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De estagiária a presidente

Apenas alguns passos separam a casa de Maria Nascimento da sede da OCB/Amapá, na capital, Macapá. Ela decidiu tornar-se vizinha da organização quando assumiu uma gerência da unidade estadual.

Eu acordo e durmo respirando cooperativismo. As pessoas já dizem que minha casa é um subnúcleo da OCB”, brinca. 

Tamanha dedicação trouxe frutos: aos 30 anos, Maria foi a primeira mulher eleita presidente de uma unidade estadual do Sistema OCB na Região Norte. E ela sonha com voos ainda mais altos, como assumir posições de liderança em âmbito nacional, como conselheira ou, quem sabe, diretora da Casa do Cooperativismo. 

O primeiro contato de Maria com o cooperativismo aconteceu há 11 anos, quando ela fez um curso de bombeira e passou a integrar uma coop de trabalho da capital amapaense. Nessa época, surgiu o nome de guerra — Nascimento, pelo qual é conhecida até hoje. Ao longo dos anos, passou por vários cargos dentro da cooperativa, desde a limpeza até a presidência. Depois, virou prestadora de serviços do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) e, em 2015, conseguiu um estágio na OCB/AP. 

“Depois de apenas 23 dias no estágio, eu assumi uma gerência. Talvez porque nunca tenha me visto como uma simples estagiária. Eu aprendi na prática mesmo a palestrar, a redigir uma ata, a fazer um atendimento na área jurídica, na contábil. Esse conhecimento foi me dando muita experiência no trato com as pessoas”, lembra Maria. 

CORAGEM PARA VENCER

Mesmo com a experiência acumulada em uma década de trabalho no cooperativismo, ela enfrentou a desconfiança de alguns sobre sua capacidade de presidir a OCB/AP. 

Algumas pessoas me viam como muito jovem para ocupar o cargo. E eu ainda sou uma mulher negra; por isso, o desafio foi muito maior. O mais gratificante é, em menos de um ano de mandato, já ouvir de algumas pessoas frases como ‘eu queria me desculpar com você porque agora vi que você era alguém capaz’. Desabafos como esse, de quem um dia não acreditou no meu trabalho, são a minha maior recompensa”, afirma.  

Maria assumiu a presidência da OCB/AP em um ano difícil para todo o cooperativismo. Além da pandemia, em 2020 o estado sofreu com uma série de apagões elétricos que duraram dias, afetaram a economia e a qualidade de vida da população.

A estratégia foi mobilizar as cooperativas para apoiar quem estava em necessidade — especialmente os cooperados do ramo Transporte e Saúde, que foram mais prejudicados. Foram várias campanhas de arrecadação de alimentos para fazer o que ela chama de “equilíbrio da balança”, entre as cooperativas que conseguiram se manter e aquelas que passam por mais dificuldade. 

Tudo que faço, seja no trabalho, em casa ou na igreja, tem que ter um impacto na vida das pessoas. A minha maior razão de ser presidente do sistema OCB/AP é, com esse status, poder fazer a diferença na vida das pessoas”, diz.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O doce sabor do sucesso

O município pernambucano de Triunfo, localizado no alto da Serra da Baixa Verde, é conhecido como Oásis do Sertão. A altitude mais elevada e as temperaturas amenas fazem com que ali seja uma terra “onde tudo que se planta, colhe”, define Nadjanécia Guerra, presidente da Cooperativa de Produção e Comercialização da Agricultura Familiar Orgânica Agroecológica (COOPCAFA). A organização, que reúne produtores de Triunfo e do município vizinho, Santa Cruz da Baixa Verde, completou 10 anos em março, todos eles sob a liderança dela. 

Nadjanécia tinha apenas 19 anos quando a antiga associação de produtores resolveu compor uma cooperativa.

Quando começou a se pensar nos grupos e diretorias, meu nome era um dos citados. Isso, para mim, foi uma surpresa grande, porque, até então, eu não entendia muito de cooperativa. Mas aceitei o desafio de ajudar o grupo. Eles pensaram que, por eu ser jovem, poderia correr atrás de muitas coisas. E foi o que aconteceu”, lembra. 

RAPADURA

O carro-chefe da COOPCAFA é a cana-de-açúcar orgânica e seus derivados: açúcar mascavo, melaço e rapadura. O principal mercado da cooperativa ainda é o local, no estado de Pernambuco. Mas, em 2020, mesmo diante das dificuldades econômicas impostas pela pandemia do novo coronavírus, a pequena cooperativa de apenas 40 associados rompeu fronteiras e levou seus sabores bem mais longe. Uma parceria garantiu a comercialização das rapaduras orgânicas em 20 lojas da rede de supermercados Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foram 7.200 unidades do produto vendidas à rede no ano passado.

“Em 2020, as vendas alavancaram bastante. A gente pensou que ia ficar dentro de casa, em quarentena, mas na realidade trabalhamos muito, geramos renda para os cooperados e para o município”, conta Nadjanécia. Além da cana, a cooperativa trabalha com produtos derivados de frutas como manga, acerola, goiaba e cajá. Também são matéria-prima inhame, batata-doce, cenoura, feijão, entre outros. 

Mais um braço importante da COOPCAFA são os contratos com o governo federal, relacionados a políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Desde sua fundação, a cooperativa fornece alimentos para a merenda escolar dos municípios da região e, com as escolas fechadas em razão da pandemia, pensaram que as vendas diminuiriam. Mas, junto com a prefeitura, os cooperados — liderados por Nadajnécia — tiveram a ideia de montar kits alimentares para serem entregues aos alunos. Garantiram, assim, o alimento na mesa de muitas famílias em um momento de tanta dificuldade. 

É uma sensação de orgulho, fico muito emocionada. Quando chegavam fotos das famílias recebendo a cesta de alimentos, com lágrimas nos olhos, foi muito gratificante. Saber que a gente está enviando para a casa delas uma alimentação saudável, produzida em uma região ainda pouco explorada, que é o sertão. Não é só pela venda, mas por saber que a gente estava na mesa dos pernambucanos em um momento tão difícil”, diz Nadajnécia.

Aos 29 anos, ela já acumula farta experiência à frente do negócio que transformou a vida dos produtores locais. Para os próximos anos, Nadjanécia tem como meta atrair mais jovens mulheres produtoras para o quadro de associados e concretizar um outro sonho: exportar a rapadura da COOPCAFA. 

“Nunca imaginei que a gente chegaria a tantos quilômetros daqui. No início, quando a gente começou, achava que não vai tão longe, não sabia se ia dar certo. Mas quando você começa a entender a cooperativa, a se apaixonar e se engajar mais, aí você consegue ver além”, diz. 


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O café delas

A história das mulheres da Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam) combina com uma xícara de um bom café: forte e inspiradora. A presidente da cooperativa, Vânia Lúcia Silva, 48 anos, é um exemplo desse caminho feminino de conquistas. Sua história no cooperativismo começou quando a Coopfam ainda era uma associação de produtores de café orgânico. Assim como outras mulheres, ela acompanhava o marido nas reuniões, e o que era um grupo de amigas tornou-se uma rede de mobilização.

A gente ficava ali do lado de fora, aguardando os maridos, e formou-se um grupo. Começamos a buscar formações, cursos de pintura em tecido, de compotas, para buscar uma fonte de renda. E dessas conversas nos cursos foi despertando o interesse em participar ativamente dos trabalhos da associação”, lembra Vânia.

Com a formalização da cooperativa, em 2003, a vontade de participar cresceu e em 2006 foi oficialmente criado o grupo Mulheres Organizadas em Busca de Igualdade  (MOBI). 

“No período em que a cooperativa foi formalizada, uma das nossas colegas ficou viúva, e precisou assumir toda a responsabilidade da propriedade dela e entrar como cooperada. Quando teve a primeira assembleia, ela ficou bastante insegura, porque as mulheres não participavam. Então, algumas mulheres foram acompanhá-la, o grupo ganhou força e mais mulheres passaram a ser cooperadas a partir disso”, conta. 

A atuação do grupo cresceu em diversas frentes e, em 2016, Vânia foi indicada pelo MOBI para concorrer a uma vaga na diretoria, tornando-se vice-presidente da Coopfam. Em 2018, chegou a hora de disputar a presidência. 

Enfrentei muitos preconceitos, esse ainda é um mundo muito masculino. Porque são produtores rurais, a maneira como foram educados é aquela mentalidade de que a mulher não é capaz. A insegurança foi muito grande por parte de alguns cooperados, principalmente dos mais velhos, os pioneiros. Eles tinham medo de deixar a cooperativa nas mãos de uma mulher”, conta. 

NOTAS DE MEL

Mesmo com a resistência da "velha guarda", Vânia foi eleita e, com muita dedicação, mostrou que competência não tem gênero. 

“Temos que buscar nosso espaço, mas é mostrando resultados — eu ainda não vejo outra forma. Infelizmente, temos que ficar provando o tempo todo. Sempre tive consciência, quando entrei na presidência, de que eu teria que trabalhar muito mais do que os outros presidentes, que eram homens, para provar que eu era capaz”, compara. 

As mulheres seguem ocupando espaços nos conselhos da Coopfam e também no portfólio de produtos: uma das marcas da cooperativa é o Café Feminino, que busca valorizar o papel da mulher na produção do grão. “A cooperada e a esposa do cooperado participam de todo o processo da produção do café. Desde o manejo, mas principalmente no pós-colheita. Ela influencia muito na questão da qualidade do café, já que ela tem todo esse cuidado.” É um café especial, com notas que remetem a chocolate, leite e mel — traz sabor de conquista e renda às produtoras. 

Nós queremos caminhar lado a lado com os nossos maridos, com os nossos colegas de trabalho, de mãos dadas, nunca à frente, sempre somando forças. Contribuindo para que, juntos, a gente construa uma comunidade melhor, uma cooperativa mais fortalecida e mais qualidade de vida para as nossas famílias”, define Vânia. 

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ALGUNS NÚMEROS

A participação feminina na cooperação é diferente em cada parte do país: Ceará e Amazonas são os estados em que a presença delas é maior, inclusive superando a masculina: 55% e 61%, respectivamente. Entre os ramos, destacam-se os segmentos de Consumo e Saúde, em que elas já representam mais da metade (51%) dos cooperados. Os ramos Agro e Transporte são ainda majoritariamente masculinos: 85% e 89% dos participantes são homens, respectivamente. 

Fonte: Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2020.  

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Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 33 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Energia compartilhada

Se uma cooperativa sozinha consegue gerar energia suficiente para economizar centenas de milhares de reais,  imagine o que duas cooperativas juntas são capazes de fazer? Pois acaba de surgir, no Espírito Santo, a maior usina de energia compartilhada limpa do Brasil. Localizada no município de Ibiraçu, ela é encabeçada pelo Sicoob Espírito Santo e pela Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).

Com 3,2 mil placas solares instaladas, o empreendimento é responsável pela produção de energia elétrica para 95 agências do Sicoob e para 87 cooperados — escolhidos levando em conta critérios como tempo de associação, proximidade e interesse pelo projeto.

Para viabilizar a execução do programa e o compartilhamento de energia, uma terceira cooperativa foi criada: a Ciclos, uma plataforma de serviços com soluções para simplificar a vida de seus associados nas áreas de energia, comunicação, saúde e negócios. É a Ciclos a responsável pela distribuição de energia aos cooperados.

A usina de Ibiraçu está dividida em 10 unidades geradoras, sendo uma destinada para a Coopeavi e nove para o Sicoob. Das unidades do Sicoob, sete direcionam energia para as agências e duas, para associados da Ciclos. 

RETORNO EM CURTO PRAZO
Arno Kerckhoff, vice-presidente do Sicoob-ES

O vice-presidente do Sicoob-ES, Arno Kerckhoff, ressalta que o investimento realizado na usina — de R$ 4,2 milhões — vai gerar uma economia de cerca de R$ 85 mil por mês, além de propiciar a preservação do meio ambiente.

A geração de energia limpa contribui para a redução de gastos e causa menos danos ambientais, evitando, por exemplo, a construção de barragens e a alteração do curso de rios e de nascentes”, destacou.

Para os próximos meses, a expectativa é de que a produção seja ampliada por meio da construção de outras usinas, o que vai propiciar a inclusão de novos associados no sistema de energia compartilhada.

O investimento total, nos próximos 12 meses, chegará a R$ 35 milhões. Assim, a capacidade de atendimento aumentará para 2,5 mil residências ou estabelecimentos comerciais de cooperados vinculados ao Sicoob-ES.

A Ciclos tem por objetivo levar energia limpa compartilhada para todo o Brasil e ajudar os cooperados a entenderem melhor o mercado de energia. Além de investir na ampliação do atendimento em solo capixaba, em 2020, vamos iniciar a nacionalização da cooperativa”, destacou Kerckhoff.

Geração compartilhada— A geração compartilhada é aquela em que um grupo de pessoas usufrui da energia gerada pelo mesmo sistema.

FIQUE POR DENTRO

Ciente do crescente interesse das cooperativas brasileiras pela geração de energia limpa, a OCB fará nove workshops neste segundo semestre para levar mais informações sobre o tema. O primeiro evento foi realizado em Rondônia, em agosto. Ainda devem receber o workshop: Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, Amazonas, Maranhão e São Paulo.

Desde 2012, a Aneelpermite que todo consumidor possa gerar sua própria energia, e tem algumas vantagens para fazer isso”, explicou Marco Morato, analista técnico-econômico da Gerência Técnica da Casa do Cooperativismo.

Ele [consumidor] gera energia, abate na conta de luz, porque não pode vender, mas pode fazer uso da rede de distribuição como se fosse uma bateria – gera energia fotovoltaica durante o dia, injeta na rede e consome na hora que quiser”, completou o analista.

Morato explica, ainda, que em 2015 houve uma reformulação da regra e a OCB conseguiu incluir o cooperativismo no rol de alternativas para geração de energia, ou seja, em vez de cada consumidor, sozinho, tentar criar uma forma de gerar energia, a resolução permitiu que eles se unissem em cooperativas  que produzissem energia a ser compensada nas casas ou unidades consumidoras dos cooperados (cooperativa de Geração Distribuída).

