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Olhar maduro

Para muitas pessoas a cooperativa é a oportunidade de sustentar a família, além da conquista da casa própria – por meio de projetos habitacionais da cooperativa – e de estudos, também pelas parcerias com instituições educacionais. "Temos sócios com mais de 80 anos de idade que desempenham brilhantemente suas atividades e são gratos pelo trabalho, que lhes dá prazer de viver, em primeiro lugar”, afirma a presidente da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa), Imanjara Marques de Paula.

Imanjara Marques de Paula, presidente da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa)

Aos 69 anos,  Sandra Chaves é uma dessas cooperadas que não pretende deixar de trabalhar. Associada da Cootravipa desde 1991, ela foi supervisora da varrição durante 30 anos. Hoje, exerce a função de auxiliar de serviços gerais nos sanitários públicos do centro da capital gaúcha. Com o trabalho na cooperativa, criou os cinco filhos e construiu a casa própria.

A Cootravipa é tudo para mim, eu vivo pela Cootravipa. É uma porta aberta para quem precisa de ajuda e de traballho”, confessa.

A presidente da instituição, filha dos fundadores da cooperativa, orgulha-se de sempre ouvir depoimentos como esse.

Nossa missão é oportunizar acesso ao trabalho e proporcionar renda àqueles que não se enquadram no perfil do mercado, além dos idosos, muitos deles responsáveis pela renda familiar. Eles merecem mais do que nossa acolhida, merecem nosso respeito pela experiência e o muito que têm a nos ensinar”, elogia Imanjara.

Fundada em 15 de julho de 1984, a Cootravipa é oriunda do movimento comunitário da Zona Sul de Porto Alegre, mais precisamente da Grande Cruzeiro, onde, na década de 80, mais de 3 mil desempregados viviam com suas famílias à margem da sociedade, muitos deles sem trabalhar há mais de nove meses. A União de Vilas e comunidade decidiram montar acampamento na Praça da Matriz, para reivindicar junto aos governos municipal e estadual uma solução para o desemprego e miséria. A oferta foi de 200 vagas de trabalho pela Prefeitura. 

Animada com a possibilidade, a comunidade começou a discutir a proposta de abrir uma cooperativa. “Naquela época, eram necessárias 20 pessoas com capital suficiente para pagar a cota-capital, mas a maioria era desempregada. Foi organizada uma arrecadação para quem não tinha o valor necessário e cada um colaborou com o que podia”, conta Imanjara Marques de Paula. A Cootravipa iniciou com 23 fundadores: 18 homens e cinco mulheres. Atualmente, são 706 mulheres no quadro de sócios, de um total de cerca de 2.500 associados. 

DNA PARA INCLUSÃO 

O advogado Waldyr Colloca, 54 anos, especialista em direito cooperativo, considera as cooperativas importantes ferramentas de inclusão social e financeira, à disposição de qualquer pessoa ou grupo.

Elas são uma sociedade ferramental, um utensílio, não têm um fim em si mesmas, só têm sentido se estão nas mãos das pessoas. Qualquer pessoa ou grupo que se junta tem potencial para criar uma cooperativa”, afirma.

No atual cenário econômico — em que não há vagas para a grande massa que está procurando emprego, no auge da capacidade produtiva —, fica ainda mais difícil encontrar alternativas para quem está à margem da sociedade, seja porque são mais velhas, seja porque já foram ou estão presas. Nessa realidade, o cooperativismo faz sentido, por juntar o saber fazer com um projeto.

As cooperativas fazem muito sentido para idosos, ex-detentos e detentos, mas não são um modelo criado para eles; não têm essa intenção intrínseca, mas podem ser utilizadas para esse fim. Há vários projetos bacanas que se preocupam com a reintrodução das pessoas a partir dos 50 anos no mercado de trabalho. O mais legal seria formar não uma cooperativa só de idosos, mas com uma mistura de idades. Ambos os grupos têm muito a ensinar e a aprender em um mundo que descarta uma geração mais antiga e pega uma nova”, considera Waldyr Colloca.

Ainda segundo Colloca, quando se fala em cooperativismo para pessoas acima dos 50 anos, não faz muito sentido pensar em outro ramo que não o das cooperativas de trabalho. “Enquanto as demais cooperativas servem para incluir ou reincluir empreendedores de qualquer idade no mercado de negócios, as cooperativas do ramo de serviços são aquelas que, por natureza e vocação, se consubstanciam na mais preciosa e adequada ferramenta de reinserção dos profissionais excluídos no mercado de trabalho”, explica.

De fato, cooperativas são instrumentos de inclusão, jamais de isolamento. Por isso, elas deveriam abrir espaço para pessoas de todas as idades. “Me parece uma ideia bastante plausível e interessante que a ‘comunidade madura’ se reúna em torno de um projeto cooperativista; não há dúvida nenhuma de que faz mais sentido ainda que esse mesmo grupo, visando não só a integração entre gerações, como também — e sobretudo — a inversão dessa perversa lógica, segundo a qual uma geração precisa desaparecer para dar lugar à outra, aceite de braços abertos o ingresso de associados mais jovens”, finaliza o advogado.


Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De mãos dadas

Aureliana Rodrigues Luz

Atravessar o temporal de pé enxuto: essa é a meta que Aureliana Rodrigues Luz, 49 anos, se impõe quando está diante de dificuldades. Presidente da Unidade Estadual do Sistema OCB no Maranhão, ela traz da Assistência Social (sua área de formação) uma série de contribuições para tornar o cooperativismo uma via de emancipação para as mulheres. 

Nas andanças pelo estado, Aureliana se reúne com as cooperadas e as estimula a participar do dia a dia de suas organizações. As ações de promoção da equidade de gênero já surtiram efeito e fizeram com que a participação feminina alcançasse 30% no cooperativismo maranhense.

As mulheres foram galgando posições de liderança no cooperativismo, desenvolvendo áreas e funções que outrora eram exclusivamente ocupadas por homens. Mas sabemos que ainda existe significativa resistência e preconceitos contra a potencialidade feminina”, alerta a executiva, que foi a responsável pela criação de duas cooperativas: uma de pescadores e outra de marisqueiros. 

Em meio à pandemia, a presidente do Sistema OCB-Sescoop do Maranhão incentivou as cooperativas a investirem nos cursos a distância e a buscar caminhos de intercooperação.

Por incrível que pareça, nos aproximamos mais, fizemos mais parcerias e só assim atravessamos esse temporal de pé enxuto”, conta Aureliana. 

“Estamos agora mantendo nossas conexões com os parceiros, na certeza de que esses desafios serão vencidos e o cooperativismo continuará contribuindo para o desenvolvimento social, político e econômico.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Guardiã da semente

Micheli Bresolin

Uma das lideranças mais jovens do cooperativismo Agropecuário mora no Rio Grande do Sul e preside a Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt). Micheli Bresolin tem 32 anos e é formada em matemática. A família trabalha com o cultivo de banana há três gerações, produção que começou com os avós maternos.

Minha avó capinava de guinchado. Minha mãe nasceu e cresceu naquela propriedade. Casou-se e permaneceu ali. Eu saí pra estudar, mas já pensando em voltar”, conta Micheli. Hoje, a família trabalha com a produção de banana orgânica voltada, principalmente, para o mercado de alimentação escolar. A transição para um cultivo sem agrotóxico teve a ajuda da Coomafitt, cooperativa criada há 15 anos.

“Foi necessário adaptar a produção para o uso de roçadeira e biofertilizantes. Durante a transição, houve queda na produtividade, já que as bananeiras estavam acostumadas a crescer com a adubação química. Quando você tira isso, a produção decai, mas, com as técnicas adequadas, logo volta a subir”, explica a agricultora, que, além de cursar matemática, fez curso de manejo do açaí e gestão comercial. Em 2015, iniciou a carreira na Coomaffit. Primeiro, como funcionária; depois, como cooperada e diretora.

Micheli junto à família | Divulgação Coomafitt

Na presidência da cooperativa desde março de 2021, Micheli lidera 272 pequenos produtores, compartilhando com eles as experiências da própria família. No contato diário com os cooperados, mostra como o cooperativismo pode melhorar a vida dos agricultores, que deixam de depender de atravessadores para comercializar seus produtos. O objetivo é alcançar autonomia e garantir um preço justo pela produção. A diversificação dos cultivos e a parceria com as escolas também são caminhos defendidos por ela.

A presidente da Coomaffit reconhece que, nos últimos anos, houve um aumento da liderança feminina no cooperativismo e no agro. Antes, as cooperadas trabalhavam apenas em casa e na roça. Os homens assumiam a parte comercial. 

As mulheres não tinham sequer talão para emitir nota fiscal no nome delas. É um longo histórico de submissão. Temos atuado para mudar isso, por meio de rodas de conversa e formação”, conta. 

Outro eixo de trabalho de Micheli é a juventude. Ela quer garantir a permanência dos jovens no campo. Para isso, estabelece parcerias com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Redecoop — cooperativa de abastecimento de alimentos da agricultura familiar que fomenta a intercooperação no campo — para a realização de cursos e assistência técnica. Com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ofereceu até mesmo um curso sobre liderança de jovens e mulheres.

Durante a pandemia, um dos maiores desafios da presidente da Coomafitt foi manter as cooperativas motivadas. Com o fechamento das escolas, o escoamento da produção sofreu um grande impacto. A alternativa foi investir nas vendas on-line para os municípios do litoral gaúcho. A cooperativa chegou a entregar cerca de 100 cestas semanais.

Este ano, a estratégia de ampliação de vendas está focada no aumento da certificação da produção agroecológica e na adoção de ferramentas de rastreabilidade, que oferecem ao consumidor a possibilidade de checar por QR Code a procedência dos produtos dos cooperados — principalmente da banana orgânica. 

Estou tão focada no nosso trabalho que levei até um susto quando fui avisada do prêmio da Forbes. Nunca imaginei que pudesse causar um impacto tão grande. Os homens perguntam como conseguimos chegar lá. Parece até que não é pelo nosso esforço”, reclama Micheli, que hoje se vê como uma mulher representando outras.

“A mulher na história sempre foi importante para a agricultura familiar. A mulher é a guardiã da semente. Estamos desafiando a lógica do machismo. A mulher é capaz de produzir, coordenar e mostrar para tantas mulheres que elas podem se desafiar, e que vai dar certo.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Mulher atual

A história de Débora Cristiane Noordegraaf, 50 anos, com o agro e o cooperativismo começou há quase três décadas, no Paraná. O interesse do marido pela suinocultura envolveu toda a família e levou o casal para o cooperativismo. A Castrolanda Cooperativa Agroindustrial ajudou a transformar os sonhos dos Noordegraaf em realidade.

Fiz um curso na cooperativa, que se chamava Mulher Atual e era voltado para autoconhecimento, bem-estar e saúde. Estávamos em um grupo de seis mulheres e ficamos tão maravilhadas com esse curso que resolvemos mostrar nosso interesse em realizar mais cursos”, lembra a hoje coordenadora da Comissão Mulher Cooperativista da Castrolanda. 

Débora Cristiane Noordegraaf

Depois da primeira formação, Débora seguiu em busca de mais capacitação para ela e para outras mulheres, tanto na área técnica do agronegócio como na parte de liderança, oratória e posicionamento gerencial. A Comissão da Mulher, criada há 12 anos, passou a organizar iniciativas de difusão dos princípios do cooperativismo nas escolas de ensino fundamental e médio, o que tornou a Castrolanda pioneira na implementação das cooperativas escolares. Essas ações contribuíram para que as mulheres cooperadas hoje sejam 30% do quadro social da cooperativa.

Vemos que as mulheres estão mais atuantes, buscando conhecimento, se capacitando. Quando você começa a entender o que é a cooperativa e como ela funciona, a tendência é querer se capacitar mais, e isso só traz benefícios para nós, mulheres, e para a Castrolanda”, avalia Débora.

De olho na sustentabilidade da cooperativa, a coordenadora da Comissão da Mulher sonha trazer mais cooperadas e formar novas lideranças femininas dentro da Castrolanda.

Fico muito feliz e grata pelo reconhecimento a nível nacional, isso nos incentiva a seguir com nossas ações.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Rainha da soja

Ela transformou o luto em força para construir um novo futuro. Cecilia Falavigna, 77 anos, ficou viúva há 25 anos. Na época, não tinha experiência nem conhecimento sobre os negócios da família. O marido trabalhava com plantação e venda de café no Paraná. Cecília era professora de matemática e ciências no ensino fundamental. Ele cuidava da fazenda. Ela se dedicava aos filhos em Maringá. Uma das filhas, com síndrome de Down, exigia mais dedicação e cuidados especiais. 

Quando meu marido morreu de câncer, muita gente falou ‘vende, arrenda, cria gado’. Mesmo sem entender nada de roça, decidi não fazer nada disso e estou aqui, até hoje, com a minha propriedade”, conta a paranaense, que atribui boa parte da jornada de sucesso ao apoio dado pela Cocamar Cooperativa Agroindustrial, onde se tornaria conselheira e diretora.

Eu disse para a cooperativa: estou aqui, preciso do apoio de vocês. Eu preciso de apoio para poder tocar os negócios da família. Foi aí que comecei. Não tinha noção de quantidade, mas a cooperativa me orientou sobre os alqueires, quanto eu precisava de adubo e de fertilizantes. Esta parte técnica toda ficou por conta da cooperativa.” 

Com a decisão de que continuaria com o agronegócio, Cecília passou a frequentar periodicamente o campo, para se familiarizar com a rotina, e contou com o apoio de funcionários antigos. Fez cursos sobre novas tecnologias, mercado de compra e venda de produtos agrícolas. 

A agricultora resolveu apostar na diversificação do cultivo e passou a plantar milho, soja e laranja nas terras da família em Floraí, a 50km de Maringá, no Paraná. A ousadia e a persistência logo renderam bons frutos. A fazenda passou a ser uma das principais produtoras de laranja do Brasil.

Nem todo mundo, no entanto, reconheceu de imediato o talento de Cecília para os negócios. Afinal, era uma mulher plantando grãos em um ambiente predominantemente masculino. Ela sentiu dificuldade até em conseguir financiamentos para continuar investindo na produção.

 

Recebi vários nãos. Mas pensava: se eu não conseguir aqui, consigo lá. Nunca tive medo. Eu sempre enfrentei, sempre fui atrás”, lembra.  

 

 

 

 

O resultado não poderia ser diferente: as fazendas de Cecília — Santa Ana e Esperança — são referência em produtividade e acumulam vários prêmios no currículo. A agricultora é tricampeã no concurso de máxima produtividade em soja, promovido pela Cocamar. No primeiro ano em que participou da premiação (2012), produziu 74 sacas de soja por hectare. Na colheita de 2018, a produtividade foi de 95 sacas — o equivalente a 5,7 toneladas de grãos —, um aumento de quase 30% em relação ao primeiro ano.

De tanto ganhar prêmios pela produtividade de suas terras, Cecília passou a ser conhecida no setor como “rainha da soja”. O título foi concedido após ela ganhar a premiação de uma multinacional que avaliou a safra de grãos em 2015/2016. Desde então, ela vem, aos poucos, reduzindo o ritmo de trabalho para que o filho assuma os negócios. 

Ainda assim, acompanha o plantio, a colheita e permanece atenta às inovações tecnológicas.

Enfrentamos dificuldades com a pandemia e vamos enfrentar ainda mais agora, com essa guerra da Ucrânia, por conta da importação de fertilizantes”, lamenta Cecília. “Mas nós, mulheres, não podemos ter medo de plantar. Temos que colher para nós e para o mundo.”

 

 



Tu trabalhas, ele e ela trabalham. E eu? Também quero trabalhar!

Com uma deficiência intelectual que a impediu de aprender a ler e escrever quando criança, Jéssica Teixeira, 28 anos, também estaria afastada de uma atividade produtiva, não fosse a iniciativa pioneira de uma organização que já tem muita história para contar: a Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (Coepad), que fica em Florianópolis.

Eu sempre quis ir à escola, trabalhar também. Mas, logo no início, quando eu era pequena, não conseguia unir as palavras. Então, acabei me afastando da escola. Depois, adulta, tentei emprego em três lugares, mas era difícil porque as empresas não dão muita importância quando veem que a gente é deficiente. Hoje, na Coepad, eu tenho mais do que um emprego; tenho amigos e, graças a esse trabalho, eu me desenvolvi e voltei a estudar. Estou na Educação de Jovens e Adultos, aprendendo a ler e a escrever. Trabalhar aqui me estimulou a aprender”, relata Jéssica, emocionada ; ela trabalha na produção de papéis reciclados, papéis-semente, material de escritório e papelaria.

Fundada há 22 anos, por pais e mães de pessoas com síndrome de Down, a Coepad emprega atualmente 40 pessoas com variados tipos de deficiência intelectual. Alguns dos cooperados estão empregados em empresas que procuram a cooperativa para cumprir a Lei das Cotas para pessoas com deficiência (Lei 8.213/1991) . Alguns dão expediente na empresa terceirizadora, outros continuam trabalhando na produção de papéis nas dependências da Coepad. 

MAIS QUE NÚMEROS

Pioneira do cooperativismo na busca por inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho, a Coepad nasceu do ato coletivo e desprendido de vários pais e mães. Mas pode-se dizer que o pontapé dessa história foi o “incômodo” de um deles, Aldo Brito. 

