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Juntos pelo fim da pobreza

Brasília (10/6/20) – Sustentabilidade é palavra de ordem em todas as cooperativas brasileiras. Por princípio, buscamos crescer de forma sustentável, igualitária e inclusiva, apoiando o desenvolvimento das comunidades nas quais atuamos. Se, há alguns anos, esse conceito era relacionado apenas à área ambiental, hoje ele perpassa todos os ramos da economia. Na verdade, a sustentabilidade deixou de ser um objetivo quase abstrato para se transformar em meta mundial — com prazos e diretrizes definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2015. São os chamados objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODS), um conjunto de 17 medidas que devem nortear as ações públicas e privadas de todos os países-membros até 2030.

Dispostas a contribuir com o sucesso da Agenda, as cooperativas brasileiras — por meio do Sistema OCB — assumiram o compromisso público de apoiar o cumprimento dos ODS no Brasil. Como estamos fazendo isso? A resposta para essa pergunta você confere nesta entrevista, que reuniu o assessor sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no país (PNUD Brasil), Haroldo Machado Filho, e o superintendente do Sistema OCB, Renato Nobile.

 

Como funciona a parceria da ONU com o Sistema OCB?

Haroldo Machado Filho: Nossa parceria teve início em 2018, visando facilitar e fortalecer a colaboração do movimento cooperativista na promoção e no alcance dos ODS no Brasil. Essa parceria evoluiu, em 2019, para um acordo de cooperação técnica com o Serviço Nacional de Aprendizagem para o Cooperativismo (Sescoop), a fim de capacitar as cooperativas brasileiras a aderirem à Agenda 2030e aos ODS. Nosso objetivo é auxiliá-las a implementar projetos de desenvolvimento sustentável e a se posicionarem publicamente como parceiras estratégicas da ONU ao longo do processo de implementação da Agenda no Brasil. Também queremos fortalecer iniciativas globais, nacionais e locais já existentes no cooperativismo e propor inovações que acelerem o impacto positivo que as cooperativas têm no desenvolvimento humano sustentável das comunidades em que atuam.

Renato Nobile: Nós nos aliamos à ONU para conscientizar nossas cooperativas da importância da nossa atuação para o cumprimento da Agenda 2030, da ONU. De norte a sul do Brasil, realizamos centenas de projetos que fomentam a geração de emprego e renda, promovem a redução das desigualdades, estimulam educação de qualidade e promovem a sustentabilidade econômica, social e ambiental do nosso país. Acontece que elas nem sempre percebiam o valor estratégico desses projetos e dessas ações comunitárias. Agora — ao saberem que o cooperativismo é parceiro da ONU em relação aos 17 ODS — elas estão mais atentas ao poder transformador de seus projetos. Além disso, com o Pnud Brasil, estamos capacitando multiplicadores de ODS para que possam orientar nossas cooperativas a alinharem seus projetos socioambientais aos desafios propostos pela ONU.

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NOVIDADE

Você agora pode ler todas as matérias da Revista Saber Cooperar em um blog especial! Legal, né?! E tem muita coisa interessante. A gente fala sobre vários assuntos: as ações do cooperativismo no combate à COVID-19, esse novo momento e muito mais! Acesse agora e confira: http://www.somos.coop.br/revista-coop/

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Ney Bittencourt: um visionário que deixou marcas no agronegócio brasileiro

Um homem à frente do seu tempo e preocupado com a sociedade. Era assim Ney Bittencourt de Araújo, engenheiro agrônomo multifacetário que esteve à frente do grupo Agroceres entre 1971 e 1996. Além de empreendedor rural, foi líder e homem público. Sua morte precoce, em 1996 — quando tinha 59 anos —, interrompeu planos e deixou tristeza, mas a sua trajetória ecoa, ainda hoje, como um grande legado. A dedicação de Bittencourt ultrapassou as fronteiras de sua cooperativa e, ainda hoje, serve de inspiração para uma legião de pessoas do agronegócio.
“Ney formou uma geração de lideranças agropecuárias. Pessoas que, mesmo depois de saírem da Agroceres, continuaram atuando e levando a sua visão estratégica de conduzir os negócios”, afirma José Luíz Tejon, que foi diretor de marketing da Agroceres e atualmente dedica-se — entre outras tantas tarefas — à docência nas áreas de Educação e de Agronegócio. “Ney é uma pessoa inesquecível, um gigantesco amigo e espetacular mentor. Era uma pessoa corajosa, com a qual a gente realizava atos de bravura, sempre com um propósito em mente: o bem do país”, recorda com saudade.
A trajetória de Bittencourt gerou um verdadeiro impacto na forma de pensar do agronegócio brasileiro. “Ele tinha uma cooperativa na mão, mas atuava e trabalhava numa dimensão muitas vezes superior à empresa em si. Ele tinha uma visão de praticamente um estadista, como se fosse um presidente da República”’, explica Tejon. “Estar com ele era muito inspirador. Ele era  de uma motivação imensa, dono de uma empolgação enorme!” FILHO DE PEIXE Mineiro de Viçosa, Ney Bittencourt formou-se em Agronomia pela Universidade de Viçosa e em Administração pela American Manegement Association, de Nova York. A perspicácia empresarial corria no sangue. O pai foi o fundador da Agroceres — empresa que colocou no mercado brasileiro os primeiros híbridos de milho. E, como filho de peixe, ele soube como ninguém dar continuidade à proposta inovadora da cooperativa. Investiu na modernização da produção de milho; em sementes de hortaliças, de sorgo e de pastagens; e na suinicultura e na avicultura. Sempre pensava além. [caption id="attachment_75631" align="alignleft" width="193"] Ney Bittencourt de Araújo, fundador da Associação Brasileira do Agronegócio - ABAG (Crédito: ABAG)[/caption]   “Um dos grandes sonhos do Ruy era ver o Brasil dominar o conhecimento e o desenvolvimento da genética e da produção em todo o cinturão tropical planetário”, lembra o amigo Tejon. Visionário que era, Bittencourt lutou por isso e deixou as suas contribuições. Não à toa, Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, organizou um livro todo dedicado a ele. Na obra Dínamo do Agribusiness, lançado em 1995, mais de cem pessoas destacaram as contribuições de Ney ao agronegócio brasileiro. “Ney tinha uma curiosa característica: quem o visse ou ouvisse uma única vez em um seminário, numa conversa ou num debate, guardaria dele para sempre a impressão marcante de semeador formidável. Semeador de ideias que, se a convivência continuasse, germinariam facilmente em magníficas proporções”, escreveu Rodrigues na apresentação da obra.
Incansável, era aquele tipo de pessoa que não parava. Estudioso, disciplinado e autodidata, os amigos contam que ele abria a empresa logo no início da manhã e só saia ao entardecer. E, quando chegava em casa, finalmente, preferia dedicar-se à leitura do que se render ao descanso.
Participava de inúmeros seminários e debates mundo afora. Na década de 1970, já defendia que a forma de pensar a agricultura e a pecuária no Brasil tinha de ser revista. Os métodos tradicionais, para ele, não condiziam com a necessidade do país nem com o papel fundamental que ele tinha no mundo. Era necessária a orquestração de toda a cadeia produtiva, de uma forma sistêmica, que percebesse que a economia agrícola ultrapassava a produção dentro da fazenda. NO MESMO BARCO Ney entendia que a agropecuária era o elo de uma cadeia que movia a ciência, a tecnologia e a indústria. Foi na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que conheceu o conceito de agronegócio — termo que advém da palavra inglesa agribusiness e engloba todas as operações da atividade agrícola, desde a produção até o varejo. Para Ney, essa “era a pedra fundamental para a construção de uma sociedade justa”.   “Ele foi o primeiro a trazer essa ideia para o Brasil”, conta o engenheiro agrônomo e consultor Ivan Wedekin, outro amigo que se lembra com orgulho de Ney. “No Brasil, esse conceito nasceu em uma cooperativa [Agroceres], e não na Universidade”, argumenta. Wedekin tornou-se assessor econômico da Agroceres em 1984 e participou, ao lado de Ney, de seminários em Harvard. Ele se lembra com gratidão daquela época: “Ney podia ter nos colocado para produzir resultado e vender, mas ele dava um tempo para nós estudarmos”. Dessas imersões e dessa relação intelectual, Wedekin e Ney — com Luiz Antonio Pinazza — tiveram a ideia de escrever o primeiro livro nacional sobre agribusiness no Brasil. A obra Complexo agroindustrial: o agribusiness brasileiro foi lançada em 1989. “Todo esse nosso trabalho inicial foi de garimpagem de informações”, explica. “Nós sabíamos da importância e da força do conceito. Tínhamos claro que deveria existir uma convergência de interesses, que não se justificava um conflito entre o agricultor e a cooperativa e a indústria de sementes, por exemplo. Sabíamos que todos estavam no mesmo barco”, acrescenta. “A partir daí, esse conceito se espalhou pelas universidades e faculdades brasileiras, e hoje temos dezenas de MBAs e pós-graduações em Agronegócio. A partir dessa contribuição, nós saímos da era da agricultura para a era do agronegócio”, comemora.
Bittencourt escreveu outros tantos livros e artigos. “Ele tinha essa visão acadêmica. Participava dessa articulação entre o setor privado e o educacional”, pontua Wedekin. O ex-presidente da Agroceres também foi, entre outros, conselheiro de órgãos como o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Ele era superespecial, e tenho um sentimento de uma perda muito grande de ele não ter visto todo o sucesso do agribusiness. Mas a semente que ele plantou está aí, vigorosa”, afirma Wedekin. O consultor completa: “é uma pena que o Ney não tenha vivido essa pujança do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, que aconteceu a partir da estabilidade da economia, que veio em 1994, com o Plano Real, e depois, com a mudança do regime cambial. Ele morreu antes de o Brasil  se transformar em um dos maiores exportadores mundiais, com o maior saldo da balança comercial agrícola do mundo”, analisa. Tejon acredita que, se Ney estivesse vivo, teria dado outras grandes contribuições ao agronegócio brasileiro. “Os fundamentos de agribusiness ainda não foram completamente dominados no Brasil. Nós tivemos um grande desenvolvimento por meio do cooperativismo, uma vez que as cooperativas se transformaram em cooperativas agroindustriais, e não apenas cooperativas de produção. Mas essa realidade ainda não se aplica a todo o setor do agronegócio”, enfatiza. [caption id="attachment_75630" align="alignnone" width="750"] Crédito: Shutterstock[/caption]   VISÃO HUMANISTA Com uma visão humanista de conduzir os negócios, Ney Bittencourt se comunicava com todo o campo e os centros urbanos. Queria contribuir com o crescimento do país. Sua preocupação era econômica e social. Preocupava-se com o alimento que chegava nas casas brasileiras. “Sempre esteve ligado à formulação de propostas e políticas agrícolas no Brasil. Participava de reuniões com órgãos do governo e todo mundo que traçava a política agrícola brasileira”, relembra Wedekin. Ney liderou, em 1993, a criação da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) com o objetivo de difundir o conceito de agronegócio e destacar, junto a governo, iniciativa privada, entidades de classes e universidades, a importância do trabalho de gestão e gerenciamento de todo o sistema agroindustrial.
Para ele, o agronegócio poderia contribuir com a organização do processo de desenvolvimento sustentado, a integração à economia internacional, a eliminação das profundas desigualdades de renda e dos bolsões de miséria, e o respeito ao meio ambiente.
Ele participou, também, da direção e do conselho de outras 20 entidades nacionais e internacionais ligadas ao agronegócio. Fora do trabalho, era um homem que gostava de música, arte e cultura. “Era muito otimista, um grande contador de causos. Com ele não tinha falta de assunto, gostava de um whisky, da conversa em torno da mesa do bar”, diverte-se Wedekin. Tejon também se lembra de Ney assim. Recorda as noites em que tocava o violão, com o amigo ao lado a cantarolar. “Uma das maiores sortes da minha vida foi ter convivido com o Ney. Era uma personalidade que reunia talento técnico com uma extraordinária visão humana”, avalia. “Graças a ele, fui estudar em Harvard. Fui estudar em Nova York, conhecer o mundo, fazer negociações na Índia”, acrescenta. Daquela época, no entanto, só sobrou um arrependimento: “eu podia ter prestado ainda mais atenção no Ney, porque era simplesmente gigantesca aquela experiência da Agroceres e do convívio com ele”, conclui Tejon.
Esta matéria foi escrita por Tchérena Guimarães e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
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Um "S" para chamar de nosso

Juntar noivo, irmã, sobrinho, vizinhos e amigos em uma sala de aula foi a forma que a mineira Suzana Durães de Faria, 37 anos, encontrou para desenvolver suas habilidades no quesito finanças. Servidora da Câmara Municipal de Chapada Gaúcha (MG), a cooperada do Sicoob Credichapada se interessou pelo curso de Gestão de Finanças Pessoais (GFP), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), a partir do material distribuído àqueles que fazem os módulos de educação financeira. A qualidade do kit e das apostilas chamou a atenção de Suzana que decidiu: queria fazer a capacitação. Mas, para isso, ela precisava reunir pelo menos 30 pessoas interessadas no tema e formar uma turma para conseguir que os multiplicadores fossem dar as aulas. A vontade era tanta que, em pouco tempo, ela conseguiu reunir o suficiente para fechar duas turmas de pessoas que, como ela, queriam aprender novas formas de lidar com o próprio dinheiro. Com duração de uma semana, a capacitação fez a diferença na vida financeira de Suzana. Ela conta que, três meses depois do curso, já tinha parado de comprar fiado, uma questão bastante cultural e comum na região. Além disso, conseguiu organizar as contas, pagar as dívidas e agora usa o cartão de crédito para controlar os gastos. “Aprendi a poupar e a comprar à vista. Se preciso parcelar, faço em, no máximo, 3 vezes no cartão, sem juros”, afirma a servidora. Outra coisa importante que inspirou a servidora foi pensar no futuro e garantir um dinheirinho para quando a velhice bater à porta. “Uma coisa que eu nunca tinha pensado era em poupar para aposentadoria. E o curso me despertou isso”, afirma. Na avaliação dela, o GFP é uma capacitação essencial para toda a comunidade. “É um curso muito importante para quem está iniciando a vida financeira. Na minha turma, as pessoas trabalhavam o dia inteiro e, mesmo assim, iam pra aula à noite, a semana toda. Estavam todos bem interessados”, garante. Suzana é só elogios ao Sescoop e à sua forma de garantir educação de qualidade para as comunidades em que as cooperativas estão instaladas. “O Sescoop é muito importante. A qualidade do material do GFP é fora de série. É importante levar informação e conhecimento sobre questão financeira. Ajuda muito a vida da gente. Falo por mim e pelas pessoas próximas que fizeram o curso”, garante. EDUCAÇÃO CONTINUADA Há 20 anos, o Sescoop acompanha de perto as cooperativas brasileiras para oferecer soluções para a sustentabilidade do negócio. E o desenvolvimento humano está no centro desse trabalho.
Para transformar os ideais cooperativistas em atitudes, a atuação do Sescoop é realizada em três áreas: monitoramento das cooperativas, formação profissional e promoção social dos cooperados e suas comunidades."
“As formações oferecidas pelo Sescoop foram fundamentais na minha carreira profissional”, afirma Arlita Zanini, 57 anos, supervisora de Gestão de Pessoas da Frimesa Cooperativa Central. Ela já fez vários treinamentos pelo Sescoop, que trouxeram mais experiência e maturidade para gerir pessoas e processos, além de ajudar na rotina do trabalho. Arlita destaca o MBA Executivo em Gestão Estratégica de Pessoas e o Programa de Desenvolvimento Gerencial. Segundo ela, o curso ajudou a entender a importância do seu papel de líder e o compromisso de construir um ambiente de trabalho harmonioso e inspirador para os colaboradores, sem esquecer da produtividade e dos resultados para a cooperativa.
Esta matéria foi escrita por Lilian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
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O que acontece quando uma cooperativa apoia uma startup?

Crescer junto é muito melhor do que crescer sozinho. E isso é válido principalmente no ecossistema da inovação, onde cooperação é a palavra-chave entre startups , investidores e aceleradoras . De olho nessa tendência, algumas cooperativas brasileiras lançaram programas para acelerar e contribuir para a consolidação de startups, especialmente no mercado financeiro — as chamadas fintechs. No fim de 2016, o Sicoob Empresas — cooperativa de crédito singular que representa o Sicoob nas regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo — criou uma plataforma inovadora de apoio e incentivo a fintechs, denominada Plataforma.Space  . Por meio da Space, startups em estágio operacional recebem de empresas tradicionais capacitação técnica, apoio com infraestrutura, crédito e acesso ao mercado, com foco no crescimento de clientes e valor agregado para os produtos. Em média, são selecionadas seis startups por semestre. Durante cinco semanas, elas passam por atividades de imersão, comunicação estratégica, treinamentos de relacionamento com investidor e até mesmo internacionalização. Segundo o diretor presidente do Sicoob Empresas RJ, Eduardo Diniz, o objetivo é mapear startups que tenham soluções para aumentar produtividade, diminuir custos, melhorar processos e atrair mais cooperados e negócios para a instituição financeira. Diniz, explica:
“Não diria que somos uma aceleradora em si, mas um programa de incentivo ao crescimento e consolidação de scale ups — empresas que conseguem sustentar um crescimento de pelo menos 20% ao ano, durante um período de três anos seguidos. Somos uma plataforma que tem por objetivo alçar essas empresas ao patamar mais alto possível.
Após três anos de projeto, o diretor relata que foram alcançados excelentes resultados — entre eles, a parceria com dezenas de startups, que se utilizam do Bancoob como core banking  para manter suas contas de pagamentos, realizar transações financeiras, transferências eletrônicas e pagamentos de contas, por meio de Interface de Programação de Aplicativos (API). Segundo Diniz, essas fintechs operam juntas, mensalmente, mais de 1 milhão de transações financeiras com um volume financeiro superior a US$ 30 milhões. Uma das fintechs aceleradas pela Plataforma.Space é o Banco Digital Maré . A startup nasceu com as missões de resolver o problema de inclusão financeira e fomentar o comércio na comunidade do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. É a primeira iniciativa do país para a criação de um sistema de micropagamento com moeda digital, batizada de Palafita. De forma simples e acessível, o objetivo é, por meio de um aplicativo mobile, agilizar pagamentos, transferências e compras de pessoas que não têm conta bancária, e universitários que sejam engajados em projetos sociais e que tenham dificuldade de abrir contas em bancos, por conta das tarifas altas. Além da moeda digital, o banco oferece o cartão pré-pago Maré, que pode ser recarregado e utilizado para compras na internet ou em lojas físicas, e as máquinas POS Maré, que permitem a realização de compras sem o uso de dinheiro. Os serviços financeiros podem ser acessados não somente pelo aplicativo, mas também nos chamados Kioscos, que são os pontos de atendimento onde os clientes são atendidos pelos próprios moradores de suas regiões. Os Kioscos também podem funcionar no comércio, que pode se cadastrar para ser um ponto de atendimento do Maré.   TENDÊNCIAS A aceleração de startups como o Banco Digital Maré e a interconexão com cooperativas são apenas uma face das tendências que estão em curso e podem se consolidar nesse processo. Os atores envolvidos no movimento de inovação projetam ainda a possibilidade de formação no Brasil de um cooperativismo 2.0 e a geração de cooptechs (cooperativas startups), que atuariam de forma mais enxuta, planejando negócios escaláveis com base tecnológica. Mas, para chegar lá, é necessária uma mudança mais profunda na cultura das cooperativas. O propósito é fortalecer o cooperativismo, renovando sua forma de ação para alcançar mais resultados sociais e econômicos. “A inovação começa nas pessoas, não na tecnologia”, declarou Romário Ferreira, sócio de uma empresa dedicada a desenvolver um ecossistema de inovação do cooperativismo no país — a Coonecta. Segundo ele, para fazer isso, é necessário  pessoas com esse mindset, que façam mudar os projetos e com quem as coisas sejam mais ágeis. “Estamos acompanhando esse movimento de perto e queremos contribuir para ter um cooperativismo ainda mais forte, com inovação”,   CAPACITAÇÃO Percebendo a crescente demanda do cooperativismo por novos modelos de gestão e tecnologias inovadoras, a Coonecta especializou-se em promover eventos, workshops e missões nacionais e internacionais para intercâmbio de experiências inovadoras. Um grupo já foi para Nova York, e a próxima viagem prevista é para o Vale do Silício, nos Estados Unidos. A iniciativa surgiu há cerca de quatro anos, idealizada por dois jornalistas que deixaram a profissão de origem e passaram a se dedicar a treinamentos corporativos de empresas do ramo financeiro, como bancos, operadoras de crédito, cobrança, meios de pagamento, entre outras. Nos eventos e congressos de capacitação desse mercado, um fato chamou a atenção dos sócios: a maioria dos participantes era de cooperativas de crédito que buscavam informações para suprir alguma demanda de negócio e se tornarem mais competitivas. “Foi aí que aconteceu o encontro desses mundos. Fizemos uma validação por um tempo, conversando com diversos dirigentes e executivos de cooperativas para entender que é um movimento muito rico, mas carente de inovação”, relata Ferreira. O objetivo da Coonecta é capacitar o funcionário da cooperativa para que ele consiga implantar estratégias e disseminar o conhecimento internamente na instituição, a fim de que ela seja mais inovadora e eficiente nas suas operações. O empresário afirma:
“O cooperativismo nasceu inovador. Ele tem princípios que hoje são buscados por empresas não cooperativas. Do ponto de vista de valores, o cooperativismo está em sintonia com esse movimento atual de inovação.
MAPEAMENTO O Brasil tem cerca de 12 mil startups, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Mas o país ainda não tem um levantamento fechado de quantas delas desenvolvem projetos de inovação em parceria com cooperativas. Para preencher essa lacuna, a OCB está desenvolvendo, em parceria com a Coonecta, um radar de inovação que deve ser lançado ainda este ano. A iniciativa pretende reunir os principais cases de cooperativismo e inovação do país. Segundo o Coonecta, as cooperativas de crédito, agropecuárias e de saúde estão à frente do movimento de inovação. No entanto, outros setores, como o de transporte, também têm desenvolvido projetos inovadores. A maior parte está concentrada no Sul e no Sudeste, mas a tendência é que o movimento cresça em outras regiões do país — como no Centro-Oeste, que já está no radar da empresa. “No crédito,  a gente vê uma busca muito grande por inteligência artificial, blockchain , plataforma mobile. As cooperativas agras têm olhado bastante para isso, buscando soluções de big data e smart farm , por exemplo. É um movimento geral com alguns setores mais avançados comentou Romário. Além da Sicredi Pioneira, Romário cita as experiências da Unimed BH, que lançou um programa para selecionar startups; a Seguros Unimed, que criou uma plataforma para conectar outras unidades do grupo; o Sistema Ailos, que também selecionou startups para suprir as necessidades de negócio de suas 13 cooperativas; a Castrolanda, tradicional cooperativa do mundo agro que promoveu uma semana de inovação e um Hackathon para premiar startups; além da Coopercarga, do ramo transporte, que criou um programa de inovação aberta, e dele surgiu a Cargon , uma nova startup que já tem vida própria. No caso da Sicredi Pioneira, as perspectivas são positivas. A cooperativa quer desenvolver novas plataformas de crédito e aprimorar as existentes, além de fortalecer a cultura de  inovação entre os colaboradores de todas as áreas da instituição.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
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“Estamos bem representados em Brasília”

Mesmo distante de Brasília, no município de Maringá, no interior do Paraná, João Sadão sente que sua cooperativa está muito bem representada no coração do Poder. Gerente de cooperativismo da Cocamar — uma das maiores do Brasil, no ramo agropecuário — ele viu pleitos antigos do nosso setor serem atendidos pelo governo federal, em 2019. Entre eles, a ampliação da participação das cooperativas brasileiras no Programa Selo Combustível Social do Ministério da Agricultura “Antes da atuação da OCB, se a cooperativa não tinha mais de 60% dos produtores de agricultura familiar, não poderia participar e se beneficiar do programa. Agora, conseguimos fazer com que valesse a regra da proporcionalidade. Se uma cooperativa tiver 30% de pequenos produtores com registro de DAP Física  em seu quadro social, ela poderá participar com esses mesmos 30% de agricultores no programa Selo Combustível Social” explica Sadão. A mudança a qual se refere o gestor da Cocamar é fruto de um longo trabalho de negociação. O Sistema OCB — apoiado pela Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) — convenceu o Ministério da Agricultura a ampliar o acesso das cooperativas ao programa Selo Combustível Social, com a publicação das Portarias 144 e 174 de 2019. Com isso, estima-se que pelo menos 40 mil agricultores se tornem, por meio de suas cooperativas, fornecedores do programa. “Isso garante benefícios importantes para os produtores de agricultura familiar, como por exemplo: estímulos tributários, capacitação e assistência técnica”, destaca o dirigente. De acordo com o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, o antigo limite imposto para a DAP Jurídica  deixava dezenas de cooperativas fora do mercado de biocombustíveis, prejudicando milhares de pequenos agricultores cooperados. Isso porque dificilmente uma indústria compra matéria-prima diretamente do pequeno produtor, pela dificuldade de operacionalizar essa aquisição. Nosso presidente destaca:
“Se optasse por realizar compras individuais, com o pequeno produtor, a indústria precisaria lidar com todas as questões relacionados à coleta do produtos, à logística da entrega e à assinatura de centenas de contratos de compra e venda. Para esse público, é muito mais fácil negociar grandes quantidades diretamente com uma cooperativa, até por conta da padronização da qualidade dos produtos negociados.
Hoje, cerca de 123 cooperativas já estão habilitadas a participar do programa como fornecedoras de matéria-prima para a indústria do biodiesel. Em 2018, 61 mil agricultores produziram 3,9 milhões de toneladas de matérias-primas para o Selo Combustível Social — incluindo  soja, mamona e óleos vegetais. As aquisições totalizaram R$ 5,1 bilhões em 2018. Os dados são do Mapa.   REPRESENTAÇÃO POLÍTICA Cooperativista desde jovem, João Sadão afirma sentir-se mais do que representado em Brasília, pela Frencoop e pelo Sistema OCB. “Nós nos sentimos como parte importante deste trabalho. Com uma linha de diálogo aberta e constante, somos comunicados das discussões em andamento, bem como levamos diversas demandas de interesse coletivo para a Frente, via OCB”, destaca.   [caption id="attachment_75573" align="alignnone" width="560"] João Sadão, da Cocamar: “estamos bem representados, em Brasília, pelo Sistema OCB” (crédito da foto: Portal da Cidade Paranavaí)[/caption]   Atualmente, a frente cooperativista congrega  51,1% dos congressistas dessa legislatura. São 268 deputados e 38 senadores de diferentes estados e partidos. O bloco atua de forma coesa e sinérgica, com total apoio da equipe de relações institucionais da OCB, que municia os parlamentares com análises setoriais, subsídios legais, dados e — o mais importante de tudo — com as demandas e os pleitos das cooperativas brasileiras de todo o Brasil. “A Frencoop tem nos ajudado a  sugerir políticas públicas que estimulem o fortalecimento do cooperativismo. Além disso, contamos com eles para tentar barrar projetos de leis conflitantes às cooperativas e aos seus cooperados. Por diversas vezes, conseguimos importantes conquistas para o setor, e isso, sem dúvidas, é a maior prova da relevância e eficácia deste valioso trabalho organizado”, defende o gestor da Cocamar.   NA LINHA DE FRENTE O ex-deputado Odacir Zonta, presidente da Frencoop de 2004 a 2011, afirma que a presença desse bloco no Congresso Nacional trouxe o elo que faltava entre o cooperativismo e o Poder Legislativo. “A partir da Constituição de 1988, quando foram conquistados muitos avanços para o cooperativismo, como o próprio reconhecimento da entidade e do ato cooperativo, foi necessário ter uma ação solidária e efetiva de apoio do cooperativismo no Congresso Nacional”, relembra Zonta que, hoje, é vice-presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc). Entre as muitas conquistas do Sistema OCB que contaram com o apoio da Frencoop, ele destaca a criação do Sistema S das cooperativas, o Sescoop, e o fortalecimento do cooperativismo de crédito. “Conseguimos, junto ao Banco Central, o reconhecimento do cooperativismo de crédito como parte do sistema financeiro. Depois, mais um avanço, foi a criação de uma diretoria voltada especificamente para o cooperativismo de crédito, com normas específicas e diferenciadas para o setor”, enumera. Motivar os estados e as assembleias legislativas a ter frentes parlamentares do cooperativismo também foi uma conquista. Santa Catarina saiu na frente e foi o primeiro estado a instituir sua frente parlamentar, em 1997. Zonta destaca ainda a criação da Agenda Institucional do Cooperativismo , a partir de 2004. “Foram muitas as conquistas nesse período graças a existência da Frente Parlamentar do Cooperativismo que, ligada a OCB, participa de todos os desafios”, completou.  
 ENTENDA A IMPORTÂNCIA DO SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL Certificação criada em 2005 com dois objetivos: 1) Fomentar a inclusão social e produtiva da agricultura familiar; 2) Estimular a produção de biocombustíveis no país — fonte de energia sustentável, que reduz a emissão de gases poluentes (CO2) na atmosfera. Podem receber o selo as indústrias produtoras de biodiesel que comprovem a aquisição de matéria-prima da agricultura familiar e ofereça — por conta própria ou em parceria com as cooperativas — serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), seguindo os parâmetros definidos pelo governo federal. Em contrapartida, essas indústrias têm reserva de 80% do mercado de biodiesel, além de redução de alguns impostos.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
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O Justo Sabor da Cooperação

