ENTREVISTA DA SEMANA: Claude-André Guillotte

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Professor canadense estimula associação entre cooperativas e educação como estratégias de mercado

Brasília (22/10) – Palmas, capital do Tocantins, sediou o III Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo. Uma das presenças que marcarão esta edição é a do diretor do Instituto de Pesquisa e Educação para Cooperativas da Universidade de Sherbrooke, Claude-Andre Guillotte. A universidade está localizada na cidade de Quebec, no Canadá. Foi dele a responsabilidade de fazer a palestra magna, durante a abertura do evento. Ele tratou do tema “Cooperativismo como Modelo de Negócios: as cooperativas conquistam desenvolvimento sustentável para todos”. Defendendo a conexão entre cooperativas e a educação cooperativista como mecanismos de estratégia de mercado, ele deixou sua mensagem de estímulo. Confira!

Qual a importância de se conviver em rede?

Claude-Andre
– É importante porque estamos em um mundo globalizado que impôs regras e um conjunto de necessidades e, também, possibilidades. Uma delas é trabalhar com o mundo inteiro. Para isso, as cooperativas precisam se unir a outras e, assim, para criar centrais ou federações para ganhar economia de escala e maior poder maior de negociação. Elas são empresas locais, mas com imenso potencial para se tornarem globais. Agora, as cooperativas não devem perder de vista seus princípios em detrimento dos novos objetivos globais. É um desafio, porque às vezes elas se esquecem de seus princípios, pois passam a visar somente mais resultados. É preciso cautela!

Qual a percepção do mundo em relação ao cooperativismo brasileiro?

Claude-Andre
– É um cooperativismo muito dinâmico e que quer aprender cada vez mais. Isso é desafiador porque, às vezes, quando as empresas são maduras, pensam que já atingiram seu pico e podem parar de buscar inovação e tecnologia. Vejo isso em muitos lugares. E essas são coisas que não podemos deixar de lado. Aqui no Brasil, há um desenvolvimento e uma dinâmica no país que favorece o crescimento do cooperativismo. Tive a oportunidade de visitar cooperativas no estado de Pernambuco. Em todos os locais onde estive, os cooperados sempre perguntaram o que poderiam fazer para crescer. A curiosidade deles é o reflexo da vontade de ser melhor, mais competitivo, mais desenvolvido. A chave para a busca da melhoria contínua é, sem dúvida, a educação. É esse o segredo para o sucesso do cooperativismo. Sem educar o quadro social sobre o que é cooperar e sem inserir os jovens no processo, corremos um sério risco.

Creio que há iniciativas muito boas, no Brasil, e há um potencial imenso. Por exemplo, elas devem trabalhar com as pessoas que moram em seu redor. Assim, elas melhoram a sociedade na qual estão inseridas. Além disso, volto a frisar que é importante não se esquecerem de seus princípios. No ramo dos negócios, há muitas interferências de interesses e até da política, mas isso não pode desvirtuar a atividade da cooperativa, pois cooperar exige que os cooperadores consigam ir além dessas pequenas dificuldades.

Quais os desafios do cooperativismo brasileiro diante do cenário econômico mundial?

Claude-Andre
– Em termos de concorrência é muito importante ter clara a ideia de que não sabemos de onde ela virá especialmente se falarmos em níveis mundiais. Ela é uma realidade e precisa ser considerada nos processos decisórios. O mundo globalizado exige isso.

Entretanto, creio que as cooperativas têm uma vantagem sobre as empresas mercantis. Nós trabalhamos na economia de produção de bens primários ou com serviços, com foco nos próprios cooperados. Isso é forte, porque as demais empresas não têm esse objetivo. Elas querem apenas mais vendas e mais lucros.

As cooperativas não são e nem podem ser assim. Precisam é trabalhar para que cada cooperado esteja melhor e mais realizado, hoje, do que quando a fundaram. E, em contrapartida, os cooperados não podem se esquecer de que são donos. Por isso, é importante participar de todo o processo decisório e compartilhar suas experiências.

É importante destacar que as empresas mercantis não visam à preservação do meio ambiente ou do bem social, buscam apenas o lucro, como já dissemos, então, estamos diante de dois mundos bem distintos. Por isso, minha recomendação é que as cooperativas não percam de vista esse propósito de melhorar a vida de seus cooperados e das comunidades onde estão inseridas.

No Brasil há um desenvolvimento incrível. No Canadá chamamos esse desenvolvimento de Milagre Brasileiro, porque quarenta milhões de pessoas melhoraram de vida em menos de 20 anos. Isso é incrível. A chave para que os princípios cooperativistas não sejam perdidos é a educação de seus cooperados, sem a menor sombra de dúvidas.

De que forma o cooperativismo pode ser visto como um modelo de negócios?

Claude-Andre
– Cada vez que uma cooperativa vende um produto, tem de ser para melhorar a situação dos cooperados e, também, dos seus clientes. Se vende um produto ou um serviço ruim, o cliente vai buscar a concorrência. Isso é a lei do mercado. Por exemplo, no Ramo Agropecuário, há clientes que compram e pagam os produtos e também há clientes que são os próprios cooperados. É preciso manter um equilíbrio entre os princípios da cooperativa. Às vezes os dirigentes querem aumentar os lucros e não se preocupam com a finalidade do cooperativismo, impactando na rotina do cooperado e do cliente.

Há apenas uma maneira de superar isso: é a educação cooperativista, como tanto já dissemos. Além dos mais, os cooperados precisam ter uma vida democrática muito ativa para assegurar que seus princípios e objetivos sejam respeitados.

No Canadá, por exemplo, as cooperativas com mais sucesso e altos índices de desenvolvimento têm uma vida democrática muito ativa. Isso significa que elas se movem e se adaptam ao longo do caminho sempre de acordo com os interesses dos seus cooperados. Ter isso em mente é muito importante para não perder o rumo de onde se quer chegar.

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