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Dez anos de desenvolvimento

Gerir e administrar uma cooperativa com excelência passa por uma jornada de transformação e desenvolvimento. E não há como alcançar alta performance com sustentabilidade nos negócios sem uma gestão estratégica, com foco em resultados e progressão contínua.

Foi com a missão de impulsionar a qualidade da gestão cooperativista que surgiu, há dez anos, o Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC) — hoje conhecido como Governança e Gestão AvaliaCoop

A iniciativa nasceu com o propósito de guiar as cooperativas em um processo de autoconhecimento, capaz de ajudá-la a identificar os gargalos e os pontos fortes de sua gestão. Objetivo? Motivá-las a adotar — de forma gradual e planejada — boas práticas de governança e gestão. Estas, por sua vez, levam ao aprimoramento de processos e produtos, à redução de custos e ao aumento da produtividade e competitividade da cooperativa nos mercados nacional e internacional.

Desde o lançamento do programa, em fevereiro de 2013, pelo menos 2.136 cooperativas fizeram a autoavaliação de Governança e Gestão AvaliaCoop, que as enquadra em um dos seguintes graus de maturidade de gestão:

  • Primeiros Passos para a Excelência (estágio inicial)
  • Compromisso com a Excelência (estágio intermediário)
  • Rumo à Excelência (estágio intermediário) e
  • Excelência (estágio avançado) — último nível agregado ao processo no ciclo atual, de 2023. 

A adesão à iniciativa cresce a cada ciclo e cerca de 30% das participantes utilizam o programa de maneira continuada, em busca da mais alta classificação do programa: a excelência. 

“Este é o nível mais exigente e desafiador do programa, por ter maior foco em sustentabilidade, diversidade e inovação. Ele também exige a demonstração de resultados mais robustos, com uma análise do impacto da cooperativa no mercado e na comunidade onde ela atua”, explica Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB.

AUTOAVALIAÇÃO

Na prática, o Governança e Gestão AvaliaCoop funciona por meio de ciclos anuais de planejamento, execução, controle e aprendizado. Tudo começa com a realização de um autodiagnóstico, que consiste no preenchimento de dois formulários: um sobre gestão (gerenciamento de projetos, recursos, pessoas e resultados) e outro sobre governança (estrutura de regras, políticas e processos que orientam o processo de tomada de decisão da cooperativa).

Os diagnósticos organizacionais são o primeiro passo para qualquer tipo de organização se autoavaliar. Se isso é fundamental em uma organização convencional, é ainda mais no cooperativismo que reúne organizações de interesse público, compostas e geridas por cooperados, com gestão que muda continuamente. Portanto, para continuidade da organização cooperativa é necessário que seja sistematizado um processo de autoavaliação e com base nas respostas sejam apontadas as correções necessárias”, explica a gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB.

No primeiro questionário, a cooperativa se autoavalia com base nos princípios do Manual de Boas Práticas de Governança Cooperativa do Sistema OCB. São considerados, aqui, os principais conceitos e princípios de governança cooperativa: autogestão, senso de justiça, transparência, educação e sustentabilidade. 

No segundo, a avaliação é baseada no Modelo de Excelência da Gestão, desenvolvido pela FNQ. 
O resultado da avaliação é enviado de forma automática para a cooperativa logo após o preenchimento. Ela recebe um diagnóstico que identifica o seu grau de maturidade em gestão e em governança, acompanhado de um plano de ações para implementar — com as oportunidades de melhorias identificadas. 

Vale destacar: o relatório gerado na autoavaliação encerra o ciclo e também serve como um registro histórico do processo de evolução da cooperativa e para a prestação de contas dos dirigentes.

UM PROGRAMA DE RESULTADOS 

Nos últimos dez anos, as cooperativas participantes do programa de desenvolvimento da gestão e da governança de cooperativas aumentaram sua pontuação média de maneira significativa

Em gestão

2013 – 54%

2014 – 72%

Em governança

2013 – 53%

2014 – 69%

SAÚDE FINANCEIRA

Cooperativas que participam do PDGC têm...

...reservas financeiras 38% maiores do que as que não participam

...taxa de retorno líquido por cooperado (RCOOP*) 23% superior às que não participam. 

*Este retorno mostra o quanto cada cooperado é influenciado pelo resultado da cooperativa, considerando as sobras e perdas de cada cooperado

Fonte: Universidade Federal de Minas Gerais

METODOLOGIA

Qualquer cooperativa cadastrada no Sistema OCB pode aderir ao AvaliaCoop, independente do porte, do ramo de atuação e do tempo de existência. Conforme explicado anteriormente, o caminho até a excelência começa com um raio-x detalhado dos processos e práticas de governança e gestão — etapa chave para garantir o desenvolvimento integral da cooperativa.

A construção da metodologia de autoavaliação do programa passou por um longo processo de construção. O trabalho de formulação ocorreu no contexto de implantação da Diretriz Nacional de Monitoramento do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), entre 2011 e 2012, e contou com a consultoria especializada da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) — que possui um modelo de referência para consultoria, educação e desenvolvimento da gestão de alta performance nas instituições.

A união da experiência prática e dos princípios do Sescoop com os conhecimentos técnicos da FNQ baseou a construção das ferramentas de autoavaliação e desenvolvimento que compõem o programa.

“Um aspecto importante da autoavaliação, com impacto na mentalidade de autogestão do nosso programa, é que as cooperativas podem comparar seus resultados com os de outras organizações da mesma região e/ou do mesmo Ramo, e assim terem uma visão externa ao seu modo de governança”, comenta Débora Ingrisano.

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MELHORIAS CONTÍNUAS

Confira as principais melhorias implementadas no Programa de Desenvolvimento da Gestão e da Governança de Cooperativas, em 2023:

  • Nova classificação — a partir deste ano, as cooperativas participantes poderão se enquadrar em um novo nível de maturidade de governança e gestão: a “excelência”
  • Lançamento — o Guia de Vendas com informações sobre o Diagnóstico de Governança e Gestão reúne os princípios, as boas práticas e o passo a passo do diagnóstico. Confira!
  • Selo de excelência — passará a ser concedido também para cooperativas que possuam um maior número de cooperativas. A honraria era entregue para cooperativas que aderiram aos ciclos, alcançaram boas notas e recebiam visitas de monitoramento. A partir de agora, mesmo as organizações que não forem visitadas poderão receber o selo, se cumprirem os outros requisitos. 

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COOP FALA

"Os diagnósticos foram criados para fortalecer a gestão das nossas cooperativas, que poderão estabelecer estratégias mais assertivas para ganho de mercado e, por consequência, o alcance da nossa meta do BRC1Tri de Prosperidade, em que pretendemos movimentar financeiramente R$ 1 trilhão, até 2027", Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB

“O PDGC [hoje chamado de Diagnóstico Governança e Gestão] é uma iniciativa assertiva e que impacta em melhores processos e produtos nas cooperativas. Fomenta o avanço relacionado ao alto desempenho, ao aumento da produtividade e da competitividade, ao aprendizado organizacional e ao desenvolvimento da cultura da excelência com visão sistêmica. Desde a primeira edição do programa, o Sistema Ocemg sempre atuou fortemente junto às coops mineiras para que aderissem ao programa, justamente por entender como a proposta é decisiva no aprimoramento dos processos de gestão e governança do setor em nosso Estado. Temos muito orgulho do caminho percorrido até aqui e do trabalho robusto de acompanhamento direto às cooperativas nesse contexto. Não por acaso, as cooperativas mineiras se destacaram em todas as edições do Prêmio Somoscoop Excelência de Gestão com o maior número de participantes e também com o maior número de premiações. Os resultados dessa parceria de sucesso é o reconhecimento da eficiência das nossas cooperativas não apenas em Minas, mas em todo o país.”

Ronaldo Scucato, Presidente do Sistema Ocemg


"Acreditamos que o cooperativismo é um movimento essencial para construção de um Brasil mais justo e sustentável. Iniciativas como o programa de desenvolvimento da gestão das cooperativas são importantes porque nos motivam a amadurecer, a evoluir e a buscar continuamente a melhoria do modelo de gestão. Desde o início de nossa participação aprendemos muito e percebemos a evolução em cada ciclo. Depois do reconhecimento, nossa equipe tem ainda mais vontade para adotar e desenvolver boas práticas no dia a dia, na governança e na gestão. Parabéns e obrigado aos idealizadores do AvaliaCoop! Seguimos nos desenvolvendo e aprimorando a gestão da Cooperativa com o objetivo de entregar o nosso propósito, que é fazer a diferença na vida das pessoas, em cada atendimento."

Ricardo da Silva, diretor executivo da Viacredi Alto Vale


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 41 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


O futuro pede excelência

Ter uma gestão estruturada e profissional está deixando de ser um diferencial para ser um pré-requisito no ambiente corporativo, independentemente do tamanho ou ramo do negócio. 

A alta competitividade, o rápido ritmo das inovações, clientes cada vez mais exigentes e cenários volúveis tornam obrigatório ter processos transparentes, estruturados, pragmáticos e capazes de garantir a sustentabilidade do negócio.

Para explicar os ganhos que uma boa governança pode trazer para uma cooperativa, para o mercado e para toda a sociedade, convidamos dois especialistas em gestão para um bate-papo exclusivo com a Saber Cooperar.

As percepções do cooperativismo sobre governança foram apresentadas por Alexandre Gatti, superintendente da Ocemg — Organização Estadual [ARdO1] referência no desenvolvimento da gestão cooperativista; a visão do mercado é trazida por Luciana Matos Lima, consultora da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).  

Ambos os entrevistados comentam, ainda, a importância da implantação — há exatos 10 anos — do diagnóstico de Governança e Gestão das cooperativas. Confira! 

Saber Cooperar: A estruturação de um modelo de governança corporativa nas instituições é mais uma tendência de momento ou uma mudança necessária para garantir a sustentabilidade dos negócios?

Alexandre Gatti: Sem dúvida, uma mudança necessária para garantir a sustentabilidade dos negócios. O contexto de mercado, hoje, é complexo, de alta competitividade e marcado pelo fluxo constante de informações. Por isso, assim como todas as organizações que se pretendam perenes, as cooperativas precisam acompanhar as inovações, superar os desafios comerciais e se destacar por seus produtos e serviços de qualidade. Tenho convicção de que isso só é possível por meio de processos de melhoria constantes, viabilizados por um eficiente modelo de governança. 

Luciana Matos Lima: A estruturação de um modelo de governança é fundamental para a sustentabilidade e perenidade das cooperativas. Pode parecer modismo, mas, na verdade, é uma evolução do mundo de negócios, decorrente de pressões da sociedade, em virtude de inúmeros escândalos de corrupção e de práticas consideradas inaceitáveis nos dias de hoje. Esse novo ambiente de negócios, mais avesso à prática de alcance de resultados a qualquer custo, exige novas práticas de governança — responsável pela definição dos princípios e das diretrizes que serão colocados em prática na gestão dos negócios. Não estruturar o modelo de governança, utilizando as melhores práticas disponíveis, pode trazer custos econômicos e reputacionais irreparáveis a qualquer negócio.

Quais são os três principais ganhos que uma organização tem ao adotar boas práticas de governança?

Alexandre: Acredito que um dos principais ganhos seja a transparência com o quadro social e a sociedade, o que reflete em um ambiente de credibilidade e atuação mais eficiente. Considero, também, a profissionalização da gestão e o aumento da competitividade como aspectos muito positivos nas cooperativas que priorizam a adoção de boas práticas em seus negócios cotidianos. 

Luciana: A base de qualquer transação comercial é a confiança. Sem confiança, não há negócios nem investimento em organizações. Ao adotar boas práticas de governança, uma cooperativa amplia a confiança depositada nela, por suas diversas partes interessadas, de que leis e regulamentos são cumpridos e que as decisões tomadas compreendem a análise dos riscos envolvidos e dos interesses de todos aqueles que serão impactados por essas decisões. Esse é um ganho, muitas vezes, difícil de mensurar, mas que traz inúmeros benefícios para a operação e a reputação da organização. Outros ganhos que posso destacar são a criação ou o fortalecimento de uma cultura ética, de conformidade e integridade, e a profissionalização da gestão interna, pautada por melhores diretrizes emanadas da governança.

A boa governança ajuda a otimizar processos, mas tem potencial para gerar resultados financeiros reais para a organização? Como isso acontece?

Alexandre: Sim. Inclusive, acredito que essa não é uma opção, mas uma necessidade nas cooperativas comprometidas com a sustentabilidade. Justamente porque não é possível investir em governança e ESG sem os resultados financeiros. Quando otimizamos processos, naturalmente, reduzimos custos, ampliamos a capacidade de gerar negócios, nos posicionamos melhor no mercado, aprimoramos nossos canais de relacionamento e por aí seguimos em uma cadeia muito positiva, do ponto de vista dos negócios. 

Luciana: A boa governança tem duplo papel na geração de resultados financeiros reais: o primeiro está relacionado ao futuro, ao acompanhar continuamente o ambiente externo; a governança enxerga novas oportunidades de negócios que não só trarão ganhos financeiros reais, como poderão ser fundamentais para a sobrevivência e o crescimento da organização. O segundo papel está relacionado ao presente, ao monitorar e acompanhar a execução das diretrizes traçadas e o desempenho alcançado, a fim de corrigir eventuais rotas para maximizar o alcance dos resultados financeiros planejados.

Adotar boas práticas de governança pode ajudar as cooperativas, mas o que isso traz de positivo para a sociedade? E para a economia? 

Alexandre: Os ganhos são para todos. Onde existem cooperativas, comprovadamente, existem ganhos de desenvolvimento econômico e social para todo o seu entorno. Afinal, a responsabilidade social está no DNA do setor e o interesse pela comunidade faz parte de nossos princípios desde as nossas origens, há mais de 170 anos. Resumindo, onde tem cooperativa, tem resultados compartilhados para cooperados, colaboradores, dirigentes, sociedade, parceiros e fornecedores. É a verdadeira relação ganha-ganha: a cooperativa se desenvolve e investe parte de seus resultados diretamente no seu entorno, seja por meio de programas e projetos sociais, seja na geração de emprego e renda, ou na melhoria dos principais indicadores econômicos e sociais locais.

Luciana: Ao adotar boas práticas de governança, as cooperativas mudam o seu processo de tomada de decisão, que passa a considerar tanto a identidade da organização como os impactos das decisões sobre o conjunto de suas partes interessadas, a sociedade em geral e o meio ambiente, visando o bem comum. Isso é o que o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa chama de deliberação ética, trazendo para a pauta da governança temas como corrupção, assédio, diversidade, inclusão e meio ambiente. A discussão desses temas e a adoção de políticas específicas para regulamentá-los no ambiente de negócios trazem importantes ganhos para a sociedade, pois as cooperativas se engajam na solução de problemas que afetam todos nós, como a desigualdade social e as mudanças climáticas. Para a economia, o impacto positivo é ainda maior. Organizações que adotam boa governança têm melhores resultados financeiros, recebem mais investimentos e resistem melhor a eventuais crises econômicas, se recuperando mais rapidamente.

Na sua avaliação, as cooperativas brasileiras já têm um olhar mais sensível para a importância da profissionalização da gestão? 

Alexandre: Certamente. Em Minas Gerais, principalmente, em função do trabalho realizado pelo Sistema Ocemg no que se refere à formação de lideranças, ao acompanhamento e monitoramento de cooperativas, esse já é um contexto prático. Vale destacar, aqui, que nossa equipe trabalha com energia e de forma comprometida, não só para oferecer soluções que fortaleçam o movimento cooperativista, mas as melhores ações, destinadas a impulsionar a competitividade do setor —, entre elas está o Programa de Desenvolvimento de Gestão de Cooperativas (PDGC), carro-chefe no trabalho realizado junto às coops mineiras.