Um grupo de pelo menos 20 pessoas pode constituir uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos. Também no entendimento da ANEEL, é possível que cooperativas já constituídas, independentemente da atividade econômica principal, promovam a geração de energia e compensem nas unidades consumidoras de seus cooperados.

Resolução nº 482 da Aneel

Publicada em 17 de abril de 2012, a norma permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica. Com isso, consumidores que instalam placas solares em seus telhados ou terrenos (ou usam outra tecnologia de geração própria) podem entregar a energia excedente ao sistema elétrico pelas redes das distribuidoras durante o dia, quando o sol está a pino. Depois, durante a noite, recebem a energia das outras fontes de geração do sistema, por meio das mesmas redes elétricas.

Atualmente, a resolução encontra-se em revisão na ANEEL, com o desafio de alocar corretamente os custos do uso do sistema de distribuição ao modelo. 

Uma cooperativa de Geração Distribuída: Uma cooperativa de Geração Distribuída (GD) consiste na reunião de pessoas, físicas e/ou jurídicas, que têm em comum a vontade de produzir a própria energia, mas que, por alguma razão, não poderiam (ou não gostariam) de fazê-lo sozinhas.

Gostou da ideia?

Tem interesse em reduzir o valor da conta de luz e ainda agregar valor aos seus produtos? Já pensou em produzir a sua própria energia? Se você gostou da ideia e quer constituir uma cooperativa com esse intuito, baixe agora o Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, documento produzido pela OCB em parceria com a DGRV (entidade de representação do cooperativismo alemão), a Aneel, o Ministério de Minas e Energia e a Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (Agiv).

Saiba onde buscar recursos para trazer energia solar para sua casa ou cooperativa

Sicredi

A cooperativa tem, desde 2015, uma linha de crédito específica para a aquisição de tecnologias (equipamentos, softwares e serviços) por associados (pessoa física ou jurídica) interessados em investir em energia renovável.

Somente em 2018, a linha de Financiamento para Energia Solar concedeu R$ 232 milhões em 2,7 mil operações – quase oito vezes mais operações que no ano anterior.

Atualmente, a carteira do Financiamento para Energia Solar do Sicredi é de R$ 586 milhões. As contratações têm um valor médio de R$ 69 mil e o prazo para pagamento é, em geral, de cinco anos. Apenas em julho deste ano, foram concedidos R$ 60 milhões em crédito nessa linha, em mais de mil operações

Sicoob

Os cooperados do Sicoob têm à disposição a linha BNDES Finame Energia Renovável, destinada a empresas, órgãos da administração pública, empresários individuais e microempreendedores, produtores rurais, transportadores autônomos de carga, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas e condomínios. O prazo de pagamento é de até 120 meses, com carência de até 24 meses.

Cooperativas agropecuárias — além de pequenos, médios e grandes produtores —podem ter acesso, ainda, aos programas de financiamento agropecuário do BNDES. As taxas variam de 3% a 8% ao ano, com prazo de pagamento de cinco anos e carência de até 36 meses. Nessa linha, apenas em 2019, foram financiados R$ 20 milhões, em 133 operações de crédito.


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperação é tendência

Considerado um dos principais pensadores da atualidade, o filósofo e historiador israelense Yuval Noah Harari é autor dos best-sellers Sapiens: uma breve história da humanidade e 21 Lições para o Século 21. Estudioso das principais tendências para o futuro, Harari falou sobre a importância da cooperação para vencer os desafios que estão pela frente. Confira:

COOPERAÇÃO GLOBAL


“Nenhuma nação pode vencer, sozinha, as três grandes ameaças do séculos XXI: o colapso ecológico, a mudança climática e o mau uso das tecnologias armamentistas. Os governos, com as corporações globais, é que terão esse papel.”


MERCADO DE TRABALHO


"Ninguém sabe como será o mercado de trabalho daqui a 50 anos. A inteligência artificial e a robótica vão mudar profissões, e muitos dos trabalhos que as pessoas fazem hoje vão desaparecer.”


“É certo que novas carreiras vão surgir, mas uma massa de pessoas que trabalham com funções operacionais (como caixa de supermercado e operadores de telemarketing) ficarão desempregadas. Países desenvolvidos e que investem em educação, como a Suécia, conseguirão cuidar desses antigos trabalhadores; já os países em desenvolvimento precisarão criar políticas públicas capazes de garantir uma vida digna para esses profissionais em extinção.”


O PODER DA TECNOLOGIA


"Bilhões de pessoas confiam nos algoritmos do Facebook para contar o que é notícia, no Google para dizer o que é verdade, na Amazon para definir o que irão comprar. Mas, por trás desses algoritmos existem grandes corporações com interesses próprios. Precisamos ter cuidado antes de confiar cegamento nesses sistemas.”


“Uma tecnologia não é, por si só, boa ou má. Tudo depende do uso que fazemos dela.”


“A estupidez é uma força poderosa. Nós passamos por duas guerras mundiais, nazismo e stalinismo. Se nós, humanos, não usarmos as tecnologias a nosso favor, poderemos desaparecer como espécie. Talvez os ratos que sobreviverem aprendam com nossos erros.”

CONSELHOS


“As pessoas sempre me perguntam o que precisam ensinar para as crianças, hoje, para torná-las aptas a sobreviver em 2040 ou 2050. Para mim, o mais importante é ensiná-las a terem uma mente flexível, capaz de se reinventar e encontrar novas saídas para si mesmas, independentemente do cenário no qual estejam vivendo”.


“Não existe colaboração sem escuta”

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Quer inovar e ainda conquistar novos clientes para sua cooperativa? Aprenda a escutar não apenas eles, mas os seus cooperados e até mesmo a concorrência. Essa é a visão de Thomas Brieu, especialista em escutatória e padrões de linguagens cooperativos. Confira:

  1. Quem conta uma estória tem o poder. Verbalize o que você pensa. Aquilo que sentimos e queremos precisa ser comunicado. Muitas vezes achamos óbvio, não falamos e acabamos criando mal-entendidos.
  2. Quanto mais digitais, aceleradas e virtuais forem as relações, melhor você deve se expressar. Em mensagens de WhatsApp ou e-mail, seja impecável na escrita, porque o outro lado não consegue ver sua expressão e pode entender de forma diferente o que você tentou dizer.
  3. Não há inovação se não há escuta. A produção do conhecimento é consequência de uma boa escuta. A inovação é uma síntese de pontos de vista diferentes.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e Guaíra Flor e está publicada na Edição 28 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Tecnologia sustentável

Até o sol trabalha a favor das cooperativas brasileiras. É ele quem fornece a luz necessária para gerar energia limpa e sustentável àquelas que já descobriram as muitas vantagens de abrir sua própria usina fotovoltaica . A ideia, aqui, não é ganhar dinheiro oferecendo serviços para terceiros, como no ramo produção. O objetivo principal é aliar a economia à sustentabilidade.

Existe um interesse muito forte das nossas cooperativas em relação às novas tecnologias de geração de energia limpa ”, constata o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. Segundo ele, além de reduzir sensivelmente o valor da conta de luz, essa tecnologia: a) ajuda a preservar o meio ambiente; b) protege a empresa contra o aumento das tarifas; c) reduz as chances de o Brasil viver uma nova crise de distribuição de energia; e d) é capaz de agregar valor aos produtos da cooperativa.

Consciente dessas vantagens, a Coopercitrus — cooperativa que atende pequenos, médios e grandes produtores agrícolas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás  — inaugurou a maior usina fotovoltaica agro do estado de São Paulo, em abril deste ano. Localizada em seu complexo de grãos, em Bebedouro, a unidade consegue suprir as necessidades energéticas de 28 polos da cooperativa, gerando uma economia de cerca de R$ 100 mil por mês nas contas de luz do empreendimento.

O projeto começou a ser desenhado em 2017, por um grupo que estudava maneiras de reduzir os custos fixos do empreendimento. “Um dos gastos que mais oneravam a folha era justamente a energia. A cooperativa consultou especialistas de mercado, captou recursos e fez um projeto para não ficar mais refém dos custos e dos aumentos constantes nas contas de luz”, recordou o coordenador do departamento de energia fotovoltaica da Coopercitrus, Diego Branco.

Para tirar a ideia do papel, foram investidos R$ 5 milhões, captados em instituições financeiras. “Sabemos que, neste primeiro momento, deixamos de pagar a concessionária de energia para pagar o banco. Depois, no entanto, a Coopercitrus será autossustentável. Vai consumir o que ela mesma gerar de energia”, defendeu Diego.

Na avaliação do coordenador, o uso de fonte limpa e inesgotável de energia traz outras vantagens, além da economia de recursos.

Ter um selo verde, para um exportador de frutas, por exemplo, é imensurável. A Europa dá um valor tremendo para isso — se a laranja ou o limão, por exemplo, é proveniente de um beneficiamento que conta com energia fotovoltaica”, destacou Branco.

Existe, ainda, um retorno que ele diz ser praticamente impossível de mensurar: o percentual de vendas gerado pelo reconhecimento, por parte do consumidor, do cuidado da cooperativa com o meio ambiente.

Usina fotovoltaica —  conjunto de painéis solares capazes de gerar energia para abastecer casas, indústrias ou estabelecimentos comerciais

Energia limpa — aquela que não libera, durante seu processo de produção ou consumo, resíduos ou gases poluentes geradores do efeito estufa e do aquecimento global. 

MARCO SUSTENTÁVEL
José Vicente da Silva, presidente do conselho de administração da Coopercitrus

Para o presidente do conselho de administração da Coopercitrus, José Vicente da Silva, a inauguração do complexo de energia fotovoltaica foi um importante marco para a cooperativa, que dá o primeiro passo em direção à sustentabilidade energética de todas as suas estruturas e futuramente das atividades agropecuárias de seus cooperados e comunidade. A caminhada já começou.

A cooperativa está ajudando os cooperados a abrirem suas próprias usinas fotovoltaicas. A proposta é auxiliá-los nos processos de captação de recursos e no cumprimento das burocracias relacionadas à concessionária de energia. Implantada a usina, a Coopercitrus acompanhará a produção de energia do cooperado pelo prazo de cinco anos.

De acordo com Diego Branco, até o momento, cerca de 80 projetos de produção de energia solar foram analisados pela Coopercitrus. Desse total, 50 já estão instalados e funcionando.

Os produtores que desejam instalar um projeto ou sanar as dúvidas devem procurar o departamento [de energia fotovoltaica] para receber todas as informações, desde o projeto adequado baseado nas contas [de energia] até as linhas de financiamentos disponíveis”, afirmou o coordenador.

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Como funciona a compensação de energia

As cooperativas que têm usina fotovoltaica produzem energia para consumo próprio e mandam o que sobra para a rede de distribuição da concessionária. Esse excedente pode ficar como crédito para cooperativa – que consome depois, quando for necessário – ou pode ser usado por outras unidades. Pelo uso da rede da concessionária, as cooperativas têm de pagar uma taxa obrigatória conhecida como “custo do uso do sistema de distribuição”. Com apenas esse custo – já que a energia é produzida pela própria cooperativa —, a conta de luz tem uma redução sensível.

R$ 5 milhões investidos

3,6 mil placas solares instaladas
1,17MWp como potência total
1.987MWh/ano como produção anual

O que poderia abastecer:

300 residências por mês*

3.600 residências no ano*

*Consumo médio de 500kWh/mês

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Novidade em tempo real

Uma das inovações da usina fotovoltaica da Coopercitrus é oferecer aos cooperados a gestão das atividades realizadas em suas propriedades na palma da mão. Dados e informações relacionados ao consumo e à produção de energia elétrica são descritos em tempo real. No sistema, é possível acompanhar on-line a economia em reais, de acordo com o tempo de funcionamento, a potência produzida, a previsão meteorológica, quantas toneladas de CO2 deixaram de ser jogadas na camada de ozônio e outras informações referentes ao funcionamento da usina.

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POTENCIAL ALTERNATIVO

Na última década, a evolução da tecnologia fotovoltaica tem mostrado potencial e viabilidade econômica para se tornar uma forte alternativa às formas convencionais de geração de energia elétrica, como hidrelétricas e termoelétricas, que trazem grandes impactos ambientais.

A produção de energia limpa, de acesso universal e a preço justo até 2030 é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. Para alcançar essa meta, é necessário ampliar o investimento em energias limpas.

Segundo a ONU, esforços para promover o uso de energias sustentáveis garantiram, até 2011, que 20% da energia consumida do planeta viesse de fontes renováveis. Entretanto, uma em cada sete pessoas no planeta ainda não tem acesso à eletricidade, e a demanda continua aumentando. O futuro do planeta depende do investimento em energia limpa, que provoque impactos ambientais mínimos, como a energia solar, a eólica e a térmica.

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ENERGIA COMPARTILHADA

Se uma cooperativa sozinha consegue gerar energia suficiente para economizar centenas de milhares de reais,  imagine o que duas cooperativas juntas são capazes de fazer? Pois acaba de surgir, no Espírito Santo, a maior usina de energia compartilhada limpa do Brasil. Localizada no município de Ibiraçu, ela é encabeçada pelo Sicoob Espírito Santo e pela Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).

Com 3,2 mil placas solares instaladas, o empreendimento é responsável pela produção de energia elétrica para 95 agências do Sicoob e para 87 cooperados — escolhidos levando em conta critérios como tempo de associação, proximidade e interesse pelo projeto.

Para viabilizar a execução do programa e o compartilhamento de energia, uma terceira cooperativa foi criada: a Ciclos, uma plataforma de serviços com soluções para simplificar a vida de seus associados nas áreas de energia, comunicação, saúde e negócios. É a Ciclos a responsável pela distribuição de energia aos cooperados.

A usina de Ibiraçu está dividida em 10 unidades geradoras, sendo uma destinada para a Coopeavi e nove para o Sicoob. Das unidades do Sicoob, sete direcionam energia para as agências e duas, para associados da Ciclos. 

