Saber ancestral e empreendedorismo movem oficinas na COP30
Experiências práticas mostram como produzir com sustentabilidade, gerar renda e preservação
A segunda semana de oficinas e exposições do cooperativismo na COP30 reforçou, mais uma vez, que o combate às mudanças climáticas só ganha escala quando encontra a força da economia real nos territórios.
Na Green e na Agri Zone, cooperativas amazônicas, do Nordeste, do Sudeste e do Sul do país mostraram que tradição, biodiversidade e empreendedorismo caminham juntas quando o trabalho coletivo sustenta oportunidades, renda e floresta em pé. Biojoias, artesanato, chocolate de origem, degustações, turismo comunitário e agricultura familiar estiveram no centro da programação — desta vez pelas mãos de mulheres, jovens e comunidades que vivem o cooperativismo no cotidiano.
Massao Shimon, da Coopatrans, dona da marca Cacauway, uma das cooperativas expositoras no Espaço da Biodiversidade coordenado pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Memp), celebrou o impacto da iniciativa. “Foi maravilhoso, uma vitrine que a gente não imaginava. Estamos em várias frentes, mas com muito orgulho. As vendas superaram nossas expectativas”, afirmou.
Degustação e aprendizado
A artesã Sílvia Rodrigues Rosa, da Biojoias e Artesanato da Ilha do Combu, coordenou uma oficina de biojóias e emocionou o público ao explicar como transforma elementos descartados pela natureza em peças que carregam identidade ribeirinha e respeito ambiental. “A gente transforma o que a natureza descarta em arte. É o nosso jeito de manter as árvores em pé e mostrar que a floresta tem valor vivo”, contou. Para Sílvia, participar da COP30 foi um marco na trajetória da comunidade: “Estar aqui foi maravilhoso. Mostramos nosso trabalho para o mundo e a cooperativa constrói um futuro melhor para todos nós, ribeirinhos.”
A produtora Fabiane Rheinholz, da Rheinholz Chocolates (PR), apresentou chocolates elaborados com agricultura familiar e práticas sustentáveis. “Trazer nosso chocolate para um evento mundial é dizer que agricultura familiar e sustentabilidade podem andar juntas”, explicou. Ela reforçou a importância do cooperativismo na trajetória da empresa: “O cooperativismo transformou nossa vida empreendedora”.
Uma das cooperadas da Cacauway, apresentou a produção de chocolates que conta, inclusive, com integração de indígenas. “Foi uma grande satisfação trazer o chocolate produzido pelos cooperados da Transamazônica”, disse. “Essa ação colocou nosso produto nessa vitrine mundial e permitiu que nosso trabalho fique ainda mais conhecido e reconhecido”, descreveu.
Jailma Araújo, presidente da Comart explicou que a cooperativa de mulheres bordadeiras é de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte que tem conquistado cada vez mais espaço e notoriedade com seu trabalho. “É muito importante mostrar nosso trabalho na COP30. A Comart é o grande diferencial para o empreendedorismo na nossa cidade e, por isso, a cooperativa tem crescido e ganho mercados cada vez maiores tanto no Brasil quanto no mundo. Fomos responsáveis pelos bordados dos uniformes do Brasil nas Olímpiadas de Paris e, mais recentemente, pela roupa que o João Gomes usou no Grammy Latino”, descreveu.
A artesã Sandra Carolina de Oliveira, da cooperativa Turiarte, também brilhou ao apresentar o processo de produção do artesanato amazônico com palha de tucumã. “Eu não esperava tantas pessoas interessadas no nosso fazer. Esse reconhecimento fortalece a nossa cooperativa”, relatou emocionada. Sobre a técnica, ela explicou que a palha é retirada da palmeira, secada, beneficiada e tingida com folhas da própria natureza. “É um trabalho antigo, de muitas mulheres das comunidades”, complementou.
Entre as participantes das oficinas, a engenheira eletricista Alexia Ribeiro, 25 anos, moradora de Belém, viveu a experiência de acompanhar de perto o trabalho das artesãs da Turiarte — e saiu encantada. “Achei incrível. Amo artesanato e sempre procuro aprender”, disse. “Já tinha visto esse tipo de peça nas feiras locais, mas nunca tinha visto fazer. É a primeira vez.”
Ao descobrir que o tingimento e o processamento da palha são totalmente naturais, Alexia se surpreendeu: “É tudo natural, inclusive o tingimento. É lindo, é perfeito. Eu achei maravilhoso”. A jovem também revelou que não sabia que existiam cooperativas de artesanato:
“Eu não sabia que dava para ter uma cooperativa de artesanato. Achei incrível. Tu juntas várias pessoas, várias formas de artesanato. É maravilhoso”, concluiu.