Cooperativismo mostra que soluções climáticas começam nas comunidades
Iniciativas revelam como educação, reciclagem, crédito e inovação transformam realidades
O painel Cooperação que transforma: comunidades, inclusão e financiamento climático para o desenvolvimento sustentável, realizado no pavilhão do cooperativismo brasileiro na Green Zone da COP30, mostrou de forma profunda e concreta como o cooperativismo está presente na linha de frente das soluções climáticas, impulsionando desenvolvimento territorial, inclusão
produtiva e acesso democrático ao crédito verde.
Mediado por Alex Macedo, coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, o debate reuniu cooperativas de crédito, de reciclagem, representantes do governo federal e do Sebrae para demonstrar como a força das parcerias e da atuação comunitária gera resultados reais e escaláveis para os territórios. “É na base, no território, que nossas cooperativas promovem inclusão e desenvolvimento sustentável. Esse é o espírito da COP30 e é isso que o cooperativismo traz para a mesa: resultado, impacto e pertencimento”, afirmou.
A primeira experiência apresentada veio do Pará, com o relato de Márcia Rejane Montinho Ramos, presidente do Conselho de Administração do Sicoob Coesa, sobre a Cooperativa Mirim Santo Ezequiel Moreno — a primeira cooperativa mirim ribeirinha e marajoara do Brasil, formada por 61 crianças e adolescentes em situação de alta vulnerabilidade social no arquipélago do Marajó.
A comunidade, localizada a 16 horas de barco de Belém, encontrou no cooperativismo um caminho de transformação: educação cooperativista, inclusão digital, geração de renda, produção com caroço de açaí e desenvolvimento de competências de gestão. “Estamos trabalhando o futuro dessas crianças. O cooperativismo mudou a realidade da comunidade. Elas aprendem gestão, cooperação, educação ambiental e sentem orgulho de pertencer a algo maior. Participar da COP30 é mostrar ao mundo que é possível transformar vidas mesmo nos territórios mais afastados”, disse Márcia. 
Impacto ambiental e social
Esse olhar para a inclusão produtiva também orientou a fala de Mônica Mendes Araújo, superintendente da Recicle a Vida, no Distrito Federal, que apresentou a jornada da cooperativa desde sua origem como associação de catadores até sua transformação em uma indústria estruturada e reconhecida por seu impacto ambiental e social. “Nenhum catador começou seu trabalho para salvar o planeta; ele começou para sobreviver. Mas aquilo que fazemos hoje é fundamental para o clima, para a economia circular e para o futuro das cidades. O cooperativismo transforma vulnerabilidade em oportunidade e nos permite construir uma estrutura industrial sem perder nossa essência social”, afirmou.
Da Cresol Encostas da Serra Geral, a vice-presidente Fabiana Cesária apresentou duas experiências que reforçam o papel das cooperativas de crédito na dinamização de economias locais e na valorização da sociobiodiversidade. O primeiro é o projeto das Abelhas Sem Ferrão, que fez de Santa Rosa de Lima (SC) a Capital Nacional da Meliponicultura por meio de uma parceria entre cooperativa, associação de meliponicultores e poder público. O segundo vem da Bahia, com o trabalho junto à comunidade quilombola de Várzea do Sal, que apoia mulheres artesãs na estruturação da produção, ampliação de renda e fortalecimento da identidade cultural. “O cooperativismo vai muito além do crédito. Quando conhecemos o território, escutamos as pessoas e construímos parcerias, conseguimos realizar coisas extraordinárias”, ressaltou.
Empreendedorismo climático
A dimensão governamental foi trazida por Fernanda Rosa Pires Saboia, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Empreendedorismo (Memp) que enfatizou que o cooperativismo é um dos pilares estratégicos do empreendedorismo climático no país. Ela também anunciou o lançamento da Plataforma do Empreendedorismo Climático, que vai democratizar o acesso ao Fundo Clima gerando trilhas de conhecimento, orientação técnica e um modelo simplificado de elaboração de projetos capaz de permitir que pequenos empreendedores e cooperativas acessem o financiamento.
“Hoje quem consegue acessar o Fundo Clima são as grandes empresas. Queremos mudar essa realidade. O cooperativismo é a base para criar uma verdadeira ‘manada de unicórnios’. Democratizar o crédito verde é fundamental para incluir quem está na ponta”, disse Fernanda. Ela adiantou ainda que o Memp e o Sistema OCB assinarão, durante a COP30, um Acordo de Cooperação Técnica para desenvolver ações voltadas à agricultura familiar, ao artesanato e às economias populares ao longo de 2026.
Encerrando o painel, Carol Westrup, analista de inovação do Sebrae, apresentou o Ali-Coop, programa desenvolvido em parceria com o Sistema OCB para fortalecer gestão, governança, inovação e acesso a mercados das cooperativas — com foco inicial na Amazônia Legal. O programa acompanhará 50 cooperativas em cadeias estratégicas da sociobiodiversidade, como castanha, açaí, cupuaçu e abacaxi, ao longo de quatro anos. “A parceria entre Sebrae e OCB nasce para aumentar faturamento, reduzir resíduos, melhorar governança e abrir novos mercados”, destacou.