Webinário destaca desafios e oportunidades do Mercado de Carbono
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Potencial do cooperativismo como protagonista na agenda de sustentabilidade mundial é evidenciado
O webinário Mercado de Carbono: Cooperativas Rumo à Descarbonização, realizado pelo Sistema OCB, nesta terça-feira (4), reuniu mais de 400 participantes em transmissão online pelo YouTube da entidade para debater as oportunidades e os desafios do tema para o cooperativismo. O evento destacou o papel fundamental das cooperativas na agenda de descarbonização e abordou tanto o mercado regulado quanto o voluntário.
Alex Macedo, coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, deu início ao evento com três perguntas iniciais: Como sua cooperativa poderia se beneficiar do mercado regulado ou voluntário de carbono? Quais são os desafios para a inserção das cooperativas no mercado de carbono? Quais práticas sustentáveis sua cooperativa já adota e poderiam ser potencializadas com a agenda de descarbonização? Essas reflexões nortearam o debate, que teve como foco transformar os problemas ambientais em soluções e negócios sustentáveis.
Para o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, o evento vai além de um debate técnico. "Estamos transformando a descarbonização em valor para as cooperativas e seus cooperados. Esse é o momento de receber a COP30 no Brasil, e usar dessa oportunidade para mostrar o potencial do modelo de negócios. Nossas cooperativas transformam realidades, e isso foi reconhecido uma segunda vez pela ONU. Por isso, precisamos discutir amplamente esse tema, tão atual para construir soluções que beneficiem a todos", declarou.
Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), reforçou a relevância do cooperativismo nesse contexto. "O movimento lidera o mercado de descarbonização. Temos exemplos extraordinários de cooperativas que mostram como é possível aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade. O coop sabe se atualizar e se adaptar aos novos desafios", afirmou. Em sua participação, o deputado Arnaldo Jardim (SP), presidente da
Compromisso
Durante o primeiro painel, com o tema Oportunidades e Desafios do Mercado de Carbono, Daniel Vargas, consultor do Sistema OCB para a COP30 e professor de Economia e de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que o mercado de carbono é uma criação política que transforma o meio ambiente em ativo econômico. Para ele, o cooperativismo é capaz de organizar essa cadeia, criar escala e impacto positivo. "O grande desafio é reconhecer as boas práticas do agro e, também, das cooperativas como geradores de créditos de carbono. Esse modelo de negócios possui um papel decisivo ao incentivar que produtores passem a enxergar o meio ambiente não como um obstáculo, mas como uma oportunidade", afirmou.
O professor acredita que o Brasil possui enorme potencial de descarbonização. “Nosso país tem virtudes tropicais singulares que precisam ser valorizadas no mercado de carbono global. Nossas práticas agrícolas e ambientais geram benefícios que ainda não possuem devido reconhecimento econômico”. Daniel entende que o mercado de carbono é uma oportunidade. “É o momento que nos permite transformar boas práticas em créditos valorizados, com geração de renda e estímulo de transição para uma economia de baixo carbono, com as cooperativas na linha de frente desse movimento”, acrescentou.
Leonardo Papp, advogado e consultor jurídico do Sistema OCB, explicou que a Lei 15.042/24 representa um marco para o Brasil. “Ao inserir o mercado de carbono na legislação nacional, se estabelecem regras claras para operadores e se define um caminho para o amadurecimento desse mercado nos próximos anos”. Ele pontuou que o mercado de carbono possui três modalidades: o regulado internacionalmente pela ONU; o nacional, que agora ganha força com a nova lei; e o voluntário, que funciona de forma privada. “Todos compartilham a mesma lógica, mas variam quanto à origem das metas e aos mecanismos de controle. Agora, com o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), serão estabelecidas metas de redução e, além disso, a comercialização de créditos de carbono, o que cria boas oportunidades para as cooperativas que conseguem exceder essas metas".
O advogado ainda falou sobre outros benefícios que podem incidir sobre o cooperativismo a partir da adoção de práticas de redução de emissões em suas atividades. “Isso não apenas contribui para a sustentabilidade, mas também cria novas oportunidades de negócios e parcerias”, declarou. E, por fim, esclareceu que o mercado regulado brasileiro está em período de transição. “Pode levar de cinco a seis anos até o seu pleno funcionamento. Nesse tempo, será fundamental a regulamentação de metodologias de monitoramento, verificação de emissões e a integração com mercados internacionais”, concluiu.
Cases
Sicredi Confederação, compartilhou a trajetória da instituição. "Em 2019, realizamos nosso primeiro inventário sistêmico de emissões de GEE. Desde então, evoluímos continuamente, aderindo ao Programa Brasileiro GHG Protocol e neutralizando emissões de forma sistêmica. Em 2021, recebemos o selo ouro pelo nosso inventário, e, em 2024, iniciamos a mensuração das emissões financeiras com adesão ao PCAF (Partnership for Carbon Accounting Financials)”, contou. No segundo painel, foram apresentados cases de sucesso que demonstram o impacto positivo do cooperativismo na agenda de descarbonização. Aline Simões, especialista em Sustentabilidade do
Ela relembrou que a construção do inventário sistêmico de emissões de GEE foi desafiador e, no entanto, essencial para consolidar a gestão climática do Sicredi. “Conseguimos reunir todos os dados, de todas as cooperativas, o que nos permitiu implementar um processo contínuo de aprimoramento, com capacitações e treinamentos para engajar as equipes e fortalecer a cultura da sustentabilidade”.
Coopercitrus, falou sobre o foco da cooperativa em inovação e investimento em novas tecnologias. “Acreditamos que a descarbonização do agro passa pela inovação. Levamos tecnologia para os produtores e soluções de mapeamento do solo, além do uso de drones para pulverização de áreas específicas. Tudo isso, reduz o consumo de diesel e aumenta a eficiência de produção”, explicou. Ele ressaltou que o compromisso da Coopercitrus com o tema sustentabilidade é prioritário. “Investimos em usinas fotovoltaicas, gestão de resíduos e uso de biomassa, enquanto otimizamos o consumo de combustíveis. Por meio dessas ações concretas, entendemos que é possível aliar produção agrícola e responsabilidade ambiental”. Por sua vez, Boris Wiazowski, head de sustentabilidade da
Ele ressaltou que, em 2024, foram priorizados combustíveis limpos e parcerias importantes foram firmadas, como, por exemplo, com a Embrapa. “Tivemos acesso à tecnologias para recuperação de pastagens e lavouras. Nossa meta para este ano é conquistar o selo ouro e, ano que vem, queremos ampliar o foco para bioinsumos, bioeconomia e bio competitividade, que são pilares fundamentais para o movimento coop”, planejou. O gerente concluiu sua fala afirmando que o GHG Protocol é um programa essencial para mapeamento, quantificação e auditoria das emissões. “Alcançar a etapa prata em 2023 foi um marco que incentivou, ainda mais, nossa trajetória”.
Ao final do webinário, Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, salientou que a COP30 é o momento em que o movimento poderá mostrar a força que possui no Brasil e no mundo. “Precisamos chegar lá evidenciando nossa potência com indicadores que comprovam nossa capacidade. O Ramo Agro é uma verdadeira máquina de fotossíntese e esperamos que todas as cooperativas interessadas possam se unir ao Sistema OCB para demonstrar que sabemos usar nossas melhores características de forma estratégica”, provocou.
Para ela, além da economia, do conhecimento e do desenvolvimento social que o cooperativismo gera, ainda é possível realizar tudo isso enquanto se amplia a presença nos mercados global, nacional e voluntário. “Esse é um potencial que atravessa todos os ramos do cooperativismo”, declarou.
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