Cooperativismo conecta floresta e sertão na construção da bioeconomia
Painel na COP30 destaca experiências da Amazônia e do semiárido na transição para economia verde
Sob o olhar atento de um público diverso, o painel Cooperativismo e Bioeconomia: da floresta ao sertão, deu início as atividades do cooperativismo na Green Zone da COP30 e mostrou que a transição para uma economia verde só será possível com o protagonismo das comunidades que vivem e produzem nos territórios. Representantes de cooperativas da Amazônia e do semiárido, da iniciativa privada e do governo brasileiro compartilharam experiências que unem sustentabilidade, inclusão produtiva e valorização dos saberes tradicionais. Em comum, a certeza de que o cooperativismo é uma das chaves para
transformar biodiversidade em prosperidade, sem perder as raízes locais.
Mediado pela gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, Débora Ingrisano, o painel destacou a importância de discutir políticas públicas voltadas à valorização da socioeconomia e do papel das grandes organizações, especialmente as cooperativas, nesse processo. Segundo ela, as cooperativas têm uma natureza singular, por serem formadas justamente pelas pessoas que vivem e produzem nos territórios onde a bioeconomia acontece.
Débora ressaltou que o Brasil pode movimentar até US$ 140 bilhões por ano até 2032 com a bioeconomia do conhecimento e lembrou que as cooperativas têm o potencial necessário para garantir que esse impacto se concretize de forma rápida e eficiente. “As cooperativas estão onde as soluções nascem — nas comunidades e nos saberes tradicionais. Nosso desafio é fazer com que o valor gerado pela bioeconomia retorne a esses territórios e impulsione o desenvolvimento local”, afirmou.
A Coopatrans, dona da marca Cacauway, abordou a trajetória da cadeia do cacau na Transamazônica, mostrando como o cooperativismo virou eixo de reorganização territorial, autoconfiança e geração de renda. A vice-presidente da cooperativa, Mônica Franco, valorizou a virada cultural vivida pela região. “Há 15 anos, o cooperativismo aqui era desacreditado. Com a Coopatrans, esse espírito se fortaleceu e, depois dela, surgiram outras cooperativas. Hoje somos exemplo para toda a região Norte”.
Ela destacou ainda a importância simbólica da presença na COP30. “Espero que mais olhares se voltem para a nossa cooperativa, não só para o chocolate, mas para o que representamos. O isolamento não leva ninguém a nada. Cooperar é o
que faz a diferença.” Já a Cooperativa Ser do Sertão apresentou um modelo transformador de agrofloresta e reflorestamento que vem recuperando áreas degradadas no semiárido baiano. A presidente, Valdirene Nascimento, relatou com emoção a evolução da cooperativa, da produção artesanal de polpa de umbu para uma indústria estruturada, sustentável e liderada por mulheres: “A cooperativa nasceu de um sonho. Começamos processando umbu no fundo de quintal. Hoje temos uma fábrica, absorvemos a produção de 16 municípios, saímos de 150 para 362 cooperados e produzimos com energia solar. Mostramos que é possível recuperar a Caatinga e gerar renda com sustentabilidade”, descreveu emocionada.
Ela definiu a participação na COP30 como um divisor de águas. “Estar aqui ainda é um sonho. Isso mostra que estamos no caminho certo, desenvolvendo algo que pode mudar vidas. Queremos que esses modelos influenciem políticas públicas, financiamentos e projetos que respeitem a especificidade de cada território”, completou. A experiência da Natura em ações voltadas à bioeconomia e ao fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade (SBD) nos territórios onde a empresa atua — Brasil, Peru, Colômbia e Equador foi apresentada por Raoni Silva. O conteúdo evidenciou o papel das parcerias locais e da assessoria técnica para enfrentar os desafios da produção sustentável, especialmente em áreas de pasto, agricultura e regiões sem cobertura vegetal. “A construção de uma bioeconomia sólida depende do diálogo e da valorização de quem vive e produz na floresta. É nas parcerias territoriais que a inovação ganha propósito e gera resultados concretos”, relatou.
Como representante do governo federal, William Saab, coordenador geral de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente (MMA) trouxe uma leitura estratégica sobre a bioeconomia. Segundo ele, as políticas do governo andam lado a lado com o fortalecimento das cooperativas. “O cooperativismo está totalmente alinhado às agendas que o MMA está lançando aqui na COP30, como o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, o Programa de Agentes de Crédito e o Prospera Sociobio. Todas essas iniciativas têm um elo comum: inclusão e protagonismo das comunidades locais. Neste sentido, as cooperativas são parceiras essenciais. Elas têm finanças de proximidade e entendimento do território. É exatamente isso que o Ministério quer: protagonismo dos povos”, relatou.