O homem, a floresta e as águas convivem na mais perfeita harmonia em um pedaço da Floresta Amazônica, localizada no estado do Amapá. Lá, nesse cantinho quase desconhecido do Brasil, fica a primeira cooperativa do mundo (isso mesmo, do mundo) a receber a mais importante certificação de manejo sustentável de florestas do mercado: a Forest Stewardship Council (FSC). Para receber esse cobiçado selo, a Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique (Amazom Bai) teve de provar que produz açaí sem danificar a floresta e sem descuidar do bem-estar de cada um de seus cooperados. “Para conseguir a certificação, tivemos de adotar as melhores práticas na área de segurança do trabalho”, recorda o presidente da cooperativa, Rubens Gomes, um senhor de 59 anos, de longas barbas brancas. Animado, ele destaca:
Hoje, nossos cooperados só entram na floresta com capacete, botas e com a faca dentro bainha, para evitar acidentes. Desde então, nunca mais registramos um acidente de trabalho”.
Músico de formação e empreendedor socioambiental de coração, Gomes é um dos fundadores da cooperativa que, com apenas um ano, já coloca no mercado um produto de alta qualidade, alinhado às melhores práticas de conservação socioambiental. Tudo isso, sem falar na importante função social de gerar emprego e renda digna para as comunidades das oito ilhas que compõe o Arquipélago do Bailique. A Amazom Bai reúne cerca de 98 produtores certificados de 29 comunidades. Juntos, eles conseguem extrair da floresta 2,5 toneladas de açaí por ano.  Tudo isso sem impactar negativamente o meio ambiente. “Por enquanto, estamos comercializando nosso açaí apenas no estado, mas nossa intenção é levar o produto para outros estados e países. Interessados não faltam”.     Já no fim da tarde, quando deixa a floresta para voltar para casa, Gomes admira o açaí colhido no dia e comemora:  “É uma verdadeira alegria ver nossa cooperativa crescer e ser reconhecida”. Satisfeito com os resultados obtidos, ele sonha em ajudar outras cooperativas a mudarem sua prática de consumo e extração de recursos naturais. “Temos de planejar o uso do que a natureza nos dá hoje para garantir às futuras gerações o direito a terem acesso a essas mesmas riquezas”.
FICHA TÉCNICA DO PROJETO: Nome da cooperativa: Amazom Bai Estado: Amapá Diferencial: primeira cooperativa do mundo a receber a mais importante certificação de manejo sustentável de florestas do mercado: o FSC Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a Amazom Bai ajuda a alcançar  [caption id="attachment_75587" align="alignnone" width="1602"] Foto de arquivo: Amazon Bai[/caption]
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 23 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
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Histórias que contam resultados

  A Casa do Cooperativismo existe por você e para você! E para mostrar um pouco do que temos feito pelas cooperativas brasileiras, todos os anos divulgamos um Relatório de Gestão, com as principais conquistas e números do exercício. Este ano, decidimos dar mais vida a esses resultados. E a melhor maneira de fazer isso é contando as histórias de quem teve a vida impactada por uma ação do Sistema OCB. A partir dos relatos que publicaremos nesta e nas próximas edições da revista Saber Cooperar, esperamos transformar nossos números em pessoas reais; nossos resultados em algo tangível para nossas cooperativas. O objetivo é um só: dar a cada um de vocês a certeza de que o cooperativismo brasileiro está sendo visto, ouvido e muito bem cuidado pelo Sistema OCB.   ENERGIA PARA CRESCER   No interior do Rio Grande do Sul, no município de Teouônia, um pequeno grupo se uniu para levar energia a 150 pessoas que moravam na área rural da cidade. A usina criada por eles em 1956 foi o embrião do que hoje é a Certel, cooperativa de infraestrutura que atende a 70 mil associados em 48 municípios do estado. “Nossa primeira usina gerava energia até as 21h, dava três piscadas e o pessoal ia dormir”, lembra o hoje presidente da Certel, Erineo José Hennemann, sobre o início da empreitada. De lá para cá, a cooperativa cresceu e se tornou grande provedora de soluções para as comunidades. Atualmente, conta com quatro usinas hidrelétricas e uma solar que geraram, em 2019, cerca de 8.300 MWh por mês — o suficiente para fornecer energia elétrica para 62 milhões de pessoas, o equivalente a toda a população da Itália, durante igual período. De olho no futuro, um novo empreendimento de geração de energia limpa já está a caminho (veja quadro). E ele contará com a segurança jurídica necessária para crescer, de forma sustentável, graças a uma atuação política estratégica do Sistema OCB. Nos últimos anos, a Casa do Cooperativismo intensificou o diálogo e a aproximação do setor com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Com isso, conseguimos padronizar os prazos de permissão e autorização de prestação de serviços de distribuição de energia elétrica para as cooperativas. Agora, nossas associadas têm concessão garantida por 30 anos, intervalo de tempo no qual é possível realizar um planejamento estruturante de longo prazo. A medida garante o acesso das cooperativas à subvenção nos casos de baixa carga —  ação que diminui os riscos da atividade econômica e amplia o acesso dessas cooperativas ao crédito. Além disso, elas agora terão acesso a linhas de financiamentos com carência e prazos adequados à atividade. Clara Maffia, gerente técnica e econômica da OCB, explica:
São muitos anos de trabalho árduo, e em 2019, obtivemos um grande avanço com a assinatura do contrato de permissão de 14 cooperativas, finalizando o processo de enquadramento iniciado em 2008. O contrato dá segurança jurídica para a cooperativa continuar a prestar serviços públicos de distribuição de energia com qualidade”
Se antes de poder se planejar a longo prazo, a Certel já se destacava nacionalmente pela qualidade dos serviços prestados, imagine os resultados que ela poderá gerar nos próximos anos? Apenas para você ter ideia, em 2019, a cooperativa foi considerada a sétima melhor distribuidora de energia, entre as mais de 120 distribuidoras do país. A pesquisa foi feita pela Aneel a partir de entrevistas com usuários do sistema. A honraria tem razão de ser. Afinal, a Certel oferece hoje a menor tarifa de energia elétrica do estado do Rio Grande do Sul – 30% menor que a das grandes distribuidoras. Quer mais? A partir dos ganhos conquistados ao longo do ano passado, a cooperativa vai distribuir R$ 10 milhões em bônus de energia aos seus associados, no período de maio a dezembro de 2020. Isso significa mais economia a todos os cooperados por meio de uma conta de energia mais barata. “Quando se fala tanto em aumento de tarifas, a Certel está fazendo o contrário, está reduzindo a tarifa. É a missão do cooperativismo: ter o melhor serviço e uma tarifa menor do que o mercado.”   PROJETO ILUMINADO A partir de uma ação de intercooperação inédita, a Certel lançou, em fevereiro deste ano, o projeto da Hidrelétrica Vale do Leite, que será construída no Rio Forqueta, entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo. Cerca de R$ 45 milhões serão investidos a partir de financiamento do Sicredi de Teutônia, Sicredi de Lajeado, Sicredi de Encantado e Sicredi de Soledade. Isso mesmo! Quatro instituições cooperativas de crédito se uniram à Certel para bancar e levar essa obra para frente. “Cada megawatt gerado nessa hidrelétrica vai substituir um megawatt de energia não renovável como é o caso do diesel ou fontes poluidoras. E para o estado do Rio Grande do Sul representa 1 megawatt a menos que o estado tem de comprar de outros estados”, disse Erineo José Hennemann, presidente da Certel, sobre o início da empreitada. O executivo destaca que a nova usina vai gerar 6,4 MWh – o suficiente para atender 20 mil pessoas por mês. E os ganhos para a comunidade não param por aí.  Além de mais energia disponível para todos, a Certel também se preocupa com a geração de renda local. Por isso, a usina será construída por técnicos da cooperativa. Celebra, Hennemann
Nossa cooperativa tem um corpo técnico especializado em construção de usinas. Com isso, conseguimos gerar emprego e renda para a região”
O prazo para finalização do empreendimento é de 18 meses. O presidente da Certel  destaca, ainda, a importância de se gerar energia próximo às fontes de demanda, ou seja, perto de onde ela será consumida. “É importante porque dá confiança maior ao usuário/associado”, disse, destacando que a Certel tem uma rede de 4,5 mil quilômetros e 8 mil transformadores. Nos próximos anos, a Certel vai continuar mantendo o foco de incremento na geração por meio de energias renováveis (a hídrica, a solar, a eólica, a biomassa) e próximo aos centros consumidores. “Isso reduz investimento em redes de transmissão porque fica próximo a quem precisa da energia”, conclui Hennemann. Atualmente, a cooperativa conta com 500 colaboradores e 200 funcionários contratados por meio de empresas terceirizadas.   DEMOCRACIA ENERGÉTICA Em 2016, o cooperativismo brasileiro comemorou mais uma vitória importante, que contou com a participação direta da Casa do Cooperativismo. Naquele ano, entrou em vigor a Resolução 687/15, que autorizou as cooperativas a produzirem energia renovável para consumo próprio no sistema de compensação Com isso, cooperativas de todos os ramos puderam criar suas próprias usinas de energia renovável para reduzir suas contas de energia, sendo que o excedente pode ser revertido em crédito para o abatimento em contas futuras. “Acreditamos que as cooperativas brasileiras têm potencial para gerar sua própria energia, e que essa  é uma oportunidade de diversificação econômica para o nosso movimento”, explica Clara Maffia, gerente técnica do Sistema OCB. Para divulgar esse pensamento junto à base, a OCB e suas unidades estaduais realizaram 11 workshops regionais sobre o assunto, em parceria com a Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV). A Resolução 687/15 da Aneel também permite que um grupo mínimo de 20 pessoas constitua uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos os cooperados. Vale  destacar: antes da publicação dessa resolução, apenas pessoas físicas estavam autorizadas a fazer essa geração, individualmente, para consumo próprio — regra prevista na Resolução 482, de 2012, da Aneel.   ⇒ Baixe a íntegra do Relatório de Gestão 2019 da OCB e veja o vídeo resumo com os resultados do exercício: [embed]https://www.youtube.com/watch?v=6EwFd1Gbuak&feature=youtu.be[/embed]
Essa matéria foi escrita por Lílian Beraldo e Guaíra Flor e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
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Lugar de mulher é no cooperativismo

