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Transformação pelo cooperativismo

“Quero mudar a vida de alguém assim como a minha foi transformada pelo cooperativismo”. É assim — com os olhos transbordando de esperança — que a jovem Joice Rodrigues Nunes, 18 anos, fala dos seus sonhos para o futuro.

Quero chegar na vida de uma pessoa que tenha pouca perspectiva, que não pensa alto e, por meio da minha história, fazê-la pensar de forma diferente”, planeja.

Para entender a ligação de Joice com o cooperativismo, precisamos voltar no tempo, em direção ao município de São Francisco, na zona rural de Minas Gerais. Lá, a menina Joice, então com 13 anos, teve uma aula muito diferente das demais: cultura empreendedora e cooperativista. Dessa matéria, surgiu a ideia de montar uma cooperativa de alunos, a Unicoop (fusão das palavras União e Cooperativa, da qual Joice foi a primeira presidente. “Foi transformador na minha vida”, relembra.

A cooperativa de alunos desenvolvia produtos para vender para a própria comunidade. Na época, eram produzidos biscoitos e comercializados hortaliças, dindin, frutas e polpa de frutas. Os pais eram muito presentes e exerciam tanto o papel de incentivadores quanto de compradores da Unicoop.

Durante esse período, Joice estreitou os laços com a cooperativa que tinha levado as aulas de cooperação para sua escola: o Sicoob Credichapada de onde virou cooperada em dezembro de 2016, após ganhar R$ 100 em um concurso de redação sobre cooperativismo.

Quem assinava os documentos era o meu pai, mas quem movimentava a conta sempre fui eu. Com isso, aprendi a poupar, a economizar, a guardar um dinheiro. Até troquei de celular. Foi a partir de uma conta que eu comecei a economizar e a realizar pequenos sonhos. Foi uma sensação muito gratificante e feliz”, recorda a moça.

O contato com o Sicoob Credichapada também deu a Joice um novo propósito de vida. “Eu não tinha perspectiva de crescer, de poder ajudar as pessoas, de fazer meu próprio negócio. Eu não tinha esse pensamento. Foi a partir do contato com eles que eu pude entender: eu posso mais. Eu sou capaz de mais.”

NOVOS PASSOS

Joice Rodrigues Nunes

Foi em uma viagem para Belo Horizonte, a convite do Sebrae e do Sicoob Credichapada, que Joice, aos 14 anos, conheceu o Instituto Federal do Norte de Minas — instituição na qual viria a estudar logo depois.

Impressionada com a infraestrutura, ela chegou a perguntar para o presidente da cooperativa, Marcos Maion, “o que era” aquela escola. “Eles me falaram que era uma escola técnica e tudo o que acontecia lá. Eu pesquisei mais sobre o assunto e fiz o processo seletivo. Não imaginava que ia conseguir passar em um processo seletivo, com 14 anos. Mas me senti uma vitoriosa só de fazer a prova”, relembra.

Com o resultado na mão e a vaga garantida, veio a dúvida: “vou largar a cooperativa, minha cidade e minha família? Vou atrás de melhorias para minha vida?”. A resposta não demorou a chegar.

Eu morava na roça. Pensava em casar e ter filhos. Depois de ter contato com o Sicoob, percebi que o ensino médio era apenas uma etapa de um pequeno muro que ainda tinha muito a crescer. Foi assim que eu fui despertando para querer saber mais sobre empreendedorismo e cooperativismo”, diz a jovem.

Ela saiu da casa dos pais, na comunidade de Acari (São Francisco-MG), e foi morar com uma tia no município de Chapada Gaúcha, a 100 quilômetros de Arinos, onde ficava o campus do instituto. Durante três anos, ela saía de casa às 5h30 da manhã, estudava o dia todo e retornava para casa às 18h. Nesse período, concluiu o ensino médio e o ensino técnico em meio ambiente.

VESTIBULAR

No fim de 2019, Joice prestou vestibular e conseguiu uma vaga para o curso de pedagogia em uma faculdade em Brasília de Minas. Ela se mudou para São Francisco, município a 60 km da faculdade, e deu início ao primeiro semestre do curso este ano – quando, em março, as atividades foram paralisadas por conta da pandemia de covid-19.

Foi também este ano que recebeu um convite muito especial: entrar como estagiária no Sicoob Credichapada. “Foi algo com que eu sempre sonhei, porque foi o cooperativismo que despertou tudo isso em mim. Pra mim, foi extraordinário, incrível essa proposta de trabalhar na cooperativa que me abriu o mundo”, afirma.

Joice conta que apesar de estar trabalhando há pouco tempo na cooperativa, já sente estar começando a transformar vidas. “Quando encontro um velho amigo de escola e digo o que fiz até agora, vejo que ele fica motivado a tentar fazer algo por si mesmo. Passei por momentos difíceis, mas não tive medo, porque eu sabia que eu queria mais. Já me sinto vitoriosa de vestir aquele uniforme e dizer: eu sou estagiária do Sicoob”, diz, com orgulho. E alguém tem dúvidas que essa menina ainda vai muito longe?


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e você lê, na íntegra, na próxima edição da revista Saber Cooperar, que estará disponível em nosso site nos próximos dias


Infografia: Entenda o cooperativismo de plataforma visualmente

1) Coração tecnológico
As cooperativas de plataforma não vieram para rejeitar tudo o que compõe a economia de compartilhamento. Pelo contrário. É possível aproveitar o caráter tecnológico desses negócios on-line e as possibilidades de partilha de informações e comunicação oferecidas pela internet, promovendo uma mentalidade de propriedade coletiva.

2) Solidariedade
No lugar de uma economia baseada no trabalho com funções designadas anonimamente, por meio de um aplicativo, as plataformas podem ser operadas com relações humanas, baseadas na solidariedade, no cuidado com as pessoas, no mutualismo, na cooperação e na agregação por trabalhadores, usuários, sindicatos ou até cidades.

3) Igualdade de ganhos para todos
A ideia é ressignificar o que é inovação e eficiência quando falamos de uma economia solidária, prevendo uma mudança de propriedade: da que explora o trabalhador a fim de concentrar riquezas para poucos para a que distribui democraticamente os benefícios a todos.



10 princípios do cooperativismo de plataforma, segundo Trebor Schotz

1 – Resgate à mentalidade inicial da internet de propriedade pública, coletiva e compartilhada, centrada nas pessoas que geram valor nas plataformas;
2 – Pagamentos decentes e seguridade de renda;
3 – Transparência dos dados, principalmente aos dos consumidores sobre como são coletados, analisados, estudados e para quem são vendidos;
4 – Valorização, apreciação e reconhecimento dos trabalhadores;
5 - Envolvimento dos funcionários desde a programação até o uso das plataformas;
6 – Moldura jurídica que proteja as plataformas cooperativas;
7 – Proteções sociais e benefícios aos trabalhadores;
8 – Garantias aos colaboradores associados contra comportamentos arbitrários, como demissões repentinas e sem explicações;
9 – Rejeição de vigilância excessiva do ambiente de trabalho que violem a dignidade dos funcionários;
10 – Tarefas digitais com fronteiras claras que dêem ao trabalhador o direito de se desconectar da internet.


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Exemplos para acreditar e se inspirar

Stocksy United (stocksy.com): plataforma canadense que abriga uma coleção exclusiva de fotografias e filmes selecionados manualmente para os clientes. Formada por profissionais de 63 países entre fotógrafos, líderes em curadoria, design, negócios, atendimento ao cliente e TI, a cooperativa afirma acreditar na integridade criativa, no compartilhamento justo de lucros e na co-propriedade. Os artistas associados recebem de 50% a 75% das compras de licenças. Em 2016, o site forneceu imagens para 124 das 500 empresas da lista da revista Fortune.


Up and Go (upandgo.coop): cooperativa de trabalhadoras domésticas que nasceu da vontade de eliminar os custos cobrados por agências intermediadoras do serviço. Objetivo? Oferecer serviços a preços honestos, deixando as pessoas mais felizes. As cooperadas atuam em Nova Iorque e disponibilizam em um site serviços de limpeza “amigáveis e confiáveis”, por meio de práticas de trabalho justas.


FairBnB (fairbnb.coop/): o nome da empresa inglesa faz referência à gigante da economia de compartilhamento AirBnB, mas sugere uma mudança no “mundo dos aluguéis de curta temporada”. Hóspedes, anfitriões e vizinhos, juntamente com os municípios, decidem coletivamente como tornar o processo de aluguel mais justo, sustentável e recompensador para toda a comunidade. Os lucros da plataforma são investidos de volta nas comunidades onde a plataforma opera.

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Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?

Foi da produção dos pequenos grãos de arroz e soja que saiu o sustento de Jessyca Leon ao longo dos seus vinte e poucos anos. Nascida em São Sepé, no interior do Rio Grande do Sul, essa jovem de riso fácil é filha de uma produtora da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel). O cooperativismo está na vida de Jessyca desde que puxa na memória as recordações da infância, mas ganhou um novo sabor há quatro anos, quando ela também se tornou cooperativista. O gosto é, precisamente, de uva. Hoje, ela trabalha na Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul, a Fecovinho, localizada em Farroupilha, na Serra Gaúcha.

A gente luta pelas cooperativas, está do lado dos produtores”, afirma a moça, também cooperada da Sicredi Serrana.

Assim como Jessyca, o jovem Neuryson Santana é um entusiasta do nosso movimento. Natural de Porto Nacional, em Tocantins, ele trabalha no Sicredi União MS/TO e foi na cooperativa que aprendeu a importância de buscar o melhor não apenas para si, mas para todo o grupo.

Por fim, chegamos a Minas Gerais e, aqui, mais duas histórias, separadas por 218 quilômetros: Adriana dos Santos, de Belo Horizonte, e Amanda Luiza, moradora de Arcos. A primeira é administradora e cooperada da Unicred Aliança há quatro anos, quando se apaixonou pela causa. Já Amanda é advogada e associada ao Sicoob União Centro-Oeste, com sete anos de vivência no cooperativismo.

O que essas vidas têm em comum? Jessyca, Neuryson, Adriana e Amanda fazem parte do time de 20 mulheres e 20 jovens eleitos como Embaixadoras e Jovens Embaixadores Coop, durante o 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), realizado em Brasília em 2018. Juntos, eles tentam responder uma pergunta importante: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?”.

NOVOS RUMOS

O grupo completo de embaixadores do cooperativismo: jovens e mulheres escolhidos para representar o futuro do nosso movimento


“Como eu, Jessyca, posso contribuir para a construção do cooperativismo do futuro?” Foi com a resposta a essa pergunta que a colaboradora da Fecovinho garantiu o título de embaixadora jovem do cooperativismo. Ela produziu um vídeo caseiro que trouxe a resposta em fórmulas matemáticas: “Dividindo conhecimento, multiplicando o número de cooperativistas e somando para o time”.

Para ela, ninguém melhor que os cooperativistas mais novos para fazer isso.

Está na juventude o espírito revolucionário, o caráter coletivo e o sinônimo para cooperação de quem é, naturalmente, agente de transformação social”, ensina.

A reivindicação de Jessyca é por espaço, oportunidades e investimento nos jovens cooperativistas: “O jovem é um investimento a longo prazo. É ele que queremos ver lá na frente como um dirigente. Vamos prepará-los! Entre os nossos princípios estão a educação, a formação e a comunicação. Temos tudo isso para ensinar sobre o cooperativismo. Basta fazer, estudar e investir”.

A gaúcha acredita que o futuro das cooperativas não depende de medidas mirabolantes, mas de dois passos simples: vestir a camisa e consumir produtos de cooperativas. “Quando você compra um vinho de cooperativa, por exemplo, não está comprando de uma pessoa, mas de mil cooperados. É o trabalho de todas as pessoas e das famílias associadas. Vinho, iogurte, leite, grãos… tudo produzido em uma cooperativa é mais rico de conteúdo e de vida!”.

DIVERSIDADE TRAZ RESULTADOS

O jovem Neuryson Nascimento veio do Tocantins para o 14º CBC

Já no time das Embaixadoras Coop, fala-se em temas da atualidade como chave para o futuro. Adriana dos Santos defende a necessidade de se adaptar às mudanças tecnológicas. “O cooperativismo pode ser um modelo de negócios do futuro! Para isso, é necessário acompanhar tendências que movem o mercado, como as novas tecnologias e a economia de compartilhamento. Tudo isso, levando em conta os princípios cooperativistas de ajuda mútua, compartilhamento e democratização de ganhos de forma justa”, alerta.

A mineira também defende a necessidade de trazer todos os públicos para o cooperativismo.

Precisamos de mais diversidade, incluir jovens, mulheres e negros. Em um congresso como esse, por exemplo, temos pessoas de várias regionalidades, culturas e percepções que nos fazem entender mais como funciona cada cooperativa nos diferentes lugares do país”, argumenta.

Uma pesquisa da Harvard Business Review reforça a sugestão da moça: empresas com maior diversidade entre os colaboradores têm 45% mais chance de aumentar a participação no mercado. As instituições que investem nesse fator podem ter resultado 35% melhor que as concorrentes, segundo pesquisa da consultoria McKinsey and Company, em 12 países. Outro dado da Hay Group mostra que os funcionários de organizações diversas têm 17% mais engajamento e 75% sentem liberdade para inovar no trabalho.

Quem também aposta na diversidade como caminho para o cooperativismo é Amanda Luiza, adotando uma perspectiva de gênero: “O cooperativismo do futuro deve ser construído com a união e o empoderamento feminino. Este é o momento de o cooperativismo ouvir suas associadas, colaboradoras e guerreiras”. A advogada defende que não faltam boas ideias nas mentes femininas, mas oportunidades para apresentá-las. Como medida prática para isso, ela sugere a inserção obrigatória de mulheres e jovens em órgãos estatutários.


HIGHLIGHT: NÚMEROS

493 mulheres e 171 jovens de todo o Brasil se candidataram às vagas de embaixadores cooperativistas. Eles participaram de um concurso cultural no qual responderam à pergunta: “Como podemos construir juntos o cooperativismo do futuro?” Os autores dos melhores vídeos e textos foram convidados a participar do CBC com tudo pago pelo Sistema OCB.

Assista aos vídeos dos 20 jovens embaixadores do cooperativismo

https://www.youtube.com/playlist?list=PLd_xS9FKk7V82wqNKwda-ORAfOr4IVfCd

POVO-FALA

Jovens embaixadores

Como posso ajudar a construir o cooperativismo do futuro?

“O Cooperativismo do futuro deve ser construído com a União e o Empoderamento feminino; a mulher atual não quer elogios, quer respeito e possui grandes ideias, estando disposta a lutar por elas e pela mudança no rumo do Cooperativismo no mundo”
Amanda Luiza de Sousa - Sicoob União Centro Oeste (MG)

Sendo cooperados ativos e atuantes da cooperativa, mostrando ao mundo a importância do trabalho coletivo em prol de um objetivo comum. Para isso, é preciso cada um conquistar seu espaço querendo o melhor para as gerações futuras.
Elisetei Bellettini - Cooperativa Agroindustrial Coopeja (SC)

“Disponibilizar mais espaço para que lideranças femininas possam demonstrar seu potencial com muita garra e determinação no desenvolvimento da comunidade por meio da cooperação.
Isabela Albuquerque - Lar Cooperativa Agroindustrial (PR)

“Tendo interesse genuíno no ser humano, com foco no coletivo e não no individual, cada cooperativista assumindo a missão de viver este propósito fará do mundo, um lugar melhor, mais justo e mais cooperativo.
Marlian Catarina - Credicomin (SC)

“Disseminando e incentivando a cultura do cooperativismo para as crianças e adolescentes, pois quando se entende o que é cooperar, é impossível não se apaixonar por essa ideologia. Assim podemos garantir os representantes do futuro do cooperativismo.
Michele Moura da Silva - Unicred (MT)

“Incluindo as mulheres e jovens com iguais condições de participação na cooperativa, principalmente na governança”.
Vera Lucia Ventura - Sicoob Norte Sul (BA)

Confira todas as ideias dadas por nossas embaixadoras do cooperativismo na página do Sistema OCB no facebook


Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O futuro é hoje!

Atenção gestores: a sustentabilidade do seu negócio depende de como você lida com as mudanças trazidas pela internet e pelas novas tecnologias. Marcas consagradas desapareceram, profissões estão sendo extintas, alguns e serviços estão ficando obsoletos. Parece o apocalipse, mas não é. No universo cooperativista temos plenas condições de fazer os ventos da mudança soprarem a nosso favor. Sabe por que? “O caminho para o sucesso não é pavimentado por tecnologias, mas por pessoas”. A frase é de Sandro Magaldi, autor do livro Gestão do Amanhã e fundador de uma startup com foco em gestão e empreendedorismo. E até ele — que vive da inovação — reconhece: a tecnologia é apenas uma ferramenta de mudança. As boas ideias surgem de pessoas.

