Bioeconomia, crédito inclusivo e baixo carbono são foco do 4º dia da COP30
Coop mostra como impulsiona inovação, financiamento verde e tecnologias sustentáveis
O quarto dia da COP30 na Green e Agri Zone evidenciou como o cooperativismo brasileiro está presente em diferentes dimensões da agenda climática. Três painéis marcaram a quinta-feira (13): Ecossistemas de desenvolvimento territorial sustentável: criação de redes para impulsionar a bioeconomia no Brasil, com especialistas de diferentes áreas; Cooperativas e pequenos negócios – experiências para o financiamento das comunidades locais, sobre crédito inclusivo e desenvolvimento regional; e Soja de Baixo Carbono, que discutiu tecnologias sustentáveis na agricultura tropical.
Bioeconomia e desenvolvimento territorial
Inovação e financiamento foram o principal foco do primeiro painel. A proposta foi discutir estratégias que impulsionem o desenvolvimento territorial sustentável, ampliem o acesso a mercados e estimulem modelos econômicos regenerativos, com
base na integração entre cooperativas, empresas, academia e instituições de fomento. Entre os convidados, o gerente de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional, Jeconías Rosendo da Silva Júnior, reforçou a importância de incluir novos atores na agenda climática. “Temos a missão de concretizar a cidadania climática, fazer com que cada um perceba que é destinatário de direitos e deveres climáticos. E isso não é possível sem envolver as micro e pequenas empresas e as cooperativas, que estão na base dos territórios”, afirmou.
Jeconías também destacou ações do Sebrae voltadas à bioeconomia amazônica, como iniciativas em Belterra e Santarém (PA) e o projeto Ali Coop, desenvolvido em parceria com o Sistema OCB. “Existe um interesse muito grande em estudar os movimentos necessários para tornar a bioeconomia um motor de desenvolvimento da região amazônica, preservando a floresta e garantindo dignidade a quem vive nela. O Ali Coop vem para consolidar essa estratégia e fortalecer ainda mais o cooperativismo na região”, disse.
Camila Rodrigues, assessora climática sênior do BID Invest, apresentou como a instituição apoia a agricultura regenerativa por meio de financiamentos combinados com assistência técnica. “Podemos apoiar tanto empresas âncoras quanto
instituições financeiras que trabalham com cooperativas. Em alguns casos, oferecemos financiamento misto, vinculado à adoção de boas práticas ambientais e sociais, com melhores taxas de juros ou prazos mais longos para quem incorpora essas práticas”, explicou. Ela citou como exemplo a parceria do BID Invest com a Cresol, voltada a impulsionar a sustentabilidade nas cooperativas de crédito.
Já o representante regional Norte da Apex-Brasil, Pedro Netto, ressaltou o potencial da bioeconomia amazônica no mercado internacional. “Hoje exportamos cerca de 1 bilhão de dólares em produtos compatíveis com a floresta, mas o mercado global ultrapassa 300 bilhões. O potencial de crescimento é enorme”, declarou. Segundo ele, a Apex considera o cooperativismo um aliado estratégico para o desenvolvimento sustentável. “As cooperativas são uma fonte de negócios justa e já têm mostrado resultados significativos na região Norte. Nosso objetivo é apoiar desde as pequenas até as grandes cooperativas para que alcancem novos mercados e atraiam investimentos de impacto”, acrescentou.
O diretor da Systemiq para a América Latina, Ilan Schleif afirmou que integrar a resiliência climática às estratégias de negócio no agronegócio já é uma realidade para muitas empresas. Ele explicou que projetos-piloto em fazendas do Centro-Oeste e do Nordeste registraram ganhos de produtividade entre 12% e 14% com o uso de biotecnologia, drones, agricultura de precisão, irrigação por gotejamento e práticas regenerativas. “A resiliência climática já deixou de ser teoria: quem integrou práticas regenerativas e tecnologia ao manejo está colhendo mais, com menos risco e maior eficiência”, destacou.
A pesquisadora da FGV Agro, Camila Genaro, reforçou a relevância do tema. “Nosso foco é entender como os sistemas agroalimentares podem transitar para uma economia de baixo carbono e como as cooperativas podem atuar como agentes transformadores. Elas têm capilaridade, traduzem a ciência para a prática e ajudam a medir e reportar resultados”.
Crédito cooperativo amplia inclusão
O painel Cooperativas e pequenos negócios – experiências para o financiamento das comunidades locais apresentou
iniciativas que mostram como o crédito cooperativo contribui para o desenvolvimento regional e a inclusão financeira.
O diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, Alexandre Englert Barbosa, destacou o avanço da instituição em captações sustentáveis junto a organismos multilaterais. Desde 2019, foram mais de US$ 10 bilhões direcionados a iniciativas de energia renovável, agricultura de baixo carbono e apoio a mulheres empreendedoras. “O foco é fazer o crédito verde chegar ao pequeno, com impacto social e ambiental positivo”, ressaltou.
Pela Cresol, o cooperativismo tem levado dignidade e renda a pequenas comunidades do Sul do país. A diretora executiva da Cresol Raiz – Central Cresol Sicoper, Claudiane Piovesan apresentou o Projeto Cresol Siga, que financia saneamento básico e acesso à água potável em áreas rurais. “Já são quase 2 mil famílias beneficiadas, com R$ 70 milhões liberados e reconhecimento nacional pelo impacto ambiental e social”, afirmou.
O Sicoob também apresentou resultados expressivos. Segundo Tobias Fragoso, superintendente financeiro, o sistema já destinou R$ 9 bilhões em crédito a micro e pequenos empreendedores em 2025, chegando a 415 municípios onde é a única instituição financeira presente. “O cooperativismo é uma evolução do sistema financeiro tradicional”, afirmou.
Cláudio Filgueiras, chefe do departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro do Banco Central do Brasil, reforçou o papel estratégico das cooperativas no crédito rural. “Elas são essenciais para o crescimento dos pequenos produtores, pois conhecem a realidade local e oferecem crédito de qualidade”, observou.
Mauro Costa, gerente sênior de suprimentos da Natura, apresentou o mecanismo Amazônia Vida, criado para fortalecer cadeias da sociobiodiversidade e garantir fluxo de caixa às cooperativas fornecedoras da marca. “Hoje já são 52 comunidades e mais de 12 mil famílias envolvidas. O cooperativismo é peça-chave para transformar a bioeconomia em realidade”, disse.
A moderação foi conduzida por Clara Maffia, gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, que destacou o papel das cooperativas na democratização do crédito verde e no desenvolvimento econômico inclusivo, uma das pautas centrais da agenda do cooperativismo na COP30. “As cooperativas garantem inclusão e oportunidades. Esse papel é fundamental também para o avanço da agenda de financiamento climático e no enfrentamento dos desafios da transição verde.”
Soja de Baixo Carbono e inovação no campo
Na Agri Zone, o painel Soja de Baixo Carbono discutiu caminhos para uma agricultura tropical mais resiliente, competitiva e sustentável. O Sistema OCB integrou o debate com a participação do coordenador de Relações Governamentais, Eduardo Queiroz, que representou também as cooperativas Cocamar e Coamo.
Eduardo destacou como o modelo cooperativista impulsiona a adoção de práticas sustentáveis e amplia o alcance das tecnologias no campo. Ele lembrou que, ao contrário da percepção comum, grande parte dos produtores associados à soja são pequenos agricultores. “Quando se olha os dados, entre os produtores de soja, muitos são pequenos agricultores, muitas vezes agricultura familiar. Na Coamo, por exemplo, são 32 mil cooperados, e mais de 80% são da agricultura familiar. Na Cocamar, são 20 mil produtores, cerca de 70% com esse perfil. E esse é o cooperativismo”, afirmou.
Ele reforçou que as cooperativas agropecuárias são fundamentais para o desempenho do setor. “De acordo com o último Censo Agropecuário, esses produtores representam 53% da safra de grãos do país. Cooperativas como Coamo e Cocamar fazem com que pequenos produtores se tornem grandes exportadores, alcançando mais de 100 países”.
Soja de Baixo Carbono e inovação no campo