  Ampliar a participação feminina no mercado de trabalho e nos espaços de decisão tem sido uma luta abraçada por todo o mundo. Não seria diferente no cooperativismo, modelo de negócios regido por princípios e valores cuja filosofia é buscar um mundo mais igualitário. Apesar de avanços importantes nos últimos anos, não há país no mundo em que exista igualdade econômica entre homens e mulheres. E são as mulheres que estão mais vulneráveis a viver na pobreza. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que, em média, as mulheres recebem 17% a menos por hora de trabalho na América Latina. No Brasil, a diferença é ainda maior: chega a 25%. Segundo o relatório, 80% das tarefas domésticas são feitas por mulheres, o que impede a inserção e a permanência delas no mercado de trabalho, além de marcar sua presença em empregos de menor remuneração e maior flexibilidade. No Brasil, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho é de 52,3%, enquanto a masculina é de 72%. Nos últimos anos, o panorama geral é de redução da desigualdade salarial e maior participação das mulheres no mercado de trabalho. Os processos de mudança, entretanto, têm ocorrido em ritmo muito lento, alerta a OIT. COMITÊ DE GÊNERO Na busca por um lugar mais justo, equilibrado e com melhores oportunidades para todos, o cooperativismo está atento à necessidade de acelerar e modificar (para melhor) a situação das mulheres. E essa é uma mudança que está sendo feita de forma global. É por isso que a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) — entidade internacional da qual o Sistema OCB faz parte — criou um comitê de gênero mundial. Segundo a presidente do Comitê de Equidade da ACI, Maria Eugenia Pérez, o intuito é implementar um plano de trabalho que gira sobre 3 eixos:
  1. Normativo — com foco na sugestão de regras que priorizem a igualdade de gênero dentro das instituições cooperativas;
  2. Combate à violência doméstica e violência contra as mulheres — voltado à prevenção desse tipo de agressão, bem como ao apoio e ao acolhimento de cooperadas e colaboradoras cooperativistas que sofram com esse tipo de violência.
  3. Planejamento de projetos produtivos para mulheres — desenvolvimento de projetos e iniciativas capazes de ajudar a inclusão econômica feminina dentro do cooperativismo destaca a colombiana.
Esperamos que as organizações cooperativas de todo o mundo vejam a relevância do que significa trabalhar com as mulheres, estimulando projetos produtivos feitos para elas, com a intenção de colaborar com a inclusão econômica global desse público”
Maria Eugênia aponta, ainda, a importância de as normas cooperativas preverem políticas de fomento à equidade de gênero nos cargos de direção, bem como o empoderamento das mulheres. “Já no tema violência contra mulheres, queremos que as cooperativas assumam protocolos com seus associados e colaboradores para prevenir a violência de gênero. E que hajam normas que favoreçam a participação feminina no interior das cooperativas”, completou Maria Eugenia, que também é diretora executiva da Associação Colombiana de Cooperativas. As organizações de cooperativas dos diferentes países podem se inscrever para fazer parte do Comitê de Equidade como membro. Hoje, o comitê é formado por integrantes da República Dominicana, Índia, Finlândia, Espanha, Bulgária e África do Sul. [caption id="" align="alignnone" width="1200"] Crédito: ShutterStock[/caption]
BOAS PRÁTICAS
A ACI vem desenvolvendo estratégias — a partir do plano de trabalho do comitê de gênero — para ampliar a participação e a visibilidade das mulheres no interior das organizações de representação cooperativistas. O desafio é fazê-las participar, de maneira igualitária e equitativa, nos organismos de decisão e de poder do nosso movimento. Desde 2018, a ACI criou políticas internas que preveem o aumento do número de mulheres em seus conselhos. Além disso, ficou estabelecido que a presidente do Comitê de Equidade faça parte do Conselho de Administração da ACI. Maria Eugenia lembra que, na história recente, “tivemos mulheres como Pauline Green e Monique Leroux que ocuparam os cargos de presidente do Conselho de Administração da ACI e presidente da ACI Mundial”.  MAIS INCLUSÃO Em todo o mundo, as cooperativas são mais inclusivas do que outros modelos econômicos e dão mais oportunidades às mulheres para enfrentar as barreiras que frustram a igualdade de gênero. Relembra a presidente do comitê, Maria Eugenia  
Não podemos esquecer que as cooperativas foram as primeiras formas empresariais e associativas que efetivamente deram  à mulher igualdade de direitos com os homens e deram a oportunidade de pertencer a uma empresa, de fazer parte, de ser dona de uma empresa”
O cooperativismo, desde sua criação, tentou assegurar, a mulheres e homens, igualdade de oportunidades. “Ainda que tenhamos avançado de forma fundamental nos últimos  30 anos, nós temos hoje a responsabilidade de reclamar alguns espaços que não foram possíveis para as mulheres anteriormente, como de administração, de direção. Antes, era raro encontrar uma mulher que participava desses cargos administrativos. Avançamos ao ponto de já ter nesses lugares mulheres que ocuparam uma presidência mundial. Muitas mulheres são gerentes, muitas são presidentes de conselhos”, analisa Maria Eugenia sobre o quadro do cooperativismo no mundo.   PODER PARA ELAS Na avaliação da colombiana, a presença de mulheres em espaços de direção não é só um direito, como é a própria prática dos princípios e valores cooperativos. “É a possibilidade de fazer inclusão econômica e permitir que homens e mulheres atuem em uma estratificação que é de todos, é de propriedade coletiva, e em que nós, mulheres, temos um papel fundamental. Em quase todas as cooperativas estamos muito próximo, ou superamos, os 50% dos membros”, diz. Mais do que um exercício democrático de respeitar proporcionalidades, ela acredita que as mulheres precisam romper barreiras e exercer sororidade — conceito essencial no movimento feminista que significa estimular o apoio entre as mulheres destaca: Nós, mulheres, temos toda a possibilidade, capacidade intelectual para poder desempenhar os espaços diretivos das cooperativas e o que precisamos é romper barreiras, arriscar-nos a concorrer a processos eletivos (não importa se vamos ganhar ou não), aprender a nos organizar, fazer pactos com outras mulheres e mostrar que somos relevantes, importantes para as organizações, não só para o serviço como para gestão"  
Essa matéria foi escrita por Lílian Beraldo e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
   
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Crise em 2020

  Os números da safra de grãos que estamos colhendo em 2020 são animadores: um volume de 249 milhões de toneladas — ou 3,10% a mais que a safra do ano passado, que já foi recorde. A área plantada cresceu 1,2% — nem um terço do crescimento da produção —, ou seja, aumentou a produtividade por hectare plantado. E isso significa que os produtores rurais brasileiros continuam a incorporar novas tecnologias, ano após ano. O caso da soja é exemplar. Vamos colher algo em torno de 125 milhões de toneladas (10,4% acima da colheita de 2019), enquanto a área semeada cresceu só um quarto disso, 2,6%! E não é só nesses grãos que colhemos bons frutos. Os cafeicultores devem colher 57 milhões de sacas, ou 22,3% mais do que no ano passado. Claro que aqui tem a influência da bianualidade das colheitas, mas o aumento é muito sólido. Ora, as cooperativas tiveram — e sempre terão — papel preponderante no processo de inovações, por uma razão doutrinária evidente: elas oferecem aos seus cooperados os insumos realmente indicados para cada região e cultura, sem se preocuparem com o lucro que obterão com essas vendas. O resultado traduz-se em menor custo de produção e maior produtividade para o produtor. Este é o papel das cooperativas: são um instrumento para a melhor sustentabilidade e competitividade de seus associados. Portanto, elas já cumpriram parte considerável de sua missão até aqui, neste 2020. Agora, no entanto, surge um fator de desequilíbrio nos mercados: o novo coronavírus. Provavelmente haverá um esfriamento da economia, dadas as medidas adotadas em todos os países afetados pelo vírus, do fechamento de logradouros públicos (restaurantes e bares, cinemas, teatros, academias e estádios), ao cancelamento de congressos, seminários, espetáculos e demais eventos de aglomerações, à suspensão de aulas em todo tipo de instituições de ensino, ao colapso de muitas empresas de serviços, e assim por diante. Tudo isso vai produzir desemprego, queda de renda; haverá redução do consumo das famílias e os preços poderão cair.
As cooperativas, mais do que nunca, precisarão estar atentas a isso para mitigar os efeitos perversos na renda dos cooperados. Terão que financiar estoques porque, quando a crise passar, as coisas voltarão ao normal, e é preciso sobreviver até lá. Mas não fica só nisso."
As cooperativas financeiras devem criar modelos de crédito para ajudar, tanto na cidade quanto no campo, àquelas pessoas físicas e jurídicas que ficarem “sem ar” durante a permanência da pandemia. Já as cooperativas médicas, sem a menor dúvida, terão uma responsabilidade enorme nessa guerra pela vida. Não nos esqueçamos de que é nas grandes crises que o cooperativismo se agiganta. Estamos entrando em uma crise enorme!
Essa matéria foi escrita por Roberto Rodrigues, embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação para o cooperativismo  e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 
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Reforma Tributária Merece Atenção

“A aprovação da Reforma Tributária é importante para o desenvolvimento do Brasil. É mais que urgente, já que garante a simplificação na cobrança de impostos e a desburocratização da máquina pública”. A afirmativa — dada pelo presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas — traduz a visão do cooperativismo brasileiro sobre um tema que vem movimentando o Congresso Nacional há muitos anos: a Reforma Tributária, pauta polêmica que, em 2020, pode finalmente começar a sair do papel. O Senado e a Câmara dos Deputados vêm trabalhando em uma legislação que simplifique o sistema tributário brasileiro. Duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) — uma na Câmara, a 45, e outra no Senado, a 110 — tratam desse assunto, com ideias nem sempre convergentes. Em linhas gerais, elas buscam unir vários impostos em um só, que receberia o nome de Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). No caso da PEC 45, por exemplo, cinco tributos entrariam na fusão. Já na PEC 110, do Senado Federal, seriam nove. Para unificar essas e outras propostas, foi criada, em fevereiro último, a Comissão Mista da Reforma Tributária, composta por 20 deputados e 20 senadores. O colegiado vai ouvir especialistas, promover debates e elaborar a proposta de Reforma que será levada para votação nas duas casas legislativas. A fim garantir que os direitos das cooperativas brasileiras sejam ouvidos pelos congressistas, o Sistema OCB vem atuando estratégica e sistematicamente para apresentar a esse público e à sociedade a importância e as particularidades do nosso modelo de negócio. A ênfase — no momento — é disseminar à sociedade civil o entendimento sobre o adequado tratamento tributário do ato cooperativo, previsto no artigo 146 da Constituição Federal. Também queremos proteger as conquistas já alcançadas, até o momento, pelo setor, como o reconhecimento da não incidência de Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os atos cooperativos. O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, destaca:
É importante deixar bem claro que as cooperativas não querem nenhuma isenção fiscal, regime favorecido ou tributação beneficiada. Contribuímos com o crescimento do país, recolhendo impostos e taxas. Esse é o nosso dever enquanto cidadãos. O que queremos não é deixar de pagar nada, mas garantir a adequação tributária ao nosso modelo societário".
O presidente do Sistema OCB destaca que o adequado tratamento do ato cooperativo é a garantia de que a tributação não incida em duplicidade sobre cooperativa e cooperado. “O ato cooperativo não é comercial e, portanto, não implica operação de mercado nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria”, explica. “Por isso, a tributação deve incidir onde, de fato, se fixa a riqueza, o acréscimo patrimonial, o resultado tributável, ou seja, apenas na figura do cooperado. Na cooperativa há apenas o abatimento dos custos para a prestação do serviço ao associado”, observa.

Conquistas importantes

Entre as ações estratégicas realizadas pelo Sistema OCB para defender os interesses de nossas cooperativas em relação à Reforma Tributária, destaca-se a criação de um Grupo de Trabalho, com especialistas de todos os setores do cooperativismo, para tratar do assunto. Juntos, eles produziram o texto de uma emenda constitucional, detalhando o adequado tratamento das cooperativas no sistema tributário brasileiro. O trabalho foi apresentado pela Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, e essa proposta já foi acatada no relatório final da PEC 110. A PEC 45 ainda não teve relatório apresentado. Para o vice-presidente da Comissão Mista da Reforma Tributária, deputado Hildo Rocha (MA), as cooperativas merecem receber um tratamento tributário adequado dos governos nas esferas federal, estadual e municipal. O parlamentar foi enfático:
Na produção econômica, o cooperativismo é a única forma que permite aos menores produzirem e competirem no mercado. Assim, temos que preservar suas conquistas. As cooperativas, ao longo das últimas décadas, têm conseguido provar que é possível, com a união de pequenos empreendedores, concorrer, gerar empregos e diminuir a concentração de riquezas”.
Consultor do Sistema OCB e relator da primeira PEC (293/04) sobre a reforma tributária a tramitar no Congresso, ainda em 2004, o ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly também considera essencial que o Congresso Nacional  contemple o devido tratamento tributário do ato cooperativo. “No meu entendimento, não deve incidir a tributação no ato cooperativo. Mais ainda: não deve ter nenhum ônus; é preciso isonomia de tratamento com os outros setores”, aponta Hauly, que participou do grupo de trabalho que produziu a emenda apresentada pela Frencoop. Hauly também defende um tratamento especial para os setores da saúde e educação, válido tanto para cooperativas como para empresas. “Os produtos e serviços dessas áreas são essenciais para a vida de uma nação. O Estado brasileiro não consegue prover educação e saúde para toda a população, então as cooperativas e a iniciativa privada estão suprindo essa falha. Logo, não é conveniente ter cobrança elevada; as alíquotas dessas cadeias produtivas devem ser menores”, observa.

Nossa força em números

Modelo de negócios viável para milhares de brasileiros se inserirem no mercado, as cooperativas distribuíram entre seus cooperados, apenas em 2018, cerca de R$ 7,6 bilhões. Além disso, no mesmo período, injetaram na economia R$ 9 bilhões com o pagamento de salários e outros benefícios destinados a colaboradores, e recolheram aos cofres públicos R$ 7 bilhões em tributos. Atualmente, o Brasil conta com mais de 6,8 mil cooperativas, que englobam 14,6 milhões de cooperados. Esse número representa um crescimento de 17,8% entre 2014 e 2018. Além disso, as cooperativas estão presentes em 85% dos municípios brasileiros. E em 36 deles, são responsáveis por 100% das exportações do setor agrícola. Parte do resultado obtido pelas cooperativas é sempre investido em ações sociais para as comunidades em que atuam seus cooperados. Em 2018, foram mais de dois milhões de pessoas atendidas em 400 cidades do Brasil. As cooperativas de crédito estão presentes em 95% do território brasileiro. Segundo o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, em 500 municípios, elas são a única instituição financeira presente. “Além disso, no campo, as cooperativas de eletrificação rural garantem energia elétrica a 4 milhões de brasileiros. Então, é necessário aprovar as emendas do ato cooperativo à Reforma Tributária para continuarmos fazendo a nossa parte no processo de desenvolvimento do nosso país”, finaliza Freitas.
 SAIBA MAIS SOBRE A REFORMA TRIBUTÁRIA A PEC 45/2019, originária da Câmara dos Deputados, propõe a junção de cinco impostos para a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). São eles:
  • Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
  • Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS)
  • Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins)
  • Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços (ICMS)
  • Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)
Além disso, prevê a criação de um imposto que incida sobre cigarros, bebidas alcóolicas e outros bens dos quais se deseja desestimular o consumo. A PEC 110/2019 (Senado) — que contempla, no relatório final, a emenda proposta pelo cooperativismo — prevê a fusão de nove impostos para a criação do IBS. Além dos cinco previstos pela PEC 45, entram:
  • Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
  • Programa de Formação do Patrimônio do Servidor (Pasep)
  • Salário Educação
  • Cide Combustíveis
Uma terceira proposta — a ser enviada pelo governo federal — também deverá ser analisada pela Comissão Mista da Reforma Tributária. “Nunca na história deste Parlamento um assunto tão árido, tão complexo, teve tanto interesse de deputados e senadores. O Congresso Nacional tem um papel muito importante neste momento. E nós temos a função de conciliar o texto que está na Câmara — que é muito bom — com o texto que está no Senado — também muito bom — e com os assuntos de interesse do Executivo, pois não se faz uma proposta dessas sem o governo federal”, afirma o presidente da comissão, senador Roberto Rocha. [caption id="" align="alignright" width="1200"] Crédito: ShutterStock[/caption]   Principais demandas do cooperativismo na reforma tributária
  • Garantir a aplicação do adequado tratamento tributário às sociedades cooperativas.
  • Afastar a incidência em duplicidade de tributação, na figura do cooperado e da cooperativa.
  • Impedir que haja tributação mais gravosa na relação entre cooperado e cooperativa do que aquela que incidiria se ele operasse individualmente ou por meio de outro tipo societário.
  • Garantir, nos tributos não cumulativos, a manutenção dos créditos nas operações da cooperativa, e também nos adquirentes de seus produtos e serviços.
 
Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.

 

Parcerias inovadoras

  Inovação tem tudo a ver com o cooperativismo – especialmente no momento atual. Um século antes de a economia colaborativa virar tendência, as cooperativas de todo o mundo já trabalhavam com os conceitos de sustentabilidade, responsabilidade social e consumo consciente. E, para continuarmos na vanguarda do mundo dos negócios, nos últimos quatro anos, cresceu o movimento de aproximação de cooperativas às chamadas startups. Objetivo? Nós nos reinventarmos, sem perdermos a essência dos princípios cooperativistas. Uma mudança sintonizada ao momento em que o ecossistema de inovação brasileiro vem crescendo em diferentes regiões do país, e atraindo vários setores para os polos de tecnologia que agregam startupse outros empreendimentos inovadores. Seja para atualizar processos administrativos, facilitar o acesso de usuários a produtos e serviços, ou ampliar possibilidades de negócios, as parcerias com startupstêm rendido bons frutos para o cooperativismo, como mostram diferentes experiências no país. Uma das primeiras cooperativas a entrar nesse movimento de renovação foi a Sicredi Pioneira, cooperativa de crédito mais antiga em funcionamento no país, fundada em 1902. Com mais de 156 mil associados, é uma das mais ativas quanto o assunto é inovação. Desde 2018, a entidade conta com uma gerência específica de Estratégia e Inovação. olon Stapassola Stahll, diretor executivo da cooperativa, relata:
Estamos completando dois anos dessa gerência [Estratégia e Inovação] e, de fato, ela acelerou bastante a estratégia. Fomos inseridos no ecossistema de inovação, tanto da região do Vale dos Sinos quanto da região de Caxias do Sul, e fizemos contato com startups e fintechs
Solon enfatiza que, quando a cooperativa passou dos 110 anos, a equipe sentiu necessidade de buscar as startupspara responder “às dores” dos clientes, dos cooperados e dos colaboradores. Em vez de criar as soluções dentro da cooperativa — o que poderia levar tempo e gerar custos excessivos —, a ideia da nova gerência foi se aproximar de startupsque já tinham soluções prontas para os problemas identificados no associativismo.   MAIS EFICIÊNCIA De 2018 para cá, a Sicredi Pioneira lançou três produtos em parceria com startups. O primeiro deles foi uma plataforma digital para financiamento de veículos.Por meio dela,  cooperados e não cooperados podem acessar as formas de crédito para financiar um veículo. Funciona assim: o interessado vai a uma loja revendedora de veículos, escolhe um carro e sai de lá com o financiamento feito de forma totalmente digital, sem precisar ir à agência. O sistema deu tão certo que já está sendo implementado em lojas de materiais de construção. A plataforma tem gerado de R$  2 a 3 milhões por mês, de forma totalmente digital, sem envolvimento físico de nenhum colaborador. “Há um ganho de resultado e mais negócios com eficiência total; não envolve nenhum papel, nenhum contrato, nada. É tudo na revenda”, comenta Solon.   TRANSFORMAÇÃO DIGITAL O segundo produto que a Sicredi Pioneira colocou no ar, em parceria com startups do Rio Grande do Sul, foi o aplicativo chamado Goog. Inspirada no Google, a ferramenta de busca facilitou o acesso a todas as informações sobre produtos, manuais, regras e políticas da cooperativa que devem ser lidas diariamente pelos colaboradores. O aplicativo obedece a comando de voz e pode ser usado em desktope celular. A ferramenta tornou-se a principal forma de orientação na palma da mão do colaborador, gerando redução de custos com pessoal e mais agilidade na disseminação de informações. “Essa é uma grande entrega, completa agora um ano de lançamento e está em pleno funcionamento. Foi uma revolução gigantesca levar o conhecimento para o colaborador, reduzindo drasticamente o volume de suporte da cooperativa”, disse Solon.       [caption id="attachment_75484" align="aligncenter" width="797"] Crédito: ShutterStock[/caption]       GERAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS   Em parceria com outra fintech do Rio Grande do Sul, a cooperativa lançou o aplicativo do programa de fidelidade, chamado Juntos. A iniciativa é similar aos sistemas de milhagem de cartões de crédito e foi idealizada para premiar o associado fiel à cooperativa. A cada produto adquirido pelo usuário, ele recebe pontos, que não expiram e podem ser trocados por brindes ou serviços disponíveis em um catálogo no aplicativo. “Ele é muito similar ao sistema de milhagem de cartões, mas com algumas vantagens. No nosso caso, cada produto vale um ponto e cada ponto, um real, que você pode trocar. É gerado um voucher eletrônico, não precisa imprimir nada; ele chega na loja, no restaurante, bar ou hotel e vai receber o desconto de acordo com os pontos que ele tinha”, explica Solon. O aplicativo já tem mais de 35 mil downloads,e a meta é chegar a 50 mil até o fim deste ano. Tanto o Goog quanto o Juntos já estão atraindo o interesse de outras cooperativas, e motivando a venda e implementação das soluções em outras empresas da região. “Isso foi possível porque entramos nesse ambiente de inovação e fizemos muitas conexões com muita gente do Brasil inteiro ligada nesse movimento. Conseguimos colocar a Pioneira entre os principais playersde inovação da região”, destaca Solon.   MODERNIZAÇÃO DA IMAGEM Além da geração de novos negócios, o diretor aponta que esses novos aplicativos ampliaram a oferta de soluções e o aumento da fidelização dos associados. Outro ganho destacado pela direção foi percebido na marca Sicredi, que tem conquistado mais relevância e está com a imagem mais associada à modernidade. A mudança tem atraído talentos profissionais, principalmente jovens. “A Sicredi mudou aquela imagem de cooperativa financeira centenária, ligada só ao agronegócio, e passa a ser agora uma empresa com uma imagem de inovação que a gente não tinha antes”, disse. Internamente, a inovação também está provocando mudanças na cooperativa, que agora vê o tema como um valor cultural. Os colaboradores estão mais engajados com os propósitos da cooperativa e usam cada vez mais técnicas de design thinking para resolver um problema, metodologias ágeis para elaborar um projeto, entre outros processos adquiridos da conexão com as startups nos últimos anos. Disse Solon.
Nesse movimento, nós aprendemos que não precisamos ter todas as respostas prontas dentro da cooperativa. Podemos usar da força de um ecossistema gigantesco de startups e fintechs no Brasil, ou nos associar a fintechs com soluções prontas. Aprendemos também que o ecossistema de inovação tem características muito nobres; é um mundo muito aberto, onde as pessoas compartilham informação, não escondem conhecimento, que não nos vê como concorrentes, mas sim como parceiros”
 
Essa matéria foi escrita por Débora Brito e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar.Leia a reportagem na íntegra.
 
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Solidariedade cooperativista

  A pandemia de coronavírus tem provocado ações solidárias de diversas cooperativas pelo Brasil. Uma delas é a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL), com sede nas cidades de Rio Grande e Cruz Alta (RS). A instituição doou R$ 150 mil em respiradores e materiais de proteção individual, como máscaras, a três hospitais da região – São Vicente de Paula, em Cruz Alta, e a Santa Casa e o Hospital Universitário da Furg, em Rio Grande. Também houve o repasse de R$ 100 mil em leite em pó (ou seis toneladas), que farão parte de cerca de 6 mil cestas básicas a serem distribuídas a moradores das duas cidades em que atua. “Nós tínhamos duas preocupações. Uma era como enfrentar a doença, dar estrutura para o atendimento hospitalar. E a outra era que a paralisação da economia, do comércio, poderia causar desemprego, dificuldade de as famílias terem recursos para suas necessidades básicas”, afirma o presidente da CCGL, Caio Vianna. “Sempre ficou claro que uma instituição como a nossa deveria ter alguma ação de enfrentamento e não ficar achando que a obrigação é inteira dos governos federal, estaduais e municipais. A responsabilidade é de todos”, destaca. As cooperativas gaúchas, inclusive, têm sido bastante atuantes em ações para minimizar os efeitos da crise do coronavírus. Além da CCGL, várias outras realizaram ações solidárias. A Cresol, de Erechim, doou R$ 30 mil para entidades de saúde da região adquirirem testes para detecção da Covid-19 e suprimentos de proteção. Já a Coasa repassou R$ 144 mil a cinco hospitais do estado. Os recursos serão usados para compra de alimentos de agricultores familiares e também de equipamentos de proteção individual. E o Sicredi Zona Sul RS destinou todos os recursos do Fundo Social de 2020, um total de R$ 301 mil, às secretarias de Saúde dos municípios de sua área de atuação.  presidente do Sistema Ocergs, Vergílio Perius, relata:

Aqui no Rio Grande do Sul, temos inúmeras situações onde as cooperativas estão na vanguarda das iniciativas de responsabilidade social em suas comunidades. Cooperativas dos mais diversos ramos de atividades estão liderando ações de combate à pandemia e, ainda, ações para amenizar as dificuldades daqueles que estão sendo atingidos pelos desdobramentos dessa enorme crise, que é mundial. Estamos em consonância com o que a ONU declarou em 2012, que as cooperativas constroem um mundo melhor. E elas fazem isso todos os dias, estando presentes e participando social e economicamente das comunidades onde estão inseridas”

Na Paraíba, a Cooperativa Agroindustrial de Piabuçu (Frutiaçu), da cidade de Rio Tinto, doou 560 quilos de mamões para hospitais e entidades beneficentes da capital João Pessoa. “Por conta da pandemia, muitas feiras livres foram canceladas e alguns programas do governo, a exemplo do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), estão parados. A cooperativa está passando por momento de dificuldades de vendas dos produtos e, por isso, resolveu doar produtos que iriam se perder”, conta o cooperado Alex Magno. Em Maringá (PR), a Cocamar Cooperativa Industrial repassou 13 mil litros de álcool 70%, produzido em seu parque industrial, a hospitais, empresas de transporte público e entidades da cidade e cerca de 2 mil máscaras-respiradores a hospitais e ao Corpo de Bombeiros. Produtora de fios têxteis, a cooperativa também está fabricando, em parceria com a Unicesumar e a indústria de confecções Recco, fronhas e lençóis para hospitais de Maringá, Sarandi e Londrina. o presidente-executivo da Cocamar, Divanir Higino, comenta:

Momentos difíceis como este servem para unir as pessoas. Tenho a certeza que isso nos tornará mais fortes. A Cocamar está prestando sua contribuição, para que hospitais e entidades consigam continuar cuidando das famílias mais necessitadas e possam atravessar esse momento com mais tranquilidade e reduzir, de alguma forma, os riscos de contaminação”

Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.