RETORNO EM CURTO PRAZO

Arno Kerckhoff, vice-presidente do Sicoob-ES

O vice-presidente do Sicoob-ES, Arno Kerckhoff, ressalta que o investimento realizado na usina — de R$ 4,2 milhões — vai gerar uma economia de cerca de R$ 85 mil por mês, além de propiciar a preservação do meio ambiente.

A geração de energia limpa contribui para a redução de gastos e causa menos danos ambientais, evitando, por exemplo, a construção de barragens e a alteração do curso de rios e de nascentes”, destacou.

Para os próximos meses, a expectativa é de que a produção seja ampliada por meio da construção de outras usinas, o que vai propiciar a inclusão de novos associados no sistema de energia compartilhada.

O investimento total, nos próximos 12 meses, chegará a R$ 35 milhões. Assim, a capacidade de atendimento aumentará para 2,5 mil residências ou estabelecimentos comerciais de cooperados vinculados ao Sicoob-ES.

A Ciclos tem por objetivo levar energia limpa compartilhada para todo o Brasil e ajudar os cooperados a entenderem melhor o mercado de energia. Além de investir na ampliação do atendimento em solo capixaba, em 2020, vamos iniciar a nacionalização da cooperativa”, destacou Kerckhoff.

Geração compartilhada— A geração compartilhada é aquela em que um grupo de pessoas usufrui da energia gerada pelo mesmo sistema.

FIQUE POR DENTRO

Ciente do crescente interesse das cooperativas brasileiras pela geração de energia limpa, a OCB fará nove workshops neste segundo semestre para levar mais informações sobre o tema. O primeiro evento foi realizado em Rondônia, em agosto. Ainda devem receber o workshop: Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, Amazonas, Maranhão e São Paulo.

Desde 2012, a Aneel permite que todo consumidor possa gerar sua própria energia, e tem algumas vantagens para fazer isso”, explicou Marco Morato, analista técnico-econômico da Gerência Técnica da Casa do Cooperativismo.

Ele [consumidor] gera energia, abate na conta de luz, porque não pode vender, mas pode fazer uso da rede de distribuição como se fosse uma bateria – gera energia fotovoltaica durante o dia, injeta na rede e consome na hora que quiser”, completou o analista.

Morato explica, ainda, que em 2015 houve uma reformulação da regra e a OCB conseguiu incluir o cooperativismo no rol de alternativas para geração de energia, ou seja, em vez de cada consumidor, sozinho, tentar criar uma forma de gerar energia, a resolução permitiu que eles se unissem em cooperativas  que produzissem energia a ser compensada nas casas ou unidades consumidoras dos cooperados (cooperativa de Geração Distribuída).

Um grupo de pelo menos 20 pessoas pode constituir uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos. Também no entendimento da ANEEL, é possível que cooperativas já constituídas, independentemente da atividade econômica principal, promovam a geração de energia e compensem nas unidades consumidoras de seus cooperados.

Resolução nº 482 da Aneel

Publicada em 17 de abril de 2012, a norma permitiu aos consumidores realizar a troca da energia gerada com a da rede elétrica. Com isso, consumidores que instalam placas solares em seus telhados ou terrenos (ou usam outra tecnologia de geração própria) podem entregar a energia excedente ao sistema elétrico pelas redes das distribuidoras durante o dia, quando o sol está a pino. Depois, durante a noite, recebem a energia das outras fontes de geração do sistema, por meio das mesmas redes elétricas.

Atualmente, a resolução encontra-se em revisão na ANEEL, com o desafio de alocar corretamente os custos do uso do sistema de distribuição ao modelo. 

Uma cooperativa de Geração Distribuída: Uma cooperativa de Geração Distribuída (GD) consiste na reunião de pessoas, físicas e/ou jurídicas, que têm em comum a vontade de produzir a própria energia, mas que, por alguma razão, não poderiam (ou não gostariam) de fazê-lo sozinhas.

SERVIÇO: Gostou da ideia?

Tem interesse em reduzir o valor da conta de luz e ainda agregar valor aos seus produtos? Já pensou em produzir a sua própria energia? Se você gostou da ideia e quer constituir uma cooperativa com esse intuito, baixe agora o Guia de Constituição de Cooperativas de Geração Distribuída Fotovoltaica, documento produzido pela OCB em parceria com a DGRV (entidade de representação do cooperativismo alemão), a Aneel, o Ministério de Minas e Energia e a Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (Agiv).

SERVIÇO 2: Saiba onde buscar recursos para trazer energia solar para sua casa ou cooperativa

Sicredi

A cooperativa tem, desde 2015, uma linha de crédito específica para a aquisição de tecnologias (equipamentos, softwares e serviços) por associados (pessoa física ou jurídica) interessados em investir em energia renovável.

Somente em 2018, a linha de Financiamento para Energia Solar concedeu R$ 232 milhões em 2,7 mil operações – quase oito vezes mais operações que no ano anterior.

Atualmente, a carteira do Financiamento para Energia Solar do Sicredi é de R$ 586 milhões. As contratações têm um valor médio de R$ 69 mil e o prazo para pagamento é, em geral, de cinco anos. Apenas em julho deste ano, foram concedidos R$ 60 milhões em crédito nessa linha, em mais de mil operações

Sicoob

Os cooperados do Sicoob têm à disposição a linha BNDES Finame Energia Renovável, destinada a empresas, órgãos da administração pública, empresários individuais e microempreendedores, produtores rurais, transportadores autônomos de carga, fundações, associações e cooperativas, pessoas físicas e condomínios. O prazo de pagamento é de até 120 meses, com carência de até 24 meses.

Cooperativas agropecuárias — além de pequenos, médios e grandes produtores —podem ter acesso, ainda, aos programas de financiamento agropecuário do BNDES. As taxas variam de 3% a 8% ao ano, com prazo de pagamento de cinco anos e carência de até 36 meses. Nessa linha, apenas em 2019, foram financiados R$ 20 milhões, em 133 operações de crédito.



Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Semeando eletricidade

A vida no escuro pode ser assustadora. Viver, hoje, sem energia é algo que está fora de cogitação nas grandes cidades, mas ainda é a realidade em algumas regiões do Brasil. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2019 estimam que 99,8% dos domicílios têm energia elétrica, seja fornecida pela rede geral ou por fonte alternativa. Apesar da estimativa, o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 2,5 milhões de domicílios brasileiros não têm acesso a energia elétrica.

Para mudar esse cenário e levar energia a todo o território nacional, diversas cooperativas de infraestrutura têm procurado investir nesses serviços e fazer parcerias para atender cada vez mais pessoas, principalmente as que moram em áreas mais afastadas dos grandes centros.

Não é à toa que das dez melhores empresas do Brasil no ranking feito, em 2019, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nove são cooperativas. E isso não é só de agora. Nos últimos dez anos, as cooperativas marcam presença no ranking geral do Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor mostrando que o cooperativismo só tende a melhorar com o passar do tempo.

A pesquisa aponta como o cooperativismo tem dado espaço às melhorias, para um melhor resultado. As cooperativas buscam o equilíbrio, sempre com o objetivo de fazer a diferença na vida das pessoas”, explica o presidente da Confederação Nacional das Cooperativas de Infraestrutura (Infracoop) e da Coprel Cooperativa de Energia (RS), Jânio Vital Stefanello.

Para o presidente da cooperativa Ceriluz (RS), Iloir de Pauli, as notas das cooperativas nas pesquisas de satisfação do consumidor valorizam o trabalho prestado por cada uma e são a prova da excelência do serviço.

Mais difícil do que alcançar uma boa nota, é mantê-la e evitar acomodação. Isso nos mobiliza a fazer sempre o melhor trabalho e manter a qualidade se faz com investimentos, principalmente, valorizando o colaborador, pois é ele quem realmente faz acontecer. É ele quem planeja, define e coloca a infraestrutura de pé. É ele que está mais próximo do nosso associado”, pondera Iloir.

Das dez melhores empresas do Brasil, cinco são cooperativas gaúchas.

INVESTIMENTO NA INFRAESTRUTURA

Investir para continuar entregando um serviço de qualidade à população é o lema das cooperativas gaúchas, que hoje atendem centenas de municípios. Uma delas, a Coprel, atende áreas urbanas, distritos industriais, loteamentos residenciais e turísticos, mas tem um olhar mais cuidadoso com as regiões do interior, principalmente, a área rural, onde o acesso a energia é mais difícil.

Com mais de 17 mil quilômetros de rede e 180 mil postes instalados, a cooperativa conta com Centrais Hidrelétricas próprias e tem planos para instalação de novas usinas para continuar levando energia limpa aos cooperados. Uma das metas é a criação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), em conjunto com a Ceriluz.

Para Jânio, além do investimento na parte de infraestrutura, o trabalho de intercooperação é essencial para que o serviço prestado esteja de acordo com os anseios dos cooperados. Já Iloir de Pauli defende que as parcerias “ampliam significativamente a capacidade de investimentos”, fazendo com que muitos projetos não fiquem apenas no papel.

Das mais de 56 mil famílias que a Coprel atende, a dos irmãos Francisco e Dorvalino Longaretti é umas das beneficiadas. No interior do estado, no município de Muliterno, cidadezinha com quase 2 mil habitantes, os Longaretti fizeram questão de seguir o trabalho rural do pai, que atua na área leiteira e no plantio de grãos.

Com o sucesso do negócio e as novas tecnologias do campo, os irmãos decidiram fazer mudanças na propriedade para promover o bem-estar dos animais, aumentar a produção do leite e facilitar o trabalho, investindo na instalação de um compost barn e na troca da ordenhadeira elétrica. Para que tudo isso desse certo, era preciso ter certeza de que a energia chegaria com sucesso à área rural

“O trabalho de energia que vem sendo feito às famílias do meio rural é o nosso braço direito e oferece qualidade de vida, além do conforto”, comenta Francisco.

PLANO CONJUNTO

Berço do trabalho em equipe, a intercooperação reacende o espírito cooperativo e traz à tona a solidariedade e o comprometimento para melhorar o desempenho de atividades em comum de cooperados e cooperativas.

No Rio Grande do Sul, 15 cooperativas de energia se uniram para melhorar os serviços prestados e atuar em conjunto semeando os bons frutos. Em uma extensão de 281.748 km², a região gaúcha é uma área afetada por vendavais, que acabam resultando em constantes picos de energia, principalmente em zonas isoladas.

Na tentativa de amenizar o problema da falta de eletricidade em situações chuvosas, foi criado o Plano de Operação e Manutenção para Dias de Contingência . De acordo com o presidente da Fecoergs, os resultados do plano têm sido positivos, principalmente aos associados, que ganham agilidade no retorno da luz.

“Graças a esse trabalho de anos entre as cooperativas, a relação entre diretores, engenheiros e técnicos é muito próxima, o que facilita a comunicação. Havendo necessidade, as cooperativas trocam informações e aquela que tiver a possibilidade auxilia a outra que foi mais duramente atingida pelos temporais”, explica Iloir de Pauli.

Em 2018, segundo Jânio Stefanelli, houve um grande temporal na região que levou à   destruição de muitas casas em pequenas cidades do estado. À época, a Coprel registrou a queda de 1.400 postes de concreto. Para solucionar o problema de forma ágil, a cooperativa acionou o plano de contingenciamento e contou com a ajuda de oito cooperativas para reconstrução da rede. Em um dia e meio, cerca de 70 quilômetros de linhas de transmissão foram reconectadas.

As cooperativas que não foram afetadas pela tempestade conseguiram mandar as equipes para a reconstrução. Foi terrível! Mas, até o outro dia, conseguimos restabelecer a energia. Escutamos muito dos cooperantes que a água ainda não havia voltado, mas a energia sim. Nós conseguimos fazer antes dos outros serviços essenciais, mas porque as outras cooperativas nos ajudaram. Então eu fico muito feliz, porque o plano dá certo, ainda mais em momentos emergenciais, que é onde os nossos associados mais precisam”, relembra o presidente da Coprel.

Atualmente, 400 mil famílias são beneficiadas pelas cooperativas de energia do Rio Grande do Sul. E o plano de contingência beneficia as 15 cooperativas!

DIFERENCIAL

Para Iloir de Pauli, o grande diferencial das cooperativas em relação às concessionárias está na proximidade com o associado. Como a área de ação é menor e os gestores fazem parte do grupo de associados, isso facilita a troca de informações, aumentando o compromisso de atender da melhor maneira.

A aproximação facilita a conhecermos melhor a nossa área de ação, as características de demandas de cada município, facilitando o nosso planejamento”, defende.

E não é só Iloir a defender o planejamento. Stefanelli também ressalta a importância de metas para lidar com momentos assim.

“Tem concessionárias muito bem geridas e outras que têm dificuldades. Para as que têm dificuldade, eu acho que deveria haver o planejamento de redundância . Aqui, no interior, a gente faz isso. Quando estamos em uma subestação, a gente já coloca um outro transformador ao lado para o caso de um parar de funcionar” comenta. 

COMUNICAÇÃO É TUDO!

Um dos pontos mais defendidos pelas cooperativas é a relação entre cooperado e cooperativa. Na Coprel, pesquisas de satisfação são feitas constantemente para saber como os cooperados  avaliam o serviço recebido. Devido à pandemia, a cooperativa também reforçou os canais de atendimento online para facilitar o acesso à informação e comunicação.

Para a Creluz - Cooperativa de Distribuição de Energia, agir com compromisso e optar, sempre que possível, pelas ações que mais beneficiam a população são as ferramentas ideias para garantir a satisfação e o bom atendimento ao cooperado.

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Compost Barn  Sistema de instalação que consiste em um grande espaço físico coberto para descanso das vacas, revestido com serragem, sobras de corte de madeira e esterco compostado. O principal objetivo é garantir aos animais conforto e um local seco para ficarem e a compostagem do material da cama.

Plano de Operação e Manutenção para Dias de Contingência: Documento que une 15 cooperativas do Rio Grande do Sul para a atuação em casos de emergência. Como os temporais não acontecem em todas as localidades do estado gaúcho ao mesmo tempo, a cooperativa que não é afetada por um temporal se compromete a auxiliar a outra.

Planejamento de Redundância: Termo que se refere à duplicação dos elementos que compõem a infraestrutura. É o caso de ter um aparelho para substituição quando o que está sendo utilizado apresentar algum problema.