Luciana: Acredito que as cooperativas brasileiras compreendem perfeitamente a importância da profissionalização da gestão em virtude de pressões e condições dos ambientes em que atuam: temos cooperativas que exportam para todo o mundo, devendo cumprir regulamentos internacionais; temos cooperativas atuando em ambientes extremamente regulados, como o crédito e a saúde, que impõem a necessidade de uma gestão profissionalizada para assegurar a sobrevivência. É importante também destacar a atuação do Sistema OCB na conscientização das cooperativas sobre a necessidade de desenvolver a gestão para a melhoria da competitividade.

Quais são os desafios que você enxerga para a implementação da governança corporativa nas cooperativas brasileiras hoje?  

Alexandre: A visão sistêmica. Precisamos avançar nessa pauta para fortalecer o nosso próprio posicionamento diante do mercado. As cooperativas fazem muito — e fazem bem. Acredito que, ao seguirmos nos aprimorando nesses processos de desempenho, produtividade, competitividade, cultura da excelência da gestão, nada poderá nos segurar no futuro, do ponto de vista de resultados no mercado e junto à sociedade. A nossa causa e o nosso modelo de negócios são salutares, eficientes e agregadores.

Luciana: Vejo dois grandes desafios. Um está na construção e no fortalecimento do senso de pertencimento do cooperado. A governança em cooperativas não pode jamais esquecer os princípios e valores que pautam o modelo de negócio cooperativista e, muitas vezes, a adoção de referências do mundo corporativo pode ocasionar um distanciamento do quadro social, o que coloca em risco a continuidade da cooperativa. O segundo é a compreensão de que boa governança é para todas as cooperativas, independentemente do seu ramo ou de seu porte. A própria Lei 5.764/1971 estabelece uma estrutura mínima de governança para qualquer cooperativa, que pode ser melhorada a partir da comparação com referenciais existentes, como o diagnóstico de Governança e Gestão das cooperativas — modelo próprio do cooperativismo.

A governança corporativa é para todo mundo, ou é necessário ter um tamanho mínimo de faturamento para adotar a governança? Mesmo as cooperativas menores podem adotá-la? 

Alexandre: Para todo mundo, com certeza. Aliás, quanto mais a cooperativa se atentar para a importância desse processo desde a sua constituição, maiores serão também as chances de suas atividades crescerem e frutificarem já de acordo com a cultura da excelência, com uma boa governança e, por conseguinte, com uma tendência a resultados muito mais saudáveis e perenes. 

Luciana: A governança corporativa é para todos, independentemente do faturamento. No caso de cooperativas, a própria Lei Geral do Cooperativismo traz uma estrutura mínima, cabendo à cooperativa melhorá-la com a adoção de práticas adequadas ao seu contexto de atuação e disponibilidade de recursos. A grande maioria dos modelos de governança estabelecem o que deve ser feito, não como deve ser feito. O jeito de fazer é uma decisão da cooperativa, de acordo com sua realidade; e é por isso que qualquer cooperativa pode adotar boas práticas de governança.

Por onde começar a implantar um processo de melhoria da governança corporativa? 

Alexandre: Sem dúvida, a partir da sensibilização das lideranças. São elas que farão o processo começar e se desenvolver. É, inclusive, papel delas apresentar as prioridades de atuação institucional. São elas também que assumirão as consequências positivas da implantação de programas de governança ou as consequências da não priorização de ações que possam solucionar os principais desafios de atuação de suas cooperativas no mercado.

Luciana: O primeiro passo é escolher um modelo de referência para avaliar as práticas hoje adotadas pela cooperativa e identificar iniciativas que devem ser continuadas e fortalecidas, e temas que ainda não são abordados pela cooperativa. A partir do resultado desse diagnóstico, a cooperativa deve definir o patamar que deseja obter e estabelecer um plano ou projeto para alcançá-lo.

Qual é a importância de programas de autoavaliação, como o diagnóstico de Governança e Gestão?

Alexandre: O Programa de Desenvolvimento de Gestão é muito importante, especialmente para disseminar a cultura da excelência e da busca permanente por melhorias e boas práticas. O programa traz um aprendizado organizacional singular, capaz de redirecionar positivamente o posicionamento e os resultados das cooperativas no mercado.

Luciana: Esses programas de autoavaliação são fundamentais, porque promovem o desenvolvimento da governança e da gestão por meio de instrumentos de diagnóstico, que podem ser aplicados pela equipe interna da organização, com ou sem o apoio de profissionais externos. Além disso, esses programas trazem ações voltadas para a capacitação e o desenvolvimento dos profissionais sobre os temas, o que é fundamental para a construção de uma cultura voltada para a melhoria contínua e o aprendizado. Finalmente, muitos dos programas adotam estratégias de reconhecimento que permitem às organizações celebrar as conquistas alcançadas, o que contribui para o engajamento de todos. O Programa de Desenvolvimento de Gestão tem tudo isso e mais alguns diferenciais importantes, como: diagnósticos construídos com base nos princípios e valores do cooperativismo; usa como referência os Fundamentos da Excelência, alinhados aos fundamentos do Capitalismo Consciente; e é evolutivo, com diferentes níveis de maturidade, permitindo que cada cooperativa possa realizar sua jornada de melhoria de maneira sustentada e de acordo com sua realidade.

O diagnóstico de governança e gestão das cooperativas, lançado pelo Sistema OCB, faz 10 anos em 2023. De lá para cá, mais de 1.200 coops brasileiras participaram do programa. Já é possível ver os resultados desse programa? 

Alexandre: Minas Gerais se destacou em todas as edições do Prêmio SomosCoop Excelência de Gestão, com o maior número de cooperativas participantes e com o maior número de premiadas — um reflexo de como elas têm investido em gestão e governança. Desde a primeira edição do diagnóstico, em 2013, nossas cooperativas estão entre as melhores do país. Naquele ano, oito das 28 premiadas eram mineiras, um percentual de 29% do total; em 2015, o percentual subiu para 35%, com 11 premiadas das 32 cooperativas vencedoras; na última edição do Prêmio, em 2021, aumentamos o número de cooperativas premiadas (foram 42 cooperativas reconhecidas entre as 103 brasileiras finalistas). Temos observado o interesse cada vez maior de participação em Minas, o que reflete a preocupação do setor na busca pela excelência da gestão, justamente por estarem confirmando ano após ano os avanços práticos que o programa promove e impactando nos resultados gerais do empreendimento e do setor. 

Luciana: É possível ver muitas mudanças no ambiente interno das cooperativas que adotam o diagnóstico de Governança e Gestão cooperativista. Destaco algumas: fortalecimento da cultura do cooperativismo e de uma cultura pautada pela integridade, capacidade de aprender e engajamento de todas as partes interessadas; inserção do desenvolvimento sustentável nos direcionamentos estratégicos; promoção da inovação e melhoria dos processos; e, finalmente, a preocupação com resultados financeiros e com resultados que consideram também a geração de valor para os colaboradores, fornecedores, sociedade e meio ambiente.


Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 41 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Como o Sistema OCB pode ajudar a sua coop a entrar no mercado de carbono?

O potencial bilionário do mercado de carbono pode abrir muitas portas para o cooperativismo, porque já somos, desde a origem, preocupados com a sustentabilidade. Para ajudar nossas coops a fazer parte dessa ferramenta de negócios da economia verde, a OCB está atuando em duas frentes: informação e escala, segundo o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.

Marco Morato, coordenador de Meio
Ambiente e Energia do Sistema OCB

O primeiro passo é nivelar o conhecimento em todo o cooperativismo, compartilhar informação. Essa preparação tem o intuito de criar esse conhecimento para facilitar a entrada das cooperativas nesse mercado”, explica. 

Ao longo de 2022, a Casa do Cooperativismo promoveu uma série de eventos para estimular a troca de experiências entre cooperativas que estão em diferentes graus de atuação no mercado de carbono, com a participação de pesquisadores, consultores e outros agentes ligados ao setor.

Para o próximo ano, está sendo preparada uma jornada de capacitação das unidades estaduais e o lançamento de  uma ferramenta para ajudar as cooperativas a contabilizar suas emissões de gases de efeito estufa — primeiro passo do processo para entrar no mercado de carbono. 

Queremos facilitar a inserção das cooperativas. Além de informações, vamos oferecer essa ferramenta para auxiliá-las a fazer esse inventário de gases de efeito estufa de suas unidades e de seus cooperados. Possivelmente, essa ferramenta estará disponível em 2024”, adianta Morato.

Em outra frente, para garantir que os projetos cooperativistas tenham a escala necessária para entrar no mercado de carbono, o Sistema OCB trabalha em uma estratégia de reunir coops em uma mesma iniciativa, numa espécie de consórcio de projetos.

O desafio é unir cooperativas para que a gente tenha projetos robustos para conseguir acessar o mercado. Por exemplo, há várias cooperativas trabalhando com reaproveitamento de dejetos de suínos, resíduos de frigorífico que geram biogás, ou seja, transformando um passivo ambiental em energia renovável. E isso já tem metodologia (de certificação de créditos), já está quantificando, a gente só precisa alcançar essa escala, e isso poderá ser feito com esses projetos guarda-chuva”, explica o coordenador de Meio Ambiente da OCB.

ACORDO DE PARIS 

O avanço na regulamentação do mercado de carbono em nível global e nacional deve ampliar as oportunidades de participação do cooperativismo. No âmbito mundial, novas regras estão previstas no art. 6º do Acordo de Paris, e dependem da definição sobre sistemas de contabilidade, registro e verificação e outras etapas burocráticas para a implementação de um novo mercado global, tanto o regulado quanto o voluntário, o que deve ocorrer a partir de 2024.

No Brasil, o mecanismo é regulamentado atualmente pelo Decreto 11.075, publicado em maio de 2022, que estabelece as bases para um mercado de carbono regulado no país, com base nas metas nacionais de redução de emissões e dos compromissos assumidos  no Acordo de Paris até 2050.

A normativa estabelece os procedimentos para a elaboração de Planos Setoriais de Mitigação e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que estão em fase de elaboração pelo governo. Nessa nova configuração, o mercado regulado e o mercado voluntário funcionarão juntos, e as cooperativas poderão participar com seus projetos nas duas instâncias.

O decreto organiza um futuro mercado de carbono no Brasil. O mais importante agora para as cooperativas é entender os processos para fazer o inventário de carbono. Primeiro, precisamos fazer as contas, depois a gente se preocupa como e para quem a gente vai vender. Vamos inventariar esse carbono que está sendo gerado pelo cooperativismo, deixar isso transparente e depois alocar isso nos mercados”, lista Marco Morato, do Sistema OCB.

Segundo Laura Albuquerque, da WayCarbon, a segurança jurídica é fundamental para o crescimento e consolidação do mercado de carbono no Brasil, principalmente para estimular a entrada de mais atores, o que inclui as coops. “Se o mercado estiver amparado por uma lei, há um entendimento melhor sobre o que fazer, qual o rumo, as metas e os limites de cada setor. O decreto é ótimo, é um primeiro passo para regulamentação do mercado, mas uma lei é essencial para a condução e evolução do Brasil nesse mercado”, pondera.

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#OCoopNaCOP27

Em uma nova rodada de negociações para encontrar saídas para frear o aumento da temperatura do planeta, 193 países que formam a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima se reuniram em Sharm el-Sheikh, no Egito, para sua 27ª Conferência das Partes, a COP 27.

Em meio ao cenário de recessão global pós-pandemia e da incerteza energética na Europa por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, a COP 27 teve um papel ainda mais relevante na definição de como os países irão engajar esforços políticos e, principalmente, recursos financeiros no combate ao aquecimento global e seus impactos.

A COP deixou de ser um evento apenas de governos e do setor público para ser uma grande demanda da sociedade civil. O debate sobre o clima é a agenda da ONU que mais chega às pessoas, se alastrou amplamente em todo o mundo porque se trata de como a humanidade pode ser prejudicada pela falta de controle com o cuidado com o meio ambiente”, explica o coordenador de Relações Internacionais do Sistema OCB, João Martins.

Para as cooperativas brasileiras, a COP 27 foi uma vitrine perfeita para mostrar experiências sustentáveis que confirmam o potencial do setor para ajudar a descarbonizar a economia, aliando desenvolvimento econômico e inclusão social. 

“Essa é nossa expertise no cooperativismo: promover comunidades sustentáveis, com crescimento inclusivo e que respeitem o meio ambiente. Nosso objetivo na COP foi mostrar como nossas cooperativas têm atuado voluntariamente para cuidar das suas comunidades e seus cooperados, buscar competitividade para seus negócios e, ao mesmo tempo, zelando pelas metas do meio ambiente”, lista Martins.

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CASES DE SUCESSO

Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o Sistema OCB apresentou experiências de quatro cooperativas brasileiras reconhecidas por práticas sustentáveis: a Coopercitrus, com foco na produção de energia limpa e restauração florestal; a Cocamar, que destaca a integração lavoura-pecuária-floresta para produção sustentável; a CCPR, com um case de produção de energia limpa no agronegócio; e a Coplana, com modelos de logística reversa e reflorestamento.

Além de dar visibilidade ao trabalho das coops, a participação do sistema cooperativista na Conferência do Clima rendeu outros frutos para as cooperativas brasileiras: parcerias estratégicas com organismos da ONU e organizações cooperativistas de outros países, além da abertura de novos mercados. Segundo Martins, o evento ajudou a mostrar ao mundo que o coop é “uma nova marca do Brasil” — conectada a mercados cada vez mais exigentes quanto à rastreabilidade e à pegada de carbono dos produtos.

A agenda de prioridades do cooperativismo brasileiro na COP 27 inclui a regulamentação do mercado de carbono, o combate ao desmatamento e a captação de recursos internacionais para fomentar atividades sustentáveis desenvolvidas por nossas coops.

Para o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, o coop brasileiro precisa buscar investimentos para multiplicar as ações desenvolvidas pelas cooperativas para conter as mudanças climáticas. "Cabe a nós dialogar com os países membros da COP 27 para colocar as cooperativas na pauta dos negociadores, que vão falar do tema da captação de recursos, do financiamento, do investimento verde. Por exemplo, temos um projeto de cooperação com as cooperativas alemãs que fomenta a organização de cooperativas de energias renováveis no Brasil, fotovoltaica e outras."  

Lopes de Freitas acredita que, com a captação de recursos internacionais destinados a investimentos nesse tipo de negócios, seja possível multiplicar rapidamente esse modelo de recompensa de projetos sustentáveis no Brasil. 

Com o olhar para o futuro, o Sistema OCB já prepara a estratégia para a próxima Conferência do Clima, em Dubai, em 2023, em que deve ampliar a presença de coops brasileiras. 

Conhecendo a dinâmica da conferência e quais resultados queremos alcançar, já estamos discutindo uma participação mais robusta. À medida que o tema se torna cada vez mais importante internacionalmente também cresce a nossa responsabilidade de representar e defender o movimento cooperativista. Para as próximas COPs, devemos estar ainda mais engajados nesse debate”, conclui o presidente do Sistema OCB. 


Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Agricultura de baixo caborno

 

O setor agropecuário é um dos ramos do cooperativismo com maior potencial de geração de créditos de carbono. Algumas cooperativas agrícolas brasileiras já estão se preparando para entrar nesse mercado, como a Integrada Cooperativa Agroindustrial, do Paraná, que aposta no sequestro de carbono na terra para vender créditos no futuro. A preparação dos 11 mil cooperados para um futuro de baixo carbono é um dos eixos da agenda de sustentabilidade da coop, que atua nos mercados de soja, milho, trigo, café e laranja.