Defesa ao direito das cooperativas

  Para garantir que cooperados e cooperativas atravessem a atual crise com maior tranquilidade, o Sistema OCB intensificou  seu trabalho de junto a parlamentares e representantes do Poder Executivo. Até 30 de abril, 67 pleitos foram apresentados pelo cooperativismo, dos quais 25 já foram atendidos pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional. Destaca a gerente de relações institucionais do Sistema OCB.
“Temos recebido diversos pleitos das cooperativas e estamos trabalhando junto ao governo e ao Congresso para que eles sejam atendidos na medida do possível, também estamos utilizando diversos materiais de divulgação para que os cooperados possam conhecer as decisões que os beneficiam
Fabíola cita como exemplos posts nas redes sociais, vídeos explicativos, eventos on-line, análises política e econômica sobre os impactos da crise do coronavírus. Entre as principais demandas do cooperativismo já contempladas está o adiamento do prazo para a realização das AGOs. Publicada em 30 de março, a Medida Provisória (MPV) 931/20 possibilitou que as assembleias possam ocorrer em até sete meses após o termino do exercício social. A MPV também permitiu as AGOs virtuais como a realizada pela Coopersytem, de Brasília. Outro pleito atendido, que contou com participação ativa do Sistema OCB e da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), foi a inclusão de caminhoneiros e prestadores de serviços essenciais na lista prioritária para vacinação contra a gripe (influenza). “Esta era uma demanda forte das cooperativas de transporte”, conta Fabíola. A criação de linhas de crédito para financiamento de folha de pagamentos de pequenas e médias empresas, a serem operacionalizadas por cooperativas de crédito, é outra demanda atendida, desta vez pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também merece destaque, aponta Fabíola, a prorrogação do prazo de pagamentos de tributos federais, como INSS folha, FGTS, IRPJ, CSLL e Funrural. Um pleito ainda não plenamente atendido que preocupa o cooperativismo é a inclusão dos cooperados entre os beneficiados pela renda básica emergencial de R$ 600 concedida pelo governo federal. Ainda há uma insegurança jurídica se os cooperados foram beneficiados. Mas o PL 873/2020, aprovado no dia 22 de abril pelo Congresso, contempla nosso setor, graças a uma emenda do deputado Arnaldo Jardim, a pedido da OCB. Agora estamos aguardando a sanção do presidente Jair Bolsonaro”, informa Fabíola. SERVIÇO: Corrente do bem Uma boa maneira de apoiar quem mais precisa é doando  dinheiro e/ou equipamentos de saúde para que os governos federal, estaduais e municipais, além de entidades privadas focadas no combate à Covid-19. Para ajudar, basta escanear o QR Code e escolher a melhor forma de participar dessa corrente do bem.
Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 
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Cooperação é remédio eficaz contra o coronavírus

  Nunca se falou tanto em cooperação quanto agora, na pandemia mundial de coronavírus. Para tentar conter a expansão da doença e minimizar os impactos socioeconômicos causados pela redução das atividades durante a quarentena, pessoas, organizações, negócios e países estão trabalhando juntos. E quem melhor para buscar soluções por meio da cooperação do que quem tem a palavra cooperar como razão de ser? Pelo país, são diversos os projetos realizados por cooperativas para tentar minimizar os efeitos do coronavírus. O Sistema OCB vem atuando em duas frentes principais e uma delas é exatamente auxiliar cooperativas a inovar e a buscar parcerias entre si. A outra frente é a ação proativa com representantes dos poderes Executivo e Legislativo para garantir que cooperados e cooperativas possam passar pela atual crise. Até o momento, 25 de 67 pleitos feitos à OCB e pelas cooperativas aos Três Poderes foram atendidos. A gerente geral da Organização das Cooperativas Brasileiras, Tânia Zanella afirma:
Neste momento, é muito importante que as cooperativas busquem parcerias e adotem estratégias mais condizentes com o momento atual. Muito do trabalho que for desenvolvido agora pode dar origem a novos mercados, produtos e serviços, que ajudarão as cooperativas a serem mais fortes e mais sustentáveis no futuro”
Tânia conta que o Sistema OCB está desenvolvendo um portal para que cooperativas possam divulgar seus produtos e serviços, de modo a serem vistos por outras cooperativas. A busca poderá ser feita por produto, área de abrangência e estado. O site já está no ar, no endereço cooperabrasil.coop.br. Localizada em Belo Horizonte (MG), a Cooperativa dos Transportadores de Cargas e Passageiros (Coopmetro) vem se beneficiando de parcerias para manter a produtividade. Composta até fevereiro apenas por caminhoneiros, a cooperativa enxergou na crise um novo público-alvo. Com a forte queda no transporte de passageiros devido ao isolamento social, taxistas estão passando a fazer entregas de produtos comprados de forma on-line. "Iniciamos um projeto-piloto que propõe ocupar a lacuna de tempo ocioso do taxista com pequenas entregas. Começamos em Brasília, como oito profissionais, e em Belo Horizonte, com seis, e brevemente ampliaremos para Salvador e Fortaleza”, informa o diretor da Coopmetro e presidente da Fetranscoop-MG, Evaldo Matos. “Com esse projeto, o taxista tem um complemento de renda, diversifica seu portfólio de serviços e amplia sua base de conhecimentos para outros mercados, gerando perspectivas positivas para seu negócio”, aponta Matos. “Esta pandemia mudou nossa vida e nos obriga a olhar para as diversas questões com novas lentes”.   PASSO A PASSO PARA INOVAR   “É durante as crises que as empresas costumam se reinventar e inovar”, observa Tânia. “Com um passo a passo detalhado, acessível, a cooperativa se sente mais confiante para buscar algum tipo de inovação no mercado”. Especializada em Tecnologia da Informação, a Coopersystem, de Brasília (DF), deu um importante passo na busca pela inovação. Com a impossibilidade de se realizar, devido à quarentena, sua Assembleia Geral Ordinária de forma presencial, a instituição desenvolveu uma ferramenta, batizada de Cúria, para que a reunião pudesse ocorrer de formavirtual. O consultor de Relacionamento e Negócios da Coopersystem, Hugo Pimentel Felinto relata:
Fizemos a convocação para a AGO presencial antes do isolamento social. E assim que soubemos que seria permitida a realização da assembleia virtual, mantivemos a data e aceleramos a criação do software, que estava sendo desenvolvido desde o início do ano”
Segundo o consultor, a reunião virtual foi um sucesso. “Participaram 219 cooperados, além de colaboradores que entraram como ouvintes ou para fazer alguma apresentação. O índice de satisfação foi altíssimo”, afirma Felinto. “E para que ninguém tivesse dificuldade no dia, realizamos duas pré-assembleias, nas quais os cooperados puderam tirar dúvidas em relação ao uso do sistema”. [caption id="attachment_75518" align="alignleft" width="402"] Crédito: ShutterStock[/caption] O software Cúria, informa Felinto, poderá ser utilizado gratuitamente em 2020 por qualquer cooperativa. “É a nossa forma de contribuição neste momento de pandemia”, declara o consultor. Interessados em acessar a ferramenta devem preencher um formulário de solicitação no site da cooperativa. Em Porto Velho (RO), a Cooperativa de Professionais em Educação (Cooped) também precisou buscar nova estratégia para não interromper as atividades durante a quarentena. Desde 23 de março, a cooperativa vem utilizando uma ferramenta de ensino a distância, cedida pelo Sistema Positivo de Ensino, além de plataforma on-line para atividades e avaliações. “Nós já vínhamos utilizando o WhatsApp, com excelente resultado, para estreitar laços com os familiares dos alunos”, conta o diretor presidente da Cooped, Fabrício José Pacheco dos Santos. “E com essa situação da Covid-19, vimos que investir na modalidade a distância era a alternativa para manter as nossas atividades. O sistema tem funcionado muito bem e o mais bacana é que, diariamente, os pais recebem um feedback sobre o desempenho de seus filhos e filhas”, ressalta.  
Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 
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Cooperação é remédio eficaz contra o coronavírus

cooperativismo é uma grande alternativa para se enfrentar tal desafio. Por isso, cooperados e colaboradores devem se orgulhar. O movimento chamado Somoscoop, da OCB, quer fazer este sentimento crescer, mostrar às pessoas que o cooperativismo é um caminho seguro para se encontrar a paz social.” Lindo né? Juntos, a gente vai longe, sem deixar ninguém pra trás
cooperativismo é uma grande alternativa para se enfrentar tal desafio. Por isso, cooperados e colaboradores devem se orgulhar. O movimento chamado Somoscoop, da OCB, quer fazer este sentimento crescer, mostrar às pessoas que o cooperativismo é um caminho seguro para se encontrar a paz social."
Por Alessandro Mendes Nunca se falou tanto em cooperação quanto agora, na pandemia mundial de coronavírus. Para tentar conter a expansão da doença e minimizar os impactos socioeconômicos causados pela redução das atividades durante a quarentena, pessoas, organizações, negócios e países estão trabalhando juntos. E quem melhor para buscar soluções por meio da cooperação do que quem tem a palavra cooperar como razão de ser? Pelo país, são diversos os projetos realizados por cooperativas para tentar minimizar os efeitos do coronavírus. O Sistema OCB vem atuando em duas frentes principais e uma delas é exatamente auxiliar cooperativas a inovar e a buscar parcerias entre si. A outra frente é a ação proativa com representantes dos poderes Executivo e Legislativo para garantir que cooperados e cooperativas possam passar pela atual crise. Até o momento, 25 de 67 pleitos feitos à OCB e pelas cooperativas aos Três Poderes foram atendidos.
Neste momento, é muito importante que as cooperativas busquem parcerias e adotem estratégias mais condizentes com o momento atual”, afirma a gerente geral da Organização das Cooperativas Brasileiras, Tânia Zanella. “Muito do trabalho que for desenvolvido agora pode dar origem a novos mercados, produtos e serviços, que ajudarão as cooperativas a serem mais fortes e mais sustentáveis no futuro", disse fulano
Tânia conta que o Sistema OCB está desenvolvendo um portal para que cooperativas possam divulgar seus produtos e serviços, de modo a serem vistos por outras cooperativas. A busca poderá ser feita por produto, área de abrangência e estado. O site já está no ar, no endereço cooperabrasil.coop.br. Localizada em Belo Horizonte (MG), a Cooperativa dos Transportadores de Cargas e Passageiros (Coopmetro) vem se beneficiando de parcerias para manter a produtividade. Composta até fevereiro apenas por caminhoneiros, a cooperativa enxergou na crise um novo público-alvo. Com a forte queda no transporte de passageiros devido ao isolamento social, taxistas estão passando a fazer entregas de produtos comprados de forma on-line.
Iniciamos um projeto-piloto que propõe ocupar a lacuna de tempo ocioso do taxista com pequenas entregas. Começamos em Brasília, como oito profissionais, e em Belo Horizonte, com seis, e brevemente ampliaremos para Salvador e Fortaleza", disse Fulano
“Com esse projeto, o taxista tem um complemento de renda, diversifica seu portfólio de serviços e amplia sua base de conhecimentos para outros mercados, gerando perspectivas positivas para seu negócio”, aponta Matos. “Esta pandemia mudou nossa vida e nos obriga a olhar para as diversas questões com novas lentes”. Passo a passo para inovar O Sistema OCB também está produzindo documentos com informações simples e acessíveis para as cooperativas interessadas em inovar. Serão abordados temas como e-commerce, entrega em domicílio, teleatendimento, marketing digital em momentos de crise, cursos e aulas on-line e a realização de Assembleias Gerais Ordinárias (AGOs) virtuais. “É durante as crises que as empresas costumam se reinventar e inovar”, observa Tânia. “Com um passo a passo detalhado, acessível, a cooperativa se sente mais confiante para buscar algum tipo de inovação no mercado”. Especializada em Tecnologia da Informação, a Coopersystem, de Brasília (DF), deu um importante passo na busca pela inovação. Com a impossibilidade de se realizar, devido à quarentena, sua Assembleia Geral Ordinária de forma presencial, a instituição desenvolveu uma ferramenta, batizada de Cúria, para que a reunião pudesse ocorrer de forma on-line. “Fizemos a convocação para a AGO presencial antes do isolamento social. E assim que soubemos que seria permitida a realização da assembleia virtual, mantivemos a data e aceleramos a criação do software, que estava sendo desenvolvido desde o início do ano”, conta o consultor de Relacionamento e Negócios da Coopersystem, Hugo Pimentel Felinto. Segundo o consultor, a reunião virtual foi um sucesso. “Participaram 219 cooperados, além de colaboradores que entraram como ouvintes ou para fazer alguma apresentação. O índice de satisfação foi altíssimo”, afirma Felinto. “E para que ninguém tivesse dificuldade no dia, realizamos duas pré-assembleias, nas quais os cooperados puderam tirar dúvidas em relação ao uso do sistema”. O software Cúria, informa Felinto, poderá ser utilizado gratuitamente em 2020 por qualquer cooperativa. “É a nossa forma de contribuição neste momento de pandemia”, declara o consultor. Interessados em acessar a ferramenta devem preencher um formulário de solicitação disponível no link http://curia.coop/. Em Porto Velho (RO), a Cooperativa de Professionais em Educação (Cooped) também precisou buscar nova estratégia para não interromper as atividades durante a quarentena. Desde 23 de março, a cooperativa vem utilizando uma ferramenta de ensino a distância, cedida pelo Sistema Positivo de Ensino, além de plataforma on-line para atividades e avaliações. “Nós já vínhamos utilizando o WhatsApp, com excelente resultado, para estreitar laços com os familiares dos alunos”, conta o diretor presidente da Cooped, Fabrício José Pacheco dos Santos. “E com essa situação da Covid-19, vimos que investir na modalidade a distância era a alternativa para manter as nossas atividades. O sistema tem funcionado muito bem e o mais bacana é que, diariamente, os pais recebem um feedback sobre o desempenho de seus filhos e filhas”, ressalta. Trabalho junto ao governo e a parlamentares Para garantir que cooperados e cooperativas atravessem a atual crise com maior tranquilidade, o Sistema OCB intensificou seu trabalho de junto a parlamentares e representantes do Poder Executivo. Até 30 de abril, 67 pleitos foram apresentados pelo cooperativismo, dos quais 25 já foram atendidos pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional (veja a lista completa no link https://bit.ly/2UD17rV). “Temos recebido diversos pleitos das cooperativas e estamos trabalhando junto ao governo e ao Congresso para que eles sejam atendidos na medida do possível”, destaca a gerente de relações institucionais do Sistema OCB, Fabíola Motta. “Também estamos utilizando diversos materiais de divulgação para que os cooperados possam conhecer as decisões que os beneficiam”. Fabíola cita como exemplos posts nas redes sociais, vídeos explicativos, eventos on-line (Abre hiperlink para o site somoscooperativismo.coop.br/servico/26/covid19) e análises política (https://bit.ly/3dvDvOv) e econômica (https://bit.ly/2UCWjUD) sobre os impactos da crise do coronavírus. Entre as principais demandas do cooperativismo já contempladas está o adiamento do prazo para a realização das AGOs. Publicada em 30 de março, a Medida Provisória (MPV) 931/20 possibilitou que as assembleias possam ocorrer em até sete meses após o termino do exercício social. A MPV também permitiu as AGOs virtuais como a realizada pela Coopersytem, de Brasília. Outro pleito atendido, que contou com participação ativa do Sistema OCB e da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), foi a inclusão de caminhoneiros e prestadores de serviços essenciais na lista prioritária para vacinação contra a gripe (influenza). “Esta era uma demanda forte das cooperativas de transporte”, conta Fabíola. A criação de linhas de crédito para financiamento de folha de pagamentos de pequenas e médias empresas, a serem operacionalizadas por cooperativas de crédito, é outra demanda atendida, desta vez pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também merece destaque, aponta Fabíola, a prorrogação do prazo de pagamentos de tributos federais, como INSS folha, FGTS, IRPJ, CSLL e Funrural. Um pleito ainda não plenamente atendido que preocupa o cooperativismo é a inclusão dos cooperados entre os beneficiados pela renda básica emergencial de R$ 600 concedida pelo governo federal. Ainda há uma insegurança jurídica se os cooperados foram beneficiados. Mas o PL 873/2020, aprovado no dia 22 de abril pelo Congresso, contempla nosso setor, graças a uma emenda do deputado Arnaldo Jardim, a pedido da OCB. Agora estamos aguardando a sanção do presidente Jair Bolsonaro”, informa Fabíola.
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Sinais de amor

Brasília (2/12/19) – Os olhos, atentos, acompanharam cada gesto e cada sinal enquanto o coração de Alani Cristina Melo, de 38 anos, pulsava forte de alegria. A cada segundo que passava, era difícil controlar a emoção. Os meses de preparo tinham ficado para trás e, finalmente, era chegado o momento de trazer uma nova vida ao mundo. Um mundo que, para Alani, é de silêncio.

