Cooperativas mostram que estão preparadas para participar da COP30
Histórias de inovação, inclusão e preservação projetam o movimento para a Conferência do Clima
Por Raquel Sacheto
Edição: Samara Araujo
Fotos: Lucas Badú e Cleyton Silva
Quando o Brasil foi definido como sede da COP30, que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA), cresceu também a expectativa sobre como o país mostraria ao mundo suas soluções para o clima e o desenvolvimento sustentável. Foi nesse cenário que o cooperativismo abriu suas portas para lideranças nacionais, organismos internacionais e jornalistas.
Em duas jornadas complementares — a Imersão Pré-COP30 e a Press Trip Coop na COP30 — o setor revelou, do Sul à Amazônia, experiências concretas de comunidades que unem preservação ambiental, geração de renda e inclusão social, para projetar o modelo de negócios como uma das respostas mais eficazes e efetivas aos desafios globais.
Imersão Pré-COP30: cooperativas do sul ao norte
A imersão reuniu autoridades de ministérios, agências da Organização das Nações Unidas (ONU), BID Invest (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Rede Brasil do Pacto Global, ApexBrasil e representantes da sociedade civil. A jornada começou no Rio Grande do Sul, em visitas à Coasa, referência na agricultura familiar; à Cresol, que alia crédito e sustentabilidade; e à Vinícola Aurora, com sua robusta agenda ESG. O roteiro seguiu por Nova Petrópolis, onde os participantes conheceram a Sicredi Pioneira, berço do cooperativismo de crédito na América Latina, e a Casa Cooperativa, guardiã da memória do setor. Em Porto Alegre, a Cootravipa mostrou como o trabalho coletivo promove inclusão social em comunidades urbanas vulneráveis.
Na Coasa, os visitantes conheceram projetos de manejo do solo e agricultura sustentável que fortalecem comunidades inteiras. “Aqui, acreditamos que cuidar do solo é cuidar do nosso futuro”, resumiu o presidente Orildo Germano Belegante. Já na Cresol, foi possível conhecer como a cooperativa integra crédito e práticas socioambientais em seu modelo de atuação. A Vinícola Aurora, por sua vez, destacou sua estratégia ESG, que já contempla 13 temas materiais e 20 compromissos assumidos, entre eles o uso eficiente da água, a destinação correta de resíduos e o investimento em programas sociais voltados para jovens e comunidades do entorno.
A Sicredi Pioneira chamou a atenção por seu programa de sucessão familiar no campo e pela carteira de crédito em energia solar. “Temos uma das maiores carteiras de energia fotovoltaica do país, mesmo em uma região de baixa irradiação solar”, destacou Tiago Luiz Schmidt, presidente do Conselho de Administração da cooperativa. O papel de guardião da memória e de promotora do modelo de negócios cooperativismo foi destacado pela Casa Cooperativa. “Um dos principais concorrentes do cooperativismo é o desconhecimento. Nosso propósito é divulgar e promover esse modelo para que mais pessoas possam vivenciá-lo”, disse a presidente da entidade, Heloísa Helena Lopes.
A visita à Cootravipa mostrou como o cooperativismo urbano pode transformar exclusão em oportunidade. Criada há mais de 40 anos em uma comunidade periférica, a cooperativa reúne trabalhadores que encontraram no coletivo uma forma de superar o desemprego e conquistar dignidade. Entre os projetos, destacam-se o Coleta Tri, que promove a segregação correta de resíduos, e o Empreender para Crescer, que leva educação ambiental a crianças da rede pública. “Acreditamos que, por meio do trabalho e da geração de renda, podemos transformar pessoas em protagonistas de suas histórias. É isso que nos move todos os dias”, afirmou a presidente Imanjara Alessandra Marques de Paula.