Para o Agro, a vantagem do mercado de carbono vai além do eventual benefício financeiro, porque reduzir e compensar as emissões de gases de efeito estufa também aumenta a produtividade e competitividade e pode determinar a própria sobrevivência das lavouras, diretamente impactadas pelos eventos climáticos decorrentes do aquecimento global.

Este ano, a Integrada lançou o projeto Propriedades Sustentáveis, que inclui uma parceria com a Federação do Plantio Direto na Palha. Nesse tipo de manejo, a semeadura é feita na palha da cultura anterior, sem a necessidade de queimar a área nem de revolvimento do solo, reduzindo a liberação de CO2 na atmosfera. A incorporação da matéria orgânica ao solo também mantém a umidade e beneficia a nutrição das plantas, gerando impactos positivos na produtividade.

Com o apoio da Federação, faremos a aplicação de um checklist para que o produtor consiga se autoavaliar e caminhar com maior segurança em relação às boas práticas que visam o sequestro de carbono efetivamente”, explica a coordenadora de Sustentabilidade da cooperativa, Ana Lúcia Almeida Maia.

Ainda segundo Ana Lúcia, além do possível retorno financeiro no futuro, os investimentos na produção de baixo carbono já têm reflexos na atuação da cooperativa pelo reconhecimento das ações por parte de clientes, fornecedores e instituições financeiras, o que garante acesso a mercados e financiamento diferenciado.

NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS

Segundo a gerente da consultoria WayCarbon, Laura Albuquerque, o potencial de geração de créditos de carbono do setor agropecuário brasileiro varia entre 10 e 90 milhões de toneladas de C02.

Para isso, o foco dos investimentos deve ser em sistemas integrados de lavoura e pecuária (ILP); lavoura, pecuária e florestas (ILPF); agricultura de baixo carbono com atenção voltada, principalmente, para a fixação do nitrogênio e plantio direto. Além de intensificação da pecuária bovina de corte, que inclui recuperação de pastagens degradadas, a adubação de pastagens extensivas e o confinamento”, lista.

De acordo com a especialista, o aproveitamento desse potencial do Agro esbarra em desafios como a complexidade da medição do carbono para geração dos créditos, feita por meio de metodologias registradas, etapa essencial para a apuração do volume a ser negociado; a alta complexidade da regulação fundiária brasileira, que dificulta a obtenção do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e outros documentos exigidos para entrada no mercado de carbono; a comprovação de adicionalidade (garantia de que o projeto tenha impacto ambiental positivo, e não apenas cumpra obrigações legais de preservação); e o longo período de tempo entre a intenção de geração dos créditos e a efetiva implementação dos projetos.

Além disso, o custo pode ser um limitante para os projetos, principalmente para os pequenos produtores. 

Os custos vinculados ao processo de certificação demandam um volume grande de crédito de carbono que compense o investimento de implementação do projeto — o que, na maioria das vezes, é mais viável para grandes empresas com disponibilidade de capital para tal investimento”, pondera Laura. 

Segundo a WayCarbon, os custos fixos de validação, registros e verificação de um projeto de crédito de carbono no mercado voluntário estão na ordem de US$ 80 mil, o equivalente a R$ 400 mil.


Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Energia limpa e rentável

Algumas cooperativas brasileiras estão atuando, com sucesso, no mercado de carbono e essas experiências têm sido apresentadas como exemplos em uma jornada de informação promovida pelo Sistema OCB Brasil afora. Uma delas é a Coprel, maior cooperativa de eletrificação em extensão de redes do país, com sede no Rio Grande do Sul.

Geramos energia limpa e renovável desde 1991, com a implantação da CGH [Central de Geração Hidrelétrica] Pinheirinho, em Ibirubá (RS). A entrada no mercado de crédito de carbono ocorreu em 2009, inicialmente como um complemento da receita, com o objetivo de melhorar a rentabilidade dos investimentos", conta o facilitador de novos negócios da coop, Mateus Stefanello.

Após o crescimento da agenda ESG, a Coprel passou a olhar para o mercado de crédito de carbono com outros olhos. "Projetos de geração de energia renovável, principalmente em virtude do baixo impacto ambiental, pela criação de áreas de preservação permanente, hoje são um diferencial importante no mercado, além de gerar renda e desenvolvimento econômico regional durante e após a implantação dos empreendimentos”, completa.

No caso da geração de energias renováveis, os créditos de carbono são emitidos a partir do cálculo de quanto CO2 deixou de ser lançado na atmosfera com a produção de energia limpa no lugar de fontes não renováveis e altamente emissoras, como as usinas termelétricas a gás ou carvão, por exemplo. As unidades geradoras têm de estar alinhadas com políticas de baixa emissão de gases de efeito estufa, ser construídas de acordo com a regulamentação e passar por auditorias até serem consideradas aptas para a geração dos créditos.

Na Coprel, o cálculo considera que cada Megawatt-hora (MWh) produzido por três pequenas centrais hidrelétricas — Engenheiro Ernesto Jorge Dreher e Engenheiro Henrique Kotzian, no Rio Grande do Sul, e Rio do Sapo, em Mato Grosso — e despachado para o Sistema Interligado Nacional (SIN) evita o maior acionamento de termelétricas. A partir de um fator de emissão definido pelo SIN, é possível chegar à quantidade de CO2 que deixou de ser emitido por cada MWh limpo produzido pela coop, resultando nos créditos disponíveis para comercialização.

Desde a entrada nesse mercado, a Coprel já emitiu e vendeu cerca de 500 mil créditos de carbono, que geraram receitas entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, além de abrir novas oportunidades no mercado internacional, segundo o facilitador de negócios da coop.

“A Coprel vende os seus créditos de carbono por diversas formas, sendo as mais usuais os contratos bilaterais de compra e venda, e por meio da plataforma Go Climate Neutral Now, das Nações Unidas”, explica Stefanello. Ele destaca que a cooperativa está implantando duas outras pequenas centrais hidrelétricas (PCH) que aumentarão os créditos de carbono que poderão ser negociados no mercado.  

POTENCIAL DO CAFÉ

Com o ramo de Infraestrutura, o setor agropecuário reúne o maior potencial de geração de crédito de carbono entre as cooperativas brasileiras. Neste último, além do eventual benefício financeiro, reduzir e compensar as emissões de gases de efeito estufa também aumenta a produtividade e a competitividade de quem produz. Sem falar que o compromisso com a sustentabilidade pode determinar a própria sobrevivência das lavouras, diretamente impactadas pelos eventos climáticos decorrentes do aquecimento global.

A cafeicultura brasileira, por exemplo, tem sofrido cada vez mais com as mudanças da temperatura e do regime de chuvas. Diante desse cenário, aumentou a relevância do debate climático para a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), uma coop mineira de 17 mil pequenos produtores reconhecida internacionalmente por sua produção sustentável.

Os efeitos das mudanças climáticas nos últimos anos foram muito evidentes. Nós tivemos secas, períodos de chuva diferentes dos normais; então, não há um equilíbrio como era antes e isso interfere diretamente na produção", avalia o gerente e ESG da Cooxupé, Alexandre Monteiro.

Na visão de Monteiro, é responsabilidade de todos tomar providências para evitar o aquecimento global. "A cafeicultura permite isso: a redução da emissão de carbono na atmosfera", pondera. De fato, um estudo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) — do qual a Cooxupé fez parte — demonstrou que a cafeicultura é uma cultura “carbono negativo”, ou seja, estoca mais carbono do que emite. E quando se trata de lavouras sustentáveis, o balanço é ainda mais negativo, garantindo a adicionalidade necessária para gerar créditos para o mercado de carbono.

De acordo com a pesquisa, na produção cafeicultora conservacionista, com boas práticas de manejo agrícola, há um balanço negativo de 10,5 toneladas de CO2 por hectare ao ano. A Cooxupé agora está justamente trabalhando no inventário de carbono das lavouras de seus cooperados para levantar o potencial de créditos de carbono que poderá comercializar — o que, segundo Monteiro, ocorrerá no médio prazo. 

Estamos trabalhando com universidades e especialistas de renome internacional no assunto para nos orientar sobre como atingir esse objetivo. Quando tivermos a definição do nosso balanço de carbono vamos procurar parceiros para monetizar esses créditos. Mas é importante destacar que nossa grande preocupação em relação ao carbono não é ter créditos para vender, é evitar o aquecimento global”, pondera o gerente.


Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Um novo mercado para as cooperativas brasileiras

Nenhuma crise assusta o cooperativismo! Nosso jeito diferente de fazer negócios nasceu durante uma crise de desemprego, na Inglaterra, e desde então provou ter resiliência para crescer em tempos turbulentos, como a crise econômica global de 2008 e a pandemia de Covid-19, em 2020.  Agora, neste exato momento, o coop enfrenta um novo momento desafiador: a emergência climática provocada pelo aquecimento global. É o momento de olhar para os impactos ambientais das nossas atividades, sim, mas também de mostrar ao mundo que somos parte da solução, e não do problema. 

As cooperativas do Brasil e do mundo têm um imenso potencial para "descarbonizar a economia”, garantindo um futuro mais justo e ambientalmente seguro para as próximas gerações. Uma das maneiras de fazer isso é assumindo a liderança do chamado mercado de carbono, em que a redução de emissões de gases de efeito estufa é quantificada e transformada em um ativo negociado no mercado internacional.

Um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitida na atmosfera. O preço é volátil e, em 2022, cada crédito chegou a ser negociado a US$ 10. Existe um mercado internacional regulado — em que países negociam créditos para cumprir suas metas obrigatórias de redução de emissões — e um voluntário, onde atua o setor privado.

Até 2030, o Brasil pode gerar até US$ 120 bilhões de receitas em créditos de carbono e atender a 48,7% da demanda mundial do mercado voluntário por esses ativos. A projeção está em um estudo da consultoria WayCarbon e da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), e considera o preço de US$ 100 por tonelada de CO2, valor estipulado pelo mercado voluntário de carbono (TSVCM) em um cenário otimista. “Hoje, o Brasil atende a cerca de 12% da demanda global no mercado voluntário, percentual quatro vezes maior do que em 2019”, compara a gerente-geral de consultoria da WayCarbon, Laura Albuquerque.

O imenso potencial do Brasil nesse mercado está diretamente ligado à agropecuária, à produção de energias renováveis e à preservação e recuperação de florestas, atividades com grande capacidade de geração de créditos de carbono. E o cooperativismo está em todas elas, principalmente no Ramo Agro, em que somos responsáveis por 51% da produção nacional.

Agora, temos um desafio de informação e escala para colocar o cooperativismo como protagonista no mercado de carbono. A maior parte das cooperativas agropecuárias já utiliza tecnologias de agricultura de baixo carbono, por exemplo, e têm entre seus cooperados um potencial enorme quando se fala das florestas das matas nativas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APP). Os processos produtivos, dentro do coop, já estão realizando esse sequestro de carbono. O que precisamos, agora, é de informação e apoio para que as cooperativas consigam mensurar isso com os protocolos adequados”, explica o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.

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 ENTENDA O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

O mercado de carbono surgiu para dar valor financeiro à redução de emissões de gases de efeito estufa e transformar o dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitido na atmosfera em um ativo que pode ser negociado no mercado internacional entre governos e pelo setor privado.

O mecanismo foi criado com o Protocolo de Kyoto, que determina metas de redução de emissões de gases de efeito estufa pelos países ricos. Como os países em desenvolvimento não tinham metas obrigatórias, poderiam transformar suas ações de mitigação em créditos para serem vendidos para quem precisasse compensar suas emissões.

A ideia foi viabilizada por meio do Mecanismo do Desenvolvimento Limpo (MDL), em que os créditos de carbono são validados pela própria ONU e por entidades nacionais, como a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, no caso do Brasil.

Paralelamente ao mercado regulado, ligado às metas obrigatórias de Kyoto, surgiu um mercado voluntário em que empresas, instituições financeiras, ONGs e outros agentes também negociam créditos de carbono oriundos de reduções voluntárias de emissões.

Em 2015, com a atualização dos compromissos globais com a crise climática no Acordo de Paris, todos os países — ricos e em desenvolvimento — passaram a ter metas obrigatórias de redução, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC). A mudança deu um novo impulso para a criação de um mercado regulado global de carbono, com participação de governos e empresas, e metas estabelecidas para diferentes setores, cujas regras seguem em definição.

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Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Novo nicho de mercado

Onde existem desafios, também existem muitas oportunidades de fazer negócio. Ciente da alta demanda do coop por consultorias em LGPD, um grupo de 14 profissionais se uniu para fundar, em 2022, a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Privacidade e Proteção de Dados (Cooprodados) —  primeira cooperativa a atuar na área de privacidade e proteção de dados, de forma on-line, em todo o País. 

A organização trabalha com a implantação de programas de adequação à LGPD, promove treinamentos e workshops de sensibilização para a cultura de dados e também executa, sob demanda, serviços de DPO. “Podemos contribuir no mais variado leque de ações necessárias para criar uma governança de dados eficiente, tanto em cooperativas quanto em empresas”, destaca a presidente da Cooprodados, Sylvia Urquieta.

A ideia de criar a cooperativa surgiu da necessidade de buscar espaço no mercado. “Eu comecei a notar que muitos profissionais reclamavam da falta de oportunidade de trabalho. Tanto o trabalho dentro das empresas quanto a possibilidade de integrar um projeto de adequação”, conta Sylvia.

Aí me ocorreu de unir forças. Fiz a proposta a várias pessoas, que compraram a ideia. Ficamos cerca de dois anos debatendo como seria a cooperativa, porque era uma proposta inédita. E até hoje estamos nos ajustando, buscando novas soluções”, afirma.

Sylvia ressalta que um dos principais benefícios para as cooperativas que se adequam à LGPD é um diferencial competitivo. “Já existe a exigência, sobretudo nos Estados Unidos e na União Europeia, de que empresas e cooperativas parceiras estejam em conformidade com a lei de proteção de dados. Mais do que apenas uma vantagem competitiva, é uma demanda que, se não atendida, pode inviabilizar uma parceria comercial. E é melhor se adequar pelo amor do que pela dor”, aponta.

Um dos primeiros clientes da Cooprodados é a Federação das Cooperativas Educacionais do Rio Grande do Sul (Fecoeduc). Dez cooperativas associadas, entre elas a Coopeeb, estão recebendo apoio para estar em conformidade com a LGPD.

Temos cerca de seis meses de existência, então este é nosso primeiro grande trabalho. Vem sendo uma experiência importante para nós, inclusive para a nossa própria adaptação à lei de proteção de dados”, finaliza Sylvia.

ALERTA VERMELHO

Quando há vazamento de dados em uma empresa ou cooperativas, as consequências podem ser bastante graves. Além do claro prejuízo para o cliente que teve sua informação pessoal divulgada, a própria empresa pode enfrentar processos judiciais e ter sua imagem prejudicada junto a clientes e fornecedores.

Um dos casos mais conhecidos de vazamento de informações é o do Facebook. Em 2018, dados de 30 milhões a 87 milhões de usuários da rede social foram vazados e utilizados pela Cambridge Analytica para influenciar a opinião de eleitores em vários países, entre eles o Brasil, a Índia e os Estados Unidos. 

O evento motivou uma discussão pública sobre normas éticas para empresas de mídias sociais, organizações de consultoria política e políticos. O escândalo fez com que o Facebook perdesse, em um único dia, US$ 35 bilhões em valor de mercado na Bolsa de Valores de Nova York. Além disso, o movimento #DeleteFacebook chegou aos assuntos mais falados do Twitter. O caso foi, inclusive, retratado no documentário The Great Hack, exibido pela Netflix.

