-se a participação na organização cooperativista dos países de língua portuguesa, formada em 1997, com sede em Lisboa, que reúne as entidades representativas de Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor-Leste. O papel dessa entidade é fomentar a intercooperação e o desenvolvimento das cooperativas nos países lusófonos.
Outros fóruns somam-se à lista: o Brics-Coop — reunião especializada das organizações representativas do bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; e a Federação Latino-americana do Leite (Fepale), principal organização continental dos produtores de leite. “Neste caso, não é uma entidade cooperativa, mas, como no Brasil a maioria dos produtores leiteiros está organizada em cooperativas, e nós aqui representamos o cooperativismo de laticínios do Brasil, então, interagimos com a Fepale”, conta o coordenador.
Além disso, o Sistema OCB articula com organismos internacionais de direito público — como ONU, FAO, OEA, OIT, OCDE – para a representação dos interesses das cooperativas brasileiras
PRESIDENTE REELEITO
No último dia 20 de junho, Ariel Guarco foi reeleito presidente da ACI. Seu novo mandato, de quatro anos, será marcado pela revisão da identidade do coop em todo o mundo.
“Me sinto honrado com esta reeleição. Durante os últimos quatro anos, dei o melhor de mim para cumprir o que prometi e ofereço mais uma vez meu compromisso, minha dedicação e o meu entusiasmo para continuar em uma nova etapa onde possamos consolidar novas conquistas”, afirmou Guarco, que é cooperativista desde a juventude.
Nascido na Argentina, Ariel Guarco consolidou sua liderança no coop dentro, da Cooperativa Elétrica de Coronel Pringles. Em 2008, tornou-se a autoridade máxima da Federação das Cooperativas de Energia Elétrica e de Serviços Públicos (FEDECOBA). Em 2011, foi eleito Presidente da Confederação Cooperativa da República Argentina (COOPERAR). Hoje, representa o movimento cooperativo no Instituto Nacional de Economia Social da Argentina. Foi membro do Conselho de Cooperativas das Américas (2014-2018) e eleito Presidente da ACI em novembro de 2017. É autor de dois livros: Cooperativismo Argentino, Um Olhar Esperançoso para o Futuro (2013) e Princípios Cooperativos em Ação Abordando os Desafios da Agenda Global de Hoje (2020).
Como bem explicou o coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, João Marcos Martins, a ACI tem um papel muito importante e muito difícil ao mesmo tempo, que é representar um movimento que reúne mais de um bilhão de pessoas das mais diferentes bagagens, religiões e línguas.
“O cooperativismo é uma das poucas línguas globais que a gente tem. Tive a oportunidade de visitar cooperativas tanto no Fiji, como na Rússia, em Botsuana, e todas têm esse ponto em comum de dizer que ‘sou coop’, ‘sou cooperativa’, explica João.
Esta matéria foi escrita por Lana Cristina e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O período de pandemia alterou nossa sociedade em muitos aspectos — entre eles, o perfil de consumo de alimentos da população mundial, que, diante do período pandêmico, se voltou para questões de saudabilidade, rastreabilidade e qualidade. Atentas a isso, as cooperativas da área de aquicultura estão investindo na cadeia produtiva e na prospecção de novos mercados.
No Brasil, a tilápia é a espécie mais cultivada, por ser um peixe de água doce que se adapta muito bem em tanques. Os dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), referentes a 2021, apontam que foram produzidas 534 mil toneladas, representando um aumento de 9,8% sobre o desempenho do ano anterior. A tilápia participou com 63,5% da produção nacional de peixes de cultivo. As exportações aumentaram em quase 50%, no ano passado, e em 30%, somente de janeiro a abril deste ano, na comparação com o mesmo período de 2021. Entre os países que mais consomem pescados brasileiros estão os Estados Unidos, o Japão e outras nações asiáticas.
Nos mercados interno e externo, a Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), do Paraná, é um dos grandes destaques do setor. Há 14 anos, os cooperados começaram a criar tilápia e a cooperativa passou a investir no processamento industrial. Atualmente, são cerca de 280 cooperados produzindo tilápias em 800 hectares de lâminas d´água. A média de peixes abatidos por dia chega a 170 mil, a maior produção na América Latina. Além do pescado, as duas plantas industriais da cooperativa trabalham com subprodutos como escamas, carcaça e vísceras, na produção de farinha de peixe.
“Apoiamos os cooperados em todas as etapas da cadeia produtiva. Desde o melhoramento genético, passando pela assistência técnica e orientações sobre ração e transporte”, conta o presidente da Copacol, Valter Pitol.
Ele complementa que “a venda de tilápias juntamente com a produção do frango tem sido um diferencial, do ponto de vista de logística. Enviamos as tilápias para outros Estados no mesmo caminhão frigorífico que leva o frango. Isso nos permite reduzir o preço para o consumidor final”, pontua.
Pitol explica que o investimento em integração de culturas contribuiu para aumentar a renda dos cooperados e tem motivado uma nova geração a permanecer no campo. A cooperativa prioriza o cumprimento da legislação ambiental e está atenta aos critérios de sustentabilidade para garantir a ampliação desse mercado.
CUIDADO COM A ÁGUA
A C.Vale Cooperativa Agroindustrial é outra coop paranaense bem-sucedida no setor da aquicultura. No ano passado, ela aumentou sua produção de tilápias em 20%. Atualmente, são 222 cooperados produzindo em 752 hectares de lâminas d´'água.
“A demanda pela tilápia deve aumentar. O crescimento tem relação com a profissionalização da atividade, o desejo do consumidor por alimentos mais saudáveis e a capacidade da indústria em disponibilizar o produto cada vez mais fresco e em tempo recorde no ponto de venda”, avalia Paulo Roberto Poggere, gerente do Departamento de Peixes da C.Vale.
De acordo com ele, a cooperativa incentiva os produtores a adotarem a automação no manejo alimentar e no monitoramento dos parâmetros de oxigênio e água. Com isso, é possível programar e executar a alimentação das tilápias em condições favoráveis à performance produtiva, além de reduzir os custos produtivos e a degradação da qualidade de água.
“O auxílio da C.Vale no campo da inovação também se dá por meio de testes e análises técnico-financeiras preliminares, que comprovam os resultados de viabilidade de investimento na inovação, o que garante ao produtor retorno satisfatório na operação com o uso da tecnologia”, detalha Poggere.
A C.Vale recomenda procedimentos que visam a correção da qualidade de água e o uso racional do recurso hídrico, almejando, com o conjunto dessas ações, promover a conservação ambiental e a preservação do principal ativo ambiental para a aquicultura: a água. “Dessa maneira, promovemos a sustentabilidade da atividade, proporcionando a continuidade e o crescimento da produção”, conclui.
EM BUSCA DE NOVOS MERCADOS
No Distrito Federal, a Cooperativa Mista da Agricultura Familiar, do Meio Ambiente e da Cultura do Brasil (Coopindaia) assumiu há dois anos a gestão do principal mercado do peixe da cidade, localizado na Central de Abastecimento da capital, a Ceasa. Além de garantir o espaço de venda para os 60 cooperados, a Coopindaia investiu ainda em maquinário e câmaras frias para o armazenamento dos produtos. O próximo passo é produzir carne de peixe processada para abastecer o mercado de alimentação escolar. Luciano Andrade, presidente da Coopindaia, pondera:
“Nossa expectativa é que a população compreenda cada vez mais a importância de se consumir produtos frescos e diretos dos produtores. Queremos contribuir para a saúde de todos e esperamos que haja mais apoio para o nosso modelo de organização produtiva”.
Não há dúvidas de que a aquicultura oferece um oceano de possibilidades para o cooperativismo. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) aposta em um crescimento do consumo de pescados e aponta números otimistas. O relatório da FAO “Estado Mundial da Pesca e Aquicultura” (SOFIA), publicado em junho de 2020, estima que a produção total de peixes deve aumentar para 204 milhões de toneladas em 2030. Isso representa um incremento de 15% em relação a 2018, com a participação da aquicultura crescendo para além dos atuais 46%. De acordo com a organização, a aquicultura tem sido o setor de produção de alimentos que se expandiu mais rapidamente em todo o mundo nos últimos 50 anos, com crescimento médio de 5,3% ao ano, desde a virada do século.
INCENTIVO À PRODUÇÃO COOPERATIVA
As entidades de representação do cooperativismo estão atentas às oportunidades abertas para o mercado de peixe. No estado do Paraná, o Sistema Ocepar realiza ações de fomento à sustentabilidade da produção aquífera junto às cooperativas locais. Em parceria com o órgão estadual de extensão rural (IDR), será lançado o programa de capacitação e atualização continuada dos técnicos de campo, para que possam otimizar a assistência aos produtores.
