Cooperativismo cobra urgência contra avanços das importações de leite
Audiência na Câmara abordou impactos da Circular Secex nº 62/2025 e a crise do setor
O Sistema OCB participou, nesta quarta-feira (3), da audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária,
Zeca Ribeiro / Câmara dos DeputadosAbastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados (CAPADR), que tratou dos impactos da Circular Secex nº 62/2025 sobre as importações de leite em pó oriundo do Mercosul. A discussão ocorreu por requerimento da deputada Ana Paula Leão (MG), diante das preocupações crescentes da cadeia produtiva com o aprofundamento da crise enfrentada pelos produtores.
O debate reuniu parlamentares, representantes do governo federal, entidades do setor produtivo e lideranças cooperativistas. Pelo Sistema OCB, participou Marcelo Candiotto, coordenador da Câmara do Leite da entidade e presidente da CCPR. Também estiveram presentes autoridades como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira; dirigentes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa); representantes do MDA; lideranças estaduais; e organizações de produtores e da indústria.
A audiência teve como foco a decisão da Secex, adotada em agosto, que alterou procedimentos de análise e licenciamento de importações e, segundo o setor, agravou a entrada de leite em pó no país em volume recorde. A demora na apreciação do pedido de reconsideração apresentado durante a investigação de dumping também foi amplamente criticada.
Crise histórica
Durante sua participação, Marcelo Candiotto fez um alerta sobre a gravidade da situação enfrentada pelos produtores brasileiros. Segundo ele, o setor vive “o fundo do poço”, com preços inviáveis e forte pressão causada pelo aumento
expressivo das importações.
Marcelo apontou que, somente em outubro, o Brasil importou o equivalente a 7 milhões de litros de leite por dia, quase o triplo da captação diária da maior indústria de Minas Gerais. “O produtor não tem condições de sobreviver com os valores atuais. O pequeno, o médio e até o grande estão no limite”, afirmou.
Ele destacou também que o consumo interno não acompanhou o aumento da oferta, ampliando o desequilíbrio entre produção nacional, importações e demanda. De acordo com o coordenador, “a situação é agravada pela manutenção das margens de varejo, que não têm contribuído para o alívio dos preços ao consumidor nem para a recomposição da renda no campo”.
Medidas emergenciais e estruturantes
No debate, Candiotto pediu a adoção de medidas urgentes para conter o desequilíbrio de mercado. Entre os pontos defendidos, citou:
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O reforço de barreiras sanitárias nas fronteiras com Argentina e Uruguai;
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Maior rigor no licenciamento de importações, como forma de ordenar o fluxo de entrada;
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Celeridade na condução das investigações de dumping nas importações de leite em pó;
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Aplicação dos direitos provisórios e medidas restritivas imediatas ao volume importado;
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Atuação conjunta do governo, entidades e parlamento para impedir práticas irregulares, como triangulação de produtos.
Por fim, o coordenador afirmou que a Câmara do Leite está preparando um conjunto de propostas estruturantes para fortalecer a cadeia, incluindo ações de assistência técnica, qualificação da gestão, melhoria genética, aumento de produtividade e estímulo à intercooperação entre cooperativas de diferentes estados. “Sabemos o que precisa ser feito para desenvolver o produtor, para permitir sucessão familiar e construir um sistema produtivo sustentável. Precisamos do apoio do governo e das entidades para transformar isso em política pública”, concluiu.