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Com sustentabilidade e inclusão, cooperativas garantem energia limpa em várias partes do Brasil

Já pensou em utilizar energia solar? Se você mora em uma grande cidade, a instalação dos equipamentos para gerar eletricidade a partir da luz do sol pode ser complexa — especialmente em apartamentos ou imóveis alugados. Mas as cooperativas estão mudando esse cenário, garantindo o acesso de brasileiros de várias partes do país à energia fotovoltaica, com economia na conta de luz e contribuição para um futuro mais sustentável.

Com exemplos em várias partes do país, o cooperativismo brasileiro tem desempenhado um papel fundamental para o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 7, meta definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas as pessoas.

No Paraná, a Cogecom, uma cooperativa criada em Curitiba, em 2017, tem se destacado como referência nacional no setor de energia limpa e atualmente atende a cerca de 50 mil cooperados. A coop atua no modelo de geração compartilhada, em que a energia é produzida de forma descentralizada em usinas renováveis parceiras, localizadas no interior do estado ou zonas rurais. 

A eletricidade ingressa no sistema interligado e gera um crédito equivalente na conta de luz do cooperado, que continua recebendo o serviço de uma distribuidora convencional, mas com descontos que chegam até 20%. 

“Mais do que economizar, o cooperado se posiciona como agente de transformação. Além disso, a escolha pela energia cooperativa é um ato de responsabilidade coletiva diante das mudanças climáticas”, destaca a gerente de Marketing da Cogecom, Cleide Marchi.

Com o lema “Energia para todos”, a cooperativa tem cerca de 2 mil usinas solares e hidrelétricas parceiras e atua em oito estados brasileiros, em um total de 450 megawatts (MW) de potência instalada. 

“Já geramos mais de R$ 30 milhões em economia para os cooperados, resultado da produção de mais de 350 milhões de kWh em energia renovável”, destaca Cleide Marchi. O impacto ambiental da atuação da Cogecom também impressiona: mais de 28 mil toneladas de dióxido de carbono (CO²) foram neutralizadas graças à geração de energia de fontes renováveis. 

A coop paranaense é um exemplo do compromisso das cooperativas brasileiras de energia – que integram o ramo Infraestrutura – com a construção de uma matriz energética mais diversificada e sustentável, permitindo que mais pessoas tenham acesso a fontes renováveis com qualidade e preço justo.

“A presença cooperativista não apenas democratiza o acesso à energia limpa, como também fortalece um sistema elétrico mais descentralizado, eficiente e justo, ao mesmo tempo em que contribui para a economia local”, ressalta a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta. 

Energia limpa e sustentabilidade 

Do outro lado do país, no pequeno município de Vale do Paraíso, em Rondônia, a Cooperativa Familiar de Energia Solar e Soluções Sustentáveis (Coopfass), fundada em 2021, gera energia solar para 20 famílias de cooperados. A inovação tem transformado a comunidade de 6 mil habitantes e impulsionado outras soluções sustentáveis. 

Tudo começou quando algumas famílias da região começaram a buscar alternativas para reduzir os gastos com a conta de luz. Juntas, elas conseguiram comprar e instalar um sistema para geração compartilhada de energia solar fotovoltaica. 

“Nesse modelo, chamado de prossumidor, os cooperados são tanto consumidores quanto produtores de energia solar fotovoltaica por meio de um investimento em conjunto na infraestrutura. Cada cooperado investe na proporção de seu consumo e recebe proporcional à geração total da energia injetada”, explica a diretora  técnica administrativa da cooperativa, Regina Rocha.

Com geração e distribuição de 2,5 Megawatt/hora por mês, em média, a cooperativa tem viabilizado a redução de até 40% na conta de luz dos cooperados. O uso da energia solar no lugar de outras fontes menos renováveis já evitou a emissão de 57 toneladas de dióxido de carbono (CO²), gás que agrava as mudanças climáticas. 

“A diversificação de fontes de energia é fundamental para aumentar a segurança energética e  garantir um futuro mais sustentável. Aqui na Coopfass temos uma fonte de energia acessível, confiável e moderna. A vantagem para o associado se traduz em ganho econômico, com redução na conta de luz, e coletivo, com a contribuição para o planeta”, destaca a diretora.

Além de gerar energia limpa, a cooperativa também promove iniciativas de reflorestamento com espécies nativas, projetos de educação ecológica e ambiental em escolas públicas da cidade e de recuperação de nascentes. Segundo Regina, o objetivo é conscientizar a comunidade sobre os benefícios ambientais e econômicos da energia limpa e de ações sustentáveis, com informações claras e acessíveis. 

“Sabemos que a energia impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas. Participar da transição para energias renováveis é um investimento em um futuro mais saudável, para a construção de uma economia mais resiliente. Queremos que a transição para fontes de energia renovável ocorra de forma justa para todos”, acrescenta a gestora.

Cooperação para o ODS 7

Assim como a Cogecom e a Coopsfass, em várias partes do país, as cooperativas garantem energia em regiões rurais ou afastadas dos grandes centros urbanos, ampliam o alcance à energia limpa, promovem inclusão energética e reduzem as desigualdades no acesso a serviços básicos. Ao investir em fontes renováveis e incentivar o consumo consciente, as cooperativas também tornam possível uma transição energética justa, fortalecendo comunidades e contribuindo ativamente para a mitigação das mudanças climáticas.

“Ao unir pessoas com o mesmo objetivo, o modelo cooperativo reduz custos, gera impacto ambiental positivo e cria uma nova consciência de consumo energético. A energia do futuro está sendo construída agora, de forma compartilhada, participativa e solidária”, acrescenta Fabíola Nader Motta. 

Pioneirismo no Nordeste 

Em João Pessoa (PB), a Coopsolar, primeira cooperativa de energia renovável do Nordeste, também está ampliando o acesso à eletricidade de fonte solar por meio da geração compartilhada. A coop paraibana tem dez unidades geradoras fotovoltaicas, instaladas na Região Metropolitana de João Pessoa e no interior do estado, e atende a 127 cooperados.

A Coopsolar oferece duas possibilidades de participação: o cooperado pode investir na usina ou optar apenas pela locação dos ativos de geração. Em ambos, os cooperados têm benefícios diretos na conta de luz – com economia de até 15% por mês, além de dar sua contribuição para o meio ambiente. 

“Este modelo surgiu como forma de atender uma maior quantidade de consumidores pela viabilidade”, explica o diretor-presidente da cooperativa, Eduardo Braz. “Abrir novos caminhos é sempre um desafio, mas nossa experiência cooperativista tem trazido resultados muito positivos. A energia produzida nas nossas dez unidades geradoras durante um ano equivale à redução de 332 toneladas de CO², ou à preservação de 1.326 árvores”, compara. 

Energia cooperativa 

O cooperativismo brasileiro tem intensificado esforços no desenvolvimento de projetos de energia renovável para mitigar as mudanças climáticas e promover um futuro mais sustentável. Em 2024, 906 coops do país produziram sua própria energia, representando 22% de todo o setor, segundo dados do AnuárioCoop 2025

Elas reúnem 4.914 empreendimentos de geração – a maioria fotovoltaica – e somam 550,4 MW de potência instalada. Os projetos cooperativistas já estão presentes em todas as regiões brasileiras, operando em mais de 650 municípios e promovendo o uso de energias renováveis.

Há cooperativas que geram a própria energia em todos os ramos, com destaque para o de infraestrutura, que representa 73,84% da energia gerada por cooperativas no Brasil; e o agropecuário, setor em que o custo da eletricidade tem grande impacto sobre os negócios. 

Além de garantir benefícios econômicos com a redução de gastos com a conta de luz, a energia cooperativa também fomenta investimentos locais e democratiza o acesso à energia, assegurando transparência nos custos e o empoderamento dos cooperados.

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Cooperativas constroem cidades mais sustentáveis e inclusivas

Na maior cidade do país, uma cooperativa recicla diariamente cerca de 700 quilos de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, como celulares, computadores e eletrodomésticos, garantindo a separação de materiais que podem voltar a ser utilizados e a destinação correta da parte não reciclável. A quantidade de material processado e o impacto socioambiental fazem da Cooperativa de Trabalho, Produção, Reciclagem e Gestão de Resíduos Sólidos (Coopermiti) uma referência nacional de gestão do chamado lixo eletrônico. 

Pioneira no Brasil a firmar um convênio com um órgão público para gerenciar esse tipo de resíduos, a coop atua desde 2009 em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Entre os serviços prestados, a Coopermiti recebe materiais por entrega voluntária, agenda coleta e recolhe em pontos de entrega oficiais. Os resíduos passam por uma triagem e seguem para reciclagem, reutilização, reforma para doação ou descarte correto. 

O trabalho realizado pela cooperativa paulistana está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, uma das metas da Organização das Nações Unidas (ONU) para construir um mundo mais justo e próspero até 2030.

Com 29 cooperados, a Coopermiti já gerenciou mais de 7 mil toneladas de lixo eletrônico e recebeu ou coletou mais de 18 mil equipamentos em 16 anos de atuação. Ao reciclar o lixo eletrônico, a cooperativa contribui para aumentar o ciclo de vida dos recursos já retirados da natureza, evitando novas extrações e dando destino adequado a resíduos que poderiam contaminar o solo ou as águas.

“Somos um projeto socioambiental que, por meio da reciclagem, gera trabalho, renda e capacitação, além de promover a educação ambiental e a cultura”, destaca o diretor presidente da cooperativa, Alex Luiz Pereira. 

Para ampliar sua atuação para uma cidade mais sustentável, a coop desenvolve projetos ambientais com escolas e presta consultoria e assessoria para instituições interessadas em descartar corretamente o lixo eletrônico. Uma das iniciativas que mais chama a atenção é um museu itinerante de antiguidades tecnológicas, criado para ensinar às novas gerações um pouco da história do consumo de bens eletroeletrônicos e cultura digital. O acervo inclui máquinas de escrever, telefones, computadores, videogames antigos e outros aparelhos que contam a trajetória da digitalização no país. 

“O museu é sempre bem recebido. Em cada exposição em escolas, eventos, empresas e feiras, as pessoas sentem uma atração e uma certa nostalgia pelos itens que tiveram em casa ou na casa dos avós e outros que já utilizaram para brincar, como os videogames, e aqueles que usaram no trabalho, como os computadores”, conta Pereira.

Cooperativas e o impacto ambiental e social

Assim como a Coopermiti, diversas cooperativas pelo Brasil também trabalham para tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis, contribuindo diretamente para o ODS 11. 

Na gestão de resíduos sólidos, por exemplo, as coops lideram a coleta seletiva e a logística reversa no país, por meio do trabalho de milhares de agentes de reciclagem que encontraram no cooperativismo uma oportunidade para entrar no mercado formal. Em conjunto com associações de catadores, as cooperativas foram responsáveis pela coleta de  1,68 milhão de toneladas de resíduos recicláveis em 2023, de acordo com o Anuário da Reciclagem 2024

Além de organizar e sistematizar o processo de reciclagem no país, gerando números positivos para a coleta seletiva em território nacional, outro resultado direto desse trabalho é o impacto no planeta para as gerações futuras. Com a reciclagem, as atividades dos catadores em 2023 evitaram o uso de 6,2 milhões de MegaWatt/hora de energia; 11,7 milhões de árvores; 17,2 bilhões de litros de água; e 328,7 mil toneladas de petróleo, segundo dados do mesmo levantamento. 

A reunião desses profissionais em cooperativas também gera formalização, emprego digno e distribuição das sobras para os catadores, trazendo qualidade de vida para cada cooperado que muitas vezes se encontrava em situação de vulnerabilidade antes de se associar. Em 2023, por exemplo, as organizações de catadores obtiveram um faturamento de R$ 1,36 bilhão com a venda dos materiais para reciclagem.

Um exemplo dessa atuação vem de Rio Verde (GO), onde a Coop-Recicla promove a reciclagem de cerca de 210 toneladas de resíduos por mês, colaborando com a destinação correta do lixo gerado pelos 238 mil habitantes da cidade.

Com 40 cooperados, a cooperativa é responsável pela coleta seletiva e separação dos materiais recicláveis, reduzindo a quantidade de lixo nos aterros sanitários e melhorando a qualidade ambiental da região. A destinação correta de resíduos evita a contaminação do solo e da água e reduz a emissão de gases de efeito estufa, o que torna a cidade mais resiliente frente às mudanças climáticas.

“Além disso, geramos trabalho digno e renda para os cooperados, promovendo inclusão social e valorização dos catadores. Esses trabalhadores, antes muitas vezes informais, agora têm acesso a uma fonte estável de renda e melhores condições de trabalho”, ressalta o presidente da Coop-Recicla, Divino Teles. 

Por meio da intercooperação com outras cooperativas da cidade, a Coop-Recicla também tem promovido a capacitação e a inclusão financeira de seus cooperados, com impactos para a economia local. “A intercooperação com a Comigo, o Sicoob Empresarial, o Sicredi e o apoio da Prefeitura de Rio Verde fortalece a estrutura da cooperativa, amplia seu alcance e garante apoio técnico e financeiro para novos projetos”, afirma o gestor. 

A atuação da coop é tão valorizada pelos rioverdenses que a comunidade se mobilizou em uma rifa para apoiar a compra do caminhão para coleta seletiva da Coop-Recicla. O próximo passo é ampliar a atuação na região e instalar filiais em outras cidades do sudoeste goiano, como Chapadão do Céu e Piranhas.

Sementes para o futuro 

As cooperativas brasileiras também têm contribuído para o ODS 11 com iniciativas para tornar as  cidades e comunidades mais inclusivas. No Rio Grande do Sul, a Cotrijal, uma das maiores cooperativas agropecuárias do estado, tem transformado a realidade de pessoas com deficiência em um projeto que combina preservação ambiental e inclusão. 

Viveiro de Cidadania 1No Viveiro da Cidadania, em Passo Fundo, 54 colaboradores com deficiências intelectuais ou múltiplas produzem mudas de árvores nativas para reflorestar áreas degradadas nas fazendas de cooperados. A oportunidade garante carteira assinada, salário, participação nos resultados e outros benefícios, e, principalmente, cidadania. 

Desde a criação do viveiro, em 2019, mais de 42 mil mudas já foram distribuídas e a expectativa é chegar a 25 hectares reflorestados até o fim deste ano. “Aqui eles desenvolvem atividades de coleta de sementes, preparo germinativo, plantio e manutenção de mudas de árvores nativas em uma estrutura física toda adaptada e acessível, construída pela Cotrijal ao lado da sede da APAE [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais] de Passo Fundo”, explica a coordenadora do Viveiro de Cidadania, Maria Carolina Rovani.