Segundo Magaldi, entender como a tecnologia muda o comportamento da sociedade é o primeiro passo para saber como lidar com as transformações causadas por ela.

Não adianta pensar com a nossa cabeça. O primeiro passo é entender que o mundo mudou. O maior desejo dos jovens da minha geração, por exemplo, era ter um carro. Hoje, já não há mais tanto interesse porque existem aplicativos que resolvem o problema da locomoção para eles. Tanto, que houve uma redução de 21% na emissão de carteiras de habilitação no Brasil nos últimos três anos”, explica.

Justamente por isso, o desafio dos gestores das montadoras e dos taxistas não é quebrar a cabeça para desenvolver novas tecnologias para brigar com essa realidade. O desafio é entender o que as pessoas querem e oferecer soluções diferenciadas para elas. "A gente precisa aprender a desaprender e reaprender”, acrescenta André Bello, professor do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Bello chama atenção para o fato de que as novas tecnologias estão apenas começando a aparecer. “Ainda vamos ter um salto tecnológico gigantesco nos próximos anos. E precisamos saber usar a tecnologia a nosso favor, para sanar as nossas necessidades, ao invés de competir com ela. Acredito que futuro será totalmente diferente de tudo que já foi vivido. E nesse futuro, não serão os mais fortes que sobreviverão, e sim os mais rápidos”.

Outro ponto importante: existe uma falsa percepção de que a inovação só é feita por pessoas jovens. "Inovação tem a ver com a forma de pensar, e não com idade”, garante o fundador da plataforma Meu Sucesso. Para ele, a empresa que possuir profissionais com conhecimento de mercado e capacidade para inovar tem seu futuro garantido. "O importante é não ter medo de mudar. Algumas marcas estão quebrando por fazer a mesma coisa muito bem feita por muito tempo. E nos dias de hoje precisamos de mais: é necessário fazer diferente", conclui Magaldi.

GOVERNANÇA COOPERATIVA

Se as pessoas são o principal ingrediente para o crescimento de um empreendimento, a implantação de um modelo de governança é similar a uma receita, capaz de fazer todos os profissionais da empresa atuarem de forma conjunta e sinérgica, gerando resultados melhores e mais sustentáveis.

Na prática, a governança cooperativa é um modelo de gestão fundamentado nos valores e princípios cooperativistas, que estabelece as políticas internas e os órgãos necessários para garantir a transparência, a ética e a perenidade dos negócios. Desde 2016, as melhores práticas relacionadas ao tema formam sistematizadas no Manual de Boas Práticas de Governança Cooperativista , elaborado pelo Sistema OCB.

"Esse modelo de referência de governança tem auxiliado nossas cooperativas a melhorar suas estruturas de gestão e, consequentemente, a melhorar sua performance e competitividade”, explica Luciana Mattos, uma das consultoras responsáveis pelo lançamento da publicação. Ela esclarece que todas as políticas e estruturas sugeridas pelo manual levam em consideração os princípios e as particularidades do modelo de negócios cooperativista. Afinal, somos diferentes, com orgulho, já que nossas decisões são sempre pautados por nosso compromisso com as pessoas e com o desenvolvimento sustentável das comunidades nas quais atuamos.

Dentro desse nosso modelo referencial, gestão e governança são duas engrenagens que devem estar funcionando sempre; e devem estar bem alinhadas porque se uma travar, a outra pode até demorar, mas trava também", disse.


Governança Cooperativista foi elaborado por um grupo técnico constituído por profissionais do Sistema OCB, representando as cinco regiões do país. A publicação aborda conceitos e princípios importantes sobre governança aplicada a sociedades cooperativas e trata de outras questões fundamentais, como o papel de cada agente, além da função dos órgãos de administração e fiscalização. Também são ressaltados os trabalhos e a relevância dos comitês de assessoramento e das auditorias, assim como da ouvidoria e do relacionamento constante e estreito com o cooperado.
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5 Princípios da Boa Governança Cooperativa

  1. Autogestão
    É o processo pelo qual os próprios cooperados, de forma democrática e por meio de organismos de representatividade e autoridade legítimos, assumem a responsabilidade pela direção da cooperativa e pela prestação de contas da gestão. Os agentes de governança são responsáveis pelas consequências de suas ações e omissões.
  2. Senso de Justiça
    É o tratamento dado a todos os cooperados com igualdade e equidade em suas relações com a cooperativa e nas relações desta com suas demais partes interessadas.
  3. Transparência
    É facilitar voluntariamente o acesso das partes interessadas às informações que vão além daquelas determinadas por dispositivos legais, visando à criação de um ambiente de relacionamento confiável e seguro.
  4. Educação
    É investir no desenvolvimento do quadro social visando à formação de lideranças, para que estas tragam em seus conhecimentos de gestão e administração a essência da identidade cooperativa, base de sucesso e perpetuidade de sua doutrina.
  5. Sustentabilidade
    É a busca por uma gestão ética nas relações internas e externas para geração e manutenção de valor a todas as partes interessadas, visando à perenidade da cooperativa, considerando os aspectos culturais, ambientais, sociais e econômicos.


Esta matéria foi escrita por Sabrine Meneses e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Divulgação em rede

Somos muitos. Somos mais de 15,5 milhões de cooperados no Brasil. E, hoje, nossas cerca de cinco mil cooperativas geram 427,5 mil empregos diretos no país, ajudando a movimentar a roda da economia. São números e impactos inquestionáveis, mas ainda assim temos muitos desafios pela frente. E ecoar esses resultados para a sociedade é um deles. 

“Cooperativismo é algo sério, que traz resultado concretos para a vida das pessoas, como o desenvolvimento social. E é isso o que a gente precisa falar”, explica Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB. “Hoje, a gente percebe que ganha o coração das pessoas quando elas entendem o que é uma cooperativa e o bem que ela faz para seus cooperados”.

Os caminhos para potencializar a divulgação do cooperativismo no Brasil são constantemente debatidos, aqui, no Sistema OCB. E como bons cooperativistas, nós já começamos a desbravá-los. Confira:

CAMINHO 01 — PENSAMENTO DIGITAL

Somos todos testemunhas da maior revolução tecnológica já ocorrida na humanidade.  Desde a abertura da internet ao público, em 1995, a forma como nos relacionamos com o mundo e com as outras pessoas mudou completamente. Quase 70% da população mundial está conectada à internet 24 horas por dia, sete dias por semana, por meio do celular. Pagamos nossas contas sem sair de casa e basta um toque na telinha do smartphone para resolver nossos problemas. Abrindo um aplicativo, conseguimos um carro para ir aonde quisermos. Clicando em outro quadradinho, a gente encontra resposta para qualquer pergunta.

Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia

As novas tecnologias da informação estão mudando a sociedade, a forma de comercializar produtos e a relação entre as organizações e os clientes. É uma transformação cultural, comportamental e tecnológica”, explicou Arthur Igreja, especialista em tecnologia e informação, durante um dos eventos realizados pelo Sistema OCB, antes da pandemia.

Justamente por isso, é essencial avaliar a forma como as cooperativas estão falando digitalmente os seus cooperados e clientes. “A pergunta que deve ser feita é simples: qual o grau de burocracia para as pessoas chegarem nos produtos e serviços de uma cooperativa”, argumentou Igreja.  Segundo ele, para ganhar mercado na nova economia digital, é preciso entender o problema que as pessoas querem resolver e qual o caminho mais conveniente para fazer isso. “E pode ter certeza: as pessoas encontrarão a informação que precisam, com a sua ajuda ou apesar de você”, enfatiza.

De fato, os clientes da atualidade também não querem ser tratadas como os do passado. “Você não vai conseguir tocar as pessoas ‘bombardeando’ elas [de informações].  Todo mundo está impulsionando postagens. O usuário está recebendo isso de todo mundo. Ele quer se relacionar. Está todo mundo gritando na internet. Não é assim que você vai engajar as pessoas. Você vai engajar as pessoas com conteúdo de qualidade, capaz de agregar valor as suas vidas”, destacou.

Está todo mundo gritando na internet. Não é assim que você vai engajar as pessoas. Você vai engajar as pessoas com conteúdo de qualidade, capaz de agregar valor as suas vidas. Arthur Igreja, especialista em inovação e tecnologia

CAMINHO 2 — FOCO NAS PESSOAS

Romeo Busarello, especialista em marketing

Em um mundo conectado em rede, tem mais chances de vencer quem percebe algo simples: na era da inovação digital, quem mandam são as pessoas. E elas querem ser ouvidas, levadas em consideração e, principalmente, querem ter seus desejos atendidos de forma rápida e eficiente.

“Para ganhar espaço, toda  empresa ou cooperativa precisa se adaptar e colocar as pessoas — sejam elas clientes ou cooperados — em primeiro lugar”, analisou Arthur Igreja. Não dá para criar um produto ou vender um serviço sem antes ouvir a opinião de quem consome. A era do executivo brilhante, que tomava decisões sozinhos sem precisar sair do escritório, acabou. Quem não ouvir o que o cliente tem a dizer está fadado ao fracasso.

De acordo com o especialista em marketing, Romeo Busarello, é fundamental estar atento ao público e aos seus desejos. Mais que isso! É fundamental construir uma relação de proximidade com cada pessoa da nossa rede. Mas isso nem sempre é fácil.

“Acompanhar as mudanças trazidas pelas novas tecnologias da informação exige dedicação”, alerta Busarello. “Estudar e buscar conhecimento são fundamentais para qualquer profissional. É preciso ir atrás de educação. E não digo somente sobre MBA, pós-graduação ou doutorado, falo cada vez mais de cursos de uma semana ou 15 dias, participar de eventos e congressos com profissionais de mercado. O importante é fazer conexões e ter uma alma digital”.

O importante é fazer conexões e ter uma alma digital" Romeo Busarello, especialista em marketing

CAMINHO 3 — UNIR PARA CONQUISTAR

A Casa do Cooperativismo já deu o primeiro passo para aumentar o reconhecimento do cooperativismo em todo o Brasil. Em 2020, lançamos uma campanha nacional de divulgação do nosso movimento, que contou com a participação do ídolo Gustavo Kuertener. Além disso, lançamos, em 2017, o Movimento SomosCoop —  criado para fortalecer a imagem do nosso modelo de negócios no Brasil e o orgulho de fazer parte de uma cooperativa. A iniciativa seguirá como a peça central da nossa divulgação nos próximos anos, já que vem trazendo ótimos resultados.

Estou há mais de 30 anos no cooperativismo e confesso que ainda não tinha visto um projeto tão diferenciado e capaz de dar uma projeção tão grande aos nossos produtos e às nossas cooperativas quanto o SomosCoop”, elogiou Samuel Zanello Filho, coordenador de comunicação do Sistema Ocepar, durante o Congresso Brasileiro do Cooperativismo, realizado em Brasília, há dois anos.

Na avaliação do jornalista, só é preciso ter um cuidado: o SomosCoop só tem significado se todos nós, cooperativistas, nos engajarmos. “Quanto mais pessoas e mais cooperativas aderirem ao SomosCoop, maior será a receptividade por parte do cidadão comum”, garante.

Justamente por isso a Ocepar abraçou o movimento SomosCoop desde o seu lançamento, estimulando as cooperativas do estado a utilizarem essa marca em seus produtos. “Precisamos educar o consumidor a dar preferência aos produtos das cooperativas, destacando que eles são mais sustentáveis e têm impacto direto na melhora de vida de toda a comunidade”, defendeu Zanello.

Tal percepção é endossada por uma pesquisa realizada com 1.023 consumidores do Paraná. O estudo, realizado em 2017, revelou que  os entrevistados dariam prioridade aos produtos cooperativistas se tivessem conhecimento do impacto que causam na sociedade e na economia. Além disso, constatou que 96% dos entrevistados aprovam os produtos de cooperativas, destacando o bom preço e a qualidade dos mesmos. Outros 33% afirmaram que desconhecem quais produtos são de cooperativas.

Para deixar bem claro quais produtos têm DNA cooperativista, o Sistema COB lançou, ainda, o Carimbo SomosCoop, disponível para uso gratuito por qualquer cooperativa brasileira.

Precisamos educar o consumidor a dar preferência aos produtos das cooperativas, destacando que eles são mais sustentáveis e têm impacto direto na melhora de vida de toda a comunidade” Samuel Zanello Filho, coordenador de comunicação do Sistema Ocepar

CAMINHO 4 — FALAR UMA MESMA LÍNGUA

Daniela Lemke, gerente de Comunicação do Sistema OCB

Um dos principais desafios da comunicação, nesse sentido,  é alinhar o discurso institucional do cooperativismo. A forma de falar sobre o nosso movimento difere muito de Norte a Sul do país”, constata Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB.

Dispostos a reverter esse quadro, os comunicadores da Casa do Cooperativismo e das unidades estaduais do Sistema OCB estão produzindo um guia de discurso institucional sobre o cooperativismo.

Outra estratégia em andamento é a avaliação de qual formato de divulgação do cooperativismo traz maior impacto para o nosso movimento. “No momento, estamos seguindo esse caminho nas redes sociais com a técnica de  storytelling [contação de história]. Afinal, contar histórias tem tudo a ver com o cooperativismo; e cooperativismo tem tudo a ver com pessoas. Outra aposta são vídeos curtinhos com um resumo jornalístico do que está acontecendo de mais importante no cooperativismo, o Minuto Coop.”, exemplifica Daniela.

Contar histórias tem tudo a ver com o cooperativismo; e cooperativismo tem tudo a ver com pessoas” Daniela Lemke, gerente de comunicação do Sistema OCB


Esta matéria foi escrita por Tcérena Guimarães e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De uma cooperativa para a outra

Nossos ancestrais sobreviveram e perpetuaram a espécie graças à cooperação entre os membros do grupo a que pertenciam. Quem sustenta isto é o escritor israelense Yuval Noah Harari em seu best-seller, o livro Sapiens Uma breve história da humanidade. E não só. Especialistas de todo o mundo apontam a capacidade colaborativa como um dos principais atributos para a humanidade enfrentar os efeitos do novo coronavírus.  Nesse cenário, as cooperativas largam na frente. Afinal, cooperar é o nosso negócio.

O Brasil conta, hoje, mais de 15 milhões de cooperados distribuídos em 6.680 cooperativas de diversos ramos. Diante de tamanha pluralidade de pessoas, produtos, serviços e ideias, é perfeitamente possível encontrar — dentro do próprio setor— soluções para superar este momento. Para ajudar todo este pessoal a se encontrar no mundo virtual, o Sistema OCB lançou, em abril, a plataforma Coopera Brasil. A vitrine virtual reúne cooperativas, produtos e serviços em um único espaço na internet. O objetivo é incentivar a intercooperação, ou seja, realização de negócios entre as cooperativas.

Até meados de junho, quase 240 cooperativas de todo o Brasil já estavam divulgando seus produtos e serviços na plataforma. Na ferramenta, o usuário pode buscar aquilo de que precisa, pesquisando por estado e município. Produtos como chocolates, carnes, verduras, grãos e até energia eólica são oferecidos por meio da plataforma. E não para por aí. Também há oferta de serviços de crédito, transporte de mercadorias e assistência em saúde.

Sempre incentivamos as pessoas a comprarem do cooperativismo. Elas pensam: ‘Ok. Eu quero comprar de uma cooperativa da minha cidade, mas não sei quais atuam aqui’. Por isso, apesar de o foco serem as cooperativas, o site está disponível para todas as pessoas que queiram buscar produtos e serviços do cooperativismo. Ali elas saberão onde encontrá-los”, explica a gerente-geral da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Tânia Zanella.

Segundo Tânia, a Coopera Brasil surgiu como uma resposta rápida da OCB à pandemia. “Perguntamos aos dirigentes de cooperativas quais eram as dificuldades para fechar negócios no contexto atual e do que eles precisavam. A principal demanda foi por divulgação de produtos e serviços”.

A iniciativa se soma a outras ações do Sistema OCB para amenizar os efeitos negativos do novo coronavírus e ajudar as cooperativas a encontrar novas estratégias de vendas. Nos últimos meses, por exemplo, a organização lançou diversos materiais para contribuir com a inserção do cooperativismo no mercado digital. Entre eles, os e-books Como vender na internet, Marketing Digital em Tempos de Crise e Como criar aulas on-line . De acordo com a gerente-geral da OCB, um dos efeitos da pandemia é o crescimento dos negócios no ambiente virtual, uma realidade que veio para ficar e que traz muitos desafios, e também oportunidades para o setor.

A Coopera Brasil é aberta a qualquer cooperativa, mesmo as que não integram o Sistema OCB. Para participar, os interessados precisam acessar o site (https://www.cooperabrasil.coop.br/) e preencher o formulário de adesão. É possível indicar informações de contato da cooperativa, produtos e serviços oferecidos, além de canais de vendas e mídias sociais.

Entre as cooperativas que já se cadastraram, a maioria é do ramo agropecuário, seguido pelo ramo de transporte.  O setor de trabalho, produção de bens e serviços vem em terceiro lugar. Na sequência aparecem saúde, crédito e infraestrutura. Rio Grande do Sul é o estado com mais cooperativas inscritas, mas houve adesões de Norte a Sul, totalizando 21 estados representados e mais de 150 municípios.


JUNTOS VAMOS MAIS LONGE

Para a gerente de negócios da Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior, Caroline Ferreira, a Coopera Brasil é uma oportunidade de alcançar outros mercados em nível nacional.
É mais uma forma de divulgar a existência da cooperativa, os produtos que oferecemos para todo o Brasil. Em razão da pandemia, tivemos queda na comercialização, em alguns segmentos. Uma plataforma específica para as cooperativas agrega, pois as pessoas que vão acessá-la têm objetivo de conhecer e comprar de cooperativas.”

Localizada no município de Harmonia (RS), a Cooperativa dos Suinocultores do Caí Superior atende, além da Região Sul, estados das regiões Sudeste e Nordeste. Recentemente, começou a exportar seus produtos para outros países. Para chegar até aqui, houve um longo caminho de cooperação. Essa história começou em 1935, quando um grupo de produtores de suínos se juntou para conseguir transportar seus animais até o frigorífico mais próximo, a cerca de 25 quilômetros de distância. Hoje, os cooperados contam com um catálogo de mais de 200 produtos, frigorífico próprio, fábrica de ração para alimentar os animais e três supermercados onde oferecem a carne suína diretamente ao consumidor final.

Vendas para governos (incluindo hospitais e escolas) e para empresas de atacado e indústria representam a maior parte dos negócios da Cooperativa de Suinocultores do Caí Superior. E, mesmo com a pandemia, o faturamento da entidade não caiu. Apesar da queda das vendas para escolas cujas aulas foram suspensas e para restaurantes e hotéis, o bom desempenho junto ao varejo ajudou a manter os resultados positivos.

A intercooperação é outra estratégia importante. Os negócios da Cooperativa de Suinocultores do Caí Superior incluem relação de compra e venda com outras cinco cooperativas gaúchas: Cooperativa Piá, Santa Clara, Languiru, Cosuel e Cooperativa Tritícola Sepeense. Um dos produtos comprados de outras cooperativas, segundo Caroline, é a carne de frango utilizada na fabricação de salsichas.

CUIDANDO DO OUTRO

A Cooperativa de Enfermeiros do Amazonas é uma das mais de 40 cadastradas no segmento de trabalho, produção de bens e serviços na Coopera Brasil. Criada há mais de 20 anos, a entidade, formada por auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros, atua principalmente em hospitais públicos do estado, sempre selecionada por meio de licitação pública.

Fiel à essência da enfermagem e do cooperativismo, ou seja, à preocupação no cuidado do outro, a Cooperativa de Enfermeiros do Amazonas redobrou a atenção após a chegada do novo coronavírus ao país. Para proteger a todos os profissionais associados, a entidade comprou máscaras, protetores faciais e aventais. “Sabíamos que havia falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos hospitais, então agimos para garantir a segurança da saúde dos nossos cooperados”, explica o presidente da entidade, Wilson Borges. O dirigente espera que a presença na Coopera Brasil ajude esse cuidado a chegar ainda mais longe.

Esperamos galgar outros horizontes e levar nossos serviços a outros estados com a mesma qualidade técnica e atenção ao paciente”, acrescentou Borges.

O CAMPO TAMBÉM É DIGITAL

Alcançar novos mercados está entre os objetivos da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Centro Nordeste Mineiro (Sicoob Credicenm). Para a presidente da cooperativa, Carla Generoso, a plataforma Coopera Brasil, por sua abrangência nacional, pode auxiliar o Sicoob Credicenm a conquistar novos correntistas e oferecer serviços financeiros para mais cooperativas.

Com sede em Guanhães (MG), o Sicoob Credicenm atende 14 municípios do nordeste mineiro, oferecendo serviços bancários com taxas e juros baixos a pequenos produtores rurais. Segundo Carla, a presença digital tem sido uma estratégia importante para vencer os desafios impostos pela Covid-19. Para que ninguém fique de fora, a cooperativa se preocupou em orientar os cooperados no uso das ferramentas. Uma das soluções tecnológicas utilizadas pela entidade é o Sicoob Faça Parte. Desenvolvido pelo Sicoob Nacional e disponível para todas as cooperativas de crédito do sistema, o aplicativo permite a adesão de novos correntistas pela internet.

Hoje já temos 200 novos cooperados que aderiram exclusivamente por meio do banco digital”, comemora Carla.

Para ajudar as cooperativas de produtores da região a vencer os impactos financeiros da Covid, o Sicoob Credicenm renegociou empréstimos tomados por seus clientes e concedeu-lhes novos prazos de pagamento. Em uma ação de intercooperação com outras três cooperativas de Governador Valadares (MG), o Sicoob Credicenm passou a oferecer linhas de créditos com juros mais baixos do que os já praticados no mercado. Juntas, as quatro cooperativas atuam em 35 municípios mineiros. Só o Sicoob Credicenm destinou R$ 20 milhões para essas operações.

Carla espera que o Coopera Brasil intensifique ainda mais a colaboração entre cooperativas.

Nosso papel de cooperativa é conseguir prosperar com a comunidade da nossa região. Sozinhos, a gente não faz nada. Quando nos juntamos a um outro negócio, à outra expertise, conseguimos ampliar o olhar e trazer resultados efetivos para nossas estratégias. A cooperação é essencial para superarmos este momento de crise, e para que a comunidade se fortaleça e acredite que há pessoas e entidades pensando nelas, dispostas a ajudá-las”, concluiu.


NÚMEROS

239

Cooperativas cadastradas

7

Ramos do cooperativismo presentes

21

Estados representados

36

Categorias de produtos e serviços cadastrados



Esta matéria foi escrita por Adriana Araújo e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Derrubando preconceitos

A Cooperativa de Egressos e Familiares de Egressos (Coopereso) de Sorocaba (SP) surgiu em 2004 com o objetivo de ajudar ex-presidiários, chamados egressos porque deixaram o sistema prisional, a conseguirem trabalho. “A cidade era preconceituosa em relação a essas pessoas e não oferecia possibilidades de emprego”, lembra a presidente Miraci Cugler.


A ideia de criar uma cooperativa surgiu em reuniões de egressos com a equipe da Fundação de Amparo ao Preso (Funap). No entanto, os primeiros anos de trabalho mostraram que vencer o desafio do preconceito não seria fácil. A proposta de uma cooperativa de reciclagem não vingou porque muitos comerciantes temiam furtos e não queriam os egressos circulando por seus estabelecimentos.


Foram três anos difíceis, até que em 2007 a Coopereso firmou convênio com o município para realizar a manutenção de praças e espaços públicos – com podas, jardinagem e pequenos reparos. A partir dessa chance, os egressos puderam mudar o olhar da população sobre sua categoria.


Há dez anos, quando se formaram as equipes nas praças públicas para fazer as atividades, os moradores chamavam a viatura para saber o porquê daquelas pessoas estarem ali pois temiam que se juntassem para furtar as casas ao redor. Hoje é o contrário. Quando a comunidade têm problema em uma praça, ligam e perguntam onde está a nossa equipe para resolver aquele problema.”


Atualmente, há 110 cooperados na Coopereso, mas o número já chegou a 190. Segundo Miraci, o modelo cooperativo funciona bem porque “cada componente, cada pessoa é importante tanto para o projeto coletivo quanto para construir nova perspectiva de vida”. O índice de reincidência entre os que passaram pela cooperativa é de apenas 1%.


“Tentamos passar para o egresso que há uma oportunidade de vida dentro da legalidade. Nos seis primeiros meses, a pessoa sai do sistema prisional revoltada contra o Estado, sentindo que não fizeram nada por ela. Quando encontra essa oportunidade, ela tem uma mudança de mentalidade, um resultado positivo e sai abraçando a causa”, diz.


Além do emprego, a Coopereso também oferece apoio psicológico e assistência social.

Trabalhamos com núcleo familiar, tentamos decifrar se a pessoa tem problema com os filhos, com os pais e buscamos dar uma assistência completa”.


Com o tempo, alguns encontram emprego noutras empresas, outros tornaram-se empresários e os que deixam a cooperativa a indicam para novas pessoas e vão renovando as oportunidades. Há ainda aqueles que seguem na cooperativa e se envolvem com sua gestão, tornando-se também diretores, conselheiros e gestores. “Numa cooperativa o que se prega é que todos somos iguais. Quem vem demonstrando interesse, acaba por encabeçar funções e assim temos crescido para nos sentirmos parte da sociedade e integrarmos mais pessoas”, resume a presidente.

Cada componente, cada pessoa é importante tanto para o projeto coletivo quanto para construir nova perspectiva de vida.”
Miraci Cugler. Presidente da Coopereso


PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS E AGENDA 2030

A inclusão econômica e comunitária de grupos em situação de vulnerabilidade social atende ao 7º princípio cooperativista, o “interesse pela comunidade”. Além disso, ao estimular o aperfeiçoamento contínuo de seus cooperados ou funcionários atende também ao 5º princípio, que se refere à promoção de “Educação, Formação e Informação”.
Mas não é só isso. O trabalho com grupos socialmente ou economicamente marginalizados também tem tudo a ver com os objetivos da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que têm sido incentivados por entidades cooperativas internacionais por proporem metas muito similares às que as cooperativas já vêm realizando há anos.


FIQUE LIGADO
As cooperativas apresentadas nessa matéria ajuda a cumprir os seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030


Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Compromisso muito além da legislação

A Unimed Londrina, no Paraná, sempre teve colaboradores com limitações físicas, mas em 2016 implantou um programa específico para ampliar o quadro com a inclusão de pessoas com deficiência intelectual e deficiência auditiva severa e profunda. Atualmente, cerca de 5% dos seus mais de 600 colaboradores possuem alguma deficiência. Eles estão alocados em áreas diversas, como apoio operacional, financeiro, gestão de contas, atendimento, SAC, farmácia e controladoria.


Conforme explica a gerente de Responsabilidade Social, Fabianne Piojetti, o Projeto Unir é focado em duas etapas: a seleção e, em seguida, a adaptação da pessoa com deficiência. Durante a seleção, a assessoria de desenvolvimento humano, o setor de responsabilidade social, um psicólogo ou assistente social e, em muitos casos, um familiar do candidato discutem suas habilidades e restrições para checar se ele está apto para determinada vaga. Se necessário, contam também com intérprete de língua de sinais.

Temos um trabalho detalhado para que eles consigam ter uma função adaptada às suas limitações, mas também sintam-se desafiados”, explica.

Além disso, o candidato é encaminhado para conhecer sua potencial área de trabalho. “Ele é levado na área para fazer um reconhecimento, ver se sente-se bem ali. Afinal, ele também tem de aceitar a Unimed, não é só a Unimed aceitá-lo”, diz.


Uma vez contratados, esses novos profissionais passam por um período de adaptação acompanhado de perto pelo chefe direto. Houve funcionária com deficiência intelectual, por exemplo, que apresentou dificuldade de leitura, habilidade necessária para sua função. A Unimed, então, contatou a instituição social que ela frequenta e pediu para reforçarem o ensino. Em pouco tempo, ela estava adaptada.


Em outro caso, uma funcionária com deficiência inicialmente designada para a recepção mostrou-se tímida e foi realocada para uma função administrativa. “Agora ela está dando show, a gerente está adorando o trabalho dela. É só questão de adaptação”, conta Fabianne.


A primeira colaboradora do projeto que chegou à Unimed Londrina, em 2016, foi Gracielle Nicolino, que tem deficiência intelectual e atua na farmácia. Sua colaboração deu tão certo que, recentemente, o setor pediu por mais uma contratação.

Ela é uma querida, abriu portas para outras pessoas e agora é ela quem ensina e dá direcionamento à nova funcionária”, diz Fabianne.

A gerente destaca, ainda, como as contratações são benéficas não só para os contratados, mas para os demais funcionários e até para as instituições sociais da cidade. “Os funcionários só se surpreendem positivamente. Mesmo quando alguém tem dificuldade, eles apoiam a adaptação e isso muda o olhar deles para serem mais pacientes e trabalharem em equipe. É motivador”. Ela conta, ainda, que no início da contratação de deficientes auditivos foi preciso contar com intérpretes de libras, mas que agora muitos funcionários decidiram fazer o curso disponibilizado pela cooperativa para se comunicarem com os colegas surdos.

Para ela, a iniciativa mostra o compromisso da Unimed com um dos sete princípios cooperativistas: o interesse pela comunidade. “Muitas empresas buscam só preencher a cota exigida por lei, mas o que elas têm feito pelo aprendizado e permanência desses colaboradores? Aqui temos um interesse genuíno pela comunidade”, diz.

Além do Projeto Unir, a Unimed Londrina também participa da campanha da Unimed Nacional Eu ajudo na lata desde 2013, e já doou mais de cem cadeiras de rodas a maio de 30 instituições.



Para nós, trabalhar com pessoas com deficiências é um ganho porque as dificuldades são resolvidas por todos e nos tornam mais unidos.”
Fabianne Piojetti, gerente de Responsabilidade Social da Unimed Londrina


Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação



Juventude no campo

As novas tecnologias do campo podem atrair mais profissionais jovens para o campo. Essa é uma das apostas dos especialistas do Agro 4.0 e talvez seja a que mais precisa virar realidade nos próximos anos. Afinal, o censo agropecuário mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que os jovens com menos de 30 anos representam apenas 5% dos produtores ocupados no campo — um número que precisa aumentar urgentemente para garantir a sustentabilidade do agronegócio.

Fábio Camargo, 32, é um dos jovens talentos do agronegócio brasileiro

O consultor Fábio Camargo, 32 anos, é um dos profissionais da nova geração que se aproximaram do mundo agro por causa da tecnologia. Natural de São Paulo, onde ficou até os 17 anos, Fábio se formou em agronomia pela Universidade Federal de Lavras e se especializou durante a graduação em análise de dados de satélite.

Como sempre gostou de tecnologia, chegou a fazer um intercâmbio em uma universidade agrária no Canadá,  experiência que ampliou horizontes sobre relação dos mundos agropecuário e digital.

De volta ao Brasil, ele fez estágio em uma fazenda de Mato Grosso do Sul que produz soja, milho e gado de corte. O ótimo desempenho levou à contratação pela empresa onde ainda trabalha. “Fui contratado em fevereiro de 2016 para cuidar das imagens de satélite e dos drones dos clientes. Trabalho num escritório, fazendo projetos para o campo”, relata Fábio.

O agrônomo também é responsável pelo Projeto Preá, que recruta profissionais jovens com habilidade nas novas tecnologias aplicadas ao agro. Além disso, Fábio se engajou no grupo jovem da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que promove encontros e discussões sobre a participação de profissionais mais jovens no trabalho do campo.

“A maioria dos participantes do Famasul ainda tem ensino técnico ou superior na área agropecuária, mas queremos falar também com o jovem advogado, médico e administrador, porque o agro demanda profissionais de todas as áreas”, ressalta. Ainda segundo ele, a cada evento promovido, sempre aparecem novas pessoas,  que não tem nada a ver com o mundo agro e nem são herdeiros de produtores rurais. “Com certeza a tecnologia está contribuindo para isso”, conclui Fábio.

DESAFIOS

Um dos problemas que hoje afastam o jovem do campo é a baixa conectividade (acesso à internet) na área rural.

“A conectividade é um problema na nossa região. Não sabemos ainda ao certo o caminho que devemos seguir. Hoje temos a possibilidade de 4G da área privada; tem a possibilidade no ano que vem do leilão da internet 5G,  mas, quando vamos ter acesso? Precisamos nos preocupar com essa questão, porque não temos como avançar sem a internet”, reforça Rudinei Borgoni, da Castrolanda.

Ciente desse desafio, a OCB já está trabalhando na construção de uma politica pública de fomento a conectividade no campo. “Acreditamos que o cooperativismo é uma ferramenta eficiente para levar as novas tecnologias, a internet e o Agro 4.0 ao campo brasileiro. As cooperativas, aliás, serão fundamentais para a universalização do acesso à internet, principalmente entre os pequenos produtores rurais”, afirma Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.

Além da falta de conexão à internet, os produtores indicam outros problemas para a implementação da agricultura de precisão, como o alto valor do investimento para a aquisição de máquinas, equipamentos ou aplicativos (67%), considerando que boa parte dessas ferramentas ainda é importada.

Outros gargalos mencionados na pesquisa da Embrapa são: o valor para a contratação de prestadores de serviços especializados (44%); a falta de conhecimento sobre quais são as tecnologias mais apropriadas para o uso na sua propriedade (41%); custos operacionais (36%);  falta de capacitação própria (35%); e acesso a créditos (35%).

O consultor Fábio Camargo acrescenta que a área demanda atualização constante do conhecimento e qualificação especializada. Outro desafio citado pelo profissional, e que já vem sendo tratado pela Associação Brasileira de Agricultura de Precisão, é o formato dos arquivos das informações.

“Hoje não tem um padrão, tem vários maquinários e cada um lê só um tipo de arquivo. Às vezes o produtor tem mais de um tipo de máquina e dá um pouco de trabalho para fazer os dados conversarem”, explica Fábio.

SOLUÇÕES

Fábio Camargo, da Famasul, acredita que a conexão permitida pelo cooperativismo pode contribuir para sanar esses desafios entre os cooperados e impulsionar a digitalização no campo, apesar dos gargalos ainda presentes.

Por aumentar a proximidade entre os cooperados, a favorece o intercâmbio de informações de produção e impulsiona o serviço. O cooperativismo traz um ganho muito grande para o produtor, porque une as pessoas, aumenta o grau e a qualidade da informação que os produtores recebem, e isso faz diferença na adoção da tecnologia”, declara.

A coordenação de cooperativismo do Ministério da Agricultura informa que a pasta, por meio da Secretaria de Inovação, tem trabalhado diretamente com esses desafios, principalmente a questão da conectividade. A aposta é que as cooperativas, principalmente as de crédito, contribuam com o avanço da internet e o acesso dos produtores às novas tecnologias.

 “Temos observado que isso vai avançar e sabemos que quem está interiorizado, quem tem capilaridade no país em termos de produção rural, são as cooperativas. Hoje elas já apoiam a comercialização dos produtos e impactam o giro da economia, então, para o avanço da conectividade, o papel delas será muito parecido”, afirma Madalena.

“Os desafios já estavam postos antes e foram acentuados pela pandemia. Mas, observamos que o setor produtivo de alimentos se manteve resiliente. O agro brasileiro, em qualquer crise, tem deixado sua força impressa no PIB. É um setor que tem muito a crescer”, ressaltou Madalena.

Lopes de Freitas acrescenta: a intercooperação é um caminho seguro para o fortalecimento do Agro 4.0. “Existem muitas oportunidades de crescermos juntos, fazendo alianças entre as cooperativas agropecuárias (usuárias da tecnologia), as cooperativas de infraestrutura (fornecedoras do serviço de telecomunicação) e as cooperativas de crédito (financiadoras da inovação)”, defende. Já existem algumas iniciativas surgindo nesse sentido e o Sistema OCB está buscando divulgar e fomentar ações nesse sentido. Para saber mais sobre o assunto, entre em contato com a unidade estadual mais próxima de sua cooperativa.

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ECOSSISTEMA ATIVO
De acordo com o Radar AgTech 2019, o Brasil já possui mais de 1.100 startups voltadas para o agronegócio. Várias delas fazendo parcerias com grandes empresas e cooperativas. Essas agritechs florescem em meio a um ecossistema de inovação que não para de crescer no Brasil e envolve: universidades, aceleradoras, empresas de consultorias, investidores, órgãos do governo federal e estadual, além das próprias cooperativas.

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Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Agricultura de precisão é tendência

As cooperativas brasileiras estão cada vez mais precisas e eficientes quando o assunto é agronegócio. E uma das tendências mais fortes do momento é a agricultura de precisão, caracterizada pela tomada de decisões a partir de uma análise detalhada das características do solo, do clima e das culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.

Para o Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as cooperativas agropecuárias têm maiores condições de fazer a ponte entre o desenvolvimento da agricultura digital no Brasil e as pequenas e médias propriedades.

Quando falamos em agricultura de precisão, temos a impressão de que ela vai chegar somente nos grandes produtores rurais. Mas, é importante lembrar que, por meio de um cooperativismo sólido, as pequenas e médias propriedades terão acesso a essa inovação também. As cooperativas têm um papel muito importante. O sistema cooperativo vai ser o grande elo entre a agricultura de precisão e os agricultores familiares”, ressalta Márcio Madalena, médico veterinário e coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.

O Ministério iniciou, em parceria com a OCB, um trabalho de intercâmbio de boas práticas produtivas entre as cooperativas de todo o país. “Sabemos que algumas cooperativas têm utilizado essas ferramentas de tecnologia e o objetivo é que essa tendência de inovação possa se tornar rotina nas cooperativas”, afirmou Madalena.

A cooperação ocorrerá por meio de eventos regionais para trocas de experiências entre cooperativas mais adiantadas no processo de digitalização e outras que apresentam mais dificuldades. A estratégia ainda não teve início plenamente em razão da pandemia, mas a ideia é começar virtualmente e expandir para encontros e visitas entre os cooperados.

“Todas as regiões do país tem experiências interessantes. Identificamos que o Nordeste tem um potencial muito grande e o Norte do país, por conta da sociobiodiversidade, da bioeconomia, já tem alcançado alguns mercados interessantes, e tem um potencial de crescimento muito grande, não só na área de gêneros alimentícios, mas no setor de cosméticos, seguindo todo um arcabouço de responsabilidade social e ambiental, que o cooperativismo carrega na sua essência”, destacou o coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.

FOCO NA PRECISÃO

Uma das cooperativas que oferecem serviços de agricultura de precisão no país é a Castrolanda — cooperativa agroindustrial situada em Castro, Paraná. A assistência técnica especializada na agricultura de base tecnológica é oferecida pela cooperativa desde 2014 e já presta o serviço para 81 cooperados, de um total de 464.

Começamos com o propósito de levar essa oportunidade e esse acesso aos produtores que não tinham a condição de comprar equipamento, máquina para fazer as operações na propriedade. E essa demanda aumentou. Hoje temos uma estrutura bem robusta e oferecemos desde levantamento de dados até corretivo com fertilizantes”, explica o engenheiro agrônomo Rudinei Borgoni, coordenador de Assistência Técnica e Agricultura de Precisão da Castrolanda.

Segundo Borgoni, todos os tipos de produtores têm utilizado os serviços de agricultura de precisão, mas os produtores que apresentam maior demandas têm propriedades com área superior a 300 hectares.

Entre os serviços oferecidos pela cooperativa, está a leitura de condutividade elétrica do solo, para analisar a qualidade do solo e definir as técnicas de manejo. Também é feita coleta de amostras de solo para permitir a aplicação exata de corretivo com taxa variável pelas zonas de manejo, conforme a demanda.

Culturas como soja, milho e trigo estão entre as que mais demandam aplicação de fertilizantes, e o serviço mais utilizado é a aplicação de corretivo no solo, com gesso e calcário.

Temos também a possibilidade de fazer a leitura por NDVI (Índice de Diferença Normalizada de Vegetação, tradução livre) da cultura, para ter essa visibilidade diferenciada sobre o que a cultura está precisando em cada ponto, em termos de aplicação nitrogenada. É a leitura da biomassa que tem no solo e através dos dados a gente consegue ver onde tem maior demanda de nitrogênio ou onde não precisa de nitrogênio”, explicou o agrônomo.

A cooperativa está se preparando para usar novas tecnologias de leitura e interpretação de satélite com o objetivo de começar a oferecer o serviço de recomendação técnica de plantio e semeadura a taxas variáveis, que permitem a aplicação correta de insumo, conforme a característica de cada talhão.

“Todo ano, nossa área de produção vem aumentando. Os produtores e a área técnica veem esse processo como um caminho sem volta. A agricultura de precisão é uma área que deve ter um crescimento bastante grande, em decorrência dos resultados obtidos”, destaca Borgoni.

A base de dados para essa nova etapa está sendo feita pela Fundação ABC, que realiza pesquisas sobre soluções tecnológicas para a agricultura, a pecuária, zootecnia, insumos e outros, para a Castrolanda e outras cooperativas.

A mais nova ferramenta em desenvolvimento na Fundação é a plataforma Sigma, que irá integrar na web todos os dados sobre solos, cultivos, épocas de plantio, tipos de manejo, colheita, produtividade, fatores ambientais, clima e precipitação de todas as cooperativas.

“Essa ferramenta vai nos auxiliar e dar uma segurança muito grande no momento da recomendação técnica e facilitar a vida do produtor, porque ele vai conseguir talhão a talhão fazer a gestão do negócio dele de forma muito assertiva”, completou Borgoni.

Aliado ao trabalho da agricultura de precisão, a cooperativa também tem estimulado os produtores a seguir as boas práticas de produção para conquistar certificações ambientais, como a Certificação RTRS, que assegura a sustentabilidade do processo produtivo, além da saúde e da segurança do trabalhador em campo.

SEGURANÇA ALIMENTAR

O pesquisador da Embrapa Ricardo Inamasu acredita que a revolução digital certamente irá fortalecer o Brasil em sua posição como grande produtor mundial de alimentos e ainda melhorar a imagem do país sobre a qualidade e sustentabilidade dos produtos.

A agricultura de precisão pode favorecer a segurança alimentar mundial, fazendo um sistema mais confiável. É o valor agregado, nesse novo mundo com mais informação. As pessoas tendem até a querer pagar mais por um alimento que promova a sustentabilidade”, destaca Inamasu.

O Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura também aposta que o incremento da tecnologia nos sistemas produtivos levará os produtos brasileiros a outro patamar de qualidade e confiabilidade no mercado internacional.

“Com essa revolução digital, o consumidor tende a exigir um arcabouço de responsabilidades dos setores produtivos. O Brasil tem sentido isso na pele e o cooperativismo carrega na sua essência a responsabilidade social e a ambiental. Então, acreditamos que, dentro dessa questão da inovação e da agricultura 4.0 – já tem gente falando em 5.0 –, o cooperativismo vai ser esse elo forte do avanço tecnológico com pequenos, médios produtores e com a sustentabilidade”, reitera Márcio Madalena, que coordena do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Agro 4.0

A vida no campo já não é a mesma. Uma revolução silenciosa tem transformado o modo de produzir alimentos e outros produtos no Brasil. Ciência de dados, inteligência artificial, sistemas robotizados, satélites, tratores inteligentes, tudo isso da porteira para dentro da propriedade rural.  E tudo isso com impacto para muito além das fronteiras da fazenda. É o chamado Agro 4.0 — caracterizado pelo uso intensivo de novas tecnologias pelos pequenos, médios e grandes produtores rurais.  

No Brasil de 2020, 84% dos produtores rurais usam pelo menos um tipo de tecnologia no campo, segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 556 municípios.

O estudo também revela algumas das motivações dos produtores para o uso das tecnologias. A obtenção de informações para o planejamento das atividades de produção é o principal objetivo de 65% dos produtores entrevistados. Em seguida, estão a gestão da propriedade rural (43% dos agricultores), compra e venda de insumos (40%) e previsão de riscos climáticos, como geadas, granizo, veranico e chuvas intensas (30%).

Desde a preparação do solo até a colheita, tem vários elementos que reduzem o potencial de crescimento das plantas, falta de nutrientes, pragas, enfermidades, falta de água. E a informação pode favorecer o seu crescimento. É aí que a agricultura de precisão – ou Agro 4.0 – vai ajudar o produtor a colocar a semente no local certo”, explica Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação.

A principal característica da agricultura de precisão é a utilização de sistemas sustentáveis de produção e coleta de informações relacionadas às características detalhadas do solo, clima e culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.

“Ao utilizar os insumos de forma precisa, o produtor rural também economiza e pode transferir os custos para o beneficiamento ou outra etapa da produção, ganhando mais rentabilidade e competitividade”, explica o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, um entusiasta do Agro 4.0.

COOPERAÇÃO NO CAMPO

A inovação digital invadiu a agropecuária brasileira, que viu na última década um crescimento exponencial do emprego das novas tecnologias em campo. Ainda de acordo com a pesquisa da Embrapa, os ganhos percebidos pelos produtores são vários, desde aumento da produtividade, maior eficiência da mão de obra até a melhoria da qualidade da produção, redução do impacto ambiental, melhor planejamento, aumento do lucro e das vendas diretas aos consumidores.

Outro dado relevante que a pesquisa traz é sobre o meio pelo qual o produtor teve contato com as tecnologias digitais. A maior parte dos entrevistados teve acesso às soluções tecnológicas por meio de consultoria ou serviços oferecidos por associações, cooperativas, sindicatos e Organizações Não Governamentais (ONGs).

Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2017), aproximadamente 11% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil estão vinculados a uma cooperativa. Se levar em consideração a área das propriedades, a porcentagem sobe para 20%. Entre os cooperados, quase 64% recebem algum tipo de orientação técnica do cooperativismo, aponta o censo do IBGE.

“A cooperativa traz algo muito favorável para os pequenos produtores. Eles não conseguem investir em grandes máquinas e talvez a cooperativa, por disponibilizar, consiga trabalhar com produtos diferenciados com maior valor agregado. Nesse sentido, eu acho que o produtor cooperado tem uma vantagem tremenda”, comenta Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação.

“A cooperativa tem um potencial enorme para fornecer informação, principalmente para os pequenos produtores, permitindo que eles possam negociar de igual pra igual”, acrescenta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Acolhendo Talentos

A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos.

Foi a qualificação que garantiu ao tunisiano Yousseff Arendt Ben Nessib uma vaga na área de comércio exterior da C.Vale, cooperativa agroindustrial com sede no Paraná. Há 7 anos no Brasil, Youssef fala seis idiomas e trabalha justamente com mercados do Oriente Médio e África.

O grande diferencial dos imigrantes para a empresa é a cultura. Eu cuido do mercado do Oriente Médio, que é de onde eu venho. Então eu sou mais familiarizado com o jeito de pensar das pessoas, os tipos de negociação, como tem que conversar com o cliente”, explica.

Foi a paixão por uma brasileira - hoje mãe dos seus filhos nascidos aqui - que o trouxe para o Brasil e o fez conhecer o modelo do cooperativismo. “Meu sogro é associado à Coamo, que é uma cooperativa de agricultores, e por meio dele eu entendi como funciona o modelo que eu acho que é bem eficiente, um trabalho em equipe e um sucesso no Brasil”, acredita.

A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos. O terremoto de 2010, que atingiu diversas localidades do país e matou mais de 200 mil, fez com que diversas pessoas deixassem o país e viessem ao Brasil em busca de novas oportunidades.

Essa abertura começou a partir de uma necessidade de mão-de-obra. Tínhamos uma carência grande e isso foi se consolidando com a chegada dos haitianos. Nós nos estruturamos para lidar com esse público e nos organizamos para oferecer treinamentos. O número de imigrantes tem crescido em razão do sucesso do programa.  Hoje acolhemos sem nenhum receio sabendo que são uma força de trabalho promissora, eles têm um bom potencial e acabam se adaptando”, conta Neivaldo Burin, gerente do Abatedouro de Aves da C.Vale.

A maioria dos funcionários imigrantes e refugiados da C.Vale trabalha em atividades operacionais e passam por treinamento para conhecer as normas e boas práticas de higiene, segurança alimentar e do trabalho. “O abate é uma atividade muito procedimental, existia no início o receio, mas a prática foi mostrando que sim, eles se adaptam”, diz Burin.

COOPERAÇÃO
Yousseff Arendt Ben Nessib, tunisiano, fala seis idiomas e trabalha na área de comércio exterior da C.Vale

Ainda não há um levantamento da participação dos imigrantes estrangeiros nas cooperativas brasileiras, apesar dos relatos de várias partes do país do aumento dessas contratações. Professora do programa de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas da Pontifícia Universidade do Paraná (PUC-PR), Leila Dissenha estuda o tema para entender as potencialidades dessa parceria.

Nós temos o princípio do interesse pela comunidade e o da educação, então essa atitude de acolhimento se coaduna perfeitamente com as bases do cooperativismo”, afirma.