Outro caso de vazamento de informações ocorreu também em 2018 com a Netshoes. Uma falha de segurança comprometeu dados pessoais de quase 2 milhões de clientes, entre eles nome, CPF, e-mail e histórico de compras. A empresa acabou condenada a pagar R$ 500 mil em indenizações por danos morais.

Ainda no Brasil, outra situação de grande repercussão foi com o Banco Inter. A instituição financeira vazou informações pessoais de cerca de 19 mil correntistas. A empresa acabou multada em R$ 1 milhão e os recursos foram destinados a instituições de caridade e organizações de combate a crimes cibernéticos. 


 PASSO A PASSO PARA SE ADEQUAR À LGPD

Nomeie um grupo de pessoas da cooperativa para ser responsável por buscar informações sobre a LGPD. Com base nessas informações preliminares, é necessário definir quem será o encarregado de dados pessoais (DPO) da cooperativa. Esse profissional pode ser alguém que já trabalha na organização ou um novo profissional, que será contratado no mercado. Logo em seguida, defina um cronograma indicando todas as fases do projeto de adaptação à LGPD, descrevendo os objetivos e os procedimentos de cada etapa. “Também nessa fase inicial, é importante que a cooperativa inicie ações de conscientização de colaboradores, porque logo nas fases seguintes todos terão que se envolver no projeto”, aponta o DPO do Sistema OCB. “É preciso o comprometimento de todos para que o processo dê certo.”

  1. Mapear

Faça um mapeamento dos processos que envolvam o uso de dados de pessoas físicas, além dos controles de segurança da informação já implementados. “O ideal é que isso seja feito com base em modelos internacionais de boas práticas nessa área, como, por exemplo, a ISO 27.001, que traz um rol de vários controles para que uma organização tenha maturidade, segurança e gestão adequada da informação”, afirma Groff.

  1. Avaliar

Após o mapeamento, a próxima etapa é a avaliação. É preciso analisar todos os processos sobre as perspectivas organizacional, jurídica e da segurança da informação. E então identificar o que precisa ser feito em cada um deles para se adequar às exigências da LGPD. Na área organizacional, por exemplo, algumas adequações podem ser a padronização de procedimentos e a identificação de compartilhamentos feitos com terceiros que são desnecessários. 

“Nessa etapa é importante ver exatamente isso, se todos os compartilhamentos de informações com outras áreas e também com fornecedores precisam realmente ser feitos. Se o processo puder ser realizado com menos pessoas, menos gente vai lidar com as informações, o que reduz o risco”, aponta Groff. 

Já na área jurídica, é preciso avaliar qual é a base legal que justifica a coleta e o tratamento de dados pessoais em cada um dos processos (veja quadro). “Também é importante analisar os contratos com prestadores de serviço externos que tenham acesso aos dados pessoais sob responsabilidade da cooperativa. E para que tudo funcione adequadamente, é preciso impor que esses terceirizados também cumpram à risca a LGPD. Porque se elas não cumprem quem paga é a cooperativa. E essa imposição começa nos ajustes contratuais”, afirma Groff.

No campo da segurança da informação, é preciso analisar se medidas básicas estão sendo implementadas. “É ver, por exemplo, se há soluções de criptografia para proteger dados pessoais, se há uma limitação de acesso adequada às informações, se todos os processos atendem requisitos de segurança”, enumera.

  1. Corrigir

Com a avaliação finalizada, é hora de corrigir as inconsistências foram detectadas e implementar medidas estruturais, como a Política Interna de Privacidade e Proteção de Dados Pessoais e normas de retenção e descarte de dados pessoais, entre outras, além de medidas específicas necessárias, como limitação de compartilhamento de dados pessoais com fornecedores, limitação da coleta de dados pessoais desnecessários para alcançar a finalidade dos processos, implementação de ajustes específicos em sistemas e sites e descontinuação de processos sem base legal legítima, entre várias outras.

  1. Mitigar e manter

O último passo é a consolidação das correções realizadas e das políticas, normas e procedimentos estabelecidos. Nesta etapa, as cooperativas devem incorporar todas as diretrizes nas novas atividades que passarem a realizar, considerando que, naquelas já mapeadas e corrigidas, tais diretrizes já estarão contempladas. 

Também é importante manter uma auditoria contínua para os controles necessários para a manutenção da conformidade. É importante ficar claro que a adequação à LGPD é um trabalho constante, que exige ajustes e atualizações sempre que necessários.


Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


A todo vapor

Em algumas cooperativas brasileiras, o trabalho de adequação à LGPD já está bastante adiantado. É o caso, por exemplo, da Creluz, distribuidora de energia elétrica com cerca de 25 mil consumidores em 36 cidades do norte do Rio Grande do Sul. O trabalho começou em 2020, foi realizado em cinco fases e envolveu o mapeamento de cerca de 160 processos.

Na primeira fase, a Creluz estruturou o comitê responsável pelo trabalho e realizou o levantamento inicial, um diagnóstico de desconformidade e um workshop para os colaboradores com abordagens técnica e jurídica. Na sequência, foram definidos o encarregado pelo tratamento de dados pessoais, a política de privacidade, a barra de cookies no portal, o canal de atendimento dos direitos dos titulares e mapeamento dos processos do negócio.

Já a terceira fase contou com a avaliação do organograma dos processos de tratamento de dados pessoais, da estrutura de segurança da informação, das políticas, dos contratos e das bases legais, além da elaboração de relatório de riscos e de planos de ação.

A quarta fase envolveu compatibilização das bases legais, relatório de atividades de tratamento de dados pessoais, inventário de operadores, adequação do site e criação da política de retenção, descarte e eliminação de dados. Por fim, na quinta etapa, foi elaborada cartilha de proteção de dados e segurança da informação e realizado evento de conscientização de colaboradores com avaliação de conhecimentos.

Durante o processo de adequação, vários desafios precisaram ser vencidos. "O primeiro foi conhecer a fundo a LGPD e outros dispositivos sobre o tema para saber como e onde atuar. E depois estruturar processos de gestão adequados e objetivos, além de conscientizar a força de trabalho da necessidade”, destaca o gerente operacional e encarregado de proteção de dados da Creluz, Fernando Fiorentin. 

Realizamos um trabalho amplo, detalhado e que ainda continua. Para se ter uma ideia, os 160 processos que avaliamos estavam distribuídos nos 26 departamentos da cooperativa", conta. "Deixar a cooperativa com maior grau de conformidade possível e manter um programa de conformidade vigente, eficiente e eficaz é um desafio que exige a participação e o comprometimento de todos”, completa.

Fiorentin destaca que a adequação à LGPD trouxe diversos benefícios para o dia o dia da Creluz, como a manutenção da credibilidade da marca com os titulares de dados pessoais, capacitação da força de trabalho, busca constante pela melhoria contínua e melhores práticas, simplificação de processos pelo cumprimento da legislação e remoção de fragilidades, deixando a organização mais segura, além de são sofrer penalidades pelo descumprimento da lei.

Outro benefício, cita Fiorentin, foi a melhoria em diversos processos de trabalho. Uma delas envolveu mudanças no uso dos telefones celulares corporativos. “Implantamos uma tecnologia que permite, por exemplo, a localização dos aparelhos por georreferenciamento e impede acesso e instalação de dados sem autorização. Então, se um leiturista perde o telefone lá no interior, quem encontrá-lo não vai conseguir acessar absolutamente nada”, conta.

QUEM É PEQUENO TAMBÉM PRECISA SE ADEQUAR?

Outra cooperativa que está em estágio avançado de implantação da LGPD é a Cooperativa de Trabalho Educacional (Coopeeb). A organização foi criada em 2000 para gerir o Colégio Concórdia, em Porto Alegre (RS), que passava por grave crise econômica e corria o risco de ter as atividades encerradas. Diante do risco da perda de seus postos de trabalho, 22 professores e técnicos em atuação da escola se uniram e criaram a cooperativa.

Hoje, além da escola, com cerca de 600 alunos, a Coopeeb também executa o Programa Jovem Aprendiz, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativa (Sescoop), em 22 cidades gaúchas, além de oferecer cursos para formação de lideranças. A cooperativa conta com cerca de 160 associados.

Segundo o presidente da Coopeeb, Hélio Alabarse, a adequação da cooperativa à LGPD vem sendo realizada desde 2019.

É um trabalho que exigiu várias mudanças no nosso dia a dia, sobretudo porque, na escola, estamos sempre lidando com menores e com informações sensíveis”, aponta. “Antes, por exemplo, se fazia um atendimento a um aluno e a ata poderia ficar em cima da mesa de uma sala destrancada. Agora, existe toda uma preocupação para que isso não ocorra. O documento precisa ser arquivado de imediato. E se isso não for possível, a sala vai ficar trancada. Ou seja, é preciso toda uma mudança de cultura”, completa.

Durante a adequação, foram revisados todos os procedimentos que envolviam o uso de dados pessoais. “Nosso DPO analisou, por exemplo, todos os contratos com terceirizados e com os pais dos alunos e diversas cláusulas relativas à LGPD foram inseridas”, conta Alabarse. “Além disso, todos os nossos cooperados assinam termos de confidencialidade, ou seja, quem sai da cooperativa tem o compromisso e o dever de manter o sigilo das informações”, exemplifica o presidente da Coopeeb.

Hélio Alabarse conta que o processo de ajuste às regras da LGPD fez com o que o Colégio Concórdia tivesse ainda mais atenção ao sigilo e intimidade de alunos e familiares, mesmo em situações não previstas na lei. 

Temos aqui uma sala onde é feita a primeira abordagem quando um aluno está com problema de disciplina ou desestabilizado emocionalmente. Isso é feito em um aquário, com paredes de vidro. E nesse processo a gente se deu conta que todo mundo podia ver quem estava dentro. Então colocamos insulfilm para garantir o sigilo. A LGPD, então, nos ajudou a fazer esse tipo de reflexão. É nossa obrigação manter o aluno protegido”, aponta.

Segundo Alabarse, um dos próximos passos da Coopeeb será capacitar outras cooperativas para a adequação à LGPD. “Algumas instituições já têm nos procurado para receber orientações, então esse é um nicho de mercado que tem se aberto para nós, tanto para palestras quanto para uma assessoria ou consultoria”, conta.


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VOCÊ SABIA?

Leis de proteção de dados pessoais existem na Europa desde a década de 1970, mesmo antes do advento da internet. Uma das mais completas, e que serviu de inspiração para diversas normativas, entre elas a brasileira, é o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia (RGPD), que entrou em vigor em 2016. Na América do Sul, são diversos os países que já possuíam leis específicas sobre o tema, a exemplo da Argentina, que regula o acesso a dados pessoais desde  1994.

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Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Sua cooperativa já está adaptada de verdade à LGPD?

O surgimento da internet permitiu uma troca de informação mais rápida, aproximando pessoas e gerando novas possibilidades no mundo dos negócios. Mas, ao mesmo tempo, trouxe um risco para a segurança das informações pessoais, que muitas vezes ficam disponíveis na rede e, se não houver o devido cuidado, podem acarretar danos de imagem e prejuízos financeiros, entre outros. 

Para prevenir o uso indevido de dados pessoais, mais de 120 países já aprovaram e colocaram em vigor leis nesse sentido. No Brasil, a Lei nº 13.709/18 – mais conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) — passou a vigorar em setembro de 2020. Desde então, cooperativas, empresas, órgãos de representação, profissionais liberais, órgãos públicos e organizações sem fins lucrativos estão correndo para se adaptar à legislação. 

As cooperativas que atuam em segmentos altamente regulados, como as de saúde, de distribuição de energia e crédito estão mais adiantadas no processo, até pelo fato de já seguirem uma série de normas”, explica Cristhian Groff, encarregado de proteção de dados (DPO) do Sistema OCB. “Mas há um grupo bastante significativo de cooperativas para quem a LGPD ainda não é realidade, mesmo mais de dois anos após a entrada em vigor. Isso a gente percebe nas ações de conscientização, nos eventos. Alguns temas básicos são novidade para muita gente.”

Segundo Groff, muitas cooperativas que pensam estar adequadas à LGPD têm, na verdade, muito ainda a ser ajustado. “Elas têm uma abordagem muito simplista. Pensam que modificar um contrato e fazer mudanças no site já é suficiente. A verdade, no entanto, é que são necessárias uma série de ações de caráter multidisciplinar, que envolvem profissionais da área jurídica, de tecnologia da informação, a organizacional”, aponta o DPO — cargo que, aliás, é uma exigência da LGPD e precisa ser criado em todas as cooperativas que tratam os dados de clientes e cooperados, exceto aquelas de pequeno porte. 

AJUDA BEM-VINDA

As cooperativas podem contar com o apoio do Sistema OCB para realizar as adequações necessárias à LGPD. No portal LGPD no Cooperativismo, você encontra informações gerais sobre a lei, cartilhas, cursos on-line, vídeos explicativos e um passo a passo detalhado para a adequação, composto por cinco etapas:  planejamento, mapeamento, avaliação, correção e manutenção/mitigação. 

O diferencial do site LGPD no Cooperativismo é ser um espaço com informações sobre privacidade e proteção de dados pessoais voltado para as relações das cooperativas com os demais agentes de tratamento", explica a gerente jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Ramos. "Buscamos sempre particularizar as orientações e informações para o cooperativismo. Nesse sentido, quinzenalmente, produzimos novos conteúdos focados em atualidades sobre a LGPD ou mesmo para divulgar cartilhas, cursos, vídeos orientativos e outros materiais que elaboramos sobre a lei."

Ciente da importância de se adequar à LGPD, há mais de dois anos o Sistema OCB vem colocando em prática um plano de trabalho com cerca de 520 ações. “São muitos os processos que realizamos com dados pessoais. A identificação de um visitante é um processo, o registro de um carro no estacionamento é outro, o mesmo vale para a seleção de um colaborador, a gestão de benefícios, a atualização dos dados cadastrais de nossa base de cooperativas e dirigentes, a indicação dos representantes legais de um contrato”, exemplifica Ana Paula. 

Regras como essa também se aplicam a todas as cooperativas, que deveriam ter um programa de conformidade em relação aos dados.

Dizer que sua coop está adequada a LGPD sem ter uma política que crie diretriz internas é o mesmo que ter um programa de ética ou anticorrupção, sem ter um código de ética”, ensina Cristhian Groff, DPO do Sistema OCB.

Ainda segundo Groff, é preciso enfrentar o tema com dedicação e qualidade. “Não adianta fazer um serviço para inglês ver”, argumenta. “Até porque, em algum momento, será necessário evidenciar a conformidade. No caso de uma fiscalização, por exemplo, não dá para dizer ‘olha, eu estou em conformidade’. É preciso comprovar com documentos obrigatórios, como o registro das operações de tratamento de dados, que geralmente é o primeiro a ser cobrado.”

Entre as regras estabelecidas pela LGPD estão a prestação de informação, de forma explícita, para as pessoas a respeito de quais atividades serão realizadas com seus dados pessoais; registro das bases legais válidas e regulares, relacionadas a cada uma das atividades, no registro de operações de tratamento de dados pessoais; implementação de medidas de segurança da informação; e limitação do tratamento de dados pessoais ao mínimo necessário para que sejam alcançados os objetivos da atividade, dentre outras.

A fiscalização do cumprimento da LGPD é feita pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Além de implementar e cobrar o cumprimento da lei, a autarquia federal também é responsável por aplicar sanções nos casos de descumprimento da legislação, que podem ir de uma advertência à proibição parcial ou total das atividades. 