Além dos colaboradores do viveiro, a Cotrijal emprega mais 127 pessoas com deficiência em vários setores, como a auxiliar de produção Laiziane Mendes, que se orgulha de ser cooperativista. “As pessoas diziam que eu nunca ia conseguir trabalhar, mas eu consegui! Coisas que eu nem imaginava fazer, agora estou fazendo. Eu tenho capacidade para trabalhar”, comemora.

Sua colega de trabalho, Aléxia Soares Damo, sente orgulho por pagar a faculdade de Pedagogia com o salário que recebe na Cotrijal. “É um sentimento muito bom a gente ter o próprio dinheiro”, conta, entusiasmada.

A coordenadora de Meio Ambiente da Cotrijal, Deisi Sebastiani, afirma que a coop contribui para o desenvolvimento de comunidades rurais e urbanas mais sustentáveis, inclusivas e resilientes com o fortalecimento da economia local, manutenção de famílias no campo e geração de emprego e renda. Além disso, promove práticas agrícolas sustentáveis entre seus 17 mil cooperados, disponibiliza infraestrutura e serviços que beneficiam a comunidade e fomenta a cultura de cooperação e solidariedade.

“Promovemos o trabalho coletivo e o desenvolvimento humano, valores que fortalecem o tecido social das comunidades onde estamos inseridos, tornando-as mais participativas, organizadas e preparadas para enfrentar desafios coletivos”, afirma.

Cooperativas ajudam a reduzir desigualdades com trabalho, renda e inclusão

Cooperativas ajudam a reduzir desigualdades com trabalho, renda e inclusão

Todos os dias, o coop transforma a vida de milhares de pessoas, no Brasil e no mundo. Ao fazer isso, contribuímos com um dos mais importantes objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU: reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles (ODS 10). Entre as muitas histórias que podemos contar sobre o assunto, uma se destaca por ter dado oportunidade a um dos públicos mais vulneráveis da nossa sociedade: pessoas em situação de rua. 

Tudo começou em 2020, logo no início da pandemia de Covid-19. As ruas ficaram vazias e quem lá vivia ficou ainda mais exposto não só ao vírus, mas à fome e ao desamparo. Preocupada com a situação,  a Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte passou a produzir lanches para levar para essa população. Sete deles foram inclusive contratados para produzir o alimento e, com isso, passaram a receber uma renda fixa todo mês. O valor, apesar de pequeno, foi suficiente para lhes devolver a dignidade e acendeu neles o desejo de mudar de vida. 

Com o fim da crise sanitária, já conscientes da importância de trabalhar para garantir o próprio sustento, eles decidiram empreender. Com o apoio do Sistema Ocemg — entidade de representação do coop mineiras —, eles montaram a primeira do estado formada por pessoas em situação de rua: a Cooperativa de Trabalho Solidário Sabor do Canto,

“Na minha vida, tudo mudou depois da cooperativa”, disse, emocionada, Fabiana Cristina Fernandes, presidente da Sabor do Canto. “Meus filhos estão mais próximos de mim, e pude dar a eles coisas que nunca tive. Hoje, eles têm uma cama para dormir, uma televisão em casa... Tudo isso foi possível com o dinheiro da cooperativa. Antes, a gente dormia em colchão no chão, até em papelão. Hoje, graças a Deus, temos uma cama."

CIDADANIA

Ao criar oportunidades de trabalho e renda para quem mais precisa, as cooperativas têm facilitado a entrada de pessoas em situação de vulnerabilidade no mercado formal, ajudando a construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Hoje, todos os cooperados da Sabor do Canto têm uma casa para morar e uma renda fixa mensal superior a um salário-mínimo para se manter. Eles continuam trabalhando com a produção de alimentos, mas diversificaram a produção. 

“No começo, a gente produzia lanches para pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente nos Centros Pop da capital mineira, que compravam diretamente da cooperativa”, recorda Fabiana. “Recentemente, o contrato com a Prefeitura acabou e passamos a oferecer serviços de coffee break, catering e kit lanches”. 

A Sabor do Canto também comercializa biscoitos de leite ninho e queijadinha à granel em uma lojinha no Mercado Novo, um reduto da cultura mineira no coração de Belo Horizonte. Mais recentemente, entrou para uma plataforma de delivery onde vende marmitas e sanduíches. 

“Quando nos tornamos uma cooperativa, passamos a ser mais respeitados”, constata Silas César de Oliveira, um dos cooperados. “Antes, éramos vistos apenas como pessoas que vinham da rua, sem grandes perspectivas. Hoje, somos pessoas com documentos, coisa que não tínhamos antes, e já fizemos até cursos profissionalizantes. A verdade é que somos empreendedores, e as pessoas começaram a nos enxergar de uma forma diferente. Isso fez toda a diferença na nossa autoestima e nas portas que se abriram para nós.” 

Vale destacar: além dos benefícios diretos para os cooperados, uma pesquisas realizada pelo Sistema OCB em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) comprova: a presença de uma cooperativa melhora os indicadores sociais e econômicos das cidades onde elas atuam, com mais emprego e renda e fortalecimento dos negócios locais. 

De acordo com o estudo, municípios com cooperativas registram um incremento médio de R$ 5,1 mil no Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, 18% a mais que a média nacional. Além disso, há 28,4 empregos a mais por 10 mil habitantes nessas cidades.

PROSPERIDADE NO CAMPO

Em Carnaubal, no interior do Ceará, a Cooperativa Agropecuária dos Agricultores Familiares da Região Norte do Ceará (Coopenort) tem ajudado a transformar uma das áreas mais pobres do estado com o lema “Cooperando para crescer”. Criada em 2019, a coop é referência em produção sustentável e impacto social, com resultados que unem segurança alimentar, inclusão produtiva e redução de desigualdades. 

Juntos, os 54 agricultores familiares cooperados produzem e comercializam frutas, verduras e hortaliças frescas, além de polpa de frutas. Os produtos chegam a 80 cidades do Ceará e do Piauí, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região. Em quatro anos, os números são expressivos: o faturamento da Coopenort passou de R$ 465 mil em 2020 para R$ 12,6 bilhões em 2024, refletindo a eficiência da gestão e planejamento estratégico.

“Hoje o sistema cooperativista é o único modelo de negócio que consegue equiparar os pequenos com os grandes, tudo isso com base na união de forças de pessoas que querem empreender, evoluir e competir com os grandes comerciantes e produtores. Este é o modelo de trabalho do futuro, com pessoas que querem mudar de vida e se unem em prol desse objetivo”, destaca o diretor presidente da Coopenort, Daniel Sousa. 

Para garantir suporte aos produtores, a cooperativa comercializa adubos e irrigadores e oferece assistência técnica especializada –  da escolha das sementes ao manejo do solo. Com base nos princípios ESG, de sustentabilidade ambiental, social e governança, a Coopenort também realiza projetos para a comunidade, ampliando os benefícios para além dos cooperados. Entre as iniciativas, estão palestras sobre educação ambiental em escolas da região e ações de reflorestamento. “Trabalhamos juntos para semear esperança e colher prosperidade, isso é cooperativismo”, resume Sousa.

Sistema OCB e ANM debatem regulamentação da lavra garimpeira
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Sistema OCB e ANM debatem regulamentação da lavra garimpeira

Reunião abordou ajustes na Resolução 208/2025 e propostas para garantir segurança jurídica e continuidade produtiva do setor 

O Sistema OCB se reuniu nesta terça-feira (15) com o diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Mauro Henrique Moreira Sousa, para discutir temas prioritários para o cooperativismo mineral. Entre os principais pontos, estiveram em pauta a regulamentação da Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) e os impactos da Resolução ANM nº 208/2025 nas operações das cooperativas. 

Sistema OCB e ANM debatem regulamentação da lavra garimpeira O Sistema OCB representa atualmente 82 cooperativas minerais em todo o país, reunindo mais de 38 mil garimpeiros cooperados. Em 2024, essas cooperativas possuíam 656 títulos minerários em produção, comercializaram 6,9 milhões de toneladas de minérios e recolheram R$ 34,8 milhões em Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM)

Durante o encontro, a entidade se dispôs a apresentar uma proposta unificada das cooperativas minerais em resposta à Resolução 208/2025, que estabeleceu novos limites máximos para áreas de PLG e reforçou a importância do fortalecimento do diálogo com a agência, por meio de um acordo de cooperação técnica que segue em tramitação dentro da mesma. Segundo a gerente geral Fabíola Nader Motta, a assinatura do acordo é importante para formalizar a parceria entre as entidades, e promover o alinhamento de objetivos e a troca de conhecimentos.  

Com relação a resolução, a analista técnica institucional do sistema OCB, Letícia Monteiro, juntamente com o coordenador nacional da câmara temática das cooperativas minerais, Gilson Camboim, ressaltaram que a norma, como está, pode comprometer a operação de cooperativas que atuam em diversas substâncias minerais, como ouro, diamante, quartzo e calcário. “É fundamental que a regulamentação considere as especificidades do modelo cooperativista e garanta segurança jurídica para que as cooperativas possam continuar gerando trabalho, renda e inclusão social em várias regiões do Brasil”, destacou Letícia. 

Aprimoramentos 

A reunião debateu temas importantes para a consolidação de uma proposta a ser apresentada  pelo Sistema OCB solicitando ajustes na resolução, incluindo: 

  • Preservação  das dimensões de áreas requeridas antes da publicação da norma. 

  • Modelo de transição justa, evitando impactos abruptos na operação das cooperativas. 

  • Estabelecimento de um canal de diálogo para compartilhamento de informações relevantes para o fortalecimento do cooperativismo. 

 Ainda de acordo com Fabíola, o objetivo é garantir que o setor continue atuando com competitividade. “Queremos avançar em soluções conjuntas com a ANM, construindo um ambiente regulatório justo e eficiente para as cooperativas que atuam na mineração. Acreditamos que o diálogo institucional é o caminho mais assertivo para alinhar desenvolvimento econômico e preservação ambiental”, reforçou. 

Outros temas estratégicos 

Além da PLG, o Sistema OCB levou à ANM preocupações sobre a morosidade nos processos de certificação do Processo Kimberley, essencial para a comercialização legal de diamantes, a agência apresentou formas para que as cooperativas alcancem a celeridade neste processo. O diretor-geral Mauro Sousa destacou a importância do cooperativismo no setor mineral e se mostrou aberto ao diálogo para buscar soluções equilibradas.  

Relevância 

O cooperativismo mineral tem papel relevante na economia e no desenvolvimento regional, especialmente em áreas remotas do país. Além de promover a inclusão social de milhares de garimpeiros, as cooperativas contribuem com a arrecadação de tributos e a formalização de atividades tradicionais. 

“Trabalhamos para que as cooperativas minerais continuem sendo protagonistas de um modelo produtivo sustentável e responsável. É essencial que o marco regulatório reconheça essa contribuição e não crie obstáculos desproporcionais ao setor”, concluiu a gerente-geral do Sistema OCB. 

Saiba Mais: 
Escuta ativa é chave para fortalecer a comunicação com cooperados, diz especialista

Escuta ativa é chave para fortalecer a comunicação com cooperados, diz especialista

Em tempos de comunicação acelerada e atenção dividida entre múltiplas plataformas, como as cooperativas podem se conectar com seus cooperados? Doutora em Estudos da Linguagem e com mais de 20 anos de experiência nas áreas de planejamento, comunicação e relacionamento com o público, a professora Thais Jerônimo afirma que a resposta está na escuta ativa. 

“É preciso entender o que o cooperado espera da cooperativa, mapear os perfis de cada um, e isso se faz com escuta ativa e interesse genuíno. Não há fórmulas únicas para experiências memoráveis, há pessoas com expectativas que precisam ser ouvidas”, afirmou a especialista em palestra da trilha Comunicação Institucional – Reputação Positiva da Marca, realizada durante a Semana de Competitividade 2025, promovida pelo Sistema OCB. 

Segundo Thais Jerônimo, criar uma experiência positiva para o cooperado vai além de oferecer bons produtos e serviços. É preciso olhar cada um com interesse e atenção, entender suas necessidades e criar conexões verdadeiras em cada ponto de contato. 

Em entrevista ao Sistema OCB, a especialista – que atua desde 2006 com cooperativas de várias partes do país – destacou que a comunicação cooperativista precisa ser intencional, estratégica e integrada. Segundo ela, a missão envolve todas as áreas, não só a diretoria ou setores específicos, com foco em conhecer o cooperado, sua jornada e suas expectativas.

Leia a entrevista completa: 

Sistema OCB: Quando a gente fala em criar experiências memoráveis para o cooperado, por onde essa jornada começa na prática? Qual o papel da comunicação nesse processo?

Thaís Jerônimo: Eu não acredito em fórmulas para criar experiências memoráveis. O que sempre defendo é que as pessoas têm expectativas únicas, logo, precisamos ouvi-las para entender realmente quais são essas expectativas com relação à cooperativa. Se eu tenho diferentes perfis de cooperados, antes de qualquer coisa, preciso conhecer esses cooperados, entender o que eles esperam da cooperativa para, daí sim, pensar em experiências. A comunicação vai perpassar tudo isso. Começa nesse movimento de ouvir o cooperado, entender a expectativa dele e, a partir daí, a pensar em ações que envolvam canais, veículos de comunicação e, claro, também ações de relacionamento.

Toda a cooperativa tem uma história para contar, mas como transformar essa histórias em conexão real com o cooperado?

Quando a gente fala de história, de memória, isso tem muito a ver com a própria cultura organizacional. E o cooperativismo é um campo muito vasto para trabalhar isso, só que é preciso entender o seguinte: aqueles cooperados que são fundadores, que participaram da história, a experiência deles e a vivência deles com relação a isso vai ser muito mais inspiradora. Por que? Porque eles viveram aquilo. Uma das experiências que eu gosto muito de utilizar é incentivar a conexão desses cooperados que são parte da história viva da cooperativa, trazendo isso em momentos de integração de novos cooperados, para exemplificar como esse processo é vivo.

Então, tenho diferentes gerações coexistindo na cooperativa, com os mais velhos apresentando os princípios cooperativistas para que a geração Z, a geração Alfa, realmente entendam o quanto o cooperativismo é um modelo de negócio que realmente dá certo e que tem que ter sustentabilidade, continuidade. 

Em um cenário de tantos canais e formatos, como escolher a melhor forma de conversar com o cooperado e manter esse diálogo vivo e próximo?

