Cooperativismo consolida papel em PSA, restauração e bioeconomia
Painéis da COP30 discutem impacto social, conservação e permanência no território amazônico
A COP30 reforçou, nesta terça-feira (18), que o cooperativismo é peça-chave para impulsionar a bioeconomia, valorizar serviços ambientais e ampliar ações de restauração florestal no Brasil. Em debates realizados na Green Zone e na Agri Zone, representantes de cooperativas, governo, setor privado e instituições parceiras mostraram como o modelo coop transforma riqueza ambiental em oportunidades econômicas, renda, permanência no território e adaptação climática.
PSA e permanência no território
Moderado pelo coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo, o painel realizado no estande do Governo
Federal na Green Zone intitulado de O modelo cooperativo como impulsionador da agenda climática no Brasil, destacou o avanço da regulamentação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
A diretora do Ministério do Meio Ambiente (MMS), Bruna de Vita, foi uma das painelistas e lembrou que o reconhecimento dos serviços ambientais é essencial para manter atividades sustentáveis no campo e na floresta. Ela lembrou, porém, que o PSA precisa vir acompanhado de crédito, assistência técnica e inovação: “Precisamos de um conjunto de políticas públicas que compreenda os desafios da Amazônia”.
Já o assessor da Cooperacre, Alberto “Dande” de Oliveira Tavares voltou a apresentar o caso da Cooperacre, que atende cerca de 5 mil famílias. “A cooperativa nasceu para garantir renda, logística e permanência no território”, disse. Ele reforçou o pioneirismo do Acre em políticas de PSA. “É possível valorizar a floresta em pé e quem vive dela. A cooperativa organiza, inova e faz alianças”, acrescentou.
Gicarlos Souza de Lima, gerente Comercial da Reca, por sua vez, explicou como sistemas agroflorestais consolidados há décadas se tornaram referência em restauração de áreas antes degradadas. Em seguida, Eduardo Nicolau, da Natura, falou sobre o programa de PSA da empresa em parceria com a Reca, que já destinou R$ 11 milhões e conservou 4,2 milhões de hectares. “O PSA não é a renda principal, mas aumenta a capacidade de investimento das famílias e incentiva que os jovens permaneçam no território”, afirmou.
Restauração florestal e água
Na Agri Zone, o painel Cooperar para Recuperar: Restaurando Áreas Degradadas e Nascentes, moderado pelo coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB, Eduardo Queiroz, destacou iniciativas de recomposição florestal, manejo
sustentável e segurança hídrica.
O presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus, Matheus Kfouri Marino, enfatizou a integração entre agricultura eficiente e restauração. “Não existe restauro de nascentes sem agricultura regenerativa”. A Fundação Coopercitrus já restaurou mais de mil nascentes e recuperou 400 hectares. “O produtor deixa de ser apenas consumidor e passa a ser também produtor de água”, afirmou
Representando a cooperativa Coomflona, Arimar Feitosa Rodrigues explicou como o manejo comunitário da Flona do Tapajós garante regeneração natural e amplia a legalidade. “Nós cuidamos da floresta porque vivemos nela”. A cooperativa reúne 27 comunidades e possui movelaria e indústria licenciada para agregar valor.
A coordenadora da Cresol Horizonte, Kelly Ramos, apresentou ações no Vale do Ribeira (PR) para melhorar produtividade e conservação em áreas de bubalinocultura. “Sustentabilidade gera resultado direto dentro da propriedade”, afirmou.
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Pavão, por sua vez, alertou para a urgência da adaptação climática. “O agricultor já sente as ondas de calor, a irregularidade de chuvas e a pressão por mais resiliência. Precisamos de sistemas agrícolas com proteção contra extremos climáticos. Não é para daqui a 20 anos — é para agora”.
Bioeconomia e PSA: cooperativas como base da transformação
No painel Coopera+, sobre cooperativismo e novos modelos de negócio para impulsionar a bioeconomia, promovido pela ABDI, na Green Zone, o Sistema OCB apresentou iniciativas que estruturam cadeias produtivas da sociobiodiversidade na
Amazônia. A analista de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro, reforçou que o cooperativismo é uma das principais forças de proteção da sociobiodiversidade brasileira. “O cooperativismo permite que as comunidades permaneçam na floresta, garantam renda com manejo sustentável e preservação dos ecossistemas. As cooperativas funcionam como guardiãs da floresta em pé porque conseguem transformar a biodiversidade em oportunidade econômica sem romper com a natureza”, afirmou.
O assessor da Cooperacre, Alberto “Dande” de Oliveira Tavares, falou sobre a importância da verticalização e da industrialização regional. “A Amazônia não pode continuar exportando só matéria-prima bruta. A Cooperacre mostra que é possível agregar valor no território e gerar renda para milhares de famílias”, afirmou. Para ele, as políticas públicas e alianças institucionais são determinantes. “O cooperativismo é o modelo mais eficaz para enfrentar a emergência climática e a desigualdade social ao mesmo tempo”, complementou.
Representando o setor privado, Izabella Gomes, coordenadora de Sustentabilidade da Natura, destacou o trabalho em rede e o financiamento Amazônia Viva, que combina crédito e fundo filantrópico. “Sozinha, nenhuma instituição faz verão. Trabalhar em rede é o único jeito de ampliar impacto”. Ela explicou que o mecanismo já destinou R$ 26 milhões a 15 cooperativas, com 100% de adimplência. “O crédito só funciona porque as cooperativas são organizadas e têm governança”.
A diretora de Sustentabilidade da ABDI, Perpétua Almeida, lembrou o potencial econômico da bioindústria amazônica. “A floresta tem riqueza — precisamos de investimento para que ela gere renda para quem vive nela”.
Iniciativas conectam floresta, inovação e desenvolvimento
O superintendente do Sistema OCB/PA, Júnior Serra, participou do painel Bioeconomia Regenerativa: Soluções para sistemas produtivos circulares, resilientes e de baixo carbono, realizado no Pavilhão Pará da Green Zone. Convidado pela Natura, ele destacou que discutir bioeconomia na Amazônia passa, necessariamente, pelo fortalecimento do cooperativismo e mostrou iniciativas que nasceram no Pará e hoje possuem escala nacional, como o Programa NegóciosCoop, que conecta cooperativas a mercados privados e institucionais.
Serra também ressaltou o novo foco da Organização Estadual na assistência técnica cooperativista, essencial para apoiar a transição de modelos convencionais para práticas baseadas em bioinsumos e sistemas agroecológicos. “Reafirmamos o protagonismo das cooperativas para manter a floresta em pé, valorizar nossos povos tradicionais e impulsionar soluções que contribuem para o desenvolvimento sustentável do Pará e do mundo”, declarou.