Fórum de Energia Cooperativa discute financiamento e regulação
Evento destacou importância do cooperativismo no acesso à energia renovável
O último dia do Fórum Latino-Americano de Energia Cooperativa, realizado nesta quarta e quinta-feira (4 e 5), em Brasília, discutiu o papel das cooperativas na transição energética, com foco em financiamento sustentável no setor de infraestrutura. O evento, promovido pelo Sistema OCB em parceria com a Confederação Nacional das Cooperativas da Alemanha (DGRV), consolidou o papel estratégico das cooperativas na democratização da energia sustentável e no avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.
Camila Japp, diretora da DGRV, destacou o impacto das cooperativas no fornecimento de energia limpa e acessível, alinhado aos objetivos globais de sustentabilidade. "As cooperativas possuem o poder de democratizar o acesso à energia sustentável e promovem uma transição justa e inclusiva", afirmou.
O painel Financiamento para Descarbonização, moderado pela gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, Clara Maffia, contou com a presença de representantes de grandes instituições financeiras e cooperativas de crédito que apresentaram iniciativas de financiamento voltadas para a sustentabilidade e a transição energética.
Carlos José Echevarria Barber, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), falou sobre o Projeto de Financiamento Verde, que visa promover acesso à soluções comunitárias de energia limpa para atividades produtivas em áreas rurais. "Estamos trabalhando com 48 organizações de produtores rurais de baixa renda para promover o acesso a fontes de energia limpa. Oferecemos financiamento e capacitação voltados para as necessidades do setor agrícola", explicou. Ele ressaltou que a parceria com a DGRV e as cooperativas de crédito tem sido fundamental para o sucesso da iniciativa.
Camila Carvalho Costa, representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também falou sobre o papel da instituição no apoio a projetos sustentáveis. Ela destacou que as cooperativas de crédito são parceiras estratégicas do BNDES no repasse de recursos do banco. E pontou que o Fundo Clima, que conta com R$ 10,4 bilhões de dotação orçamentária para financiar máquinas e projetos de investimento em energia limpa. "Temos fundos garantidores que facilitam o acesso ao crédito para micro, pequenas e médias empresas, o que é essencial para destravar novos investimentos nesse setor estratégico", pontuou.
Representantes das cooperativas de crédito Sicoob, Sicredi Paranapanema e Cresol também participaram da discussão, abordando a importância das linhas de crédito verde e o impacto dessas iniciativas nas comunidades. Renan Pereira Carneiro, do Sicoob, enfatizou o papel regional das cooperativas de crédito. "A magia está em ver estas instituições realizando ações regionais que fazem a diferença localmente", disse.
Já Mayá Patrícia Savian Prolo, da Cresol, destacou o foco da cooperativa em apoiar jovens, mulheres empreendedoras e agricultores familiares, com 30 linhas de crédito sustentáveis voltadas para esses públicos. "Buscamos promover desenvolvimento socioeconômico de forma inclusiva e sustentável. Nosso objetivo é transformar realidades e fortalecer a economia local com garantia de um futuro mais próspero".
Adão Volmir Caraciolo, do Sicredi Paranapanema, ressaltou a importância da conscientização em torno do crédito verde, afirmando que essas iniciativas não só impactam positivamente o meio ambiente, mas também geram inovação, emprego e renda nas regiões atendidas. "O crédito verde é uma ferramenta que promove sustentabilidade ambiental e fortalece a economia local. É uma ótima maneira de desenvolver comunidades de forma responsável e próspera".
Panorama regulatório
O painel Marco Legal para Iniciativas cooperativas na América Latina, moderado por Thayná Côrtes, analista técnica-institucional do Sistema OCB, contou com a presença de Gentil Nogueira de Sá Junior, Secretário Nacional de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia entre os participantes. Ele abordou o panorama atual da energia renovável no Brasil e o crescimento da geração distribuída. “O número de empreendimentos de geração distribuída está em rápido crescimento, e em breve alcançaremos a marca de 40 GW de potência instalada, o que equivalerá à capacidade energética de Portugal”, explicou.
Por sua vez, Lívia Raggi, representante da Diretoria Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), detalhou as motivações para a regulação da geração distribuída no Brasil e citou a importância da Resolução Normativa 482/12, que permitiu ao consumidor gerar sua própria energia. Ela destacou, com ênfase, a importante contribuição do Sistema OCB no processo de regulamentação da micro e minigeração distribuída, especialmente no que se refere à geração compartilhada por meio de cooperativas. “Ao viabilizar a geração própria de energia, o acesso a fontes renováveis é democratizado e, também, promove a autonomia energética de milhares de famílias, especialmente as de baixa renda".
O painel contou ainda com as participações de Juan Humberto Cerdio Várquez, do Instituto Nacional de la Economia Social (INAES) do México; Walter Julián Ángel Jiménez, da Comisión Reguladora de Energía do México; María José Álvarez Fonseca, da Secretaria de Energia de Honduras; Simón García Orrego, do Ministério de Minas e Energia da Colômbia; e Danilo Jara Aguilera, da Asociación Chilena de Energía Solar (Acesol).
Troca
No encerramento do evento, Camila Japp enfatizou a importância de continuar os debates iniciados durante o fórum. "Espero que esses diálogos sobre energia sustentável e inovações no cooperativismo continuem em outras oportunidades, para que possamos avançar ainda mais na construção de um futuro energético mais justo", afirmou.
Clara Maffia também fez um agradecimento especial aos painelistas, à DGRV, às Organizações das Cooperativas Estaduais (OCEs) e ao Itamaraty. Ela salientou a riqueza de conteúdos discutidos. "Este fórum foi uma oportunidade única de troca de conhecimentos que, certamente, trará impactos positivos para o cooperativismo de energia na América Latina".
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