“Um dos principais desafios do setor de aquicultura é o uso racional de água. A ração e a energia elétrica também pressionam as margens e fazem com que o manejo e a gestão da produção precisem ser mais eficientes, por parte do produtor”, explica Alexandre Monteiro, analista técnico da Gerência de Desenvolvimento Técnico da Ocepar. “Tecnologia para oferecer produtos que atendam à necessidade do consumidor é essencial, uma vez que o hábito de consumo está em constante evolução”, pontua.
Em Minas Gerais, o Sistema Ocemg colocou a responsabilidade socioambiental como um norte para os projetos desenvolvidos com as cooperativas de aquicultura. A partir de uma parceria com o Sicoob Aracoop, que financia os cooperados, a Ocemg orientou processos de regularização fundiária, implementação de estratégias de marketing e otimização do uso de insumos.
As compras coletivas de ração, por exemplo, possibilitaram a redução no preço final do pescado e ainda contribuíram para diminuir o desperdício desse insumo que tanto pesa nas contas dos cooperados, segundo Rouzeny Zacarias, analista de Educação e Desenvolvimento Sustentável da Ocemg. “Temos hoje uma rede de colaboração que não envolve apenas as cooperativas, mas também inclui agricultores familiares da região. O trabalho em grupo não é fácil, mas é fundamental para garantir o desenvolvimento local”, destaca.
PESCA OU AQUICULTURA?
Essa é a pergunta que não quer calar: Qual é a diferença entre esses dois tipos de atividade? São sinônimos? A pesca é definida por legislação — Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009 — como toda operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros; a aquicultura, é definida na mesma lei como atividade de cultivo de organismos cujo ciclo de vida em condições naturais se dá total ou parcialmente em meio aquático, implicando a propriedade do estoque sob cultivo, equiparada à atividade agropecuária. Com isso, a aquicultura permite a adoção de técnicas e tecnologias que garantem qualidade, padrão e maior escala para a produção.
O Brasil possui condições favoráveis tanto para atividade pesqueira quanto para a aquicultura. São cerca de 8.500km de costa marítima e 12% da água doce do planeta correndo em território brasileiro. Estudos de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm auxiliado pescadores e aquicultores a aproveitarem melhor esses recursos.
A migração do modelo de pesca para aquicultura demanda investimentos, e uma boa opção para fazer essa virada é buscar o auxílio das cooperativas de crédito, cada vez mais atentas às potencialidades desse setor.
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6 MOTIVOS PARA INCLUIR O PESCADO NA SUA ALIMENTAÇÃO
• Ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares;
• Contribui para o controle dos níveis de colesterol;
• É rico em proteínas, vitaminas e minerais;
• Possui alta proporção de gorduras saudáveis (gorduras insaturadas);
• É fonte de ômega 3;
• Auxilia na manutenção de níveis adequados de triglicerídeos.
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Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Ganhar altura e chegar cada vez mais longe. Assim como uma onda — que vai e vem no mar, e nunca deixa de existir —, a comunicação do cooperativismo está mais forte para avançar, agora com um novo objetivo: mostrar às pessoas o que é o cooperativismo, e as vantagens do nosso jeito de ser e de fazer negócios, preocupado com a sociedade e compromissado com a transformação do mundo em um lugar melhor para todos.
Com o mote “O coop faz muito e faz bem”, a nova campanha SomosCoop foi lançada neste mês de junho e tem o intuito de apresentar o cooperativismo e os impactos positivos que ele traz para toda a sociedade. Também quer mostrar que o coop pode ser encontrado em todas as áreas da economia e faz, com excelência, tudo o que se propõe. Mais do que isso: o coop faz muito pelo Brasil, pelas comunidades em que atua e por todos os seus cooperados.
A campanha, novamente estrelada pelo tenista mundialmente premiado Gustavo Kuerten, será dividida em três grandes ondas, ou seja, três grandes momentos com mensagens distintas para o público, mas que compõem uma unidade entre si. A estratégia deste ano será alicerçada nos seguintes conceitos: 1. O conhecimento do cooperativismo; 2. O impacto e a relevância do coop para a sociedade; e 3. O estímulo à sociedade para consumir de cooperativas.
EMPATIA
De acordo com a gerente de Comunicação do Sistema OCB, Samara Araujo, a primeira onda terá como objetivo explicar o cooperativismo.
No primeiro momento, vamos explicar que o cooperativismo é um jeito diferente de fazer negócio, que está presente em todos os setores da economia e que ele traz impactos positivos para toda a comunidade ”, explica.
Segundo ela, uma pesquisa conduzida pelo Sistema OCB mostra que a divulgação do cooperativismo nacionalmente tem trazido resultados positivos a respeito do conhecimento e do reconhecimento do modelo de negócio coop. Entretanto, ainda há dificuldade no entendimento de alguns conceitos. Por isso, para a campanha deste ano, o objetivo é trabalhar com uma linguagem mais coloquial, simples e objetiva.
A gente está buscando uma simplificação do discurso. Queremos que as pessoas que nunca ouviram falar do cooperativismo entendam, de um jeito simples, o que é o cooperativismo e o que ele faz para melhorar a vida das pessoas”, afirmou Samara.
A gestora conta que, há até pouco tempo, o cooperativismo era explicado como um modelo de negócio no qual as pessoas se juntam para obter melhores resultados. “Agora, em vez de usar ‘modelo de negócio’, falamos em ‘um jeito diferente de fazer negócio, de forma colaborativa ’”.
A partir do fim de julho, com o lançamento do Anuário do Cooperativismo — documento que divulga os dados consolidados do setor —, tem início uma segunda onda, baseada em informações sobre a evolução e o impacto do coop brasileiro. Nesta etapa, o desafio é mostrar os números do coop, destacar como estamos presentes no dia a dia das pessoas, fazendo a diferença em suas vidas e na economia do país.
Por fim, na última fase da campanha, no último trimestre de 2022, será a hora de trabalhar o convencimento. Depois de a sociedade entender o que é o cooperativismo e reconhecer sua importância, o cidadão será incentivado a escolher, conscientemente, o consumo de produtos e serviços de cooperativas.
A pessoa está andando no supermercado e, se ela foi impactada nas outras ondas da campanha, ela entende o que é uma cooperativa, que ela traz impactos positivos, e desenvolvimento econômico e social para todos os envolvidos. Então, durante as compras, ela vai pensar: em vez de comprar esse suco A, eu vou comprar esse suco coop. Em vez de escolher uma instituição financeira que vai remeter os lucros para acionistas fora do país, vou colocar o meu dinheiro numa instituição financeira cooperativa, porque sei que uma parte dos resultados vai voltar para mim e uma outra será reinvestida na minha comunidade”, explica Samara.
A nova campanha SomosCoop terá inserções em TV e rádio, peças para redes sociais, além de outdoors e busdooors. O Sistema OCB também disponibilizará peças para as Unidades Estaduais, que poderão definir estratégias de mídia de acordo com as características regionais.
BENEFÍCIOS PARA TODOS
O Sistema OCB entende que, ao fazer uma campanha nacional sobre o cooperativismo, também está ajudando as cooperativas na ponta, que podem se beneficiar dessa estratégia para promover o seu próprio trabalho — somando e se aliando a esse esforço de comunicação.
Quando a gente divulga o cooperativismo, a gente facilita o trabalho de comunicação das cooperativas. Porque grande parte das cooperativas precisa ficar se explicando. Se ela faz uma campanha para divulgar o produto ou serviço dela, metade do tempo ela gasta explicando o que é, como é o modelo de negócio dela”, explica Samara.
Carimbo SomosCoop
Com a campanha SomosCoop, o Sistema OCB desenvolveu um carimbo de livre uso pelas cooperativas. O intuito é que essa marca possa ser incluída nos produtos (na embalagem de um café, por exemplo) e nos serviços (nas carteirinhas dos planos de saúde ou nos crachás de trabalhadores terceirizados), para identificar que aquilo que o consumidor está adquirindo carrega os valores do cooperativismo.
Centenas de cooperativas já utilizam o carimbo para diferenciar e dar crédito aos próprios produtos. É o caso da Cocamar, cooperativa agroindustrial fundada em 1963, com a união de 44 cafeicultores do interior do Paraná.
Utilizar a marca SomosCoop é uma forma de diferenciar os produtos das cooperativas perante os consumidores, transferindo a eles o seu conceito e prestígio. Se são de cooperativas, têm origem, qualidade e são confiáveis”, afirma o presidente executivo da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Divanir Higino.
Para a gerente de marketing da Frimesa, Elis D´Alessandro, o público formador de opinião costuma valorizar os produtos que seguem uma linha sustentável — e o cooperativismo pratica tudo isso desde o seu início, já que carrega essas preocupações em seu DNA.
O carimbo SomosCoop mostra para o público que o nosso produto respeita as questões de sustentabilidade e é socialmente justo, porque as cooperativas estão à frente nesse cuidado com as pessoas, com o meio ambiente e com o desenvolvimento das comunidades. O cooperativismo tem essa cultura de pensar no todo e no resultado para todos”, avalia Elis, acrescentando que o carimbo agrega valor à marca.
Na Frimesa, cooperativa do setor de alimentos sediada em Medianeira, no Paraná, o carimbo SomosCoop pode ser visto em todas as caixas de expedição — aquelas que chegam aos supermercados — e em produtos como o hambúrguer, o leite e o iogurte.
Para o diretor-presidente da Cooperativa Agroindustrial Copagril, Ricardo Sílvio Chapla, o carimbo facilita a identificação dos produtos, ajuda a criar uma forte ligação cooperativista e a demostrar o orgulho de ser coop.
Nós usamos o carimbo para que as pessoas consigam identificar nossos produtos e serviços que demonstram a importância do cooperativismo. Queremos que a pessoa saiba que, fazendo essa aquisição, ela gera um impacto positivo. Dentro da Copagril, somos mais de 5 mil associados, a maioria de pequenos produtores rurais no oeste do Paraná e no sul do Mato Grosso do Sul”, explica Chapla.
Atualmente, o carimbo SomosCoop é usado em praticamente todas as embalagens de produtos de varejo da Copagril, como macarrão, café, arroz, feijão, amido de milho, polvilho, pepino e azeiton
Se você usa o carimbo SomosCoop em seus produtos ou comunicação, mande uma foto para gente! O e-mail é
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Resultados concretos
Desde que a campanha SomosCoop passou a ser divulgada nacionalmente, na televisão, no rádio e na internet, aumentou o conhecimento das pessoas sobre o nosso jeito de ser e de fazer negócios. Quer uma prova?
Antes do lançamento da campanha publicitária de 2020, já com Gustavo Kuerten como embaixador do cooperativismo, o Sistema OCB realizou uma pesquisa para entender a compreensão dos brasileiros sobre o coop. No estudo, realizado em 2018, quando solicitados a “citar o nome de uma cooperativa que você conhece ou já ouviu falar”, apenas 44% dos entrevistados souberam responder. Em 2021, depois da divulgação maciça do SomosCoop, a mesma pergunta foi feita em uma nova pesquisa. Dessa vez, 70% dos entrevistados conseguiram citar o nome de uma cooperativa — um aumento considerável, de 26 pontos percentuais.
“Nossa campanha de comunicação ajudou, mas as cooperativas também têm um trabalho fundamental de divulgação do cooperativismo. Quando, por exemplo, a Unimed escolhe colocar o carimbo SomosCoop nas carteirinhas de todos os planos de saúde, ela está divulgando o movimento e gerando valor para o coop, e também para a Unimed. É um ganha-ganha. A gente faz um trabalho grande para divulgar o coop e mostrar seus benefícios, mas, com certeza, ele só gera resultado quando o público consegue identificar as cooperativas lá na ponta.”
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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O que faz de uma cooperativa uma cooperativa? A Aliança Cooperativa Internacional (ACI) iniciou um processo consultivo global para analisar a compreensão dos cooperados sobre a identidade do nosso movimento. Afinal, com princípios e valores bem definidos fica mais fácil se manter alinhado aos propósitos que dão vida ao nosso movimento.
A proposta da pesquisa surgiu durante o 33º Congresso Cooperativo Mundial, realizado em novembro de 2021, em Seul, na Coreia do Sul. Em um contexto marcado pelas fortes transformações sociais provocadas pela pandemia da Covid-19, foi natural as pessoas se perguntarem como essas mudanças afetariam o coop.
De acordo com Alexandra Wilson, presidente do Grupo Consultivo de Identidade Cooperativa da ACI, os princípios do coop possuem aspecto operacional, indicando as questões práticas de como organizar e operacionalizar uma cooperativa. Já os valores são os motivos que levam as pessoas a adotar esse modelo de negócio.
Na opinião do presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira, Tiago Luiz Schmidt, a essência do movimento cooperativo é um grupo de pessoas que se reúne para desenvolver uma atividade econômica que tem impacto social.
Eu acredito que não existe uma cooperativa próspera numa comunidade pobre. Uma cooperativa se torna cada vez mais próspera a partir do momento em que ela também consegue promover prosperidade aos associados e comunidade em que ela atua”, explica. Para ele, manter o equilíbrio entre o econômico e o social é crucial para que uma organização demonstre estar alinhada com a identidade cooperativista.
MODELO DURADOURO
A necessidade de construção de uma identidade está no cerne da criação do movimento cooperativo. Ao se reunir para compra e venda coletiva de mercadorias na Inglaterra, em 1844, os 28 tecelões conhecidos como pioneiros de Rochdale precisaram estabelecer critérios que os diferenciavam dos outros modelos de negócios já existentes. Assim nasceu a Sociedade Equitativa dos Pioneiros de Rochdale, na tentativa de criar um negócio que respondesse às desigualdades de organizações empresariais, ao mesmo tempo em que empoderasse as pessoas. Um dos motivos do sucesso duradouro do modelo é atribuído ao estabelecimento de um estatuto social com objetivos e normas para orientar a estrutura e o funcionamento da cooperativa. Esses conceitos foram debatidos durante os congressos internacionais promovidos pela ACI em 1937 e 1966, e adotados como princípios cooperativistas desde então (?).
Em 1995, durante uma nova assembleia, a ACI formalizou a Declaração sobre a Identidade Cooperativa, que inclui os princípios cooperativos e os valores-chave nos quais as cooperativas se baseiam: autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Foi nesse momento que um novo princípio foi adicionado para atender demandas de cooperativas em todo o mundo: o interesse pela comunidade. A presidente do Grupo Consultivo da ACI comenta que, em todas as ocasiões em que os princípios foram colocados em análise, chegou-se à conclusão de que eles se mantinham fundamentalmente sólidos. Na opinião de Alexandra, isso ocorre porque os princípios atendem necessidades humanas universais.
A experiência e a história nos mostram que há algo duradouro no modelo de negócios cooperativista e da Identidade Cooperativa, que dura mesmo quando o mundo e as próprias cooperativas se transformam. Mesmo a inclusão do 7º Princípio não quer dizer que a preocupação com a comunidade não existia antes, ela só não havia sido expressa de forma oficial”, salienta.
POR QUE AGORA?
Passados quase 30 anos desde a última reflexão em escala global sobre o cooperativismo, a ACI volta a propor aos cooperados uma análise profunda e ampla sobre a Declaração de Identidade Cooperativa, sob a luz dos desafios do mundo atual. O coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, João Martins, lembra que o coop surge como uma forma de manter a dignidade humana, gerando prosperidade e desenvolvimento social.
Em um momento em que a sociedade passa por grandes dificuldades novamente — pandemia, aumento da desigualdade e conflitos armados —, a ACI vem propor a identidade cooperativista como uma forma de enfrentar os grandes problemas da humanidade”, comenta.
Alexandra Wilson revela que desde a conclusão da assembleia de 1995, já começaram a ser identificadas questões sobre as quais as cooperativas deveriam se debruçar com mais ênfase, com destaque para a preservação ambiental, as relações trabalhistas, a educação sobre cooperativismo e, mais recentemente, inclusão e diversidade. Com isso em mente, foram publicadas, em 2016, as Notas de Orientação para os Princípios Cooperativos, que apontam diretrizes e conselhos detalhados para a aplicação prática dos princípios cooperativos. Alexandra reconhece, no entanto, que a extensão do documento reduz sua aplicabilidade no dia a dia dos cooperados.
Para Martins, o momento é de fazer com que a sociedade perceba o diferencial cooperativista e que cada cooperativa se entenda como parte dessa iniciativa de mudança de comunidades mais sustentáveis. “A partir do momento que você tem um modelo de negócios que respeita os aspectos democráticos e compartilha os resultados de forma igualitária, você passa a ter uma sociedade mais estável, pacífica e economicamente responsável”.
PREOCUPAÇÃO URGENTE
“Cooperativas precisam fazer mais e mostrar mais o que fazem para suas comunidades, em especial na atuação diante das mudanças climáticas”. A declaração de Alexandra Wilson resume dois temas apontados como prioritários pelos cooperados que participaram do 33º Congresso Cooperativo Mundial. Mesmo que o desenvolvimento sustentável esteja presente no 7º princípio e que o 5º princípio defenda a educação para o cooperativismo, as transformações provocadas pelo desenvolvimento econômico e pelas novas formas de organização social, impuseram mais peso a essas temáticas dentro da identidade cooperativa.
As cooperativas estão correndo o risco de serem deixadas para trás por não se preocuparem adequadamente com o que está acontecendo com o mundo ao nosso redor. Nós vivemos uma emergência climática. O meio ambiente está sendo degradado em um ritmo que ameaça a viabilidade da espécie humana. E nós que acreditamos no cooperativismo como o melhor modelo, devemos nos perguntar se estamos fazendo mais do que outras companhias e organizações não lucrativas”, declara a presidente do Grupo Consultivo da ACI.