A principal resposta é: pergunte ao cooperado. Não fique tentando olhar o que todos os outros estão fazendo. Pergunte para o seu cooperado. Porque, às vezes, uma iniciativa que deu muito certo na cooperativa A, B ou C funciona para aquele segmento, naquela realidade, naquela localização geográfica. Faça pesquisa. A regra de ouro da comunicação sempre vai ser essa: pergunte para o público para entender realmente qual é a preferência dele.

Ao longo da sua jornada com cooperativas, qual case chamou sua atenção  no relacionamento com os cooperados? 

Tem um case bem específico de memória cooperativista. O segmento de saúde é muito conhecido e o Brasil tem o maior sistema cooperativista de trabalho médico do mundo, que é o Sistema Unimed. Eles têm números muito impressionantes e os médicos fundadores têm uma história de quase 60 anos. Eu estava em uma das cooperativas da Unimed no Rio Grande do Sul, e os fundadores que estão vivos – alguns ainda atuando na medicina – foram convidados para contar qual era a principal memória que eles tinham de quando a cooperativa foi criada. E aí foi, realmente, uma lição, uma aula de cooperativismo poder ouvir aqueles fundadores, aqueles cooperados contando suas histórias, se emocionando com o que hoje aquela Unimed representa, tanto para aquela cidade quanto para os cooperados que estão lá dentro. É um exemplo fantástico de como se conectar com os cooperados, para poder, inclusive, passar o bastão para as próximas gerações.

Histórias de um mundo melhor: o Brasil que o cooperativismo transforma
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Histórias de um mundo melhor: o Brasil que o cooperativismo transforma

Sistema OCB inicia produção de documentário com histórias de transformação social e econômica  

O cooperativismo brasileiro vai novamente ganhar as telas em breve. O Sistema OCB está iniciando as gravações do documentário Histórias de um mundo melhor, uma das principais ações comemorativas do Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025. A produção vai percorrer as cinco regiões do Brasil para contar histórias emocionantes de pessoas e comunidades que tiveram suas vidas transformadas pela cooperação. 

Com uma narrativa que une desenvolvimento econômico, impacto social e cuidado com o meio ambiente, o documentário será uma oportunidade para mostrar ao público como o cooperativismo brasileiro atua em diferentes áreas e ajuda a construir um país mais justo e sustentável. 

“Este documentário é uma declaração do potencial transformador do cooperativismo. Queremos dar voz a quem vive o dia a dia desse movimento, mostrando que o trabalho coletivo gera prosperidade, oportunidades e cuidado com as pessoas e com o planeta”, destaca o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. 

Histórias que inspiram 

O documentário vai apresentar personagens reais que representam a diversidade do movimento cooperativista no país. As gravações estão previstas para começar em breve e devem passar por diferentes estados brasileiros, incluindo Rondônia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará e Distrito Federal. 

Histórias de um mundo melhor: o Brasil que o cooperativismo transforma Entre os personagens está Dona Aldênia, agricultora e sócia-fundadora da Cooperativa Agropecuária e Florestal do Projeto Reca (RO), que ajudou a transformar uma região marcada pelo desmatamento em agroflorestas. Formada por mais de 300 famílias de agricultores, a cooperativa cultiva mais de 40 espécies entre árvores e plantas frutíferas e medicinais.  

O documentário também vai acompanhar a trajetória de Onésio da Silva, produtor de queijo canastra e cooperado do Sicoob Sarom, em Minas Gerais. Depois de enfrentar uma grave crise financeira e quase desistir da atividade rural, Onésio encontrou no cooperativismo de crédito a chance de reerguer a fazenda e transformar sua história. 

Outros personagens como Cleusimar Andrade, presidente da Rede Alternativa de Reciclagem no Distrito Federal, e Giseli Boldrin, cooperada da Vinícola Nova Aliança no Rio Grande do Sul, também terão suas trajetórias retratadas. Juntos, eles representam diferentes ramos e mostram como o cooperativismo é capaz de impactar positivamente áreas tão diversas como agricultura, saúde, crédito e reciclagem, entre outros. 

A narrativa do filme costura diferentes histórias para evidenciar o papel do cooperativismo como uma força social e econômica. Além dos depoimentos emocionantes, a produção vai explorar as paisagens do Brasil, desde as florestas amazônicas até os parreirais da Serra Gaúcha. 

Saiba Mais: 
Do campo à TI: cooperativas promovem desenvolvimento com inclusão e inovação

Do campo à TI: cooperativas promovem desenvolvimento com inclusão e inovação

Um tapete branco, até onde a vista alcança. Essa é a visão que se tem dos campos de algodão que embelezam e enriquecem Mato Grosso. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estado é o principal produtor de algodão do país, com 6,39 milhões de toneladas na safra de 2023/2024. E onde há desenvolvimento e prosperidade, o cooperativismo está presente. 

Em Campo Verde, 130 quilômetros (km) distante da capital Cuiabá, um grupo de produtores da região se uniu em 2001 para criar a Cooperfibra. Com mais de 20 anos de história, conta hoje com 208 cooperados e uma produção anual de 407 mil toneladas de algodão. A trajetória da cooperativa foi contada em um episódio da terceira temporada da série SomosCoop na Estrada

Em 2011, foi a vez de 30 cooperados se reunirem para escrever um novo capítulo dessa história e agregar mais valor ao produto cultivado, criando uma nova cooperativa, a Agrofibra Fios (fundada como Cooperfibra Fios), responsável pela fiação do algodão. Em vez de enviar o produto in natura para fiações em Santa Catarina, Paraná ou São Paulo, o tratamento passou a ser feito pela nova cooperativa - independente da Cooperfibra, mas parceira dos produtores. 

“Com a expertise técnica das equipes que vieram da indústria, transformamos esse algodão em um fio de qualidade, que concorre com outras fiações do Brasil”, explica Antonio Marcos Nascimento, gerente industrial da cooperativa. 

Atualmente a Agrofibra Fios comercializa cerca de 1,4 mil toneladas de fios para o mercado interno. A produção deve saltar para 2,4 mil toneladas em breve, uma vez que a planta industrial está passando por uma etapa de expansão, com a compra de novos maquinários. Cerca de 200 empregados trabalham na fábrica, que absorve aproximadamente 15% do algodão plantado pela Cooperfibra. 

A história da Agrofibra é um exemplo de como as cooperativas trabalham diariamente para contribuir com o desenvolvimento do Brasil, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 9, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Com o olhar voltado para a indústria, inovação e infraestrutura, a meta pretende promover a industrialização inclusiva e sustentável e, até 2030, aumentar significativamente a participação da indústria no setor de emprego e no Produto Interno Bruto (PIB).

No caso do algodão cooperativo mato-grossense, o impacto da industrialização vai muito além dos benefícios para os cooperados,  com reflexos na economia local e no crescimento da cadeia produtiva têxtil no estado. “Há um potencial muito grande para esse mercado aqui na região. Por exemplo, hoje mandamos o nosso fio para as malharias do Sul do país, que depois revendem para confecções aqui do Centro-Oeste. Goiânia, por exemplo, é um grande pólo de fabricação de roupas. Se você instala uma malharia aqui, verticaliza a produção e reduz muitos custos”, analisa o gestor da Agrofibra Fios. 

Inovação e inclusão

Lançados em 2015 pela ONU, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agenda global com metas a serem alcançadas até 2030. São 17 objetivos interligados que visam erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir paz e prosperidade para todos. No ODS 9, a inovação aparece como um tema importante, e da capital do país vem mais um exemplo da contribuição do coop.

Brasília é a sede da maior cooperativa de profissionais de Tecnologia da Informação (TI) do Brasil, a Coopersystem, fundada em 1998. Com 420 cooperados, a coop promove a inovação por meio da  gestão participativa. Em 2020, durante a pandemia, a Coopersystem executou um projeto que resultou em um apoio essencial para cooperativas de todo o país durante o difícil período de isolamento social. Na época, eles lançaram – e ofereceram sem custos em parceria com o Sistema OCB – uma plataforma que permitia a realização de assembleias e reuniões on-line, chamada Curia

“Nos tornamos especialistas em conduzir assembleias de qualquer ramo. Porque a gente fornecia o software e acompanhava as reuniões para auxiliar as cooperativas nos momentos de votações. Na ferramenta de videoconferência, também oferecíamos suporte para liberar microfones, organizar a fila virtual, etc. Tivemos casos em que a presença de cooperados triplicou ou quadruplicou em assembleias virtuais”, lembra o coordenador de Relacionamento e Negócios da coop, Hugo Felinto. 

Cerca de 250 cooperativas fazem ou fizeram uso da plataforma. Hoje, o Curia é um produto comercializado pela CooperSystem, inclusive para outros modelos de negócio para além do cooperativismo.

Mesmo com o fim da pandemia, muitas cooperativas seguem usando a plataforma, que permite ampliar a participação e aprimorar o registro de presença, votação, entre outros recursos. “Com o Curia e outras soluções desenvolvidas por nós, conseguimos promover a inclusão digital em coops em que os cooperados mal sabiam usar o celular, não tinham computador.  A gente trouxe para o mundo digital uma quantidade grande de pessoas que não estavam familiarizadas com a tecnologia”, aponta Elza Cançado, sócia-fundadora da Coopersystem e Diretora de Relacionamento e Negócios. 

Cooperativas promovem trabalho decente e desenvolvimento sustentável pelo Brasil

Cooperativas promovem trabalho decente e desenvolvimento sustentável pelo Brasil

Em uma das paisagens mais emblemáticas do Nordeste, uma cooperativa tem navegado as águas do Rio São Francisco para apresentar as belezas naturais da região de forma sustentável a visitantes do Brasil e do mundo. Com foco em turismo regional e educação ambiental, a Cooperativa de Trabalho de Turismo de Água Branca (EntreSerras) reúne profissionais de Alagoas, Bahia e Sergipe e tem demonstrado, na prática, como o cooperativismo impacta comunidades com geração de trabalho decente e desenvolvimento local. 

Criada há três anos, a cooperativa já se tornou referência no sertão alagoano. Os 20 cooperados oferecem serviços como trilhas, passeios guiados, vivências culturais, gastronomia sertaneja e atividades de educação ambiental para turistas que buscam contato com a natureza e a cultura local de forma sustentável. 

“Criamos oportunidades de trabalho para cooperados que valorizam os saberes locais, geram renda e estimulam o desenvolvimento econômico sem degradar o meio ambiente. Valorizamos práticas justas, inclusão social e protagonismo comunitário, promovendo a diversificação da economia na região onde atuamos, fortalecendo o turismo nos seus mais diversos eixos”, destaca o presidente e fundador da EntreSerras, Edício José Santos.

A coop tem garantido renda digna para guias e condutores locais, artesãos e profissionais das áreas de hotelaria e transporte. Um diferencial do ecoturismo praticado pela EntreSerras é a inclusão de comunidades tradicionais em seus roteiros, como quilombos e aldeias indígenas. “Ao apresentar suas histórias, culturas, saberes e modos de vida aos visitantes, essas comunidades também produzem renda, fortalecem sua identidade e ampliam as oportunidades econômicas locais”, explica  Santos. 

Além de contribuir para o turismo na região, as ações e projetos desenvolvidos pela EntreSerras no sertão alagoano estão alinhadas à conservação do bioma Caatinga. Durante os passeios, os guias cooperativos orientam os visitantes sobre práticas de mínimo impacto ambiental e promovem ações de educação ambiental em parceria com escolas da região, que incluem atividades como mutirões de limpeza em trilhas e áreas naturais.

A EntreSerras também utiliza materiais biodegradáveis e reutilizáveis em suas atividades, incentiva a compra e o uso de produtos da agricultura familiar local e valoriza a cultura sertaneja, quilombola e indígena em apresentações culturais, gastronomia típica e vivências comunitárias.

A atuação da coop alagoana é um dos diversos exemplos de alinhamento do cooperativismo brasileiro ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8, da Organização das Nações Unidas (ONU) – Trabalho decente e crescimento econômico. A meta global visa promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos até 2030. 

“Para nós, cooperativistas, o trabalho decente significa oferecer condições justas, dignas e seguras para todos os que fazem parte da cooperativa, fortalecendo não só a geração de renda, mas também o desenvolvimento pessoal e coletivo”, destaca o presidente da Entresserras. 

Mais trabalho para jovens e mulheres 

No Sul do país, a Cooperativa Agroindustrial C.Vale – uma das maiores geradoras de empregos do Paraná – tem investido na qualificação e inclusão produtiva de jovens e mulheres para ampliar seu impacto para o desenvolvimento econômico e social da região. 

Com mais de 60 anos no mercado, a coop reúne 29 mil produtores agropecuários do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, além do Paraguai. Com atuação em diversas frentes – da produção de sementes à rede de supermercados – a C.Vale tem foco na agroindustrialização de insumos como soja, milho, trigo, mandioca, peixes, frango e suínos. Em 2024, esse trabalho gerou R$21,98 bilhões em resultados para a cooperativa, com impacto direto na economia local. 

“A agroindustrialização que a C.Vale colocou em prática, a partir de 1997, resultou em aumento da renda e, como consequência, vem contribuindo para manter famílias no campo. A geração de tributos incrementa a arrecadação dos municípios e a circulação de renda suaviza as dificuldades que surgem quando ocorrem quebras de safra”, detalha o gerente do Departamento Jurídico da C.Vale, Joberson de Lima. 

Com 15 mil funcionários, a cooperativa paranaense mantém uma universidade corporativa para capacitar seus profissionais e tem programas específicos para a qualificação de jovens e mulheres, com cursos, treinamentos, seminários e ações inclusivas. 

“No caso das mulheres, já temos um trabalho consolidado de estímulo à participação feminina em todas as atividades da cooperativa, não apenas na área operacional. Queremos que elas sejam parte ativa também na gestão e liderança dos negócios”, destaca Lima.

Para o público jovem, um dos focos da C.Vale é a formação para a sucessão familiar, questão diretamente ligada à continuidade dos negócios no campo. “Procuramos mostrar a importância do diálogo aberto entre pais e filhos. As famílias devem envolver os filhos nas atividades desde cedo, fazer com que eles se sintam corresponsáveis pelos destinos da propriedade”, destaca o gerente.

Tradição e desenvolvimento 

Apoiar pequenos produtores e fortalecer negócios em comunidades afastadas dos grandes centros também são estratégias das cooperativas para impulsionar o desenvolvimento sustentável onde atuam. Esse foi o caminho escolhido pelo Sicoob Credivale, uma cooperativa de crédito de Minas Gerais, para fortalecer a economia do Vale do Jequitinhonha, no nordeste do estado. 

