Um novo mercado para as cooperativas brasileiras

Nenhuma crise assusta o cooperativismo! Nosso jeito diferente de fazer negócios nasceu durante uma crise de desemprego, na Inglaterra, e desde então provou ter resiliência para crescer em tempos turbulentos, como a crise econômica global de 2008 e a pandemia de Covid-19, em 2020.  Agora, neste exato momento, o coop enfrenta um novo momento desafiador: a emergência climática provocada pelo aquecimento global. É o momento de olhar para os impactos ambientais das nossas atividades, sim, mas também de mostrar ao mundo que somos parte da solução, e não do problema. 

As cooperativas do Brasil e do mundo têm um imenso potencial para "descarbonizar a economia”, garantindo um futuro mais justo e ambientalmente seguro para as próximas gerações. Uma das maneiras de fazer isso é assumindo a liderança do chamado mercado de carbono, em que a redução de emissões de gases de efeito estufa é quantificada e transformada em um ativo negociado no mercado internacional.

Um crédito de carbono corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitida na atmosfera. O preço é volátil e, em 2022, cada crédito chegou a ser negociado a US$ 10. Existe um mercado internacional regulado — em que países negociam créditos para cumprir suas metas obrigatórias de redução de emissões — e um voluntário, onde atua o setor privado.

Até 2030, o Brasil pode gerar até US$ 120 bilhões de receitas em créditos de carbono e atender a 48,7% da demanda mundial do mercado voluntário por esses ativos. A projeção está em um estudo da consultoria WayCarbon e da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), e considera o preço de US$ 100 por tonelada de CO2, valor estipulado pelo mercado voluntário de carbono (TSVCM) em um cenário otimista. “Hoje, o Brasil atende a cerca de 12% da demanda global no mercado voluntário, percentual quatro vezes maior do que em 2019”, compara a gerente-geral de consultoria da WayCarbon, Laura Albuquerque.

O imenso potencial do Brasil nesse mercado está diretamente ligado à agropecuária, à produção de energias renováveis e à preservação e recuperação de florestas, atividades com grande capacidade de geração de créditos de carbono. E o cooperativismo está em todas elas, principalmente no Ramo Agro, em que somos responsáveis por 51% da produção nacional.

Agora, temos um desafio de informação e escala para colocar o cooperativismo como protagonista no mercado de carbono. A maior parte das cooperativas agropecuárias já utiliza tecnologias de agricultura de baixo carbono, por exemplo, e têm entre seus cooperados um potencial enorme quando se fala das florestas das matas nativas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (APP). Os processos produtivos, dentro do coop, já estão realizando esse sequestro de carbono. O que precisamos, agora, é de informação e apoio para que as cooperativas consigam mensurar isso com os protocolos adequados”, explica o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.

===========================================================

 ENTENDA O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

O mercado de carbono surgiu para dar valor financeiro à redução de emissões de gases de efeito estufa e transformar o dióxido de carbono (CO2) que deixou de ser emitido na atmosfera em um ativo que pode ser negociado no mercado internacional entre governos e pelo setor privado.

O mecanismo foi criado com o Protocolo de Kyoto, que determina metas de redução de emissões de gases de efeito estufa pelos países ricos. Como os países em desenvolvimento não tinham metas obrigatórias, poderiam transformar suas ações de mitigação em créditos para serem vendidos para quem precisasse compensar suas emissões.

A ideia foi viabilizada por meio do Mecanismo do Desenvolvimento Limpo (MDL), em que os créditos de carbono são validados pela própria ONU e por entidades nacionais, como a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, no caso do Brasil.

Paralelamente ao mercado regulado, ligado às metas obrigatórias de Kyoto, surgiu um mercado voluntário em que empresas, instituições financeiras, ONGs e outros agentes também negociam créditos de carbono oriundos de reduções voluntárias de emissões.

Em 2015, com a atualização dos compromissos globais com a crise climática no Acordo de Paris, todos os países — ricos e em desenvolvimento — passaram a ter metas obrigatórias de redução, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC). A mudança deu um novo impulso para a criação de um mercado regulado global de carbono, com participação de governos e empresas, e metas estabelecidas para diferentes setores, cujas regras seguem em definição.

===================================================================


Esta matéria foi escrita por Luana Lourenço e está publicada na Edição 40 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Conteúdos Relacionados