Surda desde o nascimento, ela cresceu sem ouvir o canto dos pássaros, o barulho do mar ou a voz da própria mãe. Em compensação, aprendeu a prestar atenção nos rostos, nas mãos e nos sentimentos das pessoas. Como a maioria das meninas da sua idade, sonhava casar e ter filhos. E foi em uma partida de vôlei que sentiu o coração bater diferente. Na quadra — jogando, como ela — estava Claudinei Melo, também surdo. Os dois estavam a passeio e se divertiam com o esporte na cidade de Uberaba. Ela ainda não sabia ao certo quem ele era, mas conseguia afirmar uma coisa: estava apaixonada. “Foi amor à primeira vista”, ela conta, em gestos que vêm acompanhados de um sorriso. E foi aí que tudo começou.

Foram quatro anos de namoro até o casamento, em novembro de 2016. Ambos queriam ter filhos, mas temiam os problemas que viriam. Como ouviriam o bebê chorar? Como saber se tudo estava bem, se não podiam contar com um dos sentidos? Mesmo com medo, decidiram arriscar. Em 2018, Alani engravidou e buscou apoio na Unimed Catanduva (SP). Lá, encontrou tudo o que desejava e muito mais. Sensibilizada com a história do casal, a cooperativa decidiu fazer um pré-natal 100% inclusivo, com direito a intérprete de Libras até no parto.

“A ideia surgiu, no começo, da necessidade. Precisávamos de uma ponte de comunicação entre os nossos profissionais e o casal. Mas decidimos ir além. A gente via que a alegria das mães, na sala de parto, é escutar o choro da criança. E queríamos que a Alani sentisse a mesma emoção, mesmo sem conseguir ouvir”, explicou o doutor Matheus Schuerewegen, diretor de desenvolvimento da Unimed Catanduva e um dos idealizadores do projeto de intérpretes no parto.

 

PRIMEIRO PASSO

Com a notícia da gravidez, a intérprete de Alani, Diane Martins, inscreveu o casal no curso Bê-á-Bá Bebê, oferecido gratuitamente pela Unimed Catanduva a seus beneficiários e também a pacientes particulares. O curso trata de todas as fases da gestação e do puerpério (pós-parto), e conta com acompanhamento de nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e médicos.

Para não perder nenhum detalhe das aulas, Alani e Claudinei contavam com uma intérprete da própria Unimed, Daniela Fernandes Moraes. “Eles eram bem participativos. Sorridentes. Carismáticos e prestativos. Foi uma relação muito prazerosa”, comenta a coordenadora do curso e enfermeira de Medicina Preventiva, Virginia Grandisoli.

A intérprete também acompanhou o casal em todas as consultas de pré-natal, com o ginecologista e obstetra Antonio Tadeu Tartaglia. Foi ele quem respondeu a todas as dúvidas do casal e cuidou da saúde da mãe e do neném, inclusive durante o parto. “A Alani era tranquila e não teve nenhuma complicação durante o pré-natal. Eu só brincava com ela a respeito do peso, pois ela era muito magrinha. Fiz uma dieta regada a vitaminas e ela seguiu certinho, sem nenhum problema”, explica o médico.

Há quase 30 anos na profissão, Tartaglia revela que um dos momentos mais emocionantes dessa gestação foi a revelação do sexo do bebê. “Durante os encontros, o casal sempre conversava, em Libras, a respeito do assunto. Era curioso. Normalmente, as mães têm o instinto aguçado para acertar. A Alani sempre dizia que era uma menininha e o pai, um menininho. Até que se confirmou”, diz o dr. Antonio.

 

O PARTO

Dia 8 de maio de 2019. A emoção tomou conta de todo o centro cirúrgico do Unimed Hospital São Domingos (UHSD), que pertence à Unimed Catanduva. Médicos, enfermeiros e toda a equipe técnica aguardavam, ansiosamente, a chegada da pequena Elaine Cristina, filha de Alani e Claudinei. Era a primeira vez que um parto seria traduzido em Libras no hospital. Os olhares, curiosos, entregavam o anseio da equipe: como seria feita a tradução em Libras de um momento tão especial?

Com mais de 20 anos atuando como intérprete da linguagem dos sinais, a arte-educadora Nani Oliveira ficou encarregada de transmitir ao casal toda a emoção do que estava acontecendo. Desde a aplicação da anestesia até a chegada de Elaine ao mundo.

“Mágico” é a palavra com que Nani define todo o parto. Foi a primeira vez que ela assistiu e realizou a cobertura de um nascimento em Libras. “Nunca presenciei um momento de tanto amor. Imagine a emoção de poder transmitir a uma mãe o primeiro choro de sua filha e descrever como era forte e vigoroso. Chorei por estar ali. Aquele momento foi um presente para mim e para todos”, relata Nani, emocionada.

Alani chorou junto à intérprete quando entendeu os sinais. Claudinei, que também estava na sala de cirurgia, se emocionou. “A minha filha é linda”, gesticulou, em sinais.

Para os médicos, o momento foi de comoção e felicidade. “Eu me arrepio só de lembrar”, recorda o obstetra. A mamãe Alani concorda e, com as mãos, acrescenta: “Tudo isso, pra mim, é um sonho que se tornou realidade. Eu tenho a minha família agora”.

Elaine nasceu com 48 centímetros e pesando 3,2 quilos. Uma menina saudável, que escuta perfeitamente. Por ter pais surdos, será educada em duas linguagens: a verbal (português) e a não verbal (Libras). E você, meu caro leitor, não precisa se preocupar com o choro de Elaine. Ele é sempre ouvido, em alto e bom som, pela avó paterna, Hilda de Oliveira. Assim que a menina nasceu, ela se mudou para a casa do filho, com o objetivo de ajudar a cuidar da netinha. É mais um sinal de amor.

Depois da experiência de atender à família de Alani e Claudinei, a Unimed Catanduva decidiu ampliar o atendimento em Libras da unidade. A cooperativa iniciou, neste ano, o curso Mãos que falam, voltado para a capacitação de seus cooperados. A assistente social da Unimed Catanduva Melina Borges foi quem conduziu a primeira turma e ressaltou a importância da prática de inclusão. “É uma iniciativa que agrega valor e que inclui vidas. Não dá para vivermos em uma realidade onde a gente espera que os surdos façam a adaptação por si só”, explica a assistente.

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Uma por todas

Brasília (3/12/19) – Cecília é uma mulher que representa muitas. Como tantas de nós, foi criada para ser obediente ao pai, ao irmão, ao marido e — um dia — também aos filhos. Como 70% das mulheres do mundo, foi vítima de algum tipo de violência no decorrer da vida apenas por pertencer ao sexo feminino. Foi ameaçada de morte por um marido, desqualificada por outro e sexualmente abusada na infância. Mas, apesar disso tudo — como cada vez mais mulheres —, conseguiu romper esse ciclo de violência antes que fosse tarde demais. E fez isso com a ajuda do cooperativismo.

“O cooperativismo me salvou”, disse a jovem, que prefere manter o verdadeiro nome em sigilo para proteger a si mesma e ao filho de três anos.

“A independência financeira da mulher é o caminho para o fim da violência! E eu consegui essa independência graças ao cooperativismo. Quis contar minha história para outras mulheres se sentirem fortalecidas também e perceberem que podem andar com as próprias pernas e saírem disso”, reforça.

Cecília teve o direito de ser criança roubado pela violência. Com menos de 5 anos, teve de passar a noite no meio de um matagal, ao lado da mãe e do irmão mais velho. Eles fugiam das ameaças do pai, que prometia, aos gritos, matar a esposa. A separação veio logo, mas a paz, não. Em vez de o divórcio livrá-la da violência, o novo casamento da mãe tornou-se sinônimo de flagelo para a garota. Aos oito anos, ela entrou para uma assustadora estatística: 53,8% das mulheres vítimas de estupro têm até no máximo 13 anos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O padrasto começou a abusar sexualmente da menina. Por medo, ela não contava nada para ninguém, mas sentia que aquilo não estava certo. Queria ir embora daquele lugar. Escapar. E foi.

 

ROTA DE FUGA

 

Antes de completar 16 anos, Cecília foi morar com um homem 24 anos mais velho. Viveu sob três meses na mira das ameaças que o parceiro dirigia a ela. “Apronta comigo pra ver...”, a intimidação chegava com acusações de infidelidade. Ele até comprou um revólver e avisava: uma das três balas da arma seria usada para matá-la. O corpo — ameaçava — seria jogado em poço e ninguém sentiria falta ou procuraria por ela. Apavorada, ela fugiu outra vez. Como vivia no sul do Paraná, atravessou a divisa com o Paraguai e morou por um ano em um abrigo em Assunção, capital do país. Depois, precisou voltar para o Brasil. O único lugar que tinha para ir era a casa da mãe, onde também morava o padrasto, que voltou a atormentá-la.

Precisava sair dali de vez. Em troca de muito pouco, trabalhava como diarista em casas de família. Foi onde conheceu o segundo companheiro, também mais velho. Em menos de um mês, partiu para uma vida a dois com ele. Outra fuga, na esperança de ressignificar o conceito dolorido de família que tinha até então. O agora marido tratava-a bem. E assim foi por alguns meses, até mudar gradativamente de comportamento. Era só aparecer uma oportunidade de briga que o homem a metralhava com xingamentos e humilhações. Munia-se com os episódios de tormento vividos por ela na infância para atacá-la nos pontos de vulnerabilidade. A jovem tinha confiado e aberto a vida para o companheiro. “Migalha” era como ele a chamava; alguém que não prestava e não servia para nada. Ouvir aquilo não causava estranhamento, pois não era a primeira vez. Parecia normal. Apenas uma briga de casal.

Um dia, o insulto veio acompanhado da mão erguida. Um empurrão desnorteou o corpo da moça e do outro ser que ela gestava. A barriga saliente na roupa apontava uma gravidez. Ela o encarou e indagou: “Vai me bater grávida? Não pensa no seu filho?”. Ele recuou. Ela engoliu a seco, pensou no filho e deixou a lamúria presa na garganta.

Era sempre assim depois das brigas: o discurso repetido das reconciliações vinha na voz dele em tom ameno e manso. O rapaz pedia desculpas, mostrava-se arrependido e prometia que não aconteceria outra vez. Ela ponderava e eles seguiam juntos.

O filho nasceu. Cecília se recuperava do parto quando descobriu uma traição. Ela questionou o marido sobre o caso e, em resposta, teve o rosto acertado por socos contínuos. A primeira agressão física. Ele a puxava pelos cabelos, jogava-a no chão e socava-a mais. O resultado foi o rosto e o corpo roxos, além de um corte na cabeça e mais marcas invisíveis a olho nu.

Foi a chegada de uma vizinha que pôs fim à agressão. Machucada, ela catou o recém-nascido nos braços e foi para a casa de uma das poucas pessoas que conhecia — a irmã dele —, que aconselhou: “você devia perdoá-lo”. Sem emprego e sem o apoio de parentes ou amigos, ela decidiu voltar. Mas não voltou só. Carregou consigo um princípio de valentia e o desejo de arrumar um emprego.

 

VIDA NOVA

Cecília voltou para o marido, mas começou a buscar uma saída para si. Entregou dois currículos, a contragosto do cônjuge, que ordenou: “Não entregue mais nenhum. Se te chamarem para algum desses empregos, tudo bem, você pode trabalhar”. Ela acatou e depositou todas as esperanças nesses pedaços de papel. Foi chamada para uma única entrevista, na C. Vale, cooperativa agroindustrial com atuação no Paraná, em Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Sul e Paraguai.

Chegando à cooperativa, encontrou outras oito candidatas. Acostumada a ser desvalorizada, não achou que tivesse chance. Voltou para casa desesperançada, mas, alguns dias depois, o telefone tocou. Tinha conseguido o emprego e começava a suspeitar de que era capaz de sonhar e alcançar as metas pretendidas.

“A cooperativa não sabia que estava me salvando quando me estendeu a mão”, diz Cecília, agradecida. Isso acontece porque a dependência financeira das vítimas em relação aos parceiros é um dos fatores determinantes para a manutenção dos ciclos de violência, que aprisionam mulheres: 47,3% das que vivem em situação de violência não desenvolvem atividades remuneradas e permanecem dentro de seus próprios lares. Normalmente, no papel de cuidadoras do lar.

Além disso, entre as formas de violência caracterizadas pela Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006), está a patrimonial, definida “como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos”. O controle de finanças pelo parceiro pode, portanto, ser considerado uma forma de violência; a independência financeira é um caminho para rompê-la.

“Ao oferecermos um emprego com todos os benefícios, como vale-alimentação e plano de saúde, a gente empodera e fortalece mulheres que estejam passando por uma situação assim. Isso pode mudar vidas”, destaca Sara Ferneda, assessora de imprensa da C.Vale, que virou amiga de Cecília. Admiradora da força da colega, Sara fez questão de contar a história da moça na revista da cooperativa, para sensibilizar as pessoas sobre o problema da violência doméstica. “Embora a gente nem sempre saiba que uma colega é vítima de violência, o fato de ela fazer parte de uma rede cooperativista faz toda a diferença. Aqui, cuidamos uns dos outros e nos preocupamos com o bem-estar de todos os cooperados e colaboradores.”

 

PONTO FINAL

Antes de recomeçar a vida — longe da opressão do marido —, Cecília ainda teve de enfrentar uma nova agressão. Inconformado com a possibilidade de a esposa ser independente financeiramente, ele passou a implicar com a recém-contratada funcionária da C. Vale. “Está se maquiando para outros homens!”, acusava. Ela respondia que não. Só gostava de sentir-se bonita. Quando ele a ameaçava, a resposta estava na ponta da língua: “Encosta um dedo em mim e eu me separo de você”. Agora empregada, ela tinha condições de cumprir a promessa — o que trouxe certa tranquilidade para a família, sem episódios de violência física por algum tempo. Até “aquela” sexta-feira.

Era madrugada. Três horas da manhã. O casal chegou em casa, depois de ir junto a um bar. Ele queria continuar a diversão entre quatro paredes, ela queria dormir. Incapaz de ouvir um não, ele começou a agredi-la. A moça correu para o quarto do filho. Apoiou o corpo sobre a porta sem tranca, enquanto o marido ameaçava arrombá-la. “Vou derrubar no 3! 1, 2…”. Ela acordou o menino, encaixou-o nos braços, abriu a janela e pulou com a criança no colo antes de o agressor chegar ao três. Lá embaixo, encontrou o portão trancado e pulou o muro, em direção à casa da vizinha. Quando o dia clareou, passou na antiga casa. Enquanto o homem dormia, catou o celular, uma mala de roupas para o bebê e um par de roupas do varal. Partiu para o mundo. Tinha muita vida para conquistar.

 

RECOMEÇO

Não demorou muito para as mensagens de texto dele lotarem o visor do celular dela. Passou a persegui-la e a ameaçá-la. “Você é minha propriedade e vou te levar amarrada para casa!”, escrevia. Apoiada por algumas companheiras de trabalho que sabiam sua história, ela decidiu denunciar o marido. Hoje, tem uma protetiva contra ele e está em processo de divórcio. Tem um lar e consegue pagar as contas. Mas, vale reforçar: essa história poderia não terminar assim. “Se não estivesse trabalhando na C. Vale, ainda estaria casada e sofrendo violência. O cooperativismo me fez um bem muito grande!”

Embora não conheça Cecília pessoalmente, o presidente da C. Vale, Alfredo Lang, orgulha-se de ter dado à moça uma oportunidade de refazer a própria vida. “A gente entende que uma cooperativa precisa ser competitiva para conseguir sobreviver, mas esse não deve ser o seu único propósito. Você precisa gerar oportunidades para as pessoas melhorarem de vida, crescerem profissionalmente. Sem isso, de que vale uma cooperativa forte? Vale mais o que você faz em favor dos outros e não em favor de si mesmo; esse é o legado que uma cooperativa deve deixar!”, argumenta.

É importante esclarecer que essa não é uma história sobre violência contra a mulher, ou apenas sobre isso. Essa é a história de uma mulher que conseguiu mudar de vida quando encontrou uma oportunidade de emprego e renda. Tudo o que ela precisava era de uma chance de conquistar sua independência. Para erguer-se. Para retomar a dignidade que um dia lhe foi tirada.

Olhar para trás é doloroso, mas Cecília respira aliviada e até com certo orgulho, pois consegue dizer para si mesma: “Eu consegui, e vou conseguir muito mais daqui para a frente! Quero ir mais longe”. A moça, de apenas 23 anos, retomou os estudos, pretende formar-se e, um dia, tornar-se uma advogada, para defender a causa de mulheres em situação de violência. “É o meu sonho”, projeta. A jovem também aspira conquistar a casa própria, para viver melhor com o filho e oferecer para ele tudo o que não teve na infância. Hoje, pode atribuir a si um adjetivo antes impensado: livre.

 

A LUTA É GLOBAL

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), no mundo, estima-se que cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência. É mais provável que uma mulher, entre 15 e 44 anos, seja abusada sexualmente e sofra violência doméstica do que desenvolva um câncer, contraia malária ou sofra um acidente de carro, segundo o Banco Mundial.

No Brasil, no ano de 2018, somente o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) recebeu 92.663 denúncias de violações contra mulheres, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). E esses números podem ser ainda maiores, já que considera-se que apenas 10% dos casos de violência contra as mulheres sejam notificados no país.

Um dificultador é um problema social privado ao lar: 78,6% das ocorrências de violência acontecem dentro da residência da vítima, de acordo com o Atlas da Violência de 2018, realizado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). E, em 73% dos casos, os agressores são companheiros ou ex-companheiros, segundo o DataSenado (2015), realizada pelo Senado Federal. (Fonte: Revista Saber Cooperar)

O sabor do cuidado

Brasília (7/1/19) – Em uma terra rodeada por montanhas, o sol brilha e aquece centenas de pés de café, que logo darão frutos. Ao mesmo tempo em que acalora a plantação, ele queima e marca a pele de cerca de 20 mulheres que zelam por um mar de pequenas sementes vermelhas. Elas serão colhidas quando estiverem maduras; em seguida, selecionadas, lavadas, ressecadas, novamente escolhidas a dedo; e finalmente torradas até virarem o Póde Mulheres — um café encorpado e de personalidade forte, como a de Arlete, Eliane e Maria José (algumas das cafeicultoras responsáveis pelo produto, 100% produzido por mãos femininas).

Mães, filhas, irmãs e amigas uniram-se para criar uma bebida de qualidade, que oferece uma experiência completa para quem a degusta. Quando o aroma do Póde Mulheres exala, é difícil resistir. A bebida quente, apetitosa e cheia de amor combina com o olfato e o paladar de quem aprecia o “pretinho” mais popular do mundo. E esse sabor especial tem sua razão de ser.

“O diferencial do nosso produto está no cuidado que as mulheres têm na seleção e na torra de cada grãozinho cultivado”, explica Natércia Vencioneck, gerente administrativa da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Espírito Santo (Cafesul), localizada no município de Muqui, há 178 km de Vitória. Ela foi uma das idealizadoras do projeto Póde Mulheres, criado para enaltecer o café produzido pelas pequenas produtoras rurais da região.

A bebida produzida pelo grupo de agricultoras da Cafesul é feita a partir do café conilon (veja quadro da página 35), espécie de origem africana de intensidade mais forte. A planta cresce no formato de uma árvore ou um arbusto, podendo chegar a até 10 metros de altura. Durante o plantio e a replantagem, as produtoras seguem técnicas tradicionais de manejo. O segredo para ter um café diferenciado, segundo elas, está no pós-colheita. “É preciso saber selecionar os melhores grãos e levar para a lavagem no mesmo dia”, explica Maria José da Silva, 54 anos, uma das cafeicultoras beneficiadas com o projeto.

Maria José sempre foi agricultora e viveu nos campos. Com a família, aprendeu a apreciar, cultivar e separar os grãos de conilon. O amor pelo cafezal transborda em seus olhos e chega a deixar a voz trêmula — principalmente quando ela se lembra das palavras do pai em dias de colheita. “Ele sempre nos ensinou a só guardar o que era bom. Dizia para procurarmos o melhor e a deixar de lado o que não acrescentava”, recorda. O conselho, segundo ela, vale para o café e para vida.

 

VALOR AGREGADO

Não são apenas o sabor e a qualidade do produto que atraem as pessoas para o Póde Mulheres. Hoje, o principal valor agregado do produto é o fato de ele incentivar e reconhecer a mão de obra feminina. “É animador participar de um projeto que incentiva tanto as mulheres. Essa ação me deixou mais feliz comigo mesma” esclarece Eliane de Almeida, 42 anos, dona do rosto que estampa a embalagem do Póde Mulheres.

Ao ver seus traços na embalagem pela primeira vez, a moça tímida e de mãos calejadas sorriu. “Me senti valorizada”, revela Eliane, que vive na zona rural de Muqui, e — estimulada pela Cafesul — passou a produzir queijos artesanais para combinar com a bebida quente. Quem também não poupa elogios ao Póde Mulheres é a pedagoga Helen Lima, 48 anos. Nascida e criada em uma lavoura de conilon, encantou-se cedo com a vida na roça e, mesmo depois de formada, fez questão de continuar a mexer com a terra. No sítio onde mora, em Muqui, ela e o esposo cultivam flores, pimentas e café. “Eu fazia mais por hobby, até que participei de uma capacitação da Cafesul e descobri que o meu sítio poderia ser uma empresa.”

Helen tornou-se cooperada da Cafesul em 2015. Desde então, aprendeu a administrar sua terra e a viabilizar o que é possível cultivar nela. Na próxima colheita, prevista para março de 2019, a expectativa é de aumentar a produção do café conilon. “Meu marido ficou desempregado e agora me ajuda no sítio. Hoje, é de lá que tiramos nossa renda”, diz, animada.

 

APRENDER PARA CRESCER

Além de gerar trabalho e renda para as cooperadas, o Póde Mulheres está transformando o árduo trabalho no campo em prazer para as envolvidas. “O contato com a terra me deixa calma, me alegra. As meninas do grupo são como uma família. Eu não sei o que estaria fazendo se não estivesse aqui, com elas, com esse trabalho”, declara Arlete Alves, 64 anos. Ela é uma das cooperadas premiadas pela Cafesul pela excelência de seu café.

Vale destacar: o nome Póde Mulheres é uma alusão não somente ao pó de café, mas ao poder do universo feminino. Afinal, com um pouco de incentivo, essas agricultoras têm conseguido transformar as vidas de suas famílias e de toda a comunidade. Justamente por isso, a Cafesul investe não apenas na comercialização do produto, mas na capacitação e na autoestima de suas cooperadas. “A cooperativa tem sido muito importante em nossas vidas”, reconhece Maria José. “Ela está sempre investindo na gente, e está sempre disposta a nos incentivar para o melhor”.

Na avaliação do presidente da Cafesul, Renato Theodoro, a capacitação é a base de tudo para cooperativa. “Nós fazemos cursos, seminários, palestras. Temos parcerias com o Sistema OCB e também com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)”, comenta.

Outro fator decisivo para o crescimento da cooperativa foi a conquista da certificação Fairtrade (Comércio Justo), concedida por empresas de certificação especializadas. Para manter o selo, é preciso que a cooperativa cumpra com um cronograma social, ambiental e econômico junto aos cooperados, com programas de valorização do trabalho, das mulheres e da juventude, por exemplo.

A certificação é renovada a cada três meses. O selo Fairtrade (Comércio Justo) reconhece a produção ética e sustentável de produtos e serviços. Ele assegura aos consumidores que os produtos adquiridos respeitem normas sociais, econômicas e ambientais justas para todos os envolvidos na cadeia produtiva. Hoje, o selo Fairtrade gera benefícios para mais de 1,2 milhão de famílias de agricultores em 70 países em desenvolvimento.

“O selo de Comércio Justo é uma forma de agregar ainda mais valor ao nosso produto, e ajuda a melhorar não só a renda do produtor, mas a condição de vida dele no campo”, explica Theodoro.

Com concursos de qualidade internos sendo realizados periodicamente desde 2011, a Cafesul tem conseguido se destacar no mercado de café. O Póde Mulher, por exemplo, foi o produto vencedor de um concurso interno de qualidade, realizado em 2016. O projeto ganhou tanta força e deu tanto retorno para as mulheres envolvidas que terminou ganhando as ruas em 2018.

“Se eu pudesse fazer nosso café se multiplicar para suprir o Brasil inteiro, eu faria. Afinal, ele é cuidado com carinho e com muito amor. E o meu prazer seria esse: que um café produzido apenas por mulheres chegasse a todas as mesas para que o Brasil conhecesse o poder que vem das nossas mãos”, diz a sonhadora Maria José, enquanto passeia pelos cafezais de Muqui.

 

VOCÊ SABIA?

Apesar de seu sabor marcante, o café conilon não é o mais consumido do Brasil. Aqui, os grãos do tipo arábica — mais doces e aromatizados — costumam ser mais apreciados. Entenda a diferente entre os grãos:

 

CAFÉ CONILON

Origem: Congo e Guiné

Formato: Grão arredondado

Sabor: Marcante e amargo

Teor de açúcar: Entre 3 a 7%.

Teor de Cafeína: 2,2%

 

CAFÉ ARÁBICA

Origem: Etiópia

Formato: Grão oval

Sabor: Adocicado com leve acidez

Teor de açúcar: Entre 6 e 9%

Teor de Cafeína: 1,2%

 

Fonte: Revista Saber Cooperar (edição nº 24)