A coop teve um papel fundamental no projeto de desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Queijo Cabacinha, que beneficia diretamente 34 famílias e tem fortalecido um dos produtos mais tradicionais da região. 

Em parceria com o Sistema Ocemg, o Sicoob Credivale ajudou os produtores do queijo a se organizarem em uma associação, o que possibilitou a realização de compras coletivas de insumos, redução de custos e o acesso a novos mercados com a participação em feiras de negócios. 

De acordo com o coordenador de Cidadania e Sustentabilidade da cooperativa, Guilherme Oliveira, antes do projeto, os produtores do queijo cabacinha trabalhavam isoladamente. A maioria não possuía embalagem nem rótulo e muitos desconheciam conceitos como marca coletiva e Indicação Geográfica (IG), que aumentam o valor agregado dos queijos. 

“Hoje existe conectividade entre os produtores, a maioria já utiliza as redes sociais para divulgar o queijo. O turismo começou a se desenvolver na região, com o produtor recebendo turistas e oferecendo refeições”, afirmou o gerente. Pelo impacto social e econômico no Vale do  Jequitinhonha, o projeto do Sicoob Credivale foi reconhecido com o troféu Bronze na categoria Coop Cidadã do Prêmio Somos Coop Melhores do Ano 2024.

Com 30 mil cooperados, a cooperativa de crédito mineira também desenvolve outras iniciativas de desenvolvimento local com impactos que vão muito além do acesso ao crédito, como educação financeira e empreendedora, qualificação profissional, valorização do comércio local e ações sociais. 

“O Sicoob Credivale procura protagonizar e participar de programas e projetos que buscam capacitar e profissionalizar pessoas, buscando sempre entender a vocação de cada região, contribuindo com a formação de mão-de-obra local e com a promoção de empreendedorismo regional. Além disso, é ator relevante em feiras, workshops, leilões e eventos de negócio em todos os seus municípios de atuação”, resume Oliveira. 

Números 

As cooperativas brasileiras geram 550.611 empregos diretos, número que vem crescendo continuamente ano após ano, segundo dados do Anuário do Cooperativismo 2024.

Em 2023, as coops brasileiras pagaram R$ 31 bilhões em salários e encargos a seus profissionais, um aumento de 27% em relação ao ano anterior.

Além das oportunidades de trabalho diretas, a atuação das cooperativas favorece o incremento na arrecadação de impostos, a geração de outros empregos, a educação e a transformação social das comunidades.

 

Sistema OCB e CT de Comunicação do Crédito alinham ações estratégicas
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Sistema OCB e CT de Comunicação do Crédito alinham ações estratégicas

Reunião debate campanhas conjuntas, COP30, DICC e uso do carimbo SomosCoop 

O Sistema OCB se reuniu com a Câmara Temática de Comunicação e Marketing do Ramo Crédito (CT de Comunicação), nesta quarta-feira (11), em Brasília, para alinhar os próximos passos de comunicação e atuação conjunta com o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC). A agenda do encontro contemplou temas estratégicos como a participação das cooperativas na COP30, as ações para o Dia Internacional do Cooperativismo (Coops Day), a campanha do Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (DICC) e a continuidade do trabalho em torno do carimbo SomosCoop

Um dos destaques foi o debate sobre a presença do cooperativismo na COP30, que ocorre em novembro em Belém (PA). Com base nas estratégiasSistema OCB e CT de Comunicação do Crédito alinham ações estratégicas definidas pelo Sistema OCB, a CT alinhou a possibilidade das cooperativas de crédito utilizarem o material disponibilizado pelo Sitema OCB para que a identidade visual esteja integrada em todos os sistemas. Um pacote de peças personalizáveis que será disponibilizado nos próximos dias. 

Na pauta do Coops Day, comemorado em julho, o grupo discutiu alternativas criativas e viáveis para ações de visibilidade, junto da ação coordenada proposta pelo Sistema OCB. Já em relação ao Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (DICC), celebrado em 16 de outubro (sempre na terceira quinta-feira do mês), a reunião detalhou a campanha institucional coordenada pelo Sistema OCB, com base no conceito global definido pelo Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (Woccu) — Cooperação por um mundo próspero. O grupo avaliou a proposta de campanha que contará com filme institucional, influenciadores, creators, reels, intervenção urbana e um pacote digital com peças padronizadas. “Essa campanha tem o poder de transformar a percepção sobre as cooperativas de crédito. É sobre mostrar que uma simples escolha pode ter um impacto positivo imenso”, explicou Samara Araujo, gerente de Marketing e Comunicação do Sistema OCB, durante sua apresentação ao CT. 

 

Saiba Mais: 
Com água e saneamento, cooperativas melhoram qualidade de vida em pequenas comunidades
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Com água e saneamento, cooperativas melhoram qualidade de vida em pequenas comunidades

Imagine morar à beira de grandes rios da Amazônia e não ter água de qualidade na torneira de casa? Realidade de muitos ribeirinhos, esse também era o cenário dos moradores da comunidade de Santo Ezequiel Moreno, na cidade de Portel (PA), em pleno Arquipélago do Marajó. Com a participação de uma cooperativa de produtores de açaí, a história começou a mudar com a implantação de uma tecnologia social que já garantiu saneamento básico para cerca de 200 famílias da região. 

Desenvolvido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) com recursos do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil, o projeto Sanear Marajó Socioambiental tem mudado a paisagem local com itens que parecem básicos para a maioria dos brasileiros, mas de grande impacto para quem vive em meio à floresta: banheiros e caixas d'água. 

Cada família recebe uma estrutura equipada com vaso sanitário, chuveiro, pia e fossa biodigestora; um sistema de captação da água da chuva e um conjunto de pia com filtros para garantir consumo de água limpa e de qualidade. Entre os beneficiados, estão as famílias dos 48 cooperados da Cooperativa Agroextrativista e Pecuária da Comunidade de Santo Ezequiel Moreno (Coopiaçá), que contribuiu com parte de logística e infraestrutura para o projeto se tornar realidade. 

Criada para fortalecer a cadeia produtiva do açaí, a Coopiaçá também atua na agricultura familiar, garantindo trabalho e renda para os cooperados, fortalecendo a economia local e promovendo o desenvolvimento sustentável em uma das regiões mais vulneráveis do país.

Além dos módulos individuais para cada família, a comunidade dos cooperados da Coopiaçá também recebeu uma infraestrutura coletiva, com um sistema de captação de água de poço artesiano profundo, tratamento, armazenamento e distribuição. 

Com as melhorias, os cooperados passaram a ter acesso à água limpa e segura para consumir e utilizar nas lavouras e, ao mesmo tempo, evitam a contaminação dos rios que são quintais de suas casas. “O projeto Sanear tem sido muito importante para a comunidade porque foca na questão ambiental. Antes, por exemplo, não tínhamos fossa séptica adequada, agora podemos fazer nossa parte para não poluir as águas”, destaca o presidente da Coopiaçá, Teofro Lacerda. 

Em 2024, a atuação da cooperativa no projeto Sanear Marajó foi reconhecida no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano com o segundo lugar na categoria Desenvolvimento Ambiental. 

A participação da Coopiaçá na iniciativa socioambiental é um dos exemplos de como as cooperativas brasileiras estão comprometidas com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos até 2030. 

Em várias partes do Brasil, cooperativas de diversos segmentos desenvolvem iniciativas de preservação e uso sustentável das águas. As ações incluem mapeamento e conservação de nascentes, recuperação de rios degradados, uso racional dos recursos hídricos na produção  agropecuária e educação ambiental. Com foco na sustentabilidade e no desenvolvimento econômico e social das comunidades em que atua, o cooperativismo tem trazido soluções para os problemas reais vividos pelas pessoas.

Da Amazônia ao agreste

No interior de Sergipe, no município de Lagartos, uma iniciativa da Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento Rural Centro Sul Sergipe (Cercos) tem garantido água potável para consumo humano e sistemas de irrigação desde 2019. 

Mas o que uma cooperativa de energia elétrica tem a ver com fornecimento de água? De acordo com o presidente da Cercos, Aroldo Costa Monteiro, tudo começou quando um cooperado, durante  uma assembleia geral, levantou a possibilidade de usar os recursos das sobras da cooperativa para escavar e revitalizar poços artesianos no povoado de Colônia Treze. 

“O objetivo inicial era gerar emprego e melhorar a renda dos trabalhadores da comunidade. Logo depois, definimos a meta de levar água potável a quem ainda não tinha abastecimento em casa, e assim nasceu o projeto dos poços artesianos, um dos mais importantes executados pela Cercos até hoje”, detalhou o presidente.

Um poço artesiano é uma estrutura de captação de água subterrânea construída por meio de perfuração no solo até alcançar os aquíferos (reservas subterrâneas). Considerada uma solução econômica, de qualidade e longa vida útil, a instalação de poços artesianos é uma das estratégias mais utilizadas para enfrentar a escassez hídrica em algumas regiões do Nordeste.  

Em Sergipe, sete poços foram perfurados ou revitalizados pelo projeto cooperativista e já beneficiaram 362 famílias das comunidades de Açu Velho, Luiz Freire, Taboca, Piçarreira e Açuzinho. A água chega diretamente às casas das famílias e também a chafarizes comunitários, garantindo a irrigação de lavouras da agricultura familiar. 

Um novo poço está sendo concluído e deve atender a mais 90 famílias da região, segundo Monteiro. “Essa água representa saúde, dignidade e melhoria de renda para os que utilizam o recurso para irrigação”, destaca Monteiro. Em 2022, o projeto da Cercos venceu o Prêmio Somos Coop Melhores do Ano na categoria Coop Cidadã.

O projeto dos poços artesianos é apenas uma das iniciativas da Cercos para melhorar a qualidade de vida no agreste sergipano. Fundada em 1976, a coop reúne mais de 5 mil cooperados e atende a uma população de 25 mil habitantes, de forte tradição cooperativista. 

“Nosso povoado nasceu graças ao cooperativismo. Foi a Cooperativa Mista de Agricultores da Colônia Treze quem fundou nossa comunidade, por volta de 1960, e hoje a Cercos continua esse legado de manter o cooperativismo vivo aqui”, lembra Monteiro. 

Atualmente, a cooperativa é um dos maiores empreendimentos da comunidade, gera 55 empregos diretos e injeta R$ 3,5 milhões por ano na economia local, demonstrando, na prática, o papel do cooperativismo para o desenvolvimento sustentável. 

Cooperativas promovem inclusão econômica de mulheres com trabalho e oportunidades
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Cooperativas promovem inclusão econômica de mulheres com trabalho e oportunidades

As cooperativas constroem um mundo melhor para muitas mulheres. Com um modelo de negócios justo e democrático, elas promovem a igualdade de gênero por meio da inclusão produtiva de mulheres, fomentando sua independência financeira, autonomia e desenvolvimento. 

Ao desempenhar esses papéis, as coops têm contribuído significativamente para o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, meta traçada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” até 2030. 

“É fundamental lembrar que a igualdade de gênero não é só uma questão de justiça social, mas também de desenvolvimento e prosperidade. Quando as mulheres têm igualdade de oportunidades, toda a sociedade se beneficia”, destacou a presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Xiomara Nuñez de Céspedes, em mensagem no Dia Internacional das Mulheres.

Segundo ela, quando as mulheres conquistam sua independência econômica, reinvestem os ganhos em suas famílias e comunidades, multiplicando o impacto das cooperativas para o progresso econômico e social. 

Em um informe global sobre como as coops contribuem para o ODS 5, o Comitê para a Promoção e Avanço das Cooperativas (Copac) também destaca que o cooperativismo tem apoiado mulheres em todo o mundo a romper barreiras que impedem seu empoderamento social e econômico. Além de criar oportunidades econômicas, as cooperativas garantem ambientes de trabalho seguros e dignos para as mulheres, e promovem a criação de redes de confiança por meio do apoio mútuo e ação coletiva. 

“Essas redes criam espaços para que as mulheres, especialmente as mais expostas à exclusão social ou econômica, possam se organizar e lutar por seus direitos. Através das experiências compartilhadas e da solidariedade, as cooperativas ajudam as mulheres a ampliar sua voz, tanto em suas comunidades quanto em âmbitos institucionais”, aponta o comitê. 

No cooperativismo brasileiro, 9 milhões de mulheres representam 41% dos cooperados. Elas são  maioria na força de trabalho das cooperativas, com 52% de representação entre os empregados do setor, e contribuem para o coop em todos os ramos. Entre as lideranças das cooperativas, as mulheres ocupam 23% dos cargos de alta gestão, percentual que vem crescendo desde 2020, segundo dados do Anuário Coop 2024

“O cooperativismo tem feito a diferença na vida de mulheres em todas as regiões do país, tanto nas cidades como nas regiões rurais. Organizadas em cooperativas, elas conquistam renda digna, autonomia financeira e poder de decisão. O cooperativismo também é uma janela de oportunidade para o equilíbrio entre trabalho e família, com redução da vulnerabilidade social e oportunidades de capacitação e crescimento profissional”, destaca a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta.

Flores paraibanas 

Na pequena Pilões (PB), a 140 quilômetros de João Pessoa, a Cooperativa dos Floricultores do Estado da Paraíba (Cofep) foi o primeiro empreendimento a cultivar flores em estufa do estado. Majoritariamente feminina, a coop tem 34 associados, sendo 28 mulheres e cinco homens.

Há mais de 20 anos, a Cofep comercializa crisântemos de corte produzidos em estufa. Planta milenar de origem asiática, o crisântemo simboliza força, longevidade e felicidade, além de ser um sinal de boa sorte em muitas culturas orientais.

Para a cooperativa de mulheres paraibanas, a flor tem garantido trabalho e renda e ampliado os horizontes do pequeno município de 7 mil habitantes. Além das espécies ornamentais, as cooperadas produzem variedades comestíveis, contribuindo para o reconhecimento de Pilões como “Cidade das Flores”. A produção é vendida na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. 

A presidente da Cofep, Maria Helena Lourenço, destaca o papel da cooperativa para a independência financeira de mulheres na região. “Como a cooperativa fica localizada na zona rural, muitas mulheres da comunidade trabalham lá mesmo na Cofep e não precisam se deslocar para a cidade para trabalhar, garantindo emprego e renda para a comunidade”. 

Além de contribuir para inclusão produtiva das mulheres de Pilões, a cooperativa também é uma aliada das cooperadas contra a violência doméstica. “A Cofep está sempre unida e incentivando as mulheres a denunciar a violência, ajudando as que mais precisam. A cooperativa trouxe esperança para a comunidade, principalmente para as mulheres que não tinham renda e só dependiam dos maridos”, conta a gestora.