SERVIÇO

Além da disponibilização de informações pelo portal LGPD no Cooperativismo, o Sistema OCB também promove eventos de capacitação e atende demandas pontuais de cooperativas interessadas em saber mais sobre a legislação. Também foi criado, em 2021, o Conselho de Proteção de Dados no Cooperativismo (CPDC), que desempenha o papel de orientação e conscientização relacionada à Proteção de Dados Pessoais nas atividades cooperativistas no Brasil.

Para saber mais sobre o passo-a-passo da
adequação à LGPD, acesse o site www.lgpd.somoccooperativismo.coop.br


Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cooperativismo continua forte e bem representado no Congresso Nacional

O cooperativismo brasileiro saiu vitorioso das urnas em outubro de 2022. A atuação de parlamentares comprometidos com o setor, no Congresso Nacional, foi aprovada pelos eleitores. Tanto, que oito em cada dez parlamentares da atual diretoria da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) foram reeleitos. Além disso, pelo menos três dezenas de  novos deputados e senadores que já se engajavam com as pautas cooperativistas em diversos estados e municípios tomarão posse em janeiro de 2023. 

O índice de renovação dos parlamentares da Câmara dos Deputados [próximo dos 40%] configura uma oportunidade de receber novos entusiastas do cooperativismo”, avalia o deputado federal Evair de Melo (ES), presidente da Frencop . “Cerca de 30 deles, inclusive, já assinaram o compromisso de atuar em defesa do movimento cooperativista e devem assumir posições estratégicas, pró-medidas legislativas favoráveis ao coop durante seus mandatos”. 

A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, também está animada com a força que o coop terá no novo Congresso Nacional, que tomará posse em 2023. “Além de manter nossa representatividade na Câmara, o núcleo duro da Frencoop ganhou dois reforços de peso no Senado, com a eleição de Tereza Cristina (MS) e Efraim Filho (PB)”, comemora. 

Clara revela que o Sistema OCB está preparando um extenso cronograma de agendas, reuniões, ações estratégicas e entrega de propostas sobre o cooperativismo aos diversos stakeholders (agentes-chave, em livre tradução) dos Três Poderes. 

Será um momento importante em que usaremos nossos materiais para reapresentar o cooperativismo como uma plataforma de desenvolvimento aos Poderes Executivo e Legislativo, e queremos colocar o coop, novamente, na pauta prioritária do governo, especialmente no Poder Executivo”, salienta Maffia.

Já no início da nova legislatura, o Sistema OCB e a Frencoop farão um trabalho específico na Câmara e no Senado para apresentar a importância do cooperativismo aos novos parlamentares. “Muitos já estão conosco, mas esperamos conquistar ainda mais apoio para o nosso movimento que, sem dúvida, continuará sendo um dos grandes protagonistas do desenvolvimento econômico e social do Brasil”, prevê Evair de Melo. 

O QUE PODEMOS FAZER PELO BRASIL?

A valorização e o reconhecimento do trabalho dos deputados federais e senadores contaram com um importante aliado neste ano: o Programa de Educação Política para o Cooperativismo. O objetivo era desafiador: fazer chegar aos membros das mais de 4.880 cooperativas brasileiras a mensagem de que todo cidadão deve se envolver nas pautas importantes para o cooperativismo, incluindo a chancela ou reprovação, pelo voto, do trabalho de cada agente público em prol do setor. E a meta foi alcançada com sucesso.

A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB relata que o programa foi desenvolvido de forma robusta e contou com ampla participação das Unidades Estaduais do Sistema OCB.

Tivemos sucesso nessa empreitada de falar do cooperativismo e trazer o setor como pauta para reflexão individual de cada eleitor. Em geral, as pessoas preferem se distanciar da política no Brasil. E todo o mote do nosso programa era para demonstrar que não tem sentido se distanciar. A gente precisa participar porque as decisões serão tomadas, com ou sem a nossa participação”, explica Clara Maffia. 

Dividido em cinco eixos, o programa fomentou a participação dos cidadãos no processo eleitoral de maneira suprapartidária, mediante esclarecimentos, capacitação para multiplicadores, formas de engajamento e mobilização, vídeos e informações sobre doação a candidatos, dentre muitos outros materiais.

Um dos pilares foi a construção do documento Propostas para um Brasil Mais Cooperativo, entregue aos quatro candidatos presidenciais mais bem posicionados ao longo da campanha deste ano e a centenas de cooperativas de todo o Brasil. A publicação contém cinco eixos estratégicos, 22 propostas e dezenas de subtemas que dialogam com as demandas do setor e o colocam o coop como protagonista de uma mudança — que já está em curso no Brasil — no que diz respeito à nova economia, sustentabilidade e construção de cidades mais prósperas, resultando em benefícios para toda a sociedade. Confira o documento

Programa de Educação Política em números

18 mil acessos ao site eleicoes2022.coop.br  

+ de 15 mil pessoas em eventos presenciais do Programa em todo o país

9,3 mil visualizações da série Cooperativismo e Eleições 2022 no YouTube do Sistema OCB

7,6 mil aproveitamentos em 1.052 rádios comerciais, comunitárias e educativas das 32 matérias jornalísticas distribuídas

+ de 160 encontros com lideranças cooperativistas e/ou com candidatos

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ATO COOPERATIVO: Impedir a duplicidade de tributação das cooperativas e dos cooperados por meio de um adequado tratamento tributário. Conquista pode ser garantida em um dos textos que trata da Reforma Tributária - PEC 110/2019 -, que está no Senado.

- TELECOMUNICAÇÕES: Obter segurança jurídica para que as cooperativas possam prestar serviços de telecomunicações a mais de 11 milhões de domicílios que atualmente não possuem o serviço. O Projeto de Lei 8.824/2017 foi aprovado na Câmara e aguarda aprovação no Senado, sob o número PL 1303/2022.

- CRÉDITO RURAL: Continuar garantindo o financiamento das atividades do produtor rural por meio do Sistema Nacional de Crédito Rural. A manutenção dos recursos no Plano Safra 2023/2024 é prioridade para o cooperativismo, cuja relevância no setor agropecuário cresce a cada ano.

- SEGUROS: Ampliar a possibilidade de atuação do cooperativismo no setor de seguros. Atuação junto ao Ministério da Economia e à Superintendência de Seguros Privados (Susep) em prol de avanços legais e regulatórios no tema, além de garantir a aprovação do Projeto de Lei Complementar 519/2018, que aguarda votação no plenário da Câmara.

- RECUPERAÇÃO JUDICIAL: Assegurar que as sociedades cooperativas possam utilizar procedimentos adequados de reorganização cooperativa.. Essa proteção às peculiaridades das cooperativas está prevista no Projeto de Lei 815/2022, que se encontra na Câmara.

- LICITAÇÕES: Permitir que as cooperativas de trabalho possam participar de contratações públicas, reconhecendo-as como modelo de negócio sustentável e capazes de contribuir nessa seara. Diferentes frentes lidam com o desafio, como um grupo de trabalho jurídico do Sistema OCB e a realização de agendas institucionais junto aos Três Poderes.

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Perspectivas para o novo quadro da Frencoop


Esta matéria foi escrita por Paulo Victor Chagas e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Preservando nascentes

Proteger as nascentes é garantir água para todos. Com a preservação desses nascedouros – mesmo que o curso de um rio esteja poluído ou degradado – é grande a chance de recuperar o corpo hídrico. Ao contrário, se as nascentes forem destruídas quase nada se pode fazer para reverter a situação. Fonte necessária à vida, a água é um recurso que precisa ser preservado.

Com isso em mente, o Sicoob Credcooper desenvolveu um projeto para promover a revitalização e preservação de nascentes por meio da conscientização ambiental, agricultura e pecuária sustentável, manejo integrado de bacias e uso consciente da água. 

Tudo começou na região de Caratinga (MG), onde a cooperativa opera. A comunidade vinha sofrendo um processo intenso de degradação ambiental dos solos, mananciais e reservas naturais — consequência direta das queimadas, dos períodos longos de seca, da falta de educação e conscientização ambiental e da expansão desordenada da agricultura e pecuária local.  

Resultado? A seca foi agravada e houve perda de solo fértil por causa da erosão e do assoreamento das nascentes. Para piorar a situação, as nascentes foram prejudicadas e houve uma redução tanto da quantidade quanto da qualidade de água.

O projeto Nascente Viva surgiu em um período de agravamento dessa crise hídrica, no ano de 2015. À época, foi necessário racionar o abastecimento de água em algumas cidades, fato que prejudicou, inclusive, a produção e distribuição de alimentos. Preocupado, um grupo de cooperados do distrito de Santa Luzia pediu à cooperativa que realizasse um seminário sobre a recuperação de nascentes. Aquele foi o início de um projeto maior, que já recuperou 39 nascentes na região, promovendo a sustentabilidade da agricultura familiar e a segurança alimentar, além de contribuir com a restauração da Mata Atlântica. 

Para nós, água significa vida. Hoje, graças a Deus e ao Sicoob Credcooper, temos água suficiente para irrigar as lavouras de café”, avalia o cooperado e produtor de café Silvio Roberto Primo.

FICHA TÉCNICA

Cooperativa: Sicoob Credcooper (MG)

Ramo: Crédito

Projeto: Nascente Viva, Produzindo água e Promovendo Desenvolvimento Sustentável hoje e para Futuras Gerações

Indicadores de desempenho:

- 39 nascentes recuperadas

- Realização de consultoria técnica, em parceria com a Embrapa, para manejo de solo com foco em produção de água em cerca de 1 mil hectares de terra

- Mobilização de 1,2 mil jovens em um programa de educação ambiental realizado em parceria com duas escolas públicas estaduais de ensino médio

- Doação de 15 mil mudas, em parceria com Instituto Terra, para o reflorestamento de 150 hectares de área de APP do bioma "Mata Atlântica". 

- Aumento da vazão da nascente recuperada de 5 m3 de água, em dezembro de 2016, para 53 m3 em 2022. 

https://www.youtube.com/watch?v=S5afRH5tQXY&list=PLd_xS9FKk7V-TRbd3cutn6-szXRlGpQfy&index=2


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Dados compartilhados

Só existe uma maneira de se manter competitivo nesse mar de dados que as novas tecnologias da informação disponibilizam diariamente: saber usá-los de forma estratégica e segura. No cooperativismo, o Ramo Crédito é um dos mais ativos e experientes nesse sentido, até devido à necessidade de garantir a segurança dos dados dos cooperados e, ao mesmo tempo, fazer a análise e a classificação de riscos dos produtos e serviços. 

Os diferentes sistemas desenvolvem, com primazia, seus próprios bancos de dados, plataformas de autoatendimento, soluções de pagamento e classificação de risco. Mas como segurança nunca é demais, eles ainda contam com o apoio de uma entidade suprassistêmica, de caráter intercooperativo: o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) que, dentre outras atribuições, analisa —  com sigilo e imparcialidade — os dados financeiros de 648 singulares captadoras de depósito. Objetivo? Identificar, com antecedência, o risco de uma cooperativa fechar as portas. Assim, é possível atuar preventivamente para evitar que a cooperativa entre em liquidação, ou seja, precise encerrar as atividades por insolvência. 

Uma das maneiras de fazer isso é apoiando — sob demanda dos Sistemas — a incorporação dessas singulares por outras maiores e financeiramente mais sólidas.  Nos últimos três anos, o FGCoop realizou oito operações de assistência financeira para viabilizar essas incorporações. Elas beneficiaram diretamente 60,4 mil cooperados, que mantiveram sua confiança no cooperativismo financeiro intacta graças, também, a essa atuação preventiva do Fundo. 

INTELIGÊNCIA DE MERCADO

Em janeiro de 2023, o FGCoop lançará um segundo projeto com dados para apoiar as 648 cooperativas captadoras de depósito associadas ao Fundo. Trata-se de um painel de inteligência de mercado (business inteligence) que analisará a performance dessas cooperativas tendo como referencial o próprio universo do cooperativismo.

É um modelo que captura as informações, transforma em indicadores e compara, sempre entre cooperativas do mesmo tamanho”, diz o diretor-executivo do FGCoop, Adriano Ricci. “Temos o  modelo de análise de risco desde 2015, mas, nele, a cooperativa não sabe necessariamente como está o mercado. Nesse outro, ela conseguirá saber a sua situação em relação aos pares. Trata-se, portanto, de uma ferramenta de benchmarking (análise de mercado)”, observa Ricci. 

Adriano Ricci,diretor-executivo do FGCoop,

O novo painel de mercado do Fundo será disponibilizado gratuitamente às cooperativas associadas e deve beneficiar, principalmente, as singulares independentes e de menor porte, que não contam com a mesma estrutura de análise de dados dos sistemas e das centrais de crédito cooperativo. 

“Nosso objetivo é municiar as associadas de mais informações para que elas possam inserir, no seu planejamento estratégico, ações que ajudem a melhorar seus indicadores de desempenho”, acrescenta. 

CONSOLIDAÇÃO

As cooperativas financeiras passam, atualmente, por um momento de consolidação, em que estão fortalecendo sua estrutura de capital. De acordo com Adriano Ricci, do FGCoop, a maioria delas hoje trabalha com dados não apenas com o objetivo de monitorar riscos, o que é inerente à atividade financeira, mas também a fim de melhorar seu desempenho.  

Em todas as cooperativas, ao longo dos últimos anos, melhorou muito o aspecto da governança, compliance, controle e gestão. Boa parte desse processo é feito independente do FGCoop. Em alguns lugares, a central [cooperativa] faz esse trabalho, em outros, a própria cooperativa tem uma unidade [de análise de dados]. Pelo nível em que vejo as cooperativas hoje, [o uso de dados] não é uma coisa recente”, comenta. 

Para Ricci, um dos principais desafios do cooperativismo financeiro, agora, é reforçar a estrutura de capital conquistada e investir na comunicação. “Há dois anos, as cooperativas crescem mais do que os bancos percentualmente, em volume de depósitos, crédito. O principal desafio é continuar crescendo e ser conhecido. Um ponto fundamental é comunicar melhor à sociedade os benefícios de fazer parte de um sistema como esse. Investir em estrutura de capital e em reforço dos indicadores”, avalia. 

Ainda segundo o executivo, um ponto positivo em relação à expansão das cooperativas de crédito é que, mesmo com a maior quantidade de agências físicas, elas não deixaram de ampliar a presença digital. “As cooperativas estão crescendo muito fisicamente, na contramão dos bancos, mas não deixam de crescer no digital. O app ou a internet da cooperativa não deixa  a dever para nenhum banco”, comemora. 

OPEN FINANCE

Quando se fala em análise de dados no setor bancário, um dos primeiros conceitos que vem à mente é o de open finance, ou sistema financeiro aberto. Trata-se de uma iniciativa do Banco Central para padronizar o acesso às informações dos clientes, ou seja, permitir que eles possam acessar as informações que possuem em uma instituição a partir de outra. 

Segundo Márcio Alexandre, superintendente de Governança de TI e segurança cibernética do Sicoob e representante da OCB no Conselho Deliberativo do Open Finance, a iniciativa acompanha uma tendência mundial de compartilhamento de dados, mas com um escopo mais amplo, ao incluir informações sobre seguros, investimentos e previdência, por exemplo. Por isso, o Banco Central decidiu recentemente alterar o nome do projeto para open finance, por se tratar de uma iniciativa que excede os limites dos produtos bancários.

Ele pontua ainda que a iniciativa brasileira já se posiciona como a maior iniciativa de open finance do mundo e já conta com a participação do cooperativismo.