Há um projeto de iniciação científica em andamento na instituição para fazer uma radiografia da presença de imigrantes e refugiados nas cooperativas brasileiras. “É preciso aprimorar esse trabalho de intermediação porque muitos refugiados que chegam ao Brasil já têm uma formação que interessa às cooperativas: são veterinários, agrônomos, técnicos em segurança do trabalho. A cooperativa já faz seu papel econômico tão brilhantemente, ela também pode fazer esse papel social que é tão relevante”, acredita.

IDIOMA

Jackenson Forestal, imigrante haitiano

Para os que chegam ao Brasil, o idioma ainda é um obstáculo. Na C.Vale, os os principais documentos, normativos e materiais de treinamento foram traduzidos para as diversas línguas. E os funcionários estrangeiros mais antigos, com o tempo, tornam-se uma espécie de “monitores” para auxiliar a adaptação dos novatos.

Para Burin, o investimento compensa pela entrega desses funcionários à cooperativa. “A maior parte deles está na área de produção, desde o abate até embalagem dos produtos. Mas já temos casos em que o funcionário foi evoluindo e crescendo na empresa, chegando às áreas administrativas”, conta.

Um desses destaques é Jackenson Forestal, um dos 462 haitianos empregados na cooperativa. Ele chegou no país há cinco anos - veio juntar-se a um primo que já morava no Paraná, em busca de crescimento profissional. Começou na C.Vale há dois anos em atividades operacionais e hoje trabalha na área de recursos humanos da empresa. Auxilia, principalmente, a contratação de outros trabalhadores imigrantes, mas também desempenha outras atividades de atendimento ao público.

Os primeiros anos no Brasil foram difíceis e Jackenson se dedicou aos estudos enquanto não conseguia emprego. “Na C.Vale, eu entrei na filetagem do peixe e na época eles precisavam de alguém para ajudar os estrangeiros que só falavam francês. Depois de algum tempo, eu fiz uma seleção e fui contratado para a área de recursos humanos”, lembra.

Casado e com uma filha brasileira, ele terminou o ensino médio no Brasil e sonha em cursar o ensino superior em tecnologia da informação - e quem sabe trabalhar nesta área dentro da própria cooperativa. “Foi uma grande oportunidade para mim, na minha área eu sou o único estrangeiro. No início eu achei que não fosse dar conta do trabalho, que não fossem me aceitar por eu ser negro e imigrante. Mas depois de um mês de trabalho, minha encarregada disse que eu entregava mais do que ela esperava. Eu vou seguir em frente e chegar no lugar onde eu quero”, sonha.

Depois de alguns meses no Brasil, Yadira conseguiu trazer o marido, que tinha ficado na Venezuela por problemas de saúde. Espera que ele também possa conseguir um emprego e se diz muito feliz com a nova vida, em especial com o trabalho.

Sou muito grata à cooperativa pela oportunidade e pela forma como tratam os estrangeiros. A cooperativa é uma empresa maravilhosa e tenho muito orgulho de trabalhar lá porque sei que é uma empresa pujante. Estou feliz em colaborar e colocar meu grãozinho de areia para que a empresa siga adiante e eu também ajude o Brasil a se desenvolver”, diz emocionada.


COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Apesar do fluxo recente de imigrantes, a história deles com o cooperativismo é antiga. Um dos exemplos foi a criação da Cooperativa Agrária, em Guarapuava, no Paraná. Em 1951, ela nasceu com o objetivo de apoiar cerca de 500 famílias de Suábios do Danúbio, que chegaram ao Brasil na década de 1940 em razão dos conflitos da Segunda Guerra Mundial.

Essa população origina-se na região que hoje é o Sul da Alemanha e tinha a agricultura como principal atividade. A partir do século 18, colonizaram o sudeste europeu e, com a guerra, passaram a viver em abrigos para refugiados na Áustria. Com o apoio de uma instituição humanitária, vieram para o Brasil e a comunidade criou a Cooperativa Agrária. Hoje, as principais culturas produzidas pelos cooperados são soja, milho, trigo e cevada. São 630 cooperados, 1.450 empregados e R$3,5 bilhões em faturamento.



Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Vida Nova

Yadira Del Valle Stabilit de Boada, 52 anos, deixou para trás sua casa e seu país em busca de uma vida melhor. Cruzou a fronteira entre a Venezuela e o Brasil por Roraima e, depois de quase um mês de viagem, passando por diversas cidades do país, chegou ao seu destino final: Medianeira (PR), às vésperas do Natal de 2018. Junto com a filha, genro e netos, que também fizeram a travessia, foi lá que encontrou a chance de construir um novo capítulo da sua história, aberto pelo cooperativismo.

Saímos da Venezuela pela situação terrível que passa nosso país. Eu, meu marido, minha filha e meu genro trabalhávamos e mesmo assim não conseguíamos o suficiente para comprar comida”, lembra a venezuelana, que há pouco mais de um ano trabalha na Frimesa Central, cooperativa do ramo alimentício com mais de 40 anos de história na região.

Em todo o país, cooperativas têm aberto as portas para imigrantes e refugiados (saiba a diferença no quadro) que chegam ao Brasil para recomeçar. Nessa caminhada, a conquista do emprego e de uma fonte de renda estável tem um peso muito importante.

“Populações refugiadas são pessoas que, em razão de guerras e conflitos, têm de deixar seus países para preservar a sua vida e de suas famílias. Isso significa recomeçar do zero porque eles deixam tudo para trás, mas trazem suas capacidades, seus talentos e sua experiência profissional. O emprego vai representar a autonomia, a auto sustentabilidade daquela pessoa e da sua família. E, muitas vezes, o trabalho é o que permite à pessoa se integrar em vários âmbitos”, explica o Oficial de Meios de Vida da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR Brasil), Paulo Sérgio Almeida.

ACOLHIMENTO

Banco de imagens

Assim como Yadira, mais de 264 mil venezuelanos entraram e permaneceram no Brasil nos últimos anos, desde o início da crise migratória. Quando chegou, ela vendeu comidas na rua e trabalhou como diarista até conseguir a vaga na Frimesa, há pouco mais de um ano. Hoje, sua filha e genro também trabalham lá.

A empresa começou a receber imigrantes em 1986, mas o maior número chegou a partir de 2019. Atualmente são 328 trabalhadores estrangeiros de diversas nacionalidades: além dos venezuelanos, há paraguaios, haitianos, cubanos, colombianos e sul-africanos.

Acolher esses imigrantes tem sido uma experiência muito positiva. Nós temos na nossa essência a prática da responsabilidade social e é justamente uma oportunidade de trabalhar com a inclusão e diversidade. Também é uma forma de inserir novas culturas e eles podem contribuir muito nas atividades com os talentos que trazem, e assim gerar resultados positivos para a cooperativa”, explica Elisa Fredo, gerente de Gestão de Pessoas da Frimesa.

A chegada dos imigrantes na empresa se deu a partir do contato com organizações da sociedade civil que apoiam essa população e procuraram a Frimesa para estabelecer a ponte. Paulo Almeida, da ONU, explica que muitas vezes as empresas, cooperativas ou não, desconhecem que os processos de contratação de refugiados e imigrantes são os mesmos de um profissional brasileiro.

Fazemos um trabalho de engajamento com o setor produtivo na linha de informar porque há muitas dúvidas sobre o que é essa população. Muita gente desconhece que, seja solicitante de refúgio ou refugiado, essas pessoas têm documentos legalizados, carteira de trabalho, e podem ser contratados como qualquer brasileiro”, explica o oficial do ACNUR.

Para Elisa, o comprometimento dos funcionários imigrantes refugiados é um diferencial. “Às vezes, eles vêm de alguma situação que afetou profundamente a vida deles, então valorizam essa oportunidade, o que é uma vantagem para a cooperativa”, pontua. De acordo com Almeida, há de fato estudos que apontam uma taxa de rotatividade desse público menor do que a média.

RECOMEÇO

Yadira Del Valle Stabilit de Boada

Atualmente, a venezuelana Yadira trabalha na área de produção de frios da Frimesa, mas sua formação é em administração, função que exercia antes na Venezuela. Almeida destaca que imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil são pessoas de todas as classes e com perfis variados.


“Muitas vezes são pessoas com formação educacional elevada, mas que não escolheram sair dos seus países, fizeram para preservar suas vidas”, lembra. Para ele, a contratação desses profissionais é um “ganha-ganha”: os estrangeiros conquistam uma oportunidade e a cooperativa pode ter em seu quadro trabalhadores que trazem inovação e outras perspectivas para a resolução de problemas.

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Imigrante x refugiado

São considerados refugiadas aquelas pessoas que são obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos. Eles são assim reconhecidos por ser extremamente perigoso retornar a seus países de origem e, portanto, precisam de refúgio em outro lugar. Os Estados são responsáveis por assegurar essa proteção. Já o termo imigrante, em geral, compreende pessoas que deixam seus países de forma voluntária. Eles podem migrar em busca de melhores condições de vida, seja por oportunidades de trabalho ou estudo, reunião com familiares e outras diversas razões. Muitas vezes, também deixam seus países para aliviar dificuldades significativas ocasionadas por desastres naturais, pela fome ou extrema pobreza.

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Refugiados no Brasil

50 mil pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro, 55 nacionalidades. 

Número de solicitações de refúgio (2018) 

61,6 mil venezuelanos

7 mil haitianos

2,7 mil cubanos

1,4 mil chineses

947 bengaleses


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Ninguém fica de fora

Aos vinte e poucos anos, Carlos Alberto de Oliveira quase desistiu de sua terra-natal. Apesar do amor pela Paraíba, pensava em mudar-se para o Rio de Janeiro ou São Paulo em busca de oportunidades de trabalho. Carlos Alberto é deficiente físico. Nasceu sem um segmento de um dos braços, que termina no cotovelo – e essa característica acabava por fechar portas no mercado de trabalho. Sua sorte, no entanto, começou a mudar quando conseguiu o primeiro emprego como porteiro. Três anos depois, mais consciente de que a deficiência não lhe limitava profissionalmente, juntou-se à Cooperativa Paraibana dos Portadores de Deficiência (Coppd), em Campina Grande. Desde então, trabalha organizando o estacionamento rotativo da cidade, a chamada Zona Azul.


“Gosto demais de trabalhar aqui porque estou em contato com o público, atendendo. A maioria das pessoas da cidade já me conhece, pergunta pelas vagas e até deixa a chave do carro comigo porque passamos confiança”, conta, sorridente.


A história de Carlos Alberto é uma em meio a diversas iniciativas cooperativistas de inclusão social espalhadas pelo país. Algumas, como a Coppd, são cooperativas voltadas especialmente para a colocação de deficientes no mercado de trabalho. Outras cuidam de outras minorias, como mulheres, dependentes químicos ou, no caso da Coopereso de Sorocaba (SP), presidiários. Existem, ainda, as cooperativas como a Unimed Londrina, que buscam ativamente inserir deficientes em seu quadro de colaboradores.


Tais iniciativas são importantes para aumentar a representatividade de grupos que têm dificuldade para se inserirem no mercado de trabalho brasileiro. No caso das pessoas com algum tipo de deficiência, apenas 1% (cerca de 403 mil) estão formalmente empregadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um número inexpressivo, considerando a Lei de Cotas (8.213/91), que determina: pelo menos 2% dos colaboradores de empresas com mais de cem funcionários devem ser pessoas com deficiência. Este número está longe de ser realidade.

Carlos Alberto - Arquivo Pessoal

Essa inclusão cooperativista, portanto, cumpre um importante papel social. E ainda gera cooperação interna nas empresas, educação, aperfeiçoamento constante e interesse pela comunidade. Conheça a seguir a história de três cooperativas que já descobriram o poder da inclusão e como seus benefícios atingem não apenas os grupos marginalizados, mas toda a comunidade ao seu redor.

ABRINDO PORTAS

Gisele Rodrigues - Arquivo Pessoal

 

Na Coppd de Carlos Alberto, os cooperados atuam na área de estacionamento tarifado pelo município, conhecida como Zona Azul, por meio de um convênio com a prefeitura. Atualmente, são 19 deficientes físicos trabalhando no local. A parceria existe há 20 anos, mas era celebrada por meio de uma ONG. Em 2009, uma mudança na legislação exigiu a descontinuidade do contrato e foi então que os trabalhadores se organizaram em uma cooperativa para seguirem exercendo sua atividade.
Para muitos deles, a Coppd apresentou a oportunidade do primeiro emprego. Foi assim com Gisele Rodrigues, cooperada há um ano e meio.

Tenho deficiência em uma das pernas, encurtada e mais fina, por isso manco um pouco. Tentei arrumar trabalho em várias empresas e nunca consegui. Aqui eu gosto de trabalhar porque é tranquilo e os clientes nos tratam bem”, diz.

Segundo o presidente Jean Araújo Gomes, a cooperativa oferece uma alternativa mais estável aos cooperados do que empresas comuns. “Há mais de três anos que a fiscalização [da Lei de Cotas] parou de acontecer por aqui e as empresas tradicionais aumentaram as demissões de deficientes. Como cooperativa, damos estabilidade e continuidade”, conta.

A segurança de emprego e a possibilidade de crescimento também são pontos destacados por Carlos Alberto:

O modelo de cooperativa é bom porque é estável. Como todo mundo é dono, cada um dá o seu melhor para a cooperativa crescer e abrir portas para mais pessoas”, afirma.

Essas portas são abertas inclusive para não cooperados. A Coppd encaminha interessados para vagas em outras empresas, como empresas de ônibus, hospitais e indústrias. “Há pouca procura, mas dos pedidos de empresas que já recebemos, 99% conseguimos encaminhar”, conta Jean.

Além de colaborar com a inclusão, a Coppd tem um projeto de doação de equipamentos ortopédicos, como cadeira de rodas, de banho e muletas a pessoas necessitadas. Uma iniciativa apresentada à sociedade, inclusive, no Dia C . Dessa forma, eles estendem os benefícios da cooperativa à toda a comunidade e não somente aos cooperados.

O presidente destaca que para realizarem tantas atividades, o suporte do Sistema OCB/PB é fundamental.

Aqui no Nordeste não se trabalha tanto em cooperativas, não se conhece o cooperativismo a fundo. Então o apoio deles é essencial. Sempre que precisamos de informação, eles vêm, oferecem cursos e nos ajudam”, afirma o presidente.


Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Rede do bem

Distante 206 quilômetros de Palmas (TO), o município de Pedro Afonso vive uma fase de pleno desenvolvimento. Com apenas 13 mil habitantes, essa pequena comunidade vive avanços consideráveis nas áreas de educação, meio ambiente e agricultura. E quando perguntamos a qualquer morador o segredo dessa boa fase, a resposta é certeira: é tudo fruto da cooperação.

Conhecida como a capital da soja no Tocantins, Pedro Afonso viu o progresso chegar juntamente com três cooperativas : a Cooperativa Agroindustrial de Tocantins (Coapa), a Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi),

Esses empreendimentos trouxeram mais movimento, emprego e desenvolvimento para toda a região, e não somente para Pedro Afonso. Desde a chegada do cooperativismo, notamos que cidade se uniu e há mais amizade”, destaca Divina Mendes, 68 anos, cooperada da Coapa — primeira cooperativa a impactar a comunidade.

Criada há exatos 20 anos por um grupo de pequenos produtores rurais, a Coapa ajudou a alavancar a produção agrícola da região, oferecendo  apoio técnico, infraestrutura para armazenagem de grãos, além de núcleos de participação focados em dois públicos até então carentes de atenção: os jovens e as mulheres.

A inclusão e o empoderamento desses dois públicos foram fundamentais para o desenvolvimento da comunidade”, reconhece Divina. “Graças à cooperativa, passamos a participar da vida social e profissional da cidade e, agora, desenvolvemos trabalhos para melhorarmos a renda familiar. No grupo de mulheres, fazemos polpas de frutas, doces em compotas, chocolates, biscoitos, licores, paçocas e vendemos na feira”.

Além da Coapa, outras duas cooperativas se instalaram em Pedro Afonso: a Coed, de ensino, e o Sicredi, do ramo crédito. O trio decidiu viver, na prática, o princípio da intercooperação, desenvolvendo programas e ações em conjunto para beneficiar a comunidade. “É uma verdadeira rede do bem”, explica Ricardo Khouri, presidente da Coapa.

Trabalhamos unidos para promover o desenvolvimento e a alavancagem da região. Além disso, por sermos cooperativistas, temos o compromisso de deixar os recursos gerados por nossas atividades aqui mesmo, na cidade, gerando emprego, renda e oportunidade para muitas pessoas”.


PONTE PARA O FUTURO

Crédito: Lula Lopes

Assim como em centenas de municípios brasileiros, em Pedro Afonso as pessoas descobrem o poder da cooperação desde muito cedo.  Praticamente todos os moradores da cidade são associados a uma cooperativa ou pelo menos estão sendo beneficiados por elas. É comum casais conversarem sobre o dia na cooperativa, trocando ideias sobre como fazê-la crescer ou comemorando os resultados alcançados. Com isso, as crianças aprendem que o cooperativismo é bom, traz comida para a mesa e alegria para toda a família.

Na escola não é diferente. Especialmente na Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed), que educa os estudantes da região desde o maternal até o nono ano do ensino fundamental. “Trabalhamos o cooperativismo com todos os nossos alunos. Temos uma disciplina em que ensinamos a cooperar, a dividir, e acreditamos nesse formato de educação. Um aluno com essa base será um adulto melhor. Não estamos somente preocupados com o lado educacional, mas também com os valores e os princípios que esses estudantes levarão para a vida adulta”,  explicou a diretora-presidente da cooperativa, Gleide Azevedo.

Ainda de acordo com Gleide, as crianças e jovens de Pedro Afonso exergam nas cooperativas um mundo melhor, uma oportunidade de emprego e uma ponte para um futuro melhor. Além disso, em sala de aula, também aprendem a administrar o próprio dinheiro e a poupar, graças ao apoio de projetos educacionais do Sicredi.  

A atuação conjunta da Coed, da Coapa e do Sicredi é fundamental para Pedro Afonso”, elogia Gleide. “Somos três cooperativas, trabalhamos o bem comum da comunidade e almejamos o crescimento pessoal e do município. Essa integração entre as cooperativas facilita o nosso trabalho e a vida de todos”.

A coordenadora do núcleo feminino da unidade Sicredi de Pedro Afonso, Maria Ivanete Maciel, 47 anos, concorda com a colega da Coed e acrescenta: a intercooperação mudou a história do município e alavancou o crescimento da região, inclusive aumentando a oferta de postos de trabalho.

Quando juntamos nossas cooperativas, a população notou que tudo melhorou e se sentiu mais feliz, porque soube que tem o nosso apoio. A vida de Pedro Afonso mudou, pois agora tem mais oferta de empregos e facilidades para a população”, exemplificou Ivanete.

A satisfação dos moradores e a melhora da qualidade de vida proporcionada pelo cooperativismo são facilmente traduzidas no município  pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) <abre hiperlink para site de IDH>, captado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. A taxa aferida na região supera a média brasileira, atingindo 0,732 pontos— em uma escala de zero a um, na qual quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento da região.

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MUDANDO VIDAS, REALIZANDO SONHOS

Crédito: Lula Lopes

A intercooperação realizada em Pedro Afonso já ultrapassou as fronteiras do estado e do Brasil. Um dos projetos apoiados pelas três cooperativas da cidade está levando os jovens da cidade para conhecer outras cidades brasileiras e, em breve, outros países. Trata-se do projeto Amigos do Meio Ambiente (Ama), criado pelo professor Fabrício Rocha, 35 anos, em 2010.

Historiador, enfermeiro e pedagogo, Rocha entendeu que um bom educador  pode contribuir com o desenvolvimento da comunidade também fora dos muros da escola. “Decidi  contribuir com a preservação do meio ambiente para mostrar aos alunos que é possível transformar o mundo com atitudes simples, como dar a correta destinação a materiais recicláveis”, recorda.  

O professor fundou o Ama com um grupo de 30 alunos e decidiu  buscar apoio do poder público e das três cooperativas da cidade, que sempre tiveram um trabalho muito voltado para a valorização dos projetos locais. Trabalhando de forma intercooperativa, o projeto deu início a uma pequena revolução na cidade.

 Os jovens se engajaram e começaram a recolher materiais, antes ignorados, para reciclá-los.  A partir daí, as atividades evoluíram e o Ama conseguiu colocar em prática um projeto de sustentabilidade e recuperação ambiental, dando nova destinação a uma área na qual antes funcionava um lixão. O espaço foi revitalizado e transformado, em 2014, na Praça Ecológica Pedro de Souza Pinheiro, motivo de orgulho para a população.

Localizada em meio a  exuberantes exemplares de palmeiras, ipês, imbaúba e mogno do Pará, a praça é ornamentada por  500 pneus e mais de 10 mil garrafas pet recicladas. “Os alunos aprenderam que através da união promovida pelo cooperativismo, com o trabalho em equipe, é possível mudar a realidade. O cooperativismo nos ajudou a  resgatar valores como a determinação, o engajamento da comunidade e a importância do trabalho voluntário. Isso é algo firme e consistente na formação de cada um que passa pelo Ama”, ressaltou.

OUTROS ARES

Crédito: Lula Lopes

O projeto criado por Rocha e apoiado pelas três cooperativas da cidade fez mais do que transformar uma praça da cidade. Ele ajudou a mudar a mentalidade dos moradores que não tinham perspectiva de crescimento. Foi também do lixo, por meio de produtos recicláveis, que o Ama deu sentido às vidas de dezenas de adolescentes e jovens.

Expandindo o formato de atuação, Rocha, seus alunos e voluntários recolhem latinhas, garrafas pet e de vidro, dentre outros materiais, para comercializá-los. Com o valor arrecadado, são promovidas viagens, ações que enriquecem culturalmente os participantes e abrem portas para a visita a locais, antes, inimagináveis e inacessíveis para pessoas de baixa renda.

Nestes anos de projeto, já rodamos quatro regiões do País. O nosso objetivo, com isso, é proporcionar que os nossos alunos conheçam outras cidades através de seu próprio  trabalho e esforço”, comenta o professor. Vale destacar: desde o início do projeto, o grupo já visitou, dentre outras cidades, Rio de Janeiro, Fortaleza, Natal, Aracajú, Maceió e São Paulo.

Daniela Bezerra Costa, 15 anos, é uma das alunas voluntárias que fazem parte do Ama. No grupo desde agosto de 2018, ela garante que a motivação para participar veio do desejo  de ajudar o próximo “Depois que comecei a trabalhar com eles, me senti melhor. Saber que estou ajudando a alguém, fazendo doação, por menor que seja, me fez sentir melhor”.

Um pouco mais antigo no grupo, Luiz Gustavo Bezerra Pinheiro, 16 anos, faz parte do Ama há seis anos e viu a evolução da cidade, bem como dos moradores. Um dos voluntários da construção da praça, ele lembra que o apoio das cooperativas tem sido fundamental para os avanços da região.

Muitos falaram que não era possível que um lixão se transformasse em algo tão bonito, como a praça ecológica que temos hoje. Esse projeto foi criando pernas, ganhando apoiadores, somamos forças com as cooperativas, que nos ajudam sempre que precisamos”, comemora o garoto que, por meio do projeto, pode conhecer o mar em uma das viagens do grupo. “Foi uma viagem inesquecível. Sabíamos que éramos capazes de fazer, e fizemos”, completou.

O projeto social, com a ajuda das cooperativas, pretende ir mais longe, alçar voos maiores. Neste ano, a viagem será com destino à Argentina e à tríplice fronteira. Até o momento, 80% do passeio estão pagos, tudo com dinheiro arrecadado com a coleta de material reciclável.

De acordo com o professor Fabrício Rocha, uma das metas do projeto é levar os participantes à Europa. “Nossa meta é, em 20 anos, chegar a Paris, de avião. Essa é uma ponte que nos mostra o quanto a união, o cooperativismo e o trabalho voluntário são importantes para o desenvolvimento de todos”, concluiu o educador.

O Dia C é um compromisso das cooperativas brasileiras com a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. Durante um dia, elas realizam milhares de ações voluntárias em todo o país para demonstrar um pouco do que o cooperativismo faz, diariamente, para colaborar com o desenvolvimento de suas comunidades.


Impacto comprovado

Confira o Índice de Desenvolvimento Humano de Pedro Afonso em comparação à média brasileira e ao estado do Tocantins

IDHMIDHM RendaIDHM LongevidadeIDHM Educação
Brasil0,7270,7390,8160,637
Tocantins0, 6990,6900,7930,624
Pedro Afonso (TO)0,7320,6990,8460,664

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano (Brasil – 2010)


Esta matéria foi escrita por Kelly Ikuma e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


LGPD: adequação exige trabalho multidisciplinar

A entrada em vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) surpreendeu às empresas e cooperativas que atuam nos mais diversos setores da economia. A assessora jurídica OCB, Ana Paula Rodrigues, afirma que boa parte do setor cooperativista já está se estruturando para atender à legislação, mas acreditava na prorrogação do prazo. Segundo ela, pela diversidade do cooperativismo, é difícil precisar de forma geral o estágio em que as cooperativas do Sistema OCB se encontram, porém, tanto a unidade nacional quanto as estaduais têm desenvolvido ações para apoiar as iniciativas em capacitação e envio de materiais sobre as novas regras.

Nossas entidades iniciaram o trabalho de adequação em janeiro deste ano, mas, com a pandemia da Covid-19, foram necessários alguns ajustes no cronograma para concluir a primeira etapa, que se refere ao mapeamento e à entrega dos relatórios das ações e medidas a serem tomadas. Esperamos concluir esse processo em novembro”, explica a assessora jurídica.

Ainda segundo ela, o trabalho conta com a atuação de um grupo interno que envolve várias áreas das três entidades que compõem o Sistema OCB (Sescoop, OCB e CNCoop) e que foi formado especificamente para acompanhar as atividades de adequação à lei, em uma atuação conjunta com uma consultoria especializada. Para além disso, o grupo tem trabalhado iniciativas para apoiar as cooperativas neste momento de adequação. “Realizamos webinários tratando das medidas emergenciais de implementação da lei e, já no início de novembro, lançaremos uma cartilha de apoio às cooperativas nesse processo de adequação”, completa.

ESTRUTURA PRONTA

No Banco Cooperativo Sicredi, o processo de adequação já foi concluído, e a instituição conta com áreas e processos dedicados ao tratamento dos dados e ao atendimento à legislação. “Iniciamos este trabalho em março de 2019. Procuramos revisar cada operação, a fim de verificar o que era preciso ser feito e implementar políticas corporativas de proteção de dados e avisos de privacidade”, explica Júlio Pereira Cardozo, diretor executivo de riscos.

Segundo ele, o processo de mudança tem ocorrido por meio de treinamentos on-line, workshops, ações de endomarketing, melhoria nos controles de segurança e na formação de facilitadores nas áreas, chamados de agentes de riscos. “Buscamos identificar meios para uma correta adequação de processos e colaboradores, bem como maneiras de comunicar essas mudanças a nossos stakeholders e fornecedores. A adequação à LGPD representa uma mudança de cultura; por isso, a importância de implantarmos treinamentos, controles, rastreamento e eventuais medidas referentes a condutas, para que todas as áreas estejam alinhadas”, destaca.

Ainda de acordo com Cardozo, o programa de privacidade de dados do Sicredi está dividido em quatro pilares: jurídico (contempla as relações entre o banco e suas diferentes possíveis partes); tecnologia da informação (administração e segurança dos dados e dos sistemas); análise dos processos de negócio (avaliação de dados utilizados e adequação à finalidade a que se destinam); e treinamento e conscientização (necessários para promover uma mudança de consciência diante do uso de dados).

“Trata-se de um trabalho conduzido em sinergia entre diferentes áreas e que não se encerra com a adequação mínima à LGPD. Privacidade de dados é um assunto de extrema importância dentro do Sicredi, e vamos continuar avançando no tema durante os próximos anos”, conclui.

 INVESTIMENTO

A Frísia Cooperativa Agroindustrial, com sede no Paraná e Tocantins, iniciou o processo de adequação à LGPD no fim de 2018. “Começamos a discutir o tema e a nos informar internamente. Ao mesmo tempo, entramos para o Programa de Compliance da Ocepar (Paraná Cooperativo). Acreditamos que poderíamos nós mesmos cuidar de todo o processo, mas, ao longo do tempo, descobrimos que seria muito difícil, devido ao tamanho e à complexidade dos negócios da cooperativa”, conta Marta Auer, assessora jurídica, membro do Comitê de Segurança da Informação e responsável pelo sistema de Compliance da Frísia.

A primeira medida que eles adotaram, segundo Marta, foi criar uma equipe multidisciplinar, com colaboradores das áreas de recursos humanos, marketing, jurídico, tecnologia da informação, segurança do trabalho, medicina e auditoria. “Pretendíamos fazer um mapeamento dos dados que coletamos para ter um panorama geral, inclusive da finalidade dada a eles, mas acabamos contratando uma consultoria para realizar essa ação. Por outro lado, já temos várias políticas prontas. Assim que o mapeamento estiver completo, podemos aplicar essas políticas e iniciar a fase de treinamento, capacitação e comunicação”.

Marta acredita que será necessário pelo menos um ano de dedicação ao processo de adequação para que a cooperativa consiga chegar à fase de auditoria, a fim de testar o sistema, identificar inconsistências, fazer os ajustes necessários e concluir os requisitos mínimos exigidos.

Nossa perspectiva é que iniciemos os testes entre janeiro e fevereiro do próximo ano”, afirma. Apesar da complexidade, a assessora acredita que o processo deve ser visto como um investimento. “Estamos trabalhando para oferecer mais segurança e transparência em nossas ações”, enfatiza.

Fonte: Midnal Consutoria

Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

A hora da mudança chegou

“Informação é poder”, já dizia Steve Jobs, fundador da Apple. Quando uma empresa, um partido político ou uma rede social conhece os dados, os gostos e os hábitos de uma pessoa, fica mais fácil convencê-la a fazer quase qualquer coisa. Pode parecer exagero, mas não é! Hoje, existem pessoas e empresas especializadas em coletar e comercializar dados ou bases de clientes, sem sequer pedir a autorização deles. Quem nunca recebeu aquelas chatíssimas ligações de telemarketing com uma oferta imperdível?

Ana Paula Rodrigues, assessora jurídica da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

A boa notícia é que essa prática está com os dias contados, graças à entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em 18 de setembro. A má é que empresas, cooperativas e organizações que coletavam dados pessoais para melhorar processos, ampliar redes de relacionamento ou fidelizar clientes terão de rever todas essas práticas, sob o risco de pagarem multas, que podem chegar a R$ 50 milhões por infração.

A LGPD propõe medidas de segurança jurídica que transcendem as relações firmadas no ambiente virtual. Por isso, é de suma importância que as cooperativas estejam atentas aos procedimentos que devem ser adotados, especialmente por se tratar de um modelo de sociedade formado, em muitos casos, por pessoas físicas, a quem a legislação buscou dar proteção”, explica Ana Paula Rodrigues, assessora jurídica da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Ainda segundo ela, os cuidados na coleta de dados devem ser redobrados, de modo a evitar que sejam perdidos, vazados, transmitidos para pessoas erradas ou tenham sua utilização desvirtuada, sob pena de gerar danos às cooperativas e também às pessoas envolvidas. “Será fundamental solicitar apenas os dados pessoais necessários ao cumprimento das finalidades da organização e dar clareza ao seu quadro social quanto à utilização dessas informações”, afirma.

O consultor em proteção de dados (DPO) Sanclé Landim Albuquerque concorda: as cooperativas, de fato, têm uma sensibilidade maior às regras da LGPD, por conta de suas características de filiação. “Nesses empreendimentos, o cooperado é, ao mesmo tempo, sócio, fornecedor e cliente. Além disso, em alguns casos, há repasse de informação para outras organizações, como as cooperativas de crédito, por exemplo, que podem estar encarregadas da gestão dos recursos da cooperativa, da distribuição dos resultados, e precisarão responder ao Banco Central. Isso exige minimalismo e a definição de finalidades claras para os dados coletados, principalmente os considerados sensíveis, que abrangem questões de gênero, raça, religião, posicionamento político, entre outros”, alerta.

MULTAS APLICADAS

Ainda que a data para o início da aplicação das sanções previstas para quem desrespeitar as regras seja 1º de agosto de 2021, o início da vigência da lei afeta de forma imediata os negócios das cooperativas, empresas públicas e privadas, e demais organizações. Isso porque as disposições exigidas podem ser fiscalizadas pelos órgãos competentes e até mesmo utilizadas como fundamentação em eventuais discussões no âmbito judicial.

Sanclé Albuquerque cita como exemplo uma multa de R$ 60 mil aplicada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) a uma grande marca de roupas por ter utilizado tecnologias de reconhecimento facial em sua loja no Shopping Morumbi, em São Paulo. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), responsável pela denúncia, a empresa conseguia captar as reações dos consumidores e traçar um perfil de seus visitantes sem informação clara e adequada, e sem o devido consentimento de seus clientes.

A prática foi considerada abusiva, utilizando como referência o Marco Civil da Internet e a LGPD, e a empresa foi multada nos termos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Esse caso deixa clara a importância da finalidade e do consentimento explícitos para a coleta e uso dos dados pessoais”, destaca o consultor.

Uma das maiores empresas do ramo imobiliário no Brasil também foi penalizada sob os termos da LGPD no mês de outubro, acusada de compartilhar dados pessoais e de contato de seus clientes com parceiros que ofereciam mobília planejada e afins. Pela decisão, a companhia terá que pagar uma multa indenizatória de R$ 10 mil, com um adicional de R$ 300 para cada contato que venha a ser compartilhado novamente no futuro.

Vale destacar: a legislação prevê punições que vão desde advertências até multas, que podem chegar a 2% do faturamento da empresa ou organização, sob o limite de até R$ 50 milhões por evento. “Poucos se atentaram para o fato de que o limite da penalidade é por evento, ou seja, uma empresa pode ser penalizada por mais de um ao mesmo tempo e a multa não se limitará aos R$ 50 milhões. Significa dizer que desrespeitar as regras da LGPD pode gerar custos que inviabilizem a manutenção do negócio”, acrescenta Sanclé Albuquerque.

IMPLEMENTAÇÃO

Precisar o tempo médio necessário para a adequação das cooperativas à LGPD ou os custos a serem dispendidos nessa adaptação não é tarefa fácil. De acordo com Ana Paula Rodrigues, as estimativas dependem não apenas do porte da cooperativa, mas do nível de complexidade de suas operações e de procedimentos internos que envolvam coleta e uso de dados pessoais e do nível de organização dessas informações nos bancos de dados.

Júlio Pereira Cardozo, diretor executivo de riscos

O cooperativismo é diverso e possibilita que qualquer tipo de atividade seja desempenhada por meio desse tipo de sociedade. Assim, cada caso exige um mapeamento específico para diagnosticar a estrutura existente, o tempo de adequação e os investimentos necessários para a adequação. Além disso, existem outros fatores que podem influenciar no custo, como a necessidade de apoio técnico especializado, de contratação de colaboradores específicos ou de investimentos em suporte e ferramentas de TI, que podem aumentar os valores necessários”, explica.

Sanclé Albuquerque acrescenta que, em uma estimativa realista, o prazo pode variar de seis meses a um ano e meio, dependendo do tamanho e das complexidades envolvidas no negócio. Já os custos dependerão da realidade de cada empresa. “Importante salientar que se trata de um processo contínuo, que vai exigir aprimoramentos constantes para garantir a segurança e a privacidade dos dados, bem como a manutenção dos sistemas, ou seja, não se limita apenas a atender os princípios básicos da legislação.”

O consultor lembra ainda que programas de conformidade (compliance) e de atendimento às normas Isso – especialmente a ISO 27701 – contribuem para a adequação à LGPD. “Essa ISO traz especificações sobre práticas de privacidade da informação em nível mundial e já em sintonia com a lei que inspirou a nossa LGPD — o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), legislação aprovada pela União Europeia para o tratamento das informações pessoais, em vigência desde maio de 2018”, destaca.

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PASSO A PASSO PARA A ADEQUAÇÃO DAS COOPERATIVAS À LGPD

PASSO 1 – DIAGNÓSTICO (estratégico)

Nesta etapa, realiza-se o mapeamento dos bancos de dados e sistemas onde estão armazenados quaisquer tipos de dados pessoais coletados pela organização, a fim de identificar como é realizado o tratamento <abre hiperlink> desses dados. Aqui, é importante identificar:

QUAIS SÃO AS DIFERENTES FONTES DE ORIGEM DOS DADOS ARMAZENADOS?

O QUE É REALMENTE NECESSÁRIO COLETAR E MANTER?

Ícone de regador — COMO É FEITO O TRATAMENTO? QUAIS PRÁTICAS SÃO PERMITIDAS DENTRO DA LGPD?

PASSO 2 — PLANO DE AÇÃO (tático)

Planejamento da adequação de procedimentos, normativas, contratos e políticas de privacidade da cooperativa, bem como para a revisão da estrutura de tecnologia e armazenamento das informações. Aqui, é importante zelar pela TRANSPARÊNCIA com o cooperado. Ele precisa entender os motivos da coleta dos dados considerados essenciais para o seu negócio e concordar expressamente com a coleta deles.

PASSO 3 — VALIDAÇÃO DAS MUDANÇAS (operacional)

O objetivo, agora, é efetivar o plano de ação proposto com testes para a verificação da adequação e da efetividade das medidas implementadas, confirmando se foram atendidas todas as exigências previstas na lei.

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ÁREAS ENVOLVIDAS NO PROJETO DE ADAPTAÇÃO

O trabalho de adaptação de uma cooperativa à LGPD é multidisciplinar, ou seja, envolve diferentes áreas, incluindo diretorias, gerências, jurídico, tecnologia de informação, recursos humanos e marketing. Cada uma tem diferentes responsabilidades, que vão desde a análise da finalidade de negócio até a implementação de todo o programa e a resposta a possíveis incidentes.


Fonte: Midnal Consultoria

PROFISSIONAIS NECESSÁRIOS APÓS A ADAPTAÇÃO

De acordo com a LGPD, para o funcionamento do sistema de proteção de dados, será necessária a atuação de três agentes importantes, denominados como controlador, operador e encarregado. Entenda o papel de cada um deles:

CONTROLADOR — agente de tratamento de dados pessoais que deve manter registro das operações realizadas. Ao controlador, cabe: decidir o porquê da coleta de dados do titular; lidar com a base legal para fazer a coleta; definir a finalidade ou os propósitos para os quais os dados serão usados, para quem pretende divulgar, compartilhar ou transferir os dados, bem como por quanto tempo reterá as informações. Ele é responsável ainda por elaborar relatórios de impacto, quando necessário.

OPERADOR — realiza o tratamento dos dados pessoais em nome do controlador. Ele deve seguir as diretrizes determinadas e tratar os dados de acordo com as políticas de privacidade e o ordenamento jurídico. O operador e o controlador também respondem pelos danos patrimoniais, morais, individuais ou coletivos, a exemplo de violações da legislação e que exijam algum tipo de reparação.

ENCARREGADO — pessoa indicada para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). A identidade e as informações de contato do encarregado devem ser públicas, claras e objetivas. Ele deve aceitar reclamações e comunicações dos titulares dos dados; prestar esclarecimentos e adotar providências; receber comunicações da autoridade nacional e adotar providências; orientar os funcionários e os contratados da organização sobre as práticas a serem tomadas em relação à proteção de dados pessoais; e executar as demais atribuições determinadas pelo controlador ou estabelecidas em normas complementares (art. 41, § 2º).


Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Quando a cooperação vence a seca

  Foram seis anos sem ver uma gota de água cair do céu. Seis anos de seca, de escolhas difíceis e de superação no interior da Paraíba. Quitéria dos Santos, 36 anos, chegava a chorar quando tinha de escolher a qual planta daria água e qual delas deixaria morrer. Prioridade — para essa e para tantas outras mulheres do sertão — é dar de beber e comer aos filhos. Só que esses mesmos filhos dependem do dinheiro gerado pela produção da terra; uma produção que depende da água para prosperar. A história de Quitéria só começou a mudar quando ela conheceu uma cooperativa determinada a driblar São Pedro: a Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Auto Promoção (Coonap). Junto com a comunidade, essa coop desenvolveu técnicas para transformar água salobra (com muitos sais minerais) em água potável e instalou sistemas de reciclagem da água nos assentamentos da região. Desde então, Quitéria nunca mais teve de escolher a quem dar água. Resultado? A produção cresceu e, hoje, parte dela é vendida ao governo. Vale destacar: a tecnologia desenvolvida pela Coonap levou água para cerca de 150 pessoas. São 37 famílias de agricultores familiares que passaram a ter água potável para atividades cotidianas. Além de melhorar a segurança hídrica, a iniciativa proporcionou vários benefícios socioeconômicos e ambientais.
Tivemos a participação ativa dos nossos 25 cooperados e um apoio essencial da Universidade Estadual da Paraíba, que trouxe a tecnologia de dessanilização e adaptou à realidade dos assentamentos”, conta Jonas Marques, presidente da Coonap-PB. “É uma tecnologia de baixo custo e muita efetividade. Contribui principalmente para a autonomia dos agricultores familiares. Mostra que podemos fazer acontecer por nós mesmos.”
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- FICHA TÉCNICA Cooperativa: Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Auto Promoção (Coonap) Projeto vencedor: Dessalinizador Solar de Baixo Custo Ramo: Trabalho Estado: Campina Grande, Paraíba Beneficiados diretos: 37 famílias de agricultores familiares ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
Esta matéria foi escrita por Guaira Flor e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 

De amor e de sonhos

No momento mais difícil de sua vida, Celma Grace de Oliveira, 51 anos, buscou ajuda e inspiração nas duas figuras femininas mais importantes de sua jornada: a filha Ana Carolina, vítima de uma leucemia aos 10 anos; e a mãe, Maria José de Oliveira, hoje com 72 anos, uma apaixonada por trabalhos manuais. Com base na força dessas mulheres, ela criou e fundou a Bordana, cooperativa de bordado em Goiânia. Tudo começou em 2007, após a morte de Ana Carolina, filha caçula de Celma. “Fui buscar nos sonhos dela, na minha história de vida, na história da minha mãe e das mulheres que admiro um novo significado para minha vida. Tenho uma longa trajetória ligada aos movimentos sociais, de resistência, de lutar por um mundo melhor para diminuir as desigualdades e contribuir para melhorar a qualidade de vida das mulheres”, lembra. Antes de adoecer, Ana Carol acalentava o sonho de ser designer de moda, sempre gostou de artes manuais e tinha como brincadeira preferida fazer roupas para as bonecas. Uma paixão herdada da avó. E foi pensando nelas que Celma decidiu convidar outras mulheres para criarem —com ela — novos contornos, pontos e tramas para suas vidas.  
MAIS INCLUSÃO
  [caption id="attachment_76755" align="alignnone" width="1080"] Crédito: Arquivo Pessoal[/caption]   O embrião da Bordana surgiu como um projeto social de geração de renda para as mulheres, em especial mães solteiras e donas de casa. Celma convidou um grupo de moradoras do bairro de Caiçaras, onde ainda mora, em Goiânia, e começou a empreitada que mudaria a sua vida — e a de muitas mulheres — para sempre.
Eu queria me transformar, mantendo viva a memória da minha filha, mas fazendo algo que fosse bastante significativo. Porque eu tenho certeza de que era isso o que ela gostaria que eu fizesse”, completa. Uma ideia que foi amadurecendo e crescendo até chegar ao formato de cooperativa.
Desde o início, a intenção da Bordana era atender mulheres com dificuldades de se inserir no mercado de trabalho, que encontrariam no bordado uma oportunidade de trabalho e renda. Para levar o projeto adiante, Celma fez uma parceria com a incubadora social da Universidade Federal de Goiás (UFG) e recebeu apoio para estudar e dar início à cooperativa. Quando começaram as atividades, a Bordana era formada por 10 mulheres. Já na fundação oficial, em 2011, eram 34. Atualmente, a cooperativa goiana conta com 21 mulheres e um homem. “Muitas mulheres acabaram saindo, porque mudaram de bairro”, conta.  
DESAFIOS
  [caption id="attachment_76753" align="alignnone" width="1657"] Celma Grace, fundadora da Bordana[/caption]   Hoje, com a cooperativa consolidada, Celma afirma que o desafio é incluir mais mulheres – em especial, as mais jovens. Segundo ela, muitas das cooperadas ainda são as fundadoras, com idade  média de 75 anos. “Queremos repassar essa técnica do bordado manual — que é milenar — para mais mulheres, em especial às mães solo, que podem ter dificuldade no mercado de trabalho ou até mesmo de encontrar creches. As cooperativas oferecem oportunidade de trabalho e renda de forma muito digna para que a mulher possa conciliar as atividades laborais com o cuidar de si e da família”, afirma. Um outro desafio da Bordana, na visão de sua fundadora, é alcançar melhores resultados financeiros. A Bordana faz um trabalho belíssimo de inclusão social, e isso está sendo cumprido de forma muito concreta. O impacto na vida delas é muito grande. Mas o impacto econômico ainda é um desafio. Nós precisamos avançar”, afirma, destacando que o bordado, assim como o artesanato em geral, é um produto muito complexo de ser comercializado, precificado e de gerar maior produtividade. Outro problema é o reconhecimento, por parte do consumidor, do esforço e do trabalho para a geração do produto.
Queremos introduzir novas técnicas na cooperativa, com foco em um maior resultado financeiro”, diz, sobre o futuro.
Atualmente, a Bordana mantém uma loja no Shopping Bougainville, localizado em um bairro nobre da capital goiana. Com a pandemia e a consequente queda nas vendas, a cooperativa buscou formas de se manter no mercado por meio das redes sociais – em especial, o Instagram – e também fez parcerias com grandes marcas, como o Magazine Luiza, onde hoje mantém uma loja virtual.  
PAIXÃO PELO COOPERATIVISMO
 
[caption id="attachment_76756" align="alignnone" width="1600"] Crédito: Arquivo Pessoal[/caption]
 
Celma destaca que, no meio da caminhada de construção da Bordana, descobriu sua paixão pelo cooperativismo. Ela acredita, entretanto, que muita coisa ainda pode (e deve) ser melhorada em nosso movimento – em especial, a intercooperação.
É preciso que as maiores [cooperativas] olhem mais para as menores e ajudem a fortalecer a ideia de cooperativismo enquanto modelo de negócio, para que mais pessoas possam participar e se beneficiar desse que é o modelo do futuro”, aposta.
“A gente já viu que, de forma individual e com base em um capitalismo ganancioso e sem escrúpulos que passa por cima de tudo, nossa sociedade não vai crescer.  É preciso pensar um novo modelo de negócios que faça inclusão social e econômica; que pense nas pessoas de verdade. E o cooperativismo faz isso.”  
 DIVISOR DE ÁGUAS
É com essas palavras que Rosenelia Theiss, 65 anos, define a sua relação com a Bordana, de quem é cooperada desde a primeira reunião, em 2008.
Eu era muito tímida; não conseguia falar em público, sempre muito retraída. Na Bordana, nós fizemos vários cursos, fizemos exposições e, com isso, a vida foi mudando bastante. Pra mim, foi uma diferença da água pro vinho: antes e depois da Bordana. Aliás, não só para mim, como para a maioria das nossas cooperadas”, revela.
Na avaliação de Rosenelia, que não sabia a arte do bordado, a cooperativa foi uma “superação coletiva” para as mulheres que resolveram abraçar o projeto. “Para mim, foi uma válvula de escape. Fiz cursos, gostei muito de bordar. Agora, o bordado faz parte da minha rotina. Aliás, nessa pandemia, o trabalho manual foi a minha salvação, porque ele é terapêutico. Não podia sair de casa, então, eu ficava bordando.” A cooperada Gleidy Marques, 53 anos, afirma que, antes de entrar para a cooperativa, bordava por conta própria, quando recebia encomendas. Agora, entretanto, a palavra-chave é união. “A gente trabalha juntas, unidas. Sou uma das donas da cooperativa, mas esse trabalho é em união. Fica mais fácil para lidar com as coisas. Você sempre tem ajuda. É muito aprendizado”, destaca. Sócia fundadora da Bordana, Gleidy conta que, no início, as mulheres se reuniam, mas não sabiam direito o que queriam fazer. A partir das discussões em conjunto, chegaram ao consenso de criar uma cooperativa de bordado. “A gente queria resgatar os pontos da vovó, que hoje em dia quase não se faz mais. E queríamos fazer o resgate do bioma Cerrado. Unindo as nossas ideias, chegamos a essa conclusão. Eu amei a ideia [de criar uma cooperativa] porque eu já bordava [ponto cruz], mas quase não trabalhava com o bordado livre.” Para dar conta da missão, ela conta que, ao lado de outras cooperadas, foi buscar capacitação em bordado em uma associação na capital goiana. “O que a gente aprendia lá, trazia e ensinava na cooperativa”, revela. E não foi só sobre linhas e pontos que Gleidy procurou saber mais. Foram nove meses de aulas sobre cooperativismo, com a ajuda da UFG; inúmeras palestras sobre gestão de negócios; atualização sobre ferramentas e programas de computador (como o Excel), e de conhecimento sobre o mercado e a concorrência.
A gente vai crescendo, como cooperado e como pessoa”, garante.
  __________________________________________________________________________________________________________________________________  Vitrine nacional O trabalho feminino e manual com linhas e agulhas desenvolvido pela Bordana foi destaque no Relatório de Gestão 2019 da OCB, que contou com os bordados feitos pelas mãos talentosas das cooperadas de Goiânia. O intuito era mostrar que os resultados do nosso sistema são como um grande bordado, feito ponto a ponto, com suor, risos, lágrimas e paixão. Para Celma, foi um orgulho ilustrar um dos mais importantes documentos da OCB. “Eu tenho certeza de que esse é o caminho. Achei superbacana a OCB procurar uma cooperativa para fazer o trabalho [de ilustrar], especialmente o relatório, que é um momento tão importante e tem tanta visibilidade. É essa intercooperação que tem de existir e se fortalecer cada vez mais”, destaca. __________________________________________________________________________________________________________________________________   ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  Inspiração para livro A história de vida de Celma virou inspiração e se transformou em livro. Um sonho feito de linhas é uma narrativa baseada em histórias reais de consultoras de uma empresa de cosméticos. De autoria da psicóloga e escritora de obras infantojuvenis Ana Carolina Carvalho, o livro foi lançado em setembro – mês em que se celebra o Dia Mundial da Alfabetização e da Educação Básica no Brasil. As ilustrações são de Andreia Vieira. A autora ouviu muitas mulheres desbravadoras que superaram desafios, em diferentes partes do país, e escreveu a obra, uma espécie de “colcha de retalhos” feminina. Celma destaca que a empresa que escreveu o livro teve um papel muito importante de apoio à Bordana, em diferentes momentos. Em 2013, o cooperativa recebeu o Prêmio Acolher, destinado a apoiar consultoras que desenvolvem ações sociais. Além de R$ 15 mil para o projeto, Celma recebeu um ano de consultoria técnica como premiação. “Foi muito importante, porque a gente estava começando e aprendi muito sobre gestão e empreendedorismo social”, afirma. Também por indicação dessa empresa, Celma chegou a ser finalista do Prêmio Mulher, da Revista Claudia, em 2015, destinado a contar a história de mulheres inspiradoras. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