Quando a filha de Aldo tinha apenas dois anos e brincava no jardim, uma senhora que a viu      perguntou se ela era “tolinha”.

Não foi por preconceito, acredito eu. Era o jeito que ela tinha de se expressar [a filha de Aldo tem síndrome de Down e hoje está com 44 anos]. Eu disse que sim, mas fiquei curioso pra saber o motivo daquela pergunta. Então, ela me deu um conselho: 'põe ela com gente boa, porque ela vai ficar boa também'. E foi o que fiz, ao lutar pela inclusão dela. Anos depois, lembrei do que disse aquela senhora de um jeito diferente. Percebi que não é só minha filha que ganha ao conviver com outras pessoas. Quem convive com pessoas como ela também se tornam seres humanos melhores”, explica.

A Coepad nasceu do desejo de Aldo e outros pais de integrar pessoas com deficiência no mercado de trabalho, para aumentar sua dignidade, autonomia e autoestima. “Nós nos dividimos em três grupos: um foi estudar o que era necessário para montar uma cooperativa, outro, que foi cuidar da documentação e a base legal; e o terceiro ficou de definir em que atividade devíamos nos concentrar. De 50 sugestões, testamos três: a produção de vassouras, fraldas e papel. Abandonamos logo as vassouras, pois o produto não teve saída. As fraldas, no início, tiveram mercado, chegamos a produzir. Mas logo a concorrência nos fez deixar pra trás esse nicho. Como o papel que produzíamos, a partir da reciclagem, era todo diferenciado, com o tempo, ganhou mercado e passou a ser a matéria-prima de nossos produtos”, recorda.  

AMIGOS PARA SEMPRE

Diferentemente de Jéssica Teixeira, a personagem do início desta reportagem que lutou para estar envolvida numa atividade produtiva, Nívia Maria Silva, 48 anos, nunca pensou que poderia, um dia, voltar a trabalhar. Sim, voltar. Aos 19 anos, ela sofreu um acidente que teve efeitos permanentes sobre sua capacidade mental. No início, as sequelas afetaram até mesmo a fala e o caminhar – funções que, mais tarde, ela retomou. Mas o raciocínio e a adaptabilidade à vida social nunca mais foram os mesmos. Nívia perdeu a capacidade de memorização e ficou desorientada. E, assim, ela se tornou totalmente inabilitada para atividades comuns e corriqueiras para muitas pessoas.

Nívia já tinha trabalhado como secretária e no comércio também — setor em que chegou a ser empresária, ao ter montado um pet shop. Mas, depois do acidente e de suas consequências, nem cuidar do filho — que era um bebê à época e ainda mamava, — ela conseguia. 

Foi bem difícil pra mim pensar em trabalhar como antes, eu tinha muito medo da rejeição. Porque, ainda mais que a minha deficiência não é algo visível. Então, se alguém com deficiência física já é difícil encontrar um espaço no mercado de trabalho, imagina com uma deficiência que não se vê”, constata.

E ela confessa que seu caso não foi como o de seus amigos da Coepad, que viram na cooperativa um bote seguro no meio de uma enchente. “Eu nem queria vir aqui. Meu cunhado e minha irmã insistiram. Eu tinha medo que me olhassem diferente ou exigissem de mim o desempenho de uma pessoa neurotípica. Mas, hoje, sete anos depois, não me vejo fora daqui. Trabalhar me fez me sentir útil, capaz de muitas coisas, novos pensamentos e ideias”.

O acolhimento é a filosofia que norteia a Coepad. Silvana Zimmermann, diretora administrativa-financeira da cooperativa, foi quem entrevistou Nívia quando ela chegou em busca de uma vaga. 

Ela chorava de um lado e eu, do outro, sem saber o que fazer. Não tinha nem como começar a entrevista. Porque ela só chorava. Hoje, eu vendo o relato dela sobre a trajetória aqui, na Coepad, eu me emociono. Quando a cooperativa começou, há mais de 20 anos, não se falava em inclusão como hoje. Agora, quando vejo que quem faz a construção do dia a dia são eles, vejo que isso é fruto também do nosso jeito de tratá-los, pois a gente primeiro vê a pessoa, não a deficiência. Vemos que todos têm suas capacidades e, aqui, envolvidos com seus pares, pessoas com o mesmo tipo de limitação, eles desenvolvem sua autoestima. É um orgulho pra mim”, celebra.

Mas o espírito desse negócio inclusivo não se resume à atividade econômica: os cooperados ali têm acesso a atividades esportivas, por meio de um convênio com o Instituto Guga Kuerten. E, claro, a socialização, por meio de confraternizações e outras atividades, une ainda mais os associados que já têm tanto em comum. “Os amigos que fiz aqui são fundamentais na minha vida”, afirma Nívia.

INSERÇÃO E RENDA

É certo dizer que a Coepad pode servir de modelo para outras cooperativas, até pelo seu pioneirismo, mas isso não significa, necessariamente, inspirar-se nos mesmos pilares. Em Franca, cidade que fica na porção nordeste do estado de São Paulo, inserida em um polo de grande expressão econômica, nasceu a Cooperativa Social de Pessoas com Deficiência Intelectual, Familiares e Amigos (Codifa), com forte atuação na capacitação e busca pelo cumprimento da lei que determina a contratação mínima de pessoas com deficiência por parte das empresas. E quem conta como isso aconteceu é Cristiane Olegário Barbosa, articuladora da cooperativa, supervisora de Gestão e Pessoas, e responsável pela área de responsabilidade social da Sicoob Credicocapec.

A Codifa é resultado de um projeto de responsabilidade social do Sicoob Credicocapec em parceria com o Centro de Educação Integrada (CEI) — instituição mantida pela prefeitura de Franca com foco na inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 

Começamos com a capacitação de pessoas com deficiência intelectual, que é a expertise do CEI, com quem fizemos parceria logo no início. E isso engloba desde o curso de relações de trabalho, elaboração de currículos, até a inserção nas empresas”, explica Cristiane.

A diretora do CEI, Sandra Cristina Calandria Pedigone, revela que a união com a Codifa permitiu ampliar o alcance do projeto educacional da instituição. “Antes, nós trabalhávamos somente com a Lei de Cotas, buscando encontrar vagas para nossos alunos no mercado de trabalho. Depois da parceria com a Codifa, conseguimos incluir as pessoas com deficiência que são beneficiárias do BPC [Benefício de Prestação Continuada] na cooperativa. No começo foi difícil, porque as famílias tinham medo de perder o benefício, caso os filhos começassem a trabalhar. Havia o receio de eles serem demitidos, e acabarem sem nada”, explica Sandra.

Para criar um mecanismo eficiente — capaz de dar um mínimo de garantia de acesso a uma vaga de trabalho às pessoas treinadas no CEI e cooperadas da Codifa —, foram feitas outras parcerias, envolvendo ainda auditores-fiscais do Trabalho, a Justiça do Trabalho de Franca, o Juizado Especial da Infância e da Adolescência e o Senac. Agora, os beneficiários do BPC podem trabalhar — sentindo-se mais úteis e cidadãos — sem perder a ajuda de custo do governo. 

Mas nem sempre há o que se comemorar. Sandra Pedigone, por exemplo, acredita que deveria haver mais conscientização por parte das empresas para incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, de forma que buscassem a inclusão não só em função da obrigatoriedade, mas também por acreditarem que essas pessoas têm potencial. 

“Na pandemia, por exemplo, constatamos que, diante da perda econômica vinda com o lockdown, os primeiros a serem dispensados foram pessoas com deficiência. Nas incubadoras do cooperativismo, foram registradas 36 demissões, sendo que, em todo o ano de 2016, foram 23.”     

UMA FAMÍLIA

Brian Eduardo da Silva, 29 anos, já trabalhou como empacotador de congelados e operador de esteira, separando sapatos. Há dois anos trabalhando na Codifa, mesmo não tendo uma renda pelo trabalho que faz (Brian tem problemas neurológicos que prejudicaram sua capacidade de memorização e, em função de sua deficiência, é beneficiário do BPC), a cooperativa tem um significado mais do que especial para ele. “É como uma família para mim, um lugar onde a gente conversa, ri, se entende, trabalha. Eu não vivo sem a Codifa. Mais pessoas como eu deveriam conhecer a cooperativa”, defende.

Treinado em uma das turmas de capacitação em mídias sociais abertas pelo Senac, Brian agora faz parte da equipe de produção de conteúdo da Codifa. Com outros meninos e meninas, ele alimenta o perfil da cooperativa no Instagram e faz a propaganda dos produtos. Os cooperados produzem papel e artefatos que têm o papel como matéria-prima, como produtos de patchwork, sacolas de festas infantis, calendários, porta-retratos, agendas, blocos de anotação, porta-retratos, marcadores de livro, cartões de fim de ano. Aliás, é exclusivamente por meio da rede social que a produção da cooperativa é vendida, no perfil @codifafranca.

Sempre que vê uma peça da cooperativa ser vendida, Brian se orgulha de ter uma atividade que exige mais do seu raciocínio do que uma ocupação artesanal. “Eu comecei aqui com muita dificuldade de memorizar. Mas as pessoas foram tendo paciência comigo e me ajudaram. Tem lugar que tem preconceito e não nos aceita como somos. Quando eu escuto a experiência dos meus amigos, por exemplo, penso em mim e vejo que, se eles tivessem tido mais apoio, teriam ido mais longe”, diz ele, dando a tônica de que não basta atingir os percentuais estipulados por lei. É preciso alcançar a totalidade do princípio da inclusão e abraçar a causa dessas pessoas, que são capazes e podem ser produtivas.

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ENTENDA O CONCEITO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD)

De acordo com orientações internacionais, consideram-se pessoas com deficiência os indivíduos que afirmam ter pelo menos muita dificuldade em uma ou mais questões relacionadas às habilidades de enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus, se relacionar com outras pessoas ou aprender. Tomando como base essa definição, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que elabora o Censo, constatou que o Brasil tem mais de 12,5 milhões de brasileiros com deficiência, o que corresponde a 6,7% da população, de acordo com o ano do censo.

O Transtorno do Desenvolvimento Intelectual ou Deficiência Intelectual é um quadro caracterizado por limitações nas habilidades mentais em geral. São habilidades ligadas à inteligência, que envolvem raciocínio, resolução de problemas e planejamento. A condição também afeta o comportamento adaptativo do indivíduo, expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas.

A Deficiência Intelectual não é uma doença, e a pessoa com esse quadro deve ser devidamente acompanhada por um médico e receber estímulos por meio do acompanhamento psicológico, fonoaudiológico e com terapeutas ocupacionais. Assim, as limitações podem ser superadas por meio da ajuda profissional, com vistas ao seu desenvolvimento.

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Esta matéria foi escrita por Lana Cristina e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Promoção da equidade é um chamado internacional

A igualdade de gênero é condição indispensável para a construção de um futuro equitativo e sustentável. Das mais de 1,3 bilhão de pessoas vivendo em condições de pobreza no globo, 70% são mulheres, segundo relatório das Nações Unidas. Elas são ainda as chefes de família em 40% dos lares mais pobres em áreas urbanas. Em áreas rurais, predominam na força de trabalho mundial da produção alimentar (de 50% a 80%), mas dispõem de menos de 10% das terras.

Pensar em um mundo mais igualitário, portanto, inclui a necessidade de empoderamento financeiro de mulheres.

Sempre à frente do seu tempo, as cooperativas são um modelo econômico centrado nas pessoas e que pode contribuir para o alcance dessa meta em todo o planeta.  

Por meio de seus valores de ajuda mútua, igualdade e justiça, e princípios de adesão aberta e voluntária e controle democrático, as cooperativas estão prontas para enfrentar muitas das questões que afetam negativamente as mulheres, especialmente para abordar o problema multifatorial da pobreza e ajudar a moldar o bem-estar delas. 

As cooperativas são, dessa forma, uma ferramenta potente para alcançar a equidade de gênero.

Na avaliação da presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), María Eugenia Perez, as cooperativas aumentam o acesso das mulheres aos recursos e às oportunidades econômicas e capacitam as mulheres, não apenas economicamente, mas também individual e socialmente, para desafiar as normas sociais e culturais. Além disso, criam um ambiente propício para que mulheres e meninas usem essas oportunidades e recursos para alcançar resultados iguais aos dos homens.

 O modelo cooperativo provou ser um meio de construir resiliência a longo prazo, permitindo que as comunidades, especialmente mulheres e meninas, superem múltiplas crises e choques, incluindo a pandemia e a guerra que estamos enfrentando”, avalia María Eugenia Perez que, em março, em virtude do Dia Internacional da Mulher, publicou uma declaração mundial sobre o assunto

Vale destacar: o Comitê de Igualdade de Gênero da ACI trabalha extensivamente pela integração do impacto do modelo cooperativo, pela conquista da equidade de gênero e da justiça climática. “Abordar a desigualdade de gênero e empoderar as mulheres é um pilar essencial de nosso trabalho para promover os direitos humanos e o desenvolvimento econômico sustentável e resiliente.”

ESFORÇO NA EUROPA

Recentemente eleita, a presidente da ACI Europa, Susanne Westhausen, também acredita na importância das cooperativas para a construção de um mundo mais justo e democrático. Para ela, os princípios e valores do cooperativismo já norteiam a ideia de igualdade de gênero. 

Quando você tem valores como autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade, isso, obviamente, orienta você em uma direção. Quando você tem democracia e direitos iguais, isso resulta em um melhor uso dos recursos – tanto recursos naturais quanto recursos humanos. Porque quanto mais diversidade, mais igualdade, mais bons cérebros você tem ao redor da mesa para encontrar as soluções certas”, completa. 

Em entrevista exclusiva à Saber Cooperar, Susanne, que também é presidente da Confederação Dinamarquesa de Cooperativas, afirma que o modelo cooperativo está à frente de outros modelos de negócios no quesito igualdade de gênero e aposta no conhecimento e nos bons exemplos para guiar novas iniciativas. 

Susanne Westhausen, presidente da ACI Europa

Acho que o que precisamos fazer é olhar para os bons exemplos. Então, onde vemos os bons exemplos? E temos que nos orgulhar de que o movimento cooperativo esteja à frente desse processo. Podemos não estar milhas à frente, pode não ser 50-50, mas o movimento cooperativista está à frente do que está acontecendo no mundo.” 

“Para mim, essa é a maneira de fazê-lo: é compartilhar conhecimento e bons resultados. É muito bom reconhecer que uma das únicas coisas no mundo que quanto mais você compartilha mais você ganha é o conhecimento. E isso é uma coisa que reconhecemos nas cooperativas que o compartilhamento de conhecimento é a base do nosso modelo de negócios.”

Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da ACI Europa, Susanne não credita sua eleição ao fato de ser mulher, e sim, ao de ser a melhor candidata no pleito. 

Não vejo a minha eleição para presidente das cooperativas Europa como algo que tenha a ver com o fato de eu ser mulher. É uma curiosidade que eu seja a primeira mulher presidente? Sim. Mas alguém acabaria chegando lá. Foi uma eleição aberta e eu ganhei porque era a mais qualificada”. 

Para a sua gestão, entretanto, Susanne garante que haverá preocupação com a equidade. “Quando eu apresentei meu programa para as eleições, a igualdade e a igualdade de gênero estavam incluídas no sentido mais amplo. Então, é claro que estou comprometida com isso. No momento, estamos trabalhando em nossa estratégia para nosso mandato e a igualdade de gênero será uma das prioridades dessa estratégia”, garante.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Diversidade é atalho para o desenvolvimento

Esqueça o discurso politicamente correto: sua cooperativa precisa investir em diversidade, sim —      e o mais rápido possível —, se quiser ter resultados melhores que os da concorrência. Não é questão de ser bonzinho ou socialmente responsável. Diversidade é um caminho para crescer. Por isso, sua cooperativa precisa pensar sobre isso. 

De acordo com o estudo A diversidade como alavanca de performance, publicado em 2021 pela McKinsen — líder mundial em consultoria empresarial —, organizações com maior diversidade de gênero em cargos executivos têm 21% mais chance de ter resultados acima da média. No caso de diversidade étnica, isso é ainda mais aparente: 33%. 

Até aí, tudo bem, exceto por um pequeno detalhe: embora a diversidade seja comprovadamente um atalho para o crescimento de qualquer negócio, 39% dos líderes acreditam que as pautas sobre equidade, empoderamento e inclusão são perda de tempo, de esforço e de dinheiro. Os dados são de uma pesquisa publicada pela United Minds, consultoria de RH e transformação organizacional, no fim      do ano passado.  

O dado acima fez a equipe da revista Saber Cooperar se perguntar como o tema da diversidade é visto dentro do cooperativismo. As respostas para essa pergunta foram dadas por duas mulheres que  convivem diariamente com os benefícios e com os desafios da gestão da diversidade: Fabíola Nader Motta,  gerente-     geral do Sistema OCB, e Sil Bahia, codiretora executiva do Olabi — organização social com foco em inovação social, tecnologia e diversidade — e coordenadora da PretaLab —      projeto que estimula mulheres negras e indígenas a trabalhar no mercado de inovação e novas tecnologias. 

