"O que fazer quando o mundo nos chama?"

A economia global está passando por uma nova transformação guiada por três letrinhas: ESG, sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança (entendido aqui como ética e transparência nos negócios). E sabe quem já está pronto para liderar esse movimento de mudança no Brasil e no mundo: o coop. 

“Se uma cooperativa viver para seu estatuto social, ela já estará alinhada ao ESG”, defende Dario. Neto, fundador do Grupo Anga — plataforma de negócios e investimentos orientados para impacto socioambiental positivo — e diretor do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).

De fato, o cooperativismo e o ESG combinam perfeitamente entre si por compartilharem dos mesmos valores: o cuidado com as pessoas, a responsabilidade socioambiental e a boa governança. Tudo com foco no desenvolvimento e na sustentabilidade dos negócios, da sociedade e do planeta. 

É por isso, eu afirmo sem medo de errar: o coop já nasceu ESG”, explicou Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB no discurso de lançamento do ESGCoop — programa que pretende colocar o cooperativismo no protagonismo da agenda ESG no Brasil.

Tânia destaca que, enquanto as empresas comerciais têm um listão de itens para mudar — desde a mentalidade até o modelo de negócios que prioriza o lucro em vez da sustentabilidade —, as cooperativas têm apenas dois deveres de casa: 1) organizar indicadores de desempenho que mostrem o impacto socioambiental de suas atividades; 2) comunicar para o mundo, de forma eficiente e consistente que o coop sempre foi ESG.

Precisamos deixar claro que a sustentabilidade é parte do nosso DNA. Não fazemos isso porque está na moda, mas porque priorizarmos as pessoas e as comunidades onde atuamos”, explica a superintendente.

De fato, há mais mais de um século, as decisões do coop são tomadas de forma colegiada e democrática, colocando as necessidades, os negócios, as finanças e o trabalho dos cooperados em primeiro lugar, tal como defende hoje o ESG. 

E para garantir que isso aconteça, os gestores cooperativistas prestem contas de tudo o que fazem para a Assembleia Geral, composta pelos verdadeiros donos do negócio: os cooperados.

Isso é transparência, principal  característica  da chamada boa governança”, explica Tarcila Ursini, economista e advogada que atua como conselheira independente para ESG em grandes empresas brasileiras. 

Outro pilar central do ESG é o compromisso com o desenvolvimento sustentável da sociedade e do meio ambiente, praticamente uma confirmação do sétimo princípio cooperativista, que orienta as coops a reinvestirem parte de seus resultados e a se preocuparem com as comunidades onde atuam. “Ao fazer isso, o coop investe hoje no amanhã — um pensamento sustentável, que tem tudo a ver com o nosso jeito diferente de pensar o mundo e fazer negócios”, reforça Tânia Zanella.

PROPÓSITO COMO DIFERENCIAL

Embora muitas pessoas só tenham ouvido falar recentemente em ESG, o conceito existe há quase 20 anos (veja quadro) e é um caminho sem volta para qualquer organização, seja ela cooperativa ou comercial, pública ou privada. 

“Mais cedo ou mais tarde, toda organização vai ter de se aproximar da pauta ESG. Pesquisas mostram que 8 em cada 10 consumidores da geração Z (nascidos na segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010) se importam com o ESG e só querem se relacionar com empresas que tenham propósito”, explica DarioNetodo Grupo Anga. 

A atração de investidores é outro motivo para olhar para o ESG. De acordo com Neto, o BID e outros bancos estão abrindo muitos editais para projetos ESG. Para captação de recursos, oito em cada 10 investidores querem apostar em fundos com classificação ESG. Além disso, a partir deste ano, todas as instituições financeiras do Brasil — incluindo as cooperativas de crédito — serão obrigadas a divulgar informações sobre os riscos sociais, ambientais e climáticos das iniciativas que financiam. Também é esperada a abertura de linhas de crédito específicas para projetos que seguem os princípios ESG. 

Esses são alguns dos motivos para as coops investirem em ESG por conformidade, ou seja, para estarem dentro do que o mercado espera. Mas a verdade é que existem muitas oportunidades para quem realmente se apropriar dessa agenda por convicção”, acrescentou Neto. 

______________________________________________________________________

De onde vem o conceito ESG?

Tudo começou com o Pacto Global, um documento de adesão voluntária  — proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) — que convida empresas e organizações de todo o mundo a se unirem para promover dentro de seus negócios boas práticas de direitos humanos, desenvolvimento sustentável, trabalho digno e ética. 

Com 16 mil empresas participantes, distribuídas em 160 países, o Pacto Global é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, segundo o Secretariado-Geral da Nações Unidas. Foi dele que nasceram as sementes do conceito ESG, que viria a ser formulado em 2004. A sigla foi definida pela primeira vez no documento Who Cares Wins, elaborado pelo Pacto em parceria com o Banco Mundial.

O relatório buscou estimular as instituições financeiras e o mercado de capitais a considerar os fatores sociais, ambientais e de governança em suas ações. Uma maneira de incentivá-las a colaborar com o desenvolvimento das comunidades onde atuam, tal como fazem as cooperativas.  

______________________________________________________________________

QUAIS SÃO OS PRÓXIMOS PASSOS?

Para apoiar nossas cooperativas a mostrarem ao mundo que elas já nasceram ESG, o Sistema OCB lançou durante a Semana de Competitividade — realizada de 22 a 26 de agosto, em Brasília — um novo programa com foco na competitividade do nosso modelo de negócios: o ESGCoop.

Durante meses, a equipe da Casa do Cooperativismo, com o apoio do Grupo Anga, ouviu Unidades Estaduais e cooperativas que já estão tratando da pauta, bem como fornecedores e parceiros para saber o que está sendo feito no mundo. 

“Nosso objetivo nunca foi ‘reinventar a roda’. Nós gostamos é de trocar experiências e de divulgar o que está sendo feito de melhor no Brasil. A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), por exemplo, tem um projeto de ESG que faz sentido para todo o cooperativismo, por isso estamos tomando-o de base e pretendemos ampliá-lo para todo o Brasil”, declarou Tânia.

É com esse espírito de cooperação (ou melhor, de intercooperação) que está sendo fechada a estrutura central do ESGCoop, atualmente alicerçado terá quatro pilares fundamentais: 

  1. Mapeamento de ações já realizadas no cooperativismo;
  2. Definição e organização de indicadores conectados com os nossos negócios; 
  3. Escolha de caminhos coletivos de evolução para gerar o maior impacto positivo possível;
  4. Formação de lideranças ESG.

Essa base aspiracional e metodológica facilitará o compartilhamento das boas práticas entre as cooperativas e ajudará a tangibilizar o impacto socioambiental do coop no Brasil. “Esses dados têm potencial para atrair novos cooperados, novos clientes e investimentos externos, fortalecendo ainda mais nossas cooperativas. Sem falar que ao demonstrar em números o que fazemos pelo país, teremos mais força para aprovar políticas públicas favoráveis ao coop”, pondera a superintendente do Sistema OCB. 

Por essas e outras, Dario Neto, do Grupo Anga, faz questão de ressaltar a importância da adesão dos líderes cooperativistas ao novo programa do Sistema OCB. 

O Brasil precisa de lideranças comprometidas com redução de desigualdades e com a promoção do equilíbrio climático. E eu vejo que não há como fazer isso sem o cooperativismo na vanguarda e na liderança do ESG. Façam isso por conformidade ou por ideal, mas façam. Os nossos filhos e as futuras geração precisam de nós agora”, conclamou.

 Manifesto ESGCoop

A Semana da Competitividade foi palco do lançamento do programa ESGCoop, que promete levar o coop ao protagonismo do movimento ESG. E para marcar o compromisso das cooperativas brasileiras sobre o assunto, divulgamos o Manifesto ESG — declamado no evento por representantes dos comitê de jovens (Geração C) e mulheres (Elas pelo coop) do Sistema OCB. Confira:

“Em meio a desafios sociais e ambientais crescentes, o mundo pede por soluções. 

Soluções essas que não devem vir de mártires ou atos heroicos, mas de comunidades capazes de moldar o próprio futuro de forma coletiva. 

Todos esses desafios foram, enfim, sintetizados em três letras: E S G. 

Correspondem ao desafio de cuidar do planeta, de cuidar das pessoas e de governar as organizações que impactam na vida de todos nós. 

Se esses desafios foram resumidos recentemente, o coop já tem a solução há mais de cem anos. 

Essa solução é feita de cultura e princípios que permitem com que as pessoas possam trabalhar melhor entre si e gerar valor para todas as partes interessadas: clientes, colaboradores, fornecedores, associados e todos os outros parceiros. 

A solução também é feita de responsabilidades assumidas: com a promoção da educação, o fomento ao desenvolvimento local, o combate e adaptação à emergência climática e com a promoção da diversidade. 

Quando os desafios são grandes, é necessária a grandeza da essência humana para vencê-los. Essência essa que é resumida em uma palavra: cooperar. 

O cooperativismo já tem muita história para contar. E ainda mais histórias por escrever. 

ESGCoop é uma ponte que conecta desafios e soluções. 

ESGCoop é uma plataforma de definição do nosso próprio futuro. 

ESGCoop é assumir que os maiores desafios da humanidade só serão vencidos com a cooperação. 

Na hora em que o mundo mais precisa, o cooperativismo não se omite, lidera! 


Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Conteúdos Relacionados