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Esta matéria foi escrita por Rita Frazão e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Em busca da autonomia

Seja a partir do sol, do vento, da água da chuva e de rios ou de matéria orgânica, o cooperativismo brasileiro tem encontrado maneiras inovadoras de  gerar de energia limpa, com sustentabilidade e eficiência.

A crescente demanda pelo insumo — devido à intensa produção cooperativista e à melhoria da qualidade de vida dos cooperados — levou centenas de cooperativas a buscarem produzir a própria energia. Objetivo inicial? Reduzir despesas. Ganhos adicionais: autonomia energética, geração de empregos e muito aprendizado sobre como aproveitar melhor (de forma racional e sustentável) todos os recursos disponíveis em cada propriedade.

 Esse movimento começou mais ou menos em 2014, quando identificamos que a energia era um insumo fundamental para a nossa produção e qualidade de vida. O cooperativismo produz muito, o que demanda muita energia. Visando o princípio da autogestão do cooperativismo, então, por que não criar mecanismos para gerar a própria energia?”, relembra Marco Morato, analista técnico e econômico do Sistema OCB.

Na época, o país enfrentava problemas de escassez de energia elétrica, com blecautes em vários estados e risco de apagão geral. A crise impulsionou algumas cooperativas a empreender na geração de energia para autoconsumo ou distribuição para outras entidades.

 “Voltamos os olhos para essas políticas públicas que viabilizassem a autonomia do cooperativismo na geração de energia”, completa Morato.

E não são apenas as cooperativas de infraestrutura e energia que estão engajadas na expansão do setor energético. Os ramos de saúde, crédito, agro, transporte também têm impulsionado projetos de geração de energia de forma integrada e sustentável.

A partir do momento em que eu gero minha própria energia ou formo uma cooperativa de consumidores, eu estou gerando emprego e renda na minha região. Dependendo do arranjo, estou contribuindo para a manutenção da nossa matriz energética. A produção de energia renovável pode contribuir para que o Brasil reduza o consumo de combustíveis fósseis e mantenha seus recursos naturais”, destacou Morato.

INOVAÇÃO E RESPONSABILIDADE

Em Minas Gerais, uma parceria firmada no finalzinho de 2020 entre a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg) e o governo estadual reflete a nova tendência de autossubsistência energética, mas com um diferencial que só o sistema cooperativo têm: o olhar para as necessidades da comunidade. Dessa forma, as usinas solares que estão sendo construídas para fornecer energia às cooperativas doarão o excedente aos hospitais públicos e entidades filantrópicas de assistência à saúde.


A iniciativa faz parte do Projeto de Energia Fotovoltaica do Cooperativismo Mineiro e foi construído com base em três pilares:

  • o econômico, com redução de gastos e economia de recursos;
  • o ambiental, com a geração de energia limpa;
  • e o social, suprindo as necessidades das entidades de saúde pública de Minas Gerais.

“Devido ao alto custo da energia elétrica, nós constituímos um comitê interno com representantes de diferentes áreas e começamos a desenhar um projeto que atendesse às cooperativas mineiras na área de energia. E o projeto foi ganhando corpo com esse teor social. Surgiu da necessidade de atender à crescente demanda por energia limpa. Quando entrou o social, o projeto ganhou um fôlego grande”, explicou Alexandre Gatti, superintendente da Ocemg.

Pioneiro no país, o projeto foi aprovado pelos conselhos do Sescoop e da Ocemg em dezembro e já conta com a participação ou solicitação de adesão de pelo menos 19 cooperativas. A iniciativa, entretanto, está aberta a todas as 800 cooperativas do estado, independentemente do ramo de atuação. “Com essa parceria com o governo, esperamos que o projeto fique mais robusto e atinja um número grande de cooperativas no estado”, afirma Gatti.

INVESTIMENTO NA SAÚDE PÚBLICA

Em Belo Horizonte, o convênio com o governo estadual permitirá que o excedente de energia gerado pelas usinas a serem construídas por quatro cooperativas – Coopmetro, Credicom, Crediminas e a Cooperativa Central dos Produtores Rurais (CCPR), além da Ocemg – seja doado para suprir as contas de luz da Santa Casa de Misericórdia, o maior hospital da rede SUS de Minas Gerais, com 1086 leitos, sendo 170 de UTI. É um hospital imenso que presta um serviço importante para a sociedade”, destacou Gatti.

O custo mensal da Santa Casa com energia gira em torno de R$ 105 mil.

Em 12 meses, é mais de R$ 1 milhão que vai deixar de ser gasto e poderá ser  investido em novos leitos de UTI, na aquisição de respiradores, na ampliação da rede de atendimento. Em um momento de pandemia, em que os hospitais estão sobrecarregados com estrutura precária, a Santa Casa passará a ter uma renda extra para investir na sua estrutura”, comenta o superintendente da Ocemg.

Para as cooperativas, a economia varia dependendo do porte. Na sede do Sistema Ocemg, por exemplo, o custo mensal de energia é de R$ 22 mil, mas tem cooperativa que gasta R$ 100 mil, outras R$ 5 mil. A expectativa é que em cinco anos depois do início das operações as cooperativas não paguem mais tarifa de energia.

Não haverá contrapartida financeira do governo estadual, que auxiliará na construção das usinas viabilizando a parte burocrática, de legislação, com questões técnicas de licenciamento. Ainda não há previsão de quando as usinas começam a operar.

A CCPR abraçou imediatamente essa causa devido à sua magnitude em vários aspectos: social, sustentável e cooperativista. Vimos na iniciativa uma oportunidade de unir cooperativas e contribuir com o desenvolvimento das comunidades. É uma ação de sustentabilidade, de preservação do meio ambiente, uma iniciativa que deve ser seguida por outras cooperativas brasileiras porque temos esse compromisso com a sociedade”, destacou Marcelo Candiotto, produtor rural e engenheiro civil que preside a CCPR.

A parcela energética da CCPR será direcionada à Santa Casa de Belo Horizonte por meio de um convênio a ser firmado com a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). E a energia será produzida na usina que será implantada em breve na Fazenda da CCPR em Sete Lagoas (MG).

Mais que os benefícios sociais, o projeto contribuirá para minimizar o fluxo da demanda na rede pública de energia, segundo Candiotto. “Temos alta demanda elétrica. Ao produzirmos nossa própria energia, vamos desafogar também a rede de distribuição da CEMIG.”, ressalta.

Dividido em etapas, o projeto de energia fotovoltaica também atuará nas cidades do interior que sediam ou recebem serviços de outras cooperativas do Sistema Ocemg.

METAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A geração de energia de forma sustentável e eficiente pelo cooperativismo está alinhada aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) – um plano de ação, com metas a serem cumpridas até 2030, para transformar o mundo em um lugar melhor para todos.

Entre as metas estabelecidas pela ONU, o projeto mineiro abarca o incentivo à energia limpa e acessível; a preocupação com a saúde e o bem-estar da comunidade; além do acesso a emprego digno e desenvolvimento econômico.

A diferença do cooperativismo é devolver os bons resultados à comunidade onde a cooperativa está inserida. Quando a cooperativa gera energia, vai gerar empregos, impostos para o município, ao doar para o hospital, a sociedade está sendo diretamente impactada”, reiterou o superintendente da Ocemg, Alexandre Gatti.

Inicialmente, o foco do projeto será a geração de energia solar, mas o sistema cooperativo mineiro já está de olho no potencial do estado para energia eólica e outros tipos de fontes energéticas.

O cooperativismo vem fazendo história e a diferença, principalmente nesse momento de crise. Aqui em Minas, o cooperativismo cresceu muito, principalmente crédito, saúde, agro e transporte de carga. Então, acreditamos que o cooperativismo pode inspirar outros sistemas a fazer iniciativas semelhantes. Sem contar a questão da intercooperação, estimulando a geração de energia de forma conjunta”, completou Gatti.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Virada cooperativista

Essa história começa no Rio de Janeiro, com um menino de oito anos que descobre ter um raro problema de visão: a retinose pigmentar. Talvez por não enxergar bem, ele aguçou todos os seus outros sentidos e, muito cedo, começou a perceber oportunidades onde ninguém mais via.

De família humilde, Abdul Nasser perdeu a mãe aos 4 anos e foi criado pela avó, costureira, com muita dificuldade. O pai, com quem tinha uma relação distante, o convidou a trabalhar em uma cooperativa de vans sem receber salário.  Apesar de ainda ser um menino, ele  enxergou ali uma oportunidade de traçar um novo caminho para sua vida.

 Dos 11 aos 14 anos, eu vendia bala no ônibus, água no sinal, carregava caminhão de tijolo. Eu odiava essas coisas e sabia que isso não era para mim”, lembra Abdul, hoje superintendente do Sescoop/RJ.

Seu sonho era trabalhar em um escritório, por isso ele logo se apaixou pela cooperativa.  “Eu era como um secretário, porque a cooperativa era pequena. Comecei a estudar o estatuto, a lei, a cooperativa cresceu e passei a ganhar um salário”, lembra.

OLHOS ABERTOS

Com o conhecimento adquirido sobre o nosso modelo de negócios, Abdul começou a ajudar cooperativas de vários municípios do estado a se constituírem. A partir dessa experiência, decidiu cursar direito porque não encontrava, na época, advogados especializados em cooperativismo.

 Eu fiz faculdade por meio do financiamento estudantil e meu fiador foi um cooperado da nossa cooperativa. Como eu ganhava só o suficiente para pagar a mensalidade, o pessoal das vans me levava de graça para a faculdade. Se não fosse o cooperativismo, eu nem teria conseguido estudar”, conta.

Abdul foi estagiário do Sescoop/RJ e, ao concluir a graduação, montou um escritório com foco na área. A trajetória no cooperativismo o levou a voos mais longos: foi indicado para ocupar uma vaga no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (CARF), órgão colegiado responsável por julgar processos relativos à cobrança de impostos pela Receita Federal. Ali, teve a oportunidade de trabalhar em casos bilionários e emblemáticos de fusões de bancos e até mesmo da dívida do jogador de futebol Neymar. Ao sair do órgão, preferiu retornar para o Sistema OCB/RJ para apoiar o desenvolvimento do cooperativismo fluminense. 

Minha primeira viagem internacional foi pelo cooperativismo, tive a oportunidade de conhecer vários lugares do mundo. Em 2019 fui a Nova York para falar de cooperativismo de plataforma, fui ao púlpito do Senado defender as cooperativas na questão dos aplicativos de transporte. Tudo que eu tenho é cooperativo, até meu casamento, porque eu conheci minha mulher no Sescoop. Desde que nasceu, minha filha tem uma conta numa cooperativa de crédito, ela foi a cooperada mais jovem porque tinha meses de vida”, conta.

Apesar das dificuldades que 2020 trouxe a todos, Abdul acredita que a pandemia acelerou a digitalização dos atendimentos e serviços oferecidos aos cooperados, que antes tinham resistência aos formatos não presenciais. Para 2021, o objetivo é ampliar a força do cooperativismo no estado, inclusive por meio de campanhas e pela aproximação com o setor público.

“Com a pandemia, todos os processos de digitalização que podiam ser adiantados no setor produtivo, foram. Com isso, as empresas reduziram equipes e esses postos de trabalhos foram perdidos para sempre, não voltam. A alternativa para o emprego é empreender e tem gente que não tem perfil para fazer isso sozinho, mas coletivamente consegue”, analisa.

“A retomada para a economia do Rio de Janeiro é o empreendedorismo cooperativo. A gente quer colocar o cooperativismo na moda e mudar a vida de mais gente, como eu mudei a minha”, torce.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Referência na comunidade

Quando a Cooperativa Pradense (Cooprado) foi fundada na cidade de Antônio Prado (RS), em 1974, o jovem Osvaldo Conte compareceu à assembleia de fundação para representar seu pai, que era o primeiro associado, mas estava doente. Ele tinha apenas 14 anos e mal sabia que ali começava a sua história com o cooperativismo, que já dura mais de 40 anos.

Osvaldo, hoje com 61 anos, começou na cooperativa como balconista. Foi gerente de loja, diretor e em 2001 assumiu a presidência pela primeira vez.

São 44 anos na cooperativa. Ali, no dia da fundação, eu entendi o espírito, mas ainda de forma superficial. Depois, comecei a gostar do cooperativismo e entender que o associativismo seria muito importante para a agricultura familiar e da nossa região, que é de pequenas propriedades”, explica.

A Cooprado trabalha com diferentes produtos agropecuários: insumos agrícolas, hortifrutigranjeiros, laticínios, grãos e vinho, frutos do trabalho de cerca de 1.200 famílias cooperadas. Na cidade de colonização italiana, o cultivo da uva tem grande importância na região. A maior parte da receita da Cooprado vem da venda dos vinhos. Em meio à pandemia, o consumo da bebida aumentou e o faturamento cresceu mais do que o dobro do previsto para 2020.  “O nosso papel é fundamental para a sobrevivência dessas famílias e o resultado do ano foi excepcional”, pontua Conte. 

CARTEIRA ASSINADA

A cooperativa foi a primeira (e única) assinatura na carteira de trabalho de Conte, feito que o orgulha.

Eu não sei como é ali fora, mas me apaixonei pelo cooperativismo e é o sistema que mais me fascina. Mas tem que gostar e saber muitas vezes suportar críticas, no meu cargo como presidente”, pondera.

Para vencer os desafios da gestão, Conte criou 24 núcleos para democratizar e envolver os cooperados na administração da empresa. Todos os grupos compõem o conselho consultivo e participam das decisões da empresa, “distribuindo o poder”, como define.

O trabalho e a dedicação de tantos anos o tornaram referência na comunidade de pouco mais de 13 mil habitantes. “A cooperativa me deu tudo na vida. Para ser presidente, você tem que ser um pouco padre, um pouco advogado, um pouco conselheiro, para poder se sustentar e ter credibilidade com o associado.  Meu maior papel é fazer com que o cooperado entenda que ele é o dono, a cooperativa é o agronegócio dele”, diz.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperada de ouro

Foi o esporte que “consertou” o seu coração, ainda menina, e a fez subir em vários pódios ao longo da vida. Ana Sátila, 24 anos, é atleta da canoagem slalom e conquistou o título de brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada. Com um diagnóstico de problema cardíaco na infância, o pai dela, também atleta, apostou no esporte como tratamento. O começo dessa história foi na natação, ainda aos 5 anos.