Segundo ela, a atuação da cooperativa foi fundamental para reduzir os registros de violência doméstica entre as cooperadas, tanto pela independência financeira quanto pela informação sobre seus direitos. “Sempre nos reunimos para discutir esse tema na Cofep e defendemos que a mulher deve denunciar e nunca se calar diante de uma violência”, ressaltou Maria Helena.

A cooperativa já recebeu prêmios como o Mulher Empreendedora (Sebrae), Voz Mulher (Banco Mundial), Inovação Tecnológica (Finep), além de outros reconhecimentos regionais, nacionais e internacionais.

Em um novo passo para ampliar os negócios, a Cofep abriu suas portas para receber turistas interessados na produção de flores da região do Brejo Paraibano. A visita faz parte do projeto Rota das Flores, que tem atraído viajantes da Paraíba e de outras partes do país, segundo Maria Helena. 

“Além da experiência de conhecer nossa produção nas estufas, também oferecemos degustação de flores comestíveis. As pessoas têm gostado muito, o que é bom para a cooperativa e para as famílias produtoras”, comemora a presidente da Cofep. 

Bordando oportunidades

No Cerrado brasileiro, em Goiás, mulheres de todas as idades estão tecendo um novo caminho de superação e autonomia, por meio do bordado, na Bordana Cooperativa. São 14 anos de união, partilha e amizade feminina no ambiente de trabalho. Dos 30 cooperados, 28 são mulheres. 

A coop foi reconhecida como uma das 100 unidades artesanais mais competitivas do Brasil pelo Sebrae, em 2018 e 2022, e produz peças bordadas à mão inspiradas no bioma Cerrado, como almofadas, bolsas, jogos americanos, guardanapos e quadros decorativos. 

A Bordana tem origem na vontade de transformar o bordado em uma ferramenta de inclusão social e econômica, especialmente para mulheres que muitas vezes enfrentam dificuldades no mercado de trabalho tradicional. “São mães, avós e mulheres com diferentes trajetórias, que encontram na cooperativa um espaço de socialização, autonomia financeira, criatividade e sororidade. A cooperativa oferece um ambiente acolhedor e flexível, permitindo que as cooperadas conciliem o trabalho com suas responsabilidades familiares”, explica a fundadora e presidente da coop, Celma Grace.

A Bordana tem um significado ainda mais especial para Celma, pois foi criada em homenagem à sua filha caçula, Ana, que faleceu aos 10 anos e sonhava em ser estilista. Contando com um grupo diverso, com associadas que vão da faixa etária de 22 a 84 anos de idade, a coop tem sido mais do que uma fonte de renda para as associadas. Ela representa um lugar de acolhimento.

“É um espaço de cura, onde as pessoas se apoiam mutuamente, compartilham experiências e constroem laços de amizade. A cooperativa promove rodas de conversas semanais, encontros, oficinas e eventos que fortalecem o senso de comunidade e o bem-estar das cooperadas. As mulheres compartilham experiências, dificuldades e conquistas, criando uma rede de apoio que vai além do bordado. Aqui, o diálogo e a escuta ativa fazem parte da rotina e muitas cooperadas encontram na Bordana um refúgio emocional e uma nova motivação para seguir em frente”, lista a gestora. 

A coop conquistou uma posição competitiva no mercado de artesanato ao longo dos anos, avançando em características como inovação, criatividade e compromisso com a sustentabilidade. A Bordana também assumiu o compromisso de que a arte do bordado seja acessível a mais mulheres, e criou um núcleo de formação que capacita novas bordadeiras.

Tanta dedicação tem gerado frutos para as associadas, com prêmios, participação em eventos nacionais e, principalmente, retorno financeiro justo e proporcional ao trabalho de cada uma, garantindo autonomia e dignidade. “O modelo cooperativista permite a distribuição dos resultados de forma equilibrada, promovendo a inclusão social e econômica para muitas mulheres que antes não tinham essa oportunidade”, destaca Celma Grace. 

Além da inclusão econômica, a Bordana também garante representatividade às bordadeiras goianas em eventos e capacitações sobre temas como direitos das mulheres, liderança feminina e empreendedorismo social. A coop é engajada ativamente em movimentos que promovem a igualdade de gênero, o empoderamento feminino e o desenvolvimento sustentável e participa dos Comitês Elas pelo Coop e de Economia Solidária do Sistema OCB/Goiás, do Centro Popular da Mulher/GO e do Fórum de Participação Social do Governo Federal, fortalecendo sua atuação em defesa dos direitos das mulheres.

Cada peça bordada representa uma história de transformação e empoderamento feminino. A Bordana prova que cooperativismo, arte e impacto social podem caminhar juntos para mudar vidas”, ressalta a presidente.

Para a ampliar a participação de mulheres no cooperativismo, especialmente em cargos de liderança, o Sistema OCB criou, em 2020, o Comitê Nacional de Mulheres Elas pelo Coop, uma rede de intercooperação em que representantes de todo o país buscam a construção coletiva de projetos e propostas que contribuam para um coop mais diverso e democrático. Além do grupo nacional, também há comitês Elas pelo Coop estaduais e o Sistema OCB estimula a criação dos colegiados nas cooperativas. 

Para apoiar as cooperativas a colocar em prática as iniciativas de inclusão feminina, o Sistema OCB disponibiliza o Manual de Implementação de Comitês de Mulheres nas Cooperativas, com o passo a passo para estruturar a criação dos grupos em cada coop, do planejamento à formação continuada das participantes.

Além disso, para incentivar as coops brasileiras a incorporar políticas de inclusão e valorização das mulheres em seus planejamentos estratégicos, o Sistema OCB disponibiliza o Guia de Implantação de Estratégias em Inclusão, Diversidade e Equidade

 

Cooperativas de seguros chegam a setor estratégico com inclusão e transparência

Cooperativas de seguros chegam a setor estratégico com inclusão e transparência

A criação do ramo Seguros abre para as cooperativas brasileiras um mercado promissor, que movimentou R$ 435 bilhões em receitas em 2024, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). A porta de entrada do cooperativismo nesse segmento foi a Lei Complementar nº 213/2025, uma conquista histórica que teve a participação direta do Sistema OCB.

Sancionada em janeiro, a lei garante que as cooperativas operem em todos os segmentos de seguros privados – exceto capitalização aberta e repartição de capitais de cobertura – ampliando o acesso ao serviço para milhões de brasileiros que ainda não o possuem. Até agora, as coops podiam atuar apenas nos seguros agrícolas, de saúde e de acidentes de trabalho.

Desde 2012, quando a ampliação da participação das cooperativas no mercado de seguros entrou na pauta do Congresso Nacional, a área de Relações Institucionais do Sistema OCB atuou junto à Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), teve reuniões estratégicas com a Susep e o Ministério da Fazenda, além de outras frentes de diálogo, para garantir uma legislação favorável ao coop. O resultado é uma regulamentação em conformidade com as diretrizes do Sistema Nacional de Seguros Privados, mas sem perder de vista a essência do modelo cooperativista.

“Esse é um momento histórico para o cooperativismo brasileiro. A Lei Complementar 213/2025 coloca o Brasil em novo patamar legal e regulatório no setor de seguros, em conformidade com as melhores experiências internacionais. O cooperativismo fortalecerá sua presença nas comunidades, ampliará seu portfólio de produtos e serviços, reterá mais recursos e riquezas dentro do sistema, ampliará as experiências intercooperativas e reforçará a sua imagem junto à sociedade brasileira”, destaca o coordenador de Ramos do Sistema OCB, Hugo Andrade.

A lei inaugura uma nova fase para o cooperativismo e para milhões de brasileiros que terão acesso a seguros mais acessíveis e com a marca cooperativista da inclusão, participação democrática e efetiva dos cooperados.

Segundo pesquisa da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) e Instituto Datafolha realizada em setembro de 2024, 54% dos brasileiros têm a intenção de contratar um seguro e/ou previdência privada num futuro próximo, o que mostra o tamanho do mercado potencial para as cooperativas.

“As cooperativas de seguros possuem características únicas que beneficiarão diretamente os usuários. Os segurados podem esperar serviços justos e transparentes, produtos personalizados, proximidade, diversos canais de distribuição, participação na gestão e na distribuição dos resultados e apoio irrestrito a eles nos momentos mais difíceis, como doenças e perdas patrimoniais”, afirma Andrade.

Outro dado relevante, divulgado pela Susep no 11º Relatório de Análise e Acompanhamento dos Mercados Supervisionados, é a alta concentração do setor, com 34% do mercado operado por cinco grandes seguradoras.

Uma realidade que a chegada das cooperativas de seguros pode ajudar a mudar, com a ampliação da concorrência, democratização dos serviços e o desenvolvimento de todo o setor, alinhando o Brasil a uma realidade consolidada em diversos países.

Coops de seguros no mercado global

Em diferentes partes do mundo, o modelo cooperativista tem se mostrado uma alternativa eficaz para ampliar o acesso a seguros, impulsionando a inclusão financeira e gerando impactos sociais positivos.

De acordo com o relatório The Global Mutual Market Share 2024, publicado pela International Cooperative and Mutual Insurance Federation (ICMIF), o setor de seguros cooperativos e mutualistas representa 26,3% do mercado global do setor. As coops de seguros atendem a 889 milhões de cooperados segurados, geram 1,2 milhão de empregos e USD 1,41 trilhão em receitas anuais, segundo dados de 2022.

Em 14 países, a participação das coops no mercado de seguros ultrapassa um terço. Nos Estados Unidos e na Alemanha, o percentual é de cerca de 40%; e na França, nos Países Baixos e na Finlândia as cooperativas são maioria no segmento, com 54,8%, 59% e 61% de participação, respectivamente.

O setor cooperativo de seguros tem apresentado crescimento nos últimos anos e a tendência é seguir em expansão. Na América Latina, segundo o relatório do ICMIF, as seguradoras cooperativas e mútuas da região atingiram um recorde de USD 20 bilhões em receitas em 2022, com 32 milhões de segurados e 47 mil empregos diretos. Com o novo ramo Seguros, o coop brasileiro ganhará destaque nesse mapa.

O exemplo da Seguros Unimed mostra o futuro de bons resultados que está por vir. Criada em 1989, a cooperativa tem 6,5 milhões de segurados nos segmentos de saúde, odontologia, vida, previdência e ramos elementares (como seguros patrimoniais e de responsabilidade civil médica). Com presença em todo o país, a seguradora S.A. do Sistema Unimed se destaca por preços competitivos, atenção às demandas locais e impacto social nas comunidades onde atua.

Próximos passos 

Após a sanção da lei e oficialização do ramo Seguros, a etapa agora é a edição das normas complementares pela Susep e pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Esta fase incluirá a definição de regras específicas para a autorização e funcionamento das cooperativas de seguros, critérios para a constituição das sociedades cooperativas de seguros, diretrizes para a formação de reservas técnicas, capital mínimo e solvência, além de normas contábeis e de prestação de informações.

“Criamos um grupo de trabalho e estamos acompanhando tecnicamente a Susep na construção normativa para buscar assegurar que as regras respeitem a identidade jurídica, operacional e de governança do cooperativismo. Também temos trabalhado na articulação para criação de modelos cooperativos viáveis, mobilizando sistemas cooperativos diversos e buscando fortalecer a intercooperação”, explica Hugo Andrade.

A expectativa do Sistema OCB é que a regulamentação das cooperativas seguradoras seja realizada até o final de 2025, e as primeiras coops do ramo autorizadas a operar no primeiro semestre de 2026. Até lá, a instituição trabalha em conjunto com as Organizações Estaduais na estruturação de negócios e antecipação de requisitos técnicos, como modelos de governança e estrutura de capital. 

Futuro e desafios do setor

Além do enorme potencial financeiro, as cooperativas brasileiras de seguros entrarão no mercado em meio a desafios que devem promover profundas transformações no segmento nos próximos anos. Em seu relatório Tech Trends 2025, um guia sobre tendências tecnológicas, a futurista Amy Webb destaca as mudanças que a Inteligência Artificial (IA) e o aquecimento global irão provocar nos negócios das seguradoras.

Ao mesmo tempo que a IA tem ajudado o setor a agilizar processos de análise de riscos, detecção de fraude e gestão de sinistros, o uso dessa ferramenta, segundo a futurista, exigirá atenção redobrada quanto à transparência, ética e responsabilidade sobre os resultados gerados por algoritmos.

Em relação às mudanças climáticas, o setor de seguros já enfrenta uma crise devido a eventos climáticos extremos que resultaram em US$ 320 bilhões em perdas globais em 2024. A estimativa é que apenas os incêndios florestais que atingiram Los Angeles, nos Estados Unidos, em janeiro deste ano, geraram perdas de US$ 250 bilhões para as seguradoras.

E a previsão, segundo o relatório de Amy Webb, é que o cenário se agrave, com aumento de 40% a 50% nos prejuízos relacionados ao clima para as seguradoras. Na tentativa de reduzir esse impacto, o setor tem investido em modelos baseados em IA para prever perdas futuras e ajudar na precificação, considerando projeções climáticas de longo prazo.

Outro ponto de atenção, de acordo com a futurista, é o novo cenário de golpes e fraudes em seguros, que se tornaram mais sofisticados com a digitalização, e exigem respostas tecnológicas à altura. Segundo Amy Webb, empresas já têm usado a IA generativa para detectar padrões suspeitos e prevenir ataques fraudulentos em tempo real.

Cooperativas promovem a educação e transformam comunidades

Cooperativas promovem a educação e transformam comunidades

A educação é capaz de transformar realidades. Podem ser conquistas pessoais, com a abertura de novas oportunidades por meio do ensino, ou avanços estruturais, que geram ganhos para toda a sociedade. Com a educação entre seus princípios, o cooperativismo tem sido um vetor dessa transformação, promovendo o acesso à formação inclusiva e de qualidade e contribuindo diretamente para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 - Educação de Qualidade, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das metas globais para 2030. 

O compromisso com a educação está presente em todas as áreas de atuação do coop, em iniciativas que impactam a vida das pessoas e impulsionam o desenvolvimento das comunidades. Além da responsabilidade transversal, o cooperativismo também tem um segmento dedicado exclusivamente a esse setor: as cooperativas educacionais. 

Formadas por professores (ramo Trabalho, Produção de Bens e Serviços) ou por pais e responsáveis de estudantes em busca de ensino de qualidade (ramo Consumo), 213 coops educacionais estão construindo uma educação mais justa e inovadora no Brasil, contribuindo para a formação de uma sociedade consciente, colaborativa e bem-sucedida. 