Na etapa amazônica, o grupo desembarcou em Rondônia para visitar a Reca, pioneira em sistemas agroflorestais, e o Sicoob Credip, que impulsiona a cafeicultura sustentável e foi responsável pela conquista da Identificação Geográfica dos Robustas Amazônicos. A jornada terminou em Vilhena, com experiências de intercooperação no Hospital Cooperar e a inovação social da Favoo Coop, que alia educação, inclusão digital e microcrédito solidário.
A Reca mostrou como sistemas agroflorestais podem unir preservação da floresta e renda para mais de 300 famílias. Formada por migrantes e comunidades tradicionais, a cooperativa é referência internacional e mantém agroindústrias de óleos, polpas e palmitos.“A Reca trabalha com pequenos agricultores em sistemas produtivos que respeitam a sociodiversidade, valorizam os saberes locais e geram renda com preservação”, explicou o presidente Hamilton Condack de Oliveira.
Na visita ao Sicoob Credip, o grupo descobriu como a cafeicultura sustentável é impulsionada pela organização que também apoiou a conquista da primeira Identificação Geográfica mundial para cafés canéforas amazônicos. Já no Sicoob Credisul, foi possível acompanhar como a cooperativa de crédito reinveste seus resultados na comunidade, apoiando desde produtores rurais até microempreendedores urbanos. Programas de educação financeira, linhas de crédito acessíveis e apoio a projetos sociais deram a dimensão de como o crédito cooperativo pode transformar territórios.
Idealizado inicialmente pelos cooperados do Sicoob Credisul, o Hospital Cooperar nasceu do desejo da comunidade de Vilhena de ter acesso a serviços de média e alta complexidade em saúde. Mais de 15 mil cooperados uniram recursos próprios, doações e distribuição de sobras para erguer a estrutura de 12 mil metros quadrados, com investimento superior a R$ 50 milhões. Hoje, sob gestão da Unimed Vilhena, o hospital atende toda a população local e mostra como a cooperação pode preencher lacunas históricas do sistema de saúde. “O que era um sonho coletivo se tornou um patrimônio para toda a região. Isso é a prova viva de que a união transforma realidades”, destacou Vilmar Saúgo, CEO do Sicoob Credisul.
O roteiro foi encerrado com a visita à Favoo Coop, cooperativa educacional que nasceu em comunidades periféricas e hoje mantém a Faculdade Cooperativa Favocop. Seu modelo combina educação com inclusão social e geração de renda. Projetos como o Favoo Sustentável, voltado a hortas comunitárias e segurança alimentar, o Favoo Costura Criativa, que capacita mulheres em situação de vulnerabilidade, e o Favoo Digital, que oferece cursos de tecnologia para jovens das periferias, mostraram como a educação cooperativista pode multiplicar oportunidades.
“Vivenciei o fortalecimento da agricultura familiar e da inclusão produtiva de mulheres e povos tradicionais. A Sicoob Credip, por exemplo, realiza um trabalho incrível com comunidades indígenas”, contou Ricardo Vieira Vidal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. “Estar aqui, olho no olho, foi fundamental para compreender o papel das cooperativas na inclusão financeira”, acrescentou Isabela Maia, do Banco Central. “O cooperativismo valoriza cultura, relações e saberes comunitários. Conhecer iniciativas como a produção de café robusta por povos tradicionais e a cooperativa mirim foi transformador, completou Lilian Lindoso, do Ministério do Meio Ambiente.
Para Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, o saldo foi claro: “Mostramos, na prática, como o cooperativismo brasileiro contribui para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e para a agenda climática mundial. As cooperativas brasileiras estão preparadas para entregar soluções que o mundo precisa”, declarou.
Press Trip Coop na Cop30: imprensa vivencia o coop no Pará
Um mês depois, foi a vez da imprensa conhecer esse universo. A Press Trip Coop na COP30 reuniu 15 jornalistas de veículos nacionais em um percurso pelo Pará, entre Santarém, Alter do Chão, Belém e Tomé-Açu para conhecer iniciativas que simbolizam a diversidade e a força do cooperativismo brasileiro.
A primeira parada foi na Turiarte, localizada na comunidade de Anã, às margens do Rio Arapiuns, em Alter do Chão. Especializada em turismo de base comunitária e artesanato amazônico, a cooperativa mostrou como a renda é gerada de forma sustentável a partir da floresta em pé.
Os visitantes acompanharam de perto a confecção de mandalas, sousplats e cestos feitos da palha de tucumã, tingida com pigmentos naturais de urucum, jenipapo e açafrão. Além disso, participaram de vivências em piscicultura e meliponicultura, a produção de mel de abelhas sem ferrão. “Nosso trabalho é mostrar que a floresta pode gerar renda sem ser destruída. Cada peça que produzimos carrega a história da nossa comunidade”, afirmou a artesã e cooperada, Ivaneide de Oliveira.
Em Tomé-Açu, a visita foi à Camta, cooperativa agroindustrial com quase um século de história e reconhecida mundialmente por seus sistemas agroflorestais. O grupo percorreu propriedades que adotam o modelo de consórcio entre culturas como dendê, cacau e açaí, que recuperam áreas degradadas e preservam a biodiversidade. “O Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu é uma prova de que podemos produzir em escala e, ao mesmo tempo, cuidar da floresta. Levamos frutas e derivados da Amazônia para o mundo com rastreabilidade e compromisso socioambiental”, explicou o cooperado Ernesto Suzuki, um dos anfitriões da visita.
Já em Belém, a comitiva conheceu a Concaves, cooperativa formada por catadores de materiais recicláveis que se consolidou como referência em economia solidária. Ali, os jornalistas ouviram histórias de superação de trabalhadores que antes atuavam na informalidade e hoje têm renda digna, proteção social e voz ativa nas decisões. A Concaves terá papel de destaque na própria COP30, sendo uma das responsáveis pela coleta seletiva do evento. “Nosso trabalho vai muito além da reciclagem. Mostramos que inclusão social e cuidado com o meio ambiente caminham juntos, e a COP30 é uma oportunidade de dar visibilidade a essa realidade”, afirmou a presidente da cooperativa, Débora Bahia.
Além dessas experiências, a imprensa também conheceu cooperativas de crédito — como Sicredi Norte, Sicoob Coesa Cresol Amazônia — que ampliam o acesso a serviços financeiros em regiões da Amazônia antes desassistidas. Essas cooperativas reinvestem seus resultados nas próprias comunidades, gerando um ciclo virtuoso de desenvolvimento local. No Pará, suaatuação têm fortalecido agricultores familiares, empreendedores e comunidades tradicionais, oferecendo crédito acessível, educação financeira e projetos sociais.
“Queríamos mostrar que o cooperativismo brasileiro não é apenas um modelo de negócios, mas uma forma de transformar comunidades, gerar renda digna e preservar o meio ambiente. Cada visita foi uma oportunidade de revelar histórias inspiradoras, que agora ganharão ainda mais visibilidade”, afirmou Samara Araujo, gerente de Marketing e Comunicação do Sistema OCB.
Ela reforça que a aproximação com a imprensa foi estratégica: “O jornalismo tem o poder de ampliar vozes e conectar pessoas. Ao vivenciarem o cotidiano das cooperativas, os repórteres perceberam que soluções locais já estão acontecendo, com potencial de serem replicadas em todo o mundo”.
Coop como resposta global
Com mais de 4,3 mil cooperativas, 25,8 milhões de cooperados e cerca de 578 mil empregos diretos, o Brasil mostrou, nessas duas experiências, que o cooperativismo é um ator essencial na construção de soluções para o futuro. A Imersão Pré-COP30 e a Press Trip Coop na COP30 confirmaram que o modelo cooperativo brasileiro está pronto para ocupar lugar de destaque na Conferência do Clima, em Belém.
Para saber mais sobre o Coop na COP30, acesse: cop30.coop.br