“Eu tinha uma má formação no coração, ele não era totalmente fechado, então sempre tinha desmaios e ninguém conseguia saber exatamente o que era. Eu morava em uma cidade pequena [Primavera do Leste, em Mato Grosso], e não tínhamos condições na época de ir a um hospital particular”, conta.

Os médicos chegaram a dar um prazo de vida para Ana, o que era muito difícil para a sua família.

Minha mãe dormia com a mão no meu nariz para ter certeza de que eu estava respirando. Meu pai decidiu então começar a me treinar muito cedo. Ele apostou no esporte porque nenhum medicamento resolvia. E deu certo”, conta Ana.

O pai-treinador não dava moleza. Entre escola, treinos da modalidade e de força, Ana começava a rotina de madrugada e já estava na água às 5h. O início precoce e a dedicação levaram à conquista de uma vaga olímpica ainda aos 15 anos, poucos meses após deixar a cidade natal para integrar a Seleção Brasileira de Canoagem. Assim, Ana se tornou a atleta brasileira mais jovem a disputar uma Olimpíada, em 2012, nos Jogos de Londres.

O caminho da jovem atleta cruzou com o cooperativismo há dois anos, quando o Sicoob Rondon (MT) passou a patrociná-la e investir no seu treinamento. Depois de duas participações nos Jogos — 2012 e 2016 —, ela dedicou os últimos quatro anos a treinos pesados para alcançar a tão sonhada medalha olímpica em 2020. Mas o vírus se espalhou e o improvável aconteceu: no fim de março, os Jogos de Tóquio foram oficialmente cancelados.

“Quando a confederação nos dispensou e mandou voltar para casa foi que eu tive a real noção da pandemia. Eu estava realmente assustada porque, por ser atleta, se eu pegasse covid seria um regresso muito grande, sem contar que existem problemas decorrentes da doença que são irreversíveis”, pondera.

INSPIRAÇÃO QUE FALTAVA

Além do medo da doença, o adiamento das competições e a falta de perspectiva levaram embora a motivação. “Eu fiquei muito para baixo porque me sentia muito bem preparada para Tóquio, estava numa fase muito boa. Fiquei muito desmotivada porque não tinha nenhuma programação de competição para o ano inteiro”. Mas a irmã e o namorado, também atletas, trouxeram a inspiração que faltava. Junto com eles, Ana montou uma academia em casa e conseguiu remar em uma área afastada da cidade.

No final eu consegui sair desse confinamento mais forte do que cheguei, com uma parte física boa e muito feliz. Tenho certeza que poderia ter terminado muito pior, eu sou uma atleta que precisa ter tudo muito bem programado para dar o meu melhor a cada dia, estar junto do meu técnico. Mas eu consegui superar tudo”.

O resultado veio logo em novembro: Ana ganhou a medalha de ouro na Copa do Mundo de canoagem e está focada em alcançar o pódio em Tóquio neste ano.

Em 2020, depois de 4 meses de confinamento, Ana, que também é cooperada, foi até a sede conhecer o Sicoob Rondon e ganhou uma injeção de ânimo para seguir. “Fiquei muito maravilhada quando consegui visitar o Sicoob, foi emocionante porque eu vi que fazia parte de uma família muito grande, tive o carinho de muitas pessoas que eu nem conhecia e que estavam torcendo por mim. Vai muito além do patrocínio em si”, comemora.


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Doando fôlego

Em 2020, por várias vezes, nos sentimos sem ar diante das dificuldades. A Covid-19, que afeta principalmente as vias aéreas, provocou uma corrida mundial por respiradores. Com isso, um procedimento complexo passou a fazer parte do nosso vocabulário: a intubação. Até mesmo médicos que não estavam habituados a realizar o procedimento tiveram de se adaptar às novas rotinas.

“Para nós, anestesiologistas, é algo comum. Eu intubo, em média, de dois a três pacientes por dia. Mas o meu colega médico na emergência provavelmente fazia isso uma vez por mês, antes da pandemia. O grau de tensão desse profissional que precisou, de repente, intubar quatro ou cinco pacientes por plantão, foi enorme”, compara a médica Simone Almeida, presidente da Cooperativa dos Anestesistas de Recife (Coopanest-PE).

Ela explica que, durante a formação médica, o anestesiologista faz o treinamento em vias aéreas durante os três anos de residência, mas, em outras especialidades, a prática da intubação é menos comum. Diante do quadro dramático nos hospitais, a cooperativa decidiu oferecer cursos de capacitação para o procedimento.

Esse é um momento de extremo risco de contaminação. Porque o médico manipula a via aérea do paciente, então a chance de se contaminar é muito grande. O treinamento foi nesse sentido, para proteger o profissional e melhorar a qualidade do serviço”, explica a presidente da cooperativa.

Mais de mil médicos participaram da formação, em parceria com sociedades médicas e a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.

ALTO RISCO

Dos 640 médicos cooperados da Coopanest, muitos se contaminaram e ficaram em estado grave. Dois, faleceram vítimas da Covid-19.

A perda de um colega nunca é um momento fácil, fragiliza todo mundo. A gente começa a colocar muitas coisas em xeque e o treinamento serviu também para ajudar nesse sentido, garantir mais segurança”, diz Simone.

A cooperativa também ofereceu treinamento a distância a profissionais da saúde de Fernando de Noronha que não podiam sair da ilha durante o confinamento e receberam toda a formação por videoconferência.

O curso foi gratuito, para cooperados e não cooperados, e, em troca, os alunos doaram alimentos para uma ação solidária. A Coopanest conseguiu arrecadar 400 cestas básicas que foram entregues a uma cooperativa de transporte, ramo duramente afetado pelas medidas de isolamento social. “Dois mil e vinte foi um ano em que o sentido do cooperativismo se sobressaiu. O que fica é isso, a união. A gente juntou forças com a sociedade e pensou na proteção individual de cada um e naqueles que estavam com dificuldades maiores do que as nossas”, diz Simone.



Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação




Cooperar é a resposta

Autora de uma série de livros sobre meditação, a paulistana de 72 anos acumula milhões de seguidores nas redes sociais, onde seus vídeos têm sido ferramenta no desenvolvimento do autoconhecimento e da transformação de hábitos. Monja Coen conversou com a Revista Saber Cooperar sobre as lições que 2020 deixaram e defende que a cooperação é um valor fundamental para a evolução da sociedade.

Saber Cooperar: Qual é a lição mais importante que 2020 deixou?


Monja Coen: Nas crises e dificuldades, nós temos de nos recriar. E temos que perceber em qual direção devemos ir. Nós não podemos ficar parados pensando que tudo deveria ser como antes. A vida é movimento e transformação. Como eu me transformo com as necessidades que surgem? Como a minha empresa, meus colaboradores e as pessoas com quem eu convivo podem, juntos, criar novas possibilidades? Então, em vez de achar que uma coisa está acabando comigo, posso ver como uma oportunidade que veio para eu rever a forma como estou vivendo e, inclusive, como e com o que eu estou trabalhando. A palavra crise, em chinês, tem essas duas possibilidades: de uma dificuldade, mas que leva a uma oportunidade.

A pandemia não termina com a chegada de 2021, mas muitas pessoas nutrem a expectativa de um ano melhor. Há motivos para ter mais esperança?


Monja Coen: Nós, seres humanos, gostamos de rituais de começo, meio e fim… de marcar o tempo. Algumas tradições e países têm essa mudança de fim de ano em outra época. Mesmo a distância, é importante que a gente possa dizer “Feliz Ano Novo”, que seja uma renovação. Que 2020 tenha sido uma experiência que nos leva transformados para 2021, quer seja porque minha empresa ou minhas atividades se tornaram online, quer seja pelas mudanças interiores que se passaram comigo. Acho que 2021 vai ser diferente de 2020, mas não muito. Nós vamos continuar com máscaras, com distanciamento social, vamos continuar lavando muito bem as mãos porque o vírus ainda estará por aí. O início da vacinação não é o fim da pandemia. É o início de um projeto de cura, de menos contaminação e menos mortes.

Saber Cooperar: O que esperar de mudança em 2021?


Monja Coen: Segundo o Horóscopo Chinês, 2021 é o ano do Touro, ou do Boi, que é chamado Touro de Ferro, aquele que tem muita força e poder. Mas, ao mesmo tempo, vai precisar de muito esforço para conseguir as coisas. Então, vamos nos preparar para um ano em que teremos de nos esforçar para manter tudo aquilo que é necessário para a saúde de todos e para os negócios em cooperação. Você veja, na cooperativa, eu coopero, eu trabalho junto, a minha operação é com o outro, não é separada do outro. E é por isso que nós vamos continuar para o bem coletivo, e não para o bem individual. Eu acho que é uma oportunidade para muitas pessoas pensarem nisso, porque há muitos que pensam só em si, como se não precisassem de ninguém. Eu acho que a pandemia nos fez perceber isso: estamos ligados, precisamos uns dos outros e temos que fazer parceiros. Temos que cooperar, é a única maneira. Competir vai levar à falência, a cooperação vai levar ao sucesso. E quem sabe, nesse ano de 2021, muitas pessoas percebam isso e sejam mais cooperativas.

Saber Cooperar: Depois da pandemia, você acha que a nossa sociedade vai sair transformada?


Monja Coen: Eu não sou nem otimista nem pessimista. A humanidade é feita de seres humanos que são semelhantes, mas não iguais. E cada um de nós está em uma fase diferente. Nós tivemos um momento em que ficamos todos em casa e ficamos tão bonzinhos. Solidários, admiramos o pôr do sol, os pássaros, ficamos felizes que Veneza tinha peixes e estava limpa, né? E agora já está suja de novo. E de repente a pandemia foi se alastrando, os casais começaram a brigar, feminicídios, separações. Parece que as coisas foram esquecidas e tem muita gente andando sem máscara ou usando do jeito incorreto. Quer dizer, esqueceram-se? Esqueceram-se de quantas pessoas morreram, de que esse vírus pode nos levar à morte ou a um grande sofrimento? Nós esquecemos. A história da humanidade mostra que a gente esquece, a gente aprende a lição, mas ela é muito momentânea. Alguns de nós entraram num processo de autoconhecimento e mudança, interior e exterior, mas talvez não seja a grande maioria. Mas nós vamos ver, em algumas minorias, mudanças importantes e essas minorias vão se transformando, aos poucos, em maioria. Essa é a minha esperança.

Saber Cooperar: Muito obrigada, Monja, por falar com os nossos milhares de cooperados.


Monja Coen: Cuidem-se porque quando você cuida da parte, você cuida do todo. Fiquem bem e continuem cooperando porque a cooperação é a transformação da sociedade de uma cultura de violência para uma cultura de paz e de respeito à vida.

Por que as cooperativas deveriam exportar seus produtos?

Os benefícios da exportação são imensuráveis para o nosso movimento. Irineo da Costa Rodrigues, diretor-presidente de uma das maiores cooperativas do país, a Lar, destaca a proteção cambial como uma das vantagens de conquistar o mercado internacional. “Importamos em uma moeda estrangeira, em uma moeda forte. E quando exportamos, também nesta moeda, estamos nos protegendo, afirma.

Como cada cliente estrangeiro tem as suas características específicas, as equipes das cooperativas precisam se dedicar para aprenderem mais, conhecerem culturas, costumes e, sobretudo, as exigências dos clientes, estimulando as cooperativas a alcançarem um patamar mais elevado. “Não que os clientes internos não sejam importantes. Sim, são importantes, exigentes, mas à medida que exportamos para cinco continentes, isso nos traz uma realidade nova e que efetivamente faz com que a cooperativa tenha que pensar muito”, analisa o representante da Lar.

E claro, sem faltar o entendimento técnico para atender às demandas do mercado externo, que são muitas, com barreiras, de ordem sanitária e econômica, com os países se protegendo muitas vezes em bloco para não permitir concorrência de produtores, de cooperativas brasileiras com produtores locais e de outros países. Por isso, ser competitivo, estar atualizado, aprendendo constantemente, e ter o conhecimento como palavra de ordem, praticada no dia a dia, foram os principais desafios enfrentados pela Lar, mas que já fazem parte da rotina da cooperativa.

INOVAÇÃO É PONTO DE PARTIDA

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Uma das ferramentas encontradas pela Lar, que tem sede em Medianeira, no interior do Paraná, foi investir na área de inovação. A cooperativa entendeu que seria necessário investir em estudo, tanto que lançou em setembro a Lar Universidade Corporativa.

 A educação faz parte do 5º princípio do cooperativismo e está na nossa essência. Temos muitos talentos dentro de casa, verdadeiras joias que precisam ser lapidadas”, afirmou o diretor-presidente da Lar.

A Universidade é um grande guarda-chuva com cursos de terceiro grau focados nas necessidades da cooperativa, além dos cursos já ministrados de nível médio, mais os cursos de curta, média e longa duração. “A inovação é o que precisamos estar sempre buscando”, frisa o vice-presidente. A Lar possui um programa de inovação estruturado há diversos anos, com comitês internos, específicos, inclusive com comitê de inovação envolvendo associados, agricultores, produtores e também técnicos da cooperativa.

Aliás, a inovação é um dos grandes instrumentos que permitiram que a Lar se consolidasse como uma das principais cooperativas exportadoras do Brasil. Ela, que detém suas principais operações no oeste do Paraná, além de unidades no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraguai, vende seus produtos para 76 países. A Lar tem foco na produção de grãos e industrialização de aves, cujo abate em 730 mil por dia, sendo 55% exportadas para a China, Japão e Europa.

Não tenho dúvidas de que por estarmos exportando para o resto do continente americano, Europa, Ásia e países árabes, nós precisamos estar muito atualizados”, avalia Rodrigues.

As exportações também são uma excelente oportunidade para as cooperativas darem vazão à produção brasileira. De acordo com o Mapa, o agronegócio representa mais da metade do total da pauta de exportações brasileiras, por isso, a importância de as cooperativas fazerem um esforço para participarem dessas oportunidades. “As cooperativas não podem ficar de fora, muito pelo contrário. Elas devem assumir o papel de protagonismo, ou seja, estar à frente em alguns mercados, porque produção nós temos, sabemos fazer, nós temos qualidade e podemos garantir essa qualidade aos nossos clientes”, conclui o diretor da Lar, que possui 11.700 associados e 18.300 trabalhadores, sendo a cooperativa singular que mais emprega no Brasil. A Lar encerrou 2019 com faturamento de quase R$ 7 bilhões.



Esta matéria foi escrita por Luciana Vieira e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De olho no mercado

O ano de 2020 encerrou com uma boa notícia para milhares de cooperativas brasileiras que planejam alcançar o mercado internacional. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) firmaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para incrementar ainda mais as vendas de produtos brasileiros no exterior.

O documento prevê o intercâmbio de informações e o desenvolvimento de inteligência comercial para apoiar o segmento, promovendo a qualificação para exportação, além da difusão da cultura exportadora no setor. A promoção das cooperativas nos mercados estrangeiros inclui o apoio na participação em eventos presenciais e virtuais, rodadas de negócios, feiras e missões. Além disso, amplia recursos e estruturas para expandir a visibilidade no exterior. 

Como as exportações de produtos oriundos das cooperativas não dependem apenas da capacidade de produção, é necessário atender a requisitos internacionais para alcançar resultados, como conhecer as regras para rotulagem, padronização de produtos e questões sanitárias, por exemplo.  Na prática, o acordo representa a abertura de uma fronteira gigante com a preparação das cooperativas para chegarem a mercados de qualquer país do mundo.

Na avaliação do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, a assinatura do acordo significa uma nova fase do movimento cooperativista.

Já temos uma certa tradição, entre as cooperativas, no que diz respeito ao processo de exportação de algumas grandes commodities, mas queremos ampliar essa base, e o cooperativismo necessita desta alavanca, desta ajuda para continuar crescendo e aumentando o seu espaço no mercado internacional. Por isso, fomos buscar essa aliança com quem entende do assunto’, disse Lopes de Freitas.

Na opinião do presidente, a parceria já nasce com projetos sólidos para a construção de espaços para as cooperativas, não só as grandes, mas também as de menor porte. “Queremos atuar com frutas e produtos da Amazônia, produzidos nas agro florestas, frutas do nordeste e do cerrado, produtos com valor agregado diferente. Vamos dar canal de vazão aos produtos agropecuários brasileiros, que são muito importantes para rentabilizar e manter uma qualidade de vida cada vez maior, sem falar na capacidade de aumentar a geração de empregos que podemos dar na base”, explica.

SINERGIA

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Durante o evento da assinatura do acordo, realizado online e transmitido ao vivo pela internet, o presidente da Apex-Brasil, Sérgio Segóvia, fez questão de destacar a importância do cooperativismo para o País. Para ele, o movimento remete ao pensamento coletivo de união para enfrentar os desafios e facilitar o desenvolvimento, permitindo mais integração entre produtores e empresários por meio dos seus mais diversos arranjos.

“São 450 mil empregos diretos, R$ 350 bilhões em ativos e R$ 260 bilhões em receitas geradas. Estimo que de tudo o que consumimos no Brasil, metade é originado no ambiente cooperativista. Esses números apenas ratificam o potencial desse segmento”. Na ocasião, Segóvia salientou as ações da Organização das Cooperativas Brasileiras.

Muito do que somos hoje, em termos de cooperativismo, deve-se ao exemplar trabalho de fomento e representação que a OCB vem empreendendo ao longo dos últimos 50 anos. A OCB não representa apenas números expressivos, mas também valores intangíveis que as cooperativas produzem em benefício do desenvolvimento nacional, como a igualdade e as oportunidades e suas entregas voltadas para a sustentabilidade econômica, social e ambiental”, concluiu o presidente da Apex.

Apesar da sinergia que já existia entre as duas instituições, sobretudo em relação às cooperativas do agronegócio, o acordo permitirá a customização das ações da Apex para o setor, por conta das diferenças que existem entre a estrutura das cooperativas e das empresas convencionais, que já fazem parte da rotina da Apex.

 

FOCO NO AGRO

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Neste fortalecimento da integração da cadeia produtiva do agronegócio com foco nas ações voltadas ao mercado internacional, o acordo vai promover o intercâmbio de informações entre as partes. A inteligência de mercado vai apoiar as cooperativas brasileiras inicialmente na sua qualificação para exportação e fundamentalmente para consolidar a cultura exportadora no setor. Segundo a Apex-Brasil, existem cerca de 120 cooperativas que já exportam, mas ainda há um espaço enorme para ampliar essa participação.

Para isso, serão desenvolvidas ações no Brasil e no exterior, com feiras, rodadas de negócios, qualificação, estudos sobre competitividade, entre outras atividades. 

A Apex tem interesse em que o setor cooperativo brasileiro seja reconhecido no mundo inteiro pela sustentabilidade e responsabilidade social, que é a marca, é a cara do cooperativismo brasileiro”, mostra o gerente de Agronegócio na Apex-Brasil, Márcio Rodrigues.

A cooperação ainda contará com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE). A expectativa é promover oportunidades de negócios internacionais com uma gama de serviços ofertadas pela Apex- Brasil por meio dos seus escritórios no exterior a partir da relação direta com as embaixadas brasileiras, o que vai permitir uma atuação mais robusta do cooperativismo nacional no mundo.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também participou do evento. Ela acredita que a internacionalização trará uma expertise maior para as cooperativas, sobretudo para as médias e pequenas. “Esse projeto já nasce com muito sucesso.A minha certeza do nosso sucesso é com base na qualidade das cooperativas brasileiras, com o que podemos levar para fora, com o que iremos trazer de volta, com a competência comprovada da Apex e da OCB, além da vontade de todos do Mapa”, disse confiante.



Esta matéria foi escrita por Luciana Vieira e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Força da natureza

É da floresta que ela tira o sustento, ajuda a curar doenças e constrói sonhos. Ana Paula Ferreira, 26 anos, chegou na Cooperativa dos Extrativistas da Floresta Nacional de Carajás (COEX Carajás) como estagiária, aos 18 anos. Há sete, preside a cooperativa que fica em Paraupebas (PA) e é responsável por extrair da floresta folhas utilizadas na produção de remédios para o tratamento do câncer de esôfago e do glaucoma. Única mulher entre os 37 membros da associação, ela conta que o cooperativismo e o extrativismo transformaram a sua vida.

A cooperativa fez parte de muitas ‘primeiras vezes’ na minha vida. Foi lá que assinei minha carteira [de trabalho] pela primeira vez; foi lá que dirigi um carro pela primeira vez; foi lá que eu viajei de avião pela primeira vez. Foi através da cooperativa que eu participei de grandes eventos, cursos. Eu tive muitas oportunidades e aprendi coisas que universidade nenhuma poderia me ensinar”, diz Ana Paula.

Ela e os irmãos começaram a trabalhar muito cedo, vendendo alimentos na rua para ajudar financeiramente em casa. A mãe, que criou os filhos sozinha, sacrificou-se para que eles não parassem de estudar. “Minha mãe sempre valorizou a educação. Eu falo que ela foi um Paulo Freire [pedagogo brasileiro reconhecido internacionalmente] na nossa vida”, diz. Quando terminou o ensino médio, sonhava com muitas profissões: médica, veterinária e até policial.

Eu sempre tive na cabeça que a mulher tinha que ter seu espaço. Eu achava chique mulher no tribunal, como advogada ou juíza, sempre quis ser uma mulher dessas, uma mulher porreta realmente, mas nunca tinha me passado pela cabeça que eu poderia fazer isso dentro do cooperativismo”, comemora.

Ana Paula virou uma dessas mulheres de fibra, capazes de mudar o mundo com as próprias mãos. E é com a ajuda delas que jovem e os colegas cooperados colhem a folha do jaborandi, usada na fabricação de remédios, e as sementes nativas, que são utilizadas em projetos de reflorestamento. Tudo isso, sem afetar a floresta, uma vez que o extrativismo usa as técnicas de manejo florestal para evitar a degradação do meio ambiente.

TRABALHO PESADO


A extração de riquezas naturais é um trabalho pesado, que exige muito esforço físico e comprometimento dos cooperados da COEX. Eles se dividem em grupos e passam semanas acampados, isolados na floresta, colhendo as folhas e sementes. Depois, carregam quilos desse material a pé, por meio da mata, até o transporte. Então, os produtos passam por secagem e são armazenados para a venda.

Hoje, somos a única cooperativa de extrativismo vegetal da região de Paraupebas, o que é uma grande responsabilidade. Quando você entende esse trabalho, vê a importância da cooperativa em garantir o tratamento de saúde de quem precisa do remédio, tendo o cuidado de manter a floresta em pé”, explica Ana Paula.

Ainda de acordo com ela, tudo na natureza tem seu ciclo e importância. “Nada está ali por acaso. Nós, seres humanos, somos o meio ambiente, estamos inseridos dentro dele, e quando se destrói a floresta, automaticamente estamos nos destruindo.”

A pandemia não afetou a produção e a renda dos cooperados. Apenas aqueles que eram do grupo de risco passaram algum tempo sem poder trabalhar e a COEX buscou doações para poder mantê-los em isolamento durante o período mais crítico da Covid-19.

Para 2021, Ana espera mais contratos e um retorno às rotinas de antes. “Espero que a gente possa voltar a abraçar, estar perto, aquele contato físico, participar dos eventos e feiras. Espero que em 2021 a gente se encontre, mais forte e mais unido”, conta a maranhense do riso fácil, saudosa dos abraços.



Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação



Olhos atentos na política

A pandemia da Covid-19 trouxe grandes desafios para o Brasil e o mundo em 2020. Desde o início, o Sistema OCB esteve ao lado das cooperativas, buscando soluções para superar as dificuldades impostas pelo novo cenário e seguir em frente. No âmbito político, com a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), a instituição teve participação ativa na obtenção de uma série de conquistas legislativas e regulatórias voltadas para a diminuição de impactos da crise e o fortalecimento do cooperativismo.

Em 2020, foram apresentados no Congresso Nacional mais de 2,2 mil projetos sobre a Covid-19 com impacto direto ou indireto para o cooperativismo. Pelo Poder Executivo, foram 354 normativos publicados ao longo do ano. Dessas propostas, o Sistema OCB priorizou 82 para serem acompanhadas mais de perto. Delas, 46 já foram atendidas e transformadas em políticas públicas – uma taxa de sucesso de 56,1%, até o momento.

Entre as principais conquistas obtidas em 2020 pelo cooperativismo em relação ao combate aos efeitos da crise está a inclusão das cooperativas nas políticas de acesso a crédito, de desburocratização e de simplificação tributária, que aliviaram as contas e promoveram maior liquidez e segurança para o nosso segmento. Também foi garantido tratamento diferenciado para cooperativas de pequeno porte nas políticas voltadas para os pequenos negócios e, também, na inclusão das cooperativas nas políticas de incentivo a compras públicas.

Outras conquistas foram a prorrogação de mandatos de dirigentes cooperativistas, a modernização das assembleias de cooperativas, abrindo a possibilidade de encontros virtuais, e a manutenção de recursos do Sescoop na promoção da cultura cooperativista e no desenvolvimento da gestão e governança das cooperativas.

Com as medidas de combate aos efeitos da pandemia, a atuação do Sistema OCB também foi importante para reverter os vetos da desoneração da folha para o setor de proteína animal, garantindo a medida até o fim de 2021, e de consulta da Receita Federal (Cosit nº 11/2017) que faria com que milhares de pequenos e médios produtores cooperados pagassem um valor dez vezes maior de contribuição previdenciária operando em suas cooperativas do que se entregassem a produção a uma multinacional.

PRIORIDADES DO ANO

Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB


Para 2021, entre os temas que estão em discussão no Congresso, vão merecer atenção especial do Sistema OCB a Reforma Tributária, a prestação de serviços de telecomunicações e de seguros por cooperativas, e as modernizações da Lei Complementar nº 130/2009, que criou o Sistema Nacional das Cooperativas de Crédito, e da Lei Geral das Cooperativas, que completa 50 anos em 2021.

Senado Federal e Câmara dos Deputados vêm trabalhando em uma legislação que simplifique o sistema tributário brasileiro. Duas Propostas de Emenda à Constituição – uma na Câmara, a PEC nº 45/2019, e outra no Senado, a PEC nº 110/2019 – e um Projeto de Lei do Executivo (PL nº 3.887/2020) tratam desse assunto, com ideias nem sempre convergentes.

Para unificar as propostas, foi criada, em fevereiro, a Comissão Mista da Reforma Tributária. O colegiado tem o objetivo de ouvir especialistas, promover debates e elaborar a proposta conjunta que será levada à votação. Mas, com a pandemia, os trabalhos foram suspensos em março e só retornaram em agosto. No total, 10 audiências foram realizadas após a volta, e o relatório final não chegou a ser apresentado.

Desde o início da tramitação da proposta, o Sistema OCB vem atuando para que a reforma garanta o adequado tratamento tributário do ato cooperativo (realizado entre cooperado e cooperativa, ou entre cooperativas), previsto no artigo 146 da Constituição Federal, e para que também sejam protegidas as conquistas já alcançadas até o momento pelo cooperativismo.

Entre essas conquistas tributárias estão o reconhecimento da não incidência de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os atos cooperativos e as exclusões de base de cálculo da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) concedidas a alguns segmentos, como táxi, agropecuária, crédito e eletrificação, por leis ordinárias ou normas internas da Receita Federal.

“Por expressa definição legal, o ato cooperativo não é ato comercial e, portanto, não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”, explica o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. “O adequado tratamento tributário às cooperativas não é sinônimo de privilégio, não configura benefício ou isenção tributária. É um redirecionamento da incidência tributária da pessoa jurídica da cooperativa para a pessoa física ou jurídica do cooperado, visto que a fixação da riqueza se dá no cooperado. Na cooperativa há apenas o abatimento dos custos para a prestação do serviço ao cooperado”, completa.

Freitas destaca que a aprovação da reforma, desde que focada em simplificação e desburocratização, sem aumento de carga tributária, terá um impacto positivo para o desenvolvimento do Brasil. “Nós, as cooperativas, contribuímos com o crescimento do País, recolhendo impostos e taxas. Esse é o nosso dever enquanto cidadãos. O que queremos com essas emendas não é deixar de pagar, mas garantir a adequação tributária ao nosso modelo societário”, enfatiza.

FORÇA PARA OS PEQUENOS

Hildo Rocha, deputado federal, vice-presidente da Comissão Mista da Reforma Tributária


“Na produção econômica, o cooperativismo é a única forma que permite aos menores produzirem e competirem no mercado. Assim, temos que preservar as conquistas do sistema cooperativo”, destaca o deputado federal Hildo Rocha, vice-presidente da Comissão Mista da Reforma Tributária.

As cooperativas, ao longo das últimas décadas, têm conseguido provar que é possível, com a união de pequenos empreendedores, concorrer, gerar empregos e diminuir a concentração de riquezas.”

Além de manter nas novas regras a não incidência de tributos sobre operações e resultados decorrentes do ato cooperativo, o Sistema OCB vem atuando para que empresas que utilizam matéria-prima de cooperativas continuem recebendo créditos tributários em suas compras, os quais podem ser abatidos durante o pagamento do imposto de renda.

Hoje, esse benefício existe tanto para quem compra de empresas quanto de cooperativas. Isso permite que o setor seja competitivo. É importante que essa conquista seja mantida”, explica a gerente jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues. Além dos compradores, o setor defende que sejam mantidos os créditos de operações realizadas entre cooperado e cooperativa, e entre cooperativas.

Em relação ao ato cooperativo, o Sistema OCB também vem atuando para que o artigo 146 da Constituição Federal, que reconhece o adequado tratamento tributário, seja regulamentado. Com esse objetivo, tramita há 16 anos na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 271/2005. “Essa omissão legislativa tem feito com que, em alguns casos, nós tenhamos, tanto no Judiciário quanto na Receita Federal, decisões contrárias ao cooperativismo”, informa a gerente jurídica Ana Paula Rodrigues.

A expectativa do Sistema OCB – informa a gerente de Relações Institucionais, Fabíola Nader Motta – é que a votação da Reforma Tributária possa ser acelerada devido à necessidade de o governo federal ajustar as contas públicas, impactadas com os mais de R$ 500 bilhões investidos nas medidas para combater os reflexos da pandemia. “Este é um tema que, nesse contexto, se torna ainda mais prioritário”, avalia.


Esta matéria foi escrita por Por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Fazendo do limão uma limonada

O ano de 2020 passou como um verdadeiro tsunami mundial. Varreu economias, empregos e até a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo. As expectativas para 2021 são grandes: vacinas, reorganização, reconstrução. Porém, ainda haverá muita ressaca para ser curada e dificilmente a vida em sociedade será como era antes.

Grandes mudanças vieram como o teletrabalho, a digitalização dos processos e os novos hábitos de convivência social. O universo virtual chegou para ficar em todos os setores da vida em sociedade. Será que as cooperativas estão preparadas? O Brasil está preparado? O que podemos esperar?

Para responder essas e outras perguntas, convidamos dois expoentes do sistema cooperativo: o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, e o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG), Ronaldo Scucato. Confira:

Qual é a sua expectativa para 2021, em termos econômicos e políticos, tanto para o País como para as cooperativas?

Márcio Lopes de Freitas: Eu não tenho dúvidas de que o ano que vem será de grandes oportunidades. Não vamos nos iludir que teremos uma volta para a humanidade antiga, porque o que está acontecendo é uma transformação nos tecidos fundamentais da sociedade.  Ocorreram mudanças de valores, de princípios, instituições perderam força e houve um  fortalecimento da economia participativa. Eu antevejo o surgimento de uma nova humanidade, com novos interesses e novas oportunidades. E acho que o cooperativismo tem tudo a ver com essa nova humanidade, com essas novas gerações. Eu acredito muito nisso e acredito que nós — sabendo nos organizar e trabalhar com integridade, inovação e sustentabilidade — vamos continuar avançando no pós pandemia.  

Ronaldo Scucato: As expectativas são sempre as melhores. Como sempre digo, sou um incorrigível otimista. 2020 foi um ano desafiador, com dificuldades no ambiente político, queda no PIB e uma pandemia mundial. Apesar do agronegócio ter sobressaído, muitos empreendimentos sofreram demais com a crise. Contudo, a economia já começa a dar sinais de recuperação. Acreditamos que a tendência é de que tenhamos um pouco mais de estabilidade em 2021, na certeza de que o país voltará a crescer, apoiado pelo desenvolvimento das cooperativas. Esse é um setor que tem mantido crescimento mesmo diante de cenários improváveis, como os que estamos vivenciando. De nossa parte, continuaremos atuando incansavelmente em prol do desenvolvimento do setor, sabendo que com isso milhares de pessoas e a própria economia serão beneficiadas. Afinal, o cooperativismo é, de fato, a suprema esperança daqueles que sabem que há uma questão social a resolver e uma revolução a evitar. 

Quais deveriam ser as prioridades das cooperativas em 2021?

MLF: A principal prioridade é continuar trabalhando bem, como as cooperativas fizeram em 2020, sendo capazes de liderar com confiança e superação, fatores que ajudaram a mitigar os efeitos da pandemia. Então, acho que o primeiro esforço é no sentido de continuar com a cabeça erguida, com a certeza de que somos capazes de superar desafios, e encarar o ano de 2021 como o ano de superar os desafios. Tem muita coisa para ser feita. Não será um ano fácil, mas se as cooperativas permanecerem organizadas, unidas, vamos conseguir superar esses desafios e atravessar  2021 melhor do que como atravessamos 2020.

RS: As prioridades continuam sendo atuar pelo crescimento e desenvolvimento. Cada ramo tem suas peculiaridades, mas todos estão se organizando para continuar avançando também em 2021. De maneira geral, todas as cooperativas estão atentas às oportunidades advindas da profissionalização da gestão e adaptabilidade em relação às adversidades de mercado.

Quais desafios as cooperativas podem esperar para 2021?

MF: Eu acho que as ressacas da pandemia terão um efeito muito forte. Talvez a questão sanitária seja parcialmente resolvida, com as vacinas e com os erros e acertos das politicas públicas. Mas vai ficar para nós uma ressaca de um país que já vinha com uma dificuldade econômica e teve de gastar algumas centenas de bilhões de reais para se manter em pé durante 2020. Essa conta vai chegar e, não tenha dúvidas, de que ela será despejada na sociedade. Temos de estar preparados para isso. Temos de estar confiantes, mas preparados para um ano duro. Devemos ter menos crédito rural na praça, teremos que criar novos mecanismos para financiar a agricultura. Precisaremos  ter uma operação mais criativa e inovadora nas cooperativas de crédito para superar essa nova geração de startups e fintechs que estão surgindo. O cooperativismo terá de estar muito pronto e preparado técnica e profissionalmente para superar isso. 

RS: As cooperativas conseguiram enfrentar as incertezas de 2020 e vencer grandes obstáculos. No caso dos ramos Agropecuário e Transporte, especialmente o de carga, registramos crescimento acentuado. Outros ramos como o Crédito e a Saúde conseguiram se manter estáveis, fruto de gestões austeras e cautelosas. Já o ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços talvez tenha sido o que mais foi impactado pela pandemia, em virtude do ambiente do mercado de trabalho desfavorável. Por isso, creio que os obstáculos para 2021 tendem a ser menores, pois a estimativa para o PIB é positiva e a inflação, que cresceu em 2020, deve cair para a casa dos 3%. Somado a um maior controle das contas públicas, acredito que o ambiente de negócios tende a ser mais favorável para todos os segmentos da economia, considerando a possibilidade da implementação do plano de vacinação em todo o país. O grande desafio das cooperativas será exatamente se ajustar à nova ordem econômica e social, decorrente da pandemia.

Podemos esperar algum avanço em termos de políticas públicas para as cooperativas em 2021 ou ainda estaremos sofrendo com a ressaca econômica de 2020?

MF: Eu gostaria de falar que vamos ter progressos nas políticas públicas, mas vai ser um ano de jogar muito mais na retranca do que no ataque. Não que os avanços estejam descartados. Estamos prontos para as oportunidades e o Sistema OCB está muito organizado institucionalmente para defender a pauta cooperativista.

RS: Este ano teve um papel importante no tocante à percepção e constatação por parte do poder público e da sociedade brasileira em relação à importância do cooperativismo para o nosso país. É inegável a contribuição do ramo Agropecuário, responsável por mais de 50% da produção do país; o ramo Crédito socorreu as pequenas e microempresas com muito mais intensidade e agilidade do que os bancos. Acredito que esse contexto contribuirá para reforçar a inserção e ampliação do cooperativismo nas políticas públicas, com maior atenção aos agricultores familiares no setor agropecuário. O próprio ambiente político ficará, na minha opinião, mais favorável ao cooperativismo, por se tratar de um setor estratégico para o desenvolvimento econômico sustentável do país.  

Em quais projetos tramitando no legislativo vocês estarão de olho em 2021?

MF: Teremos uma conta econômica a pagar em 2021 e quem primeiro vai querer recompor o seu caixa será o governo, o Executivo Federal. Então me preocupa, em primeiro lugar, a Reforma Tributária. Temos que fazer um esforço muito grande, não para que a gente tenha um tratamento diferenciado, mas para que o ato cooperativo, a relação entre a cooperativa e o cooperado, tenha o adequado tratamento tributário, com justiça. Muitas vezes o poder público não reconhece o fato de a cooperativa ser parte do cooperado, então ele tributa duas vezes. Por isso, a preocupação pontual seria a Reforma Tributária e tudo que advém disso.

Além dessa, hoje acompanhamos pelo menos 800 projetos em tramitação no legislativo que influenciam a vida das cooperativas. Desses, nós elencamos na nossa agenda prioritária em torno de 60 projetos, em que o principal é a Reforma Tributária, mas que tem outros como a Reforma Administrativa, a possibilidade de as cooperativas participarem um pouco mais da força de trabalho nos processos de privatização, nos processos de “desinchaço” do Estado. Estamos acompanhando e preparados para esse jogo. 

RS: A atenção especial deverá ser dada à Reforma Tributária, uma vez que ela terá impacto em todo o setor produtivo, e não será diferente com o cooperativismo. Neste sentido, temos que estar atentos para que o previsto na Constituição Federal, ou seja, o adequado tratamento tributário ao ato cooperativo seja de fato implementado. Os projetos de lei que compõem e/ou comporão todo o processo da reforma tributária merecem não só nossa atenção, mas nossa atuação através da interlocução com o parlamento apoiada sempre pela Frencoop.  Aqui em Minas Gerais, estamos em permanente diálogo com os parlamentares, em todos os níveis, pois ainda que a legislação federal seja preponderante, ela influencia e impacta as legislações dos estados e dos municípios.

Dentre os segmentos das cooperativas, quais setores terão mais espaço para avançar em 2021 e por quê?

MF: Acho que todos os setores continuarão se desenvolvendo, com destaque para três ramos:  Agropecuário, Crédito e Saúde.  As cooperativas, hoje, são responsáveis por cerca de 54% da produção agropecuária brasileira. Outro setor com desempenho consagrado é o Crédito, que em 2020 cresceu acima dos bancos comerciais, e deve continuar assim em 2021. Afinal,  as cooperativas continuam inspirando confiança, tratando o cooperado como pessoa e não como número, e isso é um diferencial incrível nesse momento de crise.

Mais um segmento que já está se destacando é o da Saúde. Essas cooperativas estão no olho do furacão, passaram por problemas econômicos, por conta da pandemia e do cancelamento de contratos, já que muitos trabalhadores perderam sua fonte de renda. Só que, durante todo o ano de 2020,  nunca se ouviu uma queixa dos usuários desses sistemas. O profissionalismo com o qual nossas cooperativas de saúde lidaram com a pandemia superou todas as dificuldades econômicas e elas acabaram se fortalecendo.

RS: Acredito que os setores mais organizados e verticalizados, como é o caso de Crédito e Saúde, seguirão despontando na oferta de produtos e serviços de qualidade que trarão ainda mais segurança à população. O ramo agropecuário deve ter um bom ano, mas os resultados não devem alcançar as margens de crescimento históricas de 2020. Some-se a isso o fator seca, que pode impactar em até 30% os resultados da safra do café em 2021. Já as cooperativas de transporte de carga continuarão firmes, viabilizando as entregas e a logística em nosso país. Para os demais segmentos, será um ano de retomada, mas também considero que de boas perspectivas de modo geral.

Enquanto milhares de empresas fecharam suas portas, por conta da pandemia, as cooperativas continuam sendo constituídas e gerando emprego. Por que isso aconteceu?

MF: Na verdade, as cooperativas precisaram se manter muito ativas porque nossa principal responsabilidade é cuidar bem do nosso cooperado. Enquanto um banco comercial se preocupa em garantir o seu capital, uma cooperativa coloca como prioridade as pessoas. Por isso, elas continuam emprestando e criam produtos para ajudar seus cooperados a superar esse momento de crise.  Outro exemplo do cuidado das cooperativas com as pessoas é o setor agrícola. Em um frigorífico comercial, se o consumidor para de comprar frango, ele simplesmente para de comprar esse produto. Na cooperativa não. Afinal, o frango vem do cooperado e, se ela parar de comprar o produto, o cooperado ficará sem renda, e ele é o dono do negócio. Por isso, as cooperativas fazem tudo o que está ao seu alcance para  arrumar mercado para esse frango e manter a renda dos cooperados. Esse compromisso do cooperativismo com as pessoas é que torna o nosso modelo de negócios tão humano e sustentável.

RS: As cooperativas são empreendimentos sólidos, bem geridos e administrados de maneira coletiva e cautelosa. Nossas cooperativas seguiram se profissionalizando, buscando oportunidades em meio à crise e se destacando especialmente em função de sua proximidade com as comunidades locais. As cooperativas de crédito, por exemplo, em muitos municípios, sustentaram os comerciantes locais viabilizando linhas de crédito especiais para amenizar a crise econômica. O trabalho não parou, pelo contrário, tivemos que nos reinventar para seguir dando resultados. Por isso, em vez de demitir, seguimos admitindo e dando exemplo para o país.

Como as cooperativas podem ajudar na recuperação da economia do Brasil em 2021?

MF: As cooperativas têm um papel fundamental na economia e hoje já respondem por aproximadamente 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso,  elas têm um papel fundamental na disseminação de uma economia mais justa, por conta do seu compromisso com o desenvolvimento das comunidades onde estão localizadas. Onde existe uma cooperativa, o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] é maior. Afinal, a renda gerada por ela é utilizada na própria comunidade, realimentando a economia local de uma forma mais justa e sustentável.

RS: Fazendo o que elas sempre fizeram: seguir produzindo, atuando junto às comunidades, promovendo a distribuição de riquezas, a inclusão e o desenvolvimento de forma participativa. Dessa forma os resultados acontecem e são compartilhados com todos os membros que fazem parte do cooperativismo, beneficiando ainda todo o seu entorno. 

Na sua opinião, o cooperativismo soube administrar bem os obstáculos e mudanças impostas a todos em 2020?

MF: O ano foi complicadíssimo, mas as cooperativas deram conta do recado. É claro que muitas pessoas do nosso movimento estão com a asa quebrada, com feridas que ficaram da pandemia, mas não tenho dúvidas de que elas tiveram uma capacidade de superação muito forte. E isso foi motivado, em grande parte, nos princípios e nos valores do cooperativismo.

RS: Sim, tanto que os resultados foram favoráveis. Obtivemos destaque em diversos setores, inclusive segurando a balança comercial do país para que a queda na economia não fosse ainda maior.

O que levaremos de legado positivo de 2020 para 2021?

MF: Nossos legados serão união e organização. A cooperativa que soube cativar e unir os seus cooperados teve mais sucesso. E organização, ter processos, estratégia, ter planejamento. Esses dois fatores ficam como legados importantes nas cooperativas para o ano que vai chegar.

RS: Nosso legado é (e sempre será) o de colocar as pessoas sempre em primeiro lugar. Outro legado é o da adaptabilidade em qualquer contexto, graças a nossa capacidade de aprender, desaprender e reaprender, aprimorando e contribuindo para o desenvolvimento do país por meio da união e da cooperação.


Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


A incrível história do menino que virou banqueiro

Dinheiro, finanças e poupança são assuntos de adulto, certo? Errado! Aos 7 anos, o garoto José Adolfo Quisocala Condori mostrou a todos que também há espaço para crianças no mundo dos negócios ao fundar o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana, em 2012, no Peru.

Mais do que “fazer dinheiro”, a intenção de José Adolfo sempre foi ajudar outras crianças, além de diminuir os problemas sociais enfrentados pela população infantil de sua cidade, Arequipa.

Eu tinha 6 anos e cursava o 1o ano do ensino fundamental quando comecei a ver crianças nas ruas da minha cidade trabalhando, vendendo balinhas e limpando o para-brisa dos carros. Eu não entendia o porquê de eles trabalharem. Sempre me ensinaram que nós, crianças, não deveríamos trabalhar. Nossa maior responsabilidade eram as tarefas do colégio e, às vezes, ajudar em casa e nada mais”, relembra o jovem em entrevista exclusiva à revista Saber Cooperar.

Adolfo não entendia porque esses meninos e meninas trabalhavam, até conversar com uma dessas crianças. “Perguntei por que ele trabalhava, e ele me contou que tinha tomado a decisão de deixar o colégio e começar a trabalhar por causa dos problemas econômicos dos pais. Ele tinha irmãos pequenos e não queria que eles passassem fome. Então, decidiu deixar o colégio e começar a trabalhar até que seus pais conseguissem algum trabalho. Ele tinha 13 anos. Não era um adulto. Era uma criança”, recorda.

A preocupação genuína com a situação de outras crianças foi a motivação de José para abrir um banco voltado às necessidades dos pequenos. O objetivo era ajudá-los a poupar para a vida adulta.

Ao ver essas realidades e esses problemas, fiquei preocupado porque as autoridades não faziam nada para evitar que os meninos trabalhassem e abandonassem seus estudos. Até que decidi, em 2012, aos 7 anos, fundar o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana para meninas e meninos.”

MONETIZAÇÃO

Você deve estar se perguntando: como um garoto de 7 anos conseguiu dinheiro para montar um banco? Pois bem, com criatividade! Ele começou a procurar um jeito de ajudar as crianças mais necessitadas a juntar dinheiro. Foi então que decidiu transformar lixo (material reciclável) em renda. Com a ajuda dos pais — que sempre acreditaram na ideia do menino—, José Afonso fez um acordo com indústrias e empresas de reciclagem locais. Elas compram, até hoje, os resíduos sólidos coletados pelos pequenos associados da cooperativa, transformando o que antes era sucata em dinheiro na conta de meninos e meninas.

“No banco, a gente converte os materiais recicláveis em ecomoeda, contribuindo para redução da contaminação ambiental por resíduos sólidos”, explica o jovem fundador.

A instituição teve início com apenas 20 cooperados. Depois de 8 anos de intenso trabalho, o Banco Cooperativo Estudantil Bartselana tem 5.830 sócios: 60% são meninas e 40% meninos. Crianças de zero a 16 anos e jovens de 17 a 29 anos podem abrir uma conta na instituição financeira cooperativa. Para 2021, eles pretendem abrir a cooperativa para entrada de adultos – o que ainda está em estudo.

Para ser um cooperado, é preciso fazer um curso virtual gratuito, de 6 horas, que aborda questões ligadas a educação financeira e a educação ambiental (gestão de resíduos). Também é preciso depositar 10 soles (cerca de R$ 14) na poupança.

Desde a abertura, o banco cooperativo tem ampliado sua carteira de produtos.  Hoje, além da poupança, oferece microcrédito para compra de alimentos e materiais escolares, e oportunidades de investimentos.

Os cooperados contam, ainda, com um cartão de débito — como nos bancos tradicionais — e podem fazer saques em caixas eletrônicos em todo o Peru. Além disso, também podem fazer compras em estabelecimentos comerciais, compras online, transferências de recursos e pagamento de serviços.

Atualmente, todos os mais de 5 mil pequenos clientes abastecem o banco com materiais recicláveis e recebem em troca dinheiro creditado em sua conta. Um mecanismo virtuoso em prol da infância e da sustentabilidade do planeta. Tudo isso regado pelos princípios do cooperativismo de inclusão financeira, combate à pobreza e capacitação de jovens.

AJUDA DA FAMÍLIA

Nessa corajosa empreitada, José Adolfo contou com o suporte, o apoio e o exemplo da família. Foi da vivência com os pais que aprendeu a importância de poupar. E eles não mediram esforços para apoiá-lo na ideia de criar um banco.

No início, contribuímos ao crer na possibilidade de abrir um banco. A partir de 2018, passei a acompanhá-lo em suas atividades e buscando apoio com profissionais que entendessem do manejo de um banco. No início, chegamos a financiar algumas atividades. Hoje, sou um suporte emocional de José Adolfo”, conta, orgulhoso, o pai Herbert Quisocala.

NOVOS PROJETOS

Hoje com 16 anos, José Adolfo é considerado o mais jovem gerente de banco do mundo e tem mostrado que iniciativas locais geram importantes impactos na vida das pessoas. Desde a criação da instituição financeira, ele já recebeu uma dezena de prêmios e reconhecimentos pelo trabalho de inclusão financeira de jovens – entre eles, o Prêmio Internacional Finanças para Jovens, Prêmio Nacional de Voluntariado, em 2014, o Prêmio Internacional Escola Empreendedora e o Prêmio Climático Infantil 2018.

Meu trabalho [como gerente-geral], além de mostrar os nossos produtos financeiros para nossos cooperados, é inspirar, no Peru e em outros países do mundo, a promoção e o investimento em nosso modelo de negócios. Também promovo o banco cooperativo junto ao Estado peruano, através do Ministério da Educação”, explica.

Os planos para o futuro são muitos e são audaciosos. José Adolfo pretende instalar agências em todas as principais cidades do Peru, com o objetivo de atender a 20 mil crianças. O banco cooperativo conta hoje com 7 agências, mas, a partir de janeiro de 2021, mais 30 pontos de atendimento serão abertos nas casas de 30 adolescentes que, junto com seus pais, decidiram abraçar o negócio e administrar uma agência.

Além disso, o jovem deseja instalar bombas de coleta solidária (de materiais recicláveis) em cinco dessas cidades.

José Afonso também quer empreender um programa de financiamento coletivo – em que possam ser usados tanto resíduos sólidos quanto dinheiro – no Peru e no exterior.

Outro projeto do jovem empreendedor é tirar do papel e implementar a Fundação Bartselana, com a qual ele pretende ajudar a resolver os principais problemas das crianças nos quesitos educação, evasão escolar, saúde e fome.

“Esperamos que 2021 seja um bom ano para que possamos continuar desenvolvendo projetos e seguir ajudando crianças, tanto no Peru como no exterior”, diz.

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Pequenos grandes cooperados

Um dos pequenos sócios do Banco Cooperativo Estudantil Bartselana é o jovem Lucas Bustamente Mena, 11 anos, que tem uma conta de poupança e um cartão de débito no próprio nome desde julho de 2019.

Morador de Arequipa, ele conta que, em princípio, não acreditou na mãe ao ouvir a história de um “menino banqueiro”.

“Minha história com o banco começa quando minha mãe me disse que existia um menino que era banqueiro. Eu não consegui acreditar porque uma criança não podia ser banqueira. Era impossível! Mas bem, fomos ao banco e era verdade! Era um menino que era banqueiro e tinha o seu banco. Eu me surpreendi porque é muito raro”, disse Lucas em entrevista à Saber Cooperar.

A vontade de juntar o próprio dinheiro e ajudar a melhorar o planeta logo encantaram o pequeno, que resolveu se associar.

“Para virar cooperado, tive de fazer dois cursos: um sobre meio ambiente e outro sobre poupança. Me ensinaram a reciclar em casa e a pensar no que fazer com o dinheiro, a ter uma meta. Meu objetivo, na época, era ter uma capinha para celular. Consegui alcançar essa meta juntando e levando os resíduos sólidos ao banco para conseguir meu dinheirinho”, diz o jovem.

A mãe de Lucas, Johana Mena Castro, calcula que, para chegar aos 45 soles (cerca de R$ 64) necessários para a capa de celular, o menino tenha levado 80 quilos de resíduos sólidos – entre papeis, garrafas plásticas, tetrapack e jornais – ao banco cooperativo estudantil, no período de um mês e meio. Para isso, ele se empenhou em coletar o que antes era considerado lixo não só na própria casa, mas também na de tios e de vizinhos.

Também com o aprendizado sobre reutilização de materiais, Lucas fez uma jardineira na janela de casa, na qual usa latas para abrigar plantas.

A nova meta financeira do jovem é bem maior e mais ambiciosa: ele quer poupar para comprar um laptop.

“Como no banco também é possível poupar seu próprio dinheiro, eu calculo que entre abril e maio do próximo ano, ele poderá alcançar a meta de 1600 soles (cerca de R$ 2,3 mil)”, afirma, orgulhosa, a mãe.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O que você tem para celebrar em um ano de desafios e incertezas?

Fábiola Nader Motta

Gerente de Relações Internacionais do Sistema OCB

Que 2020 foi um ano, no mínimo, desafiador tanto para as pessoas quanto para as organizações, todo mundo sabe. Em meio a uma pandemia sanitária, tivemos que lidar com dificuldades econômicas, com o isolamento social e muitos, de um dia para o outro, precisaram inovar nos processos, produtos e serviços.

Com tantas vidas perdidas, negócios fechando e preocupações com o futuro, muitas vezes parece errado fazer qualquer comemoração pública de resultados em 2020. Nossa equipe passou por essa dúvida. Tínhamos previsto para novembro a 12ª edição do nosso prêmio para as melhores cooperativas do ano. 

E nos perguntamos: tem clima para isso?! Não sabíamos se a premiação seria bem recebida, se teria inscrições suficientes ou se as pessoas iam querer comemorar qualquer coisa que seja nesse ano tão diferente...

Resolvemos arriscar. Porque precisamos identificar e celebrar o que está dando certo, as iniciativas que foram colocadas em prática e como as cooperativas se organizaram para ter resultados mesmo em um cenário de dificuldades. E, principalmente, porque assim também reconhecemos cada pessoa que está por trás dessas conquistas, inovando, superando adversidades e se esforçando para rapidamente rever prioridades e caminhos.

E como a nossa aposta valeu a pena! O retorno foi o melhor possível. 2020, acreditem, foi nosso recorde no número de cases apresentados no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano - 595, de 320 cooperativas, em 22 estados. Antes, no formato presencial, em torno de 300 pessoas participavam da cerimônia de premiação. Nesta semana, no formato virtual, mais de 3.800 pessoas assistiram ao evento no nosso canal do YouTube! Fora a emoção de ler as iniciativas apresentadas: pscicólogos que criaram uma plataforma de baixo custo para atender virtualmente mantendo a qualidade do serviço; construção de lavatórios sustentáveis nas comunidades; teleatendimento gratuito para tirar dúvidas sobre a Covid-19; marketplace para divulgação de produtos e serviços da comunidade.

Então a lição que ficou é: vale a pena comemorar! Somos seres humanos que precisamos de conexão, reconhecimento e celebração. Mesmo nos momentos mais difíceis - talvez especialmente deles - precisamos celebrar nossos resultados positivos e conhecer exemplos para nos inspirar. 

Tire um tempo para identificar quais foram suas conquistas e não esqueça de reconhecer, agradecer e dividir com quem esteve junto com você. Isso motiva todos a continuar, ainda que navegando em um cenário de incertezas.