O segmento reúne mais de 190 mil cooperados e gera cerca de 5 mil empregos diretos, segundo dados do AnuárioCoop 2024. A maioria das escolas cooperativistas brasileiras são pequenas e médias, com até 500 matrículas. Em 2023, o segmento educacional cooperativista gerou R$ 802 milhões em receitas. 

Um dos grandes diferenciais das cooperativas educacionais é formar novos cooperativistas com base em uma abordagem colaborativa que abrange, além de disciplinas tradicionais, competências como empatia e cooperação, incentivando valores como união, solidariedade e sustentabilidade.

Um exemplo dessa metodologia na prática é o programa Cooperjovem, implementado em escolas públicas, privadas e cooperativas educacionais do país. Desenvolvido pelo Sistema OCB há mais de 20 anos e alinhado às competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a iniciativa promove a cultura da cooperação em quatro eixos temáticos: educação cooperativista, empreendedora, financeira e ambiental. Os conteúdos são implementados de forma interdisciplinar e lúdica, contribuindo para que crianças e jovens tornem-se agentes de desenvolvimento sustentável em suas comunidades.

Em 2019, uma pesquisa realizada com professores, pais e alunos participantes do programa confirmou o impacto positivo do Cooperjovem no nível de conhecimentos, habilidades e atitudes cooperativas. 

Cooperação e resultados 

Em Lajinha, município de Minas Gerais com pouco mais de 20 mil habitantes, o estudante é o protagonista do Centro Educacional Coopcel, escola cooperativista fundada há 27 anos. Com o lema “Educação com amor”, a coop formada por 43 profissionais atende atualmente a 244 estudantes, da educação infantil ao ensino médio. 

A Coopcel preza pela essência cooperativista. De acordo com a diretora pedagógica da instituição, Carla Vieira, todo o trabalho dos professores é voltado para transmitir a educação e cultura cooperativistas, ensinando que cooperar é o melhor caminho. 

“Fazemos educação com propósito. Além de sermos técnicos nas várias áreas do conhecimento, amamos o que fazemos. Ser professor em uma cooperativa de professores reflete o amor por ensinar, por querer contribuir para a formação integral dos nossos estudantes”, afirma a gestora. 

Reconhecida no município pelo ensino de qualidade, a cooperativa também é referência pelo compromisso dos cooperados com a formação continuada dos professores e a busca por inovação e metodologias ativas para atrair o interesse dos estudantes. 

“Os resultados desse empenho têm sido muito positivos. Hoje a Coopcel tem em sua grade curricular aulas de robótica e também uma equipe de estudantes no Torneio Brasil de Robótica. Participamos pela primeira vez em 2023 e no ano passado já ficamos em 15º lugar em nível nacional, além do 3º lugar em nível regional por dois anos consecutivos. Nossa escola também vem conquistando muitas aprovações em vestibulares e no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]”, destaca. 

A lista de resultados da Coopcel também inclui uma transformação fundamental para a comunidade de Lajinha: antes da cooperativa, o município não tinha escolas de ensino médio ou cursos técnicos profissionalizantes. Quando chegavam a essa etapa, os jovens tinham que se deslocar para cidades vizinhas, ou até deixavam de estudar, principalmente os que vivem na zona rural. 

 

Hoje, eles permanecem com suas famílias e, após se formarem, muitos começam a trabalhar em outras cooperativas da região, conhecida pela produção de café. 

Educação coop para o desenvolvimento

Em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, a cooperativa educacional Cooperconcórdia tem provado que a educação para cooperar não se restringe às salas de aula. Além do Colégio Concórdia – de  educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – a coop também é responsável pelo Programa de Desenvolvimento Profissional Cooperativo (Capacita) e pelo Aprendiz 10, duas iniciativas que têm impactado a comunidade e a economia da região. 

O Capacita oferece qualificação profissional para equipes de cooperativas, empresas privadas e outras instituições, por meio de treinamentos, palestras, workshops, reciclagens, formações pedagógicas, treinamentos vivenciais e jogos cooperativos. Desde 2018, mais de 40 mil profissionais passaram por capacitação técnica com a Cooperconcórdia. 

Já o Aprendiz 10 é um programa de ensino técnico-profissional para jovens que desejam entrar no mercado de trabalho. Em 17 anos de atuação na aprendizagem profissional, a iniciativa da coop beneficiou mais de 6 mil jovens, com 250 turmas no Rio Grande do Sul e 50 empresas atendidas. O projeto tem uma versão específica para formar jovens lideranças cooperativistas no setor agropecuário, o Aprendiz Cooperativo do Campo, que capacita os aprendizes para a gestão eficiente de propriedades rurais e para a sucessão nos negócios familiares.  

Movimento CoopEducação

Um projeto inovador do Sicoob Sarom, cooperativa de crédito que atua há mais de 30 anos em Minas Gerais, demonstra na prática que o compromisso com a educação não é uma exclusividade das coops do segmento. 

Com investimentos consolidados em programas educacionais nas últimas duas décadas, a cooperativa tem impactado comunidades promovendo o cooperativismo, o empreendedorismo e a inclusão financeira como ferramentas para a construção de um futuro mais próspero. 

O movimento de valorização da educação pelo Sicoob Sarom começou na década de 1990, segundo o presidente da cooperativa, João Carlos Leite. Naquela época, muitas famílias do município de São Roque de Minas tinham que migrar para outras cidades em busca de um ensino de qualidade que garantisse um futuro promissor para seus filhos. 

A resposta cooperativista para o problema foi a união de um grupo de pais para fundar a Cooperativa Educacional Sarom (CES), com o apoio da coop de crédito. A escola garantiu o acesso da comunidade a um modelo educacional inovador, baseado nos valores do cooperativismo, na educação financeira e no comportamento empreendedor. 

“Além do currículo convencional, as coops educacionais promovem a cooperação, incentivando a autonomia, o pensamento crítico e a gestão sustentável. Diferente das escolas privadas tradicionais, as cooperativas educacionais reinvestem os recursos financeiros na infraestrutura, capacitação dos professores e melhoria da qualidade do ensino. A proximidade entre comunidade, alunos e educadores permite um ensino mais personalizado, com metodologias ativas e acompanhamento próximo do desenvolvimento estudantil”, destaca Leite.

O impacto positivo da CES inspirou o Sicoob Sarom a expandir suas iniciativas de promoção da educação para outras comunidades. Em 2013, a coop de crédito criou o Movimento CoopEducação, com a missão de levar a educação cooperativista, empreendedora e financeira a escolas públicas e privadas de suas regiões de atuação. 

Em 12 anos, o Movimento CoopEducação já chegou a 17 municípios mineiros, em mais de 120 escolas parceiras, e impactou mais de 44 mil alunos. Em 2024, o programa foi reconhecido no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano com o troféu prata da categoria Cultura Cooperativista. 

Além de capacitar jovens para um futuro de mais cooperação, o projeto do Sicoob Sarom apoia escolas na implementação de metodologias inovadoras, fortalecendo a cultura cooperativista. Por meio de parcerias municipais e estaduais, a cooperativa também qualifica professores para que eles possam ensinar educação cooperativista, empreendedora e financeira em escolas da rede pública de ensino. Desde 2013, o programa ofereceu 1,1 mil horas de capacitação para mais de 2,2 mil professores que hoje aplicam os conteúdos em sala de aula. 

“Acreditamos que parcerias com prefeituras, secretarias de educação e superintendências regionais de ensino são essenciais para viabilizar ações locais. Além disso, a cooperativa tem atuado ativamente nos municípios, apoiando reformas de escolas e creches, doação de uniformes e outras ações que transformam realidades e fortalecem as comunidades”, ressalta o gestor. 

Cooperativas promovem saúde e bem-estar e contribuem para o ODS 3
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Cooperativas promovem saúde e bem-estar e contribuem para o ODS 3

As cooperativas de saúde são uma alternativa para garantir atendimento de qualidade, humano e inclusivo para milhões de pessoas. Em todo o mundo, elas têm dado contribuições significativas para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3, que pretende assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para pessoas de todas as idades. 

No Brasil, as cooperativas de saúde estão presentes em 90% do território e são responsáveis pelo atendimento de mais de 25 milhões de pessoas. Com mais de 60 anos de atuação no país, o segmento é formado por cooperativas médicas, odontológicas e de outros profissionais que exercem atividades de atenção à saúde humana, como fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. 

Também fazem parte deste ramo as cooperativas que se reúnem para constituir um plano de saúde, garantindo preços mais justos pelo serviço. Segundo dados do Anuário Coop 2024, o setor reúne 254 mil cooperados e gera 139 mil empregos diretos. 

“As cooperativas de saúde são verdadeiros patrimônios do país e reconhecidas mundo afora. Elas conseguem aliar geração de trabalho e renda com valores cooperativistas e compromisso socioambiental na prestação de serviços de qualidade para a sociedade, com impacto para a qualidade de vida de milhões de pessoas”, afirma a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta. 

A tradição brasileira no segmento é tão forte que o país tem os maiores sistemas cooperativos de saúde do mundo, nas áreas odontológica e médica: a Uniodonto e a Unimed. Este último com 340 cooperativas em todo o país e mais de 29 mil hospitais, clínicas e serviços credenciados, possuindo 38% de participação no mercado nacional de planos de saúde. Além disso, um em cada quatro médicos do Brasil é cooperado da Unimed. 

Além do atendimento convencional – com consultas, exames, tratamentos e cuidados especializados – as cooperativas são reconhecidas por iniciativas de saúde integral, impulsionando uma vida mais saudável entre seus pacientes e nas comunidades em que atuam, alinhadas ao ODS 3 da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Assistência na melhor idade

Em Imperatriz (MA), a Unimed Maranhão do Sul é referência no atendimento à saúde há 41 anos. Além da qualidade dos serviços prestados, a coop também é reconhecida pelos moradores por ações comunitárias de promoção de saúde e bem-estar, especialmente para o público da terceira idade.

Com o aumento da população idosa no município, a cooperativa decidiu investir em iniciativas específicas para seus pacientes com mais de 60 anos. No Programa Idoso Bem Cuidado, eles recebem acompanhamento especializado, com foco na prevenção, reabilitação e promoção da qualidade de vida, além de consultas médicas e monitoramento multiprofissional, garantindo assistência preventiva e contínua.

Já no Espaço Viver Bem, o objetivo é promover a saúde integral. Além de medicina preventiva, a estrutura criada pela Unimed Maranhão do Sul oferece academia para atividade física, oficinas, grupos de atividades funcionais, e consultas com nutricionistas e psicólogos. 

O cuidado não se restringe aos ambientes da cooperativa e também inclui suporte a asilos e instituições de acolhimento a idosos da cidade, segundo o assessor executivo da coop, Kaique Sampaio. Uma delas é o Lar do Idoso Renascer, para o qual foram doadas cadeiras de roda, banho e sofás a fim de melhorar a mobilidade e proporcionar mais conforto aos moradores. 

Unimed MaranhãoUnimed do Maranhão“Também organizamos ações de saúde em pontos estratégicos da cidade e oferecemos vacinação, testes rápidos, aferição de pressão, teste de glicemia, informações educativas, atividades físicas direcionadas para a promoção da saúde da comunidade e do envelhecimento saudável”, explica Sampaio. 

Além da atenção com os mais velhos, a cooperativa também tem programas voltados para crianças e jovens. O Espaço Crescer Bem, por exemplo, atende crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e oferece acolhimento e atividades para as mães atípicas. 

Outra iniciativa foi a campanha de Natal do ano passado, em que a coop arrecadou brinquedos e kits natalinos para a Casa da Criança de Imperatriz. Durante a entrega, crianças e jovens participaram de atividades e brincadeiras com um professor de educação física e receberam atendimento médico com um clínico-geral cooperado da Unimed. 

“Ao promovermos iniciativas como essas, estamos cumprindo nossa missão de cuidar da comunidade de forma inclusiva e acessível. Essas atividades impactam diretamente a vida das pessoas, melhorando o acesso à saúde e à qualidade de vida. Em um ambiente cooperativo, nossa missão vai além de atender pacientes, buscamos promover um legado de bem-estar e solidariedade que reverbere positivamente nas comunidades em que atuamos”, destaca  Kaique Sampaio.

 

Integração e saúde 

No interior de São Paulo, a Unimed Presidente Prudente também tem promovido ações comunitárias para cuidar da saúde da população do município e da região. Com o projeto Circuito Verde, a coop oferece atividades esportivas gratuitas para pessoas de todas as idades. Realizada em um parque público, além dos benefícios para a saúde, a iniciativa promove a interação e proporciona encontros e tempo de qualidade entre famílias, amigos e atletas. 

Unimed de Presidente PrudenteUnimed de Presidente Prudente“A ideia do Circuito Verde Unimed surgiu da vontade da cooperativa de celebrar o mês da saúde, em abril, de forma inovadora e impactante. Nosso objetivo é mostrar que a Unimed, além de referência em cuidados médicos, também promove um estilo de vida saudável e ativo”, destaca o gerente de Relacionamentos da cooperativa, Luís Fante. 

Com programação variada em todos os fins de semana de abril, o projeto tem atividades para crianças, idosos, fãs de corridas e de ciclismo. Além de incentivar a prática de exercício, o evento busca criar experiências significativas para a população, mostrando a importância do cuidado com a saúde em todas as idades, integrando lazer, entretenimento e bem-estar na rotina. Criado em 2024, o projeto Circuito Verde já recebeu reconhecimento no Prêmio Somos Coop Melhores do Ano, conquistando medalha de prata na categoria Comunicação.

Além do Circuito Verde, ao longo do ano, a coop investe em outras estratégias de saúde para a comunidade, como a Caminhada Unimed, em que os participantes combinam atividade física e solidariedade com a doação de alimentos na inscrição. 

Em 2024, a cooperativa paulista também fez parte da Corrida 366, em parceria com o atleta Gabriel ‘Gigante’, do projeto Coração Gigante. Durante os 366 dias do ano, ele correu 10 quilômetros (km) por dia, com um quilo de alimento arrecadado a cada km. “No evento de encerramento, que reuniu cerca de mil pessoas, recebemos a comunidade e oferecemos atendimentos como aferição de pressão e glicemia”, lembra o gerente. 

Olhar cooperativista 

O compromisso com o bem-estar e a saúde não é exclusividade das cooperativas do segmento. Em Minas Gerais, desde 2019, uma coop de crédito tem ajudado a melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes que precisavam de óculos, mas não podiam pagar pelo atendimento médico. 

A partir dessa necessidade de parte da população, o Sicoob Credifor criou o Projeto de Olho no Futuro e implementou nas cidades mineiras de Córrego Fundo, Guapé, Formiga e Piumhi. Em quase seis anos, mais 1,3 mil crianças e jovens de 5 e 17 anos já foram atendidos. 

“A iniciativa surgiu ao perceber que muitas crianças enfrentavam dificuldades de aprendizado devido a problemas de visão não diagnosticados. Para combater esse desafio, o projeto oferece consultas oftalmológicas e distribui óculos gratuitamente para as crianças que necessitam, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do desempenho escolar”, explica a coordenadora do do Sicoob Credifor, Meyre Priscila Almeida Silva. 

Além do atendimento clínico, o Projeto De olho no futuro promove atividades educativas, como contação de histórias e palestras sobre cuidados com a saúde ocular e educação financeira nas escolas públicas dos municípios atendidos. 

“Essas iniciativas demonstram que, quando bem estruturadas, as cooperativas podem ser agentes de mudança, fortalecendo vínculos comunitários, impulsionando o crescimento econômico e contribuindo para um futuro mais justo e equitativo para todos”, destaca a coordenadora da coop.  

O projeto do Sicoob Credifor recebeu o segundo lugar na categoria Coop Cidadã do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024.

Elas no coop: com participação e liderança, mulheres fortalecem o cooperativismo
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Elas no coop: com participação e liderança, mulheres fortalecem o cooperativismo

Desde a sua criação, há quase dois séculos, o cooperativismo garantiu espaço para que as mulheres pudessem buscar uma vida melhor por meio do trabalho e da participação em um sistema econômico justo. Atualmente, o coop reúne milhões de cooperadas em todo o mundo, promove a igualdade de gênero, valoriza e impulsiona a liderança feminina. 

No Brasil, as mulheres representam 41% dos cooperados, segundo dados do Anuário Coop 2024. Entre as 9,6 milhões de brasileiras que encontraram no coop oportunidades de trabalhar, empreender e garantir uma vida melhor para suas famílias, a maioria faz parte de cooperativas de consumo, crédito, saúde e trabalho, produção de bens e serviços.

Além da participação significativa entre os cooperados, as mulheres são maioria na força de trabalho das cooperativas, com 52% do total de empregados do setor em todo o país, um aumento de 15% em relação a 2021. A presença delas é mais representativa nas cooperativas de  saúde (75%), crédito (60%), consumo (57%), e trabalho, produção de bens e serviços (55%)

Entre as lideranças, as mulheres ocupam 23% dos cargos de alta gestão no cooperativismo brasileiro. Desde 2020, esse número tem apresentado uma evolução contínua, mas ainda reflete um desafio de todos os setores da economia de garantir maior representatividade feminina nos espaços de poder. 

Todos esses indicadores representam histórias de profissionais, empreendedoras, chefes de família, estudantes, mães, filhas e esposas que fazem do cooperativismo um modelo de negócios diverso e que constroi um mundo melhor para as mulheres.   

A presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Xiomara Nuñez de Céspedes, destaca que garantir condições de igualdade para as mulheres não é apenas uma questão de justiça social, mas também de desenvolvimento e prosperidade. 

“Quando as mulheres desfrutam de oportunidades iguais, a sociedade como um todo se beneficia. Educação, empoderamento econômico e envolvimento das mulheres na política são essenciais para construir um futuro mais justo e sustentável”. 

Liderança com diálogo 

A presidente do Sistema OCB no Maranhão, Aureliana Luz, é um exemplo de liderança feminina cooperativista que tem apoiado outras mulheres a transformar suas histórias. Assistente social com especializações em gestão de cooperativas e liderança, começou sua caminhada no cooperativismo há 12 anos. Antes de ser a primeira mulher a presidir o Sistema OCB/MA, participou da fundação de duas cooperativas no estado. 

“O cooperativismo se tornou muito mais do que uma atividade profissional. É um estilo de vida, uma filosofia que me guia e me inspira. Ele representa a crença no poder da colaboração, na força da união e na capacidade de transformar vidas através da cooperação”, destaca. 

Apaixonada pelo cooperativismo e reconhecida por sua habilidade de comunicação, Aureliana tem uma gestão marcada pelo diálogo e investe na representação institucional junto a parlamentares e secretarias estaduais para fortalecer o coop em seu estado. “As mulheres líderes trazem para o ambiente de trabalho uma maior abertura para o diálogo, a empatia e a busca por soluções colaborativas, criando um clima de confiança e respeito mútuo”, afirma. 

Com a mesma dedicação, a cooperativista maranhense trabalha para ampliar a participação feminina no cooperativismo, por meio da implementação de programas como o “Mulheres Cooperativistas em Ação”, que visa capacitar e empoderar mulheres para que assumam papéis de liderança em suas cooperativas; e a criação do "Selo Cooperativa Amiga da Mulher", que reconhece e premia cooperativas maranhenses que se destacam na promoção da igualdade de gênero.

“Podemos avançar na criação de um ambiente mais inclusivo e equitativo para as mulheres gestoras no cooperativismo. Para isso, é fundamental investir em programas de capacitação e desenvolvimento de lideranças femininas, promover a igualdade de oportunidades, combater o assédio e a discriminação, e criar redes de apoio para mulheres em cargos de gestão”, ressalta Aureliana. 

Para promover a inclusão e equidade de gênero entre as cooperativas, o Sistema OCB/MA também implementou comitês de mulheres, realiza eventos e workshops sobre liderança feminina e criou  programas de mentoria para mulheres cooperativistas. Segundo Aureliana, as ações são passos de um longo caminho a ser percorrido para valorizar cada vez mais a presença e força das mulheres no coop. 

“Ainda enfrentamos desafios relacionados ao preconceito de gênero, à falta de representatividade feminina em cargos de liderança e à dificuldade de conciliar a vida profissional com as responsabilidades familiares. No entanto, tenho orgulho de dizer que o número de mulheres em cargos de liderança no cooperativismo tem crescido, e cada vez mais mulheres ocupam posições de destaque, inspirando outras a seguirem seus passos”, pondera. 

Elas pelo Coop 

Em todo o país, as cooperativas têm incorporado políticas de inclusão e valorização das mulheres em seus planejamentos estratégicos. O tema é tão importante para o cooperativismo brasileiro que o Sistema OCB criou o Guia de Implantação de Estratégias em Inclusão, Diversidade e Equidade, com orientações e ferramentas para esse trabalho.

Em outra iniciativa afirmativa, a entidade constituiu, em 2020, o Comitê Nacional de Mulheres Elas pelo Coop, em que 24 integrantes, de 24 estados, buscam a construção coletiva de projetos e propostas que contribuam para um cooperativismo mais diverso e democrático. 

“O  comitê  foi  oficialmente criado como um dos desdobramentos do 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC) e é formado por cooperadas ou empregadas de cooperativas. A missão do Elas pelo Coop é ampliar a participação de mulheres no cooperativismo, especialmente em cargos de liderança”, explica Divani de Souza, analista de desenvolvimento de cooperativas da Unidade Nacional do Sistema OCB, que assessora o comitê.

As integrantes do Comitê Nacional Elas pelo Coop são indicadas pelas Organizações Estaduais. O colegiado atua em quatro eixos: formação e capacitação; elaboração de diretrizes; representação institucional e intercooperação. Além do comitê nacional, 17 Comitês Estaduais Elas em Coop já estão em funcionamento. 

Para apoiar as cooperativas a colocar em prática as iniciativas de inclusão feminina, o Sistema OCB disponibiliza o Manual de Implementação de Comitês de Mulheres nas Cooperativas, com o passo a passo para estruturar a criação dos grupos em cada coop, do planejamento à formação continuada das participantes. 

Educação para inclusão 

Investir na formação das mulheres para ampliar a participação delas em cargos de liderança também está entre as estratégias do Sistema OCB para fortalecer a atuação feminina no segmento. Uma das ferramentas é a oferta de programas de capacitação específicos para esse público, como a trilha de conhecimento Jornada de Formação Liderança Feminina, disponível na plataforma CapacitaCoop, com acesso livre e gratuito. 

Com módulos sobre liderança feminina, cooperativismo e desenvolvimento pessoal, a trilha prepara mulheres cooperativistas para liderar com confiança e construir um posicionamento de protagonismo. 

“São iniciativas que ajudam a ampliar as oportunidades para que mais mulheres assumam cargos estratégicos nas cooperativas. Elas também refletem o compromisso contínuo do cooperativismo brasileiro com a construção de um cooperativismo mais diverso, inovador e alinhado às necessidades da sociedade”, afirma a superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.

Cooperativas têm papel essencial para a segurança alimentar
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Cooperativas têm papel essencial para a segurança alimentar

Garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros e nutritivos é um dos principais desafios da Agenda 2030, o plano de ação global da Organização das Nações Unidas (ONU) para promover um mundo mais justo e sustentável. A meta está definida no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 - Fome zero e agricultura sustentável, e as cooperativas  desempenham um papel essencial para alcançá-lo em todo o mundo. 

Segundo projeções da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o mundo precisará produzir 70% mais alimentos para atender a população em 2050. O cenário é desafiador, mas representa grandes oportunidades para o cooperativismo agropecuário brasileiro, reconhecido mundialmente por equilibrar produção e sustentabilidade. 

Com mais de um milhão de produtores cooperados, sendo 71% agricultores familiares, as cooperativas brasileiras são protagonistas no fornecimento de alimentos para o país e o mundo, e já são responsáveis por mais de 50% da safra nacional de grãos, segundo dados do Censo Agropecuário 2017, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

“Hoje as coops agropecuárias produzem 75% do trigo, 55% do café, 53% do milho, 52% da soja, 50% dos suínos, 46% do leite e 43% do feijão no Brasil. Além disso, também contribuem significativamente para as cadeias produtivas de frutas, hortaliças, fibras e no setor sucroenergético”, lista a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta. 

Produzir alimentos de qualidade, de forma justa e sustentável é um compromisso de todo cooperativismo brasileiro, colocado em prática por pequenas, médias e grandes cooperativas. Além de contribuir para a segurança alimentar – com produtos que chegam à mesa de milhões de brasileiros, à merenda escolar e programas sociais – as boas práticas também favorecem os produtores, ampliando seu acesso a mercados que reconhecem a importância da procedência e das condições de produção. Ou seja, é um processo socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto. 

Em comunidades vulneráveis, o papel das cooperativas para garantir alimentos a quem precisa e promover a agricultura sustentável é ainda mais notável. Nesses locais, além de viabilizar a criação de negócios e aumentar a produtividade e a renda de quem produz e comercializa alimentos – como agricultores familiares e extrativistas – esse trabalho é realizado com respeito ao meio ambiente e menor impacto na natureza. 

Transformação no semiárido baiano

No interior da Bahia, em Uauá, um pequeno município de 25 mil habitantes, a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) tem ajudado 285 famílias de agricultores a construir uma vida melhor. Elas produzem umbu e maracujá do mato, plantas nativas da Caatinga, e transformam as frutas em doces, compotas, geleias, sucos e polpas. A cooperativa garante acesso a mercados e preços justos. 

“Os cooperados colhem as frutas de forma sustentável, respeitando os ciclos naturais, e as entregam à Coopercuc, que faz o beneficiamento e a comercialização. A cooperativa mantém um processo produtivo artesanal e certificado, garantindo a qualidade dos produtos e promovendo o comércio justo”, explica a diretora da Coopercuc, Jussara Dantas.

Além dos benefícios diretos para os cooperados, a Coopercuc gera impacto positivo para mais de 2,5 mil pessoas na cidade, considerando as famílias dos associados, os trabalhadores envolvidos no processo produtivo e a comunidade em geral, que se beneficia com ações de desenvolvimento sustentável, geração de renda e fortalecimento da agricultura familiar na região. 

Com esse modelo de negócio, a Coopercuc contribui diretamente para promover a segurança alimentar e a agricultura sustentável no semiárido baiano. Uma parte da produção da cooperativa vai direto para a merenda de escolas da cidade, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em que o governo compra os alimentos direto de quem produz para que os estudantes tenham acesso a refeições saudáveis e de qualidade. 

Além da merenda, a cooperativa baiana também é fornecedora do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que destina produtos para instituições sociais e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. 

Para os agricultores, os benefícios também são enormes. Antes da criação da cooperativa, em 2004, Jussara lembra que o umbu e outras espécies da Caatinga eram pouco valorizados. Hoje, essas frutas são fonte de renda sustentável e garantem autonomia financeira para muitas famílias da região.

Aliado ao conhecimento tradicional sobre as plantas nativas, os agricultores cooperados têm acesso a capacitações técnicas sobre manejo sustentável, produção orgânica e boas práticas de fabricação; apoio na comercialização, buscando novos mercados e garantindo preços justos; assessoria para certificação orgânica e comércio justo, agregando valor aos produtos; incentivo à organização comunitária e fortalecimento da economia solidária. 

Toda a produção da Coopercuc segue o sistema agroecológico, com preservação da biodiversidade e uso racional da água. O resultado é o fortalecimento da economia local, com redução do êxodo de pequenos agricultores para outros municípios, a valorização da cultura do semiárido e a redução no desmatamento na Caatinga. Além disso, a Coopercuc tem participação expressiva de mulheres entre seus cooperados, garantindo renda e representatividade. 

“Nossa atuação tem transformado vidas e impulsionado o desenvolvimento sustentável na região do semiárido, mostrando que é possível aliar economia solidária, conservação ambiental e impacto social positivo”, afirma a diretora. 

Produção sustentável na Amazônia

Em Primavera, no Pará, a 200 quilômetros de Belém, a Cooperativa de Trabalho de Agricultores Familiares de Primavera (Cooprima) também reúne agricultores familiares que apostam no modelo agroecológico para produção de hortaliças, frutas e mel orgânicos, aliando preservação ambiental e sustentabilidade econômica. 

Há 10 anos fortalecendo os pequenos produtores e conservando a floresta, a coop tem cerca de 100 associados. Uma delas é a agricultora Socorro Santos, que produz mel, tucupi, goma, melancia, mamão e limão, e que viu seu trabalho ser valorizado com a venda de sua produção por meio da cooperativa. 

“Hoje a gente oferece mais qualidade no nosso produto e também tem qualidade de vida por causa dos cursos e incentivos que a Cooprima tem nos dado, avançamos bastante financeiramente com esse apoio. Isso tudo é fruto de muito trabalho e aprendizado de toda a família”, contou. 

Para o cooperado Paulo Ricardo, que faz parte da Cooprima há seis anos, a atuação coletiva garantiu conquistas que os produtores da região não alcançariam sozinhos. “Antes era difícil vender os produtos por um valor bom pra gente, na coop a gente consegue cobrar um valor melhor e o volume de vendas também aumentou. Aqui eu aprendi a vender melhor, negociar melhor os produtos, agregar valor por meio da industrialização, fora os cursos que a cooperativa oferece para a gente”, afirmou. 

A presidente da Cooprima, Joelma Trindade, explica que o apoio aos cooperados é oferecido especialmente via assistência técnica, orientação no plantio das culturas e comercialização dos produtos. “Vendemos principalmente para as políticas públicas do governo federal, como o PNAE, da merenda escolar, mas também para o consumidor direto, participando de feiras locais e empórios do Sistema OCB/PA”, disse a gestora.

Em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Cooprima também contribui para o combate à fome na região, com o fornecimento de produtos para instituições que repassam os alimentos para famílias carentes no município de Primavera e cidades vizinhas.

Com olhar para o futuro, a Cooprima tem programas para inclusão de mulheres e jovens nas áreas de decisão de cooperativa como estratégia para promover o cooperativismo e assegurar a continuidade dos negócios familiares. “Uma das nossas iniciativas é o Comitê de Mulheres, que tem como objetivo estimular filhas e esposas de cooperados a participarem das capacitações, incentivando-as a se envolverem em cargos de diretoria na cooperativa, entendendo a importância da mulher na liderança. Também incentivamos a participação juvenil na cooperativa para que esse público se mantenha no campo, evitando o êxodo rural”, detalhou a gestora.

Dia Internacional da Mulher: Tania Zanella destaca competência feminina para transformar o coop

Dia Internacional da Mulher: Tania Zanella destaca competência feminina para transformar o coop

Uma líder nata, que trabalha para abrir caminhos para outras mulheres no cooperativismo. Essa é Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB. Primeira mulher no cargo, ela também havia sido pioneira como gerente de Relações Institucionais e gerente-geral da instituição. 

À lista de conquistas como liderança feminina, Tania somou recentemente a presidência do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que reúne 59 entidades do setor e é responsável por defender os interesses da agricultura e prestar assessoria técnica à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso Nacional. 

Conciliadora e dedicada, Tania Zanella é advogada de formação, mas também tem profundo conhecimento sobre o meio rural, uma herança de sua família de agricultores do interior de Santa Catarina. Reconhecida pela competência e capacidade de aperfeiçoamento de processos de trabalho, a superintendente do Sistema OCB tem extensa formação em direito e experiência de quase 20 anos dedicados ao cooperativismo.

Sua atuação pelo fortalecimento das cooperativas é reconhecida em todo o país. Em 2008, Tania foi responsável pela estruturação da Gerência de Relações Institucionais da OCB, um projeto que a orgulha e que profissionalizou a representação do cooperativismo junto aos Três Poderes.

Conquistas como essas levaram Tania a ser reconhecida como uma das 100 mulheres mais importantes do agronegócio, da Revista Forbes, e a receber importantes honrarias, como a Medalha do Mérito Cooperativista Paulo de Souza Lima, concedida pelo Sistema Ocemg

“Ser pioneira em diferentes cargos dentro do cooperativismo também traz a responsabilidade de inspirar outras mulheres a ocuparem espaços de liderança. Acredito que, pelo exemplo, pela capacitação contínua e pelos resultados que entregamos, podemos abrir portas para que mais mulheres se sintam encorajadas a trilhar esse caminho”, afirmou a superintendente em entrevista ao Sistema OCB na véspera do Dia Internacional da Mulher. Leia mais:

Sistema OCB: Como começou sua história com o cooperativismo? 

Tania Zanella: Minha história com o movimento cooperativista vem desde a infância, em Santa Catarina, onde o cooperativismo está profundamente enraizado. Meu pai é um cooperativista e cresci perto desse modelo de negócios que transforma realidades de forma tão positiva e única.

Já a minha trajetória profissional começou em 2008, quando passei a integrar a equipe do Sistema OCB como assessora de Relações Institucionais. Em 2012, assumi a gerência-geral, sendo a primeira mulher a ocupar essa posição. Em setembro de 2021, tornei-me também a primeira mulher a assumir a superintendência do Sistema OCB.

Qual é a sua missão como liderança do cooperativismo?

O cooperativismo representa uma força transformadora, capaz de promover desenvolvimento econômico e social de forma sustentável e inclusiva. Minha missão é fortalecer e ampliar o impacto positivo das cooperativas no Brasil, promovendo a união e o desenvolvimento das comunidades.

As cooperativas desempenham um papel crucial no país. Elas representam mais de 23 milhões de cooperados, movimentam mais de R$690 bilhões e geram 550 mil empregos diretos, segundo o Anuário do Cooperativismo 2024.

O que representa ser a primeira mulher a assumir o cargo de superintendente do Sistema OCB?

Ser a primeira mulher a assumir a superintendência do Sistema OCB é uma honra e uma responsabilidade significativa. Ser pioneira em diferentes cargos dentro do cooperativismo também traz a responsabilidade de inspirar outras mulheres a ocuparem espaços de liderança. Acredito que, pelo exemplo, pela capacitação contínua e pelos resultados que entregamos, podemos abrir portas para que mais mulheres se sintam encorajadas a trilhar esse caminho. Em sua essência, o cooperativismo valoriza a inclusão e a colaboração, e é fundamental que sigamos promovendo oportunidades para que o talento feminino continue transformando o setor.

Quais são os maiores desafios de gênero enfrentados no seu papel de líder?

Os desafios de gênero incluem a superação de preconceitos e estereótipos que ainda persistem em ambientes tradicionalmente masculinos. É fundamental promover a igualdade de oportunidades e incentivar a participação feminina em todos os níveis de liderança, criando um ambiente inclusivo e diverso.

Quais são os diferenciais de uma mulher no papel de liderança?

A gestão feminina pode trazer perspectivas diferenciadas, como uma abordagem mais colaborativa e sensível às questões de inclusão e diversidade. Mulheres em posições de liderança frequentemente trazem empatia, resiliência e capacidade de multitarefa, enriquecendo a tomada de decisões. No Sistema OCB, temos implementado políticas que promovem a igualdade de gênero, incentivando a participação feminina em programas de formação de lideranças e criando ambientes de trabalho mais inclusivos.

O que o Sistema OCB tem feito para apoiar as mulheres cooperativistas? 

Temos atuado de forma estratégica para fortalecer a participação feminina no cooperativismo, com o apoio e a promoção de diversas iniciativas que incentivam a equidade de gênero e a ocupação de espaços de liderança por mulheres. Um exemplo importante é o Comitê Elas pelo Coop, criado para conectar e fortalecer lideranças femininas, além de estimular a adoção de políticas e práticas mais inclusivas dentro das cooperativas. A nossa plataforma de Ensino a Distância (EAD), a CapacitaCoop, também inclui programas de capacitação e cursos voltados ao desenvolvimento profissional, à formação de lideranças femininas e à adoção de práticas inclusivas.

São iniciativas que ajudam a ampliar as oportunidades para que mais mulheres assumam cargos estratégicos e consigam perceber sua importância no movimento. Elas também refletem o compromisso contínuo do Sistema OCB com a construção de um cooperativismo mais diverso, inovador e alinhado às necessidades da sociedade.

Quais os principais desafios do cooperativismo atualmente?

Acredito que o cooperativismo pode avançar ainda mais na promoção da diversidade e inclusão, especialmente em posições de liderança. Além disso, é importante investir em inovação e sustentabilidade, adaptando-se às demandas contemporâneas e fortalecendo a competitividade das cooperativas no mercado global.

Para finalizar, que mensagem você deixa para as mulheres cooperativistas que pretendem ocupar espaços de liderança?

Aconselho que acreditem em seu potencial e busquem constantemente o aprimoramento profissional. É essencial construir uma rede de apoio, participar de programas de capacitação e não se deixar abater por obstáculos. A determinação e a perseverança são fundamentais para alcançar posições de liderança e promover a transformação que desejamos ver na sociedade.

Cooperativas da Amazônia contribuem com a erradicação da pobreza
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Cooperativas da Amazônia contribuem com a erradicação da pobreza

Em 2025, o cooperativismo está sendo reconhecido mundialmente com o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) pela nossa capacidade de promover o crescimento justo e sustentável nos lugares em que atuamos. Seja em pequenas comunidades agrícolas, em grandes centros urbanos ou mesmo em plena Amazônia, o cooperativismo faz a diferença para milhões de pessoas que decidem empreender coletivamente.

O tema do reconhecimento da ONU, “Cooperativas constroem um mundo melhor”, está diretamente relacionado ao potencial do coop de criar condições socioeconômicas que têm impacto tanto para os cooperados quanto para suas comunidades. Essa atuação também faz do cooperativismo um importante agente para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma série de metas definidas pela ONU para construir um mundo mais justo até 2030. 

Os ODS abrangem temas como redução de desigualdades, segurança alimentar, consumo sustentável, mudança climática, diversidade, paz e justiça, entre outros. Em cada um deles, o cooperativismo contribui para alcançar as metas, ajudando a construir um mundo melhor por meio da geração de trabalho e renda de forma sustentável. Em uma série de reportagens, vamos mostrar como as cooperativas brasileiras têm ajudado o país a cumprir os ODS. 

Do Norte do Brasil vem o exemplo de duas coops que têm feito a diferença para famílias dos estados do Acre e Amapá. Essa região do país é a mais afetada pela fome, em que 7,7% dos lares sofreram com a falta de alimentos em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, 38,5% dos habitantes da Região Norte eram pobres no mesmo período e os extremamente pobres somaram 6%, atrás apenas do Nordeste na comparação regional. 

Nesse cenário, o cooperativismo tem sido fundamental para alcançar o ODS 1 – Erradicação da pobreza, ao promover o desenvolvimento em localidades remotas ou com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo. Como as cooperativas fazem isso? Gerando renda para os cooperados, auxiliando pequenos agricultores e extrativistas a organizarem a comercialização de seus produtos, fortalecendo o setor produtivo local e incentivando práticas agrícolas sustentáveis, que são mais valorizadas no mercado.

“Um grande diferencial das coops é que elas garantem aos seus cooperados acesso a insumos de qualidade, tecnologias modernas, assistência técnica, soluções de armazenagem, agregação de valor aos produtos e canais eficientes de comercialização. Esse suporte é fundamental para aumentar a produtividade e assegurar a viabilidade econômica dos produtores, especialmente os de pequeno porte, que muitas vezes enfrentam barreiras para acessar mercados de forma independente”, explica a analista técnico institucional de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro. 

Castanha e bioeconomia 

A Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru) é um exemplo de cooperativa que faz a diferença no seu entorno, auxiliando na geração de renda para os castanheiros da região sul do Amapá e contribuindo com a erradicação da pobreza. A castanha-do-brasil é o principal produto não madeireiro da Amazônia e também a primeira fonte de renda para as famílias que passam por uma longa jornada de três meses para a coleta dos frutos. Esse processo é feito quase que exclusivamente por povos e comunidades tradicionais da região, que respeitam e trabalham na floresta de forma sustentável.

Atualmente com 105 cooperados, a Comaru foi fundada em 1992 com o objetivo de reunir os castanheiros da Comunidade São Francisco do Iratapuru para a negociação de melhores preços e valorização da castanha no mercado brasileiro. Além de atuar na comercialização de produtos dos cooperados em vários estados do Brasil, a Comaru também se destaca pelas práticas de sustentabilidade, tanto para conservar a biodiversidade local como para capacitar os extrativistas quanto ao uso de técnicas de coleta sustentável e manejo de recursos naturais. 

Os cooperados da Comaru atuam em uma reserva sustentável em Laranjal do Jari, na divisa entre o Amapá e o Pará, e comercializam produtos não madeireiros que preservam a Amazônia e aliam conservação e desenvolvimento, como castanhas in natura, amêndoas descascadas, óleo e farinha de castanha.

Considerando o contexto de desmatamento crescente na Amazônia, a Comaru é um ponto focal na cadeia produtiva local e tornou-se um lugar de representação dos interesses dos extrativistas e de conservação do meio ambiente, além de um espaço de negociação coletiva, que proporciona melhoria das condições de vida e mais vantagens econômicas para esses profissionais.

“Nós oferecemos todo o suporte para nossos cooperados, dando orientações sobre cadeia produtiva, rastreabilidade e qualidade do produto, importância da cooperativa para o cooperado, ajudando sempre quando ele mais precisa, com questões de saúde ou suporte de equipamentos, por exemplo”, afirma Aldemir Pereira, diretor administrativo da Comaru.

Segundo ele, o cooperativismo e o associativismo têm desempenhado um papel essencial para os extrativistas do Vale do Jari, auxiliando-os nos desafios do mercado, na erradicação da pobreza na região e na preservação dessas comunidades para o futuro. “A Comaru gera empregos na agroindústria para os cooperados, faz adiantamento da safra para cada produtor coletar sua castanha, apoia no escoamento da produção, dá assistência e também realiza eventos sociais e ambientais para estimular a preservação da natureza junto aos castanheiros”, explica o gestor. 

Extrativismo sustentável 

A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), com sede em Rio Branco, é mais uma mostra de como o modelo cooperativista tem contribuído para a erradicação da pobreza por meio da geração de trabalho, responsabilidade social, preservação florestal e crescimento sustentável.

Maior produtora nacional de castanha-do-brasil, além de trabalhar com borracha, frutas nativas, palmito e café, a coop é referência na promoção de economia de baixo carbono e em práticas de extração que preservam o meio ambiente. Em 2022, a Cooperacre conquistou o Prêmio Somos Coop Melhores do Ano na categoria Inovação por aplicar tecnologia aliada ao desenvolvimento sustentável. 

Na rotina diária, a Cooperacre foca na produção de alto nível sem abrir mão da proteção ao meio ambiente, alavancando o progresso de seus cooperados, com impacto para a economia do estado. Com o projeto “Fortalecendo a economia de base florestal sustentável”, a coop recebeu, em 2019, cerca de R$ 5 milhões do Fundo Amazônia, que financia ações de conservação da floresta. 

Com a exportação de produtos orgânicos e certificados, a Cooperacre investe em uma economia de baixo carbono, gera empregos, impacto econômico e mais renda para as famílias que residem no Norte do país, com impacto direto para a erradicação da pobreza. Inclusão social e preços competitivos também integram os pilares da cooperativa que beneficia e representa os interesses dos extrativistas acreanos.

Inovação no cooperativismo

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