Confira, a seguir, os principais trechos dessa entrevista.

Revista Saber Cooperar: O que significa diversidade para você?

Fabíola Nader Motta: Diversidade, para mim, é poder conviver — na minha vida e no meu trabalho — com pessoas que são diferentes de mim. Diferentes em todos os sentidos: sexo, raça, formação, condição social, visão de futuro, religião, orientação sexual... Esses diferentes pontos de vista ajudam a construir uma diversidade de pensamentos e visão sobre o mundo. Além disso, diversidade, para mim, é um papel ativo; é promover um ambiente plural dentro das nossas vidas, dentro das nossas organizações; é entender que, ao estar rodeado de pessoas que pensam diferente, temos mais chances de criar produtos e serviços que possam atender      um maior número de pessoas. 

Sil Bahia: Diversidade é a possibilidade de se ter um espaço, uma possibilidade de convivência a partir da diferença. Isso, para mim, é diversidade: conviver a partir das diferenças, respeitando essas diferenças como algo positivo. 

Como trazer esse conceito para as nossas vidas e para o nosso trabalho?

FM: O primeiro passo para a gente trazer esse conceito para a nossa vida, para o nosso trabalho, é estarmos abertos a isso. É óbvio que é muito mais fácil a gente trabalhar com quem tem a mesma origem, o mesmo estilo, a mesma idade que a gente... Quando trabalhamos com pessoas diferentes, temos de alinhar nossa comunicação, ouvir outros pontos de vista, defender ideias, mediar conflitos. E no meio dessa ebulição de ideias vem a inovação. 

SB: Existem caminhos para isso, e um deles é trazer essa discussão sobre a importância da diversidade para dentro das organizações. Na sequência, temos de buscar caminhos para que, de fato, essa diversidade possa existir, florescer e aparecer, com a criação de um ambiente que não apenas possibilite, mas que também estimule diversidade. 

Abraçar a diversidade pode aumentar a produtividade e a competitividade de um negócio? Como?

FM: A diversidade consegue, sim, ampliar a competitividade de um negócio. Um time mais diverso traz melhor compreensão do mundo e do seu público-alvo. Se a gente só se conecta com pessoas que são iguais à gente, como vamos entender a necessidade do outro? Por isso, um time diverso tem menos pontos cegos. Isso faz com que, sim, você aumente a sua competitividade. 

SB: Muitos estudos dizem que quanto mais diversidade em um negócio, maiores as chances de inovação, assim como a performance em relação ao lucro aumenta. Temos estudos que defendem que a diversidade é um incentivo à inovação. E isso acontece porque você acaba tendo múltiplos olhares para determinado problema e para a criação de soluções. Quando você tem essa pluralidade presente, de fato, dentro do negócio, acaba tendo mais inovação, melhor performance e, consequentemente, melhor resultado em relação ao lucro. 

Cite as principais vantagens de se ter um time diverso dentro de uma organização.      

FM: Em primeiro lugar, um ambiente diverso ajuda a atrair talentos. E esses talentos vão formar uma equipe mais plural, empática e engajada. De acordo com um estudo da Harvard Business, empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a ir além das suas responsabilidades. Um segundo ganho importante é o aumento da criatividade e da inovação. Por fim, a diversidade ajuda a oferecer melhores produtos e serviços, ampliando nossa capacidade de atingir a necessidade real de seus clientes. 

SB: Os ganhos são muitos: ter mais inovação, ter um ambiente mais seguro para que as pessoas possam expor suas ideias, ter um ambiente no qual as soluções possam vir de outros lugares. Ter um ambiente diverso também tem a vantagem de estar colaborando para uma sociedade melhor, por estarmos expandindo o olhar e as possibilidades de criatividade, a possibilidade de ter novos produtos que sejam mais inclusivos, principalmente no campo da tecnologia. 

Por ser um movimento com foco nas pessoas, o cooperativismo tem no respeito às diferenças um princípio. Como isso facilita a integração dos diferentes tipos de pensamentos? 

FM: O cooperativismo é um modelo de negócios que estimula a cooperação. Estimula o foco nas pessoas, independentemente de etnia, raça, sexo, religião, condição social. Então, é um modelo ideal para a gente estimular a participação de todas as pessoas por um objetivo em comum. É um modelo de negócios que consegue estimular a participação de diferentes, convidando todos os cooperados a se unirem para melhorar a vida não apenas do grupo, mas de toda a comunidade.

SB: Acredito que sim. Se as cooperativas têm um espaço maior de escuta do que as empresas tradicionais, acho que isso acaba facilitando a integração, o diálogo entre diferentes tipos de pensamento. 

No cooperativismo, existe uma preocupação grande em aumentar a participação de jovens e mulheres em posições de liderança. Qual seria a melhor maneira de fazer isso?

FM: Sem dúvida, atrair jovens e mulheres para o cooperativismo, principalmente para cargos de liderança, é o objetivo de todo o nosso movimento. Cooperativas de diferentes segmentos, de diferentes      portes, terão estratégias diferentes para isso. O que importa de verdade é que isso seja uma decisão consciente da liderança da cooperativa. Que a liderança da cooperativa tome a decisão de fazer ações efetivas para atrair esses públicos. Isso significa ter um planejamento, pessoas na sua equipe direcionadas para executar esse plano e prever recursos para isso. Não adianta fazer apenas um discurso bonito sem fazer mudanças efetivas. O que não faltam são opções de como fazer. A questão é colocar isso como prioridade, dedicando recursos e pessoas para esse objetivo. 

SB: Abrir espaço para mulheres ocuparem posições de lideranças é um bom começo. Além disso, concomitantemente, colaborar com a formação e o desenvolvimento de novas lideranças, pensando isso em relação à juventude, em como a gente pode investir no desenvolvimento. Estou falando de todas as competências; não apenas das habilidades técnicas, mas também das soft skills (habilidades comportamentais). Há um trabalho bem grande a ser feito em relação ao desenvolvimento de pessoas e de lideranças. 

Falamos bastante da diversidade dentro das equipes de trabalho de uma empresa. No entanto, é preciso pensar em diversidade na hora de lidar com os clientes externos, que precisam ser respeitados em suas diferenças. Como isso pode ser trabalhado?

FM: Isso é um pouco sobre o que conversarmos anteriormente. Para você conseguir ter uma visão ampla e entender toda a sua base de clientes, você precisa ter diversidade dentro da sua organização. Quanto mais diversidade, quanto mais pontos de vista, quanto mais contextos diferentes, maiores serão as chances de entender as reais necessidades de seus clientes. 

SB: Acho que todo mundo tem de ser respeitado, independentemente de qual seja a sua diferença. Acho que isso tem de ser trabalhado a partir da empatia. A empatia é fundamental e é uma chave importante para a gente lidar com quem é diferente e não pensa igual a gente. De quem não veio do mesmo lugar que a gente e não ocupa os mesmos espaços. Então, acho que a empatia é a chave para tudo. 


Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Como inovar no cooperativismo?

O mercado está em constante mudança. Por isso, estar atento aos seus movimentos e, principalmente, trazer a inovação para dentro da cooperativa é um dos principais desafios para se manter competitivo no mercado. 

Mas afinal, o que é inovar? O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, está em contato constante com as principais cooperativas do Brasil e sabe da importância da inovação no setor.

Inovação não é inventar um chip novo de computador ou um novo aplicativo. Inovação está em tudo: está no simples e no óbvio. Está no social. E a relação é o grande mote para que [a inovação] aconteça”, afirmou durante a abertura da semana InovaCoop em setembro deste ano. 

Hoje grande parte das cooperativas já colocaram a mão na massa em projetos inovadores, utilizando ferramentas e metodologias imprescindíveis para se destacar no mercado. Uma pesquisa divulgada pelo Sistema OCB em março de 2021 trouxe perspectivas interessantes sobre a inovação dentro das cooperativas do país. A pesquisa mostra que, o que antes era visto como exclusividade nas indústrias ligadas diretamente à tecnologia, está sendo recebida com novos olhos pelo cooperativismo. Entre as quase 500 cooperativas que participaram da pesquisa, 84% afirmam que a inovação é importante para o crescimento e desenvolvimento do setor. 

As áreas em que as cooperativas mais inovaram, de acordo com a pesquisa, são, respectivamente, atendimento ao cliente (64%), marketing e comunicação externa (60%), tecnologia (53%) e comercial (45%). O impacto já foi sentido entre as cooperativas e cooperados: 88% delas obtiveram resultados positivos em 12 meses após implementarem projetos inovadores. Entre eles, destaca-se o aumento na agilidade dos procedimentos internos; maior crescimento na oferta de novos produtos e serviços; maior visibilidade e competitividade; e, claro, crescimento de faturamento - as cooperativas viram um acréscimento de 20%, de acordo com dados da pesquisa. 

Afinal, como inovar? 

Inovar está longe de ser uma missão impossível. Apesar de não existir uma fórmula específica, há muitas metodologias e ferramentas já testadas e aprovadas que podem impulsionar a inovação dentro de uma cooperativa. “Nós temos visto ao longo da história humana que fora da inovação não há solução durável. E, nas cooperativas, essa busca constante pelo aperfeiçoamento de seus processos, produtos e serviços é algo que faz parte do DNA delas. É isso que assegura que as nossas coops ampliem sua competitividade no mercado. Inovar é a resposta”, afirma Márcio Lopes de Freitas. 

Foi pensando nisso que o Sistema OCB preparou o livro Inovação no Cooperativismo, lançado em 2022. Um dos capítulos destaca as principais metodologias e ferramentas usadas dentro do setor, todas ao alcance de qualquer cooperativa que busque inovar. 

Dividido em Metodologias para Inovação, Ferramentas para Inovação e Ferramentas de Teste, o capítulo, estruturado por Samara Araújo, então coordenadora de inovação do Sistema OCB, surgiu da necessidade de adaptar instrumentos de gerenciamento à construção de novos projetos com agilidade, foco no cliente, flexibilidade e antecipação de estratégias.

Uma das metodologias mais importantes e que trouxe resultados satisfatórios no desenvolvimento de projetos inovadores entre as cooperativas é o Design Thinking (pensamento de design). Desenvolvida na década de 1990 na Universidade de Stanford, Estados Unidos, a metodologia possui três principais pilares (empatia, colaboração e experimentação) e quatro etapas principais, divididas no que ficou conhecido como Duplo Diamante: Descobrir, Definir, Desenvolver e Entregar. 

O primeiro passo, Descobrir, é onde se forma a estrutura do projeto. É aqui que se descobre o problema a ser solucionado e onde se pesquisa todas as informações necessárias para o desenvolvimento do projeto. No segundo passo, Definir, é preciso organizar e filtrar as informações coletadas na etapa anterior para se chegar a uma definição clara do problema. Em terceiro, já no segundo diamante, está a etapa mais prática: Desenvolver e criar a solução do problema identificado. Neste momento são feitas vários vários estudos de soluções até que uma seja selecionada, para então Entregar o produto na última parte, de preferência através de ferramentas de testes para corrigir erros que possam eventualmente surgir. 

Um case de sucesso com o uso do Design Thinking entre as cooperativas de crédito aconteceu na Sicredi Pioneira, em Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul. Foi neste município de apenas 21 mil habitantes que um projeto inovador foi construído graças à junção dessa e de outras ferramentas de inovação. 

O gerente de negócios estratégicos do Sicredi, Jonas Rauch, destaca que a metodologia os ajudou a criar projetos que impactam diretamente na vida dos cooperados. Um exemplo é o Fidelidade Juntos, programa de fidelidade em que os associados adquirem pontos a serem trocados por brindes da cooperativa, isenção e descontos em serviços, e até por produtos da região, fomentando o comércio local.

Com o Design Thinking aumentamos o nível de engajamento, tivemos uma assertividade maior e conseguimos validar o projeto e ajustá-lo ao longo do processo”, diz Jonas. 

Para se chegar até o resultado final, a equipe de negócios da cooperativa uniu diversas metodologias e ferramentas de inovação além do Design Thinking, como o Design Sprint —uma forma de criar um projeto do zero e obter resultados em até cinco dias; e as ferramentas de testes, como Projetos Piloto, protótipos e o MVP (Mínimo Produto Viável), usadas para testar a solução antes de lançá-la definitivamente no mercado. 

Jonas explica que o olhar para o cliente, através do Mapa da Empatia, foi fundamental para construir o projeto em parceria com o cooperado.

Essas ferramentas e metodologias fazem parte da nossa caminhada para olhar a inovação de forma estruturada, pensar em como fazer diferença nos negócios e nos manter relevantes na nossa área de atuação. As empresas até então tinham o hábito de construir as soluções de forma mais fechada, olhando para dentro da cooperativa. Metodologias como o Design Thinking se propõem a trazer o associado ao centro da construção da solução”, explica. 

Outras cooperativas pelo Brasil também possuem cases de projetos inovadores. A Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, PR, foi apontada como uma das 10 mais inovadoras do sul do Brasil, segundo levantamento feito pela revista Amanhã em parceria com o instituto britânico IXL-Center. Para chegar a esse ponto, a cooperativa incorporou as ferramentas de inovação em programas de incentivo e ensino entre os colaboradores. O projeto Kaizen, por exemplo, foi criado utilizando o conceito do Lean Startup e Lean Six Sigma, ferramentas focadas na otimização do tempo e redução de custos ao elaborar soluções para determinados problemas. 

No dia-a-dia dos profissionais da Cresol, cooperativa de crédito presente em onze estados brasileiros,  termos como Business Model Canvas, Mapa de Stakeholders, benchmarking e Análise SWOT, além dos já citados Design Thinking e Design Sprint, são comuns. 

Business Model Canvas é uma ferramenta prática, em que se coloca em uma tabela informações essenciais da cooperativa, como palavras-chave, fontes de receita, principais parceiros e canais de comunicação, entre outros. Outra ferramenta muito utilizada pela cooperativa é a Análise SWOT (FOFA, em português), sigla para Strenghts (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). 

Buscamos, através da inovação, uma experiência do moderno. Apoiados em uma estratégia de negócios robusta e pautando as ações em nossos valores, através de processos, metodologias ágeis e do Laboratório de Inovação, impulsionamos a transformação digital e cultural com entregas de valor em todas as nossas esferas”, explica Andressa Bremer, gerente de projetos da área de MPS da Cresol Confederação. 

Andressa destaca projetos inovadores criados dentro da Cresol utilizando essas metodologias, como o lançamento de novos produtos de investimento (LCA), criação do Laboratório de Inovação dentro da cooperativa, melhorias no Seguro Prestamista e nos Produtos de Crédito, além de novos protótipos do Gerenciador Financeiro do Cooperado e da abertura de conta de forma totalmente digital.  

Para a Cresol, inovar constantemente não é benéfico somente para uma única cooperativa, mas para todo o setor. “A inovação no cooperativismo também desempenha um papel importante no crescimento econômico. A capacidade de resolver problemas críticos com inovações, especialmente em países em desenvolvimento, podem fazer toda a diferença em suas comunidades. Países com ecossistemas de inovação maduros desenvolvem-se mais rápido e tornam-se mais sustentáveis, têm a macroeconomia forte, reverberando o bem-estar em todas as camadas da sociedade”, afirma Andressa. 


Esta matéria foi escrita por Renato Crozzatti e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Coop digital

Seguindo esse movimento de digitalização de serviços, a Integrada Cooperativa — em parceria com outras 11 cooperativas do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo — criou o marketplace Supercampo para venda de insumos, peças e ferramentas para os cooperados e colaboradores. Até o fim do ano a plataforma terá 200 mil itens disponibilizados.

E a expectativa é que no futuro próximo o marketplace atenda ao público em geral, nos moldes de plataformas digitais como a Orbia, a Magalu, do ramos de eletrodomésticos, entre outras redes.

O professor da FGV, Leandro Guissoni, destaca: "em virtude dos riscos e especificidades que existem no agro, maiores que em outros setores, os produtores já vinham se organizando para integrar atividades da cadeia de valor. As cooperativas são prova disso. Elas integram diversos produtores, diversas atividades, buscam ganhos coletivos. A meu ver, de todos os canais do agro, as cooperativas têm potencial disruptivo extremamente forte. Elas tendem a ser mais cirúrgicas sobre que solução e que tecnologia trazer para os produtores”.

A Cooperativa também tem vínculo com grandes empresas do setor, como a Bayer, de onde recebe sementes com tecnologia agregada, entre outros insumos. No caso do produtor João Francisco, a parceria com a empresa ocorre por meio do projeto Valore, que promove a certificação da propriedade rural pela RTRS, uma iniciativa europeia que atesta o cultivo sustentável da soja e a responsabilidade socioambiental do setor.

“Instalamos placas fotovoltaicas para gerar nossa própria energia, captamos água com poço artesiano, isolamos a sede da propriedade para proteger os funcionários em área delimitada, uma série de práticas de utilização dos insumos e das máquinas agrícolas, de acordo com o bem estar social e ambiental. Isso é uma coisa que já estamos desempenhando na nossa propriedade”, conta João Francisco.

NÚMEROS QUE IMPRESSIONAM

Os resultados da política de inovação da Integrada já trouxeram frutos para a cooperativa. Em 2020, ela superou a barreira dos R$ 4 bilhões de faturamento, mesmo com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. E com o novo ciclo estratégico, a meta é faturar R$ 8 bilhões.

Buscamos em cinco anos dobrar nosso faturamento em resultado percentual. A transformação digital é uma das estratégias que utilizamos para essa frente. É o cooperativismo de resultado, que mantém a essência e os princípios do cooperativismo, buscando a eficiência operacional em todas as frentes”, comentou Galletti.

Com mais de 700 mil hectares de área produtiva, a Integrada atua nos estados do Paraná e de São Paulo. A produção é voltada para os grãos, principalmente soja, milho, trigo, café e laranja, mas também tem algumas indústrias de beneficiamento dos produtos.

MERCADO EM MOVIMENTO

A tendência de especialização das atividades do agro foi um dos pontos destacados por Leandro Guissoni, professor da FGV, na semana InovaCoop, realizada em setembro pelo Sistema OCB. O professor explicou que esse processo é resultado de uma mudança de foco no mercado, que passou a direcionar sua visão para a tecnologia e para a satisfação das necessidades do cliente.

O Agro sempre teve uma lógica de visão de produto. Por isso tem empresas especializadas em fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas e sementes. As principais empresas do agro cresceram com essa orientação do produto, mas aí vem a visão de tecnologia [que atua com muitas empresas diferentes]” e com foco no cliente”.

O especialista ressaltou, ainda, que essa pulverização do trabalho no campo alterou a correlação de forças no mercado agro, antes dominado por grandes corporações. O movimento também é percebido em outros modelos de negócio.

“Tradicionalmente, as empresas fabricantes, por meio de muitos canais de distribuição, inclusive cooperativas, queriam estar presentes em todas essas etapas para oferecer um pacote completo para o produtor. Mas, os bancos tradicionais não conseguiram fazer isso, no setor automotivo grandes marcas não conseguiram fazer isso, então, eu acho difícil alguém conseguir no agro. A única solução é saber qual etapa eu quero fazer melhor para o produtor. Afinal, quem quer fazer tudo bem feito não faz nada. Tem que ser preciso”, explica Guissoni.

Para o professor Marcos Fava, o cenário de inovação favorece o cooperativismo, que já ocupa papel colaborativo no modelo de produção e pode se fortalecer ainda mais com a possibilidade de desacoplamento das atividades de produção.

Como a cooperativa é uma entidade acopladora, ela tem que descobrir as melhores peças, às vezes fazer como no setor privado, e ser a protagonista dessa questão toda. Entendendo os problemas, mapeando onde tem solução e com isso entregar o principal de uma cooperativa que é valor para o produtor rural”, comentou Fava.

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FIQUE DE OLHO

O impacto da digitalização no campo foi debatido no painel “Transformação Digital e Novos Canais para o Agro”, durante a semana InovaCoop, promovida pela OCB. Participaram do debate o professor da FGV EAESP, Leandro Guissoni; o Doutor em Agro, Marcos Fava, e o diretor da Natura, Murilo Boccia. Confira a íntegra da mesa redonda.

Clique na imagem para assistir ao vídeo

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Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Celeiro da inovação

Mapear a condição do solo, prever a temperatura, selecionar, plantar as sementes, adubar a terra, aplicar defensivos, enfim, colher. Da semeadura à colheita, são várias as etapas do processo de cultivo de alimentos e outros produtos essenciais para a sociedade. E para cada passo dessa jornada existe uma startup ou empresa capaz de auxiliar o pequeno, médio e grande produtor rural a gastar menos e a produzir mais — com o mínimo de impacto ambiental e o máximo de valor socioeconômico possível.

O agro é composto pelo antes da porteira e pelo elo de distribuição. Então, quando falamos do digital no agro, são muitas oportunidades, desde contratos que podem ser assinados pelo computador até o uso de drones para controlar pragas. É um universo muito grande nessa cadeia produtiva, dentro da qual as cooperativas têm um papel muito forte. ”, comentou Marcos Fava, autor e organizador de mais de 67 livros sobre agronegócios, conhecido na internet pelo pseudônimo de “Doutor Agro”. 

Para se ter uma ideia do impacto do cooperativismo no agro, cerca de 50% da produção alimentícia brasileira passa por uma cooperativa, segundo Fava. E com a adoção de novas tecnologias e incorporação de processos inovadores, o cooperativismo agro tende a aumentar seu protagonismo na produção nacional.

DO ARADO PARA TECNOLOGIA EMBARCADA

Com a presença das novas tecnologias  no campo, a agricultura, de fato, mudou. Essa é a percepção de milhares de produtores rurais de todo o país. Gente como João Francisco, 59 anos, engenheiro agrônomo e produtor rural do município de Guaíra, no interior do Paraná.

A vocação de João para a agricultura vem de sua família, uma das pioneiras na abertura de terras para plantio na região oeste do Paraná, na década de 60. Ele está no campo há pelo menos 38 anos. 

Começamos arando com boi, e hoje tem trator que anda sozinho. Estamos com bastante tecnologia embarcada nas máquinas. Tem colheitadeira que liga o sinal do GPS e vai sozinha. Aí, quando chega no final da plantação, você vira o volante para ela continuar sozinha. Não tem limite”, conta o produtor.

No verão, João produz soja; e no período do inverno, alterna para milho, aveia e outras culturas. Há mais ou menos 30 anos, começou a utilizar a técnica do plantio direto — prática tradicional que revolucionou a agricultura brasileira ao mudar o manejo do solo para causar menor impacto e gerar maior produtividade.

O plantio direto abriu caminho para incorporação de outras práticas inovadoras na produção. Nos últimos 20 anos, a propriedade foi transformada pela introdução de novas tecnologias desenvolvidas por startups e diferentes empresas.

“Eu tenho máquina de aplicar corretivo de solo, com taxa variável, há 10 anos. Quando saíram as primeiras máquinas, a gente adquiriu uma.  A economia com calcário, gesso e fósforo foi tão grande que e, no primeiro ano, a máquina já se pagou”, relata.

A INOVAÇÃO ESTÁ NO PRODUTOR

Para o professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP), Leandro Guissoni; toda essa disrupção no mercado do agro não é causada pelas novas tecnologias e startups, mas pelo próprio produtor, que decidiu inovar e adotar as novas ferramentas.

Na propriedade de João Francisco, por exemplo, a incorporação em campo do novo maquinário e de métodos ágeis de planejamento rendeu aumento significativo nos resultados.

Em 20 anos, a gente dobrou a produtividade da soja e triplicou a de milho”, comemora o produtor.

Além da maior eficiência na gestão e da redução de custo, o professor Fava destaca outras características do agro digital que agregam valor ao agronegócio, como segurança, conhecimento, transparência, valor social, melhoria na comunicação, gestão e adoção de um comércio mais desregulamentado.

Mas para extrair todas essas vantagens, a recomendação do especialista é seguir um planejamento estruturado, que passa pela busca de ajuda e conhecimento, entre outros pontos.  “Quem quer se transformar deve mudar a mentalidade para o digital, fazer diagnóstico, formar opinião com casos existentes”, sugere o especialista.

INOVAÇÃO COLABORATIVA

Crédito: Revista Agrícola

João Francisco não alavancou sozinho a produtividade de sua propriedade. Em todo esse processo de modernização, ele contou com o apoio  da Integrada Cooperativa Agroindustrial, da qual é cooperado e vice-presidente. 

A Integrada carrega a cultura da inovação desde suas origens. Iniciamos um novo ciclo estratégico onde a inovação é, mais uma vez, um ponto chave para o salto que estamos buscando. Trabalhamos com inovação aberta, estimulando nossos colaboradores e cooperados a buscarem parcerias com startups e empresas de consultoria para o desenvolvimento de soluções”, comenta André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

Com o objetivo de estreitar laços com startups inovadoras, a cooperativa desenvolveu o programa Conexão Integrada e firmou parcerias com hubs de inovação, como o Agtech Garage, que tem mais de 800 startups conectadas e disponíveis para atuar em parcerias com cooperativas ou outras empresas.

Outro hub parceiro é o Cocriago, que está em fase de implementação e atuará dentro do parque tecnológico SR Valley, mantido pela Sociedade Rural do Paraná, em Londrina.

FUNIL DA INOVAÇÃO

Antes de validar um produto ou uma solução, a Integrada passa os projetos que recebe de empresas e startups por um funil de inovação , que seleciona aquelas capazes de gerar valor para o cooperado.

Para nós, inovação na propriedade rural é tudo o que permite o aumento da produtividade e rentabilidade para o nosso cooperado. E a transformação digital é o caminho que a gente busca para essa geração de valor”, explica Galletti.

Segundo o gerente, a cooperativa chegou a tocar quase 30 projetos junto com startups e empresas para validação de produtos e geração de valor. O trabalho realizado pelas parceiras abrange, por exemplo, coleta de dados no campo, monitoramento da temperatura, do vento, do nível de chuva, monitoramento remoto por imagens, telemetria, conversão de sinal, entre outras atividades.

André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

“Isso tudo com empresas diferentes, startups diferentes. Quem faz a telemetria é uma startup A, quem coleta sensor uma startup B, quem monitora o processo de previsão de produtividade por talhão é outra independente”, ressalta Galletti.

O QUE VEM PELA FRENTE

O desafio atual da Integrada é driblar os entraves de conectividade, ainda baixa no campo, e disponibilizar de forma agregada ao produtor todos os dados gerados em cada uma dessas etapas. A expectativa é desenvolver uma ferramenta onde ficarão concentrados todo o volume de informação gerada pelas tecnologias.

Na Integrada temos um big data bem estruturado, muita coleta de informação, mas com a preocupação de fazer toda essa base de dados realmente servir para tomada de decisão do cooperado, que permita aumento da produtividade. Temos sistemas, plataformas, estrutura, mas se eu não tenho a tomada de decisão associada a essa tecnologia, eu não consigo ter a geração de valor que queremos. Então, o nosso papel é fazer a coleta e ter essa informação rápida e ágil na mão do cooperado, agrônomos e técnicos que acompanham a propriedade” explica Galletti.

A cooperativa também tem investido em inteligência artificial, com o desenvolvimento de robôs e máquinas para agilizar a análise da base de dados. A estrutura tem sido projetada para gerar alertas customizados que serão enviados diretamente a cada cooperado com as informações de interesse. As notificações serão personalizadas considerando as características da propriedade rural e as metas de produtividade e rentabilidade.

“Nossa estratégia é investir em inteligência artificial e buscar padronizações para acelerar o processo de tomada de decisão do produtor ou do técnico”, comenta Galletti.

O próximo passo é ampliar o uso de produtos da biotecnologia, como inoculantes para soja e milho, além de outras ferramentas biológicas para controle de pragas. 

“Muitos produtores ainda não usam nada. Mas dá um ganho de produtividade muito expressivo com baixo investimento. E vai ao encontro do que a gente acha que é correto, que é sustentabilidade econômica, ambiental e social”, disse o gerente da cooperativa.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cases de sucesso

Responsável pela gestão do maior sistema cooperativista de saúde do mundo, a Unimed do Brasil, Omar Abujamra Junior acredita que a comunicação cumpre seu papel quando as informações são confiáveis, as mensagens estão alinhadas ao propósito da organização e os conteúdos impactam a vida das pessoas. 

“O trabalho da Unimed está fundamentado no cuidado integral em todas as fases da vida e essa nossa responsabilidade permeia os serviços assistenciais e as ações de comunicação. Entregamos uma comunicação única e confiável, que propicia experiências positivas e agrega valor aos clientes e sociedade, além de fortalecer a marca como fonte de informações confiáveis de saúde”, afirmou Abujamra, à Saber Cooperar.

Segundo o presidente da Unimed Brasil, não deixa de ser um grande desafio administrar uma comunicação que integra 341 cooperativas, presentes em 86% do território nacional. “Como líder do mercado de saúde suplementar no Brasil, entendemos que a Unimed tem um papel relevante e genuíno para contribuir com a conscientização e estimular o olhar cuidadoso – coletivo e individual – na busca de alternativas mais saudáveis no dia a dia”, disse Abujamra. 

Para alinhar esse entendimento com a rede, a Unimed do Brasil coordena mecanismos internos de integração que envolvem a Central da Marca Unimed, diretrizes nacionais de comunicação, presença digital, patrocínios, ambientação, manual de crises, entre outras iniciativas para conformidade com as regras da marca, tais como boletins informativos, um comitê que reúne as áreas de Comunicação e Marketing, eventos nacionais e workshops periódicos.   

Além de trabalhar com mensagens diferenciadas para públicos diversos, a Unimed do Brasil tem implementado iniciativas com a finalidade de engajar os cooperados nas causas de promoção à saúde e bem-estar. Um exemplo é o Movimento Mude 1 Hábito, que busca incentivar a melhoria na qualidade de vida por meio da alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e equilíbrio emocional. 

Outro desafio imposto à rede, trabalhado por meio de campanhas nacionais, foi a pandemia provocada pelo novo coronavírus. “Logo na primeira onda da Covid-19, criamos a campanha VacinAção: é hora de se proteger, em que a marca se posiciona amplamente a favor da imunização e leva informações à sociedade sobre quaisquer dúvidas que surjam sobre o tema. Destaco também a campanha institucional Superar este momento juntos. Esse é o plano, em âmbito nacional, criada para reforçar a contribuição dos profissionais da saúde no enfrentamento da pandemia junto com a sociedade”, exemplificou Abujamra. 

Ainda segundo o presidente, a comunicação eficiente tem sido uma aliada no processo de contenção da crise sanitária: “Implementamos estratégias e ações para transmitir informações confiáveis, com foco em prevenção, entre outras formas de conscientizar sobre a pandemia e que possam ajudar a mitigar a transmissão do coronavírus”. 

Nas ondas do podcast

 A inovação dentro das cooperativas ainda foi abordada em outro canal, o podcast The Shift, conduzido pelas jornalistas especializadas em transformação digital Cristina de Luca e Silvia Bassi. Com o tema Cooperação e Inovação, a edição 94 do programa

aprofundou, ao longo de 50 minutos, as proximidades entre o cooperativismo e a economia digital, que encontram nas novas tecnologias formas de operação colaborativas e, também, competitivas. Samara Araújo foi uma das entrevistadas do programa, ao lado do diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mario De Conto.

Aos ouvintes, Samara explicou que o Sistema OCB fomenta e mapeia a inovação no ecossistema cooperativista do país, por meio do site InovaCoop.

“Temos feito um radar da inovação, justamente, para a gente mapear o que as cooperativas tem feito. E temos visto a transformação digital, de fato, mudando, trazendo plataformas para dentro do cooperativismo”, afirmou a Gerente de comunicação. 

Segundo ela, o momento atual favorece as cooperativas, já que o efeito de rede da economia compartilhada, trazido com bastante intensidade pelo movimento digital, se reflete dentro do cooperativismo. “O interessante é que a lógica do digital não opera na cópia do modelo capitalista. Então, o que eles fazem é entender, se apropriar do que está acontecendo no mundo e converter aquilo para um modelo de negócios cooperativista, beneficiando os cooperados e o modelo de negócios deles”, apontou. 

Os princípios do cooperativismo foram lembrados pela coordenadora de Inovação, em especial, a intercooperação. “Nesse modelo, os cooperados se ajudam para que o negócio vá em frente. Temos exemplos de algumas plataformas onde as cooperativas se juntam para fazer uma oferta coletiva, ajudando diretamente aos cooperados e, por fim, melhorando também a oferta ao cliente, que recebe o produto em um preço menor e uma velocidade maior, pois a cooperativa está operando com uma eficiência maior”, exemplificou. 

“Temos fomentado essa importância de trazer o digital, formar essa cultura de inovação para a competitividade, para a sustentabilidade do negócio”, completou. 

Na avaliação de Conto, o cooperativismo é a verdadeira economia compartilhada, na medida em que a propriedade e a gestão se dão pelos próprios associados. Ele indicou que o conceito de “empreendedorismo coletivo” é mais elaborado e, por isso, deve continuar sendo estimulado na sociedade. “Não acreditamos que apenas uma pessoa tenha uma ideia brilhante. Acreditamos que as pessoas unidas conseguem melhores resultados”, resumiu. 

Ainda segundo ele, o momento atual traz mais desafios do que aquele em que o cooperativismo foi originado.

“A solidariedade sempre esteve presente no cooperativismo, principalmente porque surge em uma classe de pessoas que estão em situação de desvantagem. Hoje, discutimos um outro paradigma, de conectividade. É um pouco diferente daquela solidariedade clássica, do surgimento das primeiras cooperativas, onde havia uma certa homogeneidade dos quadros sociais. Hoje, sociedades mais plurais trazem desafios bem maiores”.


Esta matéria foi escrita por Larissa Leite e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Comunicação 4.0

Podemos começar esse texto assumindo uma premissa: é bastante provável que a sua leitura seja interrompida por uma mensagem, um e-mail, um alerta vindo de algum dispositivo, provavelmente, conectado à internet. No mundo atual, estamos em constante disputa por atenção. Em um contexto marcado pelo grande volume de informações, no qual smartphones, computadores e tablets entregam mensagens de forma praticamente instantânea – e, muitas vezes, caótica —, os desafios de comunicar são ainda maiores. 

“A presença da tecnologia digital já é tão ampla e onipresente que, na maior parte do tempo, nem percebemos essa presença. Percebemos a existência da internet apenas quando ela falha, pois ela está a todo o tempo nos conectando”, explicou Mario Rosa. diretor da Associação Brasileira de Empresas de Design (Abedesign).

Em tempos de hiperconectividade e baixa atenção, Rosa se considera um “designer de futuros desejáveis”, focado no desenvolvimento de planejamentos de comunicação “pós-digital”.

 “Usar ferramentas digitais, como sites, Instagram ou Twitter, não é mais suficiente. É preciso pensar e ter uma alma digital. E, para nós, que trabalhamos com comunicação, é super importante estarmos conectados, presentes e atualizados em relação ao que está acontecendo”.

Ser relevante em um contexto de efemeridade exige novos saberes.Como as pessoas consomem informações de forma cada vez mais caótica, um planejamento linear não funciona mais.

 “Para uma comunicação gerar engajamento, é preciso pensar muito além do tema e da chamada criativa. É preciso trazer entretenimento, ludicidade, interatividade, possibilidades de co-participação”, explica. 

A única maneira de fazer isso é entendendo e conhecendo o público a que se destina essa comunicação. “Essas pessoas, o público, também se tornaram veículos de informação com grande potencial de viralização. Ou seja, para inovar na comunicação, não basta só criar mensagem. É preciso, também, criar o meio”, argumentou. 

Segundo Rosa, o comunicador 4.0 auxilia nessas reformulações, pois o desenvolvimento de projetos na área implica em pensar problemas e soluções de forma sistêmica, mas sempre centrado no indivíduo

Ainda de acordo com o especialista, as cooperativas estariam em vantagem no cenário traçado por ele. Isso porque já são consideradas comunidades relevantes de troca e aprendizado. Ou seja, são potenciais meios de intensificar uma mensagem.

“O marketing do futuro passa por gestão de comunidades, as cooperativas já são comunidades atuantes que interagem com valor e propósito. A provocação que deixo é: como usar a potência da rede para criar modelos de comunicação muito mais relevantes, inovadores, atuais e conectados com a própria forma de interagir das cooperativas”, finalizou. 

Carimbado pelo cooperativismo

Para a gerente de Comunicação do Sistema OCB, Samara Araújo, as cooperativas se tornam ainda mais relevantes ao reforçar o próprio caráter cooperativo nos processos de comunicação. Essa estratégia pode ir do nome adotado comercialmente pela instituição ao discurso utilizado em peças de comunicação. E passa ainda por iniciativas integradas, como a utilização de símbolos para identificar o modelo de negócios. O movimento SomosCoop, exemplifica Daniela, conta com um carimbo que pode ser incluído na embalagem de produtos, em publicações e outros materiais.

“O carimbo indica que o produto integra uma cooperativa e isso começa a trazer para as pessoas a possibilidade de fazer escolhas conscientes. Nesse momento, as pessoas querem muito mais do que um produto, elas querem saber a história desse produto. Eu fico satisfeita, porque temos muita história pra contar. Então, as cooperativas precisam trabalhar com suas próprias histórias, a narrativa do cooperativismo”, defendeu.

Uma boa maneira de fazer isso é destacando — sempre que tiver oportunidade — que o cooperativismo é mais que um modelo de negócios, é uma filosofia de vida que busca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos. Um caminho que mostra ser possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade. E esses são valores buscados também pelos consumidores conscientes.

“O cooperativismo precisa contar histórias em sua comunicação. Histórias de pessoas que mudaram ao se associar a uma cooperativa. São essas narrativas que irão humanizar o nosso modelo de negócios e conquistar a sociedade”, acrescenta Samara. 

A gerente de Comunicação do Sistema OCB alerta que o digital permite às cooperativas chegarem no público mais facilmente. No entanto, para que essa comunicação seja efetiva, é necessária uma “informação clara, concisa e engajada”. “As nossas mensagens precisam ser mais assertivas quando falamos de cooperativismo, porque ainda existe confusão. E para começar, é importante ter em mente que é legal ser de uma cooperativa. Então, tudo começa por dizer que sim, somos uma cooperativa”.

Desafios da comunicação cooperativista

Autor do e-book Cooperativas e Branding, o consultor de branding e comunicação corporativa Levi Carneiro aponta que as cooperativas falam pouco de si mesmas. “E, quando falam, quase sempre se voltam para dentro da própria comunidade cooperativista.”

Carneiro defende a comunicação em si como um ato de cooperação e troca. Nesse sentido, para ele, comunicar uma marca de cooperativa é educar mais gente para a colaboração. Na avaliação dele, o branding poderia ser utilizado para destacar e fortalecer pontos de relevância do cooperativismo no contexto atual. 

“A boa gestão de marca pode fortalecer demais as cooperativas, suas conexões com os públicos e seu poder de transformação positiva. Tendo a era da cooperação como pano de fundo, as cooperativas devem destacar esse propósito fundante como valor: nascem para ser coletivas e não individuais, para distribuir e não concentrar, para incluir e não desconsiderar”, escreve o consultor.

Ainda segundo Carneiro, o novo ambiente tecnológico reforça ainda mais esse direcionamento, uma vez que “agudiza” a crise dos modelos de negócio vigentes e, na outra ponta, disponibiliza inovações, plataformas e suportes que facilitam as ideias e práticas compartilhadas. 

“Reforçar o movimento cooperativo e suas marcas é trabalhar para superar a crise atual de valores. Muito mais pode ser feito e o ambiente digital não só cria oportunidade, mas propicia o aprofundamento desse movimento, uma vez que disponibiliza múltiplos recursos para que as cooperativas expandam suas plataformas e suas redes de interação, passando a se relacionar com novos públicos e educar jovens e novos segmentos interessados na cooperação”, afirma, no e-book Cooperativas e Branding.

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Entenda a comunicação 4.0

A Comunicação 4.0 é apontada pela pesquisadora Juliana de Rezende Penhaki como uma resposta à uma nova revolução industrial, chamada de Indústria 4.0. Esse novo momento histórico prevê a integração entre humanos e máquinas, mesmo que em posições geográficas distantes, formando grandes redes e fornecendo produtos e serviços de forma autônoma. Nesse novo contexto de hiperconectividade, a comunicação deve ser precisa e concisa, aprimorada tanto na forma oral, quanto na escrita e na escuta. “Isso porque ela, a comunicação, passa a acontecer entre homem-homem, homem-máquina, máquina-máquina, sendo extremamente necessária apresentar-se assertiva. Destaca-se também a comunicação interpessoal que consiste em estabelecer contatos com as pessoas, entendê-las e ter habilidades de auto-apresentação”, defende. 

Ainda segundo Juliana, é interessante pensar nessa Comunicação 4.0 como uma soft skill (competência comportamental), ou seja, uma habilidade que implica em questões sociais e interpessoais, e não apenas técnicas e cognitivas – que teriam lugar nas hard skills (competências técnicas)

Engajamento e inovação na pauta

O InovaCoop oferece um guia prático sobre comunicação e engajamento, com sugestões para as cooperativas serem protagonistas no ambiente digital, sem sobrecarregar o público. O guia aponta que, caso a organização se torne apenas mais uma em disputa de atenção, estará contribuindo para o excesso de informação. Com um conteúdo focado em inovação, engajamento e relevância, a publicação indica alguns caminhos para o comunicador. Entre eles, ser mais direto, atraente, simples e útil.

O conteúdo do guia foi oferecido aos participantes da Semana InovaCoop pela Gerente de Comunicação Sistema OCB. Ela destaca que, em um contexto de excesso de informação, cria-se um problema: a pobreza de atenção. E, com ela, a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de informação.

“Algumas ferramentas podem ajudar no mapeamento de interesses, interpretação de dados e consumo de conteúdos etc. A análise dos dados é importante para definir estratégias a serem usadas para conseguir inovar e ter bons resultados na comunicação. Entendendo melhor seu público fica mais fácil escolher algumas possibilidades de atuação”, sugere Samara.

De acordo com o guia prático de comunicação e engajamento do InovaCoop, existem seis possibilidades de atuação inovadora para comunicação cooperativista:

Curadoria de conteúdo

Pesquisa, organização e contextualização das informações disponíveis em diferentes fontes. Se a sua marca tem uma identidade forte e boa reputação, seu público-alvo vai confiar e considerar relevante o seu filtro de conteúdo. Em um contexto de sobrecarga de informação, o público valoriza o que realmente é relevante para ele, selecionando e contextualizando informações.

Storytelling 

Se a atenção é escassa, por que não fisgar o público-alvo utilizando técnicas narrativas para contar uma história envolvente? Storytelling é a arte de contar, desenvolver e adaptar histórias. Ele se utiliza de elementos narrativos como personagem, ambiente, conflito e uma mensagem para contar eventos com começo, meio e fim. A ideia é transmitir uma mensagem de forma inesquecível ao conectar-se com o leitor no nível emocional. 

Gamificação 

Utilizar técnicas de design e mecânica de jogos é outro caminho para engajar seu público-alvo e se comunicar com ele. Essa técnica aproveita a predisposição psicológica humana de se engajar em jogos para diferentes objetivos: tornar a tecnologia mais atraente, educar e comunicar, estimular usuários a se engajarem em determinados comportamentos, entre outros. 

Microlearning 

Essa técnica propõe um formato de ensino curto, direto e disponível em qualquer lugar. Apesar de ser bastante difundida na educação corporativa, outras áreas como marketing digital e comunicação se inspiram no microlearning para entregar conteúdo de forma objetiva e fracionada.

Experimentação e engajamento 

A experimentação não é uma ferramenta, mas um conceito que deve permear o trabalho de comunicação e engajamento com seu público. Como fazer isso? Testando formatos, mensagens e, então, analisando os dados. Isso permitirá que você entenda melhor seu público-alvo. O melhor jeito de não errar é “sair da bolha” e conhecer, de fato, seu público, interagindo com ele, experimentando e analisando os resultados dessas interações.

Relevância 

As cooperativas, como sabemos, têm um forte compromisso social e com a comunidade em que estão inseridas. Busque a relevância por meio de uma comunicação com foco em resolver os problemas dos cooperados e da comunidade, com concisão, e que ajudem a diminuir ruídos e a sobrecarga informativa. É igualmente importante saber onde, como e com quem falar. Seu público não é uniforme. 

Fonte: Guia Prático: comunicação e engajamento (InovaCoop)


Esta matéria foi escrita por Larissa Leite e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Quando prever o futuro é uma ciência

Você não precisa mais confiar apenas na sua intuição ou em dados na hora de tomar decisões. E se eu lhe disser que existe um profissional especializado em prever tendências de futuro para o seu negócio? O nome dele é futurista, uma pessoa capaz de identificar com anos de antecedência quais serão os produtos, tecnologias e comportamentos que irão moldar as nossas vidas em uma ou duas décadas.

Investigar o futuro e trazê-lo para o tempo presente é principal desafio proposto por futuristas para que lideranças e profissionais sejam mais assertivos na tomada de decisão e na geração de impacto para os negócios e a sociedade.

Momentos de grande ruptura — como a pandemia de Covid-19 ou o atentado ao World Trade Center (11/09/2021) — são propulsores de movimentos futuristas, pois antecipam planos e nos colocam mais perto do que já estaria por vir. Esse, aliás, foi o tema central da palestra de encerramento da Semana InovaCoop, promovida pelo Sistema OCB, com o investigador de futuros, Thiago Mattos, professor na Singularity University, nos Estados Unidos, cofundador da Aerolito — laboratório de construção de futuros — e autor do livro “Vai Lá e Faz".

INVESTIGADOR DE FUTUROS

Em um mundo cada vez mais digitalizado e com um volume imenso de informações circulando, as relações pessoais, de trabalho e com o meio ambiente passam por transformações rápidas e geram novas necessidades que demandam novas soluções.

E não há apenas um caminho para alcançar as soluções. O especialista observa que diante de tantas possibilidades há uma pluralidade de futuros, que coexistem e podem ser desvendados de diversas formas e motivar diferentes iniciativas em sua direção. “Futuro no singular fica muito determinista, no plural dá mais ideia de liberdade e diversidade”, disse.

E para não perder as várias possibilidades do porvir, o investigador de futuros Thiago Mattos sugere conhecer quatro forças que têm dominado o mundo, são elas: a digitalização, a automação, a personalização e a distribuição. Todas relacionadas ao avanço da tecnologia e no seu potencial de facilitar a vida das pessoas e gerar oportunidades.

“A primeira dica é entender as quatro forças do digital. Tudo o que puder ser digitalizado, automatizado, personalizado e distribuído, será.  De tudo o que eu investigo, essas são as quatro forças dominantes da internet que qualquer modelo de negócio, qualquer liderança, qualquer profissional tem que conhecer e adequar seu business. Se não adequar, a onda vem e é importante estar atento a ela”, sugere Mattos.

CARROS INVISÍVEIS?

Esse exercício de se transportar para o futuro permite o contato com uma realidade impactada por inovações disruptivas, que tem levado alguns setores da economia a transformações antes inimagináveis. Todo esse movimento é impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, o avanço da pesquisa científica e pela mudança na forma de consumo e nas interações sociais.

Um mundo cheio de robôs, carros invisíveis, comida que pode ser impressa, turismo no espaço, novos meios de pagamento, moda e bebida sendo produzida em casa e tantos outros setores que estão descentralizando os processos e tornando a produção cada vez mais on demand.

“As empresas estão percebendo que a produção pode ser feita na casa das pessoas (...). A lógica centralizada da produção industrial será questionada cada vez mais, dia a dia”, comentou o palestrante.

DO FUTURO PARA TRÁS

Aproveitar a relação entre passado, presente e futuro não é novo no mundo dos negócios, mas o sentido dessa relação é que tem mudado, trazendo o futuro para o início da linha do tempo. Segundo o palestrante, a inversão permite romper com estruturas arcaicas do presente que podem atrapalhar os processos de planejamento e de tomada de decisão.

“Precisamos liderar a partir de visões. Não façam planejamento estratégico. Planejamento estratégico da forma como a gente conhece extrapola o presente para o futuro. Faça uma gestão do futuro para o presente. A administração clássica nos ensina a planejar do presente para o futuro, ou seja, imaginando que o futuro vai ser uma versão um pouquinho diferente do presente, e esse é o grande perigo. É uma visão incremental de como será o futuro, mas ela não funciona mais, principalmente no mundo pós-pandemia”, explica Mattos.

O palestrante ressaltou ainda que a visão futurista vai além de pensar em tendências, mas envolve o processo de desaprender o que já não serve mais e reaprender uma nova forma de planejar e gerir os negócios. “Quanto mais o mundo muda e quanto mais se torna mais rápido, é importante que você crie visões, entenda como vai ser o futuro, enxergue o futuro, dê uns passos para trás e  entenda o que é necessário para que isso seja feito”, completa.

É possível criar futuros

Lala Deheinzelin, futurista desde 1995, também reforça que a prática de olhar para o futuro não consiste em pensar em tendências e em reagir de forma previsível aos atos do presente. Mas, sim, passa por estudar “as forças” que estão moldando os futuros e fazer as melhores escolhas em função delas, criando novos caminhos.

"Um dos principais futuristas, Peter Drucker, diz que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Na verdade, é a única maneira. E o futurista Buckminster Fuller diz que a melhor maneira de lutar contra um paradigma não é atacando, mas criando um novo e tornando o antigo obsoleto. Então, as coisas que são necessárias mudar, a gente não reage lutando contra elas, mas a gente cria novas”, disse a futurista.

Inspirada nessas premissas, Lala iniciou, em 2008, o movimento chamado “Crie Futuros”, que visa dar elementos e subsídios para pensar futuros desejáveis e possíveis. Por meio de oficinas de criação de futuros, o movimento já alcançou vários países e recebeu menção e prêmios em importantes eventos internacionais.

O método de trabalho utilizado por Lala é chamado fluxonomia, uma combinação de futuro e novas economias, com o objetivo de capacitar lideranças no processo de enxergar e criar coletivamente o futuro.

“Nesse momento de transição não é possível solucionar através de inovação incremental, que são ajustes que dão um jeitinho. Uma transição grande como a nossa exige solução disruptiva, que é realmente criar novas formas. Velhas maneiras de fazer não solucionarão novos problemas. Isso Einstein já dizia”, provocou a futurista.

Lala reforça que é impossível prever o futuro, por isso é necessário criá-lo, verificando o que as partes e o coletivo necessitam e como atender a essas necessidades. Ela ressalta ainda que é importante que o gestor saiba se desafiar e entender que fazer mais do mesmo não vai levar a outro lugar. 

“Os gestores precisam estar preparados e aprender a ler essas forças que estão moldando o futuro e que não são tendências, porque às vezes elas vão até contra a tendência. Por exemplo, o mundo está construído na base da competição, mas isso é uma característica dos séculos 19, 20, que não faz sentido no século 21. Então, pensar em colaboração é contra a tendência, mas é o que é necessário. Então, é preciso trabalhar, antes de mais nada, a mudança de mentalidade, a consciência, a cultura”, declarou.

FORMANDO LÍDERES DE VISÃO

Traçar uma jornada de visão, baseada em conceitos “fora da caixa” e de padrões consagrados de planejamento, exige conhecimento e constante atualização sobre inovações do mercado. Trazer o futuro para o presente demanda mudança de mentalidade e tem desafiado o mundo acadêmico a moldar a formação de líderes e gestores aos conceitos futuristas e de inovação.

Uma das escolas mais bem avaliadas no mundo dos negócios, a Fundação Instituto de Administração - FIA Business School criou, em 1980, o Programa de Estudos do Futuro, chamado Profuturo. Nos cursos ofertados pelo programa, a perspectiva futurista tangencia as discussões e os projetos em diversas disciplinas, com o objetivo de estimular entidades públicas e privadas a desenvolver estratégias de prospecção de futuro.

Segundo o coordenador de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do programa, Daniel Estima, a introdução do futuro na literatura acadêmica remonta à década de 1960, no contexto da Guerra Fria, com estudos americanos e viés militar. 

Ao longo do tempo, as universidades avançaram com estudos setoriais, de maior impacto, e nos últimos 20 anos cresceu o interesse das empresas em usar métodos para aplicar estudos do futuro em projetos de inovação e de impactos, principalmente de tecnologias que ainda não existem.

“As decisões estratégicas têm que estar muito mais próximas do dia a dia da empresa, dos líderes, das diretorias. E o pensamento de futuro também tem que ser mais constante, é preciso criar uma cultura de pensar o futuro para alicerçar os passos da empresa. Virá alguma revolução, alguma solução ou novidade tecnológica que pode tirar valor da empresa e te deixar no meio do caminho”, disse Daniel Estima, que também atua em projetos de consultoria para organizações públicas e privadas.

PROSPECÇÃO CORPORATIVA

A pandemia mostrou que não dá para ficar na zona de conforto e elevou os estudos do futuro a outro patamar. “Entender o futuro é importante. Inclusive, a Unesco elegeu a questão do futuro como uma das competências para o século 21 que deve ser discutida na escola desde cedo. Fala-se muito de inteligência emocional, programação, ferramentas que devem ser dominadas pelos profissionais, mas também essa capacidade de olhar para o futuro já é importante e será cada vez mais”, reforça o professor Daniel Estima.

Contudo, o especialista alerta para os modismos e para o risco em tratar cenários e o futuro de maneira superficial, sem de fato promover impacto na tomada de decisão e na geração de ideias e ações inovadoras na empresa.

“Essa conexão corporate foresight, que é a prospecção corporativa, está olhando as ações estratégicas dentro da corporação, para fomentar essa cultura, pensamento conectado direto nas avaliações e decisões da empresa. Acho que deveria ser algo para ficar. É criar visões de futuro e conduzir a empresa para esse futuro desejável, sabendo que não é um caminho linear, tem pedras no caminho para desviar”, explica.

A futurista Lala, que também atua com formação de lideranças, reitera que é imprescindível que as empresas trabalhem com estudos de futuro, principalmente aqueles que extrapolam a ideia de projeções e cenários, mas que promovem a criação do que é necessário para chegar ao futuro desejável da empresa e também da sociedade como um todo. “Nos círculos futuristas, falamos em analfabetismo em futuro. Não é mais possível ser analfabeto em futuro”, exorta Lala.

COOPERATIVISMO É O FUTURO

Na perspectiva da futurista Lala, considerando o passado e as dinâmicas das outras transições que a humanidade passou, os próximos anos serão moldados pela colaboração. A especialista destaca que a humanidade está vivendo a maior transição da história e, principalmente depois da revolução digital, a sociedade tem a possibilidade de operar de forma desmaterializada, por meio de uma rede não material, que está fora do tempo e do espaço, em uma dinâmica exponencial. 

“A principal força moldando o futuro nesse momento é a necessidade de convergir, de fazer junto, colaborar. Quando olhamos o futuro desejável, o que é bom para todo mundo é o que traz um equilíbrio e atende a indivíduos, empresas e a países, atende ao todo da sociedade, ao planeta. Aí sabemos o que não é uma moda e o que não é uma tendência”, comenta Lala.

A futurista lembra que, depois da crise de 2008, surgiram gigantes da tecnologia que foram capazes de convergir dados, mercados e, que após esta crise de 2020, veremos convergir os gigantes da colaboração. Nesse contexto, Lala aposta no potencial do cooperativismo para a criação de futuros desejáveis e soluções inovadoras que possam de fato fazer frente aos problemas impostos pela atualidade.

“O mundo tem desafios, velocidade, informação, complexidade exponencial. Mas nós, o tempo e o planeta não somos exponenciais, somos lineares, então, fica difícil uma capacidade linear responder a desafios exponenciais. A solução está em colaboração. O cooperativismo é o futuro, porque fazer juntos é a única maneira de fazer frente e dar responsa ao mundo exponencial”, declarou Lala.

O professor Daniel Estima de Carvalho  também vê no cooperativismo a oportunidade de aprendizagem de algo estratégico, por meio do intercâmbio de ideias entre os cooperados, colaboradores e os tomadores de decisão. O especialista chama a atenção para a capacidade que a rede formada pela colaboração tem para transformar ameaças em oportunidades.

“Os cooperados são partes importantíssimas para fornecer informação, conhecimento e também oportunidades. Usar essa rede de cooperados para troca de informações disparadas no mercado e transformar isso num sistema de mapeamento e de análise de riscos e oportunidades e, nesse sentido, deixar as coisas mais mapeadas e ágeis. Todo mundo só tem a ganhar nessa rede”, destaca o professor.

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Dicas para construir um futuro melhor para sua cooperativa

Pensar no futuro sem cair na trama da ansiedade e sem perder conexão com o presente ou apostar em tendências vazias requer conhecimento, mas também disciplina e disposição para lidar com o incerto de forma otimista e propositiva. Para ajudar a sua cooperativa a caminhar nesse sentido, aqui vão algumas dicas:

1 - Adote novos hábitos no dia a dia, tanto na vida pessoal, quanto profissional. A principal coisa é conseguir sair do medo, o medo é a única coisa que deveríamos temer, porque ele nos paralisa. Como sair do medo? Primeiro, diminuindo, ou até quase eliminando, o acesso à informação que só nos coloca no modo reativo. Pare de se alimentar de problema e se alimente de solução. O mundo está enfrentando grandes transformações, sim, mas vivemos num momento de maior abundância da história da humanidade. Nunca vimos na história tantas ferramentas, tanto recurso, tanta inteligência, mas não sabemos o que fazer com isso, porque pensamos com a cabeça do passado. Nós temos tudo o necessário para construir um mundo desejável e possível.

2 - Treine o seu olhar  para reconhecer a imensidão de soluções inovadoras que já estão sendo desenvolvidas em diferentes setores. Nutra-se de informações sobre possibilidades e faça as perguntas principais dos estudos de futuro: se tudo fosse possível, como eu gostaria que as coisas fossem? Essas coisas são só boas pra mim ou para todo mundo? E depois, perguntar, por que não? O que impede a gente de colocar isso em prática?

3 -  Dedique-se a tudo que tem relação com a cooperação, com o fazer junto, e, por fim, prestar atenção nas novas economias: Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multimoedas.

4 - Outro fator de sucesso de um time é desenvolver na organização um ambiente de respeito, empatia e segurança psicológica, que não gere reações de medo para expressar novas ideias ou compartilhar dúvidas, erros e preocupações. E, claro, ter um propósito claro delineando o caminho até o futuro, ou melhor, do futuro até o presente, também é essencial para que um plano seja bem-sucedido e deixe um legado. E para fazer tudo isso, só temos o hoje.

Afinal, como disse o futurista americano, Thomas Frey, no livro Communicating with the future, “o jeito que você imagina o futuro muda suas ações no tempo presente. Portanto, não é apenas o presente que constrói o futuro, o futuro também constrói o presente”. 

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APRENDIZAGENS

Para quem deseja se aprofundar sobre o assunto, vale a pena conhecer o curso “Pesquisador de Tendências”, disponível gratuitamente no InovaCoop.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Conheça as cooperativas de plataforma brasileiras

Duas iniciativas brasileiras já são consideradas referências internacionais em cooperativismo de plataforma. Uma delas é a Cooperativa de Plataforma Ciclos, criada em 2018, em Vitória, no Espírito Santo, a partir de uma iniciativa do Sicoob Central do estado. 

A Ciclos oferece a seus cooperados planos mais baratos de telefonia móvel e internet.  Resultado? Em um ano de efetiva operação, essa coop inovadora conquistou cerca de 14,5 mil associados e já faz planos de expansão. Em breve, ela também disponibilizará pacotes de planos de saúde e energia limpa. 

Hoje nosso principal desafio está relacionado à expansão em nível estadual e nacional da Ciclos. Temos três verticais de atuação e muitas possibilidades, pois estas áreas não se limitam a apenas uma solução para nosso quadro de associados”, destaca Gustavo Bernardes, coordenador da cooperativa que pretende alcançar 20 mil cooperados ainda este ano.

“Se conseguirmos estabelecer, dentro de nossas áreas de atuação, soluções simples, de fácil acesso e que gerem valor ao nosso quadro de associados, arriscaria dizer que estamos inovando, se considerarmos a finalidade na qual fomos constituídos.”

Inovar também faz parte do vocabulário da Coopertáxi de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Com mais de 40 anos de existência, a cooperativa colhe hoje os frutos do enfrentamento à concorrência com as grandes plataformas de transporte. Além de operar pelo telefone e Whatsapp, a cooperativa criou uma plataforma própria para receber chamados.

Arregaçamos as mangas e começamos a usar as mesmas estratégias deles, inclusive dando 30% de desconto na corrida para o preço ficar equivalente”, conta Clauber Marcos Borges, presidente da Coopertáxi de BH. 

A cooperativa também passou a oferecer cursos e palestras para atualizar os motoristas cooperados e garantir uma melhor qualidade de serviço. Outra estratégia foi o convênio com mais de 400 empresas. “Com a elevação no preço da gasolina, muitos motoristas deixaram o aplicativo e o nosso movimento cresceu 50%. Isso tudo já se reflete no aumento de cooperados. O valor da cota passou de R$ 5 mil para R$ 15 mil.”

Crédito: Coopertáxi

As cooperativas de plataforma da área de transporte usam como atrativo para os cooperados o menor percentual de taxa administrativa. Cerca de 15% do rendimento dos motoristas cooperados ficam na cooperativa, enquanto as grandes plataformas multinacionais abocanham 25% a 30%. 

Além disso, a taxa cobrada pela cooperativa tem a vantagem de se reverter em recursos para o desenvolvimento da economia local, permitindo a geração de renda e empregos na própria cidade. Esse é um dos motes da campanha publicitária da Podd (Pay On Demand), do Espírito Santo. O slogan da cooperativa é “Seja Capixaba, Seja Podd”. Além do aplicativo para chamados, os cooperados contam com seguro veicular, seguro saúde, convênio com plano de saúde, cartão digital, plano telefônico e dados, seguro de vida, aquisição de veículos facilitada e descontos em mais de 120 mil estabelecimentos. Benefícios aos quais os motoristas de aplicativos comerciais jamais teriam acesso.

MULHERES NA LIDERANÇA

O Brasil é um país com enorme potencial para o cooperativismo de plataforma. E por tratar do futuro das relações de trabalho, é fundamental que o assunto seja mais debatido pela sociedade.

Como vamos construir relações que não sejam só de exploração no seu limite mais precário e desumano? Construir um outro modelo é algo complexo, precisa de financiamento, demanda muito debate, mas precisamos pensar que é possível”, propõe Georgia Nicolau, co-fundadora e diretora do Instituto Procomum — organização não governamental criada para promover a um mundo comum entre diferentes.

Consultora em projetos de inovação social, Georgia foi aluna do criador do conceito do do cooperativismo de plataforma, o escritor Trebor Scholz. Parte dessa experiência ela aplica agora no projeto Grana.Lab. Trata-se de uma parceria com a rede alemã Supermarkt que vai permitir a realização de uma série de encontros virtuais sobre justiça econômica e novos modelos como cooperativas, criptomoedas, economias feministas e economia do comum.

Entre as experiências compartilhadas no Grana.Lab está a Señoritas Courier, um coletivo de mulheres e pessoas LGBTQIAP+ que fazem entregas de bicicleta por toda a cidade de São Paulo. O lema do coletivo é o trabalho com carinho e responsabilidade. 

Integrante e fundadora do coletivo, Aline Os explica que uma das estratégias do Señoritas Courier é usar como valor agregado o impacto ambiental positivo que esse serviço, carbono zero, traz para uma das maiores cidades da América Latina. 

Como trabalhamos somente com bicicletas, nossas entregas não liberam gases do efeito estufa na atmosfera. Nosso desafio atual consiste em desenvolver uma cooperativa de plataforma para coletivos de entregadores, além de olhar para a inclusão digital das pessoas que fazem entrega (a maioria não tem computador), pois acreditamos que esta é a única forma de combater os abusos de aplicativos comerciais”, destaca Aline. 

Ainda segundo a fundadora da Señoritas Courier, são necessários subsídios do governo e redução da taxa tributária para que os coletivos de ciclo entregas se organizem enquanto cooperativas de plataformas no Brasil.

Señoritas Courier/ Reprodução

No sul do país, mulheres da Puma Entregas, em Porto Alegre, vivenciam dificuldades bem semelhantes às experimentadas pelas entregadoras da Señoritas Courier. O coletivo gaúcho surgiu em plena pandemia, por iniciativa de um grupo de mulheres que já tinham passado por aplicativos de entrega. Uma vez cadastradas e nas ruas, elas comprovaram que muitos desses sistemas restringem a demanda para mulheres entregadoras. Daí a ideia de criar a Puma, que atende prioritariamente novos empreendedores, especialmente aqueles que aproveitaram o isolamento social para oferecer produtos personalizados, como cestas de café da manhã e cosméticos artesanais. Como a maior parte deles tem como foco clientes que moram em um raio de distância próximo, fica mais fácil realizar a entrega dos produtos usando a bicicleta. 

Criadora e integrante da Puma, Carol Corso conta que, em apenas um ano, foi possível estabelecer com fornecedores e consumidores uma relação de trabalho mais humanizada e digna. Por outro lado, ela reconhece ainda ser difícil escapar das grandes plataformas quando não se tem todas as ferramentas tecnológicas.

O apagão do Whatsapp mostrou que somos reféns e dependentes de aplicativos, mesmo quando não trabalhamos para grandes plataformas de entrega”, alerta Carol. 

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Onde aprender mais sobre o assunto?

Cooperativismo de Plataforma — curso online, gratuito, oferecido pela plataforma de ensino à distância do Sistema OCB, o CapacitaCoop.


Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Plataformas mais justas e sustentáveis

A pandemia da Covid-19 aumentou a demanda por serviços e produtos oferecidos por meio de plataformas —  aplicativos e sites que entregaram comida, remédios, informação e entretenimento para milhões de pessoas em isolamento social. Mas antes mesmo de ouvirmos a expressão lockdown, especialistas já falavam na “plataformização” da economia, ou seja, em um novo modelo de negócios e geração de renda mediado por gigantes como Uber, Amazon, Airbnb e Netflix. Um mercado capaz de crescer em escala, muitas vezes explorando trabalhadores anônimos e precarizados.

Nesse cenário, o cooperativismo tem se mostrado, cada vez mais, como um caminho capaz de transformar a economia de plataforma, trazendo mais equilíbrio, justiça social e sustentabilidade para quem trabalha ou utiliza esses ambientes virtuais, criados justamente para conectar quem produz a quem consome.

Para se ter ideia, hoje, grandes aplicativos de transporte chegam a ficar com 30% dos valores pagos pelos usuários aos motoristas. Já as cooperativas que operam nesse setor retém entre 10% e 15% em forma de taxa administrativa que são revertidas em favor dos próprios cooperados. E por serem os verdadeiros donos do negócio, os motoristas, além de aumentar seus rendimentos, participam da gestão do negócio e podem definir os rumos do empreendimento. 

Para impulsionar a abertura de cooperativas na área de plataforma, o Sistema OCB lançou em setembro, por meio da plataforma de EAD CapacitaCoop, um curso de três módulos sobre o tema. A aula magna contou com a participação do doutor em Direito Mario De Conto, professor, pesquisador e diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop). 

A cooperativa de plataforma se torna valiosa quando consegue escalar, ou seja, atingir muitos usuários. A estratégia de negócios é fundamental para o sucesso de uma cooperativa nessa área, bem como a utilização de soluções tecnológicas inovadoras”, ressalta De Conto. Para ele, o cooperativismo de plataforma revoluciona à medida em que coloca os trabalhadores como protagonistas do negócio. A ideia é trazer a propriedade e gestão da plataforma para as mãos de quem nela trabalha.  

Ainda de acordo com o pesquisador, alguns entraves legais dificultam o aumento no número de cooperativas de plataforma no Brasil. O fato de a lei geral das cooperativas não permitir sócios-investidores é um deles. Uma alternativa para superar esse problema é a parceria com cooperativas de crédito, incubadoras e startups.

Na Inglaterra, organizações como a Start.coop e Unfound oferecem assistência técnica e financeira para cooperativas interessadas em ingressar no mercado de plataformas. No Brasil, a OCB também inovou e lançou duas edições do programa InovaCoop Conexão com Startups. A primeira delas visa a intercooperação e o desenvolvimento de ambientes digitais para cooperativas que atuam na área de saúde, serviços e transporte. O programa está na fase de desenvolvimento dos projetos piloto.

Cooperativismo de plataforma é um tema que tem despertado interesse do nosso público já há um bom tempo. E o cenário de pandemia e de digitalização que estamos vivendo ampliou fortemente essa atenção. Estudos e pesquisas de tendência mostram um crescimento significativo nesse setor, um movimento do qual o cooperativismo não pode e nem irá ficar de fora”, garante a gerente geral da OCB, Fabíola Nader Motta.

CASES INTERNACIONAIS

Equipe Fairbnb

A busca por parceiros e novos caminhos para o cooperativismo de plataforma também mobiliza cooperativas europeias. Um bom exemplo disso vem da área de turismo. A Fairbnb é um aplicativo cooperativista de locação de imóveis a preço justo e com foco em nos princípios do turismo sustentável. Desde 2016, ela reúne os donos de imóveis aos locatários de países europeus. A taxa de administração para a cooperativa é de 15%. Metade desse valor vai para projetos que fortalecem as comunidades onde estão localizados os imóveis. 

Durante a fase mais aguda da pandemia, a Fairbnb enfrentou a crise estimulando os cooperados a reformar os imóveis e seguir em conexão com as comunidades. O resultado desse esforço foi o lançamento de uma nova versão da plataforma em junho deste ano, com mais roteiros e projetos apoiados. A atuação cooperada e em rede se mostrou como um valor agregado para a concorrência com as empresas do setor de turismo. 

A desaceleração econômica mundial ensinou o valor de estratégias como trabalho por nicho e em intercooperação (nacional e internacional). A utilização de ferramentas de governança digital já permitidas no Brasil, como assembleias gerais remotas, fizeram a diferença para cooperativas como a Stocksy, que reúne mais de 2 mil fotógrafos e produtores audiovisuais de vários países.

Conheça o case completo no site do InovaCoop

A agência fundada em 2013 no Canadá distribui produções artísticas que atraem principalmente o mercado publicitário. De 50% a 75% das licenças de uso de imagem são pagas diretamente para os artistas cooperados. O banco de imagens sobre a vida na quarentena foi um dos mais procurados nos últimos meses. Mais uma prova de que muitas mentes em sintonia conseguem inovar e manter o fluxo de negócios mesmo em tempos difíceis.


Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Informação é poder

Por terem uma forte conexão com as pessoas, as cooperativas brasileiras são impactadas por todas as flutuações econômicas do mercado em que atuam, sejam elas de proporção local, nacional ou internacional.

Juan Jensen, economista e sócio da 4eintelligence

 O movimento dos juros nos Estados Unidos, o ritmo de crescimento na China ou uma possível terceira onda da pandemia da Covid-19 são questões que afetam todas as economias do mundo e, portanto, têm reflexo nas operações das cooperativas — especialmente as exportadoras, fortemente impactadas pelas taxas de câmbio e preço de commodities”, explica Juan Jensen, economista e sócio da 4eintelligence — consultoria especializada na entrega de soluções de inteligência artificial para questões críticas de negócios.

De fato, em uma sociedade global — onde a crise de uma nação ou empresa afeta as bolsas e a economia de todo o mundo —, as cooperativas precisam se manter atualizadas sobre os indicadores que regem a macro e a microeconomia. Assim, poderão acompanhar as cada vez mais rápidas mudanças na conjuntura econômica e, a partir daí, definir estratégias assertivas de atuação. 

Disposto a apoiar as cooperativas nesse sentido, o Sistema OCB criou um ambiente que reúne, em um único lugar, informações, análises e projeções econômicas com potencial para impactar o cooperativismo de alguma maneira: o Dashboard de Indicadores Econômicos, ferramenta interativa que apresenta índices internacionais, nacionais e regionais atualizados, além de trazer indicadores segmentados por ramo do cooperativismo.  

“Nosso objetivo com essa ferramenta era trazer não somente os dados do cooperativismo, mas sim dados que impactam o nosso modelo de negócio de alguma maneira para, dessa forma, ajudar as cooperativas e unidades estaduais a saber como o cooperativismo está situado dentro de indicadores macroeconômicos, como PIB, taxa de juros, inflação e índices de emprego”, afirma Clara Maffia, gerente Técnica e Econômica do Sistema OCB.

TUDO NUM SÓ LUGAR

Uma das principais vantagens do Dashboard de Indicadores Econômicos é reunir, em um único lugar, informações estratégicas para subsidiar a tomada de decisão dos gestores e das lideranças cooperativistas. 

Essa ferramenta proporciona uma economia de tempo para as cooperativas, que não precisam mais buscar o valor do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, na plataforma do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e depois procurar informações de câmbio no site do Banco Central, para ainda pesquisar sobre crédito em outra plataforma”, resume o economista Juan Jensen, sócio da 4intelligence, contratada pelo Sistema OCB para desenvolver o sistema.

Outro benefício importante é a atualização automatizada de dados sensíveis como o câmbio, que varia diariamente, até as taxas básicas de juros e a inflação, que têm variação semanal. “Economia é a ciência que estuda decisões. E saber tomar decisões passa pela compreensão do cenário econômico”, ensina Rodolfo Cabral, economista da área internacional e setorial da 4intelligence.

Rodolfo Cabral, economista da área internacional e setorial da 4intelligence

Ainda segundo Rodolfo, é uma análise combinada de dados que permitirá a um gestor definir questões essenciais, como a quantidade de produtos e insumos que deve ser mantida em estoque, quantas lojas abrir e em que localidades, quantos funcionários contratar e manter em cada unidade.

Para tornar esse processo decisório ainda mais assertivo, é preciso ter acesso não apenas a dados atuais, mas a projeções econômicas. É por isso que o Dashboard de Indicadores Econômicos do cooperativismo conta com projeções feitas por uma equipe multidisciplinar, que analisa com cuidado cada uma das variáveis disponíveis, rodando modelos e fazendo estudos que consigam mostrar não apenas o cenário atual, mas projeções futuras de indicadores como emprego e câmbio, para facilitar o planejamento das cooperativas. 

TOMADA DE DECISÃO

Um dos principais desafios da construção do Dashboard de Indicadores Econômicos foi identificar quais dados seriam mais úteis e necessários para cada ramo cooperativista. 

Clara Maffia, gerente Técnica e Econômica do Sistema OCB

Foram meses de estudos e diálogo com a base até conseguirmos construir um Dashboard que entrega informações relevantes para embasar o processo de tomada de decisão de cooperativas de todos os portes, setores e regiões do país”, explica Clara Maffia.  

De acordo com Clara, nas cooperativas ligadas ao setor de serviços, os dados mais importantes costumam estar relacionados ao ambiente local. No ramo saúde, o desempenho das coops está diretamente relacionado à atividade econômica — sobretudo à formalização do trabalho, aspecto que interfere nas contratações de planos de saúde, que costumam ser oferecidos aos colaboradores como benefício.

Juan Jensen, da 4intelligence, lembra, ainda, que o Brasil possui uma heterogeneidade regional grande em termos de indicadores como o desemprego. 

Não é porque o desemprego no Brasil está alto que ele estará alto também em uma determinada região; é possível ter uma dinâmica que descola do padrão nacional. Para cooperativas, costuma ser mais importante saber como está o desempenho local. Olhar para dados regionais, sobretudo de atividade econômica, faz toda a diferença para a tomada de decisão”, orienta.

Segundo a gerente técnica e econômica do Sistema OCB, o acesso a esses indicadores é o que vai moldar a competitividade do modelo de negócio cooperativista. 

O cenário econômico interfere em tudo e impacta em qualquer decisão que a cooperativa for tomar. Por isso, as cooperativas precisam ter bons subsídios e saber onde estão situadas no mercado”, afirma Clara. 

Com acesso a dados atualizados e contextualizados, uma cooperativa que atua na área de comercialização de leite, por exemplo, pode reajustar os preços com base nas projeções de inflação para evitar prejuízos. Além de decisões pontuais como essa, Clara explica que os indicadores podem sustentar projetos de inovação das cooperativas, seja em um plano de internacionalização com base em mudanças favoráveis no câmbio, ou de ampliação de unidades com vistas ao crescimento da atividade econômica no país.

Para finalizar, a gestora faz um convite a todas as cooperativas brasileiras: “Acessem nosso dashboard para ter a dimensão de o quanto estar ciente dos cenários econômicos e da conjuntura atual pode subsidiar decisões mais assertivas para nosso modelo de negócios”. 

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 Por dentro do Dashboard de Indicadores Econômicos

O conteúdo da ferramenta está dividido em sessões, com dados internacionais, nacionais e regionais, além de uma área voltada especificamente para cada um dos sete ramos cooperativistas. 

“Na sessão com dados do Brasil, nós destrinchamos todos os aspectos interessantes que competem às áreas econômicas, como o PIB, dados da Indústria, de Emprego e Renda, Varejo e Serviço, Cooperativas, Crédito, Inflação, Política Monetária, Política Fiscal, Setor Externo. Tudo isso com resumo das últimas atualizações, análises e gráficos. Também temos uma sessão de destaques, alimentada diariamente com informações curtas de fatores que podem impactar os mercados”, detalha Rodolfo Cabral, da 4intelligence.

O formato interativo do dashboard permite que seja feito o download das planilhas com os dados públicos disponíveis na plataforma. 

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O QUE AS COOPERATIVAS VÃO ENCONTRAR

Feito para ajudar nossas cooperativas a ir mais longe e a tomar decisões importantes para a longevidade e a competitividade do negócio, o Dashboard de Indicadores Econômicos trará, entre outros dados, informações sobre:

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Esta matéria foi escrita por Mariana Fabre e está publicada na Edição 35 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Um guia para o futuro

Nos dias de hoje, só há uma saída para quem quer sobreviver no mundo dos negócios e ter relevância em seu nicho: I-NO-VA-ÇÃO. Sabendo disso, a Casa do Cooperativismo tem procurado oferecer cada vez mais conteúdos relevantes sobre o tema. De e-books a cursos rápidos, as cooperativas encontram os mais variados recursos e ferramentas nos sites do Sistema OCB. 

E 2021 fechou com chave-de-ouro, o primeiro livro sobre inovação está saindo do forno feito sob medida para as cooperativas brasileira: Inovação no cooperativismo — um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.

De forma leve e didática, a obra tira todas as dúvidas da sua coop sobre inovação e ainda apresenta estratégias e ferramentas para viabilizar a implantação de programas de inovação dentro das organizações cooperativistas. Quer mais? Cada capítulo traz um artigo assinado por especialistas no assunto. Gente como Martha Gabriel — uma das maiores palestrantes de inovação do Brasil — e Jackson Fressato, criador de uma startup de saúde que coleciona prêmios nacionais e internacionais na área.  Assim, o leitor começa a se familiarizar com os grandes nomes do ecossistema brasileiro da inovação. 

 Fizemos esse livro pensando nos líderes cooperativistas que desejam implantar programas de inovação em sua cooperativa, mas sabemos que acadêmicos e estudantes também vão se interessar no assunto, pois apresentamos muitos cases de cooperativas que estão inovando”, explicou Samara Araujo, coordenadora de Inovação do Sistema OCB.

Ainda segundo ela, a obra tem tudo para se tornar um se tornar um importante item para aprendizado e também pesquisa para estudiosos e professores do tema. Por isso, o Sistema OCB pretender disponibilizar exemplares para bibliotecas, universidades e outros locais de acesso público.

INSPIRAÇÕES

Destinado às cooperativas e escrito por experts em inovação, o livro traz seis cases de inovação realizados por coops de diferentes ramos. “Cada projeto apresentado servirá como inspiração para os gestores que desejam enveredar por essa seara”, acrescenta Samara.

Outro diferencial da publicação é acabar — de uma vez por toda — com a percepção equivocada de que inovação caminha de mãos dadas com as novas tecnologias. A obra deixa bem claro que o segredo da inovação é encontrar novas soluções para velhos problemas. A boa e velha caneta esferográfica, por exemplo, mudou a forma como nós escrevemos, continua atual e não tem nenhuma tecnologia disruptiva acoplada. Portanto, sua cooperativa pode inovar revendo processos, melhorando produtos já existentes ou criando novas maneiras de atender bem ao consumidor.

Além disso, o livro traça um retrato panorâmico de como as cooperativas enxergam a inovação em seu ramo, entre seus pares, e o que pode ser feito para agilizar e melhorar esse processo. Além disso, mostra as vantagens que as cooperativas possuem — em relação a outros modelos de negócio — na hora de inovar, e  traz dicas para implantação de um programa de inovação cooperativista. 

Ao final da obra, você ainda encontra um dicionário completo de inovação, com os principais verbetes e conceitos relacionados ao tema. 

PORTFÓLIO COMPLETO

Desde o lançamento do InovaCoop — site que reúne em um mesmo lugar informações, e-books, cases de sucesso e ferramentas sobre inovação cooperativista—, o Sistema OCB colabora ativamente com a construção de um ecossistema inovador dentro do cooperativismo.

Nós já tínhamos oferecido aos nossos cooperados cursos de EAD na plataforma CapacitaCoop, blogposts com textos mais curtos, ferramentas para colocar a mão na massa e e-books sobre o tema. Recentemente, observando nosso portfolio de soluções, serviços e produtos de fomento à inovação,  percebemos que faltava um material mais denso, profundo, robusto, perene e de consulta mais constante. Daí a ideia do livro”, explica a coordenadora de Inovação do Sistema OCB, Samara Araujo. 

Quem participou da Semana InovaCoop, realizada em setembro de 2021,  já sentiu o gostinho do que está por vir, durante o pré-lançamento do livro. O intuito do Sistema OCB é que a versão  impressa da obra comece a circular no início de 2022, e seja disponibilizada para as cooperativas.

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Confira, em primeira mão, um trecho do primeiro capítulo do livro Inovação no cooperativismo: um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop:

Quando falamos em inovação, qual imagem vem à sua mente? Máquinas de última geração, laboratórios de ponta, equipamentos modernos, estruturas grandiosas com design arrojado ou outros símbolos que representam alta tecnologia? Inovação é tudo isso, mas vai muito além. 

A busca por soluções inovadoras acompanha os seres humanos desde a pré-história. A roda, a prensa tipográfica, as vacinas e a internet foram inovações criadas para solucionar problemas importantes e ajudaram a melhorar a vida das pessoas e a impulsionar diversos setores da economia. Mas, atenção: o progresso não acontece apenas com grandes rupturas. Inovações consideradas mais simples também foram responsáveis por novos comportamentos e impactaram a vida de muita gente. Entre elas, podemos citar a caneta esferográfica, os post-its, a comida enlatada e os serviços de delivery. 

Se antes o impacto das inovações demorava décadas para se consolidar, atualmente, temos um cenário de aceleração do ritmo das transformações e uma rápida adesão das pessoas, o que impõe que as organizações permaneçam atentas — e em movimento — para se manterem competitivas.

É claro que as novas tecnologias da informação impactam — e muito — a inovação. A velocidade com que essas ferramentas se desenvolvem é catalisador para grandes mudanças em nossa sociedade. É importante destacar, no entanto, que a inovação não depende exclusivamente de equipamentos modernos, tecnologias disruptivas e tampouco do porte da organização em que está sendo gestada. 

Entretanto, antes de avançar nesse debate, precisamos alinhar nosso entendimento sobre o significado da palavra inovação. Existem vários conceitos, em diferentes áreas do conhecimento, para definir esse vocábulo. E não há resposta simples, ou uma única correta, para a pergunta com a qual iniciamos este capítulo. Para Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna, inovar é pensar uma solução nova a cada vez que surge um problema novo. 

"Inovação é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza", explica o pensador.

Quando pensamos em grandes exemplos de inovação, os serviços de entrega de refeições prontas por aplicativo são referência. Na sua essência, o que iFood ou Rappi disponibilizam não é, exatamente, um produto novo ou uma engenhoca própria inventada por eles. O serviço de delivery já existia, mas antes era administrado pelo próprio estabelecimento, exigindo uma logística própria de administração. 

No caso específico do iFood — uma empresa 100% brasileira —, a ideia original era simples: criar um cardápio impresso que reunisse todos os serviços de delivery de uma região em um mesmo lugar. Conforme cadastravam esses estabelecimentos, os idealizadores do serviço foram percebendo que ali havia uma baita oportunidade de negócios. Foi então que decidiram conectar quem queria receber uma refeição pronta em casa aos restaurantes e às lanchonetes interessados em oferecer o serviço, sem arcar com os custos de um delivery próprio. Para fazer isso, eles tiveram de sair do universo off-line (fora da internet) e entrar no digital, criando um dos aplicativos mais populares e lucrativos da América Latina.  

Também é comum confundir os conceitos de inovação e tecnologia — o que é compreensível, já que muitas transformações importantes se deram a partir do desenvolvimento de uma nova tecnologia, como a internet. Mas, vale lembrar que tecnologia é ferramenta e, por isso, tem prazo de validade em termos de utilidade, já que dentro de algum tempo surgirá uma nova que cumprirá aquela atividade de forma mais satisfatória. É o caso do VHS, que evoluiu para o DVD, que evoluiu para o formato Blu-ray até que todos fossem ultrapassados pelos serviços de streaming (transmissão, em tempo real, de dados de áudio e vídeo). A inovação pode ser, inclusive, a descoberta de novos usos para velhos produtos.

Outro erro comum é pensar que a inovação surge como fruto do acaso ou em um lapso de genialidade de algum membro do time ou líder engenhoso. A verdade é que inovar dá trabalho, exige método e afinco, como veremos mais adiante neste livro. Habilidades como a criatividade e o pensamento disruptivo são relevantes, mas é fundamental ter em mente que a inovação é um processo sistemático — portanto, passível de organização e de gestão. 

Ernest Gundling, autor do livro The 3M way to inovation, que conta a história da companhia norte-americana criadora dos famosos post-its, defende que inovação é “uma nova ideia implementada com sucesso, que produz resultados econômicos". 

Perceba o destaque que se dá à questão econômica: uma boa ideia só pode ser considerada uma inovação, no contexto de uma organização, se gerar algum ganho econômico, direta ou indiretamente. 

De forma simples e objetiva, a inovação é pensar novos caminhos para resolver problemas e oportunidades que se colocam a cada dia na rotina de uma organização. A gestão de uma organização — incluindo cooperativas — lida com desafios que surgem quase diariamente. O erro está em tentar resolver novas questões com fórmulas antigas que podem ter sido muito eficientes em outros momentos, mas não se aplicam aos contextos atuais. 

Portanto, a inovação é fruto do trabalho. Trata-se de uma inspiração organizada. Pode ser disparada pelo mercado, por mudanças sociais, legislativas, por novos hábitos de consumo de uma população ou mesmo uma mudança geracional que modifica comportamentos. Dominar a capacidade de inovar, no cenário atual, não é mais uma opção para as organizações, sejam elas comerciais ou cooperativas. Ela passou a ser uma habilidade muito importante para a manutenção dos negócios e para a preservação da competitividade, conforme abordaremos adiante. 

E já que todo cooperativista gosta de uma boa história, vale compartilhar uma anedota muito comum nas conversas sobre inovação. Ela fala sobre uma dupla de moscas que caiu em um copo de leite. Uma delas optou por ficar inerte, afogou-se e morreu; a outra se debateu desesperadamente e, com o movimento de suas asas, o líquido talhou, transformou-se em manteiga; ela conseguiu voar e se salvou. Após algum tempo, a mesma mosca sobrevivente caiu com outra no refrigerante. Sua colega viu o canudo e sugeriu que escapassem subindo por ali. Mas ela se lembrou de sua experiência passada e disse: “não, eu já sei como sair. É só bater as asas, insistentemente”. O líquido não mudou sua consistência e ela morreu de cansaço, após tanto se debater. A outra saiu pelo canudo, sem dificuldades. A moral da história é: não adianta tentar resolver novos problemas com soluções antigas. É preciso estar atento ao contexto para inovar, sempre. 


Esta matéria foi escrita por  Lílian Beraldo e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Pontes para o futuro

Não é novidade que o cooperativismo tem investido cada vez mais em inovação para modernizar e ampliar seus negócios. E 2021 termina com mais um passo importante do Sistema OCB para impulsionar a inovação dentro das cooperativas: segue em pleno vapor a primeira edição do Conexão com Startups, programa que está criando pontes entre cooperativas de diversos ramos e empresas inovadoras. A ideia é unir a força do cooperativismo com a agilidade das startups em busca de soluções para problemas comumente enfrentados por cooperativas de todo país. 

Todas as organizações, sejam pequenas ou grandes, tropeçam diariamente em problemas que  afetam seu funcionamento— seja a necessidade de uma nova ferramenta, o aprimoramento de um processo produtivo ou mesmo a busca por novas plataformas de vendas. Muitas vezes, um olhar externo, com uma pegada ágil e inovadora, pode ser muito mais eficiente do que a busca por soluções caseiras. É aí que entram as startups e o chamado modelo de inovação aberta, ou seja, aquele que busca parceiros fora do negócio para encontrar essas saídas. 

Quando fazemos uma conexão com startups, estamos aproveitando um conhecimento e experiência de um agente externo para realizar as inovações. Em geral, as startups são modelos de negócio ágeis, baseados em tecnologia e que já têm uma ferramenta desenvolvida que pode ser personalizada ou adaptada para conseguir entregar aquilo que a cooperativa precisa. Há um ganho de know-how e agilidade, que se a coop tivesse que entender e desenvolver aquilo do zero, ia demorar muito mais tempo e teria que ser investido muito mais recurso”, explica Samara Araújo, coordenadora de Inovação da OCB. 

Na primeira edição do programa,  54 startups se inscreveram para participar. Ao todo, 30 desafios foram inscritos pelas coops e 10 chegaram à fase final. A seleção levou em conta a relevância da solução do desafio para o ramo, a possibilidade de aplicação da solução em pelo menos cinco outras cooperativas, a disponibilidade de pessoal para desenvolver o piloto junto à startup e o perfil do desafio adequado para o ecossistema de startups. Mas o que seriam esses desafios? 

A Unimed Vitória, uma das participantes do Conexão, busca por exemplo uma solução para consolidar um prontuário eletrônico que funcione em tempo real e reúna informações de diferentes sistemas. Já as centrais Ailos e Sicoob Espírito Santo necessitam de uma ferramenta que permita registrar e mensurar ações sociais e de patrocínio. 

A experiência tem sido bem rica porque temos uma diversidade grande de ramos, modelos de negócios e desafios. Há alguns que atendem cooperativas, outros singulares ou federação. Além disso, há um aprendizado nessa própria conexão com as startups porque, para muitos participantes, é a primeira vez que está tendo contato com esse ecossistema de inovação e há muito aprendizado Tem sido bem didático para os participantes aprenderem na prática como a inovação aberta acontece”, destaca Samara.

Um dos diferenciais do programa é que o Sistema OCB está bancando 70% dos custos de desenvolvimento dos projetos piloto - o restante fica por conta das cooperativas. Era o impulso que faltava para que a Fetrabalho/RS pudesse desenvolver uma ferramenta que estava já há algum tempo entre as metas da organização: um aplicativo de oferta de serviços que servisse como portfólio das cooperativas para avançar no modelo de economia de plataforma. 

Nós começamos a estudar sobre o cooperativismo de plataforma e ainda em 2019 percebemos que esse era um mercado importante. Aí  veio a pandemia e nós estávamos com isso dentro do nosso planejamento, era uma necessidade para nós. Qual era o nosso desafio? O investimento. Nós já tínhamos entrado em contato com coops de tecnologia da informação, mas o custo era alto. Então surgiu o desafio, nós nos inscrevemos e o que nos deixa mais feliz é que fomos contemplados, a única cooperativa do Rio Grande do Sul que ganhou esse espaço”, afirma Margaret da Cunha, presidente da federação.

A dirigente conta que o contato com as startups tem sido muito enriquecedor. Um dos primeiros desafios foi que a maioria delas tinha um foco em e-commerce de produtos, e não de serviços. “Agora vamos estudar juntos como vender serviço. A Fetrabalho pode ser um piloto, mas nosso interesse é desenvolver essa plataforma para que possa servir de vitrine para as cooperativas do país inteiro”, explica Margaret. Em outubro, coops e startups fizeram um trabalho de imersão para detalharem o desenvolvimento das soluções e estão agora realizando o projeto piloto para que os trabalhos estejam concluídos até março de 2022. 

TECNOLOGIA PARA O CAMPO

Por mais tradicional que seja o negócio, como são algumas cooperativas do ramo agro, a inovação aberta pode trazer enormes contribuições. “Os programas de inovação aberta com startups, além das  próprias soluções, também trazem uma abertura de perspectivas, um banho de novas ideias. Essa dinâmica passa muito pela sensibilização da alta gestão das cooperativas em relação a esse processo de transformação que estamos vivendo hoje e por dar visibilidade às possibilidades que existem. Hoje, muitos gestores estão focados no seu negócio e não têm tempo de enxergar o que está acontecendo no ecossistema”, explica Felipe Scherer, fundador da InnoScience. 

A empresa de consultoria especializada em gestão da inovação foi parceira da OCB na formatação e implementação do programa. A partir de uma metodologia própria desenvolvida para potencializar a capacidade de uma organização em inovar, o objetivo foi  conseguir engajar e tirar o melhor da interação entre cooperativas e startups. 

Pela nossa experiência, o sucesso de uma iniciativa de inovação aberta e de uma conexão com startups, está relacionado no máximo 50% com a solução da startup propriamente dita. Eu diria que tem uma parcela no mínimo igual que está relacionada com essa mentalidade e a capacidade da cooperativa em absorver essas novas soluções”, aponta.

Segundo Felipe, a taxa de sucesso de uma solução aberta em cooperativas tem o potencial de ser ainda maior em justamente em razão do alto grau de envolvimento dos participantes da organização.

Isso em função de uma característica que é inerente ao cooperativismo que é o tema da colaboração e o envolvimento das pessoas com o projeto. Isso é fora da curva. As pessoas se envolvem mais, aquele sentimento de pertencimento é muito legal e aparece no relato das startups, elas percebem a diferença”, compara. 



AGRO


A primeira edição do Conexão com Startups se encerra em março, com a entrega dos pilotos para as cooperativas. Mas já está em andamento uma nova etapa do projeto, que terá como foco o ramo agro. A segunda edição está sendo desenvolvida pelo Silo, uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Neoventures. Os desafios do programa já foram selecionados e neste momento as startups interessadas em ofertar soluções estão fazendo inscrição no programa.

Nessa relação, o ganho é em mão-dupla: para as startups também é enriquecedor - e possivelmente rentável - conhecer mais a fundo o sistema cooperativista brasileiro. “O mercado das coops é muito atraente porque tudo que uma startup quer é escalar seu negócio, oferecer uma solução para vários clientes e as cooperativas são ótimos clientes. Se ela desenvolve uma solução para uma cooperativa em determinado ramo, provavelmente essa dor também é a de várias outras coops e singulares ali dentro do sistema. A startup vai poder escalar e oferecer essa mesma solução que tinha desenhado para uma cooperativa pras outras similares”, explica Samara.

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Mas, o  que é uma startup?

Uma  startup pode ser definida como uma pequena empresa, com DNA inovador, custos baixos de manutenção e que consegue crescer rapidamente. É formada por um grupo de pessoas que procura um modelo de negócio ágil, enxuto e escalável. A tecnologia é sua principal ferramenta para oferecer soluções ao mercado e, por natureza, uma startup trabalha em condições de extrema incerteza: um dos lemas dessas organizações é “falhar rápido” para poupar tempo e dinheiro na busca de soluções que sejam efetivas.

De acordo com a Associação Brasileira de Startups, o país tem mais de 13 mil empresas com esse perfil, sendo São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul os estados com maior concentração delas. O total  de startups no país cresceu 20 vezes entre 2011 e 2021. Educação, finanças, saúde e bem-estar e Internet são os principais ramos de atuação das startups brasileiras. 

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Esta matéria foi escrita por  Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


“As cooperativas já estão no caminho do futuro”

Como levar o cooperativismo para o caminho da inovação? Como transformar totalmente seu produto ao ponto de extingui-lo para criar outro ainda melhor? Perguntas desafiadoras que norteiam pesquisas e palestras do escritor e empreendedor Maurício Benvenutti, líder da Startse — plataforma educacional de conhecimento em negócios.

Gaúcho de Vacaria e filho de professores, Benvenutti foi sócio da XP Investimentos por 10 anos e, desde 2015, atua na meca da inovação mundial: o Vale do Silício, na Costa Oeste dos Estados Unidos. De lá, acompanha o trabalho das cooperativas brasileiras e garante: elas já estão no caminho do futuro.

O diferencial de tudo está nas pessoas. O cooperativismo faz justamente isso: valoriza as pessoas. Isso eu aprendo com vocês e o mercado tem muito a aprender também”, destaca o escritor.

De acordo com Benvenutti, pesquisas indicam que os líderes do século XXI precisam entender de pessoas tanto quanto de negócios. “Elas são a essência por trás da instituição. Você constrói um time e esse time constrói uma instituição.”

Por isso, inovar é acima de tudo investir na capacitação. Empoderar equipes a ponto de criar intraempreendedores dentro de cada cooperativa, ávidos a propor novos produtos e soluções para tempos (pós) pandêmicos. Quem consegue fazer isso, tende a conseguir se reinventar de forma contínua, mesmo em contextos arriscados e complexos como os atuais. Inspire-se nas reflexões e dicas de Maurício Benvenutti.

Saber Cooperar: Como criar uma cultura da inovação?

Maurício Benvenutti: A partir da nossa experiência de acompanhar inúmeras empresas, eu acredito que a inovação acontece pelas pessoas. Não adianta nada ter acesso às principais tecnologias disponíveis no mundo, à quantidade infinita de recursos, estar do lado das melhores ferramentas, se a minha equipe, meu time, não se dispõe a testar, ousar, validar. Tudo começa pelas pessoas. Transformação organizacional é uma transformação humana. O empoderamento das equipes, o empoderamento das pessoas, dos indivíduos que fazem parte de uma organização é crucial para fazer o novo e o inusitado acontecerem. Isso passa pela valorização, empoderamento e disposição de colocar as pessoas à frente da organização ou da entidade.

Por que investir em inovação?

Hoje tudo se torna obsoleto cada vez mais rápido. A Deloitte Insights, que é uma grande consultoria global, divulgou recentemente que a meia vida de uma competência é de cinco anos. Tudo que a gente aprende hoje, todos os recursos incríveis que a gente possui em 2021, em 2026 eles vão perder metade do seu valor de mercado. Para a organização se manter na vanguarda, ela precisa aprender novos conceitos e habilidades. Entregar novas soluções. As ondas de inovação estão cada vez mais curtas. Nós enquanto cooperativas, organizações, temos de nos orgulhar de tudo que nos trouxe até aqui. Mas não necessariamente o que nos trouxe até aqui vai nos levar daqui para frente. Investir em inovação, investir na construção do novo, testar novas hipóteses para construir novas soluções é fundamental nos dias de hoje onde tudo se torna obsoleto mais rápido. É quase ter que decidir se a gente vai respirar ou não. Não pensamos nisso porque é natural. Se não respirar, morre. Hoje em dia trabalhar inovação dentro desse cenário cada vez mais dinâmico é fundamental para uma estrutura organizacional se manter competitiva, forte e atuante por muito tempo.

Como criar uma cultura intraempreendedora dentro do cooperativismo?

As grandes inovações, os grandes feitos organizacionais que transformaram segmentos inteiros não nasceram no senso comum dessas indústrias. Cada vez mais as grandes inovações nascem nas margens, nas bordas, nas fronteiras do senso comum. A única forma de nós, enquanto organizações, navegarmos por essas fronteiras e transitarmos por essas bordas é nos permitindo questionar mais, interrogar mais, muitas vezes desobedecer um pouco a normalidade das coisas. Isso passa muito pela valorização do indivíduo, do ser humano, das pessoas, pelo incentivo ao intraempreendedorismo. São as pessoas que levam uma organização às fronteiras do senso comum e, não, ao contrário. Não construo uma organização. Eu construo um time e ele constrói a organização. O time leva a organização para longe do senso comum, que é justamente o lugar onde nascem as grandes novidades que vem transformando indústrias inteiras nos últimos anos.

Qual o perfil das equipes inovadoras?

Para equipes inovadoras, as demandas são cada vez menos mecânicas e cada vez mais cognitivas, emocionais, sociais e tecnológicas. Os profissionais precisam saber criar e avaliar novos processos. A consciência digital e tecnológica se apresenta como matemática do novo século. Estamos fechando o ciclo tecnológico e começando um novo ciclo guiado por instituições que armazenam e processam dados. Esse ciclo deve ir até 2030, quando deve ser iniciado o ciclo da computação quântica. As relações de trabalho seguem um ritmo totalmente diferente, potencializado ainda mais com a pandemia, que aprofundou a digitalização do mundo. Como as novas tecnologias são adotadas pela população cada vez mais rápido, mudanças significativas na sociedade não levam mais décadas e, sim, meses para acontecer. As pessoas estão mais abertas para o novo e a competitividade no mercado aumentou exponencialmente.

Qual o futuro do mercado da inovação?

Hoje um dos profissionais mais requisitados no mercado é justamente o profissional relacionado à inovação. Coordenadores, gerentes, diretores. A inovação está ou deveria estar no DNA de toda organização. Estamos em um cenário cada vez mais competitivo. As pessoas entregam produtos cada vez mais incríveis. Está difícil competir no mercado com muitos players. O consumidor tornou-se mais maduro e seleto. Eu vou estar fora do mercado se não me dispor a constantemente inovar no que eu faço para eliminar aquilo que o cliente não quer ou que não faz mais sentido para a vida dele. Temos de construir a próxima versão daquilo que o cliente vai desejar, e essa próxima versão pode ser muito diferente do produto, serviço e solução que eu entrego hoje. Costumo dizer que hoje, em uma organização, os colaboradores pagam o salário da empresa, e os profissionais de inovação pagam a aposentadoria. O mercado de inovação é promissor e está cada vez mais clara a necessidade das empresas e organizações colocarem o assunto inovação como prioridade.

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Esta matéria foi escrita por  Juliana César Nunes e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação