Energia limpa e rentável
Algumas cooperativas brasileiras estão atuando, com sucesso, no mercado de carbono e essas experiências têm sido apresentadas como exemplos em uma jornada de informação promovida pelo Sistema OCB Brasil afora. Uma delas é a Coprel, maior cooperativa de eletrificação em extensão de redes do país, com sede no Rio Grande do Sul.
Geramos energia limpa e renovável desde 1991, com a implantação da CGH [Central de Geração Hidrelétrica] Pinheirinho, em Ibirubá (RS). A entrada no mercado de crédito de carbono ocorreu em 2009, inicialmente como um complemento da receita, com o objetivo de melhorar a rentabilidade dos investimentos", conta o facilitador de novos negócios da coop, Mateus Stefanello.
Após o crescimento da agenda ESG, a Coprel passou a olhar para o mercado de crédito de carbono com outros olhos. "Projetos de geração de energia renovável, principalmente em virtude do baixo impacto ambiental, pela criação de áreas de preservação permanente, hoje são um diferencial importante no mercado, além de gerar renda e desenvolvimento econômico regional durante e após a implantação dos empreendimentos”, completa.
No caso da geração de energias renováveis, os créditos de carbono são emitidos a partir do cálculo de quanto CO2 deixou de ser lançado na atmosfera com a produção de energia limpa no lugar de fontes não renováveis e altamente emissoras, como as usinas termelétricas a gás ou carvão, por exemplo. As unidades geradoras têm de estar alinhadas com políticas de baixa emissão de gases de efeito estufa, ser construídas de acordo com a regulamentação e passar por auditorias até serem consideradas aptas para a geração dos créditos.
Na Coprel, o cálculo considera que cada Megawatt-hora (MWh) produzido por três pequenas centrais hidrelétricas — Engenheiro Ernesto Jorge Dreher e Engenheiro Henrique Kotzian, no Rio Grande do Sul, e Rio do Sapo, em Mato Grosso — e despachado para o Sistema Interligado Nacional (SIN) evita o maior acionamento de termelétricas. A partir de um fator de emissão definido pelo SIN, é possível chegar à quantidade de CO2 que deixou de ser emitido por cada MWh limpo produzido pela coop, resultando nos créditos disponíveis para comercialização.
Desde a entrada nesse mercado, a Coprel já emitiu e vendeu cerca de 500 mil créditos de carbono, que geraram receitas entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, além de abrir novas oportunidades no mercado internacional, segundo o facilitador de negócios da coop.
“A Coprel vende os seus créditos de carbono por diversas formas, sendo as mais usuais os contratos bilaterais de compra e venda, e por meio da plataforma Go Climate Neutral Now, das Nações Unidas”, explica Stefanello. Ele destaca que a cooperativa está implantando duas outras pequenas centrais hidrelétricas (PCH) que aumentarão os créditos de carbono que poderão ser negociados no mercado.
POTENCIAL DO CAFÉ
Com o ramo de Infraestrutura, o setor agropecuário reúne o maior potencial de geração de crédito de carbono entre as cooperativas brasileiras. Neste último, além do eventual benefício financeiro, reduzir e compensar as emissões de gases de efeito estufa também aumenta a produtividade e a competitividade de quem produz. Sem falar que o compromisso com a sustentabilidade pode determinar a própria sobrevivência das lavouras, diretamente impactadas pelos eventos climáticos decorrentes do aquecimento global.
A cafeicultura brasileira, por exemplo, tem sofrido cada vez mais com as mudanças da temperatura e do regime de chuvas. Diante desse cenário, aumentou a relevância do debate climático para a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), uma coop mineira de 17 mil pequenos produtores reconhecida internacionalmente por sua produção sustentável.
Os efeitos das mudanças climáticas nos últimos anos foram muito evidentes. Nós tivemos secas, períodos de chuva diferentes dos normais; então, não há um equilíbrio como era antes e isso interfere diretamente na produção", avalia o gerente e ESG da Cooxupé, Alexandre Monteiro.
Na visão de Monteiro, é responsabilidade de todos tomar providências para evitar o aquecimento global. "A cafeicultura permite isso: a redução da emissão de carbono na atmosfera", pondera. De fato, um estudo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) — do qual a Cooxupé fez parte — demonstrou que a cafeicultura é uma cultura “carbono negativo”, ou seja, estoca mais carbono do que emite. E quando se trata de lavouras sustentáveis, o balanço é ainda mais negativo, garantindo a adicionalidade necessária para gerar créditos para o mercado de carbono.
De acordo com a pesquisa, na produção cafeicultora conservacionista, com boas práticas de manejo agrícola, há um balanço negativo de 10,5 toneladas de CO2 por hectare ao ano. A Cooxupé agora está justamente trabalhando no inventário de carbono das lavouras de seus cooperados para levantar o potencial de créditos de carbono que poderá comercializar — o que, segundo Monteiro, ocorrerá no médio prazo.
Estamos trabalhando com universidades e especialistas de renome internacional no assunto para nos orientar sobre como atingir esse objetivo. Quando tivermos a definição do nosso balanço de carbono vamos procurar parceiros para monetizar esses créditos. Mas é importante destacar que nossa grande preocupação em relação ao carbono não é ter créditos para vender, é evitar o aquecimento global”, pondera o gerente.
Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação