Coops mostram caminhos para uma agricultura de baixo carbono
Práticas sustentáveis e regenerativas fortalecem segurança alimentar e resiliência climática
O terceiro dia de atividades da COP30 na Agri Zone voltou a destacar o cooperativismo como protagonista em soluções para a crise climática. No painel Agricultura de baixo carbono: caminho para sistemas alimentares sustentáveis e resilientes, cooperativas brasileiras apresentaram experiências que integram produtividade, preservação ambiental e inclusão social, pilares da agricultura de baixo carbono.
O debate reuniu representantes da Lar Cooperativa Agroindustrial (PR), Coasa (RS), Camta (PA) e contou com a presença de Carlos Venâncio, coordenador de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Agricultura (Mapa); e Camila Rodrigues, Secretária Executiva no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), sendo mediado por Eduardo Queiroz, coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB.O objetivo foi discutir como o cooperativismo tem contribuído para tornar a produção agropecuária mais sustentável e adaptada aos desafios climáticos. “As coops são uma verdadeira máquina de impacto do setor produtivo brasileiro. Onde tem cooperativa, tem desenvolvimento sustentável e territorial”, destacou Eduardo.
A Lar apresentou o Programa Lar de Sustentabilidade, reconhecido pelo Ministério da Agricultura pelos avanços em boas práticas agrícolas. O programa já avaliou 450 propriedades, certificou 20 associados com o Selo de Sustentabilidade e realizou 10 mil horas de treinamento, o que a permitiu alcançar 72% de conformidade com seus pilares, gestão de processos, gestão de propriedade, responsabilidade social e gestão ambiental. “Cada produtor certificado é um aliado da segurança alimentar e da agricultura de baixo carbono”, explicou Márcia Pessini, gerente de Gestão da Qualidade, Meio Ambiente, Inovação e Sustentabilidade da cooperativa.
Já a Coasa, representada por Ronaldo Scariot, engenheiro agrônomo, mostrou como o trabalho cooperativo pode regenerar o solo e fortalecer a produção familiar. Com o projeto Nosso Solo, Nossa Colheita, a cooperativa desenvolveu, em parceria com a Embrapa, práticas de manejo sustentável e plantio direto, que favorecem o sequestro de carbono e a conservação dos recursos naturais. “A verdadeira riqueza de uma sociedade é a fertilidade do seu solo e a sabedoria com que o preserva”, disse Ronaldo ao sintetizar a filosofia da cooperativa.
A experiência amazônica foi apresentada pela Camta, referência nacional em agricultura regenerativa. Desde a década de 1970, a cooperativa desenvolve o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA), que integra culturas como cacau, cupuaçu, pimenta e andiroba com espécies nativas da floresta. O modelo alia produtividade e conservação, garantindo renda e estabilidade para as famílias cooperadas. “Enquanto muitos emitem, nós armazenamos carbono em forma de vida. Diversificar é proteger o presente e garantir o amanhã”, destacou Claudio Suagya, diretor da organização.
Contribuindo com as discussões, Carlos Ramos destacou o papel estratégico do Plano ABC+ como principal instrumento nacional de promoção da agricultura de baixo carbono. “O objetivo central é sempre melhorar a renda do agricultor e, ao mesmo tempo, entregar resultados ambientais. Na primeira fase, o plano superou a meta de 200 milhões de toneladas de CO₂ equivalente mitigadas. Na segunda, o objetivo é uma mitigação cinco vezes superior à original.
Já Camila reforçou que os temas debatidos no painel, como cooperativismo, sistemas agroflorestais e agricultura regenerativa, estão diretamente conectados à pauta do MDA e às políticas voltadas à agricultura familiar. “Para a agricultura familiar, regenerar o solo, preservar a biodiversidade e produzir de forma equilibrada nunca foi novidade. Antes mesmo de existirem políticas de baixo carbono, nossos agricultores e agricultoras familiares já cultivavam sustentabilidade na prática”, afirmou.
Transferência de tecnologia ![Coops mostram caminhos para uma agricultura de baixo carbono]()
Em painel promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken ao lado de lideranças da Abramilho, Abrapa, Aprofir, Aprosoja Brasil e Aprosoja Mato Grosso, representou o cooperativismo brasileiro e destacou o papel do movimento como instrumento de transferência de tecnologia e sustentabilidade no campo. “Onde existe cooperativa, há mais eficiência e inclusão: 63% dos produtores cooperados têm acesso à assistência técnica e extensão rural, contra 20% da média nacional”, pontuou.
O dirigente reforçou que a COP30 é uma oportunidade estratégica para reafirmar o compromisso do agro brasileiro com a produção sustentável e socialmente responsável, alinhada às premissas do Manifesto do Cooperativismo para a COP30. Ele considerou também a necessidade de que a agenda climática global reconheça o verde como valor social e econômico, trate o clima como vetor de desenvolvimento e coloque as comunidades no centro das políticas de adaptação e mitigação.
Por fim, Ricken defendeu a tropicalização dos padrões de produção sustentável, para que métricas e tecnologias globais reflitam as condições e boas práticas da agricultura tropical brasileira. “Precisamos ser valorizados pelo que já fazemos e pelo que ainda podemos fazer para fortalecer uma transição verdadeiramente justa”, afirmou.