Apesar dos esforços realizados até o momento, a compreensão do público sobre o modelo cooperativo é relativamente baixa. Nesse sentido, Alexandra acredita que a consulta pode sugerir uma ênfase mais direta à conscientização sobre o modelo cooperativo. João Martins também compartilha dessa preocupação para que o cooperativismo não seja visto como uma ideia obsoleta.
“A ACI entende que o cooperativismo vai ser transversal às mudanças pelas quais a humanidade passa. Para acompanhar o avançar da humanidade e dos debates globais que influenciam cooperados mundo afora, a ACI propõe essa grande consulta”, esclarece.
Alexandra reforça que, apesar de não ser possível prever o resultado desse processo consultivo, o que se analisa não é uma retirada de princípios, e sim a possibilidade de adaptação ou inclusão de novos aspectos.
ETAPAS DA CONSULTA
Diante da árdua tarefa de desenvolver uma pesquisa em escala global, o Conselho da ACI criou o Grupo Consultivo de Identidade Cooperativa (CIAG), composto por 23 membros de todas as regiões de atuação da ACI. O grupo é responsável por planejar ações que promovam uma consulta e reflexão a respeito da identidade cooperativa. A presidente do Conselho, Alexandra Wilson, explica que o processo ainda está na fase inicial e deve demorar de dois a três anos para ser concluído.
Nessa etapa inicial, uma pesquisa foi disponibilizada no site da ACI para recolher as impressões iniciais de cooperados a respeito do significado da identidade cooperativa. A consulta aborda temas comuns a membros da ACI de todos os 150 países onde as cooperativas estão presentes. No momento, o formulário está disponível em inglês, francês e espanhol, e está sendo traduzido para diversos idiomas.
O Sistema OCB é a organização parceira da ACI para levar essa consulta ao conhecimento das cooperativas e dos cooperados no Brasil. Segundo o coordenador de Relações Internacionais da OCB, os documentos já foram traduzidos para o português e a entidade está em contato com as Unidades Estaduais para definir a melhor forma de divulgação e disponibilização da pesquisa.
Isso deve acontecer nos próximos meses e está previsto um anúncio sobre a consulta no Dia Internacional do Cooperativismo”, afirma João. No próximo dia 20 de junho, o Grupo Consultivo deve tratar sobre a pesquisa na Assembleia Geral da ACI em Sevilha, na Espanha. Segundo Martins, a expectativa é de que na ocasião seja definido um calendário de consultas e eventos e, a partir daí, o Sistema OCB terá instrumentos para levar as informações completas às cooperativas brasileiras.
Alexandra explica que, para além do formulário on-line, devem ser realizados webinars e outros eventos consultivos em escalas regionais e internacionais para que o debate sobre identidade cooperativa agregue o máximo de pessoas possível de forma interativa. “Temos grandes ambições. O objeto é envolver todos do mundo cooperativista que tiverem interesse, independente de atuação, cargo ou localidade. O objetivo é realizar uma consulta ampla e profunda”, define.
Após reunir todas as informações e avaliações colhidas, e tendo em mente os princípios formadores, o Grupo Consultivo apresentará um parecer com sugestões à Assembleia da ACI, que vai então decidir o que fazer com as proposições apresentadas. Caso haja um entendimento de possível mudança na Declaração sobre a Identidade Cooperativa, o conselho recomenda a questão para a Assembleia Geral, que coloca a questão em votação.
Uma alteração na Declaração não é um processo simples, já que ela está incorporada no reconhecimento das cooperativas pela Organização Internacional do Trabalho e na legislação cooperativa em diferentes países. Diante desse cenário, Alexandra Wilson aponta uma outra possibilidade: “esse não seria um processo simples, uma mudança teria que passar por duas assembleias gerais consecutivas. Já as Notas de Orientação são mais fáceis de serem alteradas. Há possibilidade, inclusive, de criar algum documento intermediário entre a Declaração e as Notas”.
IDENTIDADE FORTALECIDA
Estimular as pessoas a pensar sobre identidade cooperativa pode, por si só, fortalecer a organização cooperativa. Essa é uma das apostas da ACI com esse movimento. O presidente da Sicredi Pioneira compartilha dessa expectativa. “O segredo para preservar a identidade está no relacionamento entre associados”, avalia Tiago Luiz Schmidt. Segundo ele, quando a cooperativa realiza movimentos que trazem cooperados para dentro da organização, a comunidade se fortalece.
A promoção de debates e capacitações sobre assuntos de interesse dos cooperados auxilia na formação de um vínculo com a cooperativa e empodera os cooperados sobre os princípios e valores do cooperativismo. Em contrapartida, o engajamento dos associados fomenta inovações nos produtos, serviços e na atuação da própria cooperativa.
Quando isso acontece, a gente atinge o momento mágico de uma identidade cooperativa plena, que não é aquela identidade que lideranças, diretores e gestores conceituam, mas aquela que os associados efetivamente vivem no seu dia a dia. Isso é identidade cooperativa: é o cooperativismo vivido pelo próprio associado”, conclui Schmidt.
Para a presidente do Grupo Consultivo de Identidade Cooperativa da ACI o conceito “1 membro, 1 voto” é o mais duradouro dos conceitos cooperativistas. “Nenhuma outra forma de negócios adota esse modelo de gestão. Esse é o princípio que eu prevejo que nunca vai ser alterado, mas é possível ter um debate sobre como melhor expressar a gestão democrática nas cooperativas para além desse nível primário”, comenta. Na avaliação de Alexandra, esse também pode ser um bom momento para que cooperativas percebam que sua identidade deve ser encarada como uma vantagem competitiva.
Uma etapa seguinte a essa mobilização teórica em torno da identidade cooperativa, é uma movimentação prática que coloque em ação tais princípios e valores. Um exemplo histórico é o ato inovador e revolucionário dos pioneiros de Rochedale que permitiram o voto de mulheres em uma época em que isso era proibido no mundo. E agora que o 33º Congresso Cooperativo Mundial apontou como foco de preocupação questões como aquecimento global, e promoção de diversidade, equidade e inclusão, essa consulta pode estimular as cooperativas a encontrar soluções tangíveis que apenas esse modelo de negócios pode proporcionar.
Alexandra Wilson impulsiona essa provocação: “Se somos uma cooperativa e operamos dentro desses valores e princípios, não deveríamos nós dizer como precisamos agir?” O presidente da Sicredi Pioneira resgata o legado do patrono do cooperativismo brasileiro, padre Theodor Amstad, ao também propor que a reflexão venha acompanhada de ação. Tiago Schmidt usa como exemplo as ações adotadas nos processos seletivos abrangentes e inclusivos da Sicredi Pioneira, que trazem diversidade para o dia a dia dos cooperados.
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Princípios do Cooperativismo expressos na Declaração de Identidade Cooperativa da ACI de 1995, que será revista este ano:
1. Adesão livre e voluntária
As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.
2. Gestão democrática
As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática.
3. Participação econômica
Os membros contribuem equitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão.
4. Autonomia e independência
As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.
5. Educação, formação e informação
As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.
6. Intercooperação
É a cooperação entre as cooperativas, para o fortalecimento do movimento como um todo e dos princípios cooperativistas. Isso pode ocorrer em diversos níveis: através das estruturas locais, regionais, nacionais, internacionais; entre cooperativas do mesmo sistema; com cooperativas de outros sistemas; e com cooperativas de outros ramos do cooperativismo.
7. Interesse pela comunidade
As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentável das comunidades onde estão inseridas, através de políticas aprovadas pelos membros. Prezam por investimentos em projetos que sejam economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos.
Esta matéria foi escrita por Mariana Fabre e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Ele afasta a cadeira de rodinhas para deixar à vista a foto que está no aparador, encostado na parede. Meio de lado, olha para trás e aponta para o senhor que está emoldurado no único porta-retratos à mostra. Márcio Lopes de Freitas apresenta seu pai: Rubens de Freitas. É quando tira os óculos, se acomoda confortavelmente na cadeira e apoia o cotovelo na mesa. Lá vem história! Márcio gosta de contar “causos”, e o de sua família é um deles.
Em casa, foi onde tudo começou. Márcio é cooperativista, produtor agrícola e cafeicultor. Também é presidente do Sistema OCB desde 2001. A vocação para tocar a terra e liderar as cooperativas é herança familiar. Justamente o caminho que ele percorreu até chegar à cadeira da presidência da Casa do Cooperativismo, que ele começa a contar pela trajetória do pai.
Mas, antes de falar de seu Rubens, é preciso falar do avô de Márcio. Foi seu Zeca quem apresentou, à família e aos colegas de lida, ainda nos anos 1940, o conceito de cooperativa e a ideia de que, quando o assunto é cooperativismo, todos ganham quando ninguém perde.
Zeca produzia leite na pequena cidade de Patrocínio Paulista (SP) e vendia o produto a dois fornecedores que transformavam a matéria-prima em queijo. Até o dia em que um deles, o italiano, tornou-se o único comprador e quis reduzir o preço do litro.
Seu Zeca não aceitou a proposta e decidiu, ele mesmo, produzir os queijos e vendê-los em Franca, a maior cidade perto de sua fazenda. Foi aí que ouviu falar em uma “tal” cooperativa e entendeu que poderia se unir aos demais produtores locais para juntos gerenciarem os próprios negócios.
Eles convidaram um técnico da Secretaria de Agricultura de São Paulo para apresentar aos produtores como aquilo funcionava. Meu pai contava que, no meio da reunião, o italiano apareceu, querendo saber o que estava acontecendo. Foi quando meu avô disse: ‘Estamos decidindo o nosso futuro!’”, relembra.
Coube a Rubinho, o senhor Rubens que ainda era um menino, a tarefa de distrair o estrangeiro e levá-lo ao pomar “para chupar umas laranjas”, por ordem do pai. Até que a reunião acabou e ficou decidido pelos 44 agricultores das redondezas que nasceria ali, a partir daquele dia, uma cooperativa de leite.
Desde então, a família Freitas produz e trabalha de forma cooperativa. Rubens cresceu, virou um líder e dedicou-se a melhorar as condições das coops de leite e de café no interior do Brasil. A mãe dele, avó de Márcio, tinha “cismado” que o menino deveria ser padre, mas ele fugiu das obrigações da batina e tocava as produções com o tino e a sabedoria da experiência. “Ele falava que o único diploma que tinha na vida era o de primeira comunhão, porque era obrigado a ter”, conta Márcio, rindo.
O negócio passou de pai para filho e, depois, para os netos. Márcio foi criado em fazenda. Cresceu produtor agrícola e cafeicultor. Também transformou seu trabalho em uma missão, para fortalecer o conceito do coop no Brasil e pelo mundo. Aos 63 anos, acredita que esse modo cooperativista de fazer negócios é o segredo de sucesso pessoal e profissional da humanidade.
“O modelo salve-se quem puder, a lei de levar vantagem, não está trazendo felicidade para as pessoas. A filosofia do cooperativismo é uma luva para este momento de insatisfação. Trata-se de uma economia compartilhada, em que as pessoas tomam as decisões dos rumos de seus negócios. Elas já não querem mais ser passageiros do processo. Elas querem ser autoras”, defende.
LIDERANÇA RECONHECIDA
Ao lado da foto do pai, no aparador que fica na sala da presidência do Sistema OCB, Márcio exibe alguns troféus. Desde que a assumiu a gestão da Casa do Cooperativismo, tem sido condecorado e reconhecido pelo seu trabalho. Uma lista de predicados, entre os quais citam-se a capacidade de articulação e de debate. Em 2009, o cooperativista foi considerado líder no diálogo com o Congresso Nacional — missão que resultou na aprovação da modernização da Lei Brasileira de Cooperativas Financeiras e, em 2012, na criação da Lei nº 12.690, que definiu novas regras para a organização e para o funcionamento das cooperativas de trabalho.
Em 2017, a convite das Nações Unidas, Márcio participou do Fórum Político de Alto Nível, em Nova York, e, desde então, o Sistema OCB tem sido parceiro de diversos projetos da ONU para promover os objetivos de desenvolvimento sustentável entre as cooperativas.
Dois anos depois, foi condecorado com o prêmio Distinguished Service Award (Serviço Distinto) do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu), em reconhecimento a sua liderança e por seu esforço de disseminar o segmento no Brasil e no exterior.
Aliás, criar parcerias entre países como forma de fortalecer as cooperativas é uma das bandeiras de Márcio. Por isso, ele defendeu a união dos países do Mercosul para promover o comércio entre cooperativas de região e foi um dos fundadores, em 2001, da Reunião Especializada de Cooperativas do Mercosul (RECM).
No comando do Sistema OCB, Márcio se pronunciou em vários idiomas e estabeleceu acordos com a Confederação Alemã de Cooperativas (DGRV) e com líderes cooperativistas de Botsuana, Argélia e Timor-Leste.
Freitas implementou um projeto bilateral para fortalecer as cooperativas de Moçambique e, durante seu mandato, em 2010, o Sistema OCB sediou o Primeiro Encontro de Cooperativas dos Brics, estreitando relações com Rússia, Índia, China e África do Sul.
O movimento cooperativista brasileiro está muito parrudo, muito expressivo e se posicionando internamente de maneira muito forte. Com isso, também há a tendência de internacionalização das nossas cooperativas, seja na área financeira, na área de saúde ou na área agrícola. Cada vez mais, as cooperativas vão precisar de relacionamentos globais”, defende ele, que também é vice-presidente das Américas da Organização Internacional das Cooperativas Agropecuárias (Icao).
NOVOS DESAFIOS
Para fortalecer ainda mais a presença das cooperativas brasileiras no cenário internacional, Márcio assumiu um novo desafio: agora, é conselheiro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Com sede em Bruxelas (Bélgica), este organismo internacional representa mais de 50 mil cooperativas e mais de 300 milhões de cooperados de todo o mundo.
O presidente do Sistema OCB foi indicado pela experiência e pelo perfil visionário. E por ser uma “pessoa rara”, como define o ex-presidente da ACI e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues.
O presidente do Sistema OCB foi indicado pela experiência e pelo perfil visionário. E por ser uma “pessoa rara”, como define o ex-presidente da ACI e atual coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues.
O cooperativismo é um movimento perfeito para a natureza humana, pois une idealismo, solidariedade, ação comunitária e coletiva, mas também construção e ação. O líder cooperativista tem que somar essas duas metades de maneira absoluta e transformá-las em filosofia de vida. Márcio faz isso na perfeição. Ele traz isso na genética”, define Rodrigues, único líder não europeu a presidir a ACI, entre os anos de 1997 e 2001. Ele também é presidente da Academia Brasileira de Ciências Agronômicas e embaixador Especial da FAO para Cooperativas.
Caso vença a eleição da ACI, em junho, Márcio pretende intensificar a rede de negócios entre cooperativas de todo o mundo. “As cooperativas brasileiras já vendem soja, carnes, frango, por exemplo, para cooperativas internacionais, mas queremos estreitar ainda mais e melhorar a nossa relação, bem como ter mais acesso aos mercados globais do sistema financeiro. Uma coop brasileira de crédito, ao se associar a bancos internacionais, será capaz de fazer negócios internacionais com mais facilidade. Para o Brasil crescer, precisamos de investimento, e as linhas de crédito e o sistema financeiro são insumos extremamente importantes.”
Entusiasmado com a possibilidade de fortalecer o coop internacionalmente, o presidente do Sistema OCB não quer nada menos do que a vitória na ACI. “A gente, em uma eleição, só não quer perder. Eu não gosto perder nem no par ou ímpar”, brinca.
HOMEM DO CAMPO
Márcio fala pausadamente. Fala baixo. Coisa de gente calma. Quem o conhece diz que seu tom é sempre o mesmo. Não muda. “Esquentar a cabeça, para quê?”, questiona enquanto tenta acessar o link de mais uma reunião on-line.
A calma é de quem nasceu e cresceu na roça. Márcio veio de Patrocínio Paulista (SP), em meio a gado e à plantação de café. Nos anos 1970, fundou uma cooperativa de café na terra natal. Para Brasília, mudou-se aos 17 anos, com o pai, que, a essa altura, era presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Laticínios, com sede na capital. Aqui, formou-se em administração de empresas, investiu na carreira e firmou o nome no cooperativismo. E criou seus os dois filhos, que hoje têm 39 e 33 anos, respectivamente. “Aqui é ‘bão’ demais!”, brinca, carregando no sotaque.
Mas o afeto pela cidade onde mora não diminui o banzo das origens. “Eu adoro a fazenda. Eu sou agricultor. Sinto muita falta de estar perto da terra e das minhas criações”, comenta.
As duas fazendas dele ficam no interior de São Paulo, a quase 800km da capital, onde planta café, lavoura branca e cria alguns tipos de gado. O plano é adquirir uma propriedade por aqui, tão logo seja possível. Para matar a saudade da terrinha, nos fins de semana, Márcio entra na caminhonete e vai desbravar a área rural nas proximidades de Brasília. Olha os anúncios de venda e agenda uma visita. Em parte, uma boa desculpa para conhecer as redondezas, mas também para trocar uns dedos de prosa e tomar um café.
Márcio é amante inveterado do grão. Além de produzi-lo, consome com gosto. Quase um litro por dia. A xícara de louça ágata, decorada em arabescos pretos, é mantida sempre cheia. O utensílio foi presente de um amigo, que a trouxe do Museu do Café, de Santos. “Gosto dela”, diz.
Recentemente, começou a fazer uma dieta e logo a nutricionista sentenciou: “Um litro de café é demais”. Ele nem questionou a proibição, mas presenteou a profissional com um quilo do café produzido na fazenda dele. “Este aqui é diferente. Pode tomar”. E ela cedeu.
Márcio concorda que café é bom, mas tem que ter “paladar” e “qualidade de origem”. Quando lhe perguntam se ele prefere a bebida mais forte ou fraca, nem titubeia: “Gosto é de muito”, responde, rindo.
APOSTA NO FUTURO
Nas andanças pela região rural da capital do país, Márcio se depara com todo tipo de história. Lamenta ver algumas propriedades abandonadas, cenários que são só a sombra do espaço produtivo que foram em outros tempos.
Dia desses, conheceu um senhor que, ao completar 80 anos, viu-se obrigado a vender a bela propriedade no campo porque nenhum dos filhos quer tocar os negócios. Assim, preferiu ele próprio escolher, ainda em vida, quem ficaria com a casa e com as terras cuidadas por ele com tanto capricho ao longo dos anos. Ainda que a escolha fosse por alguém fora da família, interessado em comprar a propriedade.
Para o presidente do Sistema OCB, histórias como essa são lamentáveis. Afinal, o futuro do cooperativismo está na mão dos jovens; por isso mesmo, Márcio busca maneiras de atraí-los para o nosso movimento. Em 2019, após a realização do 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), ele deu todo o apoio à criação do comitê de jovens, que têm poder de decisão e de participação efetiva no planejamento de ações.
Márcio quer ouvir a opinião fresca e dar voz à juventude.
Eles querem participar. Quem pensa que o jovem está no celular o dia inteiro, até com certo exagero, se esquece de que ele está se comunicando, se informando, absorvendo e transformando informação internamente. Vejo que eles querem transformações, modelos de negócios diferentes, como o cooperativismo, que propõe o compartilhamento de economia e a participação nos resultados.”
Só para se ter uma ideia da promessa que representa a juventude no cenário do cooperativismo brasileiro, Márcio reforça que o grande diferencial da produção agrícola no Brasil não está relacionado a questões climáticas ou geográficas, mas o sucesso se deve ao perfil do agricultor, que tem menos idade do que no resto do mundo. Em nosso país, este profissional tem, em média, 44 anos. Na Europa, ele é 28 anos mais velho. Isso se traduz em trabalhadores mais dispostos e conectados, e desenha um nicho de mercado atraente. “A agricultura brasileira é almejada como um mercado de trabalho interessante, como bom gerador de renda.”
EMPATIA
As mulheres são outra aposta deste líder para o incremento do cooperativismo. Na gestão de Márcio, elas também ganharam um comitê e espaço para se posicionarem e contribuírem. A visão sustentável da economia e a habilidade de serem multitarefas são algumas das características femininas indispensáveis ao movimento.
Na lista de outros valores importantes para o cooperativismo estão a empatia, a coletividade e o apoio mútuo. As pessoas valem por serem únicas e individuais, não pelo capital financeiro que representam. Não importa o percentual, elas terão sempre o mesmo poder de decisão.
Para Roberto Rodrigues, “um movimento perfeito para a natureza humana, pois é composta por corpo e alma, matéria e espírito, assim como o cooperativismo é feito de idealismo e de construção, de sonho e de resultados”.
O sétimo princípio do cooperativismo, que prega o “interesse pela comunidade”, é uma das causas defendidas por Márcio. Pensando nisso, ele nacionalizou um importante programa de voluntariado que já mostrava sua força em Minas Gerais, onde foi criado e batizado “Dia da Cooperação” ou “Dia C”, pelo Sistema Ocemg. A proposta é estimular líderes cooperativistas a trabalharem em prol de suas comunidades — o que beneficiou, só em 2021, mais de 5 milhões de cidadãos. É derrubar, por meio de ações, a arraigada cultura do individualismo.
Um modelo de ganhos coletivos, baseado em trabalho e renda, visto como solução para o atual momento de crise econômica e até mesmo para o conflito pessoal que o mundo atravessa. Um movimento que reúne, atualmente, 17,2 milhões de brasileiros cooperados, e cerca de 4,8 mil cooperativas no Brasil.
A incapacidade, do modelo social que nós temos, de gerar felicidade, está fazendo as pessoas olharem para novas alternativas. O cooperativismo acaba sendo um porto seguro, porque você trabalha a questão dos valores, os princípios de um desenvolvimento econômico, vamos dizer assim, com caráter, que ajuda a transformar a sociedade e gerar um desenvolvimento propício à justiça social e à prosperidade”, defende Márcio. “A sociedade quer, cada vez mais, um modelo diferente de qualidade de vida. As pessoas querem ‘ser’ mais do que ‘ter’ mais”, acrescenta.
Esta matéria foi escrita por Flávia Duarte e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Aqui no Brasil, no mesmo dia em que se comemora o Dia Internacional do Cooperativismo acontece o Dia de Cooperar, mais conhecido como Dia C, um evento em que se celebra os projetos de responsabilidade socioambiental desenvolvidos pelas cooperativas brasileiras.
Em 2022, após dois anos de pandemia, o Dia C voltou a ser realizado presencialmente, o que para nós é um motivo de enorme alegria”, festeja Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB.
A gestora explica que, este ano,a Unidade Nacional ajudou as coops e as Unidades Estaduais a mobilizarem suas bases, fornecendo enxoval de comunicação para os interessados, além de apoio institucional.
“Nosso papel, no Sistema OCB, foi disseminar a importância de aproveitar esta data para apresentar à sociedade um pouco do que o coop faz, diariamente, para melhorar a vida das pessoas e preservar o meio ambiente. Mas, são elas quem decidiram o que fazer para comemorar essa data. A gente não conduziu o processo”, esclarece.
Até o fechamento desta edição da Saber Cooperar, mais de 10 Unidades Estaduais já tinham confirmado participação no Dia C. E, vale destacar: com a volta das atividades presenciais existe uma oportunidade de aumentar ainda mais o engajamento e a mobilização das cooperativas para ações e projetos transformadores nas comunidades.
A ideia foi estarmos mais próximos, estimulando as cooperativas para a construção, retomada ou continuidade de projetos sociais relacionados aos diferentes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ”, explica Guilherme Costa, coordenador de Desenvolvimento Humano e Social, do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) Nacional.
O QUE VEM POR AÍ
Após dois anos de comemorações à distância, as coops brasileiras conseguiram levar para perto das comunidades atividades como o projeto de reciclagem da Unimed Inconfidentes, de Ouro Preto (MG). Os cooperados dessa unidade organizaram uma feira de produtos reciclados, que inclui sabão produzido a partir de óleo de cozinha usado, vassouras de garrafas pet e nécessaires, sacolas e bolsas criadas a partir de banners que deixaram de ser utilizados.
O mais bacana é que, além de estar ajudando a cuidar do futuro do planeta, o projeto também beneficia organizações filantrópicas mineiras. Segundo Juliana Vieira, coordenadora de Comunicação e Marketing da Unimed Inconfidentes, a cooperativa colabora com a arrecadação de matéria-prima para o Núcleo de Apoio aos Toxicômanos e Alcoólatras (Nata) — grupo de apoio a dependentes. Os integrantes produzem o sabão a partir do óleo de cozinha e as vassouras de garrafas pet. Além disso, existe uma parceria com a Associação de Catadores Padre Faria, que reutilizam os banners não mais usados pelas cooperativas para a produção de itens como nécessaires, sacolas, bolsas de supermercado e aparadores de panela.
Juliana conta que a sustentabilidade sempre teve vez, na Unimed Inconfidentes. “Evitamos o uso de copos descartáveis ofertando xícaras aos colaboradores e também trabalhamos com economia de papel e luz”. No entanto, a coordenadora reforça que o projeto de reciclagem surgiu da curiosidade de conhecer o destino dos itens descartados na cooperativa.
Por mais que a gente fizesse um trabalho com coleta seletiva, sempre tivemos curiosidade de saber qual era o destino dado para esses materiais. No caso dos banners, vimos uma bolsa [produzida a partir deles] em uma atividade da Ocemg [Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais] e firmamos a parceria. No caso do Nata, ficamos sabendo que eles precisavam de garrafas pets por uma colaboradora e passamos a ajudar”, explica.
De acordo com Juliana, todos os colaboradores da cooperativa foram envolvidos nos preparativos para a feira de reciclados no Dia C. “Para arrecadar garrafas pet e óleo usado de cozinha fizemos uma gincana, entre os colaboradores, e o prêmio foi uma nécessaire feita de banner e restos de tecido”, conta.
RECUPERAÇÃO DE NASCENTE
Na Sicoob Credip de Espigão D’Oeste, em Rondônia, o projeto para o Dia C também envolveu sustentabilidade. Em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente da cidade, os colaboradores deram o pontapé inicial no trabalho de recuperação de uma nascente do Rio Palmeiras, no bairro Bela Vista. O projeto de limpeza da área e construção de uma estrutura para proteção da nascente, com assentamento de pedras, começou no Dia C.
Na entrada do bairro existe uma reserva que é da prefeitura, mas está bem degradada, com uma nascente morrendo, sem muito fluxo de água”, explica Ronaldo Magalhães da Costa, gerente do posto da cooperativa de crédito rural em Espigão D’Oeste.
A cooperativa abraçou a proposta da prefeitura de recuperar a área e buscou doações de mudas de árvores nativas, como açaí, palmeiras e ingá, junto ao Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), de Rondônia. Também foram firmadas parcerias com empresas para a doação de material de construção e adubo.
“Como é um projeto totalmente voluntário, as ações serão feitas nos finais de semana. Nossos voluntários são os colaboradores da Sicoob Credip [19 pessoas], mais sete pessoas da Secretaria de Meio Ambiente”, explica Ronaldo da Costa.
Segundo Dener Freitas dos Santos, colaborador da cooperativa que também participa do projeto, a estrutura da área de preservação indica que deveria haver uma lagoa na região, mas não é visível por conta da degradação da nascente. “Como a nascente está fraca, muita gente no bairro nem sabia da existência dessa lagoa”, observa. Com a recuperação, a ideia é que, no futuro, seja criada uma área de lazer para o bairro Bela Vista, com quadras de areia e pergolado, atendendo a aproximadamente 400 pessoas.
COLETA SOLIDÁRIA
A cooperativa de geração de energia Certaja, de Taquari, Rio Grande do Sul, decidiu trazer para o Dia C um projeto que executa desde 2018. “A gente tem uma parceria com a prefeitura para promover um dia de recolhimento de vidro e lixo eletrônico. Fazemos isso trimestralmente e, dentro da cooperativa, a gente estimula o pessoal a fazer o descarte”, conta o engenheiro Ambiental e de Segurança da Certaja, Leandro da Cruz Vargas.
Em 2022, a cooperativa agendou uma campanha para o período de 1º a 8 de julho, como forma de celebrar o Dia C. Na parceria com a prefeitura, a gestão municipal usa sua capilaridade para divulgar a campanha e a cooperativa trabalha na captação de patrocínios.
A prefeitura se utiliza de todos os meios eletrônicos para fazer a divulgação, a logística e o acesso às escolas e comunidades. Nós, da parte ambiental da Certaja, entramos com os patrocínios para conseguir coletores e bags”, explica Vargas.
Para o engenheiro ambiental, as ações sustentáveis se tornaram uma realidade no dia a dia das empresas.
As empresas hoje estão mais engajadas nessa questão do meio ambiente, de promover hábitos ou ações relacionadas a isso. Sabemos que tanto a decomposição do resíduo eletrônico, como a do vidro levam anos. A Certaja quer conscientizar as pessoas no descarte adequado desses produtos. Somos uma cooperativa que atua na área socioambiental nas 20 comunidades onde estamos, então achamos interessante fazer esse trabalho”, diz.
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ENTENDA O DIA C
O Dia de Cooperar (Dia C) nasceu em 2009, no Sistema Ocemg. O objetivo era desenvolver ações de responsabilidade social, colocando em prática os valores e princípios cooperativistas, por meio do voluntariado. Rapidamente, a ideia ganhou a simpatia de diversas cooperativas mineiras que passaram a apoiar e desenvolver, anualmente, as ações do Dia C.
Após o sucesso alcançado em Minas Gerais, o Sistema OCB decidiu expandir o evento para o restante do país. E, em 2013, realizamos um projeto piloto em sete Estados e, no ano seguinte, o Dia C passou a ser realizado simultaneamente em todo o país.
É fundamental esclarecer que as ações apresentadas no Dia C são uma pequena amostra dos projetos sociais desenvolvidos, de forma permanente e contínua, pelas cooperativas brasileiras para apoiar o desenvolvimento das comunidades onde atuam (7º princípio do cooperativismo) e contribuir com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
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REDE SOLIDÁRIA
Desde que passou a ser um evento nacional, em 2013, o Dia C já realizou mais de
14 mil iniciativas
de voluntários, que beneficiaram
24,8 MILHÕES
de pessoas
Esta matéria foi escrita por Mariana Branco e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Todo ano, o primeiro sábado de julho deixa o mundo um pouco mais cooperativo. Neste 2022, em centenas de países, as cooperativas comemoraram o centésimo Dia Internacional do Cooperativismo (#CoopsDay) — uma iniciativa da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), que visa chamar a atenção da sociedade para o nosso jeito diferente de ser e de fazer negócios, promovendo a solidariedade, a eficiência econômica, a igualdade e a paz mundial.
A comemoração foi dupla, pois, além de um século do CoopsDay, também se completa uma década em que a Organização das Nações Unidas (ONU) homenageou o nosso modelo de negócios, declarando 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas. Na ocasião, o slogan escolhido para as comemorações foi “Cooperativas constroem um mundo melhor”, agora eleito o tema do Dia Internacional do Cooperativismo 2022.
“Este ano vamos viver o nosso Dia de uma forma muito especial. É a edição centenária desta celebração e isso nos enche de orgulho e responsabilidade. Devemos mostrar ao mundo que nossa doutrina está mais viva do que nunca e que é fundamental para a construção de um mundo melhor. É justamente para isso que o slogan deste ano se orienta. As Nações Unidas deixaram bem claro que esse modelo econômico e social ajuda a construir um mundo onde ninguém fica de fora e onde ninguém é deixado para trás”, declarou o presidente da ACI, Ariel Guarco.
Em comunicado enviado às entidades de representação do coop ao redor do mundo, a ACI pediu que todas as cooperativas aproveitassem o dia 2 de julho para mostrar ao mundo que têm orgulho de ser coop. O texto dizia o seguinte:
Vamos contar ao mundo que nós colocamos as pessoas em primeiro lugar, que somos éticos, justos e ótimos para fazer negócios. Reverberar que fazemos parte de um movimento global com mais de um bilhão de membros, que representam 12% da população mundial empregada.”
Agora que você conhece um pouco mais da história do #CoopDay, conta para gente: como você comemorou essa data?
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VOCÊ SABIA?
As cooperativas foram homenageadas em 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU) por terem sido responsáveis pela criação de 100 milhões de vagas de emprego em todo o mundo, logo após a crise financeira global de 2008.
Estudos realizados na época mostraram que as cooperativas ajudaram na recuperação econômica das cidades onde estavam localizadas, além de contribuir ativamente com o cumprimento dos chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que vigoraram até 2015. Após o envolvimento de Governos, sociedade civil, academia e vários outros agentes, a partir de 2016, esses desafios foram revistos e transformados nos 17 atuais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Outra curiosidade, é que desde 1995, a ACI e as Nações Unidas — por meio do Comitê para a Promoção e Avanço das Cooperativas (COPAC) — definem conjuntamente o tema para a celebração do #CoopsDay.
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Esta matéria foi escrita por Mariana Branco e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Em tempos de crise, as cooperativas confirmam sua vocação para construir um mundo melhor. Mais do que um modelo de negócios, somos um jeito diferente de gerar emprego, renda e novas oportunidade para quem coopera.
As coops têm ajudado a promover o desenvolvimento sustentável das comunidades onde atuam, sem deixar ninguém para trás. Esse, aliás, é um dos principais objetivos da Agenda 2030 da ONU – um plano global composto de 17 objetivos ambiciosos e interconectados, que buscam erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, dentro das condições que o nosso planeta oferece e sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações.
São vários os atributos que fazem do cooperativismo um exemplo de construção de um mundo melhor para todos: desde o jeito de trabalhar aos serviços oferecidos até o foco no cliente sem deixar de lado o próprio cooperado.
Para conversar sobre os diferenciais do cooperativismo e sobre o que ele tem oferecer para o mundo, a revista Saber Cooperar entrevistou o embaixador do Cooperativismo pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Roberto Rodrigues, e a assessora responsável pela implementação de estratégia de cooperação descentralizada do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, Ieva Lazareviciute.
Saber Cooperar — Aproveitando o gancho do Dia Internacional do Cooperativismo 2022, como as cooperativas ajudam a construir um mundo melhor?
Roberto Rodrigues - O cooperativismo é uma doutrina conhecida no mundo todo e, sem dúvida, é a doutrina que mais agrega pessoas no mundo inteiro. Nenhum partido político, nenhuma religião, nenhuma instituição, tem tamanha participação na atividade global do que o cooperativismo. E como é uma doutrina com princípios iguais em qualquer país do mundo, independente do regime de governo ou de opção religiosa, então ela tem realmente a condição de fazer o mundo melhor. Com uma das suas características principais: o cooperativismo é inclusivo. Ele inclui pessoas que estão fora do processo de desenvolvimento do mercado por condições econômicas, sociais ou políticas diferenciadas. Ora, pessoas excluídas, desesperadas, destroem a democracia, destroem a paz porque levam à revolução, ao descontentamento. Então, por ser um movimento inclusivo, o cooperativismo passa a ser um dos mais importantes fatores de defesa da paz social e da democracia. E hoje o que existe no mundo é uma certa erosão do processo democrático. É preciso resgatar isso e as cooperativas têm, pelo seu caráter inclusivo, uma condição notável para defender a democracia e a paz.
Ieva Lazareviciute – Sem dúvida as cooperativas representam um mecanismo de atividade produtiva intimamente ligada aos conceitos da agenda 2030. Aos conceitos de um desenvolvimento mais holístico e um desenvolvimento que não deixa ninguém para trás. Digo isso porque as cooperativas, pela sua natureza, para palavra “cooperar”, já revelam uma construção conjunta. Uma construção conjunta no caso de bens econômicos que beneficiam todos os seus integrantes de uma forma mais direta. Esse é um aspecto. No segundo aspecto está o fato de as cooperativas estarem localizadas, muitas vezes, nos locais que estão mais distantes das grandes cidades, das grandes empresas. Estão nas áreas rurais ou olhando para uma parcela da sociedade que muitas vezes não possuem acesso aos serviços de grande porte, aos serviços mais complexos. Então, neste sentido, as cooperativas estão contribuindo para não deixar ninguém para trás, que o coração principal da agenda 2030. Dessa forma, as cooperativas, pelo seu jeito de trabalhar, e pela forma, pelo local, pelo tipo de serviço oferecido, pelo foco no cliente que está mais distante, elas representam exatamente um exemplo da construção de um mundo melhor para todos.
Dentro do cooperativismo, fala-se muito que o coop é o modelo de negócios do futuro. Você concorda com essa avaliação? Por quê?
RR - O cooperativismo é o modelo de negócios do presente, pois inclui pessoas, reduz a concentração da renda, além de oferecer oportunidades e alternativas para os pequenos. Ele foi inovador no passado, é no presente e será no futuro novamente. A doutrina permite ao cooperativismo trazer para o mercado negócios inclusivos que melhoram as condições democráticas de participação de todos. Portanto já é um negócio importante e tende a ser cada vez mais um jeito diferente de fazer negócios, mais justo e mais ético, sobretudo em um mundo que sofre com a erosão do processo democrático.
IL – Sim, eu concordo fortemente e acho que cada vez mais percebemos algumas tendências no mercado que reforçam a importância e a relevância do cooperativismo. Primeiro: a questão de princípios. A forma como as empresas atuam. Como o setor produtivo atua. Os valores que eles seguem, os princípios que embasam as atividades produtivas e que acabam virando fatores importantes além do lucro financeiro na avaliação dos investimentos, dos trabalhadores, dos clientes, de toda a cadeia. Com tendência de que aqueles que são mais sustentáveis, mais alinhados com princípios inovadores, princípios do futuro, acabam recebendo mais atenção de investidores e clientes que estão mais preocupados com as questões de sustentabilidade. E cada vez mais pessoas estão preocupadas com isso.
Em segundo lugar, eu acho que também tem o fator da localização geográfica. Tem o aspecto de proximidade com as pessoas. Ter uma cooperativa na sua comunidade significa que, de um lado, tem um serviço de fácil acesso, e do outro mantemos os recursos na região, criando um movimento virtuoso de desenvolvimento regional. Neste sentido, acredito que as cooperativas fazem parte do modelo de negócios do futuro.
Que paralelo podemos traçar entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e o modelo de negócios cooperativista?
RR - Os ODS têm uma claríssima ligação doutrinária com o movimento cooperativista. Grande parte dos conceitos das ODS são parte integrante do DNA das cooperativas. Erradicação da pobreza, o cooperativismo trabalha intensamente a favor da erradicação da pobreza. Ou seja, está totalmente integrado. O segundo ODS, acabar com a fome, isso é o DNA do cooperativismo. Da mesma forma que o cooperativismo quer acabar com a pobreza, ele quer acabar com a fome, que é o maior flagelo universal e precisa ser eliminado. Então estamos integradíssimos. O terceiro ODS trata da defesa da saúde e do bem-estar, outro pilar de atuação das nossas cooperativas. Educação de qualidade também é um princípio do cooperativismo, assim como a igualdade de gênero. Há também nos ODS o fomento à energia limpa e acessível. As cooperativas fazem isso a todo tempo, em especial as cooperativas agropecuárias, que estão trabalhando a todo vigor com energia solar, eólica e biocombustíveis. O Brasil tem hoje 48% da sua matriz energética com energia renovável, enquanto a do mundo gira em torno dos 15%. Já o oitavo ODS fala em trabalho decente e crescimento econômico. O que propõem as cooperativas de trabalho? Exatamente o trabalho decente, de forma que haja um equilíbrio entre o trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores e das cooperativas. Resumindo, as cooperativas trabalham, hoje, com toda a Agenda dos ODS.
IL: Como falei anteriormente, o cooperativismo pensado bem, localizado bem, com produtos de qualidade, produzidos com tecnologia sustentáveis, inovadoras, trabalha para reduzir a pobreza por manter os recursos no local de produção, contribuem com a agricultura sustentável, que é uma ODS. Com segurança alimentar, as cooperativas podem contribuir com saúde, que é a ODS 3, podem contribuir com a educação, que é a ODS 4. Enfim, a gente pode listar todas as ODS. Podemos avaliar e identificar links muito diretos entre o modelo das cooperativas e as ODS. Claro que o escopo desse impacto positivo depende muito de como o negócio cooperativista é conduzido porque não basta ser só cooperativa para garantir que as tecnologias utilizadas sejam ambientalmente sustentáveis, ou que o produto será adaptado. De maneira em geral, o modelo cooperativista se aproxima do modelo de colaboração, cocriação, que é necessário para implementar a agenda 2030.
Na sua opinião, qual seria a receita para um mundo melhor?
RR - Essa pergunta é muito complexa. Eu diria que tem alguns valores essenciais na vida. Eu, durante um longo período da minha juventude, até da minha idade madura, tive muita dúvida sobre o sentido da vida. Claro que essa resposta nunca foi encontrada, nenhum grande filosofo encontrou. Na fé encontramos sentido para tudo, mas não havia uma resposta do ponto de vista social, econômico, político. Então deixei de olhar e buscar o sentido da vida e passei a ver as coisas com um viés contrário: diante do fato de que a vida é uma dádiva divina, que nos foi concedida por nossos pais, e que é tão espetacular que ao invés de procurar o sentido da vida decidir dar um sentido para a vida para justificar a dádiva que recebemos. E a resposta é simples: ajudando a fazer um mundo melhor. E como eu posso ajudar a fazer um mundo melhor, sendo apenas um agrônomo? Estudei um pouco mais e cheguei à conclusão que se todo mundo ensinasse o que sabe para todo mundo haveria um equilíbrio e o mundo passaria a ser melhor. Então ensinar passou a ser o meu objetivo. Então eu fui dar aula na universidade e com isso esperava estar dando um sentido para a minha vida. Isso fechou o clico virtuoso da minha vida: estamos aqui para aprender e, aprendendo, devemos ensinar a todos para que todos tenham a mesma informação. Ensinar a todos contribui para um mundo melhor. E fazer o mundo melhor é o meu sentido da vida. E esse é o caminho que tenho seguido até hoje, dando aulas nas universidades.
Por outro lado, também me preocupei em buscar a felicidade. Qual seria o caminho da felicidade? Quais instrumentos deve-se buscar para ser feliz. Estudei muito e a conclusão que cheguei é que a felicidade é o canto de um pássaro que não se pode aprisionar. Mas que precisamos buscar ouvir o tempo inteiro. E depois de estudar muito, identifiquei que há dois caminhos pelo qual se pode chegar à felicidade. Um deles é o amor, e o outro é a justiça. E ambos no sentido mais geral possível. Praticar o amor e praticar a justiça. Cheguei a seguinte frase: a felicidade é uma viagem. Não é uma estação. É uma viagem dentro de um trem que anda sobre dois trilhos: do amor e da justiça. E o combustível do trem é a esperança de fazer um mundo melhor. A receita para um mundo melhor é procurar a felicidade coletiva. Na viagem da vida, sobre os trilhos do amor e da justiça, com a expectativa de fazer um mundo melhor.
IL – não existe uma única receita para todo mundo. Cada país é diferente, cada cidade é diferente, cada empresa é diferente. Então a receita tem que ser customizada de forma mais adequada a cada situação para acelerar o desenvolvimento. Mas eu acho que existem alguns ingredientes em comum para o mundo inteiro como empatia, capacidade de analisar e aplicar as oportunidades de colaboração, respeito pelas diferenças, e o compromisso com uma mudança, com um mundo melhor, são absolutamente importantes. E, por fim, ousadia. Ousadia para inovar, testar soluções. Errar e procurar novos caminhos para chegar a soluções de funcionam e que mudem o jeito de atuar.