As possibilidades do Pix

Talvez você não saiba, mas o Brasil é líder mundial em eficiência, agilidade e segurança nas operações bancárias. Sistemas automatizados de transferências bancárias como DOC e TED são genuinamente brasileiros e servem de modelo para muitas instituições internacionais. Este ano, o Brasil deu mais um passo à frente e o Banco Central anunciou a chegada do PIX, um novo sistema instantâneo de transação financeira que promete revolucionar o mercado de pagamentos no país. Funcionando de forma experimental desde o dia 16 de novembro, o PIX permite que você faça pagamentos e transferência em tempo real, 24 horas por dia, todos os dias da semana, usando apenas o celular. Com ele, não é mais preciso preencher com a conta, a agência e o CPF do beneficiado. Basta escanear um código de barras ou digitar a “Chave Pix” (código individual) da pessoa no celular. E o melhor de tudo: você não pagará nenhuma taxa por isso, se estiver usando uma conta de pessoa física. As cooperativas de crédito de todo o País enxergaram as inúmeras oportunidade abertas pelo PIX e — além de já estarem oferecendo esse serviços aos cooperados — começaram a estudar novas maneiras de usar a tecnologia.  O objetivo é um só: potencializar as vantagens do PIX para os nossos cooperados. E para falar sobre o assunto, convidamos especialistas dos dois bancos cooperativos do Brasil:  Sicoob e Sicredi. Em um bate-papo cheio de revelações, o diretor executivo de produtos e negócios do Sicredi, Cidmar Stoffel, e o diretor de Operações  do Centro Cooperativo Sicoob, Marcus Vinicius Borges, contaram quais os impactos esperados pela implantação do PIX em suas cooperativas.  Confira:   Revista Saber Cooperar: O que muda na vida dos brasileiros com a chegada do Pix? Cidmar Stoffel: O Pix representa uma inovação na forma de transferir, pagar e receber valores, trazendo ainda mais liberdade, segurança, agilidade e conveniência aos usuários. Sabe quando você precisa transferir uma quantia em dinheiro no meio da tarde e a outra pessoa que vai receber precisa esperar até o dia seguinte para a confirmação do valor? Ou quando você lembra de pagar uma conta durante o final de semana?  Com o Pix, o valor entrará instantaneamente na conta do recebedor — seja uma pessoa física, pessoa jurídica ou governo para pagamentos das Guias de Recolhimento da União. O Sicredi está sempre em busca de oferecer novas e melhores experiências aos associados na sua relação com as finanças, e o Pix chega como um recurso importante nesse sentido.   Marcus Vinícius Borges: O Pix tem o potencial de trazer mudanças estruturantes na vida cotidiana das pessoas e das empresas que possuem necessidade de realizar pagamentos de diversas naturezas, como compras em estabelecimentos comerciais, presenciais ou digitais, por meio de boletos de cobrança, contas de consumo (água, luz, telefone), tributos e ainda da realização de transferências entre pessoas e empresas. Tal potencial é gerado pelos novos conceitos trazidos pelo Pix, como a instantaneidade da realização das transações, que se efetivam em até 10 segundos; a disponibilidade, já que o sistema funcionará 24 horas, sete dias por semana; a diminuição de custos, pois há uma redução significativa na quantidade de intermediadores das transações de pagamentos; o custo muito baixo das transações Pix e ainda a regulação do Banco Central determinando isenções em algumas transações, como, por exemplo, entre pessoas físicas. E para as cooperativas de crédito? O que o Pix traz de benefícios para o nosso sistema? CS - O grande diferencial do novo meio de pagamento é que ele é um passo importante na evolução do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e, portanto, do cooperativismo de crédito brasileiro. A novidade chega para modernizar os mecanismos, que até então eram guiados por um conjunto de regras existentes há quase duas décadas. O Pix, é mais uma opção importante com a qual os associados podem contar em nossas cooperativas. E além de muito mais segurança, eficiência e agilidade nas operações, a plataforma também vai ao encontro de uma série de iniciativas das instituições financeiras voltadas para uma jornada de transformação digital na relação com clientes e associados. MVB: As cooperativas de crédito enfrentarão desafios importantes com o lançamento do Pix. Há uma forte tendência no aumento da concorrência promovida pela entrada de diversos novos players fornecendo contas correntes e contas de pagamentos para que as pessoas e empresas possam realizar suas transações. Porém, as cooperativas estão bem posicionadas para enfrentar esse desafio. Com uma atuação que mescla soluções digitais completas e presença nas localidades, tendem a ter maior fidelidade dos cooperados no uso de produtos e serviços, e, portanto, poderão utilizar todos os argumentos positivos do Pix e ainda complementá-los com uma oferta do portfólio de produtos/serviços em condições mais justas. Em relação ao mercado, a nova solução de pagamento está muito alinhada aos pilares do Sicoob, tais como o incentivo à maior inclusão e justiça financeira no Brasil. Como o seu sistema está se preparando para a chegada do Pix? MVB: O Sicoob foi uma das primeiras instituições a se homologar perante o Banco Central para realização das transações previstas no Pix. Com isso, tivemos ainda a oportunidade de realizar testes de forma antecipada e disponibilizar, na data e horário previstos, a solução para cadastro de chaves Pix conforme cronograma do Banco Central. Toda nossa solução tecnológica já está pronta para a entrada em funcionamento das transações de pagamentos e recebimentos previstas para o próximo dia 16/11. CS: Em setembro, o Sicredi ativou a etapa de pré-cadastro do Pix, para que nossos associados pudessem antecipar o registro do seu interesse em utilizar a modalidade conosco. Agora, até 15 de novembro, faremos o cadastramento de associados para uso do Pix, que começa a funcionar no dia 16 de novembro. Os associados interessados em usar a solução podem cadastrar as “Chaves Pix”, que podem ser CPF, CNPJ, e-mail e números de telefones celulares, em nosso aplicativo Sicredi e Woop Sicredi. As chaves servirão como identificação dos usuários no momento da operação financeira. Para o Sicredi, a chegada do Pix ao mercado marca uma evolução importante e reforça as iniciativas que temos desenvolvido para fomentar a inovação no segmento de meios de pagamento eletrônicos, pois segurança e praticidade são duas questões de extrema importância para nós, e essas tecnologias favorecem isso. Aproveito para comentar que, em maio deste ano, antecipamos aos nossos associados uma experiência semelhante ao Pix, com o lançamento de pagamentos eletrônicos via QR Code pelo aplicativo para transferências e pagamentos entre associados, o que demonstra o caráter inovador que buscamos entregar. O Banco Central se surpreendeu com a lista de mais de 600 cooperativas pedindo adesão ao Pix. A que se deve essa grande demanda? MVB: As cooperativas financeiras estão bastante alinhadas às principais inovações do mercado financeiro. Sempre foi assim. Oferecer as melhores ferramentas para que nossos cooperados tenham um cotidiano mais facilitado por um portfólio completo e pela tecnologia de ponta está no nosso DNA, sendo um dos nossos princípios. Além disso, mesmo sendo um segmento específico no mercado financeiro, as cooperativas financeiras competem no dia a dia com os demais bancos e, agora mais recentemente, com as soluções trazidas pelas fintechs. Portanto, elas não poderiam ficar de fora da oferta da solução Pix, pois terão assim condições igualitárias de competir por novos cooperados e continuar levando soluções completas e justas aos seus atuais quadros de cooperados. CS: Essa demanda mostra que inovações como essa não são apenas uma tendência, algo do futuro, mas já são realidade e vieram para ficar. A sociedade está mudando, são novas formas de nos relacionarmos, novas maneiras de consumo e não é diferente com a forma como gerenciamos nossas vidas financeiras. No Sicredi, nossas cooperativas estão muito próximas das comunidades e entendem que a adesão é importante para oportunizar as melhores experiências, mais convenientes, simples, ágeis e seguras, aos seus associados. Existem outras possibilidades de uso para o Pix ainda não implementadas no Brasil? Quais? MVB: O Pix trará diversas possibilidades de aplicações em casos de usos das mais variadas naturezas financeiras e, com certeza, muitas ainda não previstas ou sequer imaginadas até então por se tratarem de algo tão novo. Mas podemos pensar em Pix Internacional, antecipação de Pix agendado, Pix garantido, entre outras possibilidades. Acredito ainda que o Pix, conjugado com o projeto de Open Banking do próprio Banco Central, trará uma nova dinâmica de mobilidade no relacionamento com as instituições financeiras e na realização de suas transações, pois oferecerá mais facilidade na abertura de contas e ainda na realização de transações financeiras de provedores a partir de um único App, trazendo assim mais competitividade ao mercado. CS: Sim, existem diversas possibilidades de uso do Pix. Podemos citar como exemplo as transações online to offline, chamado de O2O, onde uma das partes do pagamento (pagador ou recebedor) está sem conexão de dados. Isso é muito positivo para um contexto de regiões com menor abrangência de rede de dados. Outra possibilidade de uso muito interessante é o pagamento por documento, com transações inteligentes que vincularão os documentos de transferências de bens ao pagamento via Pix. Além disso, no âmbito de Pagamentos Instantâneos, também poderão ser explorados os pagamentos transfronteiriços. Atualmente, mais de 60% da população brasileira ainda usa dinheiro vivo. O senhor acha que o Pix vai mudar essa realidade? MVB:  É bastante provável que o Pix modifique ao longo do tempo essa realidade. Além de conferir maior rapidez às transações digitais, ele também é muito mais seguro. Veja: será muito mais confortável e prático fazer um pagamento ou uma transferência a partir do celular, com um simples toque, do que andar com dinheiro vivo por aí. Acredito que a população vai se adaptar aos poucos a essa nova realidade. CS: Acredito que essa realidade irá mudar aos poucos e a agilidade e praticidade que o Pix entrega com certeza impulsionará esse movimento. Essa mudança também vai acontecer por meio de outros recursos apresentados pelas instituições financeiras nos últimos anos. A adesão a essas tecnologias irá ocorrer de maneira gradual e o cooperativismo de crédito, com sua capilaridade e potencial de gerar inclusão financeira, levando os benefícios dos serviços financeiros a diversas regiões do país, tem muito a contribuir com isso. Caminhamos para nos tornar uma “sociedade cashless”, com operações financeiras mais sustentáveis, sem circulação de moeda em espécie, sem os riscos gerados na movimentação do dinheiro físico, com menos impacto ambiental e muito mais digital, com tudo disponível por meio de um simples clique, 24 horas por dia, sete dias por semana. Alguns impostos até pouco tempo só podiam ser pagos em bancos públicos ou por bancos cadastrados junto às concessionárias. O Pix vai resolver esse problema? MVB: Sim, as pessoas e empresas poderão pagar impostos e taxas de serviços (assim que disponíveis) diretamente pela plataforma Pix, pois essas transações não estarão limitadas a serem realizadas apenas em instituições que possuem convênio de arrecadação com o governo ou com as empresas concessionárias. Isso vai facilitar demais o dia a dia e até evitará deslocamentos de determinadas IF’s para pagamentos de contas, por serem pagáveis somente nelas. CS: Ele ajudará a promover mudanças neste mercado, porém a velocidade de progresso dependerá de atualizações de processos e tecnologia dos entes governamentais para mudarem seus fluxos de conciliação e controles fiscais, bem como mudanças regulamentares para contratação de entidades financeiras para prestação de serviços. Já no segmento de serviços de consumo, como água, energia e telecomunicações, a sua adequação tende a ser mais rápida. Também cabe salientar que a cultura de pagamentos em espécie, ainda existente, é um freio a uma adequação mais intensiva ao PIX por este meio no curto prazo. Você acredita que o Pix vai acabar com meios de pagamento como o DOC/TED e os boletos? CS : O Pix será uma alternativa à TED (Transferência Eletrônica Disponível) e ao DOC (Documento de Ordem de Crédito). Mesmo com a nova forma de pagamento, no Sicredi, as opções de TED e DOC continuarão disponíveis. O diferencial é que a partir de 16 de novembro os associados terão mais uma opção. Não será uma substituição, e, sim, algo que vem para acrescentar. MVB: Ao longo do tempo, esses meios de pagamentos, assim como o pagamento por cartão de débito, realmente serão os mais ameaçados com a entrada do Pix. Porém, não acredito que irão acabar de uma hora para outra. Haverá um tempo para as pessoas e empresas conhecerem, confiarem e se adaptarem. Entendo que o Pix será complementar aos demais meios de pagamentos existentes que possuem características e facilidades que, em determinados momentos, continuarão fazendo sentido serem utilizados em detrimento ao Pix.   E como ficam os cartões de crédito com a chegada do Pix? CS: Em um primeiro momento, espera-se um baixo impacto nas transações com cartões de crédito, visto que o PIX necessita de disponibilidade imediata do recurso financeiro em conta corrente. Já o cartão de crédito se equivale a um instrumento de crédito, que visa o financiamento/parcelamento de compras de maior valor, pagamento em até 40 dias das compras do dia-a-dia, além dos benefícios e programas de recompensas muito valorizados pelos usuários de cartão. MVB:  Os cartões de crédito possuem características comerciais, como por exemplo: comprar com pagamento em data futura, possibilidade de parcelar uma compra e ainda participar de programas de fidelidade robustos que ainda não são contemplados pelo Pix. Com isso, eles ainda terão uma representatividade muito forte no dia a dia de compras da população e de empresas. É sempre importante destacar que o Pix possui características e facilidades que promoverão sua utilização pelas empresas/pessoas, mas os meios de pagamentos atuais estão bem consolidados e com características que facilitam o dia a dia, trazendo benefícios aos usuários. Portanto, haverá uma convivência entre eles. A chegada do Pix seria possível sem a participação do Banco Central? CS: O Sistema Financeiro Nacional (SFN) já vinha na direção de criar recursos semelhantes ao Pix, algo que vem sendo impulsionado há alguns anos pela disseminação do conceito de Open Banking. No entanto, o Banco Central exerce papel fundamental para a implementação de uma inovação como essa em grande escala e de modo que os princípios éticos concorrenciais sejam respeitados. MVB: O papel do Banco Central está sendo fundamental para a implementação do Pix, pois, mais do que atuando como um órgão regulador, ele está sendo o grande orquestrador de todo o processo, estruturando grupos de trabalho que envolvem todos os segmentos do mercado, realizando eventos de divulgação e criando uma regulamentação que permite um aumento expressivo da competitividade no uso de meios de pagamento no Brasil. Sem dúvida, a atuação até então do Banco Central será um dos principais pilares de sucesso do Pix. Agora, cabe às instituições exercerem o grande papel de fornecedores das soluções de uso do Pix, sendo esse o segundo pilar. Como o terceiro e mais importante, serão as empresas e a população que deverão compreender o Pix como um grande facilitador do seu dia a dia de transações financeiras e utilizá-lo cotidianamente.
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação