Agricultura de baixo caborno
O setor agropecuário é um dos ramos do cooperativismo com maior potencial de geração de créditos de carbono. Algumas cooperativas agrícolas brasileiras já estão se preparando para entrar nesse mercado, como a Integrada Cooperativa Agroindustrial, do Paraná, que aposta no sequestro de carbono na terra para vender créditos no futuro. A preparação dos 11 mil cooperados para um futuro de baixo carbono é um dos eixos da agenda de sustentabilidade da coop, que atua nos mercados de soja, milho, trigo, café e laranja.
Para o Agro, a vantagem do mercado de carbono vai além do eventual benefício financeiro, porque reduzir e compensar as emissões de gases de efeito estufa também aumenta a produtividade e competitividade e pode determinar a própria sobrevivência das lavouras, diretamente impactadas pelos eventos climáticos decorrentes do aquecimento global.
Este ano, a Integrada lançou o projeto Propriedades Sustentáveis, que inclui uma parceria com a Federação do Plantio Direto na Palha. Nesse tipo de manejo, a semeadura é feita na palha da cultura anterior, sem a necessidade de queimar a área nem de revolvimento do solo, reduzindo a liberação de CO2 na atmosfera. A incorporação da matéria orgânica ao solo também mantém a umidade e beneficia a nutrição das plantas, gerando impactos positivos na produtividade.
Com o apoio da Federação, faremos a aplicação de um checklist para que o produtor consiga se autoavaliar e caminhar com maior segurança em relação às boas práticas que visam o sequestro de carbono efetivamente”, explica a coordenadora de Sustentabilidade da cooperativa, Ana Lúcia Almeida Maia.
Ainda segundo Ana Lúcia, além do possível retorno financeiro no futuro, os investimentos na produção de baixo carbono já têm reflexos na atuação da cooperativa pelo reconhecimento das ações por parte de clientes, fornecedores e instituições financeiras, o que garante acesso a mercados e financiamento diferenciado.
NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS
Segundo a gerente da consultoria WayCarbon, Laura Albuquerque, o potencial de geração de créditos de carbono do setor agropecuário brasileiro varia entre 10 e 90 milhões de toneladas de C02.
Para isso, o foco dos investimentos deve ser em sistemas integrados de lavoura e pecuária (ILP); lavoura, pecuária e florestas (ILPF); agricultura de baixo carbono com atenção voltada, principalmente, para a fixação do nitrogênio e plantio direto. Além de intensificação da pecuária bovina de corte, que inclui recuperação de pastagens degradadas, a adubação de pastagens extensivas e o confinamento”, lista.
De acordo com a especialista, o aproveitamento desse potencial do Agro esbarra em desafios como a complexidade da medição do carbono para geração dos créditos, feita por meio de metodologias registradas, etapa essencial para a apuração do volume a ser negociado; a alta complexidade da regulação fundiária brasileira, que dificulta a obtenção do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e outros documentos exigidos para entrada no mercado de carbono; a comprovação de adicionalidade (garantia de que o projeto tenha impacto ambiental positivo, e não apenas cumpra obrigações legais de preservação); e o longo período de tempo entre a intenção de geração dos créditos e a efetiva implementação dos projetos.
Além disso, o custo pode ser um limitante para os projetos, principalmente para os pequenos produtores.
Os custos vinculados ao processo de certificação demandam um volume grande de crédito de carbono que compense o investimento de implementação do projeto — o que, na maioria das vezes, é mais viável para grandes empresas com disponibilidade de capital para tal investimento”, pondera Laura.
Segundo a WayCarbon, os custos fixos de validação, registros e verificação de um projeto de crédito de carbono no mercado voluntário estão na ordem de US$ 80 mil, o equivalente a R$ 400 mil.
Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação