Entendendo o ESG com a ajuda de especialistas

E de enviroment (meio ambiente)

3 perguntas para Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas

Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas

Qual é o principal desafio relacionado ao meio ambiente na pauta ESG?

O principal desafio relacionado ao meio ambiente, dentro da pauta ESG, é criar métricas transparentes e confiáveis de medição da emissão e sequestro de carbono na atmosfera. Pessoalmente, defendo a criação de métricas e metodologias tropicais de medição de carbono, alinhados à realidade produtiva do Brasil. Hoje, o custo para obter essa informação [de emissão e sequestro de carbono] é muito elevado e feito por certificadoras internacionais. 

Como vencer esse desafio?

As três tarefas fundamentais que devem ser feitas no país são:

  1. Criação de uma base de informação nacional sobre o solo, que já passe ao produtor informações claras e seguras sobre a quantidade de carbono das suas propriedades; 
  2. Ajustar uma metodologia de medição de carbono capaz de ver o impacto da produção na atmosfera, se é positiva ou negativa;
  3. Ampliar e aprofundar a medição via satélite para automatizar esse processo de análise da emissão de carbono.

Fazendo isso, vamos dar ao pequeno e médio produtor acesso a essas informações e, consequentemente, abrir para eles a portas de mercados mais exigentes. 

Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?

Dentro da nossa sociedade existem organizações que, por sua vocação, são naturalmente predispostas a abraçar desafios. E na história do capitalismo, as organizações de referência nesse sentido são as cooperativas. A grande vocação do coop é a transformação. Vocês são têm tudo o que se precisa para liderar a construção de um futuro novo, gerando renda e oportunidades para todos. A transformação verde pelo qual nossa economia vai passar, depende do potencial cooperativista de transformar a nossa realidade, tornando-a mais acessível e pujante para todos. 

https://www.youtube.com/watch?v=Wh36tPtPUrU

S de social

Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas — bloco de líderes e empreendedores de impacto social das 10 maiores favelas brasileiras que, assim como os países ricos do G7, uniu forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas.

3 perguntas para Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas — bloco de líderes e empreendedores de impacto social das 10 maiores favelas brasileiras que, assim como os países ricos do G7, uniu forças em prol do desenvolvimento econômico e social dessas áreas urbanas.

Qual é o principal desafio relacionado à responsabilidade social dentro ESG?

O desafio principal é colocar as pessoas em primeiro lugar, mas isso as cooperativas já fazem.

É através do Social que as pessoas podem impulsionar e transformar a própria vida. Nós acreditamos em negócios de impacto social, em que as pessoas podem, através da formação e qualificação, se desenvolver e ter dinheiro. Eu digo por que sei: dinheiro no bolso é a melhor forma de transformar a vida das pessoas. A mulher que sonha ir para faculdade, a que sofre violência doméstica, elas precisam de dinheiro para fazer essa mudança. O jovem que quer ganhar o mundo? Ele precisa de oportunidade e dinheiro no bolso para fazer isso.    

Qual o impacto social das cooperativas brasileiras?

O trabalho do G10 é totalmente inspirado nas cooperativas do Brasil. O coop  entende que nós podemos, através da ajuda mútua, transformar a realidade das nossas comunidades. Eu admiro essa forma de coletivamente criar soluções e, depois, compartilhar essas experiências para impulsionar o crescimento de todo mundo.     

O que uma cooperativa pode fazer, hoje, para ter maior impacto social?

Acho que o caminho é buscar soluções em vez de culpados. Diante de um problema, procure uma solução e ela, com certeza, vai gerar coisas boas e oportunidades, trabalho e renda.  A melhor forma de crescer é todo mundo se ajudar. 

https://www.youtube.com/watch?v=nYp89KthMSM

G de governance (governança) 

Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG de grandes empresas brasileiras.

3 perguntas para Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG de grandes empresas brasileiras. 

Qual é o principal desafio da governança dentro do ESG?

O ESG deveria começar pelo G, de governança. O “G” é a maneira como a gente toma decisões, como a gente lida com a transparência, mede resultados, monitora os trabalhos. A gente só vai conseguir, de fato, alcançar equilíbrio ambiental e desenvolvimento social se os nossos líderes respeitarem os valores da boa governança que são a ética, a diversidade, a equidade, a transparência e a participação.  

Como vencer esse desafio?

Investindo em diversidade, trazendo uma nova visão para dentro dos Conselhos e diretoria das cooperativas. E quando eu falo em diversidade, não estou falando apenas de etnia, gênero ou orientação sexual, mas de background (experiência). Precisamos trazer pessoas com visões e vivências diferentes para dentro das cooperativas, mesclando os saberes acumulados por lideranças de diferentes gerações e setores da economia. Se eu não tenho dentro da minha coop um especialista em inovação, eu posso ir ao mercado buscar um. Se no meu conselho não existem especialistas em diversidade, eu posso buscar um conselheiro independente que ajude a trazer esse olhar para minha organização. O percentual de membros independentes em conselhos de administração no setor privado no Brasil cresceu de 35% para 61% em sete anos. Essa diversidade gera inovação e é a inovação que garante a sustentabilidade e a competitividade de qualquer negócio. 

Qual o potencial do coop para liderar o movimento ESG no Brasil?

Eu estou aprendendo com o cooperativismo. É realmente apaixonante. Vocês têm tudo o que o mundo precisa hoje: compromisso com o equilíbrio ambiental, cuidado com as pessoas e uma gestão solidária, ética e transparente. Por isso, eu acredito que as coops não vão só participar desse momento de transformação da economia, mas liderar o movimento ESG no Brasil. 


Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


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