Cooperativismo destaca caminhos para ampliar acesso ao financiamento verde
Painel na Blue Zone debateu como aproximar recursos climáticos de quem atua no território
No início da tarde deste sábado (15), o Pavilhão Brasil, na Blue Zone da COP30, recebeu o painel Estratégias para descentralizar e democratizar o financiamento verde, discussão que reuniu representantes do cooperativismo, governo e
instituições multilaterais para tratar de um dos temas centrais da agenda climática: como fazer com que os recursos destinados à transição ecológica cheguem, de fato, a quem implementa soluções no território.
O debate foi moderado pelo Sistema OCB, que evidenciou os desafios de aumentar os financiamentos climáticos e de como fazer com que os recursos cheguem a quem precisa, e contou com a participação de Alexandre Englert Barbosa, diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, que representou o cooperativismo de crédito no Brasil; Terence Gallager, chefe de Saúde Financeira do BID Invest; Tiago Peroba, chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional do BNDES; e Alessandra Fajardo, diretora de Sustentabilidade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Alexandre Barbosa destacou as diferenças estruturais entre o cooperativismo de crédito e as instituições financeiras tradicionais, ressaltando que as cooperativas são sociedades de pessoas, com -torna o relacionamento mais próximo e qualificado, permitindo que as soluções financeiras sejam construídas a partir das necessidades reais de cada membro e contribuam diretamente para o desenvolvimento local. “Quando atendemos um associado, estamos atendendo o dono da instituição — e isso muda completamente a forma de operar”, afirmou.
Barbosa também apresentou dados que reforçam o crescimento e a relevância do cooperativismo de crédito no Brasil e no mundo. São 67 mil cooperativas de crédito globalmente, reunindo 412 milhões de pessoas, e, no Brasil, mais de 21 milhões de membros e presença em metade dos municípios — sendo a única instituição financeira em 469 deles.
Ele lembrou que estudos recentes mostram impactos econômicos significativos nas regiões onde as cooperativas atuam, como aumento do PIB per capita, geração de empregos, surgimento de novos empreendimentos e redução da vulnerabilidade social. “Esse desempenho se soma ao avanço do crédito verde, ao apoio ao empreendedorismo e às parcerias com instituições como o BNDES e organismos multilaterais, o que reforça o papel do cooperativismo como motor de desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Agentes descentralizadores ![Cooperativismo destaca caminhos para ampliar acesso ao financiamento verde]()
Na sequência, Terence Gallagher evidenciou o papel decisivo das cooperativas brasileiras como agentes descentralizados capazes de conectar recursos de financiamento climático a projetos sustentáveis nas comunidades que mais precisam. Ele explicou que a capilaridade do cooperativismo — aliada à sua atuação próxima de pequenos negócios e pequenos produtores — é essencial para transformar intenção climática em impacto real. Gallagher citou o avanço expressivo do crédito verde no Brasil, incluindo os R$ 90 bilhões investidos por cooperativas em 2024, e afirmou que “o cooperativismo entrega exatamente o que a agenda climática exige: inclusão, escala e resultados concretos para quem vive e produz no território”.
Terence também apresentou a estratégia do BID Invest para ampliar o financiamento climático na América Latina e detalhou os quatro pilares que orientam o modelo: alinhamento de políticas, transparência, inovação e gestão de riscos. Como exemplo prático, apresentou a Rede Financeira para a Amazônia, que passou de 24 para mais de 60 membros em dois anos e reúne cooperativas, bancos e instituições de microfinanças comprometidos em investir na prosperidade das comunidades amazônicas. “Quando unimos ambição pública e ação privada, o capital flui e a transformação acontece”, afirmou.
Protagonismo
Tiago Peroba, por sua vez, falou sobre a atuação do banco como protagonista do financiamento climático no Brasil e reforçou a longa parceria com o cooperativismo de crédito, fundamental para ampliar o alcance das políticas públicas. Ele
apresentou números que evidenciam essa integração: dos 96 bilhões de reais destinados pelo BNDES à economia verde nos últimos dois anos e meio, mais de 19,7 mil operações foram realizadas por meio de cooperativas e bancos cooperativos — mais de 50% de todas as operações verdes do período. “A capilaridade das cooperativas é decisiva para levar crédito a municípios do interior e a produtores que não seriam alcançados por outras instituições, tornando o cooperativismo peça central na descentralização do financiamento sustentável”, descreveu.
O dirigente também chamou atenção para o crescimento exponencial da atuação cooperativista como repassadora das linhas do banco. Em 2004, as cooperativas movimentaram R$ 200 milhões em operações do BNDES; em 2024, esse volume saltou para R$ 37 bilhões, resultado direto do fortalecimento da parceria com o Sistema OCB desde 2020. Peroba destacou ainda que 71% das 758 mil operações aprovadas pelo banco nos últimos dois anos e meio foram realizadas via cooperativas de crédito. “Esse desempenho confirma o papel estratégico das cooperativas na expansão do crédito para micro e pequenas empresas, agricultura familiar e iniciativas de baixo carbono, além de abrir novas oportunidades em linhas como Fundo Clima, Fundo Amazônia e instrumentos de garantias”, completou.
Harmonização de métricas ![Cooperativismo destaca caminhos para ampliar acesso ao financiamento verde]()
Na última fala do painel, Alessandra abordou o papel do CEBDS na articulação entre grandes empresas, ciência e formuladores de políticas para acelerar a agricultura regenerativa no Brasil. Ela explicou que a harmonização de métricas é hoje o principal gargalo para escalar investimentos sustentáveis, já que a diversidade de metodologias inviabiliza comparações e dificulta o reconhecimento mútuo entre diferentes atores da cadeia. “A harmonização deve caminhar junto com políticas agrícolas consistentes e com a capacidade de aproximar o financiamento de quem realmente precisa dele: pequenos e médios produtores”, defendeu.
Alessandra chamou atenção para o desafio de aproximar financiadores e produtores, lembrando que, apesar de haver trilhões de dólares disponíveis globalmente para a agenda climática, os recursos continuam sem chegar à ponta. “O dinheiro existe, mas faltam instrumentos adequados e alguém disposto a assumir o risco dos primeiros anos da transição sustentável”, afirmou. Ela salientou o papel das cooperativas para destravar esse processo, especialmente na cobertura de tickets menores, na redução de riscos e na democratização do crédito verde.

