ENTREVISTA DA SEMANA: Marcelo Salim
Brasília (2/2/17) – Inovação e Conhecimento. Estas são áreas que têm demandado cada vez mais atenção dos executivos das grandes corporações. Por isso, o Sistema OCB, recentemente, promoveu o Encontro Nacional de Representantes de Ramos, em Brasília, e trouxe o professor Marcelo Salin, para discorrer sobre estas duas áreas.
Marcelo Salin é graduado em matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem mestrado em engenharia de sistemas, pela mesma instituição. É professor da Fundação Dom Cabral, da PUC Rio de Janeiro e da FGV. Foi professor do Ibmec, onde criou e coordenou o centro de empreendedorismo e, atualmente, é diretor do Programa Educacional Startup Rio, além de sócio e fundador de diversas empresas no Brasil e nos estados unidos.
Salin palestrou para mais de 100 participantes dos Conselhos Consultivos Nacionais de Ramos e dos Fóruns do Poder Executivo, oriundas de todos os estados brasileiros participam do evento. O grupo esteve em Brasília buscando encontrar ferramentas que tornem mais efetiva a atuação dos representantes do cooperativismo.
E, para isso, nada melhor do que ampliar o conhecimento sobre os cenários que envolvem o movimento cooperativista e, também, sobre o assunto: inovação. Para Marcelo Salin, ideias incomuns, ou loucas, como ele diz, são fundamentais para se encontrar as soluções mais geniais e inovadoras. Segundo ele, a mesma regra vale para ‘problemas’. Confira!
Porque grandes ideias não acontecem por acaso?
Marcelo Salin - Criatividade, geração de ideias não acontecem por dons divinos, mas com disciplina e trabalho duro. Grandes ideias, insights ou “sacadas” vêm da conexão de ideias que nunca antes haviam se conectado. Vêm da junção de universos que estavam separados na mente. Isso quer dizer que, quanto maior a diversidade de informações absorvidas, maior a possibilidade de conexões neuronais que nunca antes aconteceram.
Em sua palestra, você comentou sobre os padrões e ruídos que ocorrem no nosso cérebro. Poderia comentar?
Marcelo Salin - O cérebro é uma máquina maravilhosa de reconhecimento, armazenamento e comparação de padrões. Quando uma ideia nova surge, ele reage como que reconhecendo um novo padrão, que passa então a também estar armazenado e passível de ser comparado com novos padrões dali por diante. É por isso que uma ideia interpretada pela primeira vez sempre causa uma reação diferente do que quando é vista novamente a partir desta primeira vez.
Como o cérebro armazena e compara padrões, quanto maior a quantidade de informações úteis disponíveis, tanto maior sua capacidade de comparação e geração de novas ideias potencialmente grandes. Como a quantidade e a qualidade de informação – a que temos sido submetidos no nosso dia-a-dia – aumentou consideravelmente, o cérebro tem trabalhado mais e com muito mais desafios.
Aprofundando um pouco mais sobre isso, porque somos escravos de nossos modelos mentais?
Marcelo Salin - Como o cérebro armazena padrões e os utiliza em seu processo de tomada de decisão, quanto mais habituado com determinado modo de proceder, mais e mais repetitivo neste modo de proceder o cérebro se torna.
Somos criaturas de hábitos. Esta é a razão pela qual muitas vezes você entra no carro para ir a determinado lugar e, quando se dá conta, está no caminho do trabalho, de casa ou outro a que está mais habituado.
Uma vez inserido um novo padrão no cérebro, este novo padrão passa a fazer parte de todo o processo de análise e tomada de decisão. O cérebro usa os padrões a que tem acesso “sem consultar nosso lado consciente”, opera como se estivesse em piloto-automático. É por isso que nossa cultura, preconceitos e conhecimentos influenciam diretamente na forma como reagimos à toda sorte de situações. Não temos muitas chances de agir diferente se deixarmos o piloto automático assumir.
Você comentou sobre a importância de se ter ideias incomuns, ou como disse, loucas. Como elas podem nos ajudar?
Marcelo Salin - Ideias loucas são assim consideradas porque estão fora do imaginário comum. Uma ideia louca é possivelmente a conexão inédita de universos diferentes na mente. É muito importante considerar que boa parte das ideias loucas são simplesmente isso: loucas. Uma pequena parte delas pode levar a grandes inovações. Como saber qual é louca e qual é genial é que depende de muito trabalho e testes.
Qual o papel do “problema” na nossa vida de inovação?
Marcelo Salin - Ninguém vai te pagar para resolver um “não-problema”. Problemas são a razão da existência de empresas. Dilemas são o ponto de partida para inovação e diferenciação no mercado. Ao observarmos melhor o cliente, entendemos como ele usa determinada solução e como o problema é ou não resolvido por esta solução. Isso abre possibilidades de diferenciação.
Qual a diferença entre inovação e inovação disruptiva?
Marcelo Salin - Inovação é o aproveitamento de uma ideia de modo a gerar valor. Há inovações incrementais. Há inovações que mudam completamente a forma como o problema é encarado e resolvido. Este último tipo são as inovações disruptivas, que criam novas funções, novas empresas, novos mercados.