Elas no coop: com participação e liderança, mulheres fortalecem o cooperativismo
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Desde a sua criação, há quase dois séculos, o cooperativismo garantiu espaço para que as mulheres pudessem buscar uma vida melhor por meio do trabalho e da participação em um sistema econômico justo. Atualmente, o coop reúne milhões de cooperadas em todo o mundo, promove a igualdade de gênero, valoriza e impulsiona a liderança feminina.
No Brasil, as mulheres representam 41% dos cooperados, segundo dados do Anuário Coop 2024. Entre as 9,6 milhões de brasileiras que encontraram no coop oportunidades de trabalhar, empreender e garantir uma vida melhor para suas famílias, a maioria faz parte de cooperativas de consumo, crédito, saúde e trabalho, produção de bens e serviços.
Além da participação significativa entre os cooperados, as mulheres são maioria na força de trabalho das cooperativas, com 52% do total de empregados do setor em todo o país, um aumento de 15% em relação a 2021. A presença delas é mais representativa nas cooperativas de saúde (75%), crédito (60%), consumo (57%), e trabalho, produção de bens e serviços (55%)
Entre as lideranças, as mulheres ocupam 23% dos cargos de alta gestão no cooperativismo brasileiro. Desde 2020, esse número tem apresentado uma evolução contínua, mas ainda reflete um desafio de todos os setores da economia de garantir maior representatividade feminina nos espaços de poder.
Todos esses indicadores representam histórias de profissionais, empreendedoras, chefes de família, estudantes, mães, filhas e esposas que fazem do cooperativismo um modelo de negócios diverso e que constroi um mundo melhor para as mulheres.
A presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Xiomara Nuñez de Céspedes, destaca que garantir condições de igualdade para as mulheres não é apenas uma questão de justiça social, mas também de desenvolvimento e prosperidade.
“Quando as mulheres desfrutam de oportunidades iguais, a sociedade como um todo se beneficia. Educação, empoderamento econômico e envolvimento das mulheres na política são essenciais para construir um futuro mais justo e sustentável”.
Liderança com diálogo
A presidente do Sistema OCB no Maranhão, Aureliana Luz, é um exemplo de liderança feminina cooperativista que tem apoiado outras mulheres a transformar suas histórias. Assistente social com especializações em gestão de cooperativas e liderança, começou sua caminhada no cooperativismo há 12 anos. Antes de ser a primeira mulher a presidir o Sistema OCB/MA, participou da fundação de duas cooperativas no estado.
“O cooperativismo se tornou muito mais do que uma atividade profissional. É um estilo de vida, uma filosofia que me guia e me inspira. Ele representa a crença no poder da colaboração, na força da união e na capacidade de transformar vidas através da cooperação”, destaca.
Apaixonada pelo cooperativismo e reconhecida por sua habilidade de comunicação, Aureliana tem uma gestão marcada pelo diálogo e investe na representação institucional junto a parlamentares e secretarias estaduais para fortalecer o coop em seu estado. “As mulheres líderes trazem para o ambiente de trabalho uma maior abertura para o diálogo, a empatia e a busca por soluções colaborativas, criando um clima de confiança e respeito mútuo”, afirma.
Com a mesma dedicação, a cooperativista maranhense trabalha para ampliar a participação feminina no cooperativismo, por meio da implementação de programas como o “Mulheres Cooperativistas em Ação”, que visa capacitar e empoderar mulheres para que assumam papéis de liderança em suas cooperativas; e a criação do "Selo Cooperativa Amiga da Mulher", que reconhece e premia cooperativas maranhenses que se destacam na promoção da igualdade de gênero.
“Podemos avançar na criação de um ambiente mais inclusivo e equitativo para as mulheres gestoras no cooperativismo. Para isso, é fundamental investir em programas de capacitação e desenvolvimento de lideranças femininas, promover a igualdade de oportunidades, combater o assédio e a discriminação, e criar redes de apoio para mulheres em cargos de gestão”, ressalta Aureliana.
Para promover a inclusão e equidade de gênero entre as cooperativas, o Sistema OCB/MA também implementou comitês de mulheres, realiza eventos e workshops sobre liderança feminina e criou programas de mentoria para mulheres cooperativistas. Segundo Aureliana, as ações são passos de um longo caminho a ser percorrido para valorizar cada vez mais a presença e força das mulheres no coop.
“Ainda enfrentamos desafios relacionados ao preconceito de gênero, à falta de representatividade feminina em cargos de liderança e à dificuldade de conciliar a vida profissional com as responsabilidades familiares. No entanto, tenho orgulho de dizer que o número de mulheres em cargos de liderança no cooperativismo tem crescido, e cada vez mais mulheres ocupam posições de destaque, inspirando outras a seguirem seus passos”, pondera.
Elas pelo Coop
Em todo o país, as cooperativas têm incorporado políticas de inclusão e valorização das mulheres em seus planejamentos estratégicos. O tema é tão importante para o cooperativismo brasileiro que o Sistema OCB criou o Guia de Implantação de Estratégias em Inclusão, Diversidade e Equidade, com orientações e ferramentas para esse trabalho.
Em outra iniciativa afirmativa, a entidade constituiu, em 2020, o Comitê Nacional de Mulheres Elas pelo Coop, em que 24 integrantes, de 24 estados, buscam a construção coletiva de projetos e propostas que contribuam para um cooperativismo mais diverso e democrático.
“O comitê foi oficialmente criado como um dos desdobramentos do 14º Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC) e é formado por cooperadas ou empregadas de cooperativas. A missão do Elas pelo Coop é ampliar a participação de mulheres no cooperativismo, especialmente em cargos de liderança”, explica Divani de Souza, analista de desenvolvimento de cooperativas da Unidade Nacional do Sistema OCB, que assessora o comitê.
As integrantes do Comitê Nacional Elas pelo Coop são indicadas pelas Organizações Estaduais. O colegiado atua em quatro eixos: formação e capacitação; elaboração de diretrizes; representação institucional e intercooperação. Além do comitê nacional, 17 Comitês Estaduais Elas em Coop já estão em funcionamento.
Para apoiar as cooperativas a colocar em prática as iniciativas de inclusão feminina, o Sistema OCB disponibiliza o Manual de Implementação de Comitês de Mulheres nas Cooperativas, com o passo a passo para estruturar a criação dos grupos em cada coop, do planejamento à formação continuada das participantes.
Educação para inclusão
Investir na formação das mulheres para ampliar a participação delas em cargos de liderança também está entre as estratégias do Sistema OCB para fortalecer a atuação feminina no segmento. Uma das ferramentas é a oferta de programas de capacitação específicos para esse público, como a trilha de conhecimento Jornada de Formação Liderança Feminina, disponível na plataforma CapacitaCoop, com acesso livre e gratuito.
Com módulos sobre liderança feminina, cooperativismo e desenvolvimento pessoal, a trilha prepara mulheres cooperativistas para liderar com confiança e construir um posicionamento de protagonismo.
“São iniciativas que ajudam a ampliar as oportunidades para que mais mulheres assumam cargos estratégicos nas cooperativas. Elas também refletem o compromisso contínuo do cooperativismo brasileiro com a construção de um cooperativismo mais diverso, inovador e alinhado às necessidades da sociedade”, afirma a superintendente do Sistema OCB, Tania Zanella.