Marcio Alexandre, superintendente de Governança de TI e segurança
cibernética do Sicoob e representante da OCB no Conselho Deliberativo do Open Finance

A regulação não exige a participação obrigatória das cooperativas financeiras no open finance. No entanto, das mais de 800 instituições financeiras participantes, de forma voluntária ou obrigatória, a grande maioria são cooperativas financeiras”, diz. 

O objetivo do open finance é estimular a inovação e a concorrência no sistema financeiro. “Antes da implementação desse projeto, um cidadão que procurava uma nova instituição financeira tinha dificuldade em receber uma oferta assertiva à sua necessidade porque esta instituição tinha pouca informação sobre ele. E, dessa forma, as ofertas poderiam não ser competitivas quando comparadas às das instituições com as quais ele possuía relacionamento”, explica Márcio Alexandre. 

De acordo com ele, com a chegada do open finance, ao buscar uma nova instituição financeira, o cliente pode autorizar o compartilhamento de dados como seu histórico de transações em conta corrente ou cartão de crédito por um tempo determinado, a fim de que a instituição para a qual está migrando possa conhecê-lo melhor e ofertar um produto em condições de igualdade com os que possuía na instituição anterior. 

Nas cooperativas, as primeiras iniciativas construídas sob essa estrutura incluem, por exemplo, soluções disponibilizadas em agências que permitem à cooperativa, quando autorizado expressamente por cada cooperado, conhecer e comparar os produtos e serviços utilizados por ele e identificar oportunidades para ofertar produtos mais adequados.

Outras iniciativas são a associação digital inteligente, que permite à cooperativa aproveitar informações cadastrais do cooperado em outras instituições no momento de sua associação à cooperativa; o agregador de contas, que permite ao cooperado ter a visão completa de sua vida financeira em todas as instituições onde possui relacionamento no seu aplicativo da cooperativa; e a iniciação de pagamento, onde um cooperado pode comandar uma transação de Pix em outra instituição à partir da conta que possui na cooperativa.


Esta matéria foi escrita por Mariana Branco e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Água de beber em pleno sertão

No sertão de Sergipe, o calor castiga e a estiagem dura oito meses. Nesse período, falta água para as pessoas e também para a plantação. Disposta a reverter esse quadro, a cooperativa Cercos começou a cavar e revitalizar poços artesianos nas comunidades onde atua. 

A ideia surgiu do pedido de um cooperado que, com razão, reclamou de um poço desativado há mais de 30 anos no povoado Luiz Freire, por falta de manutenção. Ele foi até a cooperativa em busca de ajuda para voltar a plantar.  

Desde a revitalização do poço, a nossa vida [na comunidade] melhorou uns 80%”, comemora Josiel Souza Castelo, o “dono” da ideia. “As pessoas que antes passavam sede, não passam mais. Melhorou o valor da terra. Ano passado [depois do poço ser reaberto], conseguimos tirar 300 sacos de batata, antes não tirávamos nem um saco, porque não plantávamos nos meses de estiagem. Ganhamos mais dinheiro e estamos vivendo bem melhor.”

Com o sucesso dessa primeira empreitada, os cooperados da Cercos fizeram uma assembleia e decidiram perfurar e revitalizar outros poços artesianos em novos locais. Para isso, também definiram pela destinação de 25% das sobras da cooperativa, em 2018 e 2019. 

Além de melhorar a qualidade de vida das comunidades que sofriam com a inexistência ou deficiência da rede de abastecimento de água, o projeto possibilitou o incremento da geração de renda, já que o acesso à água contribui substancialmente com a agricultura familiar produzida pelos cooperados. O projeto abrangeu mais de 100 famílias e aproximadamente 430 pessoas ligadas direta e indiretamente à cooperativa. É o cooperativismo feito por e para pessoas!


FICHA TÉCNICA

Cooperativa: Cercos (SE)

Ramo: Infraestrutura

Projeto: Escavação e Revitalização de Poços Artesianos

Indicadores de desempenho:

- Aumento do número de casas com água encanada e potável ligadas à rede de distribuição, de 20 para 143 residências.

- 64 produtores da agricultura familiar agora têm acesso à irrigação para suas culturas 

- O acesso à água fornecida pelos poços artesianos, para consumo próprio passou de 60 para 429 pessoas

- O projeto atende 6 comunidades: Tabocas — que não recebia apoio do Poder Público e não tinha água encanada —,Piçarreira, Luiz Freire, Açuzinho, Açu Velho e Lagarto.

https://www.youtube.com/watch?v=D30D8LlgQak


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Mobilidade inteligente e sustentável

Se sua condição de saúde pode fazer diferença na vida de outras pessoas e da sociedade como um todo, informações como os lugares por onde você dirige, os quilômetros rodados por dia e quanto tempo leva para se deslocar de um ponto a outro na cidade também são valiosos para o cooperativismo, o mercado e o poder público.

De olho na possibilidade de contribuir para a tomada de decisões relacionadas à mobilidade urbana, a cooperativa Driver's Seat criou um aplicativo para ser utilizado por motoristas de aplicativos de transporte, como o Uber. O app gera uma série de dados sobre as corridas feitas pelo motorista.

As informações são coletadas pela cooperativa e repassadas para órgãos públicos ou centros de pesquisa dados para apoiá-los na tomada de decisões relacionadas à gestão da mobilidade urbana.

O objetivo é melhorar o planejamento da arquitetura das cidades e encontrar soluções para congestionamentos e outros problemas de trânsito e mobilidade. As informações coletadas pelos motoristas são vendidas pela cooperativa, que reverte os ganhos para os próprios condutores.

A partir do momento que você usa as cidades para o bem público, você cria uma inteligência coletiva urbana e as soluções deixam de ser oferecidas somente pelos governos e passam a ser oferecidas também por startups, por ONGs e outros atores da sociedade que não somente o governo. Então, a gente tem cidadãos mais participativos e colaborativos promovendo a democracia nas cidades”, explica Fabíola Nader Motta, do Sistema OCB.  

LEGADOS E DESAFIOS

O uso de informações pessoais para basear decisões voltadas a mudanças sociais e inovações tecnológicas é uma tendência em ascensão no coop internacional. Ele tem sido muito aplicado na estruturação das Cidades Inteligentes, com o intuito de criar uma inteligência coletiva urbana para resolver problemas públicos. Seu uso vai desde o gerenciamento de tráfego nas cidades até o uso de informações pessoais para promover a saúde da população. 

De fato, o trabalho das chamadas cooperativas de dados pode favorecer o fortalecimento de todo o ecossistema de governança de dados e estimular a ampliação da legislação de proteção de dados pessoais e de transparência de dados públicos, por meio de decretos municipais de dados abertos e leis de governo digital.

Mas para que experimente uma expansão mais significativa, esse ramo do cooperativismo ainda precisa atravessar algumas barreiras, como quebrar silos de dados, já que na maioria das vezes as informações não estão centralizadas em um único portal de dados ou não estão padronizadas e formatadas da mesma maneira. 

Há ainda o desafio de se adequar a diferentes legislações e de construir uma infraestrutura tecnológica segura e eficiente, além da falta de recursos.

Para superar parte dos desafios, existe a possibilidade de criar uma coordenação de rede e fomentar uma cadeia produtiva de valor por meio do compartilhamento de infraestrutura computacional, de dados e recursos humanos e, principalmente, estabelecer objetivos claros de negócios compartilhados entre os parceiros da cadeia. 

Outra alternativa passa pela inteligência de dados, com o desenvolvimento de serviços digitais flexíveis e adaptáveis, permitindo análise constante da interação e do comportamento do usuário com os serviços ofertados. 

Temos grandes desafios para os próximos anos de transformação digital, mas, para quem já possui em sua essência cultural a cooperação, metade do caminho já foi trilhado. A governança de dados de forma ética em compliance com as leis vigentes é um dos maiores legados que as cooperativas de dados podem oferecer”, ressalta Fabíola.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Usando dados para fazer o bem

Inovar e trazer soluções benéficas para a sociedade está na essência do trabalho cooperativista. E um dos setores em que o coop tem dado aula, no mercado internacional, é justamente no gerenciamento e compartilhamento de dados. Quer ver?

Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Savvy Coop — uma cooperativa de pessoas portadoras de doenças graves — encontrou uma maneira diferente e original de lidar com os dados de seus cooperados. Eles estão compartilhando informações sobre a experiência que têm no enfrentamento de uma doença com institutos de pesquisas e laboratórios que precisam entender melhor a realidade desses pacientes. 

De acordo com a fundadora da cooperativa, Jen Horonjeff — ela própria paciente portadora de artrite juvenil, uma doença que afeta as articulações do corpo no período da adolescência — a Savvy Coop foi a primeira cooperativa a atuar sob a perspectiva dos pacientes e não dos médicos, dos hospitais ou da indústria. 

A história da Savvy se confunde com a de Jen, que também sobreviveu a um tumor no cérebro e se tornou uma pesquisadora PHD na área de saúde. Depois de ser procurada várias vezes para compartilhar com pesquisadores sua experiência como paciente, Jen teve a ideia de reunir pacientes com diferentes experiências de vida em uma cooperativa. Objetivo? Coletar as vivências de enfrentamento às doenças para compartilhá-las com a comunidade científica e com a sociedade. Assim, o que poderia ser um peso ou mais uma experiência isolada e desconhecida de enfrentamento de uma doença, se transformou em uma grande oportunidade não só de renda, mas de melhora da qualidade de vida desses pacientes. 

Por meio de questionários, participação em grupos focais, entrevistas, testes de produtos, entre outras estratégias, a Savvy Coop faz uma ponte entre empresas e pacientes cooperados.

Na página da cooperativa, a fundadora  destaca que o grande valor da cooperativa é “permitir que a indústria trabalhe junto com os pacientes” e que a principal missão da coop é “colocar o paciente no centro do desenvolvimento dos tratamentos ou insumos que serão usados por eles mesmos”. A ideia é contribuir para que as inovações em saúde sejam mais inclusivas, diversas e efetivas para os pacientes.

INTERESSE MÚTUO

Dentro da Savvy Coop, as histórias de vida dos cooperados são ativos negociados com pesquisadores e empresas de saúde. Funciona assim: uma clínica, um laboratório ou uma indústria entra em contato com a cooperativa e apresenta sua necessidade, que pode ser, por exemplo, uma entrevista de 60 minutos com uma ou mais pacientes diagnosticadas com câncer de mama, para apoiar o desenvolvimento de um medicamento novo para a doença. As demandas são registradas pela coop e apresentadas aos pacientes cooperados. 

Se der “match” (interesse mútuo) entre a demanda da indústria e a experiência do paciente, ambos ganham.  Os pacientes são pagos por colaborarem respondendo aos questionamentos, por participarem de experimentos ou de algum processo de desenvolvimento de pesquisas e produção de insumos de saúde. 

Como cooperados que são, ao final de cada exercício, esses portadores de doença crônica também recebem parte dos resultados obtidos pela Savvy, de forma proporcional à colaboração de cada (sobras) . Além disso, têm direito a voto em processos decisórios e contam com uma rede de apoio mútuo que os ajuda a enfrentar suas doenças.

Para a pesquisadora  do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) Ana Carolina Bonelli esse modelo de compartilhamento de dados é positivo, pois tem a autorização dos usuários e ainda traz valor para os cooperados.

 Quando o dado passa pela gestão da cooperativa, ele passa pelo consentimento, por uma gestão de algoritmos, gerenciamento dos locais, de criptografia, de identidade de acesso. Se os cooperados acharam por bem compartilhar e serem remunerados por isso, por que não? Esse é outro ponto positivo do cooperativismo, os resultados são repartidos e fatiados”, ressalta Bonelli.

Vale destacar: sobreviventes de doenças graves, cuidadores, acompanhantes de portadores de doenças crônicas e autoimunes, profissionais de saúde também podem ser cooperados e colaborar com seus insights. A cooperativa tem ainda um programa de referência que remunera pessoas não membros ou cooperadas. Para ter acesso ao benefício basta indicar pacientes que aceitem participar da coop e queiram compartilhar informações.

DADOS PARA A SAÚDE DE TODOS

Com o lema “Meus Dados, Nossa Saúde” a cooperativa suíça MIDATA também coleta dados de pacientes com o objetivo de contribuir para pesquisas científicas sobre tratamentos de diferentes doenças. Ao contrário da Savvy, a MIDATA não cobra pelo compartilhamento de informações, portanto, também não remunera as pessoas que aceitam disponibilizar suas experiências no enfrentamento da doença.

A cooperativa desenvolveu uma plataforma que armazena dados de saúde coletados de startups, aplicativos, provedores de tecnologia, grupos de pesquisa, entre outros. O sistema foi desenvolvido pelas universidades suíças ETH Zurich e a de Ciências Aplicadas de Bern. 

Na plataforma, ficam armazenadas diversas informações sobre condição de saúde, detalhes de cirurgias, tratamentos, exames, medicamentos, documentos como prontuários médicos, características físicas dos pacientes, entre outros dados.

Os usuários da plataforma podem contribuir ativamente autorizando o uso de seus dados em pesquisas médicas e estudos clínicos. São eles que decidem livremente sobre o uso dessas informações em projetos científicos. E se quiserem podem se tornar membros da cooperativa, condição que dá direito a eles de participar do controle da organização.

Para atender aos requisitos de proteção e segurança, todas as informações “doadas” são criptografadas e apenas os usuários com conta têm acesso aos registros por meio de login. A cooperativa ressalta que garante a soberania dos cidadãos sobre a forma como os dados serão utilizados. 

O cooperativismo já tem em sua essência valores como a democracia, liberdade, equidade, solidariedade e justiça social, visando o bem comum. Tendo em vistas que as chamadas ‘Cooperativas de Dados’ são sistemas de gerenciamento de dados que pertencem aos seus membros, eles vão poder decidir a melhor forma de fazer uso destes dados. E o melhor, já o fazem tendo a cultura de governança destes dados para o bem comum e benefício dos cooperados como base”, destaca Fabíola Nader Motta, gerente geral do Sistema OCB.

CORONA SCIENCE

Fundada em 2015, a MIDATA também oferece serviços de desenvolvimento de aplicativos de saúde, estilo de vida e bem-estar, consultoria sobre questões éticas, apoio no gerenciamento e consentimento do uso de dados e outros.

Mas foi depois da pandemia que cresceu o número de projetos tecnológicos de coletas de dados lançados pela MIDATA, entre eles, o aplicativo “Corona Science”, que permite às pessoas que tiveram Covid-19  informarem sobre sua condição de saúde e os sintomas. Em contrapartida, o usuário tem acesso a várias informações e serviços de suporte.

Toda essa crise sanitária mundial acelerou muito a necessidade de compartilhar dados de maneira mais responsiva para o bem comum, em busca de soluções para produção de vacinas e outros fins”, completou Ana Carolina Bonelli, pesquisadora do ITS.

A acadêmica cita, ainda, outra cooperativa europeia de saúde que tem feito um trabalho de destaque quando se trata de compartilhamento de dados: a Salus Coop. 

Criada em 2017 na Espanha, a cooperativa engloba a atuação de diferentes atores para cumprir todo o fluxo de receber as informações dos usuários e de unidades de saúde públicas ou privadas, agregar essas informações e repassá-las de forma estruturada e segura para as empresas e outras instituições interessadas.

A coop desenvolveu um modelo tecnológico para garantir a confidencialidade dos dados, independente da forma como os outros atores tratam ou mantêm os dados. 

Em seu manifesto, a Salus Coop destaca que não tem fins lucrativos e que busca colaboradores voluntários para contribuir. Também convida as autoridades sanitárias para desenvolver licenças de uso e arquiteturas tecnológicas que incentivam a doação de dados, entre outras iniciativas que possam estimular as pessoas a dividirem informações que sejam úteis para acelerar as pesquisas científicas e o controle de estados de emergência, como a pandemia do coronavírus.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Histórias e jornalismo: um caminho para conquistar cooperados

A cada dois anos, um seleto grupo de cooperativas recebe do Sistema OCB o título de “Melhores do Ano” – um reconhecimento à criatividade, à visão estratégica e aos resultados obtidos, com reflexo nas pessoas e comunidades onde estão inseridas. 

Em 2022, na 13ª edição do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano, houve novo recorde de inscrições: foram 787 cases enviados por 431 cooperativas de todo o Brasil. Elas concorreram ao troféu de melhores do ano em seis categorias: Comunicação e Difusão do Coop, Coop Cidadã, Desenvolvimento Ambiental, Fidelização, Inovação e Intercooperação. 

Este é o maior prêmio do cooperativismo brasileiro, criado justamente para destacar os melhores projetos desenvolvidos pelo coop em áreas estratégicas para o fortalecimento do nosso movimento”, explica Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB. 

Na visão de Tania, a premiação ganhou o coração das cooperativas justamente por avaliar os benefícios gerados pelo coop para os cooperados e para a comunidade. “Cooperativismo é isso: buscar o desenvolvimento sustentável de todos, sem jamais esquecer de colocar a felicidade e o bem-estar das pessoas em primeiro lugar “, ressalta. A superintendente explica que um segundo objetivo do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano — tão importante quanto reconhecer a pujança do coop brasileiro — é divulgar projetos que possam ser replicados com sucesso por outras cooperativas. “Boas práticas existem para serem replicadas. Ao compartilhar as iniciativas das Melhores do Ano, estamos fomentando a intercooperação e trabalhando para melhorar os resultados de todo o cooperativismo”, finaliza.


FICHA TÉCNICA

Cooperativa: Sicoob Cocred (SP)

Ramo: Crédito

Projeto: Jornada do Cooperativismo

Indicadores de desempenho:

- 4 milhões de pessoas impactadas pelas mensagens da campanha nos seguintes canais de TV: EPTV e TV TEM (afiliadas da Rede Globo), SBT, Rede Record, TV Clube (afiliada Band) e Globo News 

- 399 mil acessos às matérias e textos publicados pela cooperativa no GSHOW, G1 e Portal A Cidade ON

- 97 mil pessoas ouviram a série jornalística “Especial Cooperativismo”, veiculada na rádio CBN e na plataforma de streaming Spotify.


A melhor forma de divulgar o cooperativismo é mostrando o impacto que ele gera na vida das pessoas. O Sicoob Cocred partiu dessa premissa para criar o projeto Jornada do Cooperativismo, uma campanha que impactou 4 milhões de pessoas das regiões de Sertãozinho, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Franca e Marília, onde a cooperativa atua e mantém postos de atendimento. Os públicos prioritários eram jovens de até 25 anos (cooperados em potencial) e os responsáveis pelas decisões de compras dentro de uma família (normalmente, as mulheres).

Consciente de que cada mídia tem sua própria linguagem e objetivo, o Sicoob Cocred investiu em diferentes produções audiovisuais. No rádio, optou-se pela produção de uma série jornalística de 10 episódios sobre cooperativismo, veiculada nos programas Manhã CBN e Giro CBN. Os podcasts da série foram disponibilizados no portal da rádio CBN e na plataforma Spotify. 

Na televisão, houve produção de matérias jornalísticas exibidas no jornal EPTV 1 e no programa Mais Caminhos. Também foi colocada no ar a minissérie “Cooperativismo e Impacto Social”, com quatro episódios, divulgada na internet e também nos seguintes canais de televisão: Band, Record, SBT, Globo e Globo News. 

Por fim, o Sicoob Cocred patrocinou a veiculação de matérias sobre o cooperativismo no  GSHOW, G1 e no site A Cidade ON.

Estou no Cocred há mais de 40 anos e sempre levantamos a bandeira do cooperativismo, mas com foco no nosso negócio. Por isso, era um desejo realizar uma campanha como essa, abrangente, que levasse à população os benefícios do cooperativismo em todos os setores. Ficamos muito satisfeitos com os resultados e recebemos feedbacks positivos dos gerentes, contando sobre pessoas que nos procuraram, após assistir à minissérie ou reportagens na TV, ou mesmo ouvir a série no rádio”, explica o diretor geral do Sicoob Cocred, Antonio Claudio Rodrigues.

O sucesso da campanha também pode ser medido pelo depoimento de Edson de Oliveira, um aposentado que se associou à cooperativa após ser impactado pela minissérie produzida pela cooperativa. 

“Quando ouvia falar de cooperativa, sempre vinha a minha mente o trabalho de reciclagem, de coleta seletiva. Não tinha ideia de quantas cooperativas existem no Brasil, de todos os setores onde elas estão, nem da força que elas têm. Nunca havia parado para pensar que o convênio médico é uma cooperativa, que o presunto vendido no mercado vem de uma cooperativa, nem sabia das vantagens de ser associado a uma cooperativa de crédito, em vez de ter uma conta em banco. Foi uma série bastante elucidativa”, comemora.

https://www.youtube.com/watch?v=_4_B_m-fXmg&list=PLd_xS9FKk7V-TRbd3cutn6-szXRlGpQfy&index=6


Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


R$ 1 Trilhão de oportunidades

Mudar vidas é uma das especialidades do cooperativismo. Aos 19 anos, Lívia Maria Duarte entrou para a Coopresa —única coop brasileira a prestar serviços de manutenção em aeronaves e componentes de aviação. Ainda muito jovem, ela ingressou na área administrativa em 1998, e se apaixonou pela possibilidade de ajudar aquelas aeronaves a alçarem voo.  A paixão foi tanta, que guiou toda a sua carreira. Ela cursou Ciência da Computação, fez especialização em aeronáutica, foi convidada a lecionar na PUC de Minas Gerais e passou uma temporada na iniciativa privada. Mas não teve jeito. O coop falou mais alto. Hoje, aos 44 anos, ela atua como como presidente da Coopresa — cargo que assumiu há sete anos.  

O cooperativismo mudou a minha vida, ao me dar a minha primeira oportunidade de trabalho. E ele segue fazendo isso todos os dias, ao me mostrar de diversas maneiras que as pessoas têm de estar sempre em primeiro lugar, ao contrário do que costuma acontecer na iniciativa privada”, elogia Lívia. “O coop é mais humano, mais solidário e mais justo.  E ele ainda gera resultados incríveis para as comunidades onde atuam.”

De fato, a Coopresa — assim como tantas outras cooperativas — movimenta a economia local, gerando emprego e renda para a comunidade. Somente um de seus braços de atuação, focado na manutenção aeronáutica de baixa complexidade, movimenta cerca de R$ 4 milhões por ano. Sem falar que gerou, entre 2019 e 2022,  275 novas oportunidades de trabalho na região.. 

 O coop faz isso mesmo: ele gera prosperidade por onde passa, na forma de trabalho, renda, programas de inovação, cursos, projetos sociais, ações de sustentabilidade e investimentos diretos na melhoria das comunidades”, explica Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. “É por isso este ano lançamos um desafio para as cooperativas de todo o país: atingir a meta de R$ 1 trilhão de prosperidade e de 30 milhões de cooperados até 2027.”

Essa cifra de R$ 1 trilhão, hoje, equivale à soma dos PIBs gerados pelos estados do Rio de Janeiro e Distrito Federal juntos. Recurso suficiente para construir 14 Brasílias do zero, já considerando os juros e as correções monetárias dos últimos 60 anos*. Tudo isso, revertido em trabalho, renda, oportunidades, negócios e prosperidade não apenas para o coop, mas para todos os brasileiros.   

“Chegou a hora de mostrar ao Brasil que o nosso jeito de fazer negócios gera resultados, sim. E resultados muito expressivos. Somos inovadores; somos éticos; trabalhamos com propósito e, além de tudo isso, somos sustentáveis! E é por isso que o coop será decisivo na retomada do crescimento da nossa economia”, finaliza Lopes de Freitas. 

META DEFINIDA A PARTIR DE DADOS

Ao convidar o coop a gerar R$ 1 trilhão em prosperidade para o Brasil, nos próximos cinco anos, a equipe do Sistema OCB se baseou em dados.

Nosso time analisou o desempenho histórico do cooperativismo e identificou uma média de crescimento de aproximadamente 19% 26% ao ano, mesmo durante a pandemia”, explica a superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.

A partir daí, foram projetados três cenários econômicos: um otimista, um moderado e um conservador. “Trabalhando em um cenário moderado, no qual ocorra uma recuperação paulatina, porém firme da economia, temos plenas condições de chegar em 2027 com faturamento anual de 1 trilhão de prosperidade para o Brasil. Mas para fazer isso, precisamos do esforço conjunto de todas as cooperativas e também das Unidades Estaduais”, acrescenta Tania.

Antes mesmo do lançamento do desafio do Sistema OCB — que ganhou o nome de BRC 1Tri —, as Unidades Estaduais da região Sul já estavam engajadas em campanhas regionais de promoção do crescimento do cooperativismo. O Sistema Ocepar, do Paraná, foi o pioneiro ao lançar o PRC200 — planejamento estratégico com uma meta ambiciosa: dobrar o faturamento das cooperativas do estado de R$ 100 bilhões para R$ 200 bilhões por ano. 

O PRC200 foi uma inspiração para nós”, reconhece Lopes de Feita. “O trabalho de dados e planejamento realizado, pelo Paraná, nos últimos anos é uma referência para todo o cooperativismo. ” 

Outra unidade estadual que também já adotou a cultura de definir objetivos para o cooperativismo é  o Sistema Ocergs. Por lá, o desafio central é alcançar R$150 bilhões de faturamento e 4 milhões de associados em cinco anos. O planejamento também busca gerar 100 mil empregos diretos, realizar R$ 300 milhões de investimentos em capacitação e distribuir R$7,5 bilhões de sobras líquidas anual.

No lançamento do projeto RSCOOP150, em setembro, o presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, destacou a relevância da iniciativa, reforçando que, além de resultados financeiros, as cooperativas têm o poder de gerar desenvolvimento regional integral. 

“O modelo cooperativo privilegia o desenvolvimento da comunidade como um todo, pois parte dos resultados e das sobras são reinvestidos em programas socioambientais, gerando riqueza e distribuição de renda para todos.”, afirmou Hartmann “Temos muitos desafios pela frente, mas onde tem cooperativismo pujante, tem desenvolvimento.”

POTENCIAL PARA CRESCER

Lívia Maria Duarte, presidente da Coopresa

Justamente por ter tido a vida transformada pelo coop, a presidente da Coopresa. Lívia Maria Duarte, também é entusiasta do BRC 1Tri. “Acredito que o coop brasileiro está maduro e pode ser protagonista no desenvolvimento econômico e social do nosso país”, aposta.

Desde 2015, quando retornou ao coop depois de uma temporada na iniciativa privada, Lílian é testemunha da resiliência e potencial de crescimento do nosso setor. 

Nosso segmento [prestação de serviços para aviação] foi muito afetado pela pandemia, mas não desanimamos. Na baixa, a gente se preparou para a retomada dos voos e, hoje, o cenário oferece muitas oportunidades para os nossos cooperados’, comemora.

Com a reativação dos voos e aumento expressivo das demandas, a Coopresa contratou uma consultoria de melhoria contínua para garantir o crescimento sustentável dos negócios. 

“Estamos nos preparando administrativamente e comercialmente para suportar todas as demandas do segmento. A pandemia mostrou a força que o cooperativismo tem. A força de mostrar que, mesmo em tempos difíceis, temos boas ideias, humanidade, capacidade de desenvolver a sociedade ao nosso redor. O cenário pós-pandêmico mostrou para o Brasil e para o mundo a potencialidade da economia solidária, da economia social, que são a base do cooperativismo”, acredita a presidente da Coopresa.

CRESCIMENTO COLETIVO

Aline Martins Mauri, é uma das cooperadas responsáveis pela Cafesul

Assim como transformou a realidade da presidente da Coopresa, o cooperativismo ajuda a tornar mais próspera a vida de um grupo de mais de 30 agricultoras familiares do Sul do Espírito Santo.  A iniciativa partiu da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul) e hoje o grupo de mulheres está à frente da produção de cafés especiais, com uma marca própria.

Desde que foi criada, em 2016, a iniciativa mudou a rotina de produção e a vida de muitas famílias do município de Muqui e localidades vizinhas. Aline Martins Ferreira Mauri, 33 anos, é uma das cooperadas responsáveis pela marca. 

Tenho muito orgulho de fazer parte do grupo Póde Mulheres e de ser uma cooperada, pois foi através da cooperativa que surgiu o nosso grupo e, com isso, nosso trabalho vem sendo reconhecido”, conta Aline.

A propaganda do produto detalha a nobreza e qualidade do trabalho: “O café traz aroma delicado, corpo cremoso e finalização prolongada, proporcionando uma experiência única ao saborear este delicioso café conilon especial”. 

Casada e com dois filhos, Aline é cooperada há 16 anos. “Unidos como cooperativa temos uma base mais forte, pois o cooperativismo abre várias portas para nós”, atesta. 

Fundada em 1998, a Cafesul reúne pequenos produtores de sete municípios da região Sul do estado do Espírito Santo no Brasil para promover o desenvolvimento sustentável das comunidades em que atua. 

Desde 2008, a cooperativa participa de um projeto de desenvolvimento regional sustentável para o café na região sul do estado, que envolve vários parceiros e estabelece diversas metas, como a melhoria na assistência técnica e na comercialização, a eliminação de atravessadores para a obtenção de melhores preços para o café; aumento da produtividade das lavouras e da oferta de cafés de qualidade superior.

https://www.youtube.com/watch?v=-iUqn6vlXYU


Esta matéria foi escrita por Thaís Cieglinski e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Abaixo o achismo

O mercado brasileiro parece ter aceitado a máxima de que “os dados são o novo petróleo”. A pandemia certamente acelerou mudanças, mas a busca pela utilização de dados para tomadas de decisões rápidas e precisas já vinha crescendo. Hoje, a gestão guiada por dados (data driven management) consolida-se como estratégia eficiente de negócios em diversos setores da economia, impactando também o cooperativismo. 

Para melhor entender os resultados e os desafios trazidos pela decisão de gerir um negócio guiado por dados, a Saber Cooperar convidou dois especialistas no assunto: Danielle Franklin, diretora comercial da Scala — empresa do Grupo Stefanini com foco na implantação de abordagens tecnológicas que exigem alto grau de especialização em negócios —, e Robson Mafioletti, superintendente do Sistema Ocepar, Unidade Estadual do Sistema OCB que é referência no trabalho com dados. 

Confira os melhores momentos  da entrevista:

Robson Mafioletti, superintendente do Sistema Ocepar e Danielle Franklin, diretora comercial da Scala


Qual é a diferença entre uma gestão tradicional e uma gestão guiada por dados?

Danielle Franklin: Quando uma empresa ou organização consegue transformar dados em informações relevantes para o negócio, está fazendo uma gestão orientada por dados. Por exemplo: se eu quero saber como divulgar uma determinada campanha de marketing, com foco na sensibilização de um determinado público, eu deveria consultar meu histórico de vendas antes de tomar qualquer decisão. Fazer escolhas baseadas e guiadas por dados é exatamente isso: o gestor não toma decisões baseadas em achismo. Ele faz isso baseado em uma ou mais informações, construídas a partir de dados e estatísticas históricas, que facilitam a tomada de decisões futuras. 

Robson Mafioletti: A gestão guiada por dados é a que, do nosso ponto de vista, dá certo; é a gestão profissional. Não é possível tomar nenhuma decisão importante sem levar em conta uma série de dados, números e estatísticas. É certo que decisões tomadas por feeling [intuição] ou baseadas em experiências anteriores fazem parte do dia a dia de um executivo. Mas, quando essa decisão é tomada com base em dados, via de regra, ela é muito mais assertiva. Aqui no Paraná, as cooperativas que trabalham com a gestão de dados são as que obtêm os melhores resultados. 

Em quais setores da economia esse modelo de gestão tem sido utilizado com maior êxito?

DF: Há setores que estão muito mais avançados na gestão guiada por dados, como a indústria financeira. Tecnologicamente falando, a indústria financeira é o que chamamos de early adopter, ou seja, foi a primeira a adotar uma tecnologia de ponta. O varejo também largou na frente, até porque depende muito de dados para tomar decisões sobre o que comprar, quando comprar, quando mudar o preço etc. Mas, de uma forma geral, o mercado brasileiro já entendeu que "os dados são o novo petróleo". O problema é que, para ser uma empresa com a cultura data-driven [guiada por dados], é preciso fazer investimentos que algumas instituições ainda estão receosas em fazer.

RM: Dentro do cooperativismo, os ramos Crédito, Saúde e Agropecuário são destaque. Nas cooperativas de crédito, todas as decisões são baseadas em dados — dos cooperados e do mercado; no ramo Saúde acontece o mesmo. O Sistema Unimed tem trabalhado muito com Inteligência Artificial (IA) e uso de dados para obter melhores resultados. Nas cooperativas do agronegócio, os dados são fundamentais para viabilizar a agricultura de precisão.  

O uso de dados também cresceu muito em diversas áreas internas das cooperativas, como na pesquisa e assistência técnica para os nossos cooperados. A área comercial é outra que utiliza bastante números e indicadores. Elas acompanham o mercado e as bolsas internacionais (Chicago, Nova York, B3, em São Paulo) para tomar decisões mais assertivas.  

Como saber se está na hora de investir em dados para melhorar a gestão de negócios? 

DF: A pergunta que o negócio tem que se fazer é: que tipo de informação eu gostaria de ter para tomar melhores decisões? Essa informação é essencial para o meu negócio? Se a resposta for sim, essa empresa ou cooperativa deveria investir em dados, com certeza.

RM: Negócios mais complexos, que precisam tomar decisões com mais informações, vão ser mais beneficiados pela gestão guiada por dados. Temos aqui, no Paraná, muito trabalho de agricultura de precisão. As cooperativas do Ramo Agropecuário têm de pôr a semente adequada, no local adequado, com a quantidade certa de  fertilizante e defensivo agrícola. Um negócio como esse com certeza vai se beneficiar de dados para a tomada de decisão. Já os negócios mais físicos, que têm mais atividades corriqueiras, via de regra, terão menos benefícios. Falo de atividades mecânicas, rotineiras, como o pessoal que cuida do cafezinho da empresa. 

Como agir em situações de contextos complexos, cujos dados não são conhecidos ou não há dados suficientes para uma análise completa da situação?

DF: O que fazemos como consultoria: entramos nas empresas fazendo o que chamamos de Assessment [um tipo de avaliação interna, que envolve relatórios, reuniões etc]. Nesses eventos,   sentamos com todas as áreas da organização — vendas, marketing, logística, contabilidade, entre outras — e entendemos o que essas áreas gostariam de ter como informações para insights; o que gostariam de saber. 

Depois, apontamos para eles que tipos de dados seriam necessários para ter aquela informação e mostramos como implementar a solução. Em seguida, cria-se um repositório que permita guardar e consultar esses dados facilmente. Ele precisa oferecer visualizações do passado e visões do futuro, usando estatística e matemática, ou seja, a famosa Ciência de Dados.

RM: Isso é um problema sério, mas acaba acontecendo. Até pela aceleração dos processos, com tomadas de decisão rápidas, é um problema não ter dados completos. Nesses casos, temos de usar o que têm [de dados] e buscar novas informações. No ambiente cooperativo, dialogamos muito.  Usamos a experiência de quem tem mais vivência no mercado como uma fonte de informação para tomar decisões mais assertivas, mas esse não é o melhor caminho. O ideal seria construir uma base de dados.

Visualizar dados e informações nem sempre é o suficiente, na hora de tomar uma decisão. É sabido que eles podem "mentir", se não forem coletados e analisados da forma correta. Diante desse problema,  como transformar dados em conhecimento?

DF: Esta é uma pergunta excelente. Muitas empresas nos chamam para construir relatórios, dashboards, ou até para montar modelos matemáticos e estatísticos que ajudem a prever o futuro. O que muitas esquecem é que, antes de qualquer coisa, é preciso garantir que eles estejam visualizando um dado correto, realmente fidedigno ao histórico dos fatos. 

Muito antes de pensar em visualizar, é preciso pensar no que chamamos de governança de dados — uma política de controle que garanta que esses dados são verdadeiros, têm qualidade e estão seguros, já que refletem as informações sensíveis da sua empresa. 

Somente depois de construir essa governança, é possível ter certeza de que os dados são confiáveis e capazes de antecipar futuros. Uma empresa que fizer qualquer visualização ou previsão em cima de dados não organizados e sem qualidade pode prever algo completamente errado e levar o negócio ao caos. 

RM: Se você tomar uma decisão baseada em dados com dados ruins, sua decisão será ruim. É aí que entram os engenheiros, administradores, cientistas de dados e economistas. Eles precisam checar esses dados e organizá-los de forma lógica. Não dá para gastar energia, capital com dados se não forem confiáveis. É preciso realmente checar as fontes e a precisão dos dados. Esse é um desafio que temos. Nessas horas, um bom gestor, com experiência no setor onde  atua, faz muita diferença, pois se alguém mandar dados muito estranhos ou fora da curva, ele perceberá logo que a informação não está correta. 

Como o cooperativismo pode beneficiar as cooperativas e seus cooperados com ferramentas de inteligência de mercado (BI) e gestão guiada por dados?

DF: Uma boa prática de mercado é o compartilhamento de dados. Todas as cooperativas deveriam compartilhar os dados dos setores nos quais atuam entre si. Dessa maneira, elas estarão gerando informações capazes de beneficiar todo o cooperativismo.  

RM: O trabalho com dados pode beneficiar o cooperativismo de diversas maneiras. Analisando uma grande base de dados, teremos condições de tomar decisões mais precisas e acertadas, gerando melhores e maiores resultados para os nossos cooperados. Além disso, usando ferramentas de inteligência de mercado, podemos tomar decisões mais rápidas e efetivas, profissionalizando a gestão cooperativista. 

Estamos avançando na construção de uma base de dados unificada para as cooperativas do Paraná. Montamos uma Cooperativa Central de TI, chamada Uni-TI [criada em dezembro do ano passado], para que as cooperativas compartilhem o que for possível de informações, e façam uma gestão mais adequada de seus dados.

Existe algum campo econômico no qual a gestão guiada por dados não se aplique ou não seja viável? 

DF: Sinceramente, acredito que em todos os setores da economia existam dados que possam virar insight [inspiração] para decisões estratégicas de negócio. Tudo o que tem a ver com entender o comportamento de alguém tem a ver com dados. E em todas as áreas essa realidade se aplica. 

Vou dar um exemplo: será que o pessoal que cuida da limpeza não precisa saber a hora de comprar  material para o próximo mês? Como fazer uma previsão correta para não comprar nem a mais, nem a menos? Outro problema comum nesse segmento: quantas pessoas é preciso colocar dentro de um shopping na época do Natal para limpá-lo? Baseando-se no fluxo de pessoas e no histórico de consumo dos produtos de limpeza, é possível tomar decisões mais assertivas. E tudo isso são dados.

RM: Que eu saiba, não. Em qualquer campo do conhecimento ou da economia, é difícil tomar decisões sem estar baseado em dados. Isso vale tanto para a parte econômica quanto para a parte social de um negócio.

Amplificação de mercados

O Sistema OCB defende a ampliação das possibilidades, legais e regulatórias, de participação do cooperativismo no setor de seguros. Além de ser um novo modelo de negócios na área, o cooperativismo poderá ser protagonista em políticas de acesso a produtos e serviços locais a preços mais competitivos. 

No mercado de seguros mundial, existem 5,1 mil cooperativas, distribuídas em 77 países e com mais de 900 milhões de segurados. Em ativos, os números alcançam quase US$ 9 trilhões e representam 27% do mercado, gerando mais de 1 milhão de empregos, segundo dados da Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos.

Na Câmara dos Deputados, tramita o PLP 519/2018, que, após a atuação da OCB e da Frencoop, passou a permitir a participação das cooperativas no mercado de seguros no Brasil. Já aprovado na comissão especial responsável pelo tema, o projeto não chegou a ser votado em plenário. Em 2021, o Sistema OCB, o Ministério da Economia e outros setores envolvidos no tema chegaram a um consenso sobre uma nova proposta. "Isso foi um grande avanço. Agora estamos esperando que o governo mande o projeto para a apreciação do parlamento", destacou Clara Maffia.

Hoje, as cooperativas podem operar unicamente em seguros agrícolas, de saúde e de acidentes do trabalho. O Sistema OCB busca suprimir essa limitação, para que as cooperativas possam atuar em novas atividades, atendendo às necessidades dos seus cooperados, respeitando as características únicas do cooperativismo e, claro,  com a devida fiscalização da Superintendência de Seguros Privados (Susep). 

"O mercado de seguros no Brasil é muito concentrado e não atende os pequenos. Não existe microsseguro, por exemplo. Então, muita gente que não está nos parâmetros das seguradoras não consegue ser atendida. Isso é o caso de muitas transportadoras", explica Clara Maffia. "A prestação de serviço de seguros por cooperativas vem exatamente suprir esse nicho", destaca.

A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB ressalta que, em outros países, há cooperativas de seguro tão relevantes quanto as de crédito.

Mais de 30% do mercado de seguros no mundo está nas mãos de cooperativas", informa Clara. "Então, não tem nenhum sentido termos aqui no Brasil essa restrição de atuação. Esperamos que, em breve, essa situação seja revertida", afirma. 

PARTICIPAÇÃO DAS COOPERATIVAS EM LICITAÇÕES

A presença das cooperativas em processos de licitação também é uma das prioridades da Agenda Institucional do cooperativismo. O Sistema OCB atua em várias frentes, para garantir que não haja restrições a essa participação, como ainda ocorre em muitos casos. Foi criado um Grupo de Trabalho exclusivo para discutir o tema, e foram elaborados materiais informativos e pareceres e defesas com jurisprudência favoráveis às cooperativas. 

Nosso objetivo é continuar buscando o reconhecimento das cooperativas como modelo de negócio sustentável e capaz de contribuir para a elevação do status socioeconômico dos seus cooperados, e de impactar a vida de milhares de pessoas através dos valores e princípios do cooperativismo nas contratações públicas”, afirma o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. 

Segundo a gerente Jurídica do Sistema OCB, Ana Paula Rodrigues, a entidade participa como amicus curie, fornecendo subsídios e informações para a decisão do ministro Og Fernandes, responsável pela decisão do tema no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Enquanto o STJ não se posiciona, a recomendação do Sistema OCB é que as cooperativas impedidas de participar das licitações entrem com medidas administrativas e, se necessário, judiciais. 

"Em estados onde as cooperativas de trabalho estão mais bem estruturadas, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo, estamos conseguindo derrubar as restrições no Judiciário, mostrando que não há subordinação de mão de obra ou algum benefício irregular. Mas, em muitos casos, não. É muito importante para as cooperativas que haja uma definição sobre esse assunto, o que nos garante segurança jurídica para participar dos processos", finaliza Ana Paula.


Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 38 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Visão externa

Líder nato e fundador do maior e-commerce de vinhos da América Latina, a wine.com.br, Rogerio Salume ensina que o bom líder é aquele que cuida bem tanto do time quanto de si mesmo. “Não existe sucesso, não existe gestão de alto impacto. Não existe liderança de impacto se você [o líder] não estiver bem”, explicou o palestrante da Semana de Competitividade.

Para Rogerio, a única maneira de liderar com entusiasmo e assertividade é estando com a saúde física e mental em dia. Outra característica fundamental, segundo ele, é amar o que faz e gostar de pessoas. Todo tipo de pessoa.

Rogerio Salume, fundador do wine.com.br, maior e-commerce de vinhos da América Latina

“Um líder de impacto faz questão  de montar um time diverso. Tem de ter mulheres liderando, pessoas de diferentes culturas. É preciso pensar nisso. Quando a gente tem um time múltiplo, com empatia, inteligência emocional e resiliência, fica mais fácil vencer qualquer desafio”, recomenda.

Estudiosa do tema liderança, a psicanalista Ana Tomazelli acredita que todas as pessoas dentro de uma organização cooperativista devem ser ouvidas e consideradas, especialmente pelos líderes. A atitude não é para que se busque concordância em eventuais debates, discussões e decisões, mas para que seja possível encontrar pontos de consenso e estabelecer acordos para o comprometimento de todo o grupo.

Em relação às cooperativas, uma boa formação de líderes está relacionada à consolidação dos serviços e de gestão, na medida em que um cooperado é igual a um voto, diferente de outras estruturas, em que o capital investido, por exemplo, determina quem tem mais poder. Com essa distribuição de poderes mais horizontal, a articulação diplomática e a influência ganham novos pesos e contornos, tornando-se, também, centrais na dinâmica de funcionamento das equipes.

Nesse sentido, diz Ana, um bom líder cooperativista deve ter, entre suas características, a capacidade de escutar e de promover a escuta com todo o corpo, tempo e atenção possível. Escutar não para responder ou retrucar ou contrapor ou concordar, mas a partir de um interesse genuíno por aquilo que a outra pessoa tem a trazer e por acreditar que ela é importante para o processo. A habilidade de perguntar também é fundamental.

“Só é possível formular perguntas que aprofundam e avançam se a liderança realmente se coloca a serviço do todo e da outra pessoa diante de si”, afirma. “Um questionamento bem feito e bem intencionado tem o poder de colocar muitas coisas em movimento, de emoções e pensamentos, o que pode ser fundamental no estabelecimento de segurança psicológica para o time.”

O raciocínio é acompanhado por Elizabete Belvão, executiva de gestão de pessoas do Grupo Crowe Macro. Segundo ela, o bom líder nasce da escuta e da troca de experiências com as pessoas que ele encontra ao longo de sua trajetória profissional. 

“Líderes bem capacitados e que sabem como formar novos líderes ajudam a equipe a superar desafios. E é importante que eles fiquem em constante aprendizado. Um líder qualificado consegue potencializar seu conhecimento e tornar suas ações mais assertivas na cooperativa que coordena. Isso, com certeza, gera mais resultado para a cooperativa e os associados”, considera. 

De acordo com a Elizabete, é primordial que o líder cooperativista seja sincero e verdadeiro em todas as suas ações Ele também precisa ter integridade em relação à sua atuação cotidiana e habilidade de comunicação para conseguir motivar e instruir os membros da cooperativa, além de orientá-los. Outro aspecto importante, segundo ela, é a lealdade. E, por último, mas não menos importante a capacidade de desenvolver pessoas. Selecionar e recrutar bem, treinar as pessoas e motivá-las, além de ter inteligência emocional para transformar a equipe, ajudá-la de acordo com as necessidades e lidar com as pressões. “Com esse perfil completo, ele vai alcançar os objetivos almejados por sua cooperativa”, explica. 


Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação