É hora de falar sobre inovação aberta na sua cooperativa

Toda cooperativa é um caldeirão de ideias. Por ser uma sociedade composta por pessoas, as coops costumam reunir histórias, pensamentos e características diferentes. E essa diversidade é um facilitador importante do processo de inovação, que — vale destacar — não precisa estar vinculada a nenhuma nova tecnologia. 

De forma simples e objetiva, a inovação é pensar novos caminhos para resolver problemas ou aproveitar as oportunidades que se colocam no dia a dia de uma organização. Você inova quando revê processos para torná-los mais ágeis, quando melhora um produto já existente, quando cria um novo jeito de se relacionar com o cliente. Essas mudanças podem ou não contar com suporte tecnológico. O importante é que tragam novos e melhores resultados para o grupo.

Dito isso, é importante  saber que existem dois modelos possíveis de inovação: o fechado (desenvolvido integralmente dentro de uma empresa ou cooperativa, pelos talentos da casa), e o aberto (com a participação de agentes de fora da organização em uma, diversas ou todas as fases do processo). 

Por ser um ecossistema naturalmente colaborativo, o cooperativismo tem aberto espaço para programas de inovação aberta.

'Ao buscar parcerias com universidades, startups e, principalmente, outras cooperativas, o coop ganha agilidade e capacidade de desenvolver novos produtos e serviços. As práticas de inovação aberta são muito importantes, por ajudarem a criar essa complementaridade de saberes”, explica Maria Carolina Rocha, CEO da ABGI, empresa de consultoria que apoia as organizações no acesso de informações e oportunidades de fomento à inovação.

Ela foi uma das palestrantes da Semana de Competividade, realizada em agosto pelo Sistema OCB.

Maria Carolina Rocha, CEO da ABGI

A Saber Cooperar entrevistou um dos maiores especialistas no conceito de Inovação Aberta no Brasil: Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups. Ele também é professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), diretor do IVP Capital Inteligente e conselheiro de Inovação e Competitividade da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp). Tem PhD em Inovação pela Fundação Getulio Vargas (FGV), além de formações nas universidades de Michigan, Califórnia e Virgínia, nos Estados Unidos.

O conceito de inovação aberta constata o fato de que as organizações públicas e privadas dependem cada vez mais do ecossistema externo para inovar. É difícil elas conseguirem produzir inovações no ritmo, na frequência, na intensidade e na qualidade que precisam para se manterem competitivas. Por isso, é comum realizarem programas abertos de inovação, de forma estruturada e intencional. Passa a ser uma prática de gestão”, resume o executivo.

Na opinião de Rondani e Maria Carolina, cada vez mais, a inovação é fruto de esforços de ecossistemas, em que múltiplas organizações, entidades, empresas e pessoas participam. Ecossistema é, portanto, palavra definitiva para se falar sobre a gestão da inovação. 

Se na natureza, para que um ecossistema esteja equilibrado, são necessárias árvores nativas, vegetação, manutenção de condições ambientais saudáveis, o mesmo se aplica ao setor produtivo. É preciso unir universidades, empresas, pesquisadores e cooperativas para manter um ecossistema de inovação produtivo”, explica o CEO da 100 Open Startup.

LABORATÓRIO DA INOVAÇÃO

O Sistema Unimed — o, maior sistema cooperativo de saúde do mundo —, inaugurou uma nova etapa em sua jornada de inovação e transformação digital, por meio do Unimed Lab — hub de inovação aberta que visa conectar suas cooperativas, startups, investidores e outros parceiros estratégicos interessados no desenvolvimento de soluções inovadoras na área da saúde. 

O Sistema Unimed investiu mais de R$ 30 milhões para o desenvolvimento de startups e inovação em 2021, além de prover grandes parcerias conectando as startups em todo o ecossistema, segundo relatório produzido pela 100 Open Startups. Os resultados — como era de se esperar — já começaram a aparecer.

Em 2021, o Unimed Lab saltou da posição 700 no ranking Top Open Corps de 2019 (maiores corporações abertas de 2019, em livre tradução) para o 8º lugar no ranking geral das empresas mais abertas à inovação do Brasil. Na mesma premiação, conquistou o primeiro lugar entre as marcas mais inovadoras do setor de serviços de saúde do país e foi nomeada a organização mais atraente em inovação aberta na edição de março da OiWeek Digital100 Open Startups

Outro reconhecimento veio do Sistema OCB, que destacou o Unimed Lab como um dos principais cases de sucesso do livro Inovação no Cooperativismo: Um guia descomplicado para quem deseja inovar mais e melhor no universo coop.

O Unimed Lab foi criado com o objetivo de se tornar referência de inovação aberta em saúde e fortalecer o compromisso da Unimed com a inovação e a transformação digital na saúde, por meio de um programa de inovação colaborativo composto por suas cooperativas, startups, investidores, mantenedores, hubs, aceleradoras, incubadoras, universidades e parcerias com players do segmento de saúde”, diz Maurício Cerri, superintendente de TI e Inovação da Unimed do Brasil.

Em linha com a vocação cooperativista, o Unimed Lab vem conquistando o apoio de várias parcerias que viabilizam diferentes serviços, como, a abertura de canais de relacionamento com o mercado, curadoria, treinamento, incubação e formação. Entre as parcerias já estabelecidas, estão as empresas Eretz bio (incubadora de startups do Hospital Albert Einstein), a 100 Open Startups, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (Sbis), KPMG, Grupo Supera Park (incubadora de startups da USP de Ribeirão Preto), Zlabs (hub de inovação da healthtech Zitrus), Central RS, Faculdade Unimed e a Associação Brasileira CIO Saúde.

“O Unimed Lab reforça o compromisso da Unimed com a evolução e a perenidade de todas as cooperativas do Sistema e na geração de valor da saúde suplementar do país. Entendemos que, em cenários de alta complexidade e simultaneidades, não pode haver inovação sem a perspectiva da cooperação – — desde a identificação de oportunidades e problemas a serem resolvidos, até o desenvolvimento das melhores soluções. Essa é a grande inspiração que o projeto pode levar para outras iniciativas no setor”, completa.

PARA TODOS

Engana-se quem acredita que apenas cooperativas do porte do Sistema Unimed conseguem se conectar.

A inovação é aberta para todos”, garante Maria Carolina. 

A maior prova disso é que, há uma série de agências no Brasil que apoiam as pesquisas e atividades no desenvolvimento de inovação. O próprio Sistema OCB lançou, em 2021, o programa Conexão com Startups, que lançou uma série de desafios de inovação que poderiam melhorar os processos de cooperativas de diferentes ramos e tamanhos. 

Também podemos citar como exemplo a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), organização vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que lança, periodicamente, chamadas públicas de recursos reembolsáveis para programas de inovação”, completa a CEO da ABGI.  

Maria Carolina terminou sua palestra na Semana de Competividade elogiando a iniciativa das cooperativas que já estão captando recursos ou buscando incentivo público para investir em inovação aberta. Muita delas utilizando a chamada Lei do Bem.


Maria Carolina Rocha, deu dicas de como investir e fomentar a inovação no coop.

https://www.youtube.com/watch?v=efgVXA9XnJ8&list=PLd_xS9FKk7V_duAhq0sCVapECc8fxrh3S&index=9


Esta matéria foi escrita por Morillo Carvalho e